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Curso de Formação da UJS

Formação Econômica e Social do Brasil

Flávia Calé da Silva – Mestranda do


Programa de História Econômica da USP
Objetivos da aula

Compreender a formação econômico e social do


Brasil.

Noções sobre a formação do Estado


Formação do Estado:

Tipo de colonização: papel do açúcar como base para expansão cafeeira

Em cada momento o Estado se organiza para manter determinadas relações econômicas.

Por que a utilização da categoria Formação econômica e social?


Formação do Estado:
Rupturas incompletas

Independência: Crise do Antigo Sistema Colonial, opção pela manutenção da escravidão e monarquia, unidade
territorial

Abolição: fim tardio após período longo e tortuoso, fruto da luta abolicionista e avanço liberal.

República: fim do escravismo, centro dinâmico no Sudeste (Interiorização da metrópole), adoção de sistema juridico
burgues

Revolução de 30: dissidência nas classes dominantes, efervescência social nos anos 20, rompe com oligarquia e abre
caminho para industrialização.

Neoliberalismo.

Não houve uma revolução verdadeira


Alguns interpretes marxistas sobre a formação econômica e
social:

• Caio Prado Jr

• Fernando Novais
Formação do Brasil Contemporâneo
Escreveu Evolução Política do Brasil na década de 30. Mais tarde, em 1942, escreveu Formação do Brasil
Contemporâneo, o livro mais influente da historiografia brasileira.

Livro muito rico, que estuda a sociedade colonial e que tira deste estudo consequências sobre o conjunto da trajetória
do país.

É muito mais complexo do que isso, mas tem duas teses fundamentais que estruturam a obra.
1. Sentido da Colonização.
2. Orgânico e Inorgânico.
Sentido da Colonização
Para Caio Prado Júnior o Brasil só poderia ser compreendido dentro do sistema internacional no qual estava inserido.

Para ele as determinações da forma como o Brasil se formou foram todas exteriores. Estavam vinculadas as necessidades da
metrópole e do mercantilismo.

Dessa maneira a tríade: latifúndio, monocultura, trabalho escravo era determinada por isso. Por necessidades exteriores.

"todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo sentido. Este se percebe não nos pormenores de sua
história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo...O
sentido da evolução de um povo pode variar; acontecimentos estranhos a ele, transformações internas profundas do
seu equilíbrio ou estrutura, ou mesmo ambas estas circunstâncias conjuntamente, poderão intervir, desviando-o para
outras vias até então ignoradas.".
Sentido da Colonização
Haveria um sentido da colonização no Brasil, que teria sido a chave mestra, a espinha dorsal do nosso processo de
formação, que era esta determinação externa.

Segundo Caio Prado:

“Se vamos à essência da nossa formação, veremos que a realidade nos constituímos para fornecer
açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes, depois algodão e em seguida
café, para o comércio europeu. Nada mais do que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem de interesse daquele comércio, que se
organizarão a sociedade e a economia brasileira. ... Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem
como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá
seus cabedais e recrutará a mão-de-obra que precisa: indígenas ou negro importado. Com tais
elementos, articulados numa organização puramente produtora industrial, se constituirá a colônia
brasileira. O ‘sentido’ da evolução brasileira, que é o que aqui estamos indagando, ainda se afirma
por aquele caráter inicial da colonização”
Sentido da Colonização

Dizia que a descoberta e colonização do Brasil era mero capítulo da evolução comercial da Europa.

Este sentido permaneceu mesmo após a independência. Mercado Interno insuficiente, país agroexportador, importador de
bens de maior valor agregado, transferidor de divisas para a metrópole.

Noção de independência incompleta. Tarefa seria romper com as determinações externas, buscar um desenvolvimento
baseado nas forças internas da sociedade brasileiras. Romper dependência.
ORGÂNICO E INORGÂNICO
Outra idéia fundamental, de que a sociedade brasileira se dividia em duas classes fundamentais, senhores e escravos.

Mas esta não era a única divisão. Havia outro modo de ver a sociedade colonial: um setor orgânico, ligado ao comércio e as
determinações exteriores, e um setor inorgânico que vegetava a margem.

O setor orgânico era formado por senhores e escravos, que estavam inseridos no circuito internacional, e tinham uma relação
de opressão regrada, faziam parte de um sistema, que se reiterava e funcionava de acordo com uma lógica.

O setor inorgânico era formado por imensa massa de pessoas, homens pobres livres, que viviam das migalhas dos senhores
de escravos, era seus capangas, sua clientela, plantavam em rocinhas de subsistência, vendiam mandioca e outros produtos
de baixo valor.

A nação não se desenvolveria enquanto houvesse este setor inorgânico, na medida em que a riqueza, a seiva da sociedade,
não passava por este setor.

A idéia de Caio Prado era a de um litoral articulado com o capitalismo comercial e de um interior abandonado. Isso
começaria a mudar com a mineração, mas não mudaria de modo definitivo. A mineração não teve força para articular
internamente a produção e a circulação de mercadorias.
SENTIDO DA COLONIZAÇÃO + ORGÂNICO E INORGÂNICO

Assim, para Caio Prado tínhamos um país cujos impasses eram produto de uma ruptura incompleta com esses dois elementos,
o sentido da colonização e a existência do inorgânico.

Dito de outro modo, um país voltado para determinações externas, fornecedor de matérias primas, com uma economia sem
pujança interna ( sem mercado interno), com uma imensa massa de pobres que vinha sendo formada pelos pobres livres da
colonia e que foi engrossada pelos escravos ( escravos viraram pobres livres).
CRISE DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL –
FERNANDO NOVAIS
Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial.

Livro que mostra esta articulação. Brasil e Colônias foram o elemento que possibilitaram a acumulação primitiva de capital
para a revolução industrial.

Sistema colonial baseado na idéia de exclusivo. Brasil só poderia comerciar com Portugal, vendendo barato, comprando
caro. Excedente era sugado para a Inglaterra.

A acumulação do excedente, portanto, era exógena, se dava fora dos circuitos internos da economia brasileira, ia, em
última instância, para a Inglaterra.

Sistema se desarticulou com a emergência do capitalismo industrial, que necessitava de uma outra organização da
economia, mercados consumidores, mão de obra livre, etc.

A escravidão gerou o capitalismo industrial que a destruiu.


Sobre essas interpretações sobre a formação econômico e social Brasileir
podemos concluir que:

O que existiu foi um período de gestação do capitalismo, onde ainda não havia monetarização da economia suficiente para o
assalariamento.

É verdade que a escravidão foi generalizada. Todos tinham escravos: ricos, pobres e até escravos. Em uma sociedade em que o
trabalho é maldito, havia o defeito mecânico, praticamente todo o trabalho era feito pelos escravos.

O Escravismo no brasil foi determinante para a formação do capitalismo industrial e esteve intrisecamente ligado ao novo sistema
europeu, especilmente no XIX, com a economia cafeeira.
BRASIL: UMA SOCIEDADE ESTRUTURADA A
PARTIR DA ESCRAVIDÃO
Uma sociedade estruturada a partir da escravidão, como um dos seus elementos
centrais, deixa raízes no nosso sistema político e jurídico e da formação do Estado
brasileiro e de suas instituições, tem como pressuposto a manutenção da escravidão;
O impacto do movimento abolicionista transcende sua ocorrência, perdura nas
práticas políticas de um país. Entender o abolicionismo, seus antagonistas e o
andamento do processo político da abolição importa porque o fim da escravidão
dividiu águas em nossa história, e também porque a natureza de seu remate
ainda reverbera nas formas contemporâneas da desigualdade no Brasil.”
REGISTRO DE VIAGENS DE NAVIOS
NEGREIROS
• Estima-se que entre 1514 e 1866, mais de 10 milhões de negros tenham
sido retirados à força da África para serem incorporados ao regime de
escravidão das colônias americanas. Mais de 1/3 tiveram o Brasil como
destino.
• http://www.slate.com/articles/life/the_history_of_american_slavery/2015/0
6/animated_interactive_of_the_history_of_the_atlantic_slave_trade.html
LIDERES DO MOVIMENTO ABOLICIONISTA

• - Joaquim Nabuco - importante parlamentar e escritor, oriundo de uma família de grandes proprietários rurais de
Pernambuco;
• - José Patrocínio era filho de um padre e fazendeiro, dono de escravos, e de uma negra vendedora de frutas. Foi
proprietário do jornal abolicionista Gazeta da Tarde
• - André Rebouças - Engenheiro, construtor de importantes obras públicas, defendia o fim da escravidão e o
estabelecimento de uma “democracia rural”, defendendo a distribuição das terras para os escravos libertos e a
criação de um imposto territorial que forçasse a venda e a subdivisão dos latifúndios;
• - Luís Gama - seu pai pertencia a uma rica família portuguesa da Bahia e sua mãe era uma negra africana livre;
Gama foi vendido ilegalmente pelo pai empobrecido, sendo enviado para o Rio e depois para Santos. Junto de
outros cem escravos, descalço e faminto, subiu a Serra do Mar. Fugiu da casa de seu senhor, tornou-se soldado e
mais tarde advogado, atuando em centenas de processos de libertação de escravos
ABOLIÇÃO TARDIA E A CONTA GOTAS

• 1831 – Lei que impunha penas severas a traficantes de escravos. Lei “para inglês ver”
• 1835 – Revolta dos Malês
• 1850 – Fim do Tráfico negreiro
• - Lei de Terras : aprovada duas semanas depois da extinção do tráfico
• - Aumento do tráfico interno
• A partir de 1850 medidas de modernização capitalista: Código comercial; tentativa de criar mercado de trabalho com incentivo
a imigração; investimento em infraestrutura, especialmente, malha ferroviária.
• Forte expansão da economia do café: surge uma burguesia cafeeira

• 1871 – Lei do Vente Livre


• - retomada da política de imigração

• 1888 – Lei Áurea


IMIGRAÇÃO E FALTA DE INTEGRAÇÃO DOS
EX-ESCRAVOS AO TRABALHO ASSALARIADO
• Por que não se tentou transformar escravos em trabalhadores livres?
• Preconceito dos grandes fazendeiros;
• a argumentação racista ganhou a mentalidade dos círculos dirigentes. Os mestiços eram também
considerados seres inferiores e a única salvação para o Brasil consistiria em europizá-lo o mais depressa
possível.
• A marginalidade social e a perseguição ao “vadio”: Código Penal de 1889, “Capítulo XIII – Dos Vadios
e Capoeiras. Art. 399. Deixar de exercer profissão, offício, ou qualquer mistêr em que ganhe a vida,
não possuindo meio de subsistência e domicílio certo em que habite; prover a subsistência por meio de
ocupação proibida por lei, ou manifestamente ofensiva da moral e dos bons costumes:’ ‘Pena – de prisão
cellular por quinze a trinta dias.”
A economia exportadora cafeeira e seu papel na transição à
industrialização (1888-1930)

• Contribuiu na acumulação de capitais; diversificação da economia; formação de uma mercado de terras, produção e
consumo.
• Reunida no PRP , a burguesia cafeeira foi base para fim do Segundo Reinado e sustentação política dos governos na
primeira república. “Café com Leite”.
• Sustentação dos Planos de valorização do Café;
• Primeira pauta de exportação, constituindo pacto político na constituição de 1891 e na política econômica que se voltava
ao fortalecimento da elite cafeeira paulista e do centro-sul.
• Primeiro surto industrial. Anos 20 Brasil consome 80% de tecidos de algodão do mercado nacional. Mas ainda não havia
indústria de base. Estado voltado ainda ao interesse agro-exportador.
• Momento de efervescência social fruto das transformações sociais. Tenentismo, Semana de arte Moderna e Fundação do
Partido Comunista
A crise dos anos 30 e o processo de industrialização

• Crise mundial de 1929 impacta exportação brasileira em momento de grande produção cafeeira.
• Cisão política das elites a sucessão de Whashington Luis, que escolhe paulista para assegurar plano economico.
• Formação Aliança Liberal: necessidade de incentivar produção nacional e não apenas café; proteção aos trabalhadores, do
trabalho de crianças e mulheres e direito a férias e aposentadoria; anistia aos tenentes; reforma política; modernização do
Brasil.
• Base heterodoxa. Industriais aderem posteriormente.
• Maior centralização política, política econômica voltada à industrialização, legislação trabalhista inspirada na
Constituição Weimar, (Constituição 1934), papel central das forças armadas no esforço industrial. Desenvolvimento do
capitalismo nacional.
• Manteve forte politica de sustentação do café. Criou Departamento Nacional do Café. Destuição de café de 1931 a 1944;
78 milhões de sacas equivalente a 3 anos de consumo mundial.
As características básicas da industrialização brasileira entre os anos 1930-1945.

• Período marcado pelo autoritarismo e Modernização conservadora.


• Levante comunista em 1935. Forte repressão à classe trabalhadora e ao PCB
• Carta de 1937 : concessão de super poderes poderes ao presidente.
• Maior esforço na construção da indústria de base, criação da lei organica do ensino industrial,
criação da Companhia Siderurgica Nacional; Código de Minas que proibia participação de
estrangeiros na mineração e metalurgia; criou o Conselho Nacional do Petróleo;
• Adoção da política de substituição de importações em 1942 e criou a Coordenação de
Mobilização Econômica;

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