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BRASIL
Aula 5
ideário de Direitos Humanos, chegou a hora de estudarmos como estes processos se deram no Brasil,
ou melhor, de verificarmos se estes processos ocorreram no Brasil e de que forma. Para os futuros
Sabe-se que a questão social é a contradição entre capital e trabalho e que a pobreza, miséria,
violência, desemprego, relações precarizadas de trabalho, são as expressões desta questão social, que
é a matéria-prima do trabalho do Assistente Social, portanto seu fazer profissional recai sobre estas
econômicas e políticas do país. É importante conhecermos a história, pois muitos fatos, muitas
da economia do país.
Iniciaremos esta aula discutindo sobre a formação da propriedade privada no Brasil após a
ocupação do país pela coroa portuguesa, na expectativa de dar subsídios para a compreensão de
como ocorreu a distribuição das terras e da riqueza produzida nela, dando origem a classe
Trataremos também sobre a democracia no Brasil: como seu deu este processo, os contextos
históricos e analisarmos a sua consolidação (ou não) no país. Por fim, apresentaremos como se
deram as políticas sociais ao longo da história e os seus rebatimentos na proteção social dos
brasileiros.
CONTEXTUALIZANDO
Os livros de história oficiais trazem a abolição da escravatura como sendo um grande feito de
um grupo de pessoas, consolidado pela “heroína” Princesa Izabel e arquitetado por homens de
ideários republicanos como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. O Brasil ia na contramão do
demais países do mundo, já que ganhava força o Estado Liberal e sua defesa intransigente da
liberdade individual. Grande parte dos países já havia libertado seus escravos, mas estes ainda eram
parte fundamental na organização capitalista brasileira. Mas, por que o interesse da coroa, através da
Leia as duas reportagens, estude os temas desta aula e reflita sobre as questões apresentadas.
Abolição da Escravatura
<http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,abolicao-da-escravatura,484,0.htm>
<http://www.geledes.org.br/por-que-os-negros-nao-comemoram-o-13-de-maio-dia-da-ab
olicao-da-escravatura/>
PESQUISE
Como vimos na aula anterior, o capitalismo começa a tomar forma e a se fortalecer a partir do
século XVII com a ascensão da burguesia na Europa, impulsionada pela Revolução burguesa Inglesa.
Nesse processo de profundas mudanças, na Europa, surge também, como consequência direta do
desenvolvimento de novas forças produtivas, a burguesia como agente propulsor de novas formas
(MAZZEO, 1988).
Caio Prado Junior (1981) e Mazzeo (1988), afirmam que o descobrimento do Brasil foi parte
também da expansão capitalista europeia, já que neste período as colônias tinham um papel
fundamental na produção da riqueza e de capitais para a metrópole (Estado ao qual a colônia estava
vinculada). A ocupação das terras que hoje são o Brasil teve início no ano de 1530, quando Martin
mercantil privado brasileiro, pois apesar da posse da terra ser dada pelo Estado, a produção destas
terras e obtenção de riqueza a partir delas era responsabilidade do donatário. Este donatário podia
também doar pedaços destas terras, ainda não cultivados ou tidos como improdutivos, na forma das
conhecidas Sesmarias, as quais também produziam para ampliar a riqueza. Donatários e sesmeiros
Importante frisar que, conforme estuda Ricardo Costa de Oliveira (2001), esta centralidade da
economia na posse da terra é a estrutura inicial para se entender a classe dominante brasileira, com
especial atenção à concessão das Sesmarias pela Coroa Portuguesa. Ao contrário do que alguns
historiadores colocam, de que as sesmarias foram ocupadas por camponeses, o mesmo autor afirma
que para se ter acesso a uma Sesmaria, era necessário ter escravos e posições sociais. Assim,
[1]
conforme afirma Osório Silva (1996 apud OLIVEIRA, 2001, p. 37), o sesmarialismo com a formação
poder. Ricardo Costa Oliveira (2001), segue analisando que o grupo social que recebeu as Sesmarias
formou as estruturas elementares de poder político local. As Sesmarias também eram redutos
A posse da terra e de Sesmarias sempre teria sido um empreendimento familiar quando não
clânico. Quase não se encontravam pioneiros isolados nas regiões de fronteira, mas a presença de
patriarcas com os seus grupos parentais, seus agregados e recursos nas duras condições iniciais de
colonização e implantação colonial. A posse da terra era a mais segura reserva de riqueza no Brasil
Colônia e a melhor garantia de permanência na classe dominante por parte das principais famílias.
Fizemos aqui este adendo, pois entender este processo de distribuição da terra e consolidação
da propriedade privada no Brasil nos permite entender fenômenos presentes na política e na
economia brasileira até os dias de hoje, tal como a prática sistemática do nepotismo, do “extrativismo
estatal” por famílias que ocupam as classes dominantes desde o Brasil colonial, dando origem aos
“coronéis” e grandes latifundiários, como chama a atenção Oliveira (2001), os quais até hoje possuem
parentes ocupando cargos nos três poderes, são proprietários de empreiteiras e mantêm uma vasta
Retomando nosso assunto central, vale reafirmar que a ocupação das terras e a produção em
grande escala nelas eram a base do capitalismo mercantil brasileiro da época, processo no qual a
riqueza produzida nas colônias era fundamental. Mazzeo (1988), critica os autores que afirmaram que
o capitalismo mercantil não existiu no Brasil colonial, pois acredita que apesar de não ter havido o
capitalismo clássico, com a prevalência do trabalho assalariado, houve uma incorporação das
riquezas produzidas pelas monoculturas nos grandes latifúndios, com itens produzidos por escravos.
O mesmo autor, ao parafrasear Karl Marx, diz que o capitalismo possui um processo chamado de
capital das formas produtivas pré-capitalistas não típicas do sistema capitalista em expansão. Assim,
com utilização de escravos, esta riqueza produzida, na sua forma original, foi incorporada à lógica
A prevalência da escravidão no Brasil tem sua explicação, segundo Mazzeo (1988), no fato de as
condições propícias ao plantio, principalmente da cana-de-açúcar, o que fez com que as metrópoles
europeias transferissem suas grandes plantações para a América. Ainda em colonização, não havia
supostamente outra alternativa para resolver a questão da mão de obra que não fosse o tráfico de
escravos. Assim, de forma legal, os capitalistas que estavam em terras “brasileiras”, proprietários de
terras, passaram a utilizar os escravos, como parte desta expansão capitalista nas Américas:
Concluímos, então, que a produção escravista instalada na América e, portanto, no Brasil, não se
externo, grandes lucros e, fundamentalmente, que utiliza a mais-valia que expropria do escravo
para investir na produção açucareira e agrária (MAZZEO, 1988, p. 11).
>
Esta condição de colônia a serviço do capitalismo europeu, com predomínio da produção com
escravos, dos grandes latifúndios e do baixo caráter técnico da produção, marcará a história do Brasil
de forma particular com o surgimento de uma sociedade conservadora rígida, pautadas nas culturas
europeias, em especial Inglaterra, França e Holanda, e uma classe dominante subordinada econômica
Assim, em breve resumo, temos a formação da propriedade privada brasileira, ainda no Brasil
colonial, com grandes proprietários de terras, latifundiários, herdeiros das Capitanias e Sesmarias,
focados nos produtos agrários, que produziam sua riqueza por meio da exportação de seus
produtos, estes produzidos por meio da mão de obra de escravos negros. Mazzeo (1988, p. 12), de
forma similar a Oliveira (2001), afirma que este latifúndio moderno implementado no Brasil:
[...] marcará profundamente o desenvolvimento histórico-social do Brasil [...] onde as ricas famílias
rurais dominarão quase que exclusivamente o poder político, com seus maneirismos aristocráticos
somados à típica sede de lucros da burguesia (MAZZEO, 1988, p.9).
destes produtos.
Para esta seção utilizaremos basicamente três referenciais teóricos: Florestan Fernandes e sua
obra A Revolução Burguesa no Brasil, Caio Prado Junior e a obra História Econômica do Brasil e
Antonio Carlos Mazzeo com o livro Burguesia e Capitalismo no Brasil. Todos estes autores fazem uma
análise histórica da economia brasileira a partir da teoria crítica marxista, o que implica dizer que o
fazem a partir da lógica do desenvolvimento do capitalismo em nosso país, levando em consideração
nestes contextos os interesses e as lutas de classes. Há também outros importantes autores que você
poderá buscar, com análises mais tradicionais e conservadoras, tal como Celso Furtado e a obra
Como em nosso tema anterior nos atemos a falar da formação da propriedade privada focada
no período do Brasil Colônia, falaremos aqui do desenvolvimento da economia brasileira a partir do
processo de independência do país. Em meados do século XVIII, Portugal era uma metrópole
conservadora e falida. A colônia brasileira era o coração da economia portuguesa, “constituindo-se
no elemento basilar da economia do império português, uma metrópole bastante debilitada pela
crise do sistema colonial e subordinada aos interesses do capitalismo britânico” (MAZZEO, 1988, p.
14). Além da produção agrícola, neste meado do século XVIII o Brasil começa também a crescer com
o minério, se tornando uma economia muito mais prospera que a metrópole (Portugal) que, por sua
vez, apropriava-se desta prosperidade cobrando altos impostos sobre a produção brasileira e
impondo sérias restrições ao comércio com outros países. Com a vinda da família real para o Brasil
(fugidos do exército de Napoleão Bonaparte) abrem-se as condições favoráveis ao processo de
absolutistas. Isto porque a base da economia brasileira ainda era a produção agrícola, toda esta
tendo como mão de obra os escravos negros. Como vimos em nossa aula 3, com a Revolução
economia do Estado nacional nascente. Assim, vê-se que houve uma conciliação entre os interesses
da nobreza e da burguesia local, criando condições para que o molde econômico do país continuasse
da mesma forma que no período colonial. Sobre este processo, Mazzeo (1988, p. 22) explica: “A não-
ruptura com a estrutura de produção escravista e exportadora confirmará a dimensão colonial da
independência a economia é reforçada pela produção do café, fazendo com que o Brasil, em 1830,
chegasse ao posto de maior produtor de café do mundo. A economia cafeeira faz com que os demais
produtos sejam desvalorizados e tenham a sua produção estagnada. Por outro lado, traz uma grande
modernização da produção, principalmente pela melhoria dos sistemas de transporte, com franca
expansão das estradas de ferro e mecanização dos processos de produção. Neste contexto, a queda
do plantio de outras culturas e a mecanização, começa a sobrar mão de obra escrava no Brasil e a se
A produção cafeeira também deslocou o centro da atividade econômica do Brasil para o Sul do
país, em detrimento aos senhores rurais do Nordeste do país, que perderam espaço na ocupação do
aparelho estatal. Com a ascenção desta nova burguesia cafeeira, a implementação do trabalho
assalariado e o deslocamento dos centros de poder para o Sul, abre-se os caminhos para a
implementação da República no Brasil. A república foi proclamada em um processo burguês sem a
França após o processo revolucionário. Estes governos militares tinha o claro propósito de defender
os interesses da burguesia cafeeira, mantendo os grandes latifúndios que sustentavam a economia
local, a exportação dos produtos agrícolas. Apesar de parecer um processo de ruptura, a república
manterá esta base economia, tendo a Inglaterra ainda como seu principal “parceiro” de negócios,
gerando um processo de dependência aos ingleses que Mazzeo (1988) chama de modelo capitalista
“prussiano-colonial”. Sobre este processo, autor explica que:
[...] a burguesia proclama a República, longe das massas populares. A tradição prussiana da classe
dominante articula, “pelo alto”, o golpe de Estado que implanta o regime republicano e uma
ditadura militar no país, como conclusão de um processo modernizador iniciado na segunda
metade do século XIX, expressando assim o apogeu da burguesia do café (Mazzeo, 1988, p.26).
ou Primeira República para a área industrial. A migração do capital agroexportador para o industrial
deu-se pelas “fissuras” na economia cafeeira, pelo excedente de mão de obra com a mecanização
dos processos na produção agrícola e pela demanda por bens de consumo, como alimentos, que até
então tinham que ser importados. Assim, o dinheiro produzido pelo capital cafeeiro foi utilizado para
expandir o capital industrial. Além de tardio, o processo de industrialização no Brasil também foi
falho, já que as indústrias nacionais fabricavam bens de consumo e não bens de capital (os bens de
capital são aqueles que servem à própria indústria, como produção de matérias-primas, máquinas e
equipamentos). Ademais, os autores citados no início deste parágrafo afirmam que a expansão
industrial brasileira se deu de forma subordinada à economia cafeeira, já que o dinheiro do café é
que era utilizado para os grandes investimentos em infraestrutura, como as ferrovias, e a formação
dos grandes bancos que cuidavam das exportações do produto, ou seja, havia uma submissão da
burguesia industrial à burguesia cafeeira.
Nos primeiros anos do século XX, vê-se no Brasil a penetração do capital financeiro estrangeiro
com grande força, em especial o capital inglês, que financiou empréstimos públicos para grandes
investimentos para a expansão da economia cafeeira, como a construção de portos, fornecimento de
energia elétrica, dentre outros. “Gradativamente, o capital internacional foi assenhoreando-se dos
setores mais importantes da economia nacional” (MAZZEO, 1988, p.29). Esta fase é conhecida como
estrangeiro os bens de capital, pois nossa indústria era basicamente de bens de consumo. Por esta
necessidade de bens de consumo, faz-se também o caminho para instalação de indústrias
Neste contexto, com a expansão da industrialização brasileira, ocorre de novo mais um golpe da
burguesia, agora contra a burguesia voltada à agroexportação. Assim, a chamada “Revolução de 30”
crise de 1929, chamada de a “Grande Depressão”, o café perdeu espaço nas exportações e se
enfraqueceu, abrindo espaço para um reordenamento da economia e do capitalismo nacional.
Mazzeo (1988, p. 33), faz uma crítica a tal “Revolução de 30”, afirmando que mais uma vez há
uma revolução burguesa no Brasil, feita “pelo alto”, sem beneficiamento nenhum à massa
trabalhadora e proletarizada: “o que consagrou chamar de revolução não passou de mais um golpe
de Estado, comandado pela facção modernizadora da burguesia nacional, de onde emergirá, mais
uma vez, a solução bonapartista, representada por Getúlio Vargas”. Além da ascendência de uma
nova burguesia, viu-se também um novo proletariado, supostamente protegido pelas leis trabalhistas
país, o aumento das exportações dos produtos industriais, com destaque para os tecidos. Porém,
todo este progresso econômico, ocorrido durante o período da Segunda Guerra Mundial, favoreceu
equilíbrio provisório; e apesar dos grandes sacrifícios suportados pelo país, os anos de duração do
conflito representam uma fase de nítido progresso. É certo que este se fazia à custa da massa
trabalhadora do país, que suportou todo o ônus daqueles sacrifícios (por efeito, em particular, das
restrições alimentares e do encarecimento considerável da vida), e são somente as classes
Com tanta prosperidade, a burguesia brasileira, desconfiada por causa dos regimes totalitários
europeus e vivendo a ditadura Varguista chamada de “Estado Novo”, começa a achar que já não
precisa mais de todo o protecionismo de Getúlio Vargas e começa a requerer uma maior participação
no governo e nos processos decisórios. A vitória das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial,
contra os regimes totalitaristas (nazismo e fascismo), alicerçam as bases das reivindicações burguesas
pela democratização do país. Pressionado, Getúlio Vargas convoca eleições, promovendo o tão
ensejado processo democrático. Esta mudança, segundo Mazzeo (1988, p. 37), foi para seguir a lógica
de “mudar para manter o que aí está”, já que atendeu uma vez mais aos interesses da burguesia.
Porém, desta vez, a massa trabalhadora foi cooptada para o movimento, principalmente através dos
processos de poder. Um exemplo deste fato foi que, após consolidada a nova democracia, o Partido
Comunista Brasileiro (PCB) foi cassado e colocado à margem do processo político.
Após a reeleição de Getúlio Vargas para presidente em 1950, temos uma expansão de um
projeto nacionalista de economia, focado na criação de grandes monopólios industriais, grande parte
deles de caráter estatal com a criação das empresas nacionais de petróleo e de siderurgia (indústria
do aço), em uma tentativa de manter uma certa autonomia do Brasil em relação aos grandes países
capitalistas. Porém, havia um certo interesse da burguesia em negociar com os EUA e seus grandes
Mazzeo (1981) chama de “imperialismo americano”. Uma vez mais há o predomínio da economia
focada no capital industrial, mas ainda subordinado aos países estrangeiros. Temos então a expansão,
a exemplo, da indústria automobilística no Brasil e uma aproximação dos vários blocos da burguesia
nacional com o capital internacional.
Para saber mais sobre o capitalismo monopolista ou capitalismo financeiro, acompanhe o
artigo disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/capitalismo-financeiro.ht
m>.
A expansão das indústrias transnacionais no Brasil foi em grande parte custeada por
investimentos públicos, através do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Houve também no
período, para impulsionar o crescimento, uma grande emissão de moeda brasileira, elevando assim a
inflação, levando o Estado ao “afundamento” em dívidas e uma crise econômica. Para tentar salvar a
economia brasileira, Jânio Quadros, que sucedeu a Juscelino, toma uma série de medidas anti-
inflacionárias, arrochando os salários dos trabalhadores e congelando subsídios para a importação de
produtos como trigo e gasolina. Estas medidas, segundo Mazzeo (1981), não surtiram os efeitos
esperados e houve um aumento inflacionário ainda maior, tendo o governo que recorrer ao Fundo
Monetário Internacional. João Gourlart, o presidente que substituiu Jânio Quadros tenta estabelecer
uma série de medidas para conter a inflação, como a ampliação do mercado interno, conservação
real do salário dos trabalhadores e iniciou uma reforma agrária, no sentido impulsionar de novo a
Neste contexto, o golpe de 1964, que instaurou a ditadura militar no Brasil, foi mais um
movimento da burguesia na tentativa de impor as suas vontades. O golpe também foi motivado por
uma “paranoia”, como chama Mazzeo (1981, p. 47), da burguesia brasileira de que João Gourlat tinha
a intenção de abrir o Estado para o exercício político dos trabalhadores e da grande massa de não
proprietários: “mais uma vez a burguesia brasileira cederia seu poder econômico (para o capital
internacional) para manter o poder político”.
A economia no período da ditadura militar, segundo Mazzeo (1981), pode ser dividida em duas
etapas, sendo a primeira entre 1964 e 1968 e a segunda de 1968 a 1965. A primeira etapa ficou
marcada pela tentativa do controle inflacionário, o que ocorreu com uma forte compressão dos
salários dos trabalhadores. Tal atitude foi amplamente combatida pelos movimentos de
trabalhadores e pelos sindicatos, os quais foram brutalmente reprimidos e oprimidos pelas forças
armadas. Outra medida foi a contenção de créditos às pequenas indústrias nacionais, favorecendo as
indústrias estrangeiras. Surgiram também, neste período, as principais empresas estatais que
conhecemos até hoje, as quais visavam fortalecer o capital produtivo fornecendo-lhes matéria-prima.
Assim, houve uma aliança entre o capital industrial e comercial ao capital financeiro, unindo forças
democráticos existente no país, a burguesia ligada ao capital financeiro domina o país, com uma
economia totalmente internacionalizada. Este período ficou conhecido como o “milagre econômico”.
Surge aí uma nova classe média brasileira, consumidora de produtos de padrão internacional como
automóveis e eletrodomésticos. Surge também aí uma nova classe trabalhadora, sem acesso aos
caros bens de consumo comercializados no Brasil e ainda mais expropriados do produto do seu
trabalho, tanto no campo como na cidade. Com o enfraquecimento das indústrias nacionais e das
exportações agrícolas, uma grande massa de trabalhadores desempregados estava à margem da
economia e eram mantidos sob controle pelo aparato repressor estatal militar. Mais de 50% da
população brasileira estava à margem do “milagre econômico”, o que gerou a própria crise do
regime militar.
A crise do capitalismo mundial ocorrida no final da década de 1960 e início de 1970 gerou a
retração dos investimentos estrangeiros no Brasil, e o custo do milagre passou a ser também
compartilhado pela classe média. O país estava ainda mais comprometido com a dívida externa e as
verdades sobre o tal milagre começam a vir à tona. A classe média, juntamente com os movimentos
novamente, para salvar a economia, marcado por medidas drásticas para conter a inflação que
chegava a 235% ao ano, nos anos de 1980. Para isso, o Estado congela os preços de todos os
produtos, substituição da moeda nacional (para o cruzado) e melhora nos salários dos trabalhadores
para ampliar o seu poder de compra para desenvolver a economia. Estas medidas geraram uma nova
crise, pois houve falta de produtos ocasionada tanto pelo aumento da procura quanto pela recusa
dos setores produtivos em vender seus produtos pelos preços tabelados pelo governo.
A partir de então, nos anos que sucederam a democratização até o início do século XXI vimos no
Brasil o avanço da economia de caráter neoliberalista. Vê-se no início dos anos de 1990 uma
alteração na essência das regras econômicas vigentes no país com a implementação do chamado
“Plano Real”. A tão almejada estabilidade foi alcançada, com a contenção da inflação, controle
cambial e criação de uma moeda que pudesse ser equiparada ao dólar. A emissão de moeda também
foi regulamentada, sendo que o Brasil somente podia emitir moeda em quantidade suficiente ao
lastro de dólar depositados no Banco Central. Com a estabilidade o Brasil atraiu novos investimentos
indústria nacional com o mercado externo, inserindo o Brasil no contexto da globalização econômica.
alizacao.htm>.
No final do século XX e início do século XXI o Estado primeiro intervém fortemente na economia
para garantir a estabilidade e depois adere às políticas neoliberais, as quais preveem a redução do
Estado com a privatização de várias atividades que até então eram de caráter pública e a redução das
políticas de proteção social aos cidadãos. Outra característica é a baixíssima intervenção do Estado na
capital fictício os principais pontos deste modelo que trouxe ao mundo e ao Brasil o deslocamento
do capitalismo focado na produção industrial para o capital financeiro, gerido por profissionais
do mercado de trabalho), dando origem às principais expressões da questão social com a qual atuam
Sabemos que a democracia é um sistema político no qual o poder emana do povo, o qual
escolhe através do sufrágio universal (do voto) os seus governantes e pode participar dos processos
e espaços decisórios das políticas de Estado. Para falarmos do processo democrático no Brasil, é
importante lançarmos mão aqui das teses de Nicos Poulantzas e suas obras Poder Político e Classes
Sociais e O Estado, o Poder e o Socialismo, autor contemporâneo grego de orientação marxista. Para
entender nossa construção, faz-se necessário delimitar aqui o termo poder de Estado. Para
Poulantzas, o Estado não possui poder em si, uma vez que o poder está nas classes ou frações de
classes que detêm o poder político. O Estado é a instância de organização e exercício do poder
político das classes dominantes. O autor delimita ainda que a classe politicamente dominante é
Para Poulantzas (1977), não podemos incorrer no erro de uma análise sobre o Estado capitalista
em uma perspectiva “dualista” (de que existem apenas duas classes: dominantes X dominados), bem
como, não podemos afirmar que haja uma relação entre o Estado e uma única classe dominante. O
autor reconhece que no modo de produção capitalista podemos encontrar várias frações da classe
dominante: comercial, industrial, financeira etc., todas elas são parte dessa classe ou classes
dominantes. Dessa maneira, para explicar a ocupação ou a detenção do poder político por esses
Este conceito de bloco no poder, que não é utilizado expressamente por Marx ou Engels, indica
assim a unidade contraditória particular das classes ou frações de classe politicamente dominantes na
sua relação com uma forma particular do Estado capitalista. [grifos do autor] (POULANTZAS, 1977,
p. 229).
Nesse prisma, as classes dominantes ocupam ou exercem o poder político em forma de bloco no
poder, que seria então essa unidade na qual se conglomeram as frações da classe dominante. Porém,
dentro desse bloco também há conflito, pois, algumas frações dominantes possuem maior influência
ou possibilidade de exercício do poder do que outra. Poderíamos dizer que dentro das classes
O autor afirma então que dentre as frações dominantes há uma delas que polariza politicamente
política e instância de organização desta fração hegemônica, ou seja, é na sua relação com o Estado
(ocupando o poder de Estado) que essa classe hegemônica atende aos seus interesses e polariza o
interesse das demais frações que fazem parte do bloco no poder. Logo, o próprio Estado passa a
estar “a serviço” dos interesses políticos das classes dominantes ou, conforme cita a célebre frase
pautada nas teses marxistas sobre o Estado: “o Estado se transforma no comitê executivo da
burguesia”.
Poulantzas faz questão de definir que o bloco no poder é uma unidade contraditória formada
pelas frações dominantes e não uma fusão entre as classes dominantes. Entender como fusão far-
nos-ia incorrer no erro de crer que todas as frações dominantes se uniriam formando uma classe
única, com interesses iguais, para o exercício do poder. Até aqui explicitamos, por meio das teses de
Poulantzas, a composição, se é que assim podemos chamar, do bloco no poder, do grupo que exerce
o poder político através do Estado. Não podemos isentar-nos de tratar também da relação desse
bloco no poder com as classes dominadas. O autor constata que a hegemonia no bloco no poder e a
hegemonia sobre as classes dominadas estão concentradas na mesma classe ou fração. Isto é, a
mesma fração que polariza o bloco no poder é a que também age com domínio sobre as classes
dominadas.
Apesar da fração hegemônica que ocupa o poder de Estado lá estar para defender o interesse
das outras frações dominantes, faz parte também de seu papel atender a alguns interesses de frações
das classes dominadas, pois, como lembra Poulantzas (1977), nas democracias modernas as frações
dominantes não podem perder de vista a ideologia vigente de que o grupo que ocupa o poder do
Estado seria o representante legítimo do interesse geral do povo. Para tal, como forma de um “jogo
especial econômicos, de algumas frações dominadas, criando assim um conflito no interior da classe
dominada que visa a desorganizá-la enquanto classe:
[...] a luta de classes nas formações capitalistas implica em que essa garantia, por parte do Estado,
de interesses econômicos de certas classes dominadas está inscrita como possibilidade, nos
próprios limites que ele impõe à luta com direção hegemônica de classe. Essa garantia visa
precisamente a desorganização política das classes dominadas, e é o meio por vezes indispensável
para a hegemonia das classes dominantes [...]. (POULANTZAS,1977, p. 185)
Assim, podemos aludir que para Poulantzas, as possibilidades, dentro do modo capitalista de
produção, das classes dominadas chegarem a ocupar/exercer o poder de Estado são mínimas, uma
vez que o bloco no poder age em torno dos interesses das classes dominantes, mas não deixa de
criar “políticas compensatórias” para atender às demandas das classes dominadas. Para Poulantzas
(1977), caso as frações dominantes não criem “políticas sociais” para atender às demandas e pressões
das classes dominadas, poderiam colocar em risco a sua própria hegemonia no poder de Estado.
Esta construção do bloco no poder é fundamental para explicar os processos democráticos pelos
quais o Brasil passou e ainda vive. Como vimos em nosso tema anterior, todas as “revoluções”
ocorridas no Brasil foram revoluções burguesas e sempre que passamos pelas transições
democráticas, a classe trabalhadora não chegou ao poder e foi usada como massa para pressionar
mudanças e depois espoliada dos processos políticos. Assim foi na transição da monarquia para a
república, no final do século XIX, quando os militares assumiram o poder Brasil através do voto (há
uma série de autores que indicam que as eleições da República Velha teriam sido forjadas),
representando a burguesia latifundiária.
Novo, mais uma vez somente uma fração da classe dominante, insatisfeita com as políticas
nacionalistas de Getúlio Vargas toma o poder, utilizando as forças de esquerda crescentes no país no
movimento, mas a excluindo dos processos decisórios novamente. Os presidentes eleitos pós-45 não
representaram, do ponto de vista econômico, os interesses do proletariado.
Outra vez, na terceira onda de democratização no Brasil, após a ditadura militar, houve uma
grande mobilização social contra o governo repressor militarista, com grande participação dos
em 1982 e as eleições presidenciais indiretas em 1985. Esta eleição de 1985 mostra apenas a
alternância no Bloco no Poder no Estado brasileiro, já que tanto Tancredo Neves quanto José Sarney
eram representantes das oligarquias historicamente dominantes no Brasil, sendo duas famílias que
Mesmo após o ano de 1988, com a definição constitucional das eleições diretas temos a
Franco e Fernando Henrique Cardoso, o qual ganhou popularidade pela estabilidade econômica, mas
A esta altura, o você deve estar se perguntando: então a democracia em seu sentido pleno
somente foi alcançada no Brasil com a eleição do Partido do Trabalhadores para a Presidência,
quando de fato os interesses das massas foram representados? Apesar de representantes das classes
trabalhadoras, a forma como o poder estatal está organizado no Brasil faz com que governos que
não atendam aos interesses das classes economicamente dominantes não consigam prosperar. Se o
Bloco no Poder não representar também as classes dominantes, não terá governabilidade, o que faz
com que mesmo os governos mais populares e alinhados aos interesses dos menos favorecidos
transitem pelas classes dominantes, adquirindo o que Pierre Bourdieu chama de habitus de classe,
neste caso vemos que os dois presidentes nesta condição (Lula e Dilma), em especial o primeiro,
adquiriram habitus de classe da classe dominante, apreciando comportamentos dominantes (objetos
luxuosos, comidas requintadas e caras, moradia de luxo etc.), relações de amizade e de “negócios”
com a classe economicamente dominante e até mesmo o consumo de bens culturais de classe
dominante. Ainda assim, estes governos que mais se aproximaram de fato da democracia
representativa dos interesses do povo, quando não mais atenderam aos interesses da burguesia
entraram em crise, como demonstra crise política vivenciada no Brasil no ano de 2016.
Para saber mais sobre a democracia no Brasil leia o artigo de Maria José Rezende, A
democracia no Brasil: elementos norteadores do debate desenvolvido na segunda metade do século
Elaine Behring (2015), faz uma análise acerca das políticas sociais no capitalismo tardio brasileiro.
A autora afirma que a cada ciclo da história do capitalismo no Brasil as políticas sociais tiveram um
papel diferente, serviram a uma função diferente, mas sempre ligada à manutenção do sistema
capitalista, seja através do cuidado com o trabalhador para aumentar a sua produção, seja para
conter os movimentos de trabalhadores, seja para atender ao “exército industrial de reserva”, para
sustentar com dinheiro público a crise do capitalismo ou para minimizar os efeitos das políticas
urbana ocasionado pela vinda das pessoas do campo para a cidade em busca de trabalho, sem haver
oferta para todos, o Estado passa a intervir na questão social com políticas de amparo ao
trabalhador, especificamente na forma de seguros sociais. Estes seguros sociais nunca foram
financiados pelos impostos cobrados sobre os lucros das classes dominantes, mas sim com dinheiro
do próprio trabalhador, no sistema contributivo. Sobre este processo, Behring (2015, p. 179) explica:
caridade e à benevolência privada ou pública, o movimento operário impõe o princípio dos seguros
sociais [...] para cobrir perdas. Este processo levou ao princípio da segurança social, a partir do qual
os assalariados deveriam ter cobertura contra toda perda de salário corrente. [...] também a
perspectiva de evitar a constituição de um subproletariado, o que pesaria sobre os salários direitos
sociais vinculados ao operariado e, como resposta a estes movimentos e às pressões que poderiam
fazer, no Governo de Getúlio Vargas propicia-se uma franca expansão das políticas de cunho
trabalhista, incluindo as leis trabalhistas e a criação de Ministérios como o do Trabalho e outros que
geririam as políticas básicas ao trabalhador e seus familiares, como educação e saúde. Estas políticas
tinham como finalidade conter a exasperação dos movimentos sociais e, para isto, o Estado passa a
tratar a questão social não mais como caso de polícia e sim como política de Estado. As políticas
sociais passam aqui a ter um caráter de controle da massa de trabalhadores através da formação de
um “consenso” entre os trabalhadores e o Estado, este último representante dos interesses da
burguesia. Estas políticas vinham também no bojo das ideias keynesianas, as quais primavam pelo
financiamento público de ações que viessem a salvar a economia capitalista e garantir o seu
pós Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1970 vê-se uma transformação do mundo do
trabalho causada pela crise do capitalismo o qual desloca o seu foco de acumulação da riqueza
através produção industrial e passa a ter como fonte de acumulação o capital financeiro, gerando
desemprego e precarização nas relações de trabalho, já que o “trabalho vivo” que produz a
isto é, a flexibilização das restrições e regras para aplicação de capital no mercado financeiro.
Neste contexto temos um avanço histórico nas políticas sociais, ao menos do ponto de vista
normativo, com a promulgação da Constituição de 1988, a qual traz o conceito de Seguridade Social,
separando a previdência social, de caráter contributivo, da assistência social, financiada pelo Estado,
destinada a quem dela necessitar, com políticas compensatórias e de proteção social dos direitos.
Apesar deste movimento de garantia dos direitos através das políticas sociais, com a ofensiva
neoliberal a que foi acometido o Estado brasileiro no final do século XX, vimos diminuir a presença
do Estado em todos os setores, com pouca intervenção sobre a economia e sobre a vida social,
Neste contexto, vê-se o esvaziamento do Estado no que concerne à política social e a oferta dos
Serviços Sociais. Faleiros (2010, p.31) afirma que houve o desmonte das políticas sociais “getulistas”
de amparo ao trabalhador; “o Estado não mais se ocupa do desenvolvimento do bem-estar social,
Com o advento do Estado neoliberal, a partir do final da década de 1980, ocorre um fato
chamado por Marilda Iamamoto (2015) de “refilantropização” das políticas sociais, especialmente da
política de assistência social. Este processo é caracterizado pela assunção por parte de organizações
da sociedade civil, chamadas até então de Organizações Não-Governamentais (ONGs), de serviços
antes executados e ofertados pelo poder público, emergindo assim o Terceiro Setor, o qual atua de
forma complementar a ação estatal, caracterizando por entidades privadas exercendo atividades de
natureza pública:
privada ocorre em detrimento das lutas e de conquistas sociais e políticas extensivas a todos. É
exatamente o legado de direitos conquistados nos últimos séculos que está sendo desmontado nos
governos de orientação neoliberal [...]. Transfere-se para distintos segmentos da sociedade civil,
significativa parcela da prestação de serviços sociais [...]. (IAMAMOTO, 2009, p. 22-23)
contradições à formulação e execução das políticas sociais. A autora explica que a Constituição
Federal de 1988 tem como um de seus pilares principais a garantia dos direitos sociais aos cidadãos
brasileiros, como já dissemos aqui. Para a universalização destes direitos, a carta magna prevê alguns
pilares para a democratização das políticas sociais, sendo a descentralização e a participação popular
dois deles. A mesma autora segue afirmando que esta nova configuração prevista na Constituição
Federal “politiza a participação, considerando a gestão como arena de interesses que devem ser
reconhecidos e negociados” (p. 21). A contradição citada está posta no fato de a Constituição Federal
ampliar direitos, enquanto o neoliberalismo tensiona para a redução do Estado e, por consequência,
da oferta dos serviços sociais, com a redução de recursos para esta finalidade, ratificando “a
subordinação dos direitos sociais à lógica orçamentária, a política social à política econômica e
sociais como o Bolsa-Escola, o Auxílio Gás, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Bolsa
os autores mais críticos, surgem para novamente estabelecer o consenso com as massas mais
pauperizadas, como forma de compensar o enxugamento das políticas sociais.
da recente organização do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), o qual eleva a política de
assistência social ao patamar de política pública básica, como saúde e educação. Além da
estratificação das políticas por níveis de complexidade, o SUAS estabelece que grande parte dos
serviços, em especial os básicos e os de média complexidade, passam a ter a sua execução e oferta
assim a execução desta política da centralização da esfera federal, com maior participação social na
representantes dos usuários dos serviços, dos trabalhadores da área e das entidades sociais que
Por fim, nos últimos treze anos, em especial os oito compreendidos entre 2003 e 2010, vemos no
população em situação de pobreza. Este compromisso fica evidenciado, segundo Behring et. al.
(2010) no primeiro Plano Plurianual do governo do Presidente Lula, o qual tem como objetivos
centrais: Inclusão social e redução das desigualdades sociais; crescimento com geração de trabalho,
emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades regionais; e promoção e
Na atualidade, diante da crise econômica vivenciada no Brasil nesta segunda década do século
XXI, vemos estes programas sociais ameaçados pelos interesses da burguesia que compõe as classes
média e alta brasileiras, com uma crescente ameaça ao retorno, com força, das políticas neoliberais.
TROCANDO IDEIAS
Agora que você já viu, sobre a perspectiva crítica marxista, sobre a democracia no Brasil e a
questão da representatividade, entre no fórum, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem, e
dê a sua opinião sobre os governos Lula e Dilma Roussef, especificamente se houve ou não uma
NA PRÁTICA
suponhamos que um assistente social coordenava um programa estadual que consistia em repasse
de pisos de financiamento para alguns municípios para execução de atividades junto às famílias em
Com base em um diagnóstico pautado em dados do Censo Demográfico, Censo SUAS, Cadastro
Único, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Mapa da Violência, dentre outros, foi estabelecido
um ranking de municípios prioritários para receber o referido repasse de recursos. Este ranking foi
aprovado e validado pelo conselho setorial responsável pela política de assistência social. Em um
primeiro momento, dez municípios foram beneficiados, sendo estes os dez primeiros colocados do
ranking.
cinco próximos do ranking estabelecido a partir de critérios técnicos. Ocorreu que o gestor da
do programa que um dos cinco municípios a serem beneficiados fosse uma cidade cujo prefeito era
aliado político do governo, mas que sequer apareceu no ranking dentre as primeiras cinquenta
Foi solicitado a este assistente social que fizesse um estudo sobre o referido município, na
intenção de elaborar uma justificativa a ser apresentada no conselho setorial e para ser dada aos
municípios mais bem colocados do ranking, os quais certamente questionariam o cofinanciamento a
um município que não estava nas primeiras posições. O que você faria no lugar deste assistente
social?
Protocolo de Resolução
3. Apresente uma possibilidade de saída para este assistente social, considerando os critérios
técnicos e éticos da profissão.
4. Núcleo central das respostas esperadas:
A primeira possibilidade seria recusar-se a realizar tal estudo e a construir uma justificativa para
burlar os critérios técnicos estabelecidos no programa, entendo que o interesse político e econômico
do gestor não poderia se sobrepor ao interesse público. Não há como negar que os aspectos
econômicos e políticos permeiam as políticas sociais e, no caso em questão, o aspecto político
partidário está se sobrepondo ao aspecto técnico da gestão. Se o profissional for concursado, efetivo
do serviço público, é possível que neste caso tome uma decisão como esta e sofra represália, mas
não terá o seu emprego ameaçado. Porém, se tal profissional for contratado na forma de cargo
comissionado, estará sujeito à vinculação política com o gestor e poderá perder o seu emprego por
Uma segunda possibilidade é realizar o estudo e tentar construir uma justificativa, mas se
recusaria a apresenta-la junto ao conselho setorial e aos demais municípios, deixando esta exposição
a cargo do gestor. Embora o profissional não se exponha publicamente defendendo uma posição
que não é a sua posição técnica, estará contribuindo para o processo fornecendo subsídios e
argumentos para que o gestor justifique uma decisão que foi meramente político-partidária e não
técnica e que não levou em conta a demanda dos usuários em situação de vulnerabilidade. Porém, ao
fazer o gestor expor-se numa situação desta poderá leva-lo a, talvez, desistir da posição tomada, já
que esta poderá trazer repercussões negativas à sua imagem e a do governo.
refletir institucionalmente a situação posta, fazendo parecer ao gestor que este é o “dono” da
máquina pública e que tem um poder soberano sobre o corpo técnico da instituição, o qual obedece
as suas ordens independente de questões técnicas. O profissional do Serviço Social já possui uma
relativa autonomia no seu trabalho e esta postura do gestor acaba por violar este pouco espaço
autônomo que o profissional possui, fundada na dimensão técnica da prática profissional.
Para todos os casos, o vínculo do profissional com a instituição (efetivo ou comissionado) será
um determinante na decisão dele no problema em foco.
SÍNTESE
Nesta aula fizemos uma análise sobre a formação da propriedade privada no Brasil, a qual teve a
sua origem a partir das Capitanias Hereditárias e da distribuição das Sesmarias, dando início aos
grandes latifúndios que sustentaram o coronelismo e a manutenção das famílias burguesas no poder
Estudamos também sobre a formação econômica do Brasil, quando pudemos ver que, ainda que
utilizando mão de obra de escravos negros. Esta produção agrícola sustentou por muitos anos
Portugal, já que os colonos brasileiros eram obrigados a dar parte de suas rendas para a coroa da
metrópole. Um próximo ciclo da economia foi aquele pós-independência, pautado na produção
produção, gerando a necessidade de menos mão de obra e por consequência a abolição dos
escravos, que junto com estrangeiros, tornaram-se trabalhadores “livres” assalariados, explorados
pelo grande capital latifundiário.
fortalecimento do capitalismo monopolista pós Segunda Guerra Mundial, com uma intervenção do
capital americano, dando prosseguimento à subordinação da economia brasileira ao capital
estrangeiro, antes predominantemente o britânico e agora o americano. Passada esta fase e crise
capitalista dos anos 1970, o Brasil passa a adotar o modelo mundial de financeirização do capital,
enfraquecendo a indústria e fortalecendo os grandes capitais administrados pelas instituições
financeiras, modelo econômico vigente até os dias atuais.
Velha, não passou de uma alternância dos Blocos no Poder, das frações da classe dominante que
representava os interesses de cada época. As chamadas “revoluções” foram processos de
sobreposição do interesse de um grupo da classe dominante sobre o outro. Ainda que com o
advento do sufrágio universal tenha-se a ideia de democracia porque o representante eleito seria o
representante do povo, aqueles que conseguem chegar ao poder normalmente representam o
Por fim, vimos que também as políticas sociais foram no Brasil respostas às necessidades do
capital e sempre tiveram cunho econômico como pano de fundo. As políticas sociais foram e ainda
são o financiamento público do Estado para o desenvolvimento dos interesses do capital e surgem
Desta forma, vemos que economia capitalista é o grande agente regulador do Estado,
REFERÊNCIAS
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Lucia M.B.; FREIRE, Silene de M.; CASTRO, Alba T. B. (Orgs.). Serviço social, política social e
trabalho: desafios e perspectivas para o século XXI. 3.ed., São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ,
2010.
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FALEIROS, Vicente de P. O serviço social no mundo contemporâneo. In: FREIRE, Lucia M.B.;
FREIRE, Silene de M.; CASTRO, Alba T. B. (Orgs.). Serviço social, política social e trabalho: desafios e
perspectivas para o século XXI. 3.ed., São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2010.
OLIVEIRA, Ricardo Costa. O silêncio dos vencedores: genealogia, classe dominante e estado no
Paraná. Curitiba: Moinho do Verbo, 2001.
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POULANTZAS, Nicos. O estado, o poder e o socialismo. Trad. Rita Lima. 9. ed. São Paulo: Graal,
2000.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 26. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981
[1] SILVA, Lígia Osório. Terras devolutas e latifúndio. Efeitos da lei de 1850. Campinas:
Unicamp, 1996.