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Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Campus Arapiraca – Unidade Palmeira dos Índios- Curso de Serviço Social

Curso: Serviço social


Disciplina: TCC 2
8° período
Docente: Silvana Medeiros
Discente: Naely da Costa Leite

Resumo – Particularidades do capitalismo na formação social brasileira

A autora começa destacando três particularidades para entender a Questão Social a


partir do processo de instituição do capitalismo na sociedade brasileira. Inicialmente, ela traz
o caráter conservador da modernização operada pelo capitalismo brasileiro, que não rompe
com as condições de atraso que se apresenta como traços decisivos na estruturação das classes
sociais, o que por sua vez influencia a política econômica que constitui as particularidades
desse capitalismo.

É importante ressaltar que o “atraso”, antes mencionado, é uma consequência do


atraso do capitalismo português, e como solução para este impasse é que constitui os
latifúndios, sob a justificativa de que apenas algumas pessoas possuíam as condições
necessárias para investir nos engenhos. Tal fato constitui a gênese da concentração fundiária
brasileira, o que por sua vez dava aos fundiários o poder de tomar como propriedade as terras
cujo os ocupantes não possuíssem titulação de proprietários, o que contribuiu para a
expropriação das terras da classe trabalhadora.

A permanência do latifúndio com vista a exportação, que deixa o Brasil no lugar de


agroexportador na divisão internacional do trabalho capitalista é um aspecto este que se
mantém ao longo da história, e se estabelece pelo baixo custo de mão de obra e de produção
de matérias-primas, que possibilitava baixos custos para quem produzia e para quem
comprava, estabelecendo um “complexo integrado” formado por um aliança social e política
entre imperialismo e oligarquias que congelou as relações pré-capitalistas e limitou os rumos
do mercado interno levando ao capitalismo retardatário.

Outra determinação apontada pela autora é a revolução burguesa brasileira onde ela
destaca o pensamento de dois autores a respeito deste momento da história: Sodré, que vê no
nacionalismo varguista um importante momento da revolução burguesa e Fernandes que vê
no golpe de 1964 o processo que culmina na revolução burguesa. entretanto as elaborações de
ambos apontam para o entendimento de que os interesses da burguesia brasileira não tinham
nada a ver com os ideais revolucionários ou reformistas. A burguesia brasileira possuía um
horizonte cultural e econômico ditado pela inserção subalterna na dinâmica do capitalismo
comercial, que possui componentes oligárquicos autárquicos e senhoriais da burguesia. A
autora ainda destaca que diante do desenvolvimento desigual o Brasil permanece dependente
do capital comercial para o sustentar seus processos de acumulação baseado na exportação.
por fim outra característica que reforça capitalismo aliado ao “atraso” é a demora em construir
um mercado de trabalho, pois adia enquanto pode a abolição total da escravidão pois a
exploração dessa força de trabalho era a base da extração dos lucros de capital comercial que
possibilitava também a acumulação de valores elevados nas mãos proprietários de escravo.

A segunda particularidade apontada pela autora é a exclusão das forças populares dos
processos de decisão política. O Estado reconhece a força da sociedade civil e tenta controlá-
la por meio da cooptação e manipulação dos interesses da classe subalterna. O Estado se
antecipa e conduz os processos de mudanças sem provocar alterações estruturantes no modelo
econômico, no padrão de acumulação e na lógica do poder político. Nesse sentido os
sindicatos são incorporados ao Estado e usados como um mecanismo de dominação política
da classe trabalhadora.

A terceira particularidade diz respeito ao desempenho do Estado na sociedade


brasileira, onde a autora aponta que, embora o transformismo se exerça em nome dos
interesses da classe burguesa, quem o protagonizou foi o Estado.

No Brasil, o liberalismo surge como ideologia das classes senhoriais, ainda antes da
instituição do trabalho livre, onde questionava o estatuto colonial reivindicando mudanças
políticas e econômicas. Entretanto não apresentava alterações significativas na estrutura
econômica ou na vida ideológica, o que reforça a modernização conservadora.

Em suma, o papel central do estado na formação do capitalismo brasileiro se apresenta


como principal agente é econômico e político neste processo, papel que o liberalismo coube a
burguesia. Dessa forma, uma das principais características da política brasileira está baseada
na utilização do espaço público para viabilizar os interesses das frações burguesas, atrelados à
submissão ao capitalismo internacional.

Citações

[…] No Brasil, o desenvolvimento capitalista não se operou contra o “atraso”, mas mediante
sua contínua reposição em patamares mais complexos, funcionais e integrados.” (NETTO,
1996, p. 18 apud SANTOS, 2012, p. 95).

“Quanto a primeira determinação, é preciso ressaltar a complementariedade econômica,


especialmente após o advento do imperialismo, da manutenção do “desenvolvimento desigual
e combinado” para maximizar a taxa de lucros dos países capitalistas centrais.” (p. 98),

“Não por outro motivo, mesmo entendendo a Revolução Burguesa segundo Fernandes (2006),
ou seja, associando-a à consolidação da industrialização pesada, sob o período da ditadura
militar, o latifúndio permanece intocável, embora visivelmente refuncionalizado, pela
reestruturação das relações capitalistas. Esse fato também é reconhecido por Sodré (1990, p.
31) quando afirma que "[...] a heterogeneidade persiste: o Brasil arcaico nos cerca por todos
os lados; o latifúndio persiste, abalado, mas sobrevivendo a tudo”. (p.106).

“[…] Ocorre que, por conta do desenvolvimento desigual, países como o Brasil permanecem
dependendo do capital comercial para sustentar seus processos de acumulação, que estão
baseados na exportação de seus produtos para o mercado internacional. É, portanto, o
comércio que possibilita a realização do capital cafeeiro e de sua acumulação, e é também ele
que determina, por conseguinte, as proporções do mercado interno que origina a indústria
brasileira.” (p. 109).

“Outro exemplo que poderia ser dado sobre como a formação do capitalismo brasileiro se faz
"de par" com o "atraso"' pode ser atestado na emergência de uma de suas premissas centrais; a
formação do mercado de trabalho. Apesar da base moral da escravidão no Brasil já estar em
franca decadência após 1850, quando proibido o tráfico de escravos (cf. Cap. 2), o
conservadorismo das classes dominantes na monarquia brasileira adiou, enquanto pôde, sua
abolição definitiva com manobras como a Lei do Ventre Livre e dos Sexagenários.” (p. 110).

“[…] o desenvolvimento desigual e combinado foi parte importante da estratégia dos


superlucros operados no contexto dos monopólios.” (p. 111)
“Daí se extraiu, portanto, que a constituição do capitalismo brasileiro como capitalismo
retardatário sinaliza, equivocamente, a ausência de reformas estruturais e a heteronomia,
próprias da “modernização conservadora”, constituindo-se na primeira das particularidades
assinaladas.” (p. 111 a 112).

“Parece-me evidente, portanto, que o processo, ainda que retardatário da industrialização


brasileira, está na base das pressões democráticas que as chamadas pelo autor de "classes
populares" exercem sobre o Estado no Brasil de 1945 a 1964, período considerado pela
historiografia como o auge do "populismo". De acordo com esse pensamento, tais pressões
dizem respeito às possibilidades de ascensão socioeconômica e de consumo, desencadeada»
com a migração campo-cidade em face do processo de urbanização e das péssimas condições
de vida nas áreas rurais.” (p. 114)

“[…] Desse modo e, principalmente, após o período varguista, o Estado no Brasil age, no
dizer de lamamoto e Carvalho (1995), como "o novo coronel". A partir dessa expressão, os
autores querem chamar a atenção para o esva-lamento do teor conflitivo envolvido na
promulgação dos direitos e serviços socioassistenciais, promulgados como se fossem
"concessões" do Estado. Os resultados dessa movimentação intencional do Estado brasileiro
podem explicar boa parte da "aparente passividade" da nossa classe trabalhadora que foi
historicamente debilitada em sua autonomia organizativa, tendo suas lutas absorvidas pelos
canais institucionais, a exemplo do que ocorreu com o corporativismo sindical, […]” (p. 121)

“O princípio liberal da "mão invisível do mercado" pressupõe uma dominância econômica


burguesa de tal modo enraizada socialmente, que dispensava intervenções extraeconômicas
para o seu "bom andamento". Esse não propriamente o caso brasileiro quando se torna
independente: "o liberalismo brasileiro era exclusivamente urbano, superficial, de conotação
ideológica (antes que prática) e voltado para as relações externas do país" (lanni, 1986, p.
34).” (p. 123).

Referência

SANTOS, Josiane Soares dos. Particularidades do capitalismo na formação social brasileira.


In: “Questão Social”: particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez, 2012.

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