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Agricultura e acumulação de capital

A consolidação de um novo paradigma

O nal dos anos 1960 é um período extremamente rico para a


produção do conhecimento sobre o mundo rural brasileiro. É
nesse momento que se consolida no país um novo paradigma a
respeito dessa realidade que, superando alguns dos temas presen-
tes nos debates precedentes, se constitui como um patamar a
partir do qual novas questões podem ser formuladas e pesquisadas.
Trata-se, fundamentalmente, da resolução do longo debate
político-acadêmico em torno do dilema feudalismo-capitalismo,
pela armação da natureza capitalista da agricultura brasileira
e da superação da visão dualista, que defendia a existência parale-
la de dois “Brasis”, pelo reconhecimento da centralidade do pro-
cesso de acumulação capitalista no país. Admite-se, também,
nesse momento, que a sociedade brasileira assume, a partir dos
anos 1930, uma nova fase de seu processo de desenvolvimento,
que se caracteriza pelo caráter urbano-industrial hegemônico.
O ponto de partida é, sem dúvida, a obra de Caio Prado Jú-
nior, um dos expoentes do debate feudalismo-capitalismo, que
combateu profundamente as teses feudalistas, particularmente
aquelas defendidas pelo Partido Comunista Brasileiro. Esse autor
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defendeu em seus escritos a natureza capitalista da sociedade


brasileira e as consequentes implicações sobre seu pro cesso de
transformação. Para Caio Prado Júnior, no centro das questões
estavam as relações sociais de trabalho e produção predominantes
na agricultura brasileira, por ele consideradas não como “res-
quícios feudais”, mas como sobrevivência do sistema escravista,
existente no Brasil até 1888:

Mas essas sobrevivências escravistas (que são frequentemente apon-


tadas pelos teóricos do feudalismo brasileiro como “restos feudais”),
longe de constituírem obstáculo ao progresso e desenvolvimento do
capitalismo, lhe têm sido altamente favoráveis, pois contribuem
para a compressão da remuneração do trabalhador, ampliando com
isso a parte da mais-valia e favorecendo, por conseguinte, a acumu-
lação capitalista. O que sobra do escravismo representa assim um
elemento de que o capitalismo se prevalece e em que frequentemente
se apoia, uma vez que o baixo custo da mão de obra torna possível
em muitos casos a sobrevivência de empreendimentos de outra
forma decitários. (Prado Júnior, 1966, p. 150)

O capitalismo que se reproduz no Brasil tem particularidades


que decorrem de sua condição colonial original, da signicação
estrutural do sistema de escravidão e da importância histórica da
concentração da terra, como elemento central de controle dos
recursos produtivos e do poder político. Essas particularidades se
expressam no fato de que, em muitas circunstâncias, as relações
de trabalho e de produção, até então predominantes no meio
rural brasileiro, não correspondiam às relações capital–trabalho
próprias do capitalismo, mas reproduziam um trabalhador de
muitas formas responsável direto pela sua própria subsistência. O
que até então era interpretado como relações não capitalistas, que
geravam uma sociedade também não capitalista, passa a ser com-
preendido como a forma mesma do capitalismo na agricultura
brasileira.
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Diversos pensadores participaram das reexões que se desdo-


braram a partir de então. Citarei aqui, em especial, Florestan
Fernandes, Francisco de Oliveira e José de Souza Martins. Para
Florestan Fernandes, a forma histórica que assume o capitalismo
agrário no Brasil, sob a hegemonia da economia urbano-indus-
trial, pode ser explicada pelo que ele denomina “a dependência
dentro da dependência”:

[...] as evoluções que se iniciaram com a desagregação da economia


escravocrata associaram-se a tendências de formação de um mer-
cado de trabalho e de dinamismos econômicos que impunham, a
partir de dentro, modelos de relações econômicas que, anterior-
mente, só se estabeleciam a partir de fora. Aos poucos, surgiram
vários tipos de vínculos heteronômicos, através dos quais a econo-
mia agrária evolui na direção do capitalismo moderno, mantendo
laços de dependência, diante das economias centrais, ou criando
novos laços de dependência em face dos focos internos de cres-
cimento econômico urbano-comercial e urbano-industrial. (Fer-
nandes, 1973, p. 135)

A consequência dessa dupla dependência se traduz, antes de


tudo, na transformação da economia agrária numa fonte pro-
dutora de excedentes apropriados pelos setores urbanos hegemô-
nicos. É para garantir essa vinculação que ela repro duz as relações
de produção e trabalho que estão na origem do que Florestan
Fernandes considera uma “atroa do padrão de desenvolvimento
capitalista da economia agrária” (1973, p. 137). A empresa rural
é, assim, capitalista, sem que isso signique a reprodução, no
setor agrícola, das relações de trabalho inseridas na dinâmica do
mercado de compra e venda de força de trabalho:

[...] para que o capital possa reproduzir na economia urbana o


trabalhador assalariado, é necessário que exista na economia agrária
o capital que reproduz o trabalhador semilivre. Do mesmo modo,
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o despossuído, que não logra, sequer, a proletarização, na economia


agrária, está na raiz das possibilidades de trabalho assalariado do
operário urbano. (Fernandes, 1973, p. 142)

Os empresários rurais têm uma posição privilegiada nessa es-


trutura, na medida em que são eles os agentes imediatos da cap-
tação dos excedentes agrícolas destinados aos setores dominantes,
através do que sedimentam a base material de sua própria repro-
dução social. De outro lado, encontra-se a grande maioria dos
trabalhadores e agricultores, que não participam diretamente
desses mercados.

Os estratos possuidores rurais não se ressentem dessa situação,


porque eles extraem de ambos os processos o privilegiamento
relativo de sua própria condição econômica, sociocultural e política.
O mesmo não sucede com as massas despossuídas rurais, que se
veem irremediavelmente compelidas ao pauperismo e condenadas à
marginalização. É nesse nível que se desvendam as iniquidades e a
impotência da economia agrária brasileira: uma moenda que destrói
inexoravelmente os agentes humanos de sua força de trabalho.
(Fernandes, 1973, p. 133)

Em 1972, Francisco de Oliveira publicara, no número 2 da


Revista Estudos Cebrap, o artigo “A economia brasileira: crítica à
razão dualista” (Oliveira, 1972), outro marco importante do pen-
samento da época. Em oposição à visão dualista sobre o “atrasado”
e o “moderno”, o autor defende que “na maioria dos casos [essa
oposição] é tão somente formal; de fato, o processo real mostra
uma simbiose e uma organicidade, uma unidade de contrários,
em que o chamado ‘moderno’ cresce e se alimenta da existência
do ‘atrasado’ [...]” (Oliveira, 1972, p. 7).
Como Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira também
arma que o Brasil vivia, desde os anos 1930, uma nova fase, ca-
racterizada por “um novo modo de acumulação, qualitativa e
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quantitativamente distinto”, da economia agrário-exportadora,


“que dependerá substantivamente de uma realização interna cres-
cente” (Oliveira, 1972, p. 9). No contexto dessa nova fase, a
expansão capitalista impõe ao que Oliveira considera o “problema
agrário” um “complexo de soluções”, “cujo denominador comum
residiria na permanente expansão horizontal da ocupação com
baixíssimos coecientes de capitalização e até sem nenhuma
capitalização prévia: numa palavra, opera como uma sorte de
‘acumulação primitiva’” (Oliveira, 1972, p. 16).
Naturalmente, como se apressa a esclarecer o autor, não se
trata de uma mera aplicação literal do conceito marxista de acu-
mulação primitiva, introduzido para explicar os processos origi-
nários do capitalismo. Esse conceito é aqui redenido para dar
conta da realidade especíca da economia brasileira:

Em primeiro lugar, trata-se de um processo em que não se expropria


a propriedade [...] mas se expropria o excedente que se forma pela
posse transitória da terra. Em segundo lugar, a acumulação primitiva
não se dá apenas na gênese do capitalismo; sob certas condições
especícas, principalmente quando esse capitalismo cresce por elabo­
ração de periferias, a acumulação primitiva é estrutural e não apenas
genética. (Oliveira, 1972, p. 16)

José de Souza Martins, em diversos artigos publicados igual-


mente nos anos 1970, também traz contribuições decisivas às
questões colocadas ao debate. Como os demais aqui citados, ele
rearma os profundos vínculos que articulam o mundo rural ao
conjunto da economia e da sociedade brasileiras:

A situação agrária [...] não constitui uma aberração ante o desen-


volvimento atingido pela sociedade urbana brasileira. Antes, o
desenvolvimento urbano, particularmente o da economia in-
dustrial, só foi e tem sido possível graças à existência de uma
economia agrária estruturada em molde a suportar e absorver os
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custos da acumulação do capital e da industrialização. (Martins,


1975, p. 39)

Numa perspectiva histórica, referindo-se à substituição,


ocorrida a partir do nal do século XIX, do trabalhador escravo
por colonos e moradores, ele arma:

A produção capitalista de relações não capitalistas de produção


expressa não apenas uma forma de reprodução ampliada do capital,
mas também a reprodução ampliada das contradições do capitalis-
mo — o movimento contraditório não só de subordinação de
relações pré-capitalistas, mas também de criação de relações
antagônicas e subordinadas não capitalistas. Nesse caso, o capita-
lismo cria a um só tempo as condições de sua expansão, pela incor-
poração de áreas e populações às relações comerciais, e os empecilhos
à sua expansão, pela não mercantilização de todos os fatores en-
volvidos, ausente o trabalho caracteristicamente assalariado. Um
complemento da hipótese é que tal produção capitalista de relações
não capitalistas se dá onde e enquanto a vanguarda da expansão
capitalista está no comércio. (Martins, 1979, p. 21)

A modernização da agricultura e a dominação do capital

A partir de então, os caminhos estão abertos para o aprofunda-


mento desse corpo teórico. O desao é tanto maior, pois estão
em curso no Brasil novos processos sociais, os quais vão transfor-
mar a realidade agrária e os mecanismos de sua articulação ao
conjunto da sociedade, que se congura como uma sociedade
urbano-industrial consolidada (Sorj, 1980).
O elemento principal desses processos consiste na moderni-
zação da agricultura (Castro, 1979). Trata-se de um vasto progra-
ma, realizado por iniciativa do Estado, que visava modicar os
processos de produção tradicionais pelo aumento do uso de in-
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sumos de origem industrial. O próprio Estado se modicou,


criando ou redenindo instituições aptas a prestar a assistência
necessária aos “empresários” rurais, convidados a se modernizarem
(Pinto, 1995). O Estatuto da Terra (Lei no 4.504), promulgado
em 30 de novembro de 1964, traz em sua segunda parte as normas
gerais que devem orientar a política agrícola. Sob sua inspiração,
o Estado cria as instituições necessárias à implantação da nova
política e disponibiliza recursos signicativos para sua efetivação.
O Estatuto da Terra é, na verdade, a primeira lei brasileira,
após a Lei de Terras, de 1850, que normatiza o uso da terra no
país e estabelece as diretrizes referentes ao desenvolvimento rural.
Esse texto legal é dividido em três títulos. O primeiro trata das
disposições preliminares, que armam os princípios gerais e os
conceitos que os inspiram; o segundo contém os dispositivos re-
ferentes ao uso da terra e à reforma agrária, e o terceiro é dedicado
ao que denomina Política de Desenvolvimento Rural. No que se
refere a esta última, o Estatuto da Terra determina os meios que
serão mobilizados para a consecução do desenvolvimento rural:
assistência técnica; produção e distribuição de sementes e mudas;
criação, venda e distribuição de reprodutores e uso da inseminação
articial; mecanização agrícola; cooperativismo; assistência nan-
ceira e creditícia; assistência à comercialização; industrialização e
beneciamento dos produtos; eletricação rural e obras de in-
fraestrutura; seguro agrícola; educação, através de estabelecimentos
agrícolas de orientação prossional; garantia de preços mínimos
à produção agrícola. Sob sua inspiração, através de leis comple-
mentares, as instituições necessárias à implantação da nova po-
lítica foram sendo constituídas. Durante muitos anos, particu-
larmente durante os governos militares, o Estatuto da Terra foi o
instrumento jurídico no qual os movimentos sociais se apoiaram
em suas lutas em favor da reforma agrária. Muitos dos seus crí-
ticos, no entanto, consideravam que sua parte nal — sobre
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política agrícola — teria sido mais efetiva do que a primeira,


referente à reforma agrária, sobretudo, na medida em que aquela
havia sido francamente canalizada em benefício dos grandes
proprietários.
A respeito das inovações introduzidas no campo da legislação
brasileira (ver mais adiante menção ao Estatuto do Trabalhador
Rural), Moacir Palmeira arma:

Antes de indicar uma política, a nova legislação impôs um novo


recorte de realidade, criou categorias normativas para uso do Estado
e da sociedade, capazes de permitir modalidades, antes impensáveis,
de intervenção do primeiro sobre esta última. Ao estabelecer, com
força de lei, conceitos como latifúndio, minifúndio, empresa rural,
arrendamento, parceria, colonização etc., o Estado criou uma ca-
misa de força para os tribunais e para os seus próprios programas de
governo, ao mesmo tempo que tornou possível a sua intervenção
sem o concurso de mediadores e abriu espaço para a atuação de
grupos sociais que reconheceu ou cuja existência induziu. Nesse
sentido, independentemente da efetivação de políticas por ela pos-
sibilitadas — a reforma agrária, a modernização agrícola, a colo-
nização são exemplos —, a nova lei passou a ter existência social a
partir da hora em que foi promulgada. Tornou-se uma referência
capaz de permitir a reordenação das relações entre grupos e propiciar
a formação de novas identidades. (Palmeira, 1989, p. 95)

É importante registrar que, no debate brasileiro, a constatação


dos avanços e da signicação do processo de transformação foi
frequentemente acompanhada da visão crítica de suas implicações
para a sociedade. De fato, a modernização da agricultura, em sua
dupla dinâmica, vai marcar o conjunto do setor agrícola. Por um
lado, seus resultados positivos, no que se refere à consolidação do
mercado de produtos agrícolas orientados para o consumo urbano
e de insumos industriais destinados a empresas agropecuárias, são
obtidos graças às mudanças na base técnica da produção. Essas
mudanças são representadas pelo incremento do uso de máquinas
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e equipamentos, bem como de insumos produtivos de origem


industrial. Assim sendo, a modernização produz um padrão de
viabilidade econômica que passa a ser referência a todos os esta-
belecimentos agrícolas, quer o tenham atingido ou não.
Porém, por outro lado, esse processo se mostrou fortemente
seletivo, atingindo diretamente apenas certo tipo de unidades
produtivas que realizam determinadas culturas ou criações, em
algumas áreas especícas do país, e transformando desigualmente
as diversas fases do processo produtivo. José Graziano da Silva
refere-se, a justo título, à “relativa debilidade que as transforma-
ções capitalistas, em geral, têm assumido no campo” e qualica
esse processo como “uma lenta e, por isso mesmo, dolorosa mo-
dernização em alguns produtos especícos, numa espécie de
‘capitalismo de fachada’” (J. G. da Silva, 1982, p. 66). Graziano
conclui, interpretando o processo analisado:

A acumulação de capital necessita não da “racionalização” da agri-


cultura, mas da submissão da agricultura à racionalidade do setor
industrial, o que pode, eventualmente, ser combinado com certo
grau de “irracionalidade” relativa da produção agrícola. (J. G. da
Silva, 1982, p. 67)

Em sua tese de doutorado, Ângela Kageyama analisa a dife-


renciação regional dos impactos da modernização (Kageyama,
1985). Adotando um enfoque comparativo, no tempo e no es-
paço, ela oferece uma profunda e detalhada demonstração das
transformações ocorridas na agricultura brasileira entre 1960 e
1980 e revela o quanto esse processo estava largamente concen-
trado no estado de São Paulo. Assim, apenas a título de ilustração,
em 1980, enquanto em São Paulo a área trabalhada correspondia
a 68,9% da área total, no Brasil como um todo ela abrangia
apenas 31,4%; o número de tratores por 10 mil pessoas ocupadas
chegava a 855 em São Paulo e a 238 no conjunto do país; as des-
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pesas reais por hectare de área explorada (em cruzeiros de 1977,


deacionadas pelo Índice de Preços Pagos pelos Agricultores, da
FGV) eram, respectivamente, de CR$ 2.138,00 e CR$ 556,00, e as
despesas por pessoa ocupada (também em cruzeiros de 1977, de-
acionadas pelo Índice de Preços Pagos pelos Agricultores, da FGV)
variavam de CR$ 24.549,00 — São Paulo — a CR$ 7.566,00 —
Brasil (Kageyama, 1985).
Ainda nos anos 1970, o movimento do capital na agricultura
se orienta em duas direções complementares: o aprofundamento
dos processos de articulação agroindustrial e a ampliação do seu
campo de dominação para além dos espaços já conquistados,
estendendo sua fronteira econômica.
Com efeito, os estudiosos da problemática agrária, especial-
mente os economistas, apontam para o surgimento de uma nova
fase do desenvolvimento da agricultura, que se caracteriza pela
constituição dos “complexos agroindustriais” e pela “emergência
do capital nanceiro, como uma nova forma de organização dos
mercados rurais e de comando da acumulação de capital na agri-
cultura” (G. C. Delgado, 1985, p, 112).
Num texto que se tornou clássico, um grupo de pesquisadores,
coordenado por Ângela Kageyama, refere-se “à passagem dos
‘complexos rurais’ para uma dinâmica comandada pelos ‘com-
plexos agroindustriais (CAIs)’”:

Esse processo envolve a substituição da economia natural por ativi-


dades agrícolas integradas à indústria, a intensicação da divisão
do trabalho e das trocas intersetoriais, a especialização da produção
agrícola e a substituição das exportações pelo mercado interno como
elemento central de alocação dos recursos produtivos no setor
agropecuário. (Kageyama, 1996, p. 116)

Segundo esses autores, para que essa fase seja atingida, é ne-
cessária ao país uma expressiva indústria de bens de capital, desti-
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nados à produção agrícola, bem como uma agricultura já moder-


nizada. Nessas condições, “pelo aprofundamento da divisão do
trabalho, a agricultura se converte num ramo da produção, que
compra insumos e vende matérias-primas para outros ramos
industriais” (Kageyama, 1996, p. 122). Mais uma vez, reconhece-
se que esse processo não engloba o conjunto da atividade agrícola,
pois, além dos setores modernos, participam da agricultura
inegavelmente “amplos segmentos tecnicamente atrasados e
dominados pelo capital comercial” (Kageyama, 1996, p. 185).
Em sua tese de doutorado, publicada em 1985, Guilherme
Delgado analisou as transformações ocorridas na agricultura sob
o comando do capital nanceiro. Para ele,

[...] as mudanças e inovações sintetizadas pelo desenvolvimento do


sistema de crédito, consolidação do complexo agroindustrial, surgi-
mento das formas especícas de conglomeração de capitais na agri-
cultura e, nalmente, a transformação do mercado de terras num
ramo especíco do mercado nanceiro estão fortemente imbricadas
com o desenvolvimento da regulação estatal da economia rural.
Tudo isso faz com que se perceba a emergência do capital nanceiro
como uma nova forma de organização dos mercados rurais e de
comando da acumulação de capital na agricultura. (G. C. Delgado,
1985, p. 112)

Se a “caicação” parecia a todos uma realidade indiscutível, o


debate se intensicou entre aqueles que minimizavam suas contra-
dições e outros para quem, ao contrário, esse processo não era
homogêneo, nem constituía a via única e consensual para o desen-
volvimento agrícola do país. Da análise profunda e detalhada desse
processo, proposta por Guilherme Delgado, vale sublinhar a di-
mensão social e política que organiza sua argumentação. Para ele:

Todo esse processo de modernização se realiza com intensa diferen-


ciação e mesmo exclusão de grupos sociais e re giões econômicas.
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Não é, portanto, um processo que homogeneíza o espaço econômico


e tampouco o espectro social e tecnológico da agricultura brasileira.
(G. C. Delgado, 1985, p. 42)

Evitando uma visão homogeneizadora, Delgado aponta, mais


concretamente, a emergência de “contradições intercapitalistas”,
que provocam “certa ruptura política no bloco do poder”, que
opera uma “desorganização do chamado interesse político hege-
mônico” (G. C. Delgado, 1985, p. 48). Da mesma forma, o que
une esse bloco no poder não é necessariamente o caráter moderno
da agricultura, na medida em que a aliança dominante inclui
parcelas de proprietários tradicionais:

[...] há também uma organização de interesses oligárquicos rurais,


não necessariamente modernizantes, mas que dão base política de
sustentação ao projeto de modernização conservadora [...] há uma
aliança de matizes claramente políticas, em que o elemento con-
servador agrário, expresso pela grande propriedade e pelo capital
comercial das regiões mais atrasadas, associa-se à política nanceira
e scal do Estado, sem que necessariamente realize a reprodução do
capital passando pelo aprofundamento de relações interindustriais
do CAI. (G. C. Delgado, 1985, p. 60)

Mais uma vez, não se trata de negar a existência da integração


intersetorial, mas de apontar seus limites no interior do setor
agrícola brasileiro e, ao mesmo tempo, as contradições decorrentes
da imposição desse modelo dominante. As reexões de George
Martine vão nesse sentido:

[...] a ênfase dada à maturidade e à abrangência desse processo pode


levar o leitor desavisado a concluir que o Brasil se encontra num
estágio avançado de desenvolvimento da sua produção agropecuária,
tendo formas modernas e autossustentadas de produção penetrado
homogeneamente em todas as regiões e setores, com capacidade
para competir de igual para igual no mercado internacional e gerar
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uma prosperidade generalizada para a sociedade brasileira. (Martine,


1989, p. 21)

Ao questionar certos argumentos usados para justicar a


presença inexorável e inquestionável da moderna agricultura —
“big is beautiful”, “big is ecient” —, Martine reforça as críticas,
quando traz para o debate as implicações sociais desse processo:

O modelo de modernização conservadora conseguiu transformar o


aparato produtivo e alcançar expressivos níveis de crescimento do
produto, mas manteve elevados níveis de pobreza absoluta, fazendo
com que grande parte da população continuasse a se reproduzir em
condições miseráveis, acentuando uma das distribuições de renda
mais concentradas do mundo. (Martine, 1989, p. 47)

E o autor conclui:

A tão propalada modernização agrícola na base da “caicação”, infe-


lizmente, apresenta-se ainda como uma transformação parcial,
desigual, fortemente sustentada por recursos públicos, inerentemente
limitada e com mais ranços do capitalismo cartorial do que do capi-
talismo moderno. (Martine, 1989, 53)

Em um artigo sobre a modernização da agricultura em São


Paulo, Ângela Kageyama reforça essa mesma visão crítica:

Ainda que desfrutando do maior índice de produtividade do país,


a agricultura paulista não evitou a expulsão de contingentes signi-
cativos da sua força de trabalho rural; não eliminou a subocupação
nem o prolongamento excessivo das jornadas de trabalho; não
atingiu níveis muito diferentes do resto do Brasil; não desenvolveu
mecanismos de maior participação dos trabalhadores nos ganhos de
produtividade, arcando com um dos maiores índices de desigualdade
de renda do país e exibindo um forte processo de crescimento dos
lucros (incluindo renda da terra) à frente dos salários rurais.
(Kageyama, 1987, p. 99)
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A subordinação da agricultura à indústria tem sido analisada


também de outras formas, como um desdobramento da concep-
ção clássica da industrialização da agricultura. É assim que David
Goodmann, Bernardo Sorj e John Wilkinson se referem ao “apro-
priacionismo” e ao “substitucionismo” (Goodmann, Sorj e Wil-
kinson, 1990). O primeiro corresponde ao processo pelo qual a
indústria se apropria do produto da agricultura, utilizando-o
como matéria-prima para a sua transformação, do que resulta
para o consumidor nal um produto industrial. Pelo segundo
processo, a indústria substitui o produto agrícola por outro de
origem industrial, eliminando, assim, aquele de seu próprio
processo produtivo.
Essas análises mereceriam uma reexão mais aprofundada que
não poderá ser feita nos quadros restritos deste trabalho. Da
mesma forma, não será possível entrar aqui na discussão mais
profunda acerca das implicações dos processos de globalização
sobre a produção agrícola, especialmente sobre os produtos
agroalimentares. A esse respeito, basta, para o que interessa mais
diretamente ao tema trabalhado, ter a consciência de que a expan-
são da demanda internacional por produtos de origem agrícola,
seja através do grande comércio de grãos e carnes, seja através da
formação de nichos de mercados, tem afetado, de forma diferen-
ciada, sem dúvida, as oportunidades econômicas de diversos
segmentos dos produtores rurais, bem como a constituição local
de numerosas e distintas áreas produtivas no interior do país. É
o caso, particularmente, das áreas que se desenvolveram impul-
sionadas pela expansão da exportação de frutas, nas quais as
análises enfocam, através da relação “global–local”, a dinâmica da
relação produção–consumo de alimentos em nível mundial. (Ver
as Referências bibliográcas.)
Como arma Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, “qualicar es-
paços como locais ou globais requer um exame crítico dos parâ-
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metros e das evidências empíricas que os denem enquanto tais,


para que a riqueza das situações e seus desdobramentos não sejam
perdidos” (Cavalcanti, 1999, p. 124). O que é importante reter,
como defende essa autora, é que “local e global constituem pares
em relação, ainda que sejam centros de distintas relações de
poder. Nesse sentido, não formam mundos à parte” (Cavalcanti,
1999, p. 124). E ela acrescenta:

A literatura sociológica tem contribuído pontualmente para a


compreensão dos vínculos estabelecidos entre a agricultura de
regiões particulares e as cadeias agroalimentares, pelos quais tende
a explicar a globalização de alimentos e a dinâmica de sociedades
particulares [...]. Mas também devemos estar atentos para o fato de
que, embutidos nesse processo, estão símbolos, habitus e signicados
culturais que distinguem indivíduos e sociedades e também as vias
de aproximação de povos e espaços físicos e sociais. (Cavalcanti,
1999, p. 126)

O aprofundamento do capitalismo se traduz, igualmente, pela


expansão das fronteiras agrícolas. Sobre essa questão, o livro de
Joe Foweraker (1982) é um profundo e minucioso estudo sobre
a “fronteira pioneira” no Brasil, desde os anos de 1930, o que in-
clui outras fronteiras além das referidas à região amazônica.
José de Souza Martins estabelece uma distinção entre frente
de expansão e frente pioneira. A primeira precede a segunda nos
espaços das fronteiras geográcas. De fato, a região Norte e, pos-
teriormente, a Centro-Oeste haviam acolhido, ainda em períodos
anteriores, um grande contingente de migrantes originários das
regiões tradicionais. Esse fato fora particularmente intenso no
início do século XX, em razão, sobretudo, do boom da produção
de borracha na região Norte e em consequência das secas pro-
longadas que afetaram toda a região do semiárido nordestino, o
que se reproduziu, igualmente, nos anos 1950. Os migrantes que
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então se deslocaram puderam utilizar as terras disponíveis, através


do sistema de posse, e se integrar ao mercado por meio de sua
economia de excedente.
A frente pioneira, por sua vez, que avança sobre essa faixa
demográca anterior, “exprime um movimento social cujo resul-
tado é a incorporação de novas regiões pela economia de mercado.
Ela se apresenta como frente econômica” (Martins, 1975, p. 45).
Não se trata, portanto, de uma primeira ocupação sobre uma
terra antes desabitada, e os agentes da economia de mercado não
trazem nada de novo para as áreas “conquistadas”. “O ‘novo’, que
é uma das dimensões do conceito de zona pioneira, é novo apenas
na ocupação do espaço geográco e não na estrutura social”
(Martins, 1975, p. 45), pois, o que esses agentes levam em suas
bagagens é o modelo de agricultura dominante nas áreas dinâ-
micas da economia brasileira, baseado, mais uma vez, na proprie-
dade privada da terra, na expropriação do trabalhador e na
subordinação do camponês.
No mesmo sentido, José Graziano da Silva também consi-
dera que “a fronteira não é necessariamente uma região distante,
vazia do ponto de vista demográco. Ela é fronteira do ponto de
vista do capital, entendido como uma relação social de produção”
(J. G. da Silva, 1982, p. 115).
O controle da fronteira pelo capital será efetuado, sobretudo,
de duas formas: a apropriação de grandes extensões de terra por
empresas agropecuárias que receberam signicativo apoio do Es-
tado, especialmente através do sistema de crédito agrícola e dos
programas de incentivos scais, e os projetos de colonização, que
também se constituíram em uma política pública.
Segundo Guilherme da Costa Delgado, a política de nancia-
mento rural
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[...] revela uma trajetória expansionista desde o início de sua


formulação efetiva — a partir de 1967 — até 1976. Esse subperíodo
é marcado por um crescimento inusitado das aplicações reais de
crédito, bastando, para ilustrar tal armação, indicar que entre 1969
e 1976 o índice de valor real do crédito rural concedido passou de
100 a 444 [...]. Tal elevação corresponde ao crescimento geométrico
no período 1969-1976, de 23,8% a.a., que é várias vezes superior ao
crescimento real do produto agrícola, situado em torno de 5% a.a.
[...]. Já em 1977 começam a se esboçar, em nível de governo, as
inuências contencionistas da política monetária, que nesse ano se
reete numa primeira inexão para baixo do volume de crédito
concedido. (G. C. Delgado, 1985, p. 79)

Esses “recursos volumosos” iniciais “sedimentam sólidas alian-


ças urbano-rurais e contribuem efetivamente para uma mudança
na base técnica da produção rural” (G. C. Delgado, 1985, p. 80).
A política de incentivos scais visava ao desenvolvimento da
atividade produtiva em áreas escolhidas, especialmente no Nor-
deste e na Amazônia. Com seu apoio, pessoas jurídicas de todo o
país eram autorizadas a aplicar parte do seu imposto devido em
projetos que fossem considerados de interesse para o desenvol-
vimento regional. Na verdade, pela ótica dos objetivos declarados,
os píos resultados obtidos com essa política não justicam em
nada os vultosos recursos públicos canalizados para atrair grandes
empresas para essas regiões. Uma avaliação produzida pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta, entre
outros, os seguintes resultados:

Os principais benefícios dos incentivos scais na Amazônia foram


a criação de alguma infraestrutura regional e geração de conhecimentos
que poderão ser internalizados pela economia da região. Os projetos
incentivados pouco têm contribuído para aumentar o produto regio­
nal. Sua produção e venda atuais representam 15,7% do que fora
previsto; [...]. Os incentivos pouco têm contribuído para a xação
da população regional [...] é generalizado o uso de mão de obra
4 | Maria de Nazareth Baudel Wanderley

temporária sem qualquer cobertura trabalhista. (Gasques e


Yokomiso, 1996, pp. 235-6)

Em suas conclusões, os autores citados não hesitam em armar


que “o fraco desempenho dos projetos em geral caracteriza a polí-
tica de incentivos scais mais como um instrumento de doação
de recursos do que de desenvolvimento” (Gasques e Yokomiso,
1996, p. 327).
Guilherme da Costa Delgado já chamara a atenção para o fato
de que os “benefícios diretos ou indiretos à propriedade”, ofe-
recidos em nome do desenvolvimento rural, constituem, na ver-
dade, “um enorme reforço ao movimento de valorização da pro-
priedade territorial, que, de resto, está presente endogenamente
no processo de desenvolvimento capitalista” (G. C. Delgado,
1985, p. 104).
A respeito da colonização, José Vicente Tavares dos Santos
realizou um excelente estudo sobre o que denomina o “processo
da colonização agrícola”, visto como “um processo social
complexo, de dupla dimensão — espacial e temporal —, que faz
interagir forças sociais em conito e que, assim, produz relações
sociais” (Santos, 1993, p. 257). Mais precisamente, sua pesquisa
tem como objeto o processo de colonização que envolveu cam-
poneses do Sul em busca de novas terras em Mato Grosso. Santos
entende a colonização como “um processo particular de expansão
da fronteira” (Santos, 1993, p. 15), que corresponde a uma “estra-
tégia governamental de povoação de novas terras” (Santos, 1993,
p. 16), em substituição às propostas de reforma agrária. Para ele,

[...] esse processo foi um dos meios mais utilizados pelo Estado e
pelas camadas dominantes da sociedade brasileira para estender o
povoamento e as atividades econômicas a territórios cada vez mais
vastos do país. Mas isso só foi possível com a presença necessária de
amplas camadas do campesinato brasileiro. (Santos, 1993, p. 255)
Um saber necessário | 4

Em suas conclusões, esse autor constrói algumas “noções


sociológicas”, para apreender a produção das relações sociais
nesse contexto particular do processo de colonização. Podemos
apenas indicá-las neste balanço: o “controle dos homens”, o “con-
trole do espaço”, a “seleção social”, a “reação às lutas sociais cam-
ponesas” e um “processo social alternativo”, especialmente o
“projeto camponês”.
O avanço espacial do capital se efetua, fundamentalmente,
através da propriedade capitalista da terra. Como arma José
Graziano da Silva:

Somos tentados até a dizer que a expansão da fronteira tem sido a


garantia da perversa aliança entre a burguesia industrial e o lati-
fúndio, num pacto político que, além de manter a estrutura agrária
existente nas regiões de colonização mais antiga, impediu qualquer
medida destinada a democratizar o acesso à posse da terra nas
regiões mais novas. (J. G. da Silva, 1982, p. 119)

Para ele, “o padrão de crescimento da nossa agropecuária su-


pôs uma variável fundamental: a existência de uma fronteira a ser
ocupada” (J. G. da Silva, 1982, p. 114). Porém, no início dos
anos 1980, essa fronteira já estaria sendo “fechada”, entendendo
esse processo como

[...] um “fechamento” de fora para dentro, em que a terra perde o


seu papel produtivo e assume apenas o de “reserva de valor” e de
meio de acesso a outras formas de riqueza a ela associadas. Não é a
ocupação efetiva do solo, no sentido de fazê-lo produzir, mas sim
uma “ocupação pela pecuária” com a nalidade precípua de garantir
a propriedade privada da terra. (J. G. da Silva, 1982, p. 117)

José de Souza Martins, por sua vez, questiona o fechamento


das fronteiras, argumentando que, mesmo que tenham se esgota-
do as terras passíveis de apropriação jurídica, a ocupação de novas
42 | Maria de Nazareth Baudel Wanderley

áreas — tenham ou não um dono juridicamente reconhecido —


se efetua através do sistema de posse realizado pelos camponeses:

A fronteira não se esgota pela titulação das terras em favor de


grandes empresas e proprietários levada a efeito pelo Estado capi-
talista. É verdade que ergue barreiras judiciais ao avanço territorial
dos lavradores sem terra. Mas os lavradores do campo têm sua
própria concepção de direito de propriedade, que os faz levantar-se
subversivamente contra o direito proclamado e garantido pelo
Estado em favor das classes dominantes. As terras devolutas,
interditadas há mais de cem anos ao avanço dos posseiros, têm sido
sistematicamente invadidas em nome desse direito popular de
propriedade. (Martins, 1982, p. 17)

Otávio Guilherme Velho realizou um brilhante estudo sobre a


fronteira brasileira, no qual, através da comparação com outras
situações de fronteira, e introduzindo o conceito de “fronteira em
movimento”, propõe uma compreensão do que chama “capitalis-
mo autoritário”, que se constrói sobre a base da repressão da força
de trabalho (Velho, 1979; 1982). A análise que ele elabora sobre
o lugar do campesinato na fronteira será considerada mais adiante.
O mais importante a registrar é que a fronteira, enquanto
frente de expansão, assume uma dupla função para a sociedade
brasileira. Por um lado, ela se torna, crescentemente, produtora
de gêneros alimentícios, inclusive destinados às áreas de eco-
nomia mais dinâmicas do país, como é o estado de São Paulo (J.
G. da Silva, 1982, p. 118). Otávio Guilherme Velho também
nota essa vinculação entre a produção camponesa da fronteira e
o mercado de produtos alimentares nas cidades:

Essa produção camponesa, considerada de qualidade inferior, é


consumida pelas camadas mais baixas da população nas cidades.
Além do mais, cada vez que a produção capitalista é reduzida ou
então é parcialmente canalizada para mercados externos, abastece
Um saber necessário | 43

uma fatia maior do mercado. Dessa forma, embora seu papel seja
suplementar, é aparentemente vital. (Velho, 1979, p. 199)

Por outro lado, a fronteira será o lócus dos principais conitos


sociais envolvendo as classes subalternas agrárias. Muitos autores
apontam, também, a função de “válvula de escape” exercida pela
fronteira, na medida em que a posse, mesmo precária, da terra
descongestionaria a pressão pela reforma agrária nas demais re-
giões. “Quando a fronteira se ‘fecha’, acaba se tornando, ela
mesma, uma região de conitos pela posse da terra, como aquele
a que vimos assistindo em nossos dias” (J. G. da Silva, 1982,
p. 119). A questão da propriedade da terra será retomada mais
adiante.

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