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Luisa Correia Alves - 211016345

Ciências Sociais/SOL – Licenciatura


Universidade de Brasília

A partir da leitura de Caio Prado Jr. (2011), nos tornamos aptos a compreender o Brasil
Contemporâneo – ainda que no século XXI com novas dinâmicas, comparativamente ao Brasil
vivenciado pelo autor – como resultado, mesmo inacabado, das lógicas e processos iniciados no
país em seu período de colonização. E nesse sentido, o fator econômico, que se desenvolve
juntamente ao domínio político, não escapa dessa totalidade, sendo marcado pela subordinação.
Fazendo-se valer dessa forma, foi fundamental que a distribuição agrária colonial ocorresse a partir
dos latifúndios, da monocultura e da exploração de mão de obra escrava.
Com esse entendimento prévio, é possível localizar a discussão levantada no segundo bloco
do episódio “#275: Lula e os donos da bola” do Podcast Foro de Teresina (2023) dentro desse
parâmetro histórico. Bilenky, uma das locutoras do Podcast, expõe práticas recentes de lobby dos
produtores de soja no congresso brasileiro e pontua, de forma crítica, o papel da soja – assim como
da indústria agropecuária no geral – no aumento de doenças crônicas não transmissíveis e da má
alimentação dos brasileiros, como demonstrou estudo produzido pelo IDS e IDEC.
Paradoxalmente aos resultados apontados pelo estudo, observou-se a existência de uma cultura de
produção de soja conduzida ativamente pelo Estado brasileiro, a partir da concessão de incentivos
e da isenção de impostos, discussão tensionada pela pauta da reforma tributária em voga no
congresso.
No Brasil, a soja e seus derivados, como apresentam os locutores, seriam responsáveis
tanto pela produção majoritária de alimentos ultraprocessados, dominantes no mercado de
alimentos, como também pela alimentação da população chinesa, constituindo-se base da
alimentação dos porcos, uma das principais fontes de proteína no país. Assim, é possível retomar
a compreensão de que a economia brasileira fundamentalmente se formou, e até hoje assim se
estabelece, a partir do e para o mercado externo. O mercado interno, por sua vez, não foi pensado
conforme as necessidades da população brasileira, mas somente como forma complementar e
necessária para garantir o comércio de exportações (Prado Jr., 2011). A metrópole portuguesa
atentava-se tão somente para garantir a sobrevivência da população aqui residente, na medida em
que se fazia preciso para o bom funcionamento de suas feitorias. Dessa forma, uma alimentação
de qualidade não era um elemento visado e priorizado, como hoje ainda não o é, como bem ilustra
o Podcast, mas agora sob a ação das elites brasileiras, essas, por sua vez, sustentadas pela lucrativa
indústria agropecuária e subordinadas aos interesses da burguesia internacional, representativa
desse “quadro maior” do capitalismo.
A hegemonia dessa commodity na economia brasileira, portanto, compreende-se pelo seu
apoio nas elites agrárias. Estando essas particularmente presentes na política sob a denominação
de “bancada ruralista”, esse grupo faz-se dominante, através de práticas como o lobby, justamente
pela garantida influência política que detém pela sua fortuna, análise referente ao coronelismo
(Queiroz, 1976) e que, no entanto, pode ser estendida para o cenário atual. Conforme a autora, a
política de troca de favores operava, sobretudo, a partir do aspecto econômico, fundamental para
que os coronéis fossem considerados como tais e assim operassem seu poder político. A lógica da
troca de favores dominante na direção política do comércio ainda se visualiza a partir de práticas
como o lobby, ainda que a pressão exercida para influir na tomada de decisões políticas encontre
outras formas – mais sutis, mas ainda mais eficazes – de operação. Sob esse mesmo entendimento,
depara-se com a rápida flexibilização pela qual a medida provisória referente a tributação de
fundos exclusivos passou desde que proposta pelo governo, fruto da pressão da bancada ruralista
e das elites no país.
Conclusivamente, retornamos à subordinação como noção chave para compreensão do
funcionamento político-econômico de nosso país. Afinal, um país que, sob a forma de metrópole
colonial ou de Estado republicano, utilizou-se da população como elemento propulsor (Prado Jr.,
2011, p. 122) para assentar sua economia, dificilmente alcançaria realidades distantes da fome e
da insegurança alimentar. A evolução de sua economia, que na falta de investimento na sua
infraestrutura interna não alça estabilidade e autonomia, ocorre, portanto, em sentido cíclico e
necessariamente destrutivo para a população. Projeto de destruição, esse, apoiado na política, visto
que “o poder político [...] sempre se deslocou no espaço e no tempo, de uma região para outra do
país, conforme estas ascendiam para a expansão econômica.” (Queiroz, 1976, p. 211).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Foro de Teresina. #275: Lula e os donos da bola. [Locução de]: Fernando de Barros e Silva,
José Roberto de Toledo e Thais Bilenky. [S.l.]. Revista piauí, 20 out. 2023. Podcast. Disponível
em: https://open.spotify.com/episode/7BeI2jhv0Th26IkF9h4DLW?si=3f8268e884de4fb6.
Acesso em: 27 out. 2023.
Prado Jr., C. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Companhia de Letras, 2011.
Queiroz, M. I. P. O mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios. Editora
Alfa-Omega. São Paulo, 1976.

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