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Latifúndio e POLÍTICAS SOCIAIS : “MATA BURRO” DAS FAMÍLIAS

CAMPONESAS E ENTRAVE Á REFORMA AGRÁRIA POPULAR

Daniel Carvalho de Oliveira1

Resumo:
Este ensaio, surge como atividade de avaliação da disciplina (xxxx) pretende
problematizar os mecanismos de transformação de familias camponesas em famílias
aptas a agricultura familiar, conceito anexo aos ditâmes do agronegócio, a
conformação das políticas públicas de assentamentos fundiários, Esta determinação
nas relações de trabalho no campo evidencia a “Modernização pelo alto” que
caracteriza a Revolução Burguesa no Brasil". Com intenção de compreensão acerca
desta particularidade da formação brasileira pretendendo flexionar altenativas de
comprensãao que medie o universal com o singular criando canais em rumo a
totalidade da compreensão das relações sociais no Brasil.

Palavras Chaves:

INTRODUÇÃO

1
O Capitalismo “á brasileira” se moldou desde a passagem do sistema Escravista
Colonial para o trabalho livre, tem na família camponesa, centralidade, das relações
sociais, como espaço de reprodução material e social, da lenta e gradual modernazição
denomina de revolução pelo alto. pelo alto que caracteriza a “Revolução Burguesa no
Brasil” (FERNANDES, 2005).

Esta dinâmica do desenvolvimento capitalista que José Chasin (1984),


denominou como “via colonial de entificação” do capitalismo no país, assemelha se à
“via prussiana, ou caminho prussiano para o capitalismo” e aponta para um processo
particular de constituição do modo de produção capitalista, trata-se de um itinerário
para o progresso social sempre no quadro de uma conciliação com o atraso:

“Ao invés das velhas forças e relações sociais serem extirpadas através de amplos
movimentos populares de massa, como é característico da ‘via francesa’ ou da ‘via
russa’, a alteração social se faz mediante conciliações entre o novo e o velho, ou seja,
tendo-se em conta o plano imediatamente político, mediante um reformismo ‘pelo alto’
que exclui inteiramente a participação popular (…) De sorte que o “verdadeiro
capitalismo” alemão é tardio, enquanto o brasileiro é híper-tardio. A no Brasil a
industrialização principia a se realizar efetivamente muito mais tarde” (CHASIN)

Desse modo, a grande propriedade rural é presença decisiva, a concreção desta


instância objetiva em cada uma das entidades sociais, no Brasil se aponta para um
latifúndio procedente de gênese histórica na Invasão lusitana em 1500, com
escravidão e genocídio indígena e posteriormente dos negros traficados de Africa,
suas formas originárias, a economia mercantil brasileira sustentou se na dialética de
expropriação dos teritórios de povos originários, uma acumulação capitalista, á
“acumulação por dessapossamento” (HARVEY 2014). Estes territórios transformados
em latifúndios para monocultura via “empresa colonial”, fazendas de matéria prima
para exportação.
Neste meandro o trabalho familiar resiste a partir de relações não-capitalistas
dentro do modo de produção capitalista, criado e recriado pelo processo contraditório
de seu desenvolvimento desigual e combinado (SAMPAIO).

Ao buscar conceito de familia e remeter á Antropologia, a definição de família


enquanto “ ... um grupo de prociação e consumo” (p.60), sua principal contribuição a
regulação de grupos sociais com algum grau de parestesco desde as sociedades tribais
quando ainda não vigorava o Estado, contudo “ o parestesco não é a mesma coisa que
família (...) família é um grupo social concreto e o parestesco uma abstração, uma
estrutura formal”(p61).

A construção teórica da relação família-trabalho e da divisão sexual do trabalho


como elos de ligação entre as esferas produtiva e reprodutiva constitui, pois, uma
importante referência teórica para esta análise. Dessa perspectiva, é importante reter
aspectos do momento conjuntural da economia, das transformações por que passa a
família e também as características da relação homem mulher predominante na
sociedade, que define tanto as atribuições de ambos na família quanto as
representações acerca de sua inserção no mercado de trabalho. MONTALI,2000

Para a labuta de análise das determinações economicas e sociais de adaptação de


famílias camponesas em famílias aptas ao desenvolvimento capitalista, faz necessário
entender o desenvolvimento da agricultura dentro do modo capitalista de produção em
particular, o que tem ocorrido no campo brasileiro por conta das práticas aptas ao
agronegócio. o conceito de agricultor familiar e camponês 2 no contexto da questão
agrária contemporânea, para

é neecessário discutir questões de ordem teórica e conceitual, definido a priori os


conceitos de agricultura familiar e agricultura camponesa por conta de serem usados de
forma indiscriminada, sendo que guardam uma significativa carga teórica e ou
ideológica. São conceitos em recorrente discussão nos meios acadêmicos e que exige
uma definição mais precisa que possa distinguir as diferenças e semelhanças do
trabalhador rural que sofrem variadas denominadas como pequeno agricultorpequeno
produtor, agricultor familiar, camponês etc. .(SAMPAIO)

Segundo Martins (1986) “Essas palavras – camponês e latifundiário – são palavras


políticas, que procuram expressar a unidade das respectivas situações de classe Numa
Em decorrência do mesmo processo que deu sentido ao conceito de camponês, é
definido o conceito de latifundiário como par dialético. Assim, eles aparecem como
conceitos-síntese, ou categorias-analíticas, que remetem a situações de classe e que
estão enraizados numa longa história de lutas (MARTINS, 1981)

2
Ocorreu uma cisão conceitual de família camponesa e família de pequeno agricultor, enquanto a primeira
mantêm aspectos nato ao seu modo campesino de relação com a terra, as famílias inseridas no conceito de
agricultura familiar já cumprem os ditames do agronegócio.
O camponês corresponde a outro grupo, que pratica relações não-capitalistas e
busca reproduzir sua família e seu modo de vida e tem resistido ao longo do tempo
aos ditames do capital, produzindo praticamente uma agricultura de subsistência.

Fernandes (2001) sinaliza que os teóricos da agricultura familiar defendem: que


“o produtor familiar que utiliza os recursos técnicos e está altamente integrado ao
mercado não é um camponês, mas sim um agricultor familiar”, modo, pode-se afirmar
que “a agricultura camponesa é familiar, mas nem toda a agricultura familiar é
camponesa, ou que todo camponês é agricultor familiar, mas nem todo agricultor
familiar é camponês.”(SAMPAIO).

Estes afirmam também que os defensores da agricultura familiar constroem a


compreensão de que o camponês representa o velho, o atraso, enquanto o agricultor
familiar representa o novo, o moderno, o progresso. Como diz Abramovay: [...] uma
agricultura familiar altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais
avanços técnicos e de responder às políticas governamentais não pode ser nem de
longe caracterizada como camponesa (ABRAMOVAY, 1992: 22).

O que desperta o interesse é a compreensão dos mecanismos invisíveis, os mata


burro3 utilizados pelo capital desde o fim do período colonial para explorar o trabalho
das famílias camponesas com grau de anuência intenso, ou seja, ocorre uma aceitação
tácita das condições das relações trabalhistas, o que foi plasmando um modelo de
familia e consequentemente de trabalhador apto ao sistema de exploração capitalista ,

Outra intenção do texto é verificar o papel do Estado, que tomou diversas


medidas em campos distintos de atuação para amenizar eas expressões da questão
social com raiz colonial, tange o meio rural surgiram as políticas públicas fundiárias
com pleito de “Reforma Agrária”, ou Contra Reforma Agrária.

Ainda é preciso apontar que esta pesquisa possui um caráter exploratório, por
“[...] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41) a partir das bases do Serviço
Social, uma vez que ainda é abordado de forma insipiente pela profissão, seja no
plano teórico, seja naquele técnico profissional.

3
1 DETERMINAÇÕES COLONIAIS DA FAMÍLIA CAMPONESA

Na sociedade colonial brasileira, agrária e escravocrata, a família desempenhou


papel central nas relações economicas e políticas da sociedade, o modelo lusitano de
família patriarcal atravessou o atlântico com as naus portuguesas, desde a invasão do
Brasil em 1500, plasmando esta estrutura social as custas do suplício e genocidio
indigena e posteriormente na escravidão de africanos traficados.

Mesmo nas famílias escravas, quando a relação com seu donos permitiam, ja
vigorava o modelo patriarcal, com afigura masculina sendo o “coronel” da família.
Logo conceitos como “patriarcalismo” (FAORO< ano?pg?) e coronelismo (LEAL ,
ano, p) fazem parte da dialética radical necessária para delinear o uso das famílias ao
capitalismo tupiniquim.

Nos períodos históricos posteriores além de cumprir papel central na urbanização


e industrialização brasileira, as famílias foram servidos como termometro para
verificação de como e onde, o Estado interferiria nos desvios de rota da implantação
do Capitalismo á brasileira pautado no modelo agrário-industrial que tem no
agronegócio monocultor o modelo economico de vigencia. Para Martins (2010):

Na transição para o capitalismo teve seu próprio percurso e seu próprio ritmo.
Tem sido transição vagarosa, extraviada nos atalhos de inovações sociais e
econômicas tópicas, que nos permitem ser o que não somos e chegar aonde não
podemos. Saltos sobre o bloqueio do atraso. O fato singular de que a economia do
café, no Brasil, tenha florescido com base no trabalho escravo e tenha tido um
segundo desenvolvimento espetacular com base no trabalho livre constitui
referência sociológica de fundamental relevância para o estudo crítico de um dos
complicados temas das ciências sociais nesse cenário peculiar: o da transição de
um modo de produção a outro. MARTINS p.4

Neste interím a relação entre divisão social do trabalho e formas de propriedade:


os processos de diferenciação na divisão do trabalho, os papéis distintos de homens e
mulheres na (re) produção da espécie e dos seus meios de subsistência, seus
intercorrências nas modalidades de posse e propriedade ..., as consequências deste
aprisionamento da terra via latifúndio, nas relações trabalhistas, e consequentemente
nas famílias, denota estrutura social de desigualdade e exploração da classe
trabalhadora, germinando a questão social no Brasil (IAMAMOTO, 2011).
Iamamoto & Carvalho (1982) apotam no clássico relações Sociais e Serviço
Social no Brasil, que questão social tem sua genêse justo neste período histórico;

A questão social, seu aparecimento diz respeito diretamente à generalização do trabalho


livre numa sociedade em que a escravidão marca profundamente seu passado recente,
trabalho livre que se generaliza em circunstâncias hiistóricas nas quais a separação
entre homens e meios de produção se dá em grande medida fora dos limites da
formação econômico-social brasileira, sem que se tenha realizado em seu interior a
acumulação primitiva que lhe dá origem, caracteristíca que marcará profundamente
seus desdobramentos (IAMAMOTO&CARVALHO, 1982)

A consolidação do latifúndio como “empresa colonial” de acumulação primitiva


(MARX), inaugurou o que Clóvis MOURA chamou de Escravismo Tardio (1850-
1888), e tem seu marco juridíco legal a Lei de Terras de (17/09/1850), ratificou o
dessapossamento das terras devolutas em prol dos fazendeiros coloniais naquele
momento histórico e posteriormente dos fazendeiros capitalistas após o fim da
escravatura, desde então operou no Brasil o Sistema de Colonato

uma interdição de modo de produção, a partir do escravismo colonial criaram suas


estratificações de classes sociais. O colonato combinava um pagamento fixo em
dinheiro por mil pés de café tratados, uma quantia em dinheiro proporcional à
quantidade de café colhido, prestação de determinados trabalhos gratuitos ao fazendeiro
durante o ano (como a construção ou reparo de cercas, limpeza de pastos e caminhos,
controle de incêndios). Os camponeses tinham permissão para plantar milho, feijão e,
eventualmente, arroz ou algodão(MARTINS, 2010, p.147-148)

A condição de colono necessariamente tinha aspecto coletivo pois o colono não


não era um trabalhador individual, mas um trabalhador familiar, pois a produção era
dividida entre os membros da família: além do marido, a mulher, os filhos com mais
de sete anos se envolviam diretamente no eito (MARTINS, 2010, p. 156).
Por ser um trabalho que visava a manutenção desta família sem aferição de lucros
o modo camponês de trabalhar facilatava o estranhamento e supressão ao siatema de
salário que regulava o vindouro “Trabalho Livre”, o que facilitou a aceitação do
sistema de trocas durante o ano e pagamento em pecúlio somente na safra/colheita;
Na esteira desta transformação nas relações trabalhistas, houve um “conjunto de
flexibilizações não só no plano laboral, mas também no plano cultural e na
organização patriarcal da família que representou profunda, prévia e lenta amenização
da transição da escravidão negra para o trabalho propriamente livre”. (MARTINS,
p.27).
Doravante a figura do fazendeiro deixou ser um “amansador de gente para se
tornar um administrador da riqueza produzida pelo trabalho” (MARTINS, p.26).

“o fazendeiro extraía primeiramente o tempo de trabalho excedente, definindo a


prioridade do cafezal como objeto de trabalho do colono. Somente depois da extração
do trabalho excedente é que cabia ao colono dedicar-se residualmente ao trabalho
necessário à sua reprodução como trabalhador, sob a aparência de que trabalhava para
si mesmo. Quanto mais o colono trabalhava para si mesmo - duplicando a jornada de
trabalho, subtraindo os filhos à escola, antecipando a exploração do trabalho infantil,
intensificando o trabalho da mulher por sua absorção nas tarefas do cafezal - mais ele
trabalhava para o fazendeiro. É que os rendimentos monetários do trabalho apareciam
para o colono revestidos de uma qualidade que derivava da própria separação subjetiva
e objetiva entre lavoura do colono e lavoura do fazendeiro; apareciam como o
supérfluo, o secundário, o que vem depois da reprodução da vida.p.84/85

Engendrada nesta reprodução da vida a possibilidade de se tornar o proprietário


de terra, mesmo estando alijados da divisão capitalista da produção agrícola, com
alusão e ilusão de ao gerir um pequeno espaço da fazenda que aquela concessão do
latifundiário poderia transformar se em sua futura condição de proprietário
constuituiram o etos economico deste sujeitos sociais envolvidos. Esta mera hipótese
surge para reflexão de seguinte inquietação, por que os colonos aceitavam esse
sistema claramente desigual, aqui o processo de valorização do capital torna se central
para compreensão das mediações diversas das relações trabalhistas capitalistas de
produção, não foi necessário o açoite vide no Sistema Escravista, ocorrendo uma
legitimação da exploração do fazendeiro.

Para José Chasin, o método de aceite, o fundo básico “ foram paradigmáricas


várias das formulações para obtenção de super lucros na renda fundiária advinda da
terra (...) ademais a relação entre formas de organização do controle e poder com a
classe trabalhadora via famílias”CHASIN(). O conteúdo fundamental da evolução e
da transformação do Escravismo Colonial em sistema de exploração capitalista
segundo este filósofo foi;

a transformação do camponês patriarcal em granjeiro burguês…


sinteticamente, a via prussiana do desenvolvimento capitalista aponta para
uma modalidade particular desse processo, que se põe de forma retardada e
retardatária, tendo por eixo a conciliação entre o novo emergente e o modo
de existência social em fase de perecimento. Inexistindo, portanto, a ruptura
superadora que de forma difundida abrange, interessa e modifica todas as
demais categorias sociais subalternas. Implica um desenvolvimento mais
lento das forças produtivas, expressamente tolhe e refreia a industrialização,
que só paulatinamente vai extraindo do seio da conciliação as condições de
sua existência e progressão. Nesta transformação “pelo alto” o universo
político e social contrasta com os casos clássicos, negando-se de igual modo
ao progresso, gestando, assim, formas híbridas de dominação, onde se
reúnem os pecados de todas as formas de estado (CHASIN)

Este “modo brasileiro” de adaptação do Escravismo Colonial ao Capitalismo “ á


brasileira” foi condição imposta aos trabalhadores rurais livres pelo cerco, que os
fazendeiros-capitalistas haviam imposto ao colono pós 1888. Aqui se apresenta o
conceito/axioma clássico de José de Souza Martins “ se a terra é livre, o homem é
preso , se o homem for livre a terra é presa” (MARTINS, 2010, p). Ocorreu desde os
ditâmes da Lei de Terras (1850), através da radical formalização da renda territorial
capitalizada, o monopólio de classe sobre a terra, para sujeitar e explorar o produto do
trabalho na terra a Sistema de reprodução do capital, trabalho independente no campo
ou na cidade foi;

reproduzida e reinterpretada através das relações de produção do colonato, como fruto


do trabalho obstinado. Por isso tudo, o imigrante que foi trabalhar como colono não era
um conformado com os ganhos monetários reduzidos, no Brasil, essa inquietação
tornou-se a base do nosso conformismo social pós-escravista. A mobilidade de busca,
na emigração, teve contrapartida na economia do café: a contínua oferta de mão de obra
subvencionada pelo governo, condição da também contínua ocupação de terras novas,
que alimentou a aspiração da independência e da propriedade (.MARTINS, p.91, 2010)

Devido, justamente, à modalidade das relações de produção aí vigentes, surge


como necessidade e prioridade pelo Estado o “enbranquecimento”SABINO da
população brasileira onde a imigração (Europeus, Japoneses principalmente)
constituiu um requisito de importação constante e maciça de trabalhadores em grupos
familiars pois os imigrantes migravam em família em grande monta, ja no período
inicial da República.
Nesta conjuntura grande propriedade rural é presença decisiva, somente
principiamos verdadeiramente a concreção ao atentar como ela se objetiva em cada
uma das entidades sociais/famílias, por ser de natureza familiar as relações
trabalhistas e sociais ocorreraam “sem que os trabalhadores se individualizassem na
situação de trabalho e se reconhecessem donos de si e da sua consciência”, ….

O chefe da família era o depositário da consciência familiar, ao mesmo tempo que


o trabalho se determinava pelo familismo que propendia ao patriarcal, vinculando
gerações a um projeto de família, o que tornava o confronto laboral praticamente
impossível ou, no mínimo, o tornava secundário em relação a outras precedências na
vida do colono. Ao mesmo tempo, o chefe de família era agente direto e mediador da
exploração que a fazenda exercia sobre a família de colonos, uma espécie de capataz
na ordenação e execução do trabalho. A disciplina do trabalho era integrada no
exercício da autoridade do pai de família, o que dificultava que os verdadeiros agentes
da relação laboral se propusessem objetivamente, com cara própria e não com a cara de
outras relações sociais vividas pelos colonos. Não que o colono considerasse a porção
da fazenda sob seu cuidado, os talhões de café de seu trato, como propriedade sua. Não
se conhece nenhuma manifestação nesse sentido, os limites entre o próprio e o alheio
bem definidos. p. 85/86

A família colonial hegemônica era caracterizada por uma relação não intimista,
de isolamento da figura feminina e escasso desenvolvimento econômico e social,
(PINHEIRO, 2018). Esta condicionante é a raiz cultural do posicionamento
oligárquico, e, concentra na figura masculina o poder sobre a entidade familiar, seus
membros e organizações.

Este salto para trás, em busca de formas pré-capitalistas de entificação social para
desenvolvimento do capitalism, o fator escravidão representa o esteio da sociedade
brasileira, pois ela é a semente da acumulação capitalista e articula visceralmente duas
regressividades: o atraso nas relações sociais e regressividade econômica. O
“patriarcalismo conceito deste governante familiar ou politico local, cuja figura
confundia-se com o próprio Estado, exercia um poder autoritário e centralizado”
(FAORO, 1958. p 124). Enquanto o coronelismo ratifica o poder privado;

se manifestava na esfera pública o “coronelismo” representado geralmente


pelo chefe municipal, ou não necessariamente o prefeito mas o coronel do
municipio, é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o
poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social
dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível pois,
compreender o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que
fornece a base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão
visíveis no interior do Brasil (LEAL, ).

Para (PINHEIRO, 2018, p.10), ocorre uma simbiose entre patriarcalismo e


coronelismo o que almagama os mecanismos de transformação de camponeses em
burgueses granjeiros. Esta estrutura social agrária colonial, reverberou na história do
Brasil desde o advent da República passando pelo séc.XX, e condiconando as
expressões da questão social dentro da sociedade brasileira,

Assim, entendemos que a ampliação da definição trazida por Iamamoto (2011)


sobre a questão social é fundamental para compreender as suas expressões mais
diversas como a funcionalidade e estruturação capitalista na reprodução do racismo e
do machismo tão presente no capitalismo brasileiro, assim como na percepção da
moralização e do moralismo com relação às expressões da questão social,

determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto
dimensões subjetivas, fruto da ação dos sujeitos na construção da história. Ela expressa,
portanto, uma arena de lutas políticas e culturais na disputa entre projetos societários,
informados por distintos interesses de classe na condução das políticas econômicas e sociais
(IAMAMOTO, 2011, p. 156)

Como resultado desta dialética radical de expropriação de territórios com relações


sociais oriundas deste aprisionamento, grande parte dos camponeses e pequenos
arrendatários foi expropriada do campo, gerando uma massa de proletários urbanos,
que davam as nascentes indústrias, os braços de que necessitavam. Seus meios de
produção, assim como a terra, tornaram-se capital e o que lhes restou foi apenas venda
a sua força de trabalho em um Sistema industrial urbano condiconado pelas raízes
agrárias e coloniais.

1.2. E A METAMORFOSE PARA O AGRICULTOR FAMILIAR.

A modernização nas relações trabalhista após o término tardio da Escravidão no


país, foi o mecanismo capaz de conservar inalterado o espectro de desigualdades,
sobretudo a concentração fundiária, do período colonial, o colonato Sistema de
trabalho familiar não apenas manteve os lucros das fazendas coloniais, como criaram
raízes rizomas de dominação vide o patriarcalismo e coronelismo.

De acordo com Woortmann (1990), a campesinidade corresponde a uma


qualidade encontrada em diferentes tempos e lugares, que expressa à importância de
valores da ética camponesa para indivíduos ou grupos específicos. Estes podem
“apresentar maior ou menor grau de campesinidade, segundo sua trajetória de vida e
sua forma de integração à sociedade moderna capitalista, ética camponesa apresenta
terra, trabalho e família como valores morais e categorias nucleantes intimamente
relacionados entre si”. (WOORTMANN, 1990)
Outrossim, no entanto o campesinato prática relações não-capitalistas e cada
camponês busca reproduzir sua família e seu modo de vida e tem resistido ao longo do
tempo aos ditâmes do capital, produzindo praticamente uma agricultura de
subsistência.

Desde mantindos na terra, ao serem despossuídos como ocorreu no período de


avanço do latifundio nos territórios dos povos originários com a expulsão de milhares de
famílias do campo e o processo de desterritorialização dos trabalhadores proletarizados
ora„engrossaram, o exército industrial de reserve ou torna se um novo camponês na
perspectiva dos novos movimentos sociais, que se caracterizam por uma luta por
direitos.

O que fica claro é que as modificações nas relações de produção que se


intensificaram no Brasil a partir dos anos 1960 não geraram a expropriação pura e
simples dos camponeses, transformando-os em proletários. Esse avanço apoiava-se no
receituário tecnológico da Revolução Verde4

De acordo com Oliveira (2002), há uma barbárie das elites brasileiras em relação à
luta dos camponeses pela terra, o autor chama atenção para o fato de que a
modernização conservadora é a própria lógica destrutiva do capital que pode ser
entendida a partir das lutas dos movimentos sociais. Dentre os quais destaca se em
nível mundial a “Via Campesina5” e nacional o “MST6”

Segundo Fernandes (2001) os teóricos da agricultura familiar defendem: que o


produtor familiar que utiliza os recursos técnicos e está altamente integrado ao mercado
não é um camponês, mas sim um agricultor familiar. Desse modo, pode-se afirmar que a
agricultura camponesa é familiar, mas nem toda a agricultura familiar é camponesa, ou
que todo camponês é agricultor familiar, mas nem todo agricultor familiar é camponês.
(SAMPAIO, ).

Muitos se transformaram em população sobrante, desempregados, peões-de-


trecho, migrantes temporários que, mesmo na cidade, mantêm o vínculo com o campo,
quer por meio do trabalho volante ou bóia-fria, quer como moradores junto aos pais em

6
pequenos sítios, ou eventualmente trabalhando como parceiros ou rendeiros em várias
regiões do país, e também em situações específicas de trabalho na cidade (SIMONETTI,
1999, p. 115-116).

econômicos e do contexto em que vive, não se associando sequer aos princípios


das políticas compensatórias distributivistas, como também, extremamente seletivas,
tendo em vista que a apropriação não é realizada por todos, mas apenas por uma
minoria.

sejam priorizadas ações que contemple relações sociais, políticas e culturais


configurando novas dimensões para a produção e nas relações com o trabalho. De acordo
com Fernandes:
O avanço das políticas neoliberais e seus ajustes estruturais provocam, pelo menos, duas
mudanças significativas na sociedade: a minimização do Estado e a maximização do
capital na tomada de decisões a respeito das políticas de desenvolvimento e, por
conseguinte , dos territórios[...]

capital maximizado determina ainda mais os rumos das políticas de desenvolvimento,


enquanto o Estado minimizado assiste, muitas vezes passivo, a criação de leis e políticas
que beneficiam muito mais os interesses das empresas capitalistas
nacionais/transfnacionais do que os interesses da sociedade (FERNANDES, 2008 p.287)

plenitude. Distribuir terras e assentar famílias tem sido a prática da reforma agrária
no Brasil. A Reforma Agrária ainda é uma política pública não realizada para o
desenvolvimento da agricultura no Brasil. Há efetivamente a necessidade de uma
Reforma Agrária no Brasil, que respeita as particularidades regionais, sociais e culturais,
com uma política pública de acesso a terra, e liberdade ao agricultor de integração ou
não ao mercado, que lhe permita dignas condições de produção e de vida.

Os avanços técnicos impõem mudanças significativas que além de promover a


produtividade, intensificou os conflitos no campo, especialmente na década de 1990,
fato que toma maior projeção após a implantação do Banco da Terra pelo governo
federal, que entre outras medidas, diminuiu a assistência técnica e estabeleceu novas
regras ao crédito agrícola para pequenos agricultores. Esta política, atrelada ao Banco
Mundial, fortaleceu as relações capitalistas no campo, comprometendo articulações
políticas, vinculando o setor agrícola às regras do mercado livre. (SAMPAIO,2011)
Á GUISA DAS CONCLUSÕES

Ainda é preciso apontar que esta pesquisa possui um caráter exploratório, por “[...]
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito
ou a construir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41) a partir das bases do Serviço Social, uma vez
que ainda é abordado de forma insipiente pela profissão, seja no plano teórico, seja
naquele técnico profissional

a compreensão da particularidade do capitalismo brasileiro

Muitos se transformaram em população sobrante, desempregados, peões-de-trecho,


migrantes temporários que, mesmo na cidade, mantêm o vínculo com o campo, quer
por meio do trabalho volante ou bóia-fria, quer como moradores junto aos pais em
pequenos sítios, ou eventualmente trabalhando como parceiros ou rendeiros em várias
regiões do país, e também em situações específicas de trabalho na cidade. (SIMONETTI,
1999, p. 115-116)

As conseqüências socioeconômicas de um e de outro caso, evidenciando-se as


mesmas características que os textos anteriores nos revelaram: A primeira implica a
manutenção máxima da sujeição e da servidão (transformada ao modo burguês), o desenvolvimento menos rápido
das forças produtivas e um desenvolvimento retardado do capitalismo; implica calamidades e sofrimentos,
exploração e opressão incomparavelmente maiores das grandes massas de camponeses e, por conseguinte, do
proletariado”.

Nesse contexto, a família se reproduz como uma instituição social orbitando as


dimensões da conjugalidade, da parentalidade, da divisão sócio-sexual do trabalho,

cerne elementar que vai de encontro com diversas lutas de superação de desigualdades
e modelos que permitem ofuscar outras formas de relações e acabam por se estabelecer
como um elemento padrão que orbitou a forma como se tratou a questão social no
Brasil. (PINHEIRO,2018, P.10)
Tanto a agricultura familiar quanto a camponesa recorre comumente a produção
Agrícola baseadas no trabalho familiar como principal fonte de mão-de-obra, porém
na primeira situação pode ocorrer a contratação de terceiros, a depender dos estímulos

BIBLIOGRAFIA

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