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O texto original foi escrito em castelhano. A tradução literal, para uso interno da Via Campesina do Brasil,
foi realizada por Ênio Guterres e Horacio Martins de Carvalho, no final de dezembro de 2004.
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Esta obra vem trazer, como dizem os próprios autores, “importantes ferramentas
teóricas com as quais se poderá neutralizar a ofensiva neoliberal que desde a academia e na
prática política esta se desenvolvendo na América Latina ao pretender apresentar uma
inevitável evolução da Agricultura “Familiar” para o Agronegócio, no contexto da
Agricultura Industrializada em sua atual versão transgênica”. Assim como os autores,
cremos em outra solução para os problemas sociais e ambiemtais que atravessamos. E o
campesinato, como veremos no texto, nos traz elementos que contribuirão muito para a
solução da crise em que vivemos.
Com essa publicação, queremos possibilitar aos leitores e aos estudiosos das
questões emvolvemdo o campesinato uma visão histórica sobre a evolução do conceito,
afirmando e reafirmando no campesinato seu modo de ser e de viver nas mais diferentes
formas de sociedade. Temos ainda, como meta, o fortalecimento do conceito de camponês,
o que é uma questão estratégica para o debate com o pensamento neoliberal e ortodoxo,
através de uma leitura crítica sobre as diferentes interpretações feitas sobre o futuro do
campesinato nas sociedades capitalistas.
Com este trabalho queremos oferecer à sociedade brasileira uma visão de quem
acredita que o campesinato tem papel fundamental para um processo de desenvolvimento
rural sustentável. Pretendemos ainda oferecer estes subsídios teóricos, historicamente
fundamentados, a outros pesquisadores, professores, estudantes e a cidadãos interessados
na temática e na realidade camponesas. Oferecer principalmente aos camponeses e suas
organizações, mais uma ferramenta de luta, agora no campo da batalha de idéias.
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SUMÁRIO
1. Introdução....4
5. Bibliografia....39
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1. INTRODUÇÃO
A perspectiva que vamos utilizar pretende ter uma natureza holística, no sentido de
que é, à sua vez, histórica e totalizadora, tentando captar a complexa diversidade das
manifestações do debate e de seu permanemte processo de transformação. Esta é
considerada não só desde uma perspectiva multidisciplinar senão em sua mais ampla
gemeralidade, e aceitando a articulação das diferentes “orientações teóricas” num processo
de configuração de um “pensamento científico convencional” confrontado, nas diversas
conjunturas históricas, com “um pensamento alternativo”. O primeiro, como conseqüência
das inter-relações da “ciência” com a “sociedade”, não questiona o sistema de relações
sociais existentes. As ações de desenvolvimento realizadas como conseqüência da
profundidade sócio-política de cada “orientação teórica” tende a legitimar a ordem social
existente. Pelo contrário, o pensamento alternativo tende a transformá-lo.
Nas páginas que seguem pretendemos fazer uma incursão pelo Pensamento Social
Agrário para apresentar aqueles marcos teóricos que se movem numa práxis intelectual e
política “contra o capitalismo”. E isso, independentemente de que atribuam ao campesinato
um papel histórico progressista (potencial revolucionário) ou reacionário (saco de batatas),
desde o século XIX até a atualidade. Nossa contribuição à VIA CAMPESINA pretende
trazer ferramentas teóricas com as quais se poderá neutralizar a ofensiva neoliberal que
desde a academia e da prática política está se desenvolvendo na América Latina ao
pretender apresentar uma inevitável evolução da Agricultura “Familiar” para o
Agronegócio”, no contexto da Agricultura Industrializada em sua atual versão transgênica.
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A presente investigação só adquire seu sentido cabal no contexto de outras anteriores ( Cf. Giner, S., and E.
Sevilla Guzmán (1980) ; E. Sevilla Guzmán (1983);Newby, H. e E. Sevilla-Guzmán (1983); E. Sevilla
Guzmán, (1984 :41-107); Sevilla Guzmán, E. (1988 ); Sevilla Guzmán ( 1990 ); e Eduardo Sevilla-Guzmán e
Manuel González de Molina (1992) onde se desenvolvem, em forma mais detalhada aspectos concretos desta.
Gonzáles de Molina e Sevilla Guzmán (1993a e 1993b) Uma visão global, muito esquemática, considerando a
implementação prática destes marcos teóricos através de suas formas de desenvolvimento apareceu em
português em Sevilla Guzmán (1997) e em inglês como E. Sevilla Guzmán and Graham Woodgate,
“Susttainable Rural Developmemt: Form a Industrial Agriculture to Agroecologyy” em Michel Redclift and
Grahm Woodgate (eds) The International Handbook of Emvironmemtal Sociology (Chaltenham: Edwuard
Elgar, 1997); há tradução castelhana em (Madri: Mc Graw Hill, 2002).
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Cremos, pelo contrário, que a única solução para o problema sócioambiental que
atravessamos está num manejo ecológico dos recursos naturais, em que apareça a dimensão
social e política que traz a Agroecologia e que esteja baseada na agricultura sustentável que
surge do “modelo camponês” em sua busca de uma soberania alimentar.3
Cremos ser necessário adicionar uma reflexão para assinalar que a análise do
campesinato no Pensamento Social Agrário Alternativo que apresentamos a seguir teria de
ser completado com uma interpretação do processo histórico latino-americano que
queremos esboçar aqui (Cf. Ottmann, 2005, no prelo) esquematicamente. E isso pela
importância política que sua introdução na Agroecologia pode ter. Tal interpretação parte
de uma estratégia metodológica que rastreia os processos geradores de identidade ao
apresentar conteúdos históricos que foram gerados pelas memórias sociais procedemtes da
visão dos vencidos. A inclusão, na reflexão teórica e análise histórica, de uma série de
autores-chave permitiria construir uma interpretação desde a visão do sul. Com tal
contextualização histórica se rastreariam aqueles processos que, em nossa opinião,
estabeleceram os conteúdos históricos de uma matriz sociocultural especificamente latino-
americana.
Dado que a Agroecologia supõe o manejo dos recursos naturais surgido desde as
identidades dos “etnoagroecossistemas locais”; a existência desta matriz sociocultural pode
contribuir com um elemento essencial na configuração de um potencial endógeno humano
que mobilize a ação social coletiva em que se baseia a Agroecologia, tal como nós a
definimos (Guzmán Casado, González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000). Esta matriz
sociocultural de pensamento popular latinoamericano se nos apresenta, neste contexto,
como um “saber submetido” no sentido que dá Foucault a este termo. E que, ao ser
reconstruído pode atuar, como reparação crítica a formas passadas de legalidade e a
instituições que jogaram um papel histórico negativo, ainda que foram legitimadas pelo
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Ao longo dos séculos XVIII e XIX tem lugar o que, desde uma perspectiva
científica, poderia definir-se como a gênese do pensamento social agrário. Tal cristalização
teórica não é em absoluto um fenômeno casual, pelo contrário, responde a todo um
processo de acumulação elaborado pelo legado das teorias evolucionistas provenientes da
“filosofia da história” (desde Giambattista Vico até George Hegel), do “evolucionismo
naturalista” (Lamarck, Darwin e Malthus, entre outros) e do “socialismo utópico” (em sua
ampla gama desde Pierre Joseph Proudhom a Claude Hemri de Rouvroy, conde de Saint-
Simon).
exploração econômica e depredação sociocultural que tal processo gerava nas comunidades
rurais.
4
Cf. Maurice Godelier (1.970); Angel Palerm (1974) e (1980) e Teodor Shanin (1984). As obras chave de
Kovalevsky para nosso argumento são (1.891a); (1.891b: 480-516); (1.885:177-233); (1.903) e ( 1.906).
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Num esforço de síntese, o narodnismo russo pode ser definido como uma práxis
intelectual e política que elabora uma estratégia de luta contra o capitalismo caracterizada
pelos seguintes traços: 1) Os sistemas de organização política gerados no seio do
capitalismo constituem formas de submissão e dominação sobre o povo que gera uma
minoria que pretende se legitimar mediante falsas fórmulas de participação democrática; 2)
os sistemas de legalidade assim estabelecidos desenvolvem uma prosperidade material que
vai contra o desenvolvimento físico, intelectual e moral da maior parte dos indivíduos; 3)
nas formas de organização coletiva do campesinato russo existia um “estado de
solidariedade” contrário à natureza competitiva do capitalismo; 4) era possível freiar o
desenvolvimento do capitalismo na Rússia mediante a extensão das relações sociais do
coletivismo camponês ao conjunto da sociedade; 5) os intelectuais críticos devem “fundir-
se com o povo” para desenvolver com ele, em pé de igualdade, mecanismos de cooperação
solidária que permitam criar formas de progresso às que se incorpore a justiça e a moral.
Analisaremos a “orientação teórica” do Narodnismo russo considerando, cronologicamente,
as três etapas (fundacional, clássica e revolucionária), antes citadas, que se correspondem
com três momentos de sua prática intelectual e política. Em cada uma delas consideraremos
ao menos um “marco teórico” que será utilizado como seu elemento caracterizador.
Etapa fundacional: Teoria da marcha atrás. Ainda que não se pode negar a
influência de Aleksandr Ivanovich HERZEM, a figura chave deste período é Nicolai
Gavrilevich CHERNYSHEVSKI, quem desde a revista Sovrememnik (Critica Literária)
realizou uma atividade publicista revolucionária, no meio das dificuldades impostas pela
cemsura, utilizando a literatura como marco gerador de processos de consciemtização e
contestação. Assim, mediante a análise da “experiência européia” ---fundamentalmente
França e Inglaterra --- escrutina as vantagens e desvantagens do desenvolvimento
capitalista chegando à conclusão de que a Rússia podia ainda eleger “outra via”, evitando a
proletarização, pauperização e desorganização social das comunidades rurais que
provocava o avanço do capitalismo: era possível “dar marcha atrás” e saltar sobre a etapa
do capitalismo chegando diretamente ao “progresso do socialismo”. Isso seria possível
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A implementação prática das idéias esboçadas nos dois marcos teóricos anteriores
tem lugar a partir dos anos sessenta do século XIX com o início de uma verdadeira
migração de população urbana, com predomínio de jovems, ao campo, convencida da
necessidade de uma ação conjunta com os camponeses para transformar as precárias
condições de vida em que a abolição da escravidão tinha deixado os estratos camponeses
pobres ao privar-lhes do uso comunal de suas terras depois da privatização destas. Esta “ida
para o povo” tem seu ápice na metade dos anos setenta. O processo supunha procurar uma
análise da realidade conjunta com os camponeses para encontrar fórmulas que, surgindo
deles mesmos, trouxessem soluções a cada situação. Passava-se assim de uma situação
clandestina de diferentes grupos nas cidades a uma ação aberta em todo o território,
estabelecendo conexões entre os novos grupos ali formados. O núcleo central que
articulava a rede de intercâmbios era Zemia i Volia (Terra e Liberdade). Os grupos assim
criados pretendiam ser legais, desenvolvendo uma propaganda, que numa primeira fase foi
demominada “causa do livro”, ao conseguir a ajuda de editores para a publicação de textos
e panfletos que se difundiam nas comunidades rurais, chegando a abranger uma grande
parte do território russo. A ação destes grupos mediante a lenta tarefa da propaganda e a
penetração de uma cultura moral, social e política, evoluiu com grande rapidez: o sucesso
da “causa do livro” os levou a substituir esta pela “causa dos operários”, que pretendia criar
a estrutura organizativa para passar à ação transformadora.
aberto e nada rígido que, compartilhando com outras correntes radicais diversos elementos
de seus pressupostos filosóficos; da crítica à sociedade atual; bem como do modelo da
futura sociedade ideal, distingue-se por alguns traços teóricos comuns que se concretizam
na negação do Estado e a busca do estabelecimento de inter-relações humanas na base da
cooperação voluntária expressa mediante pactos livres, desde o ponto de vista da práxis
política. A rejeição da participação política nas instituições burguesas se configura, entre
outros, como o elemento mais destacado e amplo (G. Woodcok, 1.979; pp. 19-20; C. Díaz,
1.973; pp. 5 e ss; Álvarez Junco; pp.9). Desde os interesses deste trabalho, isto é, no que se
refere ao conceito de campesinato, as figuras-chave configuradoras do “anarquismo
agrário” são Bakunin e Kropotkin, a quem passamos a considerar.
Para Bakunin as zonas vazias do capitalismo permitiam gerar uma revolução que
culminaria numa Europa socialista. Estas eram a periferia européia, onde ainda existia o
“ideal proletario dos países latinos”. O campesinato russo possuía os elementos capazes de
gerar essa dinâmica revolucionária. O núcleo central de tais elementos se baseava na
convicção “de que a terra pertencia ao povo, que a trabalha”. A propriedade era, portanto,
algo coletivo que não admitia a apropriação individual. O conceito de propriedade
capitalista não tinha sentido para a terra dentro da cultura camponesa russa. Igualmente, “o
uso da terra não pertence ao indivíduo senão à comunidade”; é esta, portanto, quem
adjudica a seus membros a utilização da terra para obter o acesso aos meios de vida. Os
critérios de tal distribuição constituem parte da “ética camponesa”, a qual faz parte de uma
lógica econômica alheia ao capitalismo e às formas de concorrência que introduz no
sistema de valores da coletividade (Bakunin, 1976, VI: pp. 372-3769).
Entre todas suas contribuições, quiçá a que tem uma maior relevância seja a
conversão do apoio mútuo numa categoria científica. Apoio mútuo (Kropotkin, 1978)
recopila os artigos que Kropotkin foi publicando no período 1.890-1.896 na revista The
Nineteemth Cemtury em resposta ao artigo “A luta pela existência na sociedade humana”
que, na referida revista, o reputado naturalista T. Huxley (1.825-1.895) publicou no número
de fevereiro de 1.888. Em tal artigo, Huxley expressou a idéia de que a civilização humana
nasceu no trânsito de um estado de guerra mútua e amoralidade, características do estádio
animal e próprio de uma vida humana selvagem, a outro definido pela paz a evolução
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A teoria do apoio mútuo como fator de evolução faz uma caracterização das
diferentes formas históricas de organização social do campesinato e critica as intencionadas
políticas de extinção das comunidades rurais. Nas próprias palavras de Kropotkin: “as
teorias correntes dos economistas burgueses e de alguns socialistas afirmam que a comuna
morreu na Europa ocidental de morte natural, posto que se supunha que a posse comunal da
terra era incompatível com as exigências contemporâneas do cultivo da terra. Mas a
verdade é que em nenhuma parte desapareceu a comuna aldeana por própria vontade; ao
invés, em todas partes as classes dirigemtes precisaram em vários séculos de medidas
estatais persistentes para desenraizar a comuna e confiscar as terra comunais”, P.
Kropotkin, XXCC p. 228). Ademais mostra como o então emergente liberalismo
econômico não tem nada que ver com a evolução biótica das espécies; as sociedades
humanas não podem ser regidas pela concorrência do mercado e umas falsas leis que
justificam a exploração do trabalho.
onde trata em forma diferemciada a Rússia, que conserva o mir, de Espanha ou o sul de
Itália (Circular a meus amigos de Itália), onde os “camponeses estão castigados pela
pobreza”. De igual forma, seu conceito de “operário urbano” varia segundo a posição deste
no capitalismo. O operário urbano é o setor marginal da cidade em cada situação específica,
mas nunca a “aristocracia operária”. O papel central no processo revolucionário do
coletivismo camponês só seria explicável lá onde existam instituições com tal natureza; ali,
depois da guerra “civil no campo”, surgiria sem nenhum tipo de imposição, a ação social
coletiva transformadora como uma conseqüência lógica do “instituto socialista camponês”.
Não obstante, a existência de uma ética natural contrária à que introduz o capitalismo e
reproduz o Estado com a propriedade privada como instituição central, é algo que a cultura
camponesa mantém como algo impresso em sua natureza. A justificativa teórica disso está
no conceito de “apoio mútuo” como contribuição de Kropotkin. (Franco Vemturi, 1.975;
tomo I. pp. 176-177, e tomo II, pp.688-689; Alexander I. Herzem, 1.979; M. Bakunin, Vol.
III; pp. 5-40).
Mas Marx rejeitou várias vezes, durante sua vida, que seu trabalho constituísse um
sistema teórico do qual desprendesse uma visão do mundo, ainda que sempre aceitou que
este se realizava desde os interesses das classes trabalhadoras. Pelo contrário, Engels - uma
vez morto Marx e utilizando os materiais (conhecidos como cadernos ou anotações
etnológicos) que Marx elaborou durante a última década de sua vida - pretendeu
desenvolver uma teoria geral do processo histórico, que culminasse a obra realizada
conjuntamente por ambos autores, ao escrever A origem da família, da propriedade
privada e do Estado (Engels, 1972a, 1ª edit. 1884; 1972b, 1ª edit. 1878; Hobsbawm, 1978;
pp. 353-374; Bottomore, 1983; e Shanin, 1983). No entanto, deve-se a Engels o
conhecimento cabal da obra chave de Marx: O Capital, do qual só o volume I foi publicado
em vida de seu autor (1867), sendo os outros dois volumes editados e publicados por
Engels (1885 e 1894) a partir dos manuscritos e notas de Marx..
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Na Rússia, funcionou a estratégia desenhada por Lenin ainda que suas adaptações a
cada conjuntura histórica mostraram que seu esquema possuía uma ampla flexibilidade
analítica. Assim, naquele momento histórico, uma elite intelectual transmitiu à pequema
população já empregada na indústria em grande escala sua práxis política de libertação na
infraestrutura organizativa delimitada pela teoria de Lenin do partido político, como
gerador da tática e estratégia da ação social coletiva revolucionária. “A ideologia --- tal
como mais tarde, durante a época de Stalin e de forma verdadeiramente pouco crítica,
chamou-se a esta doutrina do marxismo enquanto visão do mundo --- tinha por objeto
assegurar a disciplina e exclusividade dos quadros do partido e sua indiscutível orientação
de liderança. Desta forma se inverteu a relação entre classe operária e sua consciência de si
mesma: em primeiro lugar com a ajuda dos intelectuais que pertenciam ao partido, os
quadros do mesmo desenvolviam esta consciência de classe cujo núcleo estava constituído
pela visão marxista do mundo e, consequentemente, tal consciência era transmitida à classe
operária, que depois da revolução cresceu rapidamente. Enquanto Lenin estava ainda
disposto a aceitar revisões de sua teoria, sobre a base das circunstâncias empíricas, com
Stalin a doutrina da visão do mundo ficou congelada em dogma durante o período da
construção de um socialismo burocrático de Estado. O marxismo se converteu na doutrina
oficial do Estado e do partido, e era um ponto obrigatório para todos os cidadãos soviéticos.
Foi neste período, aproximadamente a partir de finais dos anos vinte, quando a visão do
mundo se converteu numa camisa de força que se impôs, não somente aos cidadãos; senão
também à ciência e à arte” (Bottomore, 1984; pp. 496; Shanin, 1988). Foi bem como surgiu
o marxismo ortodoxo que passamos a definir, desde uma perspectiva acadêmica.
ortodoxo, que estamos caracterizando em sua dimensão acadêmica (Marx, 1973; pp 9-66 e
106-1079; Palerm, 1976,b).
Por outro lado, como veremos mais adiante, após a morte de Marx, seu amigo e
companheiro de trabalho Engels empreende a tarefa de reconstruir seu pensamento nesse
período. Engels tenta elaborar uma teoria geral da evolução das sociedades, seguindo a
necessidade histórica marcada pelos clássicos do pensamento social da época, e cai nos
citados erros com respeito à existência de uma seqüência única, inexorável,
compartimentada de modos de produção, dando a falsa evidência de que Marx havia
alcançado tal propósito em sua obra, quando, pelo contrário, como vimos anteriormente, ele
considerava que ainda não havia alcançado a maturidade de pensamento nem a evidência
empírica suficiemtes para formula-la, como se depreende dos Grundisse e do Prefácio à
Contribuição. Isso só se pode compreender sob o prisma da incompreensão de Engels ao
ler os Apontamentos Etnológicos de Marx (Lawremce Krader, 1988). Tal erro supôs uma
legitimação da interpretação dos marxistas ortodoxos, obviando os citados achados de seu
companheiro.
ii) O narodnismo marxiano. Como assinalamos anteriormente, nos últimos dez anos
da sua vida, e motivado pela riqueza que adquire na Rússia os debates populistas em torno
do primeiro tomo do O Capital, Marx aprende russo e, sob a influência desses debates, se
introduz na análise do campesinato no processo histórico. E, ao faze-lo, retoma os
problemas colocados em seus esquemas aclaratórios sobre a evolução das sociedades como
crítica à economia política. Segundo mostra Shanin e seus colaboradores na sua análise do
último Marx, este parece chegar a aceitar um evolucionismo multilinear do processo
histórico, assim como a coexistência de distintas formas de exploração na estrutura
socioeconômica de uma determinada sociedade, abrindo com isso imemsas possibilidades
para o estudo dos processos que têm lugar na agricultura. De fato, se introduzirmos a
problemática populista com relação à valoração do conhecimento local e em parte deste no
manejo dos recursos naturais, aparece como conseqüência lógica o possível desenho de
múltiplas vias para obter o progresso.
teórica do marxismo ortodoxo antes considerada. Entre eles nos interessa considerar ainda
que em forma esquemática a Rosa Luxemburgo, Nikholai V. Bujarin e E. Preobrazhemsky,
já que suas contribuições permitem delimitar os contornos de uma corrente teórica distante
das rigidezes da doutrina oficial.
Chega assim a definir --- contraditoriamente à tese central de seu trabalho --- o
“setor camponês da economia política capitalista” como uma fonte de “acumulação
primitiva contínua”. De forma análoga, a caracterização que faz Lênin dos mecanismos de
proletarização do campesinato é interpretada em um contexto teórico geral e não somente
aplicada à Rússia. Nessa caracterização aparecem múltiplas contradições com relação à
forma de exploração camponesa e o latifundismo, o qual atuaria como uma forma de
exploração gérmem de uma tendência para a socialização da produção. De fato em seu
Desenvolvimento do Capitalismo na Agricultura chega a demonstrar “a polarização social
da agricultura” e a conseqüemte “proletarização social do campesinato” na Rússia do
oitocentos. São estes os marcos teóricos centrais do marxismo ortodoxo com relação à
questão agrária.
Existe uma aceitação geral, dentro da literatura sobre o campesinato, em situar 1948
como o ponto de partida da “nova tradição de estudos camponeses”. Foi então quando
Kroeber caracterizou a sociedade camponesa como uma forma de organização social com
estruturas “rurais apesar de viver em relação com os mercados das cidades; formando um
segmento de classe de uma população maior que engloba geralmente centros urbanos e, às
vezes, até capitais metropolitanas. Constituem sociedades parciais com culturas parciais.
Carecem de isolamento, a autonomia política e a autarquia dos grupos tribais; mas suas
unidades locais conservam sua velha identidade, integração e apego à terra e aos cultivos”
26
(5)
. Ainda quando nesta definição se emcontrem já os elementos chaves que serão
posteriormente utilizados para definir o campesinato, de fato foi Robert Redfield quem
inicia realmente este novo processo de acumulação teórica. Assim, Redfield leva a cabo um
estudo de várias comunidades camponesas mexicanas centrando sua análise nas mudanças
que nelas têm lugar como conseqüência das inter-relações existentes entre elas e a
sociedade urbanoindustrial” (6).
Desde um ponto de vista teórico, Redfield dedicou seus esforços para a formulação
de um tipo ideal de sociedade camponesa que passou ao pensamento social como a Folk-
Society(7). Para Redfield os camponeses são um segmento de classe de uma sociedade
maior (Part-society com Part-culture) vinculados ao mercado ainda quando o grosso de sua
produção vai para o autoconsumo da unidade familiar. Seu traço central, sem dúvida, é
constituído pela forma de dependência que possui com a sociedade maior em termos de
exploração(8). Sem dúvida, o conjunto de estudos mais relevantes sobre o campesinato,
dentro desta tradição teórica, surge do grupo vinculado a Julián H. Steward, que se inscreve
teoricamente como o evolucionismo multilinear ou a ecologia cultural. Junto a Steward,
cabe destacar como figuras mais relevantes a Sidney Mintz, Eric Wolf, Karl A. Wittfogel,
Robert Adams e Angel Palerm, entre muitos outros(9).
5
A.L.Kroeber, (1948: 284).
6
Redfield estuda, primeiro, em companhia de sua esposa e filhos, uma população azteca próxima à cidade do
México (Teopozland, a Mexican Village: a Study of Folk Life) (1930) e, depois (ajudado por quem mais
tarde seria seu discípulo e colega, Alfonso Villas Rojas, então, professor rural), quatro comunidades
yucatecas (Chan Kom: A Maya Village) (1934), y ,The Folk Culture of Yucatán (1941). Publicados todos
eles em The University of Chicago Press).
7
R. Redfield, (1947: 293-308). Sobre seu caráter de modelo teórico, cf. "The Natural history of the Folk
Society", (1953: 224-228).
8
R. Redfield, (1956: 29-30 y 64-68).
9
A configuração deste grupo surge do trábalo interdisciplinar que Steward dirigiu em Porto Rico ao final dos
anos quaremta Cf. The People of Puerto Rico (Urbana Ill.: University of Illinois Press, 1956. Daqui surgem
as teses doutorais de Sidney Mintz e Eric Wolf gerando uma acumulação téorica que incorporava o legado
teórico de Childe y White.
10
Erick R. Wolf, (1982).
11
Sidney Mintz, (1960). Há edição em espanhol de 1988 (Rio Piedras: Edições Huracán). Para o marco teórico
do campesinato como encaixe histórico Cf. Caribbean Contours (1985).
27
sobre o manejo dos recursos naturais é tomado como uma das variáveis definidoras do
mesmo aproximando-se da posição da Agroecologia, emergente naqueles anos.
Outro autor de grande relevância, dentro desta tradição teórica é Boguslaw Galeski,
quem recolhemdo o legado de V.I. Lênin, reelabora o conceito de estrutura social
aplicando-o à análise do campesinato. Aparece, assim, o que pode definir-se como o marco
teórico da estrutura social rural(12). Mas sem dúvida o grande impulsionador dos novos
estilos camponeses é Teodor Shanin que em seus trabalhos sobre Chayanov, Lênin e
Kautsky rompe com a perspectiva unilinear do marxismo ortodoxo agrário(13) e gera, o que
temos aqui denominado, o marco teórico do Narodnismo Marxiano, recuperando assim, o
valioso legado de sua “multilinearidade” para o desenvolvimento dos paises periféricos (14).
Tem um grande interesse sua recopilação de trabalhos publicada como Defining
Peasants(15). Junto com Teodor Shanin e Hamza Alavi (articuladores dos estudos
camponeses com a Sociologia do Subdesenvolvimento), provavelmente a figura inovadora
desta tradição intelectual é Joan Martinez Alier(16), quem introduz uma dimensão
agroecológica na sua análise dos movimentos sociais nos paises periféricos construindo
assim o marco teórico da “A ecologia dos pobres” (17). A eles é obrigado acrescentar ao
núcleo de trabalhos mais impactantes nas transformações da sociologia rural européia para
um enfoque mais interdisciplinário, descolando assim definitivamente da sociologia da vida
rural; são estes os estudos sobre desenvolvimento rural vinculados a Norman Long que,
desde uma perspectiva neomarxista e utilizando materiais recolhidos sobre Ásia, África e
Latinoamérica, exploram os problemas das sociedades rurais do Terceiro Mundo. Seu
trabalho chave é constituído pela análise que, sobre as “teorias da modernização” e os
“marcos da dependência”, o levam a formular propostas de desenhos de métodos de
desenvolvimento rural. Primeiro desde a Inglaterra(18) e depois desde a Universidade de
Wagemingem (19), elabora uma estratégia metodológica para encarar o problema do
emcontro entre diferentes identidades para a construção de processos de desenvolvimento
local. Constitui assim uma interessante equipe à que se integraria uma das que serão mais
relevantes figuras do panorama atual do pensamento social agrário Jan Douwe van der
Ploeg, que consideraremos mais adiante.
Outra figura destacada da sociologia rural inglesa, que incidirá nesta orientação
teórica é Michael Redclift, quem, apesar de certas incursões nos estudos de comunidade na
Inglaterra e Espanha, se dedicará à análise do Terceiro Mundo, centrando-se nos estudos
sobre A Reforma Agrária no Equador(20) e México, onde analisa o fenômeno do populismo
12
Boguslaw Galeski, (1972: 100-133).
13
Teodor Shanin, em A.V. Chayanov, (1986). Há tradução em español em Agricultura y Sociedad, nº48; y
con Hamza Alavi, em Karl Kautsky, (1988), também há versão castelhana em Agricultura y Sociedad.
14
Teodor Shanin (1983).
15
London: Basil Blackwell, 1990.
16
Landlabourers and Landowners in Southern Spain (London: Allem and Unwin, 1971), assim como seus
trabalhos sobre Cuba, Perú e outros países latinoamericanos. Haciemdas, Plantations and Collective Farms
(London: Frank Cass, 1977).
17
Cf. Ecological Economics (Oxford: Basil Blackwell, 1987). E sobretudo seu De la economía ecológica al
ecologismo popular (Barcelona: Icaria, 1992).
18
Cf. An Introduction to the Sociology of Rural Developmemt (London: Tavistock, 1977).
19
Norman Long (1989 y 1992).
20
Michael R. Redclift, (1978).
28
agrário como via camponesa de transição para formas de organização política mais
igualitárias(21). Sem dúvida, a contribuição fundamental de Robert Redclift ao pensamento
social agrário tem lugar no processo de confluência desta orientação teórica com a
sociologia do subdesenvolvimento que acabamos de ver; seu livro com David Goodman,
From Peasant to Proletarian constitui a mais lúcida análise dos marcos teóricos do
subdesenvolvimento(22). É obrigatório considerar aqui a Hamza Alavi e Teodor Shanin(23)
como iniciadores deste processo de confluência. Não obstante, é dentro da sociologia da
agricultura que veremos depois, onde Michael Redclift destacará como principal introdutor
do enfoque (meio) ambientalista na sociologia rural das “sociedades avançadas” (24).
21
Michael Redclift, (1980: 492-502). Cf., também, seu trabalho "Production Programs for Small Farmers:
Plan Puebla as Myth and Reality" em (1983:.551-570).
22
(Oxford: Basil Blackwell, 1981).
23
Cf. Sociology of "Developing Societies" (London: MacMillan Press, 1982).
24
Michael Redclift, (1987) e seu estudo com David Goodman (1991).
25
Ibid, p. 135.
26
Naciones Unidas, El desarrollo y el medio ambiemte. Founex, Suiza 4-12 junho 19 8 7 XXX?, pp. 1, 2,
30 y 40 citado no trabalho de Leff na nota de rodapé adiante.
27
Sachs, (1.981: 20-22). Uma análise do Ecodesenvolvimento no contexto de outras posições ambientalistas
européias podem ser apreciadas em Michael Redclift, (1.984). Existe uma versão castelhana no FCE tão mal
traducida que é praticamente inteligível.
28
Naciones Unidas, El desarrollo y el medio ambiemte. Founex, Suiza 4-12 junho 19 8 7 XXX?, pp. 1, 2, 30
y 40 citado no trabalho de Leff da nota de rodapé seguinte.
29
Enrique Leff, (1994: 320-321).
29
Da Sociología da Agricultura
30
Enrique Leff, (1986). A edição de 1994 supõe uma reavaliação substantiva deste trabalho introduzindo
contribuições de grande valor.
31
Cf. A expressão “economia política Leniniana” não é senão uma variante atual do Marxismo ortodoxo,
desenvolvida por Alain de Janvry (1981 e Deere and De Janvry, 1979). Pelo contrário a expressão
“marxismo chayanoviano” que procede de Lehman (1986: 601-607), tem sido amplamente aceita pela
comunidade científica da sociologia da agricultura norteamericana conforme os citados trabalhos de
Butell, Friedland, María Fonte e a valiosa tentativa de Margaret Fitz Simmos para integrar esta tradição
sociológica com a geografia Cf. (1985: 139-149; 1986: 334-345; e muito especialmente seu trabalho em
Philip Lowe, Terry Marsdem and Sarah Watmore, 1988: cap. 1). Sem dúvida tal expressão, em tal
contexto teórico (Cf. Una crítica a la pobreza teórica del marxismo utilizado em Sevilla Guzmán, 1995),
não passa de ser uma metáfora, quando na realidade emvolve todo um marco teórico gerado pelos fortes
conteúdos históricos, desenvolvidos por uma práxis intelectual e política que permitiu uma fértil
teorização geradoras de proposta produtivas socioeconômicas de grande valor. E ademais, tanto desde o
contexto teórico anteriormente definido do último Marx e o narodnismo russo (Shanin, 1983; Sevilla
Guzmán, 1990; Sevilla Guzmán and González de Molina, 1992), como desde o ecologismo popular ou
neonarodnismo ecológico (Martínez Alier, 1995; González de Molina y Sevilla Guzmán, 1992; Martínez
Alier y Guha, 1998), como desde a agroecología atual (Altieri, 1985; Altieri and Hecht, 1989; Sevilla
Guzmán y Grahan Woodgate, 1997; Guzmán Casado, González de Molina y Sevilla Guzmán, 2000, em
especial: 118-119; Sevilla Guzmán em Sarandon, 2002: 57-81); ou desde propostas para reformular as
políticas européias de desenvolvimento rural (Ploeg, Marsdem, Sevilla Guzmán et. al., 2000; Ploeg et. al.,
2002; Marsdem, 2003). A seletiva interdisciplinariedade desta corrente tem impedido que seus
desenvolvimentos teóricos incorporem achados fundamemtais. Ele tem sido provocado pelo
“pragmatismo de cemtrar-se na literatura norteamericana e especialmente em USA”, por um lado, e sua
utilização “tão somente ocasional da literatura Européia e outras, quando considera apropriada a discussão
pela sua influência na economia política agrária de US e Canadá” (Butell, 2001: 12). Assim, a vasta
literatura que analisa este debate (De Janvry, 1981; Goodman y Retclift, 1981; Lehman, 1986 e,
sobretudo, Friedland et. al., 1991) não incorpora nas suas análises a valiosa tradição dos Estudos
Camponeses que analisamos anteriormente e que geram um contexto teórico possivelmente suscetível de
assumir a demominação de um Marxismo Chayanoviano. Com isso se desconhece tanto a rica acumulacão
teórica desta tradição intelectual como sua contribuição fundamental na lingua castelhana, gerada desde a
América Latina. Como veremos mais adiante esta rompe a interdisciplinariedade das ciências sociais em
que se movia até os anos oitenta, alcançando uma transdisciplinariedade que incorpora na sua pesquisa
30
tanto as ciências naturais como o conhecimento local, camponês e indígema (Cf. Altieri, 1985; Guzmán
Casado, González de Molina, Sevilla Guzmán, 2000; y Gliessman, 2002).
31
Teodor Shanin (1988, pp. 141-172, p. 148) destaca três conceitos como elementos
chaves na proposta teórica de Chayanov: as cooperativas rurais, os ótimos diferenciais e a
cooperação vertical. O cooperativismo rural supunha para Chayanov a consecução de uma
democracia de base, referindo-se a que os próprios agricultores estabeleciam suas fórmulas
de ação coletiva para manter a socialização do trabalho própria da forma de exploração
familiar. O conceito chayanoviano de “ótimos diferenciais” se refere à combinação de
estruturas econômicas e sociais que nas formas de exploração agrária introduz certas
peculiaridades. Ao articularem-se estas com os processos tecnológicos existentes em zonas
concretas, produzidos através de modos locais de conhecimento adaptados aos subsetores
agrícolas concretos podem variar substantivamente os resultados. Os ótimos diferenciais
têm sido considerados como a possibilidade de que o conhecimento local atue como
elemento gerador de tecnologias autóctones capazes de captar o potencial endógeno dos
32
recursos naturais (Angel Palerm, 1980: 169; Victor M. Toledo, 89; Gonzalez de Molina e
Sevilla Guzmán, 1993: 88-94. “Para Chayanov a economia familiar não é simplesmente a
sobrevivência dos débeis por meio de seu empobrecimento que serve a benefícios muito
superiores (superbenefícios) em outros lugares, senão também a utilização de algumas das
características da agricultura e da vida social rural que, em ocasiões, podem proporcionar
vantagens à economias não capitalistas sobre as formas de produção capitalistas num
mundo capitalista” (Shanin, 1988: 141-172).
(32) Propõe-se, assim, mediante formas de organização cooperativas que a modo de sistemas de “socialização
do trabalho” se articulem, no nível da produção, como ‘democracias de base” formas de coordemação que
controlem o capital comercial no nível de processos de comercialização. Desta forma, para Chayanov "se
pode estabelecer um tipo de ‘concentração vertical diferente, que inclusive pode cegar a desempenhar um
papel crucial na transformação socialista da sociedade”. Tal proposta supunha “uma forte e remarcavelmente
realista précritica da coletivização do tipo estaliniano, demominada ‘cooperação horizontal’ ” (Shanin, 1988:
151). Nela a maximização dos tamanhos das unidades de produção era substituída pela sua otimização de
acordo com os contextos específicos da forma de exploração (ou tipo de agricultura) e no que jogava um
papel crucial o desenvolvimento dos modos locais de tecnologias existentes em cada ramo de produção
agrícola. Sem dúvida, a proposta de Chayanov para o “desenvolvimento da agricultura russa” era uma nova
proposta que haveria de se contemplar dentro de seu esquema teórico da agronomia social (Teodor Shanin,
1988: 150).
33
Sem dúvida as condições de reprodução de uma forma de produção são tanto sociais
como técnicas, por isso Friedmann diferemcia entre “consumo pessoal” (aquele que permite
ao produtor continuar participando na produção), “consumo produtivo” (técnicas, pecuária,
terra e outros meios de produção que permitam a continuidade da produção) e o excedente
do trabalho (em forma de excedente de valor, bemefício, renda ou juros) no caso que a
pequema agricultura utilize trabalho assalariado (1978: 555). São estas condições as que
permitem a continuidade de uma forma de produção ou, caso de que alguma falhe, o
deterioro ou transformação de suas bases técnicas e sociais. Será assim o grau em que as
relações sociais de produção da produção simples de mercadorias agrárias estejam
baseadas nos vínculos familiares (de gênero e geração) o que permitirá suas possibilidades
de continuidade33, independentemente de que sua produção esteja mercantilizada
(Friedmann, 1978: 545-586 e 1980: 158-184).
O conceito de Style of farming cunhado por Jan Dowe van der Ploeg é em certo
sentido uma proposta para definir operativamente a natureza da agricultura familiar (1994:
7-30) através do tipo de tecnologia utilizada e do grau de implicação no mercado que esta
possue, em seu manejo dos recursos naturais. Constitui um elemento teórico central para
medir o grau de mercantilização (1993) das explorações familiares no desenho de métodos
33
Harriet Friedman, "Patriarcrhy and Property. A reply to Goodman and Redclift" em Sociología Ruralis Vol
26 nº 1, 1986, pp. 186-193, p. 187. M. Redclift e D. Goodman argumemtam que o trabalho assalariado
ocasional ou anterior desvirtuaria a conceitualização de Friedmann assim como tal conceito não pode ser
utilizado como tipo ideal, dada uma realidade histórica passada ("Capitalism, petty commodity production
and the farm’s emterprise" em Sociología Ruralis Vol. 25 nº 3 pp. 231-247). Ambos argumentos, para nós
poucos convincemtes, são repetidos na "La Agricultura de Europa Occidemtal em transición: la
producción simple y el desarrollo del capitalismo em Agricultura y Sociedad (nº 43, 1987) ainda que
sejam difíceis de identificar dada as deficiemcias de tradução castelhana deste trabalho.
34
Sobre a Agroecologia
A evolução teórica dos Estudos Camponeses para a inclusão da ecologia como uma
dimensão essencial para a sua pesquisa surge da América Latina, centrando-se basicamente
no México, por um lado, e da Espanha, por outro, ainda quando Perú, Bolívia e outros
países contribuiram rapidamente ao conservar sistemas de agricultura tradicional de grande
valor agroecológico. Talvez se possa personalizar os primeiros passos da agroecologia na
obra de dois autores já considerados neste trabalho: Angel Palerm e Juan Martínez Alier. A
contribuição deste último, já foi considerada ao analisarmos a nova tradição dos estudos
camponeses; entretanto, é obrigatório assinalar aqui que seu marco conceitual da “ecologia
dos pobres” supõe o contexto em que se move a corrente central, e em minha opinião mais
rica da agroecologia. Ademais, sua obra basicamente desde a teoria e história econômicas,
se articula com a obra de José Manuel Naredo. A contribuição do primeiro ficou truncada
com a sua morte em 1980(34), ainda quando assentara já as bases desta orientação teórica.
34
Cf. Nossos trabalhos "In memorian. La significación de Angel Palerm em los estudios campesinos" em
Agricultura y Sociedad, nº 17, octubre-diciembre, 1.980; "Camperols i marxisme em l'obra de Angel
Palerm" em Quaderns de l'institut catalá d'antropologia, nº 3/4, maig/novembre, 1.981; pp. 169-180 y
"L'evolucionisme multilineal em els etudis pagesos sobre el llegat teòric d'Angel Palerm" em Historia i
Antropologia. A la memoria d'Angel Palerm (Monserrat: Publicacions de l'Abadia de
Montserrat/Departamemt de Cultura de la Gemeralitat de Catalunya, 1.984), pp. 129-158 e o trabalho
citado em (50) versão castelhana do anterior. Cf. também Susana Glantz (compiladora), (1.987).
35
Angel Palerm, (1.980: 169). Artigo baseado nos cursos divididos entre a Universidade de Texas em
1.978 e a Iberoamericana de México em 1.979. As expressões em negrito são nossas.
35
Tais vantagens procedem de que “produz e usa energia da matéria viva, que inclui seu
próprio trabalho e a reprodução da unidade doméstica de trabalho e consumo”. Conclui este
trabalho, o profesor Palerm, adiantando as suposições que configuram as bases
epistemológicas da Agroecologia: “ O futuro da organização da produção agrícola parece
depender de uma nova tecnologia centrada no manejo inteligemte do solo e da matéria viva
por meio do trabalho humano, utilizando pouco capital, pouca terra e pouca energia
inanimada. Esse modelo antagônico à empresa capitalista tem já sua protoforma no sistema
camponês” (Palerm, 1980: 196 y 197). Desde o Centro de Investigaciones del INAH,
primeiro, e depois desde a Universidade Iberoamericana, depois, Angel Palerm começou
criando equipes de pesquisa interdisciplinares ---- com antropólogos, ecólogos e agrônomos
---- básicamente o processo de institucionalização do enfoque agroecológico.
36
Cf. A excelente bibliografía comemtada de Alba González Jacome em C. García Mora y M. Villalobos
Salgado (1988: 55-189).
37
Eduardo Sevilla Guzmán e Manuel González de Molina, "Ecología, Campesinado e Historia" em M.
González de Molina e E. Sevilla Guzmán (eds.), Ecología, Campesinado e Historia (Madrid: La Piqueta,
no prelo).
36
Pela agronomia, é Miguel Angel Altiéri quem, mais tarde, realiza a contribuição
fundamental à agroecologia através do Consórcio Latinoamericano de Agroecologia e
Desenvolvimento (CLADES) e por meio da sua revista Agroecologia e
Desenvolvimento(38); Susana B. Hecht, Richard B. Norgaard, Peter Rosset como parte do
grupo que Altieri nucleia na Universidade da California (Berkeley) realizam numerosas
contribuições de grande interesse(39). A ele haveria que acrescentar a contribuição de
diversos autores europeus como Gordon R. Conway(40), e o grupo de pesquisadores em
torno do International Institute for Emvironmemt and Developmemt (cf. Ian Scoones
and John Thompson, 1994), por um lado, assim como os pesquisadores vinculados ao
Information Cemter for Low-External-Innput for Sustainable Agriculture (ILEIA),
por outro, ainda quando estes todos percam bastante da capacidade crítica dos primeiros;
emfraquecidos portanto do potencial analítico de mudança da estratégia Agroecológica.
Esta aparece com muita força em diversos autores que, desde o marco teórico da “ecologia
dos pobres”, analisam a depredação ecológica e a exploração social que o desenvolvimento
do capitalismo na agricultura tem provocado no terceiro mundo; entre eles poderiam
destacar-se Vandana Shiva e Ramachandra Guha (cf. seu trabalho com M. Gadgil, 1992).
38
Cf. Miguel Angel Altieri, (1.985a), há ediçao inglesa em (Boulder: Westeview Press, 1987);
"Diversification of Agricultural Landscapes - A Vital Elememt for Pest Control in Sustainable
Agriculture" em Edems, T. et al. (1.985): Sustainable Agriculture & Integrated Farming Systems.
1.984 Conferemce Procee-dings (Michigan State University Press; dos volúmemes); "The ecology of
insect pest control in organic farming systems - Towards a gemeral theory" em Vogtmann, H. et al.
(1.986): The importance of biological agriculture in a world of diminishing resources. Proceedings of
the 5th. IFOAM International Sciemtific Conferemce, 1.984. (Witzemhausem: Verlagsgruppe); "¿Por
qué estudiar la agricultura tradicional?" em Agroecología y Desarrollo CLADES, nº 1; 1.991; pp. 16-24;
(1.991c): "Incorporando la agroecología al currículo agronómico" para CLADES/FAO, 2-6 Septiembre,
1.991 em Santiago de Chile.
39
Cf. Miguel A. Altieri, (1990).
40
Cf. Conway, G.R. (1.985): "Agroecosystem Analisis" em Agricultural Administration, Vol. 20:31-55;
(1.987): "The properties of Agroecosystems" em Agricultural Systems, Vol. 24:95-118. y, sobre todo su
trabajo con Edward B. Barbier, After the Greem Revolution, (London: Earthscan Publications, 1990);
así como sus trabajos de tipo metodológico.
37
Para nós, a questão camponesa baseada nestes termos é um falso debate; já que,
como veremos mais adiante, desde uma perspectiva agroecológica que é a que utilizamos
aqui, o campesinato é, mais que uma categoria histórica ou sujeito social; uma forma de
manejar os recursos naturais vinculada aos agroecosistemas locais e específicos de cada
zona utilizando um conhecimento sobre tal entorno condicionado pelo nível tecnológico de
cada momento histórico e o grau de apropriação de tal tecnologia, gerando-se assim
distintos “graus de camponesidade” (no original “grados de campesinidad”).
Todo esse debate surgia da constatação, cada dia mais evidente, de que o
campesinato não havia desaparecido a pesar das teorias proféticas dos clássicos do
pensamento social agrário e inclusive dos setores acadêmicos mais liberais. Era necessário
definir uma categoria que desse conta desta permanência e ao mesmo tempo das mudanças.
E isto é algo que se revelava como fundamental nos anos 70 e 80 do novecemtos (século
XX), não somente na especificidade latinoamericana: ele era um problema teórico chave
desde a perspectiva desta tradição intelectual.
O motivo desta confusão reside, “na incompreensão das distintas etapas e tipos de
capitalismo que existiram e na inexistência de um acordo também mais ou menos geral
sobre como foram se desenvolvendo no processo histórico. Desta maneira não existe uma
teoria que dê conta das mudanças ocorridas nos traços definitórios mais comuns do
campesinato e suas causas” (ibid: 242). O caso do campesinato argemtino resulta
especificamente esclarecedor porque contempla dentro de sua história uma grande
diversidade social (distintos tipos de etnicidades pertencemtes a culturas indígemas muito
diversas; trabalhadores rurais, arrendatários, parceiros, pequenos proprietários, colonos com
posse precária da terra, entre outros) e uma enorme variabilidade com relação às suas
práticas conflitivas onde a atividade agrária e os agricultores estiveram, e estão
submetidos, a uma profunda mudança social como consequência da natureza que adquire o
capitalismo em nossos dias.
38
41
As economias de base orgánica só podiam funcionar com um tipo de produtores que apresentaram as
seguintes características: economia de base familiar e mobilização de todo o pessoal disponivel para o
trabalho agrícola, existência de relações de apoio mútuo mediado por relações de paremtesco, vizinhança ou
amizade, num contexto cultural em que funcionara uma ética; e o uso múltiplo do território, como uma
estratégia de diversificação perante riscos climáticos ou sociais (cf. Wrigley, 1989, 1992 y 1993; Sieferle,
1990; Pfister, 1990; citados em González de Molina y Sevilla Guzmán, 2000).
39
sua mudança histórica, mantinha “algo genérico” (Archetti, 1978; Shanin, 1971 e 1990), até
sua conceituação agroecológica atual. Isso é, o campesinato aparece como uma forma de
relacionar-se com a natureza ao considerar-se como parte dela num processo de coevolução
(Nogaard, 1994) que configurou “um modo de uso dos recursos naturais” ou uma forma de
manejo dos mesmos de natureza sócioambiental (Toledo, 1995). È por tudo isso que a
Agroecologia identifica como “o genérico” do campesinato na história sua forma de
trabalhar (Iturra, 1993) e o conhecimento que a sustenta com relação ao manejo dos
recursos naturais.
Neste sentido, o campesinato é uma categoria histórica por sua condição de saber
manter as bases da reprodução biótica dos recursos naturais. Desta perspectiva é possível
falar de camponeidade ou grau de camponeidade com relação aos grupos sociais de
produtores. Victor Manuel Toledo operacionalizou este conceito mediante os seguintes
indicadores: a) energia utilizada; b) escala ou tamanho do âmbito espacial e produtivo de
seu manejo; c) autosuficiência; d) natureza da força de trabalho; e) diversidade; f)
produtividade ecológico-energética, e do trabalho; h) natureza do conhecimento e, por
último; i) cosmovisão (Toledo, 1995). Este sistema de indicadores tem de ser aplicado
desde seus extremos: o modo de uso do campesinato e o modo de uso industrial ou terciário
do manejo dos recursos naturais.
Este último, o modo de uso industrial, pode ser caracterizado como aquele que
“utiliza como base energética os combustíveis fósseis ou a energia atômica, o que lhe
proporciona uma alta capacidade entrópica e antrópica dos ecosistemas, uma enorme
capacidade expansiva, subordinante e transformadora (através de máquinas movidas por
combustíveis fósseis). Isso explica que se tenha produzido com sua introdução uma
mudança qualitativa no grau de artificialização da arquitetura dos ecosistemas. A pesquisa
aplicada aos solos e à genética deu lugar a novas formas de manipulação dos componemtes
naturais ao introduzir fertilizantes químicos e novas variedades de plantas e animais.”
(González de Molina e Sevilla Guzmán, 2000: 245), culminando, na atualidade, com a
introdução de organismos genéticamente modificados.
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