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EDITORIAL

O DIÁLOGO
INTERDISCIPLINAR

E
 ste número da Fragmentos quer contemplar o objetivo principal dessa Revista: ser,
de fato, “fragmentos de cultura”. Vários segmentos do saber foram amadurecidos
na revista que você começa a ler. Hoje, a interdisciplinaridade e a pluridisciplina-
ridade nos ajudam, academicamente, a nos situar no universo de abertura para todas as
ciências e saberes e, com isso, perceber o antropocentrismo como uma atitude eclética no
pós-modernismo. O ser humano, mais do que nunca, é abertura para. Olhamos vários
fragmentos. Eles abrem horizontes.
Desnecessário dizer da importância da História nos debates interdisciplinares.
A História e a História das Religiões foram averiguadas em quatro artigos. Um pesquisou
a história das religiões afro-brasileiras, a partir da história e das ciências da religião. Outro
olhou a história a partir dos discursos normatizadores da Igreja Católica presentes no jornal
Santuário da Trindade, no século passado. Um terceiro texto refletiu, olhando os monumen-
tos históricos de Portugal, sobre a simbologia nos elementos místico-maçônicos daquela na-
ção. Um quarto artigo, partindo da Reforma, passando pelo positivismo e seu debate entre fé
e ciência, procurou entender a verdade pelo ato histórico nas Escrituras Sagradas.
Outros fragmentos do saber vieram do universo da Biologia. Os temas da Biologia e
das ciências da saúde, como engenharia genética, microbiologia, biologia molecular, ecologia
atingem um público enorme em torno do debate sobre as ciências da vida. O assunto é bem
atual. A imprensa tem dado grande cobertura. O contato da população com os dados vindos de
pesquisas no âmbito das ciências da vida se dá quando acontece um desastre ambiental, quando
há um prêmio Nobel, quando plantações transgênicas viram notícias polêmicas. É preciso frisar
que o nosso futuro bem próximo está bem influenciado pelas conquistas tecnológicas vindas
das pesquisas realizadas no campo da biologia, biomedicina, engenharia genética etc. Porém,
o conhecimento gerado nos laboratórios continua restrito aos especialistas. Como trazer re-
sultados de laboratórios para os leitores de outros saberes? Esta Fragmentos de Cultura trouxe
dois artigos que podem provocar esse diálogo. Dois artigos procuraram, minuciosamente,
descrever os métodos alternativos para controle do fungo oídio e a caracterização e armazena-
mento de amido em órgãos vegetativos do cafeeiro arábica.
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, n. 1, p. 1-3, jan./mar. 2014. 1
O mundo da filosofia recebeu duas reflexões: uma em torno de Paul Ricoeur que
ajuda o leitor a entrar nas concepções de capacidade e responsabilidade, a partir da obra “O
Justo” A outra, partindo dos pré-socráticos Parmênides e Heráclito e terminando com eles,
reflete sobre o tempo de sistemas complexos ou como verdades absolutas nos faltam.
Um outro fragmento de Cultura que este número contemplou, foi um olhar a
partir da sociologia. Esta foi bem delimitada como a sociologia conflitual ou da dialética da
contradição que ajuda o exegeta a fazer uma interpretação bíblica a partir dos marginalizados.
No Novo Testamento, esta Fragmentos de Cultura confrontou a prática de Paulo
Apóstolo com a Pastoral de Juventude católica, numa perspectiva libertadora. Um outro frag-
mento procurou entender o Evangelho de Marcos dentro do contexto sociopolítico-econô-
mico da Palestina no tempo de Jesus.
Seguem breves comentários sobre o conteúdo da seção Artigos.
O primeiro artigo, Uma Visão Panorâmica da Religião e Tradições Afro-brasileiras,
de Gilson Xavier de Azevedo, Robson Pedro Veras e Jovane Pain Freire, apresenta um perfil
histórico e antropológico do que se possa chamar de matriz nas religiões afro-brasileiras.
O segundo, A Simbologia Mística nos Monumentos Históricos de Portugal: um
estudo exploratório da possível presença de elementos místico-maçônicos, de Marcel Hen-
rique Rodrigues, gira em torno da historicidade da Maçonaria Operativa e da busca de seus
símbolos místicos.
O terceiro, Mais Oração e Menos Diversão: discursos de normatização das festas
populares no jornal Santuario da Trindade, de Andréia Márcia de Castro Galvão, analisa os
discursos normatizadores da Igreja Católica presentes no jornal Santuario da Trindade (1922-
1931) em relação ao combate do que fora considerado não sagrado nas festas religiosas de
Goiás, em particular na Festa do Divino Padre Eterno, em Trindade.
O quarto, As Concepções de Capacidade e Responsabilidade na Obra O Justo 1, de
Paul Ricoeur, de Samuel de Jesus Duarte, apresenta o conceito de direito e de justiça na obra
O Justo 1, de Paul Ricouer, e a sua influência nas reflexões brasileiras sobre a justiça.
O quinto, Tempo de Sistemas Complexos..., de Vinícius Wagner de Sousa Maia,
desenvolve reflexões sobre posturas radicais que polarizam os saberes desconsiderando a mul-
tiplicidade de vivências e experiências a partir da hipotética tensão entre as perspectivas filo-
sóficas de Heráclito e Parmênides que desemboca nos imaginários cosmogônicos dos povos
cristãos, produzindo consequências nas dimensões políticas e sociais.
O sexto, O Estado, a Cidadania e o Direito ao Futuro, de Arnaldo Raggi Júnior,
informa-nos que a Constituição da República Federativa do Brasil contém princípios deli-
neadores da atuação da Administração Pública, devendo haver, para a consecução de seus
objetivos, a garantia dos direitos fundamentais em suas ações. Sendo relevante a atuação do
Estado face ao direito ao futuro, o artigo analisa o tema com abordagem da doutrina admi-
nistrativista brasileira à luz dos estudos de Hannah Arendt.
O sétimo, A “Verdade” e o “Ato Histórico” nas Escrituras Sagradas, de Douglas
Oliveira dos Santos, discute sobre a desconstrução das verdades preestabelecida tanto pela
ortodoxia como pelo positivismo, buscando ligar os princípios de Schleiermacher com os
fundamentos de Ankersmit, na tentativa de estabelecer novos parâmetros que não dependam
da construção da verdade pelo “Ato Histórico” em si.
O oitavo, Leitura Sociológica da Bíblia pelo Modelo Conflitual, de Joel Antônio
Ferreira, esclarece-nos que o modelo conflitual da leitura da Bíblia parte do lugar social dos
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pobres e detecta as tensões que aparecem no texto bíblico analisado, procurando aqueles que
são excluídos do centro das decisões.
O nono, A Perseguição, a Fraqueza e a Cruz nas Cartas Paulinas Iluminando a
Caminhada da Pastoral da Juventude, de Joilson de Souza Toledo, sinaliza a paixão por Jesus
como uma experiência que marca Paulo e própria Pastoral da Juventude.
O décimo, Conhecendo Marcos a partir da Palestina Subjugada, de José Alves San-
tos, apresenta a questão da exploração econômica através de impostos exorbitantes tributados
ao povo judeu e aos problemas sociais oriundos da política romana contra os judeus, tais
como a fome, a escravidão, a mendicância, enfim, a exclusão social.
O décimo primeiro, Do Além para o Mundo: perspectivas sobre mobilidade reli-
giosa no Brasil da pós-modernidade, de Danilo Dourado Guerra, informa-nos que, mesmo
inserido em um contexto pós-moderno, o fenômeno religioso tem se mantido como uma das
manifestações estruturantes da realidade social brasileira. Diante disso, o autor procura com-
preender como as religiões e a população tem se movimentado no campo religioso no Brasil,
em uma cena em que trocas simbólicas, ofertas institucionais e demandas pessoais estão em
jogo.
O décimo segundo, Instituições Prisionais: atenção psicossocial, saúde mental e
reinserção social, de Suely Marques Rosa, aborda a questão da violência e as instituições
prisionais como solução encontrada pela sociedade para sua redução; discute a atenção em
saúde à população encarcerada enfocando a problemática que envolve o trabalho carcerário,
a atenção em saúde mental e os profissionais que atendem a essa população, destacando o
terapeuta ocupacional.
O décimo terceiro, Métodos Alternativos para Controle do Fungo Oídio em Sola-
num Lycopersicum, de Camila Silva dos Santos, Indiara Nunes Mesquita Ferreira e Jales Tei-
xeira Chaves Filho, apresenta métodos alternativos para o controle do fungo oídio na agricul-
tura brasileira através do efeito de diferentes extratos de plantas para o combate desse fungo.
O décimo quarto, Caracterização Anatômica e Armazenamento de Amido em Ór-
gãos Vegetativos do Cafeeiro Arábica (coffea arabica l.), de Indiara Nunes Mesquita Ferreira,
Camila Silva dos Santos e Jales Teixeira Chaves Filho, apresenta a caracterização anatômica
dos órgãos vegetativos de armazenamento de amido do cafeeiro arábica.
Na seção Resenha, Arnaldo Raggi Júnior resenhou o livro O Princípio Responsabilida-
de: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica; Neve-Ione Ribeiro Guimarães, O Triunfo
da Vida sobre a Morte; e Marcel Henrique Rodrigues, História Geral do Diabo: da antiguidade
à época contemporânea.
Desejamos que o(a) leitor(a) pesquisador(a) tenha um bom proveito dos saberes
apresentados nesta Fragmentos de Cultura multi, inter e pluridisciplinar!

Joel Antônio Ferreira


Editor deste número
Keila Matos
Editora Adjunta

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