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A construção da falácia: teorias raciais e o processo de anulação da teogonia africana

Maxwell Azevedo Viana Moraes*


Resumo
A Europa, entre o final do século XIX e primeiras décadas do XX, foi responsável por iniciar
debates em torno de teorias raciais que tiveram grande proporção mundial, a citar o
darwinismo social de Herbert Spencer (1820-1903), a Antropologia Criminal e a craniometria
de Cesare Lombroso (1835-1909) e a eugenia com Arthur de Gobineau (1816-1882). O Brasil
durante o recorte temporal supracitado foi representativo no que diz respeito à inserção desses
debates em torno da formação de um novo cidadão brasileiro e republicano. As ideias
disseminadas a respeito da visão da população brasileira pautada nessa dicotomia, contaram
com ampla adesão por parte de vários intelectuais nacionais, por exemplo, Raimundo Nina
Rodrigues (1862-1906), Sílvio Romero (1851-1914) e Arthur Ramos (1903-1949). O cenário
de fundo do processo pré e pós-abolição e o advento da República causaram mobilização por
parte da intelectualidade, sobretudo em relação a construção do novo cidadão brasileiro,
movimento esse que excluiria propositalmente o negro e o indígena, repousando a atenção no
aprimoramento do indivíduo miscigenado caminhando para seu branqueamento. Destarte, é
mister considerar que as teorias em torno da superioridade e inferioridade das raças, foram
ideais muito presentes no cenário político, social, econômico, cultural e religioso nacional.
Nesse estrato podemos considerar a presença de um clima favorável para constituição do
inconsciente coletivo junguiano referente ao processo de anulação dos valores éticos e morais
das práticas ritualísticas africanas. Tal ação incentivou o discurso em torno da dualidade entre
raças inferiores e superiores, assegurando esta, a partir da construção de um sistema
ritualístico e da idealização de um deus absoluto. Assim, foi necessário inferiorizar as demais
formas de interação com o sagrado de maneira objetiva e direta, como por exemplo, a não
obrigatoriedade constante da presença de um pontífice para intermediar a comunicação entre
dois planos, o material e o transcendental, traduzidos respectivamente em praticante e
espiritualidade. Isso posto, pretende-se compreender por meio da análise comparativa, de que
forma o processo de branqueamento das raças, foi refletido e introduzido no campo religioso,
anulando a teogonia de sistema hierárquico horizontal milenar africano, perante a visão
eurocêntrica de mundo introduzido na construção de um “ideal” da sociedade brasileira, a
partir do estudo das obras de Filho (2015) e Lara (2016).
Palavras-chave: África; Teogonia; Racismo; Sociedade; Simbolismo.

*
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Federal de Sergipe
(UFS). E-mail: maxwellavm@gmail.com
Introdução
O Brasil durante os séculos XIX e XX foi alvejado por inúmeras idealizações no
tocante a formação de um novo cidadão brasileiro. Tais ideias estariam alicerçadas pelo
cientificismo europeu, com destaque a algumas teorias raciais como o darwinismo social, a
craniometria e a eugenia. Perante tal fato, muitos foram os intelectuais nacionais que
apregoaram a necessidade de teorias de classificação das raças, no sentido de delimitá-las a
dicotomia entre superiores e inferiores. Tal noção se fazia presente em várias searas, como na
cultura, economia, educação, política, religião, e na sociedade em suas diversas áreas
científicas, como podemos pontuar o direito e a medicina.
Partindo da oposição supracitada, elencamos nesse texto a título de exemplificação, os
povos africanos instalados no Brasil, enquanto elementos os quais foram inseridos no
processo de branqueamento das raças e de negação de seu passado, principalmente no que
concerne ao seu culto tradicional e sua religiosidade ancestral. Propondo um comportamento
do sujeito enquanto uma doutrina psicológica, permutou-se o livre arbítrio por um ideal
coletivo inconsciente, de mundo próspero aos moldes de um povo considerado mais
iluminado, porém, carrasco de todo ideal divergente de suas concepções de mundo.
Nesse sentido, no viés das religiões, é possível observar que na década de 1940, houve
um forte distanciamento da Umbanda em relação às religiões afro-brasileiras existentes a
época, como por exemplo, a Macumba, Cabula, Calundú, Cangerê, Xangô, Batuque, Tambor
de Mina entre outras, existindo um forte esforço de legitimar a Umbanda como uma religião
mais evoluída, distanciada de suas raízes africanas que fora inferiorizada pelo pensamento
social de mundo moderno. Como vários antropólogos já analisaram segundo Jung (2016), há
um entendimento relevante sobre uma possível “perda da alma”, que significa uma ruptura ou
dissociação da consciência ética de um povo. Observaremos nos trabalhos expostos abaixo,
no que tange o inconsciente coletivo, que em sociedades de culturas tradicionais é comum
darem relevância ao viver em comunidade, as quais foram influenciadas diretamente, mesmo
de maneira inconsciente, a fim de descaracterizar seu modus operandi de vida.
Nessa conjuntura, como citado acima, pautaremos nosso diálogo acerca do exposto a
partir de dois textos significativos para a abordagem explicitada. O primeiro estudo intitulado
“Agora sou outro!”: Propagandas “educação sanitária nos almanaques de farmácia (1900 –
1945)”, de Caroline de Lara (2016), nos traz uma abordagem em torno do contexto social
brasileiro na transição do século XIX para o XX, ressaltando as noções do campo médico e
intelectual, e o uso de medicamentos industrializados como co-autores do processo de
formação do novo cidadão brasileiro pós República, ações essas, pautadas pelas teorias raciais
em voga em tal recorte temporal. O segundo é o trabalho de Mario A. Silva Filho (2015)
chamado “Chega de estultice: estudo etimológico das palavras Umbanda e Kimbanda” que
nos direciona a uma compreensão religiosa. O texto demonstra que alguns pilares da
sociedade foram cruciais para a estabilidade, força e resistência de um povo, sendo que a
religiosidade e o pensamento sagrado/divino trazem reflexões sobre a visão sócio espiritual,
que para ser convertido e se tornar subserviente de um sistema moderno, suas crenças,
tradições e mitologias, precisam ser anuladas, para assim, abrir uma nova perspectiva de
mundo.
Nesse tocante, faz-se necessário para a compreensão dos textos ora citados, o uso da
análise comparativa, alicerçada pela análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977), a qual
nos propõe um entendimento textual, pautado por uma abordagem psicossocial de
compreensão histórica e religiosa da sociedade brasileira. Sendo assim, foi utilizada no
presente estudo, a unidade de contexto, a qual nos possibilitará a compreensão da conexão
estabelecida e a significação entre os textos mencionados.
1 – A construção das teorias raciais
As teorias raciais foram utilizadas na Europa para legitimar e embasar o processo
imperialista de expansão e conquista de territórios na África e Ásia, durante o século XIX. Na
régua burguesa cultural europeia, podemos destacar que as características da divisão de
trabalho das sociedades modernas industriais serviram de parâmetro comparativo para
subjugar tais povos. Nesse contexto, o darwinismo social embasaria seu arcabouço teórico a
partir da premissa da existência entre diferenciação cultural, física e cognitiva, revelando uma
hierarquia entre as sociedades ocidentais e as ditas “primitivas”, que condena a hibridação
entre raças, caminhando para um enfraquecimento genético e degeneração da população.
Nesse mesmo sentido, trazemos à luz as noções da Antropologia criminal e a
craniometria lombrosiana, como referência para corroborar vide a necessidade ocidental em
subdividir as sociedades entre superiores e inferiores. A craniometria favoreceu o
fortalecimento dos discursos em torno do racismo social pelo viés anatômico, através de
dados referentes a variação de dimensões dos crânios de diferentes raças, reafirmando assim,
que a capacidade cognitiva seria o grande diferencial entre os povos dominadores e
dominados.
Por fim, o movimento eugênico adquiriu destaque e objetivou a implementação de um
método de seleção humana, por meio das características físicas dos indivíduos, com a
intenção de comprovar que a capacidade intelectual era configurada a partir da
hereditariedade biológica. Através de métodos científicos, os indivíduos eram estudados por
suas características favoráveis à geração de seus descendentes, e as possibilidades de fatores
degenerativos, os quais promoveriam um obstáculo para o desenvolvimento da população,
que posteriormente seriam alvos de anulação nas diversas áreas do recorte temporal
supracitado.
Nesse sentido, foi a partir de tais projetos científicos, que vários intelectuais
brasileiros se engajaram na transição do século XIX para o XX, promovendo debates para a
nação brasileira recém republicana. Tal perfil se torna verificável a partir das considerações
de Lara (2016) no que diz respeito à reconfiguração cientificista do cidadão brasileiro,
visando o progresso da nação pelo viés do branqueamento da raça e pelo uso de
medicamentos industrializados, colaborando assim, para o esquecimento de práticas de curas
dos negros e indígenas. A autora cita que a dicotomia entre superioridade e inferioridade das
raças, foram as molas propulsoras para as considerações do cidadão brasileiro enquanto
inferior devido sua miscigenação.
Nesse sentido, a linha interpretativa de Arthur de Gobineau, considerava haver um
abismo social e biológico entre negros e brancos, desqualificando assim aqueles.
Corroborando com tal ideia, Raimundo Nina Rodrigues1, considerado um dos primórdios da
psicologia social brasileira, foi professor de medicina legal e fundador da Escola Científica,
ou Escola Baiana, e estudou as características da realidade racial e da miscigenação e suas
consequências para o Brasil. Tal intelectual pautou seus estudos nas abordagens de Cesare
Lombroso, o qual defendia que era possível identificar um sujeito criminoso a partir de suas
características físicas, bem como pelas dimensões de seu crânio, defendendo assim, que a
criminalidade é uma característica comum nos indivíduos selvagens, primitivos e
“vagabundos” (MOTA, 2007).
Tais considerações se tornaram presentes em abordagens de outros intelectuais
brasileiros, como por exemplo, Sílvio Romero, o qual utilizou as teorias raciais como ponto
de partida para a análise social do brasileiro. Caminhando em paralelo com as ideias de
Gobineau, Romero defendia que a desigualdade entre as raças humanas, poderia ser
compreendida como mecanismos de diferenciação de determinado status quo, e no caso
brasileiro, como elemento formador de uma característica nacional.
Nessa formação de pensamento social brasileiro, destacamos a pertinência e
embasamento da visão de Arthur Ramos, acerca da cultura de matriz africana, derivada da

1
Pertinente destacar que além dos estudos científicos, segundo Rodrigues (2009), Nina Rodrigues fez diversos
estudos antropológicos entre ex-escravos em Salvador acerca das origens do negro africano e de sua
religiosidade, chegando a frequentar terreiros de candomblé.
psicanálise e da psicologia social. Assim, esse intelectual caracterizava a cultura e
religiosidade africana como atrasadas (Tamano, 2013), pois a partir desse pressuposto, o
pensamento mágico e pré-lógico era sinônimo das concepções de mundo embebidas pelo
emocional, traduzidos assim, a partir das representações míticas, conturbando o objetivo com
o subjetivo.
1.2 – O amálgama entre as teorias raciais e o inconsciente coletivo brasileiro
Diante do explanado sobre a característica de hereditariedade social defendida, por
exemplo, pela eugenia, podemos notar no que tange a uma visão consciente e palpável, que
houve um incentivo a formulação de indivíduos personificados em uma visão arquetípica, que
segundo Carl Gustav Jung “(...) indica a existência de determinadas formas na psique, que
estão presentes em todo tempo e em todo lugar.” (2000, p.53). Destarte, ainda no que diz
respeito à psique, consideramos nesse estudo que o fator hereditário acima exposto, é
perceptível na configuração da teoria racial supracitada, assim como, no inconsciente
coletivo, pois como afirma Jung
“(...) os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e
portanto não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à
hereditariedade.” (2000, p.53).

A partir dessas considerações, buscamos compreender o inconsciente coletivo também


através do cenário sociológico, o qual propõe a reflexão acerca do poder simbólico de Pierre
Bourdieu como um
“(...) poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que
não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem. (...) O poder
simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem
(...)” (2004a, p.8-9).

Nesse caminhar, podemos considerar que o mundo é influenciado por ideias “ocultas”
que transformaram antigos leões em fiéis cordeiros, entorpecidos pelo ideal positivista de
ordem e progresso, “anulando” assim, um passado ancestral e criando novas concepções
raciais, sociais, psicológicas e religiosas.
2 – A falácia do processo de anulação da teogonia africana
Dessa forma, é passível de observação no estudo de Filho (2015), que diante da busca
de um aperfeiçoamento social, cultural e religioso pela luz da ciência, há uma grande
pretensão de construção arquetípica de domínio do “eu interior” dos povos africanos.
Refletindo nesse sentido, estes acreditavam, e ainda acreditam que nas dimensões
emocional e cognitiva, pode ser também compreendida, segundo os conceitos de Síkírù
Sàlámi (2018), de Orí Inú, o qual seria em resumo, nossa alma, nossas emoções, ou seja,
nosso ser interior, e Orí Òdẹ, que é configurado pela nossa personalidade, forma de lidar com
o mundo, assim como nosso intelecto e como buscamos o conhecimento2. Tendo em mente
tais características, compreendemos no atual estudo, que a partir do momento que ocorreu um
choque de realidades entre povos africanos e europeus, toda concepção de vida que aqueles
traziam, principalmente no quesito religioso, foi deformado pelo homem ocidental, dando
início a um processo de fragilidade das crenças, tornando possível assim, em um futuro muito
breve, que suas religiões autóctones fossem permutadas, anulando as concepções
psicossociais, de ancestralidade, teogonia e espiritualidade.
Diante do cenário brasileiro supracitado, observamos que diversas religiões
afrodiaspóricas foram influenciadas por uma visão ontológica cristã, a qual de maneira
cartesiana classifica seu olhar para com as divindades e os seres humanos. Assim, a partir
dessa visualização de mundo incutida forçosamente aos povos africanos, houve práticas de
catequização, as quais priorizaram as características positivas do monoteísmo ocidental, em
detrimento do politeísmo horizontal afro. Nesse sentido, ocorreu a promoção de uma espécie
de “lavagem cerebral”, que segundo Filho (2015), os jesuítas foram personagens principais na
construção de um ideal de pensamento religioso, que por meio do poder simbólico de um deus
uno, benfazejo e poderoso, constituiu o princípio de anulação da teogonia africana.
Pertinente destacar que para o africano tradicional, não existe uma dicotomia entre
sagrado e profano. Tudo o tempo todo, é sagrado, divergindo completamente da visão cristã,
que para enxergar um mundo aproximado de deus e de suas divindades, é necessário aderir a
uma estrutura dogmática de mundo encoleirado, tendo como uma de suas bases, o pecado, a
dor e o sofrimento, proporcionando assim, uma visão divergente entre o bem estar e a
felicidade africana, por uma visão de dor e sofrimento ocidental.
A partir desses pontos enfatizados até o momento, podemos observar que os contextos
dos projetos sanitaristas e das teorias raciais, contribuíram de forma direta e indireta, para que
as práticas religiosas que emergiram entre os séculos XIX e XX, tivessem uma postura de
anulação e descaracterização daquilo que acreditavam ser algo maligno. É possível observar a
presença de um processo de adequações arquetípicas e de ascetismos divergentes do princípio
original, que visavam o controle de uma nova comunidade religiosa, que é passível de análise
nas práticas e manifestações, no desenvolvimento e na origem da religião Umbanda. Tais
afirmações podem ser verificadas a partir do exposto por Filho (2015), pois

2
Segundo Síkírù Sàlámi, “O indivíduo escolhe abraçar a prática do mal ou trabalhar a favor de sua neutralização,
e realiza essa escolha a partir de determinações de seu orí e de seu ìwá. (...) Ìwá é um conceito iorubá que reúne
o que denominamos caráter e personalidade. Inclui atitudes, posturas, condutas, comportamentos, formas de
proceder, formas de reagir ao que se apresenta (...)” (2011, p. 171-172).
“(...) aqueles que praticavam o catolicismo eram considerados “homens de Deus”,
pois seguiam uma religião correta. Aqueles que seguiam a religião tradicional, como
a Kimbanda, entre outros cultos tradicionais bantu, foram considerados “homens do
diabo”, pois professavam uma religião primitiva e atrasada, típica do demônio (...)”
(2015).

Podemos compreender o demônio ora citado, como uma figura de oposição ao deus
cristão e toda sua criação pregando uma luta do bem contra o mal, crença essa, que é distante
da cultura tradicional africana, no que tange à concepção de espiritualidade e divindades.
Houve uma enorme tentativa em forjar uma crença de que Èṣù ou Lègba, divindades
essas primordiais no panteão africano, os quais são compreendidos também por esses povos,
enquanto canais que promovem a comunicação entre os planos físico, espiritual e divino,
foram demonizadas, passando então, a serem consideradas de maneira pejorativa e racista,
estendendo isso também, às demais divindade africanas. Ocorreu assim, um “apartheid
epistêmico” (RABAKA, 2010) de manipulação simbólica, passando a ser um processo
estrutural, que permeou todas as searas da sociedade e incluiu as religiões que utilizaram esses
conceitos basilares para sua formação, e que, em contradição ao que acreditam ser uma
verdade e o que a sociedade impõem, entraram em um choque de realidade social,
desqualificando e transvestindo a visão tradicional divina africana.
Diante de tal visão de manipulação afro-ameríndia de mundo, observamos isso
ocorrer, por exemplo, no princípio da religião Umbanda, pois as personagens inseridas nesse
processo aderiram direta ou indiretamente às teorias raciais em suas práticas religiosas, que
em uma visão de sociedade, podemos compreender, segundo Bourdieu, que as pessoas podem
agir “(...) manipulando a estrutura da percepção do mundo (natural e social).” (2004b, p. 121),
anulando assim, a visão tradicional sobre espiritualidade, mitologia, teogonia e ancestralidade
de todo um povo negro de pensamento milenar.
4 – Conclusão
A partir do exposto, destacamos que esse estudo não se encerra por si, pois as
abordagens aqui realizadas nos revelam uma relação entre as teorias raciais que se fizeram
presentes no inconsciente coletivo nacional, entre os séculos XIX e XX, e que refletiram toda
uma nova formação de pensamento nas mais diversas religiões brasileiras, com destaque
nesse texto, a Umbanda. Consideramos, que as teorias raciais foram sustentadas por um forte
pensamento coletivo de mundo, o qual considerava ser necessariamente modernizado. Os
intelectuais acreditaram que, durante o processo de construção de uma Umbanda brasileira,
era conveniente transvestir e se apropriar da ideia de comunidade religiosa de um povo negro,
porém, com um viés de desconstrução daquilo que acreditavam ser uma “selvageria”, ou visão
“primitiva”, buscando trazer “luz” de maneira luso-científica, permutando toda uma visão
milenar africana com bases em crendices e achismos de um povo que se considerava superior.
Dessa forma, criou-se uma inferiorização e anulação de toda a visão de um povo africano de
resistência, com o “adjetivo” de práticas feiticistas atrasadas, descaracterizando e
reformulando teorias ancestrais, com o seu olhar de “ciência” alveja dita como correta.
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