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1 In: COSTA, Luiz Flávio de Carvalho; MOREIRA, Roberto José; BRUNO, Regina (Org.). Mundo rural
e tempo presente. Rio de Janeiro: Mauad, 1999b. p. 239-266,
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(1997), estas questões foram retomadas e postas com uma proposta de formulação de
programa de ciências agrárias no século XXI, destacando a abordagem agroecológica
dos currículos e, em Moreira (1996b), analisei as disputas paradigmáticas nos
programas de pós-graduação em economia e desenvolvimento rural. Neste texto, além
de outras, examinei algumas questões teóricas associadas à concepção do
desenvolvimento rural como desenvolvimento sustentável.
esta cultura. Nossa percepção da realidade biofísica é relativa à cultura que nos
socializou, portanto, é diferenciada e relativizada por estes valores culturais.
Temos por pressuposto que a realidade humana é uma realidade culturalmente
construída. [Ela se apresenta, ao mesmo tempo, como realidade objetiva e subjetiva
(Berger e Luckmann, 1985), conforma-se como uma historia reificada e uma história
incorporada (Bourdieu, 1989), bem como é construída em um processo de instituição
imaginária da sociedade (Castoriadis, 1982).]. Na medida em que estes pressupostos são
aceitos, torna-se necessário reconhecer, como parte da desta realidade socialmente
construída, a vivência de processos sociais de construção do mundo natural e da
natureza, que, por sua vez, englobam a própria ressignificação da natureza humana.2
2 Para outras compreensões destes processos ver: a fenomelogia da percepção em Castoriadis (1987; 135-
157); o homem e o mundo natural, em Thomas (1988); as idéias da natureza em uma perspectiva
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O não-material
histórica, em Lenoble ( 1990); a ideologia e a produção da natureza, em Smith (1984: 27-108); a natureza
dos homens, em Acot (1990: 97-194); e, o homem renaturalizado, em Carvalho (1995).
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analiticamente o ser humano como uma unidade autônoma, com existência biológica e
social independente do mundo natural e do mundo social.
A ruptura com estas tradições impõe reconhecer a incerteza e a indeterminação
como elementos da realidade humana, bem como, a vivência de uma autonomia
relativa, na qual o todo não pode ser convincentemente separado das partes que o
compõem.
Na busca desta nova compreensão humana alguns autores elaboram sobre a
esfera da libido, a esfera da cultura e dos símbolos. como elementos das disputas e
conformações de classes e identidades sociais.3 Outros autores, visualizam a
presentificação da esfera imaterial e cultural como o fim da sociedade do trabalho ou
das sociedades industriais, substituídas pela vivência de sociedades do lazer e do
consumo [Cf. Gorz (1982), Chevavier (1998) e Baudrillard (1995a).].
O trabalho produtivo
3 Cf. Autonomia e alienação, em Castoriadis (1982; 122-137). Concepção sistêmica da vida, em Capra
(1982). Economia libidinal, em Lyotard (1990). Economia política do signo, em Baudrillard (1995b). E, o
poder simbólico, em Bourdieu (1989).
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4 Para uma introdução na temática, veja as interpretações das posições de Gorz e Negt, em Maar (1995).
5 Para uma boa sistematização destas teorias, indico Kumar (1997) e Galvão(1998a e b).
6 Em análises anteriores, tenho denominado estes processos como de mercantilização da psique. (Cf.
Moreira, 1993, 1995 e 1996b).
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7 Para uma aplicação deste exercício analítico ao estudo da agricultura familiar e sustentabilidade, veja
Moreira (1997).
8 Para uma introdução à temática da flexibilização e informalização do trabalho nestas sociedades, ver
Altvater (1995), Alves (1996), Offe (1989), Gorz (1982 e 1989) e Anderson e Outros (1995), dentre
outros.
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Gostaria de ressaltar que, regra geral, por detrás das elaborações analíticas
relativas à importância do progresso técnico na competição intercapitalista estão dois
pressupostos, não explicitados. O primeiro é o de que o modelo de operação capitalista
é o modelo de operação do capital industrial e que a mercadoria é necessariamente um
bem material. [No item anterior procurei demonstrar a necessidade de superação desta
perspectiva.]. O segundo é o de que o controle da tecnologia está objetivado no controle
dos meios de trabalho socialmente produzidos (os instrumentos industrializados da
produção). [No item anterior argumentei sobre a necessidade de considerar-se os
direitos e a apropriação privada do conhecimento técnico e cultural.]. Procurei
demonstrar, em elaborações anteriores (Moreira 1995, 1996b e 1998b), que estes
pressupostos minimizam a questão do controle sobre a terra e sobre a natureza na
explicação do processo competitivo. Na hegemonia destes pressupostos a teoria da
renda da terra torna-se um apêndice da teoria geral e é vista apenas como um elemento
da distribuição do excedente econômico. [Cumpre notar que, em muitos programas de
pós-graduação em economia e desenvolvimento rural, a teoria da renda da terra não
aparece como elemento dos conteúdos disciplinares.].
Uma outra tradição herdada, que está presente nos economistas clássicos,
neoclássicos e marxistas e na sociologia marxista e schumpeteriana, é a de
desconsiderar os processos sociais de produção de conhecimento tecnológico como
parte componente da lógica de operação da dinâmica capitalista. O raciocínio analítico
que incorpora o “capitalista inovador”, de Schumpeter e “aquele capitalista que
incorpora a tecnologia”, de Marx, está calcado em um modelo onde os processos sociais
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A distribuição ecológica
10 Adendos meus.
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práticas e ações sociais que consigam impor reformas no status quo existente, o que, por
sua vez, requer que estas reformas sejam legitimadas.
Neste sentido, de um modo ou de outro, os processos legitimados representam
processos de redistribuição ecológica que, apesar de não questionarem a natureza
fundamental da propriedade privada destas sociedades, impõem movimentos das
fronteiras de propriedade herdadas, redimensionando os direitos herdados e,
reconformando em alguns grau os parâmetros da competição intercapitalista. [Cf.
Moreira (1997 e 1998a).].
Concluindo
condições. Neste sentido, mesmo que não seja aparente, os resultados das lutas
ambientalistas podem carregar um viés de classe na medida em que beneficiarem mais
determinados estratos, espaços sociais ou nações. As lutas ambientalistas podem
também, por sua vez, carregar um sentido de classe e de alinhamentos sócio-políticos
como demonstrou Alier (1997), ao analisar o ambientalismo dos ricos e dos pobres.
Bibliografia
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