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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONA E MUCURI


INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
UNAÍ – MG

DESENVOLVIMENTO PELO VIÉS


SUSTENTÁVEL...
Autor: Prof. Dr. Ezequiel Redin

O Professor Dr. Ezequiel Redin, ao longo do texto, sintetiza as principais ideias sobre
desenvolvimento sustentável tomando como base a linha interpretativa histórico-ambiental. Ele se
aventura pelas obras para decifrar a compreensão de desenvolvimento calcado na adjetivação
sustentável adotada na segunda metade de século.

O debate sobre o Desenvolvimento Sustentável ganha força com os problemas


ambientais presentes no Brasil na segunda metade de século. Com isso, surge uma
nova abordagem e interpretação dos elementos que indicam o desenvolvimento pelo
viés sustentável.
Por exemplo, o texto de Miguel Altieri e Omar Masera apontam que a década
de 80 é reconhecida como perdida devido a crise econômica dos custos sociais e
ambientais nos países da América Latina. Os modelos de desenvolvimento neoliberais
adotados não são capazes de promover o desenvolvimento sustentável, o que ocasiona
o desenvolvimento simultâneo a um crescimento com miséria. Os analistas afirmam
que apesar dos esforços, ainda existe uma grande lacuna entre a retórica do
desenvolvimento sustentável e a realidade. Expõem que considerar o
desenvolvimento sustentável de cima para baixo não resolve os todos os problemas
sociais e econômicos e acaba fomentando a participação social, através da atuação de
organizações não governamentais (ONGs).
Na opinião Miguel e Masera (1995), qualquer estratégia básica para atingir o
desenvolvimento rural sustentável deve visar as prioridades mais urgentes como:
redução da miséria, abastecimento adequado de alimentos, autossuficiência,
conservação dos recursos naturais, autonomia das comunidades locais e participação
efetiva dos pobres das áreas rurais no processo de desenvolvimento. O texto apresenta
os recursos naturais disponíveis na América Latina e cita os principais problemas
ecológicos: a) impacto do uso de pesticidas, b) erosão do solo, c) desmatamento
tropical e d) erosão genética. Esses percalços entravam o processo de pensar o
desenvolvimento de baixo para cima considerando as potencialidades e necessidades
dos atores locais. Os analistas apontam alguns casos envolvendo a ação das ONGs que
demonstraram resultados positivos frente essa gama de dificuldades. O paper aponta
obstáculos políticos que afastam o agricultor familiar de uma concorrência justa no
mercado como: a) a eliminação de preconceitos institucionais contra os agricultores

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familiares em relação ao acesso a crédito e acesso a pesquisa e consultoria técnica; b)
eliminação do eterno baixo investimento social das comunidades em termos de
educação, saúde e infraestrutura; e, c) eliminação de subsídios à agricultura baseada
em capital intensivo e agroquímico.
A operacionalização do desenvolvimento rural sustentável passa por uma
modificação nos métodos de avaliação (técnicas de custo-benefício) que preza por
ênfase na dimensão econômica, devendo ser incluído as mudanças ambientais
irreversíveis como perda de solo fértil ou de recursos genéticos. O método deve
considerar critérios que incluam aspectos econômicos, socioculturais, ambientais e
técnicos para, talvez, se aproximar da caminhada em busca de um desenvolvimento
sustentável.
No final, os autores apontam que no setor da agricultura devem prevalecer as
prioridades, tais como: aumento de terras cultiváveis e da produtividade do trabalho,
satisfação das necessidades alimentares e aumento da renda; adoção da racionalidade
ecológica; coordenação de políticas agrícolas e ecológicas e promoção da participação
comunitária nas políticas públicas. Parece-nos que a tentativa de desenvolver de baixo
para cima defendida pelos analistas, necessita também de ações de cima para baixo,
quando clamam por políticas agrícolas e subsídios à agricultura.

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O paper de Escobar “Desenvolvimento sustentável: diálogo de discursos” trata


da problemática do discurso do desenvolvimento sustentável, influenciada,
principalmente, pelo movimento ambientalista. Esses discursos estão preconizados
sobre uma realidade objetiva, ligada também às formas e manifestações de poder. O
texto traz a tona três possíveis respostas para a problematização que contemplam a
relação entre sociedade e natureza no contexto da globalização do ambiente.
A primeira delas é a liberalista, em que o autor infere que o Informe de
Brundtland é um discurso liberal, pois tem origem da modernidade ocidental tomando
como fundamento uma análise antropológica e filosófica. Essa análise considera que
existe uma cultura econômica que é dada. Em síntese, o discurso do desenvolvimento
sustentável, vem a participar na produção da realidade.
O discurso culturalista, segunda resposta, crítica a liberalista, pois não acredita
na possibilidade de conciliar crescimento econômico e desenvolvimento sustentável.
Designa-se culturalista porque fornece ênfase para a cultura na relação com a natureza.
Uma das principais contribuições culturalistas, segundo Escobar, é seu interesse em
resgatar o valor da natureza como ente autônomo, fonte de vida apenas material, mas
também espiritual.
A terceira resposta é a ecossocialista que crítica a visão liberalista também,
porém, destaca-se pela base conceitual e centrar-se na economia política. Esse grupo
aborda os aspectos modernos (opera de acordo com a lógica da cultura e racionalidade
capitalista) e pós-modernos (natureza como fonte de valor em si mesma) do capital
ecológico.

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Para Escobar, a perspectiva ecossocialista entende que o discurso liberalista de
desenvolvimento sustentável não busca a sustentabilidade da natureza, mas do
capital. Na visão culturalista o que está em jogo é a sustentabilidade da cultura
ocidental.
Adiante, o autor chama de reinvenção da natureza o discurso sobre a
biodiversidade, biotecnologia e cibercultura. Trata de finalizar o texto apresentando
sobre o que chama de natureza hibrida onde aborda sobre a hibridização cultural na
perspectiva dos movimentos sociais. Para terminar, o autor aponta que os três
discursos analisados conduzem a diferentes necessidades de conhecimento, espaços
de luta e diferentes tarefas políticas. O cerne disso tudo, é o discurso que influencia
tanto a teoria, quanto a prática cotidiana. Escobar termina sua exposição, interrogando
sobre propostas alternativas que envolvem diferentes dimensões na tentativa de
acoplar o desenvolvimento.

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O paper de Froehlich e Monteiro “Interdisciplinaridade, técnica e


desenvolvimento sustentável: debates e perspectivas” traz um arcabouço intelectual
que discute o conhecimento produzido, diante da concepção interdisciplinar que move
uma racionalidade instrumental, apontando duas posições: a) ambientalismo que
trabalha com a noção de entropia e, b) marxismo que enfatiza as relações sociais de
produção.
O texto é construído pelo viés de clássicos como Thomas Kuhn ao falar sobre
interdisciplinaridade contrastando com autores contemporâneos como Moreira sobre
a ambiguidade do desenvolvimento sustentável. Os analistas clamam para o confronto
entre antropocentrismo e a interdisciplinaridade para proceder a uma aproximação
sistêmica e integradora da realidade.
A construção do argumento dos autores passa por referências analíticas que
através do elemento “interdisciplinar” busca um discurso que se propõe interligar e
interagir fenômenos até então díspares ou distantes previamente como
necessidade/liberdade, natureza/cultura, conhecimento/realidade. Após, citam
Habermas/Marcuse que discutem a racionalidade técnica com apoio dos estudos de
Weber e Marx.
No quarto tópico, o desenvolvimento sustentável, os analistas ousam
transgredir a discussão do teórico para as ações práticas da sociedade. Evidenciam a
necessidade de uma transformação como mudança substantiva de paradigma e
buscam discutir sobre o arcabouço de clássicos as dicotômicas, ontológicas e
desafiadoras, tanto no plano intelectual quando no prático. No fechamento do paper,
os autores demonstram a complexidade sobre a temática abordada, trazendo um leque
de questionamentos sobre a busca do interdisciplinar conjugado com noções que
envolvem o transcender técnico dos fenômenos intangíveis e a aplicação prática do
desenvolvimento sustentável.

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O livro de Carley e Spapens inicia contextualizando uma nova abordagem para


o desenvolvimento global apontando para um cenário de mudanças, às vezes,
positivas como, na lógica dos autores, a globalização está trazendo à tona uma agenda
do desenvolvimento do sustentável. O legado da nossa era industrial adverte para a
restauração da balança ecológica global e local, devido as inúmeros efeitos negativos
causados pelo sistema.
Os analistas fazem um recorte histórico evidenciando uma série de desafios:
para os países desenvolvidos, nações pobres, salto no desenvolvimento econômico
industrial e na participação e governança. Sugerem repensar a economia de mercado
para alcançar o desenvolvimento sustentável. Fazem analogias do ambiente e o viver
confortável no mundo sempre justificando a necessidade de políticas e ações de
intervenção estatal. Em síntese o capítulo 2, aborda três áreas em que a produção atual
e os padrões de consumo estão causando e passando por limites arriscados para o
desenvolvimento de uma economia global, onde não há espaço para os perigos da
poluição e dos resíduos.
No espaço, os autores abordam temas intrigantes sobre os danos a atmosfera, a
expansão urbana e a utilização de veículos automóveis e da poluição química dos
nossos corpos atentando para os principais problemas que podem imperar ou devem
ser superados para alcançar o desenvolvimento sustentável.
O capítulo 6 onde intitulam “eco-inovação: mais com menos” aborda as formas
de promover a produção sustentável, através da ecoeficiência, concentrando-se
particularmente sobre o papel da inovação e empreendedorismo em negócios. Faz
breve correlação entre o desenvolvimento e crescimento e trata da desmaterialização
da produção e consumo. A tecnologia é vista como contribuidora da modernização
ecológica da sociedade industrial integrando as preocupações ambientais dos
produtos e o processo de desenvolvimento. Os analistas dedicam boa parte do texto
para as questões relativas entre a produção e o consumo evidenciando o avanço da
sociedade, mas também problemas, causas e efeitos negativos desse processo
industrial e mercadológico. A concepção da eco-inovação e empreendedorismo podem
fazer grandes contribuições para a concretização de uma desmaterialização da
economia, no entanto, acredita-se que é limitada se desconectada dos outras
dimensões que envolvem o discurso do desenvolvimento. No capítulo 8, os analistas
abordam a apreciação dos requisitos básicos constitucionais para promover uma nova
ordem mundial de produção insustentável e consumo. Sustentam que essa relação
deve fundamentar-se em redes que ligam as iniciativas de cima para baixo e de baixo
para cima consolidada pela inovação em todos os níveis.

SÍNTESE OPINATIVA

Os textos tratam do mesmo tema com perspectivas, às vezes, similares, ora


díspares. Entre eles objetivam discutir o desenvolvimento sustentável no contexto

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contemporâneo afunilados na perspectiva do capitalismo imbricado no sistema social.
Apresentam contribuições importantes e apontam a necessidade expressiva de buscar
o desenvolvimento sustentável indicando ações e intervenções necessárias para este
objetivo. Parece-nos que o discurso contemporâneo trata de colocar em evidência tal
perspectiva como sendo a solução para as mazelas provocadas pela própria sociedade
em processo de evolução.

REFERÊNCIAS

ALTIERI, M.; MASERA, O. Desenvolvimento rural sustentável na América Latina:


construindo de baixo para cima. In: Almeida, J.; Navarro, Z. (orgs.): Reconstruindo a
agricultura: idéias e ideais na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentável.
Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1997, p.73-105.
CARLEY, M.; SPAPENS, P. Sharing the World: Sustainable Living & Global Equity
in the. 21st Century. London: Earthscan, 1998.
ESCOBAR, A. El desarrollo sostenible: dialogo de discursos. Ecología Política. n. 9.
Barcelona: Fuhen – Icaria, 1995.
FROEHLICH, J. M.; MONTEIRO, R. C. Interdisciplinaridade, técnica e
desenvolvimento sustentável: debates e perspectivas. Extensão Rural, Santa Maria,
v.5, Jan./Dez. 1998. p. 49-69.

Estudar na UFVJM é excelente!


Estudar com o Prof. Ezequiel, então, nem se fala!

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