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FILHO, Gilberto Montibeller.

Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento
Sustentável. Testo de Economia, Florianópolis: 1993, V4, n. 1, p. 131-142.
“Como um novo paradigma: assim é apresentado esse conceito. Ele é
construído em decorrência da insatisfação de alguns cientistas e
pesquisadores, sobretudo das áreas de conhecimento sociais e humanos, com
limites de abordagem predominante. Essa insatisfação é reflexo da
conscientização, por segmentos sociais, inclusive da intelectualidade, da
progressiva deterioração das condições objetivas de existência da maior parte
da população e da crescente pressão da degradação ambiental. A Conferência
Mundial de Estocolmo sobre o Meio Ambiente (de 1972) é um marco
importante da conscientização que começava a se manifestar”. (p.131)
“Para os países do Terceiro Mundo o conteúdo desse reducionismo
economicista do desenvolvimento é especialmente grave do ponto de vista do
resultado social. Pois o mimetismo tecnológico e dos padrões de consumo,
copiando os processos produtivos e as técnicas assim como o modo de vida
vigente no Primeiro Mundo, dirigem o crescimento econômico, isto é, o grosso
da produção, para as classes médias e altas, desconsiderando as condições
de vida dos "não-possuidores", ou sejam, trabalhadores, integrantes ou alijados
do mercado”. (p.132)
“O Ecodesenvolvimento pressupõe, então, uma solidariedade sincrônica com a
geração atual, na medida em que desloca a lógica da produção para a ótica
das necessidades fundamentais da maioria da população; e uma solidariedade
diacrônica, expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva
ecológica para garantir às gerações futuras as possibilidades de
desenvolvimento” (p.133).
“A partir dessa configuração geral, Sachs (1993) desenvolve o que chama de
as cinco dimensões de sustentabilidade do Ecodesenvolvimento:
sustentabilidade social; económica; ecológica; espacial; e sustentabilidade
cultural”. (p.133)
“O relatório Brundtland, de 1987, da Comissão. Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, retoma o conceito de Desenvolvimento Sustentável, dando-
lhe a seguinte definição:
"desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas
próprias necessidades" (Raynaut e Zanoni, 1993) ”. (p.135)
“Para Maimon (1992), a diferença básica entre Ecodesenvolvimento e
Desenvolvimento Sustentável reside em: o primeiro volta-se ao atendimento
das necessidades básicas da população, através de tecnologias apropriadas a
cada ambiente, partindo do mais simples ao mais complexo; o segundo,
Desenvolvimento Sustentável, apresenta a ênfase em uma política ambiental, a
responsabilidade com gerações futuras e a responsabilidade comum com os
problemas globais”. (p.137)
“As disparidades entre os dois conceitos em tela situam-se, como visto,
principalmente no campo político e no que diz respeito às técnicas de
produção. No campo político, o posicionamento quanto à qualidade do meio
ambiente e às diferenças sociais como elementos fundamentais a serem
considerados. No das técnicas de produção, o progresso técnico e o seu papel
em relação à pressão sobre os recursos naturais”. (p. 137)
“Na verdade, diz (1991, p. 33), o ideal será quando se falará somente em
desenvolvimento, sem o adjetivo "sustentável" ou o prefixo "eco". O importante,
no caso, é o surgimento de um novo paradigma, conforme o consideram todos
os autores que tratam do Ecodesenvolvimento”. (p.138)
“Um paradigma é um "modelo" ou "padrão" compartilhado pelos membros de
uma comunidade; inversamente, uma comunidade consiste nas pessoas que
partilham um paradigma. No caso de uma comunidade científica, ele é o
referencial para as investigações, para as pesquisas. Sem um referencial
paradigmático não se estará fazendo ciência nas pesquisas (Kuhn, 1992) ”.
(p.138)
“Finalmente, é necessário dizer em relação ao Ecodesenvolvimento ou
Desenvolvimento Sustentável, que cabe pesquisar se efetivamente deve ser
este considerado um novo paradigma, como afirmam os autores mencionados.
Pode tratar-se de um conjunto de princípios gerais, já contemplados em uma
base teórico-metodológica como o marxismo frequentemente deturpado por
certas interpretações como a economicistas, referida na introdução a este
ensaio. Pesquisas neste sentindo terão o mérito de contribuir para o avanço
científico”. (p.139)
Considerando Filho (1993), há uma diversidade de apropriações de conceito na
literatura acadêmica, ou seja, autores que fazem a correlação entre diferenças
e pontos comuns entre Desenvolvimento Sustentável e Ecodesenvolvimento.
Entendemos, que a partir da insatisfação com os limites de abordagem que os
conceitos mais variados surgiram para a temática, desde uma visão
compartimentada, como a de proposição holística e o antropocentrismo, cabe
destacar que essas visões fragmentadas possuem em sua gênese o
economicismo presente em suas análises e nas políticas de desenvolvimento.
Apontado pelo autor, essa atuação subordinada aos interesses econômicos
que, consideram valores de troca, esquecendo os valores de uso com vista ao
progresso técnico tendem a disseminar a ideologia da fetichização, causando o
reducionismo que desconsidera as condições de vida do pobre.
Nesse contexto, o autor toma as ideias de Ignacy Sachs e discorre sobre as
cinco dimensões de sustentabilidade do Ecodesenvolvimento: sustentabilidade
social; econômica; ecológica; espacial; e sustentabilidade cultural.
Pensamos, que estas dimensões têm papéis como o de reduzir as diferenças
sociais, repensar a eficiência econômica considerando critérios macrossociais,
a prática do equilíbrio entre o uso dos potenciais inerentes e variáveis do
ecossistema, a relação equilibrada cidade-campo, além do
Ecodesenvolvimento como uma pluralidade de soluções particulares.
Enfim, no texto o autor traça o paradigma diante do tema Ecodesenvolvimento
e Desenvolvimento Sustentável, possibilitando nessa relação a constituição de
um objeto de pesquisas, capaz de substanciar novos conhecimentos

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