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Julia Rodrigues Silva RA: 11202230751

A presente resenha pretende analisar primeiro descritivamente e depois


criticamente, o artigo científico escrito por Rodrigo Muniz da Silva, que possuí
doutorado em Alterações Climática e Políticas de Desenvolvimento Sustentável no
âmbito das Ciências Ambientais pela Universidade de Lisboa.

O artigo está dividido em quatro seções. A primeira seção é destinada à


introdução, a segunda se trata sobre a sustentabilidade, compreendendo as
diferentes perspectivas e evoluções ao longo do tempo. A terceira seção apresenta o
viés econômico na sustentabilidade, e a última seção expõe as conclusões. O
objetivo final da pesquisa foi explicitar que a sustentabilidade não deve ser apenas
sobre crescimento econômico, mas também sobre o desenvolvimento humano que
seja compatível com a convivência com outras formas de vida no planeta.

Para justificar a pesquisa, o autor destacou os desequilíbrios entre os pilares


sociais, ambientais e econômicos no contexto da sustentabilidade, com a economia
frequentemente sendo vista como uma estrutura que influência as relações de
sustentabilidade de uma forma extremamente acentuada quando em comparação
com os outros pilares, limitando a compreensão geral de sustentabilidade.

Na introdução, o pesquisador expõe que o conceito de sustentabilidade é


amplamente discutido e consolidado nas sociedades contemporâneas, com
reconhecimento de sua importância nas agendas social, econômica, ambiental,
científica e política. No entanto, comenta como sua definição ainda carece de clareza.
O surgimento da preocupação com a preservação ambiental, que surge a partir da
década de 1960, levou a críticas aos modelos de desenvolvimento econômico
existentes. A economia se tornou a força dominante que condiciona os padrões
sociais e individuais, baseada na ideia de escassez de recursos. A economia
neoclássica, que enfatiza o livre mercado, influenciou a relação entre a economia e a
natureza. A economia ecológica, por outro lado, busca uma integração mais holística,
totalizante entre sistemas sociais e ecológicos. A teoria da termodinâmica também
teve um impacto significativo na economia ecológica, enfatizando os limites dos
recursos naturais. (Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.)

A economia ambiental e a economia ecológica, apesar de suas diferenças,


compartilham a ideia de integrar a natureza na economia, quantificando seu valor.
Ambas estão enraizadas no capitalismo e na racionalidade econômica
neoclássica, que trata a natureza como um recurso a ser explorado. A excessiva
racionalização da vida contemporânea é vista como instrumental e econômica.

É nesse ponto que surge o desequilíbrio entre os pilares sociais, e é nesse


ponto do texto que o pesquisador apresenta com clareza o problema presente na
dinâmica ambiental contemporânea; a economia é vista como a principal ordem
influenciadora quando falamos de sustentabilidade. Dessa forma a compreensão do
que de fato é a sustentabilidade é limitada, dividida em dois principais enfoques sob
a perspectiva econômica: sustentabilidade fraca e sustentabilidade forte.

A segunda secção ocupa-se sobre como a sustentabilidade é ampla e


difundida, abrangendo diferentes perspectivas e evoluindo ao longo do tempo. O
conceito de sustentabilidade ganhou destaque com o "Relatório de Brundtland", que
define desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades
presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras. No entanto, essa
abordagem ainda é centrada no ser humano e muitas vezes prioriza o crescimento
econômico em detrimento da preservação ambiental.

Há críticas de que o desenvolvimento sustentável pode ser paradoxal,


promovendo o crescimento econômico como solução para problemas causados pelo
próprio crescimento. Isso destaca a importância de considerar o valor moral e
prudencial na discussão da sustentabilidade.

A sustentabilidade não é inerentemente boa ou má, mas é orientadora e


relacional. Ela orienta ações e decisões e envolve relações entre seres humanos
contemporâneos, gerações futuras e a natureza. Portanto, a sustentabilidade possui
uma dimensão ético-filosófica fundamental. A diversidade de perspectivas sobre a
sustentabilidade destaca a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre seu
conceito e sua aplicação prática, a fim de abordar os desafios da sustentabilidade de
maneira mais eficaz.

Seguindo esse raciocínio, a terceira secção se aprofunda na abordagem da


sustentabilidade fraca, forte e absurdamente forte. Muniz discute como quando a
sustentabilidade é abordada sob a perspectiva econômica, ela é dividida em dois
principais enfoques: sustentabilidade fraca e sustentabilidade forte. A
sustentabilidade fraca aceita a substitutibilidade entre o "capital natural" e o capital
produzido pelo ser humano.
O autor comenta como a visão predominante na economia e na
sustentabilidade fraca é tratar o mundo natural como capital, o que inclui tanto
recursos renováveis e não renováveis quanto serviços ecossistêmicos. No entanto,
essa abordagem é criticada por simplificar e homogeneizar tanto a natureza quanto o
comportamento humano em relação a ela. Ele também reflete uma arrogância
humana ao valorizar os interesses humanos em detrimento dos interesses das
entidades não-humanas e ao negligenciar o valor intrínseco da natureza.

Na lógica de uma sustentabilidade fraca, a substitutibilidade entre o capital


natural e o capital produzido pelo ser humano é complexa e depende do propósito da
substituição, do grau de eficácia desejado e da definição dos elementos envolvidos.
A questão fundamental que o pesquisador propõe nessa discussão é se tudo que é
natural pode ser convertido em capital produzido pelo ser humano, algo questionável.

Surge então outra perspectiva; a sustentabilidade forte. Os defensores da


sustentabilidade forte argumentam que o capital produzido pelo ser humano e o
capital natural não são substitutos diretos, mas complementares. Isso porque o capital
natural é necessário para a existência do capital produzido pelo ser humano. No
entanto, a questão da substitutibilidade x complementaridade permanece
controversa.

A sustentabilidade forte levanta preocupações sobre a possibilidade de


substituir um componente do capital natural por outro, como a realocação de espécies
de uma região para outra para compensar os danos ambientais. Isso levanta questões
éticas e práticas, especialmente em relação à biodiversidade e à conservação.

A última subsecção do artigo comenta sobre uma versão ainda mais forte da
sustentabilidade, a sustentabilidade absurdamente forte, defendida pelo movimento
da Ecologia Profunda, que argumenta que todas as espécies, não apenas os seres
humanos, têm direito à vida e são insubstituíveis. Isso implica que a degradação ou
dizimação de uma espécie em prol de outra é considerada ilegítima, ou seja,
argumenta que a natureza não deve ser substituída em nenhuma circunstância,
mesmo que isso signifique que as pessoas possam sofrer privações. Essa abordagem
busca um comprometimento absoluto com a preservação do mundo natural.

A sustentabilidade não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como
uma diretriz que não deve sobrepujar outras considerações morais. Os interesses
humanos não são absolutos, e a conservação do ambiente natural deve ser uma
prioridade para além dos interesses humanos, garantindo sua preservação
independentemente das necessidades humanas.

Diante das reflexões apresentadas, em suas considerações finais, Muniz


conclui que As relações humanas são multifacetadas e influenciadas por diversas
estruturas globais, incluindo ciência, tecnologia, política, educação e economia. A
sustentabilidade opera em níveis individual, social e global, transcendendo gerações
humanas e não-humanas, tornando a apreciação ética uma parte essencial do seu
entendimento.

Para avançar além do paradigma econômico, é necessário repensar o papel


da economia e direcioná-la por meio da "meta-economia". Isso implica reconhecer
uma nova razão, uma "racionalidade ambiental" que questiona a sobre-economização
do mundo e busca novos modos de vida que rearticulem as relações entre cultura e
natureza. As metáforas econômicas, como o "capital natural" e "serviços
ecossistêmicos", atribuem valores econômicos à natureza, transformando-a em uma
mercadoria. Isso pode levar ao fetichismo da mercadoria e influenciar a percepção da
natureza como um bem sujeito às leis do mercado. Essa valorização econômica faz
parte do projeto político ideológico do neoliberalismo, que afeta a forma como a
sociedade se relaciona com o mundo natural.

Para superar o enfoque exclusivo no valor econômico, é necessário reavaliar


os valores que guiam a economia e considerar uma "racionalidade ambiental" que
respeite a diversidade de valores e as relações humanas com a natureza. A
sustentabilidade não deve ser apenas sobre crescimento econômico, mas também
sobre o desenvolvimento humano que seja compatível com a convivência com outras
formas de vida no planeta. Nesse contexto, a "crise" ambiental não é apenas uma
crise econômica, mas uma perda da história da humanidade e da comunidade de vida
à qual pertencemos. Portanto, a sustentabilidade deve ser compreendida em um
contexto mais amplo, que vai além do aspecto econômico, abraçando valores morais
e considerando a perda da natureza como uma perda de nossa própria história.

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