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SOCIEDADE DE CLASSES NO BRASIL: FORMAÇÃO E

CONTINUIDADE DOS PROCESSOS HISTÓRICOS


Julia Roberta Puerta
Norman Joshua Silva Mucave

Resumo

O presente artigo se propõe a analisar a formação da sociedade de classes no


Brasil contemporâneo, buscando compreender os aspectos que a tornaram possível e as
consequências desse processo de reconfiguração socioeconômica no país. Levando em conta a
continuidade deste processo ao longo do século XX e adentrando ao XXI, o trabalho aqui
desenvolvido tenta relacionar, a situação atual da disposição das classes no Brasil à sua
formação e construção baseada em ideais e interferências econômicas externas, junto aos
conflitos internos causados pela heterogeneidade de grupos sociais no Brasil. Assim, o foco é
detectar elementos que organizam a sociedade de classes de seu princípio, e se fazem
presentes até os dias atuais do Brasil Contemporâneo.

Palavras-chave: Sociedade de classes. Império. República. Classes sociais. Regimes


socioeconômicos.

INTRODUÇÃO

O trabalho a ser aqui desenvolvido tem como objetivo inicial, realizar uma breve
historização do fim do Império e transição para o início da Republica no Brasil, quando
começa a germinar na sociedade brasileira, a proposta de instituição de um regime capitalista
competitivo para o país, e a constituição de uma sociedade de classes para este regime, de
acordo com os moldes da comunidade econômica internacional. Para melhor compreender a
transição entre estes regimes, serão observados os contextos social e econômico da nação à
época, visando destacar os aspectos que encaminhavam o Brasil para esta substituição de
organização governamental, além de destacar como se deu a reação dos diversos grupos
sociais aqui existentes.
Entendidos os fatores que possibilitaram esta transição organizacional política e
econômica no país, o segundo passo é identificar quais os grupos que constituem a sociedade
de classes. Possibilitando assim, compreender o papel que cada um exercia dentro das novas
relações estabelecidas e analisar a relação destes grupos, entre eles, com o Estado, e a
comunidade internacional, que influenciava diretamente na nossa economia e nos costumes.
Compreendidos os processos históricos e a formação da sociedade de classes, o
objetivo final do presente estudo, é apresentar uma continuidade dos hábitos e aspectos que
formam cada uma das classes, na tentativa de apresentar que mesmo com todas as
transformações advindas da transição para a modernidade e mudanças políticas e econômicas,
as classes sociais continuam se organizando de uma mesma maneira no período atual
contemporâneo, sem demonstrar um avanço na horizontalização das estruturas de poder, ou
mesmo na mobilidade social entre as classes. Sustentando a teoria de que apenas profundas
reformas nas estruturas de poder do Brasil serão capazes de mudar a organização da sociedade
de classes no Brasil.

DA COLÔNIA À REPÚBLICA: O SURGIMENTO DA SOCIEDADE DE


CLASSES NO BRASIL

Se baseando nas ideias de Florestan (1975), pode se caracterizar que o momento


primordial que dá início a reestruturação econômica e social do Brasil foi a transição da era
senhorial (fim do Império), para a era moderna, iniciada na Primeira República. Demarcadas
pela Abolição, Proclamação da República e a ascensão da industrialização brasileira que
emergira ao início do século XX.
O período colonial remonta a maior parte da história do Brasil, sendo desde 1500,
quando descoberto e colonizado por Portugal, uma colônia caracterizada pela escravidão,
extermínio dos nativos e exportação de recursos naturais aqui encontrados. A escravidão
aplicada na colônia tinha a função de suprir a pequena população de Portugal, se utilizando de
pessoas escravizadas da África para servirem no Brasil, como trabalhadores da lavoura e
serviços pesados, no caso dos homens negros, e serviçais domésticas, no caso das mulheres
negras, ou seja, ocupando e explorando o novo território descoberto. A relação entre os
nativos e colonizadores foi sempre conflituosa, visto que os índios que já aqui estavam não se
submetiam facilmente ao novo estilo de vida, e os colonizadores não tinham receio em
expandir sua dominação e exploração do território através do massacre daqueles que se
pusessem em seu caminho. Mas o fator principal que configura a economia, desde a
colonização até os tempos atuais, interna e externamente, é a exploração dos nossos recursos
naturais e exportação dos mesmos para a produção internacional, fator este, central para
análise da sociedade de classes que vem a ser realizada neste trabalho, devido a sua influência
em todo processo de construção socioeconômica do Brasil.
Com o enfraquecimento do sistema colonial no país ao longo dos 3 primeiros
quartos do século XIX e o avanço do capitalismo na Europa, como sistema econômico
comum, a era moderna começa a se configurar no Brasil, beneficiada por dois eventos no fim
do século XIX que dão entrada a este novo período histórico. A Abolição da escravatura em
1888 demarca o fim do sistema colonial, e a Proclamação da República em 1889 institui o
capitalismo competitivo como sistema econômico, surgindo no país uma sociedade de classes
organizada pelo capital. Além de um modelo econômico a ser seguido, a modernidade trouxe
também um modelo de produção específico, a indústria, que passou a disputar o mercado com
a produção agrária, e estabelecer novas relações de trabalho e dominações de poder na
sociedade brasileira.
A transição para a modernidade, da maneira que foi aqui até aqui avaliada,
transformou as relações políticas e econômicas anteriormente estabelecidas, portanto, não
poderia ser diferente com as relações sociais, e então entra em questão a formação da
sociedade de classes. Após o processo abolicionista e a instituição do capitalismo no Brasil,
surge o regime de classes, em que os indivíduos da sociedade começam a ser agrupados por
sua posição na produção ou grau de influência na economia brasileira. Compreendendo que
no período colonial a relação era estritamente dicotômica, em que imperava a aristocracia
agrária composta pelos senhores e donos de escravos, sobre os negros e desalentados, “a
Abolição e a universalização do trabalho livre levaram a descolonização ao âmago da
economia e da sociedade” (FERNANDES, 1975, pg 205), que juntamente a chegada da
indústria como principal instrumento de produção no meio urbano, modificou a configuração
das relações entre a cidade e o campo. Para pensar os efeitos dessa transição para a sociedade
de classes, e no tópico seguinte analisar os aspectos individuais que constituem estas classes,
bem como a posição de cada uma na nova estrutura político-econômica do capitalismo
competitivo, observemos uma passagem de Florestan Fernandes, em seu livro “Sociedade de
classes e subdesenvolvimento”:

A transição neocolonial fixou certos pólos urbano-comerciais como verdadeiros


núcleos de mediação interna entre a economia brasileira e as economias centrais. A
expansão posterior da economia de mercado capitalista consolidou essas funções
mediadoras dos centros urbanos, ao mesmo tempo que deu origem a uma nova
relação hegemônica da cidade com o campo(...)quando ainda parecia que a
predominância do campo sobre a cidade não fora afetada pela emancipação política
e pela constituição de um Estado nacional. O que prevalecia, nesse novo contexto
histórico-social, não era a economia agrária propriamente dita, mas os interesses
econômicos, sociais e políticos da aristocracia agrária, o que era coisa bem diferente.
(FERNANDES, Florestan. 2008, pg. 180)

A concentração do poder político e econômico passar do campo para os centros


urbanos, demonstram os rumos de um desenvolvimento industrial, como o importante papel
que as cidades passam a ter de se tornarem mediadoras da economia interna brasileira para
com as economias centrais externas. Mas ainda assim, a citação nos chama a atenção para um
ponto específico, a continuidade da prevalência dos interesses da aristocracia agrária
brasileira, que já se apresentava como a classe dominante desde o período colonial, e
representavam a oligarquia do poder econômico e controle agrário no Brasil, que com a
chegada da modernidade e da industrialização, fez a extensão de seu poder para além do
campo, alcançando os centros urbanos e se tornando a “oligarquia ‘moderna’(ou dos altos
negócios, comerciais-financeiros mas também industriais)” (FERNANDES, 1975, pg. 209).
Feita a contextualização histórica do período de transição para modernidade, é
possível notar a consolidação do regime de classes. O passo seguinte é então caracterizar cada
uma das classes, de acordo com sua formação e aspectos individuais que as compõe.

SOCIEDADE DE CLASSES: CLASSES, PARTICULARIDADES E


CARACTERÍSTICAS

As classes sociais que compõe nossa sociedade contemporânea, se organizam a


partir de determinações econômicas e raciais, como visto anteriormente, e são compreendidas
na atualidade em quatro grandes grupos que disputam o cenário político e territorial do Brasil.
Sendo a, oligarquia, burguesia, proletariado e marginalizados/ralé as quatro categorias
principais na sociedade de classes moderna vejamos então como são constituídos, se
organizam e qual sua posição na sociedade de classes.
A oligarquia é a classe dominante na sociedade brasileira, constituída pelos
colonizadores, que com a estadia permanente se tornaram os senhores de engenho, e com a
transição à modernidade constituíram as oligarquias agrárias e industriais. Instituiu seu poder
no Brasil se utilizando principalmente da escravidão e do monopólio sobre os recursos
naturais da nossa terra, que comercializam num processo de exportação para o mercado
externo industrializado, e na falta de uma indústria desenvolvida aqui, nos tornavam
importadores de produtos derivados dos nossos recursos, fazendo com que já desde a era
colonial nos fundemos uma economia dependente. O poder oligárquico com a modernização
precisava transformar também suas estruturas de poder e dominação, transferindo todo seu
caráter autoritário e seus ideais reacionários e conservadores - que eram homogêneos na era
colonial por conta da opinião dos senhores – para o Estado, na intenção de garantir que seus
interesses continuassem prevalecendo sobre os das demais classes. Porém, acompanhando o
processo mundial de transformações, surge uma nova classe no Brasil que já se constituía ao
redor do globo, mas com peculiaridades que a tornavam única, a burguesia brasileira surge
como classe concorrente à oligarquia, não em questão de poder, mas em disputa pela dianteira
dos processos de industrialização e realização de seus interesse por parte do Estado.
A burguesia que emergiu no país tem como base referencial, econômica e
socialmente, a antiga oligarquia agrária, assim, boa parte da burguesia nacional se constituiu
no campo através das plantações e encontram seu interesse em comum, em relação as demais
ilhas burguesas existentes, no ramo do comércio, entendendo o surgimento desta classe mais
como uma justaposição de sua existência do que uma própria formação. A natureza de
atuação desta burguesia é caracterizada pela junção das características sociais
ultraconservadoras e reacionárias da oligarquia, e o interesse na expansão do mercado
competitivo da modernidade. Se baseando nas análises de FERNANDES (1975), é possível
compreender a formação de uma Revolução Burguesa na sociedade brasileira, mas que não se
realiza, devido ao não interesse da burguesia de realizar uma revolução geral “contra a
ordem”, nas palavras de Florestan, mas apenas de se realizar quanto classe intermediária
participativa nas relações econômicas internas e externas, e garantir sua dominação e
distanciamento social sobre as classes inferiores, o que a torna diferente das demais
burguesias ao redor do mundo e a coloca num caminho inverso ao defendido na Revolução
Burguesa Francesa. O último aspecto a se observar da burguesia brasileira, talvez o mais
relevante, é a maneira como se forma e exerce a “dominação burguesa”. A dominação
burguesa primeiramente se apresenta não a partir dos próprios ideais burgueses, mas sim dos
ideais aristocráticos das oligarquias brasileiras que se engendraram nesta para que sob as
influências reacionárias da classe dominante, exercesse sua dominação sobre as classes
inferiores afim de conter revoluções de baixo, segrega-los do espaço político, marginalizar e
subjugar os despossuídos para que não afetem o espaço do domínio político e econômico
cedido pelas oligarquias, e garantir que as classes dominadas não plasmem ocupar a mesma
posição social que os burgueses.
Pensando na posição intermediária da classe burguesa, vejamos então, que classes
inferiores são essas, e como acessam o meio político econômico da nação. As duas classes
baixas no Brasil, se compõe basicamente pelos mesmos grupos sociais, negros, pardos e
brancos dependentes remanescentes do regime colonial. Com o fim da era senhorial e
adaptação para o capitalismo competitivo e industrialização, a população da época necessitava
se adaptar e começar a integrar a nova estrutura política e social, porém, diante uma ordem
competitiva os negros e despossuídos tiveram o pior ponto de partida, o que já os coloca numa
posição de inferior. O processo de industrialização do país abriu espaço, para que esta parcela
da população abandonada pelo Estado, se integrasse ao novo modelo econômico por meio do
trabalho proletário na grande indústria. Assim, a integração de parcelas deste grupo social ao
mercado de trabalho básico, garantia para eles a subsistência diária, mas ainda não permitia
que estes avançassem a outros níveis da sociedade de classes, o surgimento da classe
proletária é marcado pela necessidade da força de trabalho para continuidade no processo de
industrialização, como também, a segregação desta nova classe das beneficies dos direitos e
privilégios sociais construídos na democracia burguesa.
A outra classe baixa, mas esta, que também excluída do espaço social, é
caracterizada especialmente pelos negros e inadaptados ao novo modelo econômico, são os
marginalizados. O mito da democracia racial se desenvolveu sob a ótica de que no Brasil as
relações étnico-raciais seriam pacíficas e harmônicas e que o país não teria sido afetado pelos
388 anos de escravidão estrutural. Pensamento este que mascarava os verdadeiros efeitos da
exclusão e marginalização do negro na sociedade atual. As teorias analisadas aqui
encaminham para algumas inferências a respeito das condições do negro após a abolição e
durante o processo de modernização: sua inadaptação ao modelo de trabalho livre, que se
relaciona a dificuldade de se enquadrar nos modelos de comportamento da sociedade
competitiva e a continuidade do modelo disfuncional da família negra que tem forte influência
na ideia de marginalidade. Aos negros dentro dessa perspectiva sobrou o papel de serem peças
obsoletas dentro da nova ordem capitalista, sendo gradativamente substituídos pela valorizada
mão-de-obra do imigrante branco europeu, que vem ao país durante o processo de
embranquecimento e incorporação ao mercado de trabalho necessitado. Essas mudanças
impactaram de forma incisiva a consciência dos negros impedindo no plano objetivo a
resistência organizada contra a marginalização imposta pela elite dominante do país, se
transferindo para as zonas periféricas dos centros urbanos e agrários, e ficando a margem da
construção econômica, política e social deste novo Brasil.
Compreendendo todo o contexto histórico-social do país no processo de transição
para o mundo moderno, e formação da sociedade de classes. Conhecendo e caracterizando
quais classes são essas, sua posição no Brasil moderno, e sua relevância na sociedade
brasileira. O objetivo final do trabalho a ser trabalhada no último tópico, é compreender uma
continuidade dos aspectos de sua formação e uma estagnação no processo de transformação
das classes.

CONTINUIDADE E ESTAGNAÇÃO NA SOCIEDADE DE CLASSES


BRASILEIRA

Desde a constituição da sociedade de classes no Brasil, a divisão social baseada


no poder socioeconômico e na posição que cada um ocupa na produção, é o que determina
cada uma dessas classes. Observando o contexto mais atual possível, é perceptível a
continuidade dos processos de categorização na sociedade brasileira, sendo assim, o objetivo
final nesta última sessão é observar fatores que nos permitam identificar essa continuidade em
cada uma das classes sociais, e aspectos de reprodução da mentalidade construída - no
momento contemporâneo.
Como visto anteriormente neste trabalho, as oligarquias brasileiras sempre foram
nossa classe dominante, desde a descoberta e colonização, até hoje em nossa República
Federativa do Brasil. Ainda hoje temos no Brasil uma classe que mantém quase a totalidade
do domínio de alguns setores no país, como alimentação, telecomunicação e informação. De
acordo com alguns estudos utilizados para comprovação destes fatos (disponíveis nas
Referências Bibliográficas), 10 empresas dominam até 70% das compras familiares, o que
torna o país um dos com maiores índices mundiais de concentração no mercado alimentício.
Um estudo disponibilizado pelo próprio Senado Federal em 2011, em parceria com pesquisas
do IPEA, demonstrava uma tendência de oligopólio no mercado das telecomunicações, em
que apenas 4 empresas disponibilizavam 92% das conexões de banda larga fixa, criando uma
falta de alternativa ao consumidor, e deixando a disponibilidade de criar a oferta por parte das
empresas. Por fim, e talvez um dos mais problemáticos, temos o oligopólio da informação, em
que um estudo da MOM (Monitoramento da Propriedade de Mídia) do governo alemão, as
ONG’s brasileira (Intervozes) e francesa (Repórteres Sem Fronteiras), mostraram em pesquisa
que 5 famílias concentram 26 dos 50 veículos midiáticos de maior audiência no Brasil,
causando um controle de informação e limitando a população ao tipo de informação que virá a
ter acesso. A presença destes oligopólios nos mostra quão profundo é o domínio oligárquico
no país, e que mesmo as diversas mudanças políticas, sociais e econômicas não foram capazes
de enfraquecer, ou democratizar o controle do poder concentrado.
A burguesia brasileira que se forma na transição para a modernidade, chega ao
momento contemporâneo não mais como burguesia, mas agora é interpretada pela população
como classe média, mas um grande impasse é que não existe um consenso sobre que grupos
sociais fazem parte desta classe, ainda que a maioria dos pesquisadores e sociólogos
brasileiros determinem 3 níveis dentro dessa extensa parcela social, alta, média e baixa classe
média. Independentemente dos 3 níveis detectados, o objetivo aqui não é compreender a
particularidade de cada um, mas quais os aspectos comuns que os colocam na mesma classe.
Um dos fatores que nos mostram a continuidade dos ideais burgueses na classe média é o
pensamento reacionário e conservador, como visto em manifestações durante o processo de
impeachment o ódio ao PT e as políticas públicas promovidas pelo partido em seu governo.
Outro fator é a proximidade com o Estado, no poder Legislativo, que pode ser comprovado
pela pouca representatividade da sociedade brasileira, sendo as três maiores bancadas (boi,
bala e bíblia) representações de ideais burgueses e defesa de seus interesses dentro da política
nacional. Por fim, a classe média continua pregando os ideais burgueses, mantendo o
distanciamento para com as classes inferiores, e ainda plasmando alargar sua dominação a
partir de uma aproximação para com as oligarquias.
Finalizando nossa análise, observemos as classes inferiores, proletariado e
marginalizados. Por mais que no período recente no Brasil estas classes tiveram um breve
momento de ascensão social, no geral suas condições de vida e sobrevivência continuam no
mesmo rumo em comparação as outras classes. Um estudo de 2018 da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento) colocou o Brasil em segundo lugar no ranking da
mobilidade social, em que seriam necessárias 9 gerações para que um indivíduo saísse dos
10% mais pobres e atingisse o nível de renda médio do país, demonstrando o quanto a
persistência da renda intergeracional e as determinações sociais produzidas pela classe são
determinantes sobre a posição social de um indivíduo no Brasil. Outro ponto importante que
mostra a continuidade da marginalização das populações pobres, e do racismo estrutural, é a
violência. O Atlas da Violência 2019, disponibilizado pelo IPEA, mostrou que 75,5% dos
homicídios registrados no Brasil em 2017 foram de pessoas negras e pardas, o que caracteriza
uma relação de violência estrutural entre estas populações, que desde o fim do período
colonial ainda não tiveram espaço para se integrar a sociedade de classes de maneira
produtiva e participar do circuito econômico nacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão central neste estudo é a tentativa de apresentar uma estagnação nas


mudanças sociais após o estabelecimento da sociedade de classes, e uma continuidade na
maneira como as relações entre as classes se estabeleciam. Uma tentativa de mostrar que a
sociedade de classes no Brasil se constitui quase em semelhança a uma sociedade de castas,
em que a quase da qual o indivíduo surge vai determinar qual sua posição social, enquanto vai
transferindo essa posição familiarmente, como vimos no caso das oligarquias e dos
marginalizados.
As transformações na sociedade brasileira na transição para a modernidade se
apresentavam como ideais progressistas e unificadores para formação de uma sociedade
desenvolvida e horizontal. Mas com o fim das agitações do processo de modernização no
Brasil, vimos que foi apenas um breve devaneio influenciado pelas transformações externas, e
nossa sociedade apesar da constituição das classes, pouco avançou na universalização das
condições de competição e condição de vida das classes brasileiras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de


interpretação sociológica. 5º ed. São Paulo. Globo, 2006.
FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. 5º ed, rev.
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BRASIL É O SEGUNDO PIOR EM MOBILIDADE SOCIAL EM RANKING
DE 30 PAÍSES. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44489766>. Acesso
em: 30 jun. 2019

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