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Comentários sobre Florestan:

Acentuada importância na questão da dependência. Formação do Estado brasileiro depende dessa


condição, um Estado capaz de refrear tanto os conflitos externos, com os “parceiros maiores do
comércio” quanto os conflitos inerentes à luta de classes no Brasil. Consequências: Estado
repressivo, autocrático, abertamente anti-popular e elitista, os analfabetos, maioria no Brasil até a
década de 70, só tiveram acesso ao voto em 1988. Bipartição da nação brasileira: monopólio da
mudança nos setores elitistas e médios. Em face disso, a “revolução burguesa” assume uma feição
atípica no Brasil, se dá ao ritmo do capital estrangeiro - assim como qualquer mudança social em
geral, técnica ou social, desde o período colonial -, e se faz subserviente a esse capital.
Além da influência imperialista, o caso do capitalismo dependente, Florestan também destaca a
importância do processo colonizador e, principalmente, imperial no Brasil para a transição para a
dependência, para a formação, em partes, desse Estado, dessa elite oligárquica, da exclusão de
grandes setores da população da “ordem competitiva” do capitalismo em ascenção, da conservação
das estruturas arcaicas na universidade, nos costumes e nos preconceitos. Em suma, como o
processo de “descolonização” se deu como uma “revolução dentro da ordem” imposta de cima para
baixo, em negociatas, com a internalização das estruturas coloniais, não houve ruptura com
nenhuma estrutura do período colonial escravista. Isto redundou num Império Escravista, que, como
possuia as mesmas bases econômicas da sociedade anterior, a queima da mão de obra das castas que
não participavam da elite, seja do branco pobre ou do negro escravo, não alterou, essencialmente, a
organização política, as estruturas que mantinham a estrutura colonial de pé. Ao contrário,
aprofundaram, pois, como demonstra, foi justamente a intensifação dessas bases que fomentaram
uma acumulação originária das elites brasileiras, um maior nível de relações com o capital
estrangeiro, a criação do mercado interno que daria estímulos ao capitalismo comercial no Brasil e,
consequentemente, a manutenção do racismo institucionalizado e personalizado, da total absorção
por parte da nova ordem emergente capitalista de todas as viscissitudes da sociedade que a deu a
luz, o Império Escravista. Florestan, contudo, não nega o caráter, embora que extremamente restrito,
civilizador da instituição de uma ordem social competitiva. No entanto, refuta a tese de que o
escravismo teria sido derrotado pelo capitalismo, houve uma remodelagem jurídica e política da
coisa, nada mais que isso.
Pelos fragmentos lidos na coletânea de textos do Florestan é esta a minha primeira impressão sobre
o pensamento do autor acerca da formação e reestruturação das estruturas brasileiras de dominação
de classes, passando da ordem estamental e de castas na colônia e no período neocolonial, até a
ordem de “classes” que devido ao próprio processo de mudança social no Brasil tem sua validade
muitas vezes negada, competindo sempre para apontar uma estruturação de castas ou estamental, o
Brasil possui desde sempre os piores índices de mobilidade social do mundo e o tratamento para
com as castas de raças dominadas, pretos, índios e qualquer um mais escuro, dispensa
considerações.
A grande questão aqui é a análise do processo histórico em sua totalidade mundial. É impossível
explicar o Brasil sem compreender todo o processo de subordinação ao qual nossa nação foi sujeita,
ou melhor, sujeitada pelas nossas elites. De uma dependência a outra, sem que nunca fôssemos
capacitados a imprimir nossos próprios ritmos históricos a qualquer coisa que seja. A questão
arcaizante, o atraso relativo e forçado de cima para baixo e de fora para dentro, da questão da
dependência. A fórmula da “ordem e progresso” como representante do pensamento das nossas
elites, lenta e gradualmente rumo a aprofundar a situação de dependência para obter, de algum
modo, benefícios para si. Enfim, a análise pode ser sintetizada na frase de “O capitalismo
dependente é um capitalismo difícil”, as consequências instituicionais, definhamento da
democracia, contrarrevolução permamenente, conservantismo sociopático, miséria, desigualdade
extrema, atraso cultural e científico, colonialismo cultural, e sociais, racismo arraigado na
sociedade, individualismo exacerbado, morte da cultura, são todas nefastas para as populações do
capitalismo dependente e só podem ser combatidas com o sepultamento da ordem que gerou elas.
Não será por dinamismos internos, conscientização da burguesia, outras etapas de reformas ou
revoluções dentro da ordem que as demandas não atendidas pela revolução burguesa brasileira, do
processo de descolonização ao golpe de 64, serão concretizadas. Só uma ordem social que coloque
de pé a nação real do Brasil, do povo pobre, excluído desde a colonização da participação politica
efetiva, visto como caso de polícia pelo medo a mudança, vítima real de todas essas consequências
do depedentismo, será capaz de concluir a revolução burguesa e transcender a esse simples objetivo,
concluir de fato a descolonização. Somente o socialismo revolucionário é capaz de trazer alguma
luz ao povo brasileiro, de trazer soberania no processo de mudança social da nossa sociedade, da
inovação cultural e científica, de repelir de vez todas as estruturas mantidas e aprofundadas pelas
sucessivas revoluções dentro da ordem, o racismo, a misogínia, o mandonismo, a situação
estamental e de castas brasileiras. A utopia brasileira poderá ser, enfim, concluida; um povo voltado
para si próprio, em que todos tem direito a comer bem todo dia, a um emprego digno, a um teto para
morar com sua família e a serem respeitados.

Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina.

A proposição desse “resumo” é apenas demarcar os assuntos que são tratados em certos períodos do
livro, pois Florestan escreve capítulos extremamente longos e sem nenhuma separação topical.

Página 43 a 60: Focam na caracterização das debilidades da ordem social competitiva na América
Latina. Traz a tona o por quê de tantas “reminiscências” do escravismo e da sociedade neocolonial
na formação atual do capitalismo dependente. O que ocorreu é que devido a debilidade da formação
de um equilíbrio entre as classes em disputa, o que caracterizaria a ordem competitiva, é necessário
impor uma diferenciação que se dá por forças além do mercado, além da simples posição no modo
de produção capitalista. Aí entram o tradicionalismo, o racismo, o elitismo.
Além disso Florestan coloca em foco a principal função do capitalismo dependente e que faz com
que todas essas características supracitadas que parecem anômalas, quando comparadas com os
capitalismos autonomamente dirigidos e hegemônicos, sejam, na realidade, extremamente
funcionais. A repartição dual dos excedentes econômicos. A posição dependente das burguesias
latino-americanas fizeram-nas optar por manter todas as iniquidades das formações pré-capitalistas
e a apertarem o nó da corda no pescoço das massa, a fim de manter a única função que é repartir o
excedente econômico com o sócio maior dos negócios, garantindo para si o seu punhado de
privilégios que desbalanceiam, novamente, a ordem social competitiva que deveria emergir.
Ao fim e ao cabo, as palavras que marcam o desenvolvimento capitalista dependente são
contraditórias. Há fraqueza, devido a incapacidade de hegemonizar uma dominação de classe
tranquila nos seus territórios, ao mesmo tempo que há pode excessivo, devido ao
superpriveligiamento que é necessário ao sistema. Há democracia, para aqueles que estão no tope, e
autoritarismo. Há o arcaico modernizado e o moderno arcaico. Toda uma conjugação de
contradições que vem da origem histórica do capitalismo dependente.
P. 80 a 100: O processo de independência das nações de capitalismo dependente se deu de forma a
manter todos os valores coloniais e modernizá-los, ajustá-los estruturalmente às novas dinâmicas
que foram ditadas pelo comércio exterior, não é possível esquecer que todas as nações são
dependentes devido ao imperialismo, em primeira instância. A necessidade da produção de
excedentes e econômicos, a necessidade de manutenção de privilégios em sociedades extremamente
desiguais, o fato das classes possuidoras, quase aristocráticas, terem sido os agentes sociais, devido
a sua posição econômica, das mudanças sociais que viriam com o fim da colonização, todos esses
fatores contribuíram para um consentimento tático no que tange a formação da dependência. As
classes possuidoras ganham estabilidade contra o povo, ganham compradores certos e as nações
hegemônicas conseguem satélites para a exportação de capitais e para expandir a empreitada
imperialista.
Daí em diante, os interesses externos e internos se conjugam e dão forma a todo o processo
histórico subsequente da criação de um mercado capitalista moderno, da estruturação de uma ordem
social capitalista, da formação de classes sociais propriamente ditas, mas todas elas já “deformadas”
para a função do capitalismo dependente: produzir excedentes econômicos para ambos os parceiros
econômicos, embora isso implique em todas as tão debatidas consequências do subdesenvolvimento
latino americano – O abismo político, econômico e social entre as diversas classes. A incapacidade
de ação políticas dos pauperizados ou as convulsões rotineiras das modernizações forçadas,
tentativas de superar o subdesenvolvimento sem superar a dependência, o autoritarismo, etc.

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