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Obras Bukharin:

Comentários;

A Economia Mundial e o Imperialismo:


Neste ensaio Bukharin tenta analisar uma nova fase do capitalismo, o capitalismo financeiro, e sua
forma de expressão, o imperialismo. Subdividindo o livro em 4 partes, Bukharin começa por
explicar os pressupostos que assentaram o terreno para a transição do capitalismo industrial de livre
concorrência a nível nacional ao capitalismo financeiro monopolista internacional, seguido do efeito
retroativo dessa transição e seu resultado, o acirramento da concorrência entre as nações, no que ele
denominou de trustes capitalistas de Estado.
O desenvolvimento das forças produtivas, principalmente dos meios de transporte e comunicação,
abriram espaço para a internalização do capital de forma nunca antes vista. À primeira vista,
decorrente da divisão social do trabalho entre as nações, a expansão da divisão campo-cidade, há
apenas circulação simples de mercadorias entre elas (capital-mercadoria dos países). Com o passar
do tempo, a necessidade de ampliação da produção nos países agrário-exportadores leva a
circulação do capital bancário, em forma de capital-dinnheiro, dos países com sistema de crédito já
bem desenvolvido a esses países. Inicia-se, então, um processo de infiltração dos mais diversos
capitais nas construções estatais, em forma de financiamento direto, participação nas ações de
empresas, exportação de filiais, compra e venda direta de ações, divida pública, etc… o capital
enviado a esses países tem como objetivo aumentar a porção da mais-valia produzida a nível global
para os donos desses capitais. Os propulsores dessa expansão são a queda tendencial da taxa de
lucro nos países portadores desses capitais, sendo nos países com técnica atrasada maior a produção
de mais-valia, e a busca por superlucros advindos das diferenças dos custos de produção das
mercadorias nos diferentes países.
Os diversos capitais bancários acabam por se fundir em trustes e, devido à necessidade e grandeza
de seus investimentos, se metamorfosear em capital industrial também, tornando-se, então, capital
financeiro internacional. Porém, embora os capitais estejam todos mesclados internacionalmente, se
confundindo numa estranha teia que prende a todos os focos da circulação de capital e da circulação
de mercadorias, os interesses das burguesias nacionais não estão.
Daí, depreende-se que há uma nacionalização de parte do capital. Para o capitalismo financeiro
internacional florescer, o capitalismo de livre concorrência nos países já deve ter morrido, somente
a coesão e a unificação dos diversos ramos em cartéis e trustes pode dar competividade para que se
concorra no mercado mundial. Dito isso, cada vez mais o Estado, que já era o balcão da burguesia
em suas lutas, se torna em um aparato subordinado economicamente a essas, sendo suas empresas,
suas obras e até seus bancos financiados por esses trustes privados enormes. Acontece que os
Estados passam a se tornar um grande truste, o que Bukharin chamou de truste capitalista de Estado.
Passa-se, portanto, a habitar o solo fecundo do imperialismo, a concorrência entre os Estados,
personificando esse grande truste verticalizado e horizontalizado, que pega todos os ramos da
divisão social do trabalho nacional, por territórios onde escoar sua produção, adquirir matérias-
primas e áreas de investimentos. À medida que o capital financeiro avançava incontrolavelmente
por todos os buracos do mundo capitalista, ele cerrava suas próprias portas. Cada Estado-Trusticado
passa, com o aumento da concorrência entre eles, a aumentar as tarifas alfandegárias para proteger
de seus inimigos, isso dificulta no escoamento da produção desses países, que nunca tiveram de
produzir tanto, pois, justamente no período de expansão do capital financeiro a produção deveria
atender ao tamanho internacional, se faz, então, necessária acessos a territórios novos, expansão
territorial. Aliado a isso há uma dificuldade em mercados de compras de matérias-primas para essa
produção, sendo necessário recorrer novamente aos países agrários, no sentido de exportadores de
matérias-primas, mas esses próprios países também foram forçados, por suas próprias burguesias, a
aumentar, àquela época, suas barreiras alfandegárias, impedindo que mais capital financeiro
estrangeiro entrasse e lhes roubasse toda a mais-valia que os operários de tal país produzira.
Soma-se a isso a necessidade vital dos países de exportarem o capital, pois chega um ponto em que
as taxas de lucro estão tão baixas que não mais adianta o investimento no país de origem, e a
concorrência entre essas esferas é mais um dos objetivos dessas nações.
É nesse solo de dominação do capital financeiro a nivel global, alto desenvolvimento das forças
produtivas, centralização de capitais na mão de trustes e cartéis e dos próprios Estados,
configuração histórica capitalista em muito diferente das dos tempos de Marx, embora ainda
capitalista, que surge o solo para a política imperialista. Uma política que traduz a concorrência
intensa capitalista ao seu ápice, com a concorrência entre os trustes capitalistas de Estado. Tamanho
é o aprofundamento das contradições que perpassa a fase imperialista do capitalismo que elas só
podem ser resolvidas na base da guerra, a possibilidade de uma centralização única de capitais na
mão de um único grande cartel de trustes-nacionais é, materialmente, impossível. Bukharin passa,
então, a analisar a evolução da concorrência e seus métodos de guerra, e como isso explica a
centralização do capital na mão de poucos. Passa, logo após, a falar da ingerência estatal na
economia e projeta algo periódico, a enorme intervenção dos estados belicosos na organização da
produção, necessidade natural da guerra, em uma tendência do Capital, ponto que faz uma
autocrítica no prefácio. Conclui com a situação do proletariado e como, por meio da política de
exploração imperialista dos países subdesenvolvidos, obtendo superlucros da diferença entre os
custos de produção, obtenção de força de trabalho a menor custo, partilha da mais-valia dos estados,
dos bancos e das pequenas indústrias desses países, os trustes de estado conseguiram melhorar
qualitativamente a vida do proletariado e, com isso, angariado seu apoio, fortalecendo a social-
democracia e o patriotismo, mas nota o papel na guerra na desmistificação dessa visão do
proletariado que, de um dia pro outro, por conta da política que concebeu a ele um trocado a mais,
O Imperialismo nas colônias, ele perdeu tudo e muito mais, e perderá mais ainda, visto que
Bukharin escreveu o texto durante a guerra, quando o alvo do imperialismo se voltara para a
partilha de lucros na própria Europa.

Dentre os pontos que faz necessário tomar nota:


Bukharin foca muito na guerra e anexação direta para configurar o imperialismo, o que é
justificável para uma época em que a política imperialista tinha chegado a ponto de eclodir em
guerra pelas razões que ele mesmo apontou, a Alemanha em busca de escoar seus mercados pela
Europa toda, a partilha imperialista da época da África e da Ásia, todos fatos mencionados por
Bukharin. Porém ele não foca nos aspectos sutis do imperialismo, prinicpalmente quando ela se
expande por meio de áreas de influência de investimentos do capital financeiro, o que ocorre com
os países subdesenvolvidos devido a política expansionista do capital financeiro? As filiais passam
a concorrer com as empresas dos países ou elas preferem tomar de conta desses países, qual o
impacto para a classe trabalhadora desses países desse capital estrageiro, a diminuição de sua parte
na mais-valia faz a burguesia tomar que caminhos? Aumenta a exploração, deixa de investir na
indústria e passa a investir na bolsa, passa a investir em outros países mais subdesenvolvidos? Ele,
como residente de um país agrário-exportador que não fora tomado ainda pelo capital estrangeiro
não teria como responder. Teria o capital financeiro alguma relação com a capacidade dos
proletariados de conduzirem a revolução socialista? O aumento da integração entre as nações,
internacionalização do capital, teria efeito positivo a nível da revolução socialista mundial ou
dificultaria o processo? São perguntas que talvez Lenin saiba responder.

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