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Instituto de História.
Lênin analisa e trabalha em sua obra como surgiu o fenômeno do imperialismo e quais
são as características necessárias para que isso ocorra no processo do capitalismo. Ele enxerga
o imperialismo como uma etapa superior do capitalismo, isto é, invariavelmente, as condições
impostas pelo capitalismo faria com que o imperialismo fosse o seu fim natural, e não apenas
uma fase histórica.
O autor também traz debates acerca de outros intelectuais que estudaram e falaram sobre
esse fenômeno, como Kautsky (a quem ele faz severas críticas em toda sua obra), Hilferding,
Heymann, Hobson, entre outros.
A partir dessa constatação, Lênin começa a esclarecer que é essa concentração que leva
à formação de monopólios. Contudo, há algumas questões, visto que nem todos os ramos das
indústrias apresentam grandes empresas; é aí, então, que entra a particularidade do capitalismo:
a integração/combinação, isto é, a união de vários ramos da indústria em uma única empresa
para que se abranja todas as fases de uma mesma produção e o auxílio entre as partes se torne
mais fácil.
Hilferding, autor citado por Lênin, define os quatro pontos importantes dessa
combinação: a eliminação da diferença de conjuntura (que leva a taxas de lucro mais estáveis),
a eliminação do comércio, o aperfeiçoamento técnico e a possibilidade de se manter mais
facilmente num momento de crise onde se acentuam as concorrências.
O papel dos bancos nesse processo é fundamental. Apesar de serem uma espécie de
“intermediário dos pagamentos”, os bancos são capazes de transformar o capital-dinheiro
inativo em capital ativo capaz de gerar lucros. O mesmo processo que acontece com as
empresas, acontece com os bancos: concentração de capital gerando monopólio bancário, ou
seja, pequenos bancos passam a ser esmagados ou incorporados/subordinados por grandes
bancos. Percebe-se então que, tanto no que tange as empresas quanto os bancos, há a separação
entre o velho capitalismo – o da livre concorrência – e o novo capitalismo – o dos monopólios.
Esse surgimento dos monopólios bancários traz consigo a possibilidade de uma nova
configuração: a união banco-indústria. "O século XX assinala, pois, o ponto de transformação
do velho capitalismo para o novo, da dominação do capital em geral para a dominação do capital
financeiro." (LÊNIN, 2010, p. 46).
De fato, a fusão dos bancos com as indústrias é o que permite o surgimento do capital
financeiro. Esse fenômeno leva ao nascimento da chamada “oligarquia financeira”. Heymann
trabalha o conceito de “sistema de participação”, isto é, um sistema que aumenta em proporções
gigantescas o poder dos monopolistas. Esse aumento de poderio abre margem à criação de uma
oligarquia financeira que apresenta lucros inimagináveis que só consolidam a mesma. O
predomínio do capital financeiro sobre todas as outras formas de capital é o que fortalece a
existência/o predomínio tanto dos rentistas quanto da oligarquia financeira. E é o século XX, o
século da viragem, da concentração, dos cartéis, dos trustes e, consequentemente, dos
monopólios, que facilita o crescimento vertiginoso desse capital financeiro.
Se assim deixasse de ser, porém, o capitalismo deixaria de ser capitalismo, porque ele
tem como característica básica o desenvolvimento desigual e a subalimentação das massas. O
excedente nunca se redireciona para a superação dessas “falhas” (não são falhas do ponto de
vista do capitalismo). Essa desigualdade criada é o que possibilita a elevação de lucros uma vez
que, em países considerados atrasados, geralmente o salário tem um valor mais baixo, assim
como o preço de terras e matérias-primas. Torna-se comum, então, a subjugação de
determinadas regiões ou países por alguns poucos Estados, e é esse o traço característico da
partilha do mundo.
Lênin critica Kautsky que afirma que os cartéis internacionais, ao que internacionalizam
o capital, trazem a esperança de uma paz mundial através da integração. O autor do livro afirma
que Kautsky incorre de um erro a partir do momento que ignora o fato de que os grandes grupos
capitalistas apresentam interesses pessoais e, consequentemente, divergentes. Por isso, a
essência da luta não se perde enquanto ainda existirem classes. A partilha econômica do mundo
é realizada por grupos políticos, por interesses de Estado e interesses privados, portanto, a “luta
pelo território econômico”, isto é, as colônias, é inevitável.
1
Lênin, Vladimir Ilitch. O Imperialismo: fase superior do capitalismo. 4ª edição. São Paulo: Centauro,
2010. p. 61.
A partilha definitiva do planeta é, então, alcançada. Não que não se possa mudar as
características e as formas da partilha. Com partilha definitiva sugere-se que não há mais
possíveis territórios a serem ocupados. O mundo já se encontra repartido.
O pós 1870 é o que marca a ascensão das conquistas coloniais, e a luta pela repartição
do planeta se inicia. Hobson, outro autor trabalhado por Lênin, é o que marca os anos de 1884
a 1900 como o boom da expansão territorial. Já Lênin utiliza o marco de 1876 para a mesma
finalidade.
Outro erro encontrado por Lênin na análise de Kautsky encontra-se no que se refere à
questão das anexações. Lênin explica que está errada a constatação de que são anexadas apenas
regiões agrárias e explica que, na realidade, o interesse e a necessidade dos grandes monopólios
capitalistas não estão só nas matérias-primas. A partilha faz com que países queiram regiões
não apenas agrárias, até porque regiões industrializadas também podem ser interessantes a partir
do momento que fortalecem alguma potência e minam a hegemonia de outra. Lênin também
afirma que a definição de Kautsky "zomba precisamente do caráter histórico concreto" do
imperialismo contemporâneo porque não enxerga: 1) "a concorrência de vários imperialismos"
e 2) "o predomínio do financista sobre o comerciante". Portanto, se Kautsky afirma que os
países industriais só tendem a colonizar países agrários, então ele considera o comerciante como
protagonista, e não o financista. Kautsky, então, acaba separando o viés econômico do viés
político do imperialismo, e erra ao que dá as costas e ignora a profundidade do capitalismo
monopolista e de suas lutas, trazendo a noção de “imperialismo pacífico” que vem a formar um
“ultra imperialismo”, isto é, um único monopólio global. Esquece que, na realidade, os trustes
e os cartéis acentuam a disputa econômica e as disparidades regionais.
De acordo com Vladimir Lênin, a base econômica mais profunda do capitalismo é, sem
dúvidas, o monopólio, porém, “[...] como todo monopólio, o monopólio capitalista gera
inevitavelmente uma tendência para a estagnação e para a decomposição." (LÊNIN, 2010, p.
99). A fixação de preços não torna o mercado estimulante. A possibilidade de diminuição de
gastos e aumento de lucros é o que atua em favor das modificações e aperfeiçoamentos, mas
isso não impede o capitalismo de estagnar-se. A decomposição do movimento operário também
é uma característica desse capitalismo a partir do momento que o imperialismo tem uma
tendência a dividir os operários e acentuar o oportunismo entre eles. Percebe-se, então, uma
decomposição em vários níveis.
A ideologia imperialista, entretanto, tenta e acaba sendo vendida de uma forma “bela”,
penetrando nosso meio e o seio da classe operária. A partir do instante que os cientistas e os
publicistas burgueses defendem o imperialismo, ainda que de uma forma mais velada,
ocultando a dominação, as massas são atingidas da maneira que eles querem. Sob o capitalismo,
é impossível o desenvolvimento igual, e Lênin critica esse pacifismo do imperialismo
trabalhado por Kautsky. "O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que
trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade."
(LÊNIN, 2010, p. 120).
Para Lênin, enfim, o capitalismo tem como sua etapa superior o imperialismo. Não é
uma fase histórica, e nem muito menos uma política. É o seu fim natural. A concentração da
produção e o crescimento irrefreável dos Estados provoca monopólios mundiais e a formação
de oligarquias financeiras, que passam a partilhar o mundo de acordo com seus interesses. A
“socialização da produção” torna-se inevitável, uma vez que cada parte da produção se encontra
num lugar do mundo. Essa internacionalização da produção gera o crescimento desigual do
capitalismo e, consequentemente, induz às disparidades regionais globais.