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capital-dinheiro, sob a forma de capital a juros. Marx refere-se a esta forma de existência do
capital (D-D’) como “a mais absurda”, aquela em que “a inversão e a materialização das
relações de produção são elevadas à mais alta potência: a forma juros, a forma simples do
O processo de reprodução do capital em seu conjunto, que supõe a subordinação real da força
mercadorias. Não só é obrigado a percorrer sucessivamente estas três etapas, como deve
existir permanentemente sob cada uma destas formas[3]. A unidade destas três fases é a
expressão mais geral e também a mais elementar do circuito capitalista. Mais geral, porque a
unidade das três formas que integram o processo de circulação do capital explicita a natureza
qualquer de suas etapas[4]. E mais elementar, porque tal unidade, apenas constitutiva do
decomposição dos elementos que constituem o modo de produção capitalista, mas desdobra
analiticamente as possibilidades de que estas formas tenham uma evolução histórica numa
vez maior do sistema de credito sobre as órbitas mercantil e produtiva. O capital a juros
nasce, portanto, da necessidade da perpétua expansão e valorização do capital para além dos
trabalho a seu domino e criar novos mercados, o capital precisa existir permanentemente de
maneira pode fluir sem obstáculos para colher novas oportunidades de lucro e,
capitalista que historicamente concretiza esta fusão de interesses é a sociedade anônima, cujo
caráter “coletivista” se sobrepõe aos capitais dispersos e, ao mesmo tempo, reforça sua
realizando um duplo movimento. De um lado, propõe uma formulação geral que se destina a
caracterizar uma etapa mais avançada da concentração de capitais. Esta etapa é mais
Os grandes bancos que participam da constituição e gestão do capital das grandes empresas
estão interessados na supressão da concorrência entre elas e, portanto, em reforçar seu caráter
monopolista alemão. Não há dúvida de que uma outra parte de sua investigação diz respeito à
forma específica de associação entre os bancos e as grandes empresas, que deu origem aos
grandes cartéis alemães. É específica, sobretudo, diante do papel que os bancos alemães
movimento analítico na obra de Hilferding levou alguns autores, Sweezy entre eles, a
interesses entre o capital bancário e o capital industrial, sob a hegemonia do primeiro, com a
tomado como paradigma do que ele mesmo qualificou de modern capitalism. Hobson, em
seu livro clássico, cuja primeira edição é do final do século passado, desenha os contornos
teóricos do assim chamado capitalismo trustificado. Esta forma “moderna” assumida pelo
Não poucas vezes têm sido ressaltadas, para explicar o atual predomínio da economia
industrial europeu. Com o mesmo propósito alguns autores apontam para a natureza
continental do espaço econômico americano. Mais recentemente (ver Strategy and Structure
No capítulo X, The Financier, Hobson aponta magistralmente para os elementos básicos que,
ainda hoje, podem ser considerados essenciais na estruturação econômica do grande capital
monopolista.
mãos dos que operam a máquina monetária das sociedades industriais desenvolvidas, isto é,
dos grandes bancos, um poder crescente no manejo estratégico das relações intersticiais
competentes das grandes corporações”. Como se vê, Hobson coloca o acento na “classe
financeira” enquanto retora estratégica da grande empresa, e não no fato de que estejam os
bancos comprometidos com a gestão direta da empresa industrial. Em sua perspectiva, a
negócios”, já que, por sua forma peculiar de estruturação, a moderna companhia americana
Na verdade, o que distingue esta forma de capital financeiro das que a precederam
honesta costuma atribuir um valor separado aos ativos tangíveis – terra, edifícios,
maquinaria, estoques etc. – e aos ativos não-tangíveis; como patentes, marcas, posição no
mercado etc. No entanto, a estimativa real do valor dos ativos é efetivamente calculada a
partir de sua capacidade de ganhos. Se os ativos tangíveis podem ser avaliados pelo seu custo
capacidade líquida de ganho. Esta, por sua vez, só pode ser estimada como o valor
capitalizado da totalidade dos rendimentos futuros esperados, menos o custo de reposição dos
ativos tangíveis. É aqui, neste último elemento (ativos não-tangíveis) que reside a
capitalização para além dos limites da capacidade “real” de valorização. Desta forma, a
fato de que a “classe financeira” só especula nos mercados de capitais ou de dinheiro com os
práticas, do ponto de vista do conjunto da economia monopolista, só pode ter livre curso com
o alargamento do credito: “Quando nos damos conta do duplo papel desempenhado pelos
força vital dos negócios modernos, a classe que controla o crédito vai se tornando cada vez
mais poderosa, tomando para si – como seus lucros – uma proporção cada vez maior do
produto da indústria.
que a autonomização do capital a juros, referida por Marx, acaba se resolvendo no comando
sobre o capital produtivo, independentemente da forma particular que esse comando possa
assumir ou da forma morfológica que a grande empresa venha a adotar em suas estratégias de
expansão. A função “corruptora” do capital a juros, vislumbrada por Marx em sua imagem do
financeira”, enquanto classe distinta dos capitalistas e dos investidores “amadores”, utiliza
sua função legítima e profícua de direção da parte mais importante dos fluxos de capital para
desenvolver métodos de ganho privado, todos eles “um abuso e uma corrupção de sua
verdadeira função”[9].
A grande empresa americana constrói seu poder monopolista sobre o caráter intrinsecamente
financeiro da associação capitalista que lhe deu origem. É desta dimensão, mais do que da
tudo isso está inscrito na matriz originária da grande corporação americana. E esta se
capital financeiro que não pode ser reinvestido dentro da própria indústria trustificada. Deve
expandir-se para fora. Os novos lucros têm que ser transformados em capital financeiro geral
ramos industriais onde prevaleçam métodos de produção capitalista. Por maior que seja a
extensão do espaço nacional monopolizado e protegido pelo Estado nacional, como era o
caso dos Estados Unidos, a expansão contínua dos lucros excedentes obriga a busca de
suficiente nem para a tendência ao declínio da taxa de lucro, nem para absorver a massa
crescente de capital financeiro, que acompanha a supercapitalização da grande empresa.
global, o que, a nosso juízo, vai muito além da simples “reação imitativa” (Knikerbroker) ou
práticas dos Estados imperiais anteriores, desde a face liberal do comércio exterior, até a face
Este último cumpre a dupla tarefa de unificar a estrutura global do capital e, ao mesmo
instituições financeiras.
A unificação transnacional dos esquemas de valorização do grande capital não implica, como
muitos autores parececem supor, na tendência à desaparição do Estado Nacional como agente
articulador, em cada mercado, dos capitais locais com a empresa multinacional. Muito ao
lhe dá a base de sustentação política), mas também para garantir a reprodução ampliada da
fração do capital internacional ali ancorada. É neste sentido que os interesses são
poder de emissão e controle do padrão monetário nacional, maior ou menor seja a força
internacional de sua moeda. Esta – flutuante ou não sua valorização relativa – é o único
de atividades especulativas no mercado monetário local, a partir das pressões exercidas pelos
compra da moeda nacional ou sua paridade com as demais moedas. A tão argumentada
decorre fundamentalmente deste fenômeno, e não de uma suposta falta de autoridade dos
estabelecimento de um mercado financeiro à escala mundial, tendo como ponto de apoio para
como instrumento de especulação o manejo das moedas fortes contra as mais fracas.
estabelecem um circuito especial que supera as restrições impostas pelos respectivos Bancos
próprios bancos privados. Neste sentido, o surgimento deste circuito especial transnacional
O padrão monetário de transição que se instaurou por etapas a partir da crise de 1971 e mais
(estritamente financeira), manifesta-se no fato de que 70% das carteiras dos assim
contornos dificilmente imagináveis por Marx em seus piores pesadelos. Pior do que isto, pelo
fato desta autonomização se dar através da operação de um circuito intrabancário, que não
mais respeita nenhum padrão monetário estável, o jogo especulativo imobiliza os controles
exercidos pelos Bancos Centrais, inclusive os dos países de moeda forte, que estão obrigados,
obriga quer a um socorro periódico do dólar, quer à submissão das demais moedas aos
profundo de seu poder privado de emissão se colocar acima do poder de emissão dos Estados
Nacionais. Suas aplicações estão distribuídas de forma ampla e generalizada por todos os
Desta forma, as taxas de juros internas passam a ser uma espécie de preço sombra das taxas
condições de crédito interno. Os circuitos privados de crédito interno, por sua vez, passam a
estabilização das autoridades monetárias. Para os países fortemente devedores, como é o caso
dos Estados Unidos e da maioria dos países latino-americanos, não é possível evitar a
nunca foi possível. O capital financeiro, ao tornar-se transnacional, não realiza o sonho
dourado dos que viam na cartelização mundial a formação de uma ordem supranacional. Este
do “capital livre”, numa espécie de laissez-faire sem o apoio nem o endereço visível de uma
velha potência imperial, que dele se beneficie. Deste modo, o domínio da forma mais geral
capitalista.
Ciências Humanas, Vol. 9, 1980. Livraria Editora Ciências Humanas, São Paulo.
[2] Marx, K., El Capital, vol. III, p. 374. Tradução espanhola, Fondo de Cultura Económica,
Mexico, 1966.
[3] “Cada forma funcional, ainda que nela se expresse constantemente uma parte distinta do
capital, percorre assim, simultaneamente com as outras, seu próprio ciclo. Uma parte do
capital, que muda constantemente, que constantemente se reproduz, existe como capital-
mercadorias que se converte em dinheiro; outra parte, como capital-dinheiro que se converte
A existência constante de todas estas três formas se acha condicionada precisamente pelo
ciclo do capital total, passando por estas três fases.” Marx, K., El Capital, vol. II, p. 93.
[4] “É a unidade dos três ciclos (…) que realiza a continuidade do processo total. O capital
global da sociedade possui sempre esta continuidade, e seu processo representa sempre a
unidade dos três ciclos.” Marx, K., El Capital, vol. II, p. 94.
[6] Hobson, J. A., The Evolution of Modern Capitalism, pp. 236/237, Allen and Unwin,
Londres, 1965.
[7] Gostaríamos de chamar a atenção para o tratamento que Keynes, na Teoria Geral, dá ao
elementos que influenciam a decisão de investir. Assim, no capítulo 12 de sua obra maior,
Keynes argumenta que “as decisões de investir do velho tipo eram, em grande medida,
irrevogáveis, não só para a comunidade em conjunto, como também para os indivíduos. Com
a separação entre a propriedade e a direção que ocorre hoje e com o desenvolvimento dos
que às vezes facilita o investimento, mas também contribui para aumentar muito a
tentar reavaliar com freqüência um investimento com o qual estamos comprometidos. Mas a
bolsa reavalia muitos investimentos todos os dias e estas reavaliações dão freqüentes
oportunidades aos indivíduos (ainda que não à comunidade em seu conjunto) para revisar
seus compromissos (…). [As] reavaliações diárias das bolsas de valores, ainda que sejam
investimentos correntes; porque não tem sentido criar uma nova empresa incorrendo em um
gasto maior que aquele com que se pode comprar outra igual já existente (…). Por isso certos
investimentos estão regulados pela média das expectativas daqueles que negociam na bolsa
de valores, tal como se manifesta no preço das ações, muito mais que pelas expectativas