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Apresentação François Chesnais

Finance Capital Today


Crescimento das finanças (finance) – negociações com ativos financeiros
em valor nos últimos 40 anos

Hipótese sobre do que se está passando – crescimento das finanças, da


exploração do trabalho e queda constante da taxa de lucro, com
superprodução e superacumulação, fenômenos interligados,
coerentemente interconectados e que fazem emergir contradições dentro
da ordem hiperliberal.(grifo nosso)
• Segundo Chesnais há uma crise do capital, do capital globalizado, que
segundo a leitura que faço do autor, se mistura com a crise da
hegemonia dos EUA sem se resumir a esta. Seria mais que uma crise
de hegemonia, mas a própria crise global do capitalismo, na qual se
insere a crise da hegemonia.
• (obs. Citações de Lapavitsas, McNally, Panitch e Gindin, Michael
Roberts)
Existe um problema de realização: D-M ... P ... M’-D’

• “Acentuadas todas as dificuldades de realização, o


universo das firmas responde aumentando a
competição com as suas consequencias em termos de
intensificação da exploração, agravamento da
exploração dos recursos naturais e uma acentuação
do que o filósofo húngaro Istvan Mészaros referiu
como a “generalizada produção-desperdício”.” (p.04,
tradução nossa).
Estagnação ou crise geral?
• Rejeição, desde uma perspectiva marxista, do termo
keynesiano “estagnação secular” (utilizado, por. ex. por
Eichengreen). Não se trata de uma crise de estagnação, mas
de uma crise total, que combina crise econômica, da ordem
internacional e civilizacional. O capitalismo gera riqueza, mas
sob uma condição de precarização crescente das condições
de trabalho e das condições de vida dos trabalhadores.
Finance capital e Financial Capital

• Financial capital, como geralmente se usa: dinheiro concentrado


operando nos mercados financeiros
• Finance capital: utilizando a definição de Overbeek, de 1982 – “Por
finance capital nós designamos a integração dos circuitos do capital
dinheiro, do capital produtivo e do capital mercadoria sob condições
de monopolização e internacionalização do capital por meio de uma
série de links e relações entre os capitais individuais.” (p. 5, nota 22,
Overbeek, op. cit. Chesnais)
As crises e capital portador de juros
• As crises: “(...) a massa de capital dinheiro perseguindo os mesmo
objetivo num contexto de baixo investimento e insuficiente criação de
excedente de valor necessariamente leva a episódios repetidos de
crises financeiras mais ou menos sérias.” (p.6)
• Capital portador de juros: o capital dinheiro que se transforma ele
próprio em mercadoria transacionável. (D-D’= essa relação se
estabelece sem que se crie valor, pois não há trabalho embutido; esse
D’ cria a pulsão do capital dinheiro por autonomizar-se da produção, o
que é uma mera ilusão, pois significa criar uma criatura sem a sua
substancia, a produção da mais valia, do mais valor, do excedente).
Riqueza líquida, controle do excedente e
bloco no poder
• Mas os detentores da riqueza na forma líquida buscam absorver o excedente
criado no processo produtivo por meio da valorização do capital dinheiro na
esfera financeira e fazendo isto buscam gerar inovações financeiras que permitam
ao capital valorizar-se sem que este volte para o processo de produção de
mercadorias.
• O crescimento desta esfera “autonomizada” do circuito de valorização do capital,
corresponde a um processo de institucionalização do poder dos atores
financeiros, conformando um bloco de poder, algo que se vê de forma clara
quando se estuda o poder dos bancos junto aos governos, o poder Wall Street no
jogo político da maior potencia. O poder político e econômico se combinam num
crescente mecanismo de constituição de um capitalismo de propriedades
cruzadas, que junta o capital financeiro, produtivo e comercial em uma só
unidade (as holdings; os fundos de investidores).
A economia mundial como um objetivo analítico
(A economia mundial como totalidade do capital, no qual o
conceito de mercado está inserido.)
• “O ‘mercado mundial’, como amplamente estabelecido nos anos 1990
por meio da ação do capital e do estado liderado pelos EUA, é o lugar
onde as CTNs desenvolvem suas operações bem como o espaço da
rivalidade intercapitalista e interimperialista.” (p. 12)
• Nesta discussão sobre a atual divisão internacional do trabalho,
Chesnais coloca a China como um centro de acumulação de capital e
portanto também como um país opressor, nos termos que o autor
reivindica da obra de Lenin. (OBS: o faz sem desenvolver a temática
na introdução do livro; cabe estabelecer contrapontos).
Da teoria da internacionalização do capital industrial à teoria da
globalização financeira

• O autor volta ao tema de que a crise atual não é uma crise da financeirização, mas uma crise do
capitalismo como totalidade.
• A gênese da influencia intelectual do autor: Charles-Albert Michalet, Christian Palloix e Vladimir
Andreff. Com estes autores, Chesnais trabalhou durante muito tempo nos estudos sobre a
internacionalização produtiva. Este trabalho resultou no livro A Mundialização do Capital, livro
dos anos 1990. Estes estudos dialogavam bem com autores preocupados com a questão da
dependência, das relações centro-periferia, como Samir Amin, Celso Furtado, Andre Gunder Frank
e com as perspectivas regulacionistas da école de la régulation francesa.
• As discussões sobre as finanças que influenciaram a parte final da obra mundialização do capital
vieram da escola da regulação, dos trabalhos de Michel Aglietta. Progressivamente Chesnais se
distanciará desta escola, se voltando mais para a busca de uma abordagem mais pura do
marxismo com o tema, neste caso, ele cita o trabalho de Gerard Duménil e Dominique Levy nos
Seminários de Estudos Marxistas em 2006 que resultou num livro somente sobre finanças
(traduzido para o português como a Finança Capitalista). Esse trabalho de recorte marxista se
adensa com a leitura da parte V do livro 3 do capital.
Financeirização como discutido por Chesnais no livro em
questão

• A financeirização refere tanto ao processo da produção como da ‘indústria


financeira’ propriamente dita.
• O crescimento da esfera de valorização financeira do capital tem a ver com
a concentração e centralização do capital. Tem a ver com o crescimento da
dívida pública, como um mecanismo de transferência do excedente. Tem a
ver com o avanço dos mercados financeiros. Com a financeirização de
disversos aspectos da vida social. Com a financeirização das operações
industriais. As corporações focam menos hoje em dia a exploração
intramuros e mais na apropriação predatória da mais valia das empresas
fracas, por meio do poder de monopólio ou monopsonio. Há um processo
de crescente autonomização da esfera financeira.
Não “desvio dos lucros” mas a acumulação do capital fictício

• Chesnais condena a ideia de que a queda da taxa de lucro do capital


produtivo se deve a um desvio do investimento do setor produtivo para
a esfera financeira, segundo o autor uma ideia que leva às ideias
estagnacionisas de Paul Sweezy e de autores não heterodoxos não
marxistas, inclusive neokeynesianos e por pós-kenesianos como
Stockhammer. Dentro do marxismo isto se faz presente em diversos
autores franceses também, com quais Chesnais tem afinidade, como
Dumenil e Levy. (obs: Chesnais não estaria forçando a barra? O que me
parece que os autores dizem é que a queda da taxa de lucro leva ao
desvio do capital para o setor financeiro e não que este desvio é a causa
da estagnação, ao menos nos autores marxistas esta é a perspectiva).
Considerações sobre o tema
• O que Chesnais argumenta é que o capitalismo na era do
imperialismo atinge a etapa da acumulação do capital fictício como o
elemento central dos capital monopolista, esta seria a forma
característica da acumulação na era do capital monopolista.
• Sobre o termo “capital fictício” ver a referencia dada por Chesnais à
inúmeros autores na página 18. (Ashman, Fine, Newman 2011, Loren
Goldner 2013, Smith e Butovsky 2013 e Maria Ivanova 2011 e 2013,
Tony Norfield 2012, Michael Roberts, David McNally 2011, Costas
Lapavitsas 2011 e 2013, Cedric Durand 2014)
A ‘Crise na esfera do crédito e do dinheiro’ em 2008

• Na perspectiva de Marx a crise na esfera do crédito e do dinheiro é


parte integral das crises de sobreacumulação e sobreprodução.
• Os sistemas atuais de crédito e de dinheiro estão ligados por meio da
diversificação das carteiras de investimentos, da alavancagem e dos
circuitos especulativos sob diferentes formas de riqueza
transfigurada, quando um mercado relevante de ativos entra em
colapso a fuga por segurança em busca da troca de ativos tóxicos por
ativos de baixo risco gera uma corrida por liquidez o que põe em risco
o circuito do dinheiro e simultaneamente gera problemas no circuito
do crédito, dada a aversão ao risco em situações de estresse no
mercado. (texto do professor Jaime Cesar Coelho)

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