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O que é ...
o capitalismo?
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Portanto, o valor de troca é o valor que tem um produto de poder ser trocado em determinadas
proporções com outro produto. Mesmo na época do escambo, trocava-se um produto por outro em função
de certos critérios.
A mercadoria se distingue de um produto, caracterizado apenas pelo valor de uso, por ter um duplo
caráter (valor de uso e valor de troca). Nas sociedades primitivas, se existia uma divisão social do
trabalho, era no interior da tribo: cada um tinha uma tarefa (caça, pesca, etc.) e contribuía ao produto
social do conjunto da tribo. O resultado estava destinado a todos os membros da tribo sem que houvesse
troca de mercadorias. Mas isso implicava em uma propriedade coletiva.
A partir do momento em que existe a propriedade privada, cada qual produz com seus próprios meios
de produção, o produtor produz então uma mercadoria da qual é proprietário e que necessariamente está
destinada à troca. Em uma sociedade caracterizada pela propriedade privada, a troca de mercadorias
assegura a distribuição final dos produtos, tal como era feito pela distribuição direta no comunismo
primitivo.
A mercadoria é um produto em um sistema de troca. Nele se trocam umas mercadorias por outras. Mas,
qual é a natureza que a troca confere? "O valor de troca se apresenta como relação quantitativa, como
proporção em que se trocam valores de uso de uma classe por valores de uso de outra classe"[1]
Somente podem ser trocadas se diferirem umas das outras qualitativamente, se seus valores de uso são
diferentes. Mas para que eles possam ser trocados, eles devem ter em comum algo quantitativamente
idêntico; em outras palavras, o valor de troca deve ser igual. O caráter duplo e contraditório da mercadoria
se manifesta também no fato de que apenas tem valor de troca na medida que também tem um valor de
uso, ou seja, se a mercadoria tem utilidade. Colocando a questão novamente: a mercadoria tem um valor
de uso (tem uma utilidade) mas o que é o que torna possível a troca?, qual é o valor dessa troca?, o que é
que permite medir esse valor?
O que faz o valor de troca dos produtos serem iguais? Marx demonstra em O Capital que toda
mercadoria contém certa quantidade de trabalho humano cristalizado.
"Baseando-se nas pesquisas de Ricardo [2] Marx disse: o valor das mercadorias se determina pelo
trabalho humano genérico, socialmente necessário que está incorporado nelas, e é medido pela sua
duração."(F. Engels, Anti-Dühring) [3].
Então o que lhe permite medir o valor de troca é a quantidade de trabalho socialmente
necessário.
Marx, em O Capital, refuta claramente a ideia de que "quanto mais preguiçoso ou desajeitado fosse
um homem, tanto mais valiosa seria sua mercadoria, porque ele precisaria mais tempo para fabricá-la".
Nada disso. A questão é " a quantidade de trabalho socialmente necessário, ou seja, o tempo de trabalho
necessário nas condições técnicas médias de produção". "O conjunto da força de trabalho da sociedade
(...) torna aqui a mesma força humana de trabalho, por mais que se componha de inumeráveis forças de
trabalho individuais", sublinha Marx. E esta "quantidade média" pode ser medida em função do
desenvolvimento das técnicas, da ciência e da organização do trabalho humano. "Em termos gerais:
quanto maior a força produtiva do trabalho, menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um
artigo, menor a massa de trabalho cristalizada nele, menor seu valor" (Tomo I) [4].
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Assim, o valor de uma mercadoria é medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a sua
produção (que inclui todas as fases da produção, incluindo a produção das máquinas e as ferramentas,
produtos de um trabalho humano anterior). O valor de uma mercadoria é, portanto, determinado pelo
trabalho direto (o uso da força de trabalho) e pelo trabalho indireto que contém, ou seja, pelo trabalho
incorporado nas matérias-primas utilizadas e nas máquinas que foram utilizadas. "O tempo de trabalho
necessário para produzir um artigo inclui também o tempo de trabalho necessário para produzir os artigos
consumidos no ato da sua produção." (O Capital, Tomo I, capítulo 8) [5].
O preço e a moeda
Lembremos que a mercadoria tem um duplo caráter: um valor de uso e um valor de troca.
A circulação de mercadorias começou em um fase determinada da história da humanidade, sob a forma
escambo/permuta. Uma mercadoria (tecido) é trocada por outra (ferramentas). Evidentemente, neste
exemplo, é necessário que coincidam os dois possuidores de mercadorias, que tem cada um uso que dar ao
outro. O que torna possível a troca dessas mercadorias, uma certa quantidade de tecido por uma certa
quantidade de ferramentas? O que determina o valor dessas mercadorias é a quantidade de trabalho
socialmente necessário para sua produção.
Em determinado estágio de desenvolvimento das forças produtivas e de circulação das mercadorias, esta
forma primitiva teve de ser substituída por outro modo de troca. Com o aparecimento da moeda, nossos
dois vendedores de ferramentas e tecidos não precisam ter necessidades de trocas iguais. Basta
transformar a mercadoria em moeda, para poder procurar depois com essa moeda o equivalente em valor
de outra mercadoria.
Portanto, a moeda é uma mercadoria trocada por outras. Mas desempenha um papel especial: é o
equivalente geral de todas as outras mercadorias.
"A forma de equivalente geral é uma forma de valor em geral. (...) Apenas depois do momento em que
esse caráter exclusivo é vinculado a um gênero especial de mercadoria, toma a consistência a forma de
valor relativa, se fixa em um objeto único e adquire uma autenticidade social. A mercadoria especial,
com cuja forma natural se identifica pouco a pouco na sociedade a forma equivalente, se converte em
mercadoria-moeda (...), sua função social específica, e portanto seu monopólio social, é desempenhar
dentro do mundo das mercadorias o papel de equivalente geral" (O Capital, livro I, cap. 1)1.
Assim a moeda é o equivalente geral, ou seja, que proporciona ao conjunto de mercadorias a matéria
em que podem expressar seu valor. Cumpre a função de medida de valores. Mas, para desempenhar esse
papel, a moeda possui ela mesma um valor, porque tem incorporado trabalho humano e não por
misteriosas razões.
"As mercadorias não se tornam mensuráveis em função do dinheiro. Pelo contrário. Por serem todas
as mercadorias, enquanto valores, trabalho humano objetivado, e, portanto, mensurável em si e para si,
pode-se medir coletivamente seus valores na mesma mercadoria específica e esta se converte em sua
medida coletiva de valor, isto é, em dinheiro". (Karl Marx, O capital, tomo I, capítulo 3)2.
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para produção nelas cristalizado. Sobre a base deste valor, as trocas são realizadas no marco de um
mercado determinado pela relação entre a oferta e a demanda. Assim, os preços flutuam em torno do valor
determinado pela produção. Repetindo, o que determina o valor de troca de um produto é o tempo de
trabalho socialmente necessário para sua produção. A troca, mesmo sob a forma de permuta, entre um
machado e, digamos, três peças de tecido, torna-se possível pela adequação entre o tempo de trabalho
necessário para a produção desse machado e das três peças de tecido (M-M). Com o surgimento da
moeda, os termos de troca passam a ser mais abstratos, mas funcionam de acordo com a mesma lei. A
possibilidade de vender um machado em troca de dinheiro para comprar três peças de tecido, continua
determinada pelo tempo de trabalho necessário para produzi-los (M-D-M).
Na permuta, os termos de troca eram M (mercadoria) por M (mercadoria). Com o surgimento do
equivalente geral (o dinheiro), o vendedor oferece uma mercadoria (M) que troca por dinheiro (D), com o
qual compra mais tarde outra mercadoria (M).
O que Marx resume em M-D-M é a fórmula da economia mercantil. O modo de produção capitalista é
uma economia mercantil e esta fórmula persiste sob seu domínio. Mas a especificidade da fase capitalista
triunfante é que o dinheiro existe nela sob a forma de capital, introduzindo uma modificação essencial que
Marx apresenta sob a forma D-M-D', fórmula que qualifica de fórmula geral do capital.
Assim, o dinheiro não é apenas, como vimos antes, o equivalente geral de troca (que é, e continua
sendo desde a criação do dinheiro), mas o ponto de partida e de chegada da operação. É aí que reside a
base fundamental do regime capitalista.
Uma vez iniciado o movimento D-M-D' não existe nenhuma razão para que se detenha. O novo valor
D' desempenha agora o papel de D do início do processo e, novamente, deve dar lugar a outro D'. "A
circulação do dinheiro como capital é, pelo contrário, um fim em si mesmo, já que a valorização do valor
só existe dentro deste movimento sempre renovado. O movimento do capital é, portanto, sem medida" [4]
(idem).
O dinheiro não para. O que possibilita a passagem de D para D'? Qual é o "segredo" do modo de
produção capitalista que permite através da compra (dinheiro, D) de uma mercadoria (M) obter mais
dinheiro (D')? Como se explica D' > D?
A força de trabalho
A questão do trabalho humano é a questão central da análise marxista, mas também da ciência (Veja a
caderno nº 1; "O que é o marxismo?") para compreender a história da humanidade. De particular
importância no sistema capitalista. Hoje é comum ouvir que "o trabalho não é uma mercadoria" [5].
Vimos anteriormente que o capital não está baseado na escravidão, nem na servidão, mas na existência
de homens livres, livres para vender seus braços. Marx continua:
"Para a transformação do dinheiro em capital, o possuidor de dinheiro, tem que encontrar no mercado
o trabalhador livre; livre em duplo sentido de que por um lado dispõe, enquanto homem livre, de sua
força de trabalho, enquanto mercadoria própria, e de que, por outro lado, não tem outras mercadorias
para vender, está isento e desprovido, livre de todas as coisas necessárias para por em atividade sua
força de trabalho (O Capital, tomo I, capítulo 4) [1].
O trabalho assalariado não é escravidão, um trabalhador vende sua força de trabalho, um capitalista
compra essa mercadoria que é a força de trabalho humana. Como Marx respondeu a Proudhon [2]: "O
trabalho humano sob o capitalismo, não é roubo, é exploração do trabalho."
Salientamos que não é o trabalho que é pago por seu valor -- não tem nenhum em si mesmo --; se assim
fosse não existiria nem capitalismo nem exploração do trabalho. O que o capitalista compra é a força de
trabalho.
A força de trabalho é uma mercadoria, como tudo no sistema capitalista. Como para qualquer
mercadoria, seu valor é medido pela quantidade de trabalho para produzi-la (reproduzi-la). Isto é, o que
precisa para sua subsistência, sua formação e sua reprodução.
"este valor é determinado "igual a qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário para
a produção, -- ou seja, também para a reprodução -- desse artigo concreto", isto é, pelo tempo de
trabalho que é necessário para a produção dos alimentos necessários para o trabalhador para se
sustentar em uma situação de aptidão para o trabalho e para a reprodução de sua espécie" ( F. Engels,
Anti-Düring)3.
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Mas, atenção, o tempo de trabalho socialmente necessário para a reprodução da força de trabalho não é
um "salário-mínimo biológico", um mínimo vital. Marx dizia: "O operário francês necessita vinho, o
alemão cerveja".
"As próprias necessidades naturais -- como alimentação, vestuário, calefação, moradia, etc. -- são
diferentes de acordo com as peculiaridades climáticas e as demais condições naturais de um país. Além
disso, até o volume das chamadas necessidades imprescindíveis, bem como a natureza de sua satisfação,
é um produto histórico e depende, portanto, em grande parte do grau de civilização alcançado" (O
Capital, livro I, capítulo 6) 4.
É verdade que a quantidade de mercadorias necessárias para a satisfação das necessidades dos
trabalhadores não é a mesma no século XIX, como no século XXI, ou no sudeste asiático do que na
Europa.
Uma série de fatores determina o valor da força de trabalho, como uma série de condições determinam
o valor de qualquer mercadoria. O valor da força de trabalho não é fixo, determinado, eterno, mas, como o
valor de qualquer mercadoria varia de acordo com a época:
-- por um lado, em relação com o desenvolvimento das técnicas, os novos descobrimentos e métodos
de organização do trabalho, a qualificação (Marx distingue assim o trabalho simples e o trabalho
complexo);
-- por outro lado, de acordo com os resultados da luta de classe, que resulta em conquistas dos
trabalhadores ou a retrocessos (por exemplo, a Seguridade Social que é um salário diferido, é uma
expressão do valor da força de trabalho).
A força de trabalho é uma mercadoria. Uma mercadoria que o capitalista compra pelo seu valor (ou
seja, o tempo de trabalho socialmente necessário para sua [re]produção). O salário é o preço da força de
trabalho, não o preço do trabalho. O que o trabalhador vende é sua força de trabalho, não seu trabalho. O
trabalho é a utilização que se faz da força de trabalho durante um certo tempo.
Esta questão do tempo é fundamental. De fato, o capitalismo compra a força de trabalho ao preço
necessário para a reprodução desta força de trabalho, mas decide, sob determinadas condições --
estabelecidas principalmente pela luta de classes --, quanto tempo irá utilizar esta força de trabalho.
E é aí onde irá se manifestar a natureza particular dessa mercadoria que é a força de trabalho.
A mais-valia do capital
Como vimos, o capital é uma "relação social de exploração" e não uma coisa misteriosa que se reproduz
por si mesma. É a relação entre uma minoria, os burgueses que possuem os meios de produção (a classe
capitalista) e a grande massa de proletários que são trabalhadores livres, que não possuem mais que sua
força de trabalho que estão obrigados a vender para viver. Na produção mercantil simples, a chamada
"economia mercantil" que se desenvolveu durante séculos, cada produtor é individualmente proprietário
de seus meios de produção. Com o desenvolvimento das forças produtivas, a complexidade e a
hierarquização da produção mercantil -- consequência do desenvolvimento da economia e da indústria,
que estará na base do nascimento do capitalismo --, a relação com a produção irá se modificar.
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Na produção capitalista, a propriedade dos meios de produção continua sendo privada, mas estas
passam a pertencer exclusivamente a uma minoria, enquanto que os demais produtores, os trabalhadores,
foram despojados de seus meios de produção. O que caracteriza o capitalismo não é a existência da
propriedade privada como tal (que existe desde a existência da produção mercantil), mas o fato de que esta
propriedade privada seja privilégio exclusivo de uma classe, a classe capitalista.
Com seu dinheiro inicial (D), o capitalista comprará uma mercadoria (M) ou melhor, duas classes de
mercadorias:
- locais, máquinas, matérias-primas (que também são produtos de um trabalho social anterior),
- a força de trabalho operária. Como vimos anteriormente, o salário não retribui o trabalho, mas a compra
da força de trabalho; esta é uma mercadoria cujo valor, como qualquer mercadoria, é mensurável pelo
tempo de trabalho necessário para sua produção (neste caso, sua reprodução). O valor da força de trabalho
é variável de acordo com a etapa de desenvolvimento da sociedade e inclui os resultados da luta de classes.
"Ao comprar a força de trabalho do operário e pagá-la por seu valor, o capitalista adquire, como
qualquer outro comprador, o direito de consumir ou usar a mercadoria comprada. A força de trabalho de
um homem é consumida ou utilizada, sendo colocada para trabalhar, igual a uma máquina utilizada
quando é posta para funcionar. Portanto, o capitalista, ao pagar o valor diário ou semanal da força de
trabalho do operário, adquire o direito de servir-se dela ou fazê-la trabalhar durante todo o dia ou toda a
semana. A jornada de trabalho ou a semana de trabalho tem, naturalmente, certos limites". (Karl Marx,
Salário, preço e lucro). 1
Portanto, a compra da mercadoria "força de trabalho" dá ao capitalista o direito de utilizá-la. O valor
desta força de trabalho está determinado, como já vimos, pela quantidade de trabalho necessário para a
sua manutenção. Mas o uso desta força de trabalho só está limitado pela força e energia do operário em
determinadas condições históricas. O valor diário ou semanal desta força de trabalho é, portanto,
completamente diferente do exercício diário ou semanal desta força 2.
"A quantidade de trabalho que serve de limite ao valor da força de trabalho do operário não limita, e
muito menos, a quantidade de trabalho que sua força de trabalho pode executar" (idem) 3.
Engels insiste nesta questão fundamental: "O que um trabalhador produz e o que custa são coisas
diferentes como o que produz e o que custa uma máquina. O valor criado por um trabalhador em uma
jornada de 12 horas nada tem nada em comum com o valor dos alimentos que consome nesta jornada de
trabalho com suas pausas correspondentes". (F. Engels, Anti-Düring)4.
Assim, o segredo do modo de produção capitalista consiste na compra de uma mercadoria especial,
especial no sentido de que produz mais valor do que tem em si mesma, essa mercadoria é a força de
trabalho. Marx continua:
"O valor diário da força de trabalho custava 3 xelins ($) porque, nela mesma, está objetivada meia
jornada de trabalho, isto porque os meios de vida necessários para produzir diariamente essa força de
trabalho custam meia jornada de trabalho". (...). "Se só é necessário meia jornada de trabalho para
manter sua subsistência por 24 horas, não impede, de modo algum, o trabalhador trabalhar um dia
inteiro. Portanto, o valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são duas
magnitudes diferentes. O capitalista sabe dessa diferença de valor ao comprar a força de trabalho. (...).
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Mas o decisivo foi o valor de uso, específico dessa mercadoria, que consiste em ser fonte de valor, e de
mais valor do que ela tem" (K.Marx, O Capital, tomo I, cap. 5, [tradução de Manuel Sacristán])1.
Voltemos à fórmula geral do capital: D-M-D' expressa a necessidade de crescimento do capital. Como
acontece a passagem D para D' (D'>D), ou seja um sobre-valor do capital? Através da utilização desta
mercadoria que é a força de trabalho, produtora de mais valor do que tem.
Para compreender melhor, vejamos um exemplo -- que não é mais que uma abstração, já que a realidade
não é assim --. Consideremos uma jornada de 8 horas. Consideremos também que na primeira metade da
jornada (4 horas), o valor produzido pelo trabalhador é de $250: $200 de valor transmitido pelos meios de
produção e $50 de novo valor criado pela força de trabalho.
Estes $50 correspondem ao valor da força de trabalho, ou seja, a quantidade de trabalho socialmente
necessário para a reprodução de sua força de trabalho (esses $50 são a compra de sua força de trabalho
através do salário). O capitalista não para a produção ao final de 4 horas de produção, mas de 8 horas.
Continua obrigando os trabalhadores a trabalharem 4 horas mais.
Nesta segunda meia jornada são produzidas $250 em mercadorias. $200 provém dos meios de produção
e $50 da força de trabalho. Mas, desta vez, esses $50 não tem contra-partida de salário, o qual não é outra
coisa que a compra da força de trabalho que é usada pelo capitalista. Compra a força de trabalho (o
salário) nas condições que correspondem as necessidades reais para a reprodução dessa força de trabalho,
mas a utilização dessa força de trabalho vai mais além e produz um excedente. É daí que surge a mais-
valia do capital "A parte do valor-mercadoria que consiste em mais-valia não lhe custa nada ao capitalista,
exatamente porque lhe custa ao trabalhador trabalho já pago" (O Capital, tomo III, cap.1)2.
Não se trata de um roubo. Não foi violada nenhuma lei da produção mercantil. O capitalista comprou as
mercadorias necessárias para a produção, inclusive a força de trabalho, pagando seu valor.
É esta força de trabalho que gera a mais-valia, que é um conceito específico do modo de produção
capitalista. O que não significa dizer que não houve excedente nos regimes sociais antigos; o nobre, por
exemplo, se apropriava de uma parte ou da totalidade desse excedente tributando com impostos o
camponês, mas o trabalho do camponês não era um trabalho assalariado. O trabalho assalariado se
generalizou no capitalismo.
Na produção capitalista, o modo de apropriação desse excedente é a apropriação pela classe capitalista
da mais-valia produzida pela classe trabalhadora. O trabalhador assalariado tem seu trabalho explorado. O
capitalismo é a exploração do trabalho.
O capital em si mesmo
Ao criticar a economia política inglesa através de seus eminentes representantes, Ricardo e Smith, os quais
em suas obras distinguiam o capital fixo (edifícios, máquinas) e capital circulante (matérias-primas,
ferramentas, salários) apoiando-se na amortização a longo prazo do capital fixo e, a curto prazo, a do
capital circulante, Marx refuta este enfoque não científico dos mecanismos da economia capitalista. Por
seu lado, diferencia o capital constante e o capital variável.
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Uma parte do capital inicial se transforma (através da compra) em edifícios, máquinas e matérias
primas (meios de produção); é o capital constante.
Como tudo, esses meios de produção são produtos de um trabalho anterior. Foram produzidos pela
força de trabalho; contém portanto, trabalho cristalizado. Por si mesmo não são nada se a força de
trabalho não os coloca em movimento. Esta parte do capital permanece sem modificação ao término do
processo de trabalho, não faz mais que transmitir o valor que contém, por isso se chama "capital
constante"; Marx também o chama de "trabalho morto", já que o valor dos meios de produção cristalizam
apenas se transmite ao novo produto através do trabalho vivo, a força de trabalho.
A parte do capital destinada a comprar a força de trabalho (o salário) se chama "capital variável" porque
é posta em movimento pela força de trabalho que dá lugar à mais-valia do capital através da exploração do
trabalho assalariado. "Também é chamado, por Marx, de "trabalho vivo", gerador de riqueza social e da
mais-valia.
Mas, insistimos, o capital é uma "relação social", ou seja, a relação de exploração dos trabalhadores
pelos capitalistas. Retomando uma antiga fórmula jurídica latina, Marx escreve: "le mort saisit le vif" ("o
morto se agarra ao vivo").
A massa do capital (o "trabalho morto") esmaga a força de trabalho humana (o "trabalho vivo"). A
acumulação permanente de capital no modo de produção capitalista é um fator de esmagamento do
proletariado. O trabalho morto (capital constante) liga-se ao trabalho vivo através da exploração da força
de trabalho através do capital variável.
Partindo da teoria da mais-valia do capital Marx pode revelar o "segredo" do capitalismo, a natureza
real desse sistema, o fato de que o trabalho assalariado é uma forma de exploração do trabalho como
foram, em etapa histórica anterior, a escravidão e a servidão (isto é, desde a divisão da sociedade em
classes). Assim, na obra de Marx, o descobrimento da mais-valia é o fundamento da lei do valor.
A lei do Valor
Marx estabeleceu a fórmula geral do valor: c + v + mv, ou seja, capital constante + capital variável +
mais-valia;
Em toda mercadoria, existe uma parte de capital constante (c), uma parte de trabalho vivo, pago pelo
salário(v) e uma parte de mais-trabalho (1) que constitui a mais-valia do capital (mv), ou seja: c+v+
mv.
Onde vai parar a mais-valia do capital? Serão apropriadas pelos capitalistas. Uma parte da mais-valia
fica em mãos do capitalista empresário, é o seu ganho (lucro); outra parte vai garantir a distribuição da
mercadoria; outra parte ao banco que concedeu um crédito. Essa divisão é imaginária, tanto mais em
nossa época quando as relações se tornaram mais complexas; apenas se pretende ajudar a compreender
que a mais-valia não é o lucro (que é uma parte dela), e que, como veremos está submetida a variações.
Para entender bem vamos definir o que Marx chama taxa de mais-valia e taxa de lucro (taxa de beneficio)
que não são idênticas.
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expressa a relação da mais valia com o capital variável, ou seja, a relação entre a parte do trabalho que
serve para assegurar a reprodução da força de trabalho e a parte do trabalho produtor de mais-valia.
Retomemos nosso exemplo imaginário, o de uma jornada de 8 horas divididas em dois (4 horas de
trabalho e 4 horas de mais-trabalho) e constatamos, através da utilização da força de trabalho, a taxa de
mais-valia (em primeiro lugar são necessário 4 horas para reproduzir a força de trabalho; no segundo
apenas 2 horas. 4 = 100%).
Peguemos outro exemplo: uma taxa de mais-valia de 300%: é o suficiente. Se 2 horas são suficientes para
produzir as condições de reprodução da força de trabalho, sendo a jornada de 8 horas, se trabalhará 6
horas mais para produzir a mais-valia; a taxa de mais valia será de 300%, contra apenas 100% no primeiro
caso.
A taxa de mais-valia é, portanto, a taxa de exploração (o prolongamento da jornada de trabalho, por
exemplo, será fonte de aumento da mais-valia).
A taxa de lucro (g') é formulada assim:
c+v/pl;
consiste na relação entre a mais valia e o conjunto do capital investido (c+v), isto é, o capital variável
(salários) e o capital constante (máquinas).
Mas para compreender a questão do lucro, primeiro devemos considerar o que Marx chama de
composição orgânica do capital de uma empresa. Esta se expressa em relação do capital constante com o
capital variável (c/v), ou seja, entre a parte investida em salários e a parte investida em meios de produção.
A composição orgânica do capital não é uma fórmula matemática abstrata. Poderia realmente ser
considerada, se não fossemos mais longe, que quanto mais importante é a parte do capital variável
(produtor de mais-valia) relativa ao capital constante (trabalho morto), mais importante seria a taxa de
lucro; e que, o inverso, quanto mais elevada é a parte do capital constante menor será a taxa de lucro.
A taxa média de lucro Vimos antes que a taxa de mais-valia e a taxa de lucro médio (ganho médio) não
são idênticas. A taxa de mais-valia equivale a medição da taxa de exploração (calculada pela relação
mais-valia/capital variável).
A taxa de lucro é a relação entre a mais-valia expropriada e o conjunto do capital investido (ou seja, c +
v).
terá uma taxa de lucro mais fraca que seu concorrente, menos equipado de máquinas e com o número de
assalariados inalterado. Mas o primeiro, pelo aumento da produtividade do trabalho, produzirá mais, mais
rápido, mais barato e ganhará o mercado. As leis da concorrência impulsionarão cada capitalista para
tentar aumentar sua produção e se equipar para tanto.
*[As] diferentes taxas de lucro se nivelam pela concorrência em uma taxa geral de lucro que é a média de
todas essas diferentes taxas de lucro" (Marx, O Capital, tomo III, capítulo 9)1.
É o nivelamento (equalização) da taxa de ganho que gera uma taxa média de ganho (ou taxa geral de
ganho). Este nivelamento (equalização) não significa que as taxas de lucro se alinhem automáticamente
uma com as outras. Expressa o fato de que o capitalista não é um homem isolado, mas um membro de
uma classe social. Portanto, este nivelamento (equalização) expressa um movimento de vai-vem (oscilante)
entre diferentes formas de investimento. Os capitais não estão isolados, mas são frações do capital global.
"Verifica-se que cada indivíduo capitalista, bem como o conjunto de todos os capitalistas em cada
esfera da produção particular, estão envolvidos na exploração da classe trabalhadora global pelo capital
global e a extensão de tal exploração não só pela simpatia geral da classe, mas na forma econômica
diretamente, porque, supõe-se que tendo em conta todas as outras circunstâncias, incluindo o valor da
constante global capital antecipadamente a taxa média de lucro depende do grau de exploração da obra
global de capital global..." (Capital, volume III, capítulo 10)2.
A classe capitalista é única, unida pela exploração do trabalho.
No caso I, a taxa de lucro é de 66% (com um capital global c+v de 150), no caso II de 50% e no caso III
de 33% (300 de capital global, dos quais 200 são de c); é o aumento do capital constante que faz cair a
taxa de lucro de 66% para 33%.
Marx explicou: "A produção capitalista (...) produz, pela constante diminuição relativa do capital
variável em relação ao constante, uma composição orgânica cada vez maior do capital total, cuja
consequência imediata é que a taxa de mais-valia, com o mesmo grau de exploração do trabalho e até
mesmo com maior exploração, se expressa em uma taxa de lucro que diminui progressivamente. (...) A
tendência progressiva de diminuir a taxa de lucro não é, portanto, senão uma expressão peculiar do
modo de produção capitalista, do progressivo desenvolvimento da força produtiva social do trabalho"2.
Esta citação de Marx esclarece-nos duas questões: é uma tendência, não uma lei absoluta. (Esta lei
tendencial não se expressa de modo mecânico, condenando a taxa de lucro a uma queda gradual.)
esta lei tendencial é o modo em que o capitalismo expressa o progresso da produtividade. O aumento da
produtividade do trabalho, necessário para conquistar partes de mercado, leva -- independente da
consciência de que disso tenham os capitalista -- a um aumento da composição orgânica do capital e,
consequentemente, a esta queda tendencial; independente da consciência que disso tenham os capitalistas,
o aumento da produção, a concentração e a centralização do capital são uma necessidade vital para o
funcionamento da produção capitalista, para a sobrevivência do regime.
Divergindo de Ricardo e Smith, qua já haviam abordado esta questão buscando respostas não no sistema
capitalista, mas em outra parte (Ricardo descrevia um "aumento do preço natural da mão de obra e, por
isso mesmo, uma tendência à queda dos lucros"), Marx escreveu: "Os economistas que, como Ricardo,
consideram que o modo de produção capitalista é o modo de produção absoluto percebem neste ponto
que esse modo de produção aplica a si mesmo uma barreira (...); e essa barreira peculiar dá o
testemunho da limitação e do caráter meramente histórico, transitório, do modo de produção capitalista"
(El Capital, tomo III, capítulo 15)1.
O desenvolvimento ilimitado da produção no capitalismo colide com a apropriação privada (o lucro ou
ganho).
Após descrever a lei geral da tendência decrescente da taxa de lucro (ou ganho), Marx analisa "as
influências contrárias que interferem na ação da lei geral e a anulam, caracterizando-a apenas como
uma tendência"2.
Entre elas está o aumento da taxa de exploração ou aumento da taxa de mais-valia, através de
diversas formas de intensificação do trabalho, como o prolongamento da jornada de trabalho. "O aumento
da taxa de mais-valor [mais-valia. (N. do T.)] (...) não revoga a lei geral. Mas faz com que aja mais como
uma tendência" (ibidem) 3.
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Outras medidas contrapõe, de acordo com Marx, essa queda: redução dos salários para abaixo do valor
da força de trabalho, queda dos preços dos elementos do capital, comércio exterior, etc.
Produção e consumo
A produção da mais-valia -- e sua transformação em lucro -- é nas palavras de Marx, "a finalidade
imediata e o motivo determinante da produção capitalista" 4.
A utilização da força de trabalho é direcionada para a produção de mercadorias, que deverão ser
vendidas (realizadas); se não for assim, não haverá realização da mais-valia.
No sistema capitalista, a produção determina o consumo. Em primeiro lugar, porque uma parte
importante do consumo é o consumo produtivo (ou seja, o consumo dos meios de produção) completa e
diretamente determinado pela produção. Em segundo lugar, porque o consumo individual está
determinado pelas condições de exploração da força de trabalho, que são, por sua vez, reflexo das relações
existentes no domínio da produção.
Produção e consumo são, portanto, reciprocamente indispensáveis. "Sem produção não há consumo, sem
consumo não há produção" Marx escreveu na Introdução à Crítica da Economia Política 5. Explicando
assim que apenas no consumo um produto se converte em um "produto real" e que o consumo cria a
necessidade de uma "nova produção".
Mas isso não tem nada a ver com a oferta e a demanda. Se, em outra época da humanidade,
produção e consumo eram dois momentos de um mesmo ato, no complicado marco da sociedade
capitalista já não é assim. Entre produção e consumo atuam leis sociais de distribuição. Assim, como
determina o consumo, a produção determina a distribuição. Por outro lado, consumo e distribuição
determinam também a produção, já que "Entre os diferentes momentos acontece uma ação recíproca. Isso
sempre acontece em conjuntos orgânicos" (ibidem) 6.
Marx destaca: "A mais-valia é produzida como quantidade mensurável de mais trabalho, que se encontra
materializada nas mercadorias. Mas com essa produção de mais-valia, apenas o primeiro ato do
processo de produção capitalista é finalizado, o processo de produção imediato. O capital absorveu tanto
quanto o trabalho não pago. Com o desenvolvimento do processo que se expressa na queda da taxa de
lucros, aumenta tremendamente a massa de mais-valia assim produzida. Então num segundo ato do
processo. Terá que vender toda a massa de mercadorias, o produto total, tanto a parte que repõe o
capital constante e variável, quanto a que representa a mais-valia. Se isso não ocorre, ou ocorre apenas
em parte, ou a preços inferiores aos custos de produção, mesmo que o trabalhador continue sendo
explorado, entretanto sua exploração não se realiza como tal para o capitalista, já que não ocorreu
nenhuma realização, ou com uma realização apenas parcial da mais-valia expressa, e inclusive ocorre
uma perda total ou parcial do capital para o capitalista. As condições da exploração imediata e as de sua
realização não são idênticas. São diferentes não apenas no tempo e lugar, mas também conceitualmente.
As primeiras estão limitadas apenas pela força produtiva da sociedade, as outras estão pela
proporcionalidade entre os diferentes setores da produção e pela capacidade de consumo da sociedade.
Mas esta última não está determinada pela incapacidade absoluta da produção, nem pela capacidade
absoluta do consumo, mas pela capacidade de consumo sobre a base de relações de distribuição
18
antagônicas, que reduzem o consumo das grandes massas da sociedade a um mínimo só variável dentro
de limites mais ou menos estreitos" ( Karl Marx, El Capital, tomo III, cap. 15) 1.
Quanto mais se desenvolve a capacidade de produção, mais entra em conflito com a limitada
capacidade do consumo. O sistema se esforça por corrigí-lo encontrando novos mercados (mas estes se
saturam também), tentando assumir o monopólio de um mercado, exercendo a concorrência, abrindo
mercados artificiais. Resumindo, no final do século XIX, é aberta uma nova fase do capital, a do seu
declínio.
A produção sem limites para realizar a mais-valia, o D que deve se converter em D', a concorrência, a
busca de rentabilidade e a modernização, produtos do crescimento do capital, dão lugar ao aumento do
capital constante. Este "gradual aumento do capital constante com relação ao capital variável tem
necessariamente como resultado uma queda gradual da taxa geral do lucro" (El Capital, tomo III, cap.
13)2. Esta é a contradição da economia capitalista e a base das crises recorrentes.
A lei da tendência decrescente da taxa de lucro média expressa o caráter reacionário do modo de
produção capitalista e o fato de que as relações burguesas se convertem em obstáculo para o
desenvolvimento da humanidade.
"As relações burguesas são muito estreitas para conter as riquezas criadas em seu seio. Como a
burguesia vence esta crise? De um lado, pela destruição obrigatória de uma massa de forças produtivas;
de outro lado, pela conquista de novos mercados e exploração mais intensa dos antigos. De que modo ele
faz isso? Preparando crises maiores e mais violentas e diminuindo os meios de previni-las" (Manifesto do
Partido Comunista)3.
Quem diria que Engels escreveu isto em 1877! Não existe um "ciclo recorrente de crises" como explicam
alguns supostos economistas, como se as crises regulares do sistema fossem uma purga. Existem, pelo
contrário, crises cíclicas que expressam a crise geral do sistema e que anunciam e preparam as seguintes,
mais violentas ainda.
A lei da queda tendencial da taxa de lucro é a expressão do limite nos quais as relações nas quais as
relações capitalistas se convertem em obstáculos ao desenvolvimento da humanidade.
As crises não são outra coisa que a crise mortal do capital. Marx as chamava de "memento mori" 2 da
produção capitalista, ou seja, a lembrança periódica de uma realidade inelutável, da necessária
desaparição desse regime social.
Em nossos dias é corrente, inclusive, citando Marx, explicar a crise como um desequilíbrio entre
produção e consumo; como conclusão que disso extraímos é que geralmente teria que melhorar a "divisão
das riquezas", com a finalidade de aumentar os recursos da população voltasse a consumir e, portanto, a
produzir. Existe nisso, pelo menos, uma completa incompreensão dos mecanismos da economia
capitalista.
Marx escreveu: "Toda a tendência da produção capitalista [está em] se apropriar da maior quantidade
possível do mais-trabalho e, portanto, materializar como um dado capital o maior tempo possível de
trabalho direto, seja aumentando o tempo de trabalho, seja suprimindo o tempo de trabalho necessário,
através do desenvolvimento da produtividade do trabalho, o emprego da cooperação, de máquinas, etc.;
em uma palavra, produzindo em grande escala, ou seja, produzindo em massa. Assim, portanto, a
[própria] natureza da produção capitalista significa produzir sem levar em conta [nada] dos limites do
mercado" (K. Marx, Teorias sobre a Mais-Valia ["tomo IV de O Capital"])3.
A causa da crise de produção não é a crise do consumo. Tem que voltar continuamente ao núcleo do
capital: a causa da crise de produção se baseia na circulação do capital, dinheiro--mercadoria--dinheiro,
sendo os dois termos extremos idênticos quanto a sua natureza (dinheiro), mas diferentes quanto a seu
valor: D' é maior que D.
"Jamais se deve esquecer que na produção capitalista não se trata diretamente do valor de uso, mas do
valor de troca e, principalmente, do aumento da mais-valia. Este é o objeto propulsor da produção
capitalista, e não deixa de ser uma concepção original a de que, para descartar com argumentos as
contradições da produção capitalista, deve-se omitir a base sobre que esta se apoia, para convertê-la em
uma produção que tende ao consumo direto dos produtores" (ibidem)4.
Por conseguinte, conclui-se, que a raiz das crises se encontra na busca do lucro. "Na reprodução, como
exatamente na acumulação do capital, não se trata apenas de repor na mesma escala ou em uma escala
ampliada (na acumulação) o mesmo volume de valores de uso que formam o capital, mas o valor do
capital desembolsado com a taxa de lucro (mais-valia) usual. Se, portanto, em virtude de alguma
circunstância ou combinação de circunstâncias, os preços de mercado das mercadorias (de todas ou da
maioria delas, que é a mesma coisa) caem abaixo de seus preços de custo, [teremos que] de um lado, se
contrairá o mais possível a reprodução do capital. E se paralizará mais ainda a acumulação" (ibidem) 5.
Temos aí a origem das crises, já que uma crise é antes de tudo e sobretudo um freio à produção, um
freio à acumulação do capital, uma desvalorização do capital.
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Como frisa Marx em O Capital:"Na produção capitalista não se trata de extrair, em troca da massa de
valor posta em circulação na forma de mercadoria, uma massa de valor igual em outra forma, seja de
dinheiro ou de alguma outra mercadoria, mas se trata de extrair, para o capital adiantado, com vista a
produção, o mesmo mais valor [mais-valia. (N. do T.)] ou lucro de qualquer outro capital da mesma
magnitude, ou "pro rata" à sua magnitude, qualquer que seja o ramo da produção onde foi empregado,
por conseguinte, trata-se, no mínimo, de vender as mercadorias as preços que aumentem o lucro médio,
ou seja, a preços de produção"1.
Se, como Marx, concebemos que o lucro é inteiramente constituído pela mais-valia, o consumo dos
trabalhadores não é levado em conta. Para o capital, o consumo dos trabalhadores não representa mais que
o "v" (capital variável), pelo que não pode servir para realizar a mais-valia extraída, nem, portanto,
proporcionar um lucro.
"O limite da produção é o lucro do capitalista e não [são] de nenhum modo, as necessidades dos
produtores. Mas uma coisa é a superprodução de produtos e outra, muito diferente a superprodução de
mercadorias" (Teorias sobre a mais-valia)2.
A Agonia do capitalismo
Marx coloca o problema claramente quando escreve:
"Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade
entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que não é mais que a expressão
jurídica disso, com as relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até então. De formas
de desenvolvimento das forças produtivas que eram, essas relações se converteram em obstáculos. Se
abre então uma época de revolução social". (Prólogo de la Contribución a la crítica dela economía
política.) 1. Foi assim na época da escravidão, também na época do feudalismo, cujas relações sociais
obstaculizaram o desenvolvimento das forças produtivas, da qual a burguesia teve que se libertar. A
burguesia revolucionará a sociedade generalizando a economia mercantil e abolindo o modo de produção
feudal. Por sua vez, as relações sociais capitalistas bloqueiam o desenvolvimento das forças produtivas.
Marx destaca: "Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças
produtivas que existem nela, e jamais aparecem novas e mais elevadas relações de produção antes que as
condições materiais para sua existência estejam amadurecidas no seio da antiga sociedade. Por isso a
humanidade se propõe sempre, apenas os objetivos que pode alcançar" (ibidem) 2
Para Marx, enquanto as relações de produção são o marco de um desenvolvimento das forças
produtivas, não fundamentam uma revolução social.
Apoiando-se nos últimos trabalhos de Marx e Engels que analisaram as relações burguesas como
obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas -- que em sua época eram apenas relativas --, em
Lenin em sua obra Imperialismo, fase superior do capitalismo (a época das guerras e revoluções) e no
desenvolvimento histórico do século XX, com a primeira Guerra Mundial imperialista em 1914-1918 e a
primeira revolução proletária vitoriosa de Outubro de 1917, o programa de fundação da IV Internacional
(1938) afirma: "A premissa econômica da revolução proletária há muito tempo chegou ao ponto mais
elevado que se pode alcançar sob o capitalismo. As forças produtivas da humanidade pararam de
crescer".
Este é o diagnóstico fundamental estabelecido pelo marxismo, diagnóstico cuja vigência e validade é
dado pela IV Internacional. A social-democracia, em nome das "reformas" do sistema capitalista, mais
23
tarde em nome de uma suposta "economia social de mercado" no futuro, renunciou, já em 1914, a
considerar o capital como um regime social condenado.
A burocracia estalinista e os partidos que dela surgiram também renunciaram a esta caracterização,
proclamando um falso "capitalismo monopolístico" uma nova etapa do capitalismo. Do mesmo modo, a
corrente "pablista" (Secretariado Unificado, Liga Comunista Revolucionária [LCR] e depois o Novo
Partido Anticapitalista[NPA] na França 3), através de diversas "teorias" (o "neocapitalismo ou a "terceira
idade do capitalismo"), basearam sua política no fato de que as forças produtivas não haviam deixado de
crescer. Afirmavam inclusive que nossa análise da crise do capital sofria de "catastrofismo".
Ernest Mandel, o fundador e principal teórico dessa corrente, escreveu: "O exemplo já clássico desse
dogmatismo é a tese lambertista segundo a qual as forças produtivas deixaram de crescer. É improdutivo
opor-lhes dados estatístico não apenas relativos às forças produtivas (a produção industrial), mas
também às forças produtivas humanas (número de proletários e suas qualificações). De nada serve
demonstrar-lhes que o crescimento da produção não corresponde apenas à produção de armamentos,
mas também aos meios de produção. Não, nossos dogmáticos se ESCONDEM por trás de Trotsky, que
escreveu em 1938" 4 (O capitalismo tardio).
Seria cruel se rejubilar em esclarecer a tal teórico com as estatística atuais (i) e com o fato de que
Trotsky escreveu em 1938, Lenin em 1916 e de que Marx escreveu O Capital há mais de um século e
meio. Mas isso não acrescentaria nada essencial.
Como já explicamos (veja a brochura nº 1, O que é o Marxismo?) o fato de que para Marx e o
marxismo, as forças produtivas não se identificam o desenvolvimento da produção. Para o marxismo, "as
forças produtivas da sociedade" ou "as forças produtivas da humanidade" são os meios de produção
(ferramentas, técnicas, ciências, etc.) e os homens que se servem disso. Mas isso não se reduz a uma soma
de ferramentas, de técnicas ou de homens! Nem a uma simples questão de "quantidade".
Já vimos que as forças produtivas são "o mediador entre o homem e a natureza" (Marx). São o produto
do trabalho humano em relação com a natureza, mas também o produto das relações dos homens entre si.
De modo que são o produto das relações de produção e de um modo de produção determinado do que
constitui um elemento essencial e incluem todas as contradições dessas relações e desse modo de
produção.
Por isso as ferramentas, as técnicas, os meios de produção não podem ser analisados independentes dos
homens que as utilizam, em relação com outros homens, em uma sociedade divididas em classes.
Esses conjuntos de ferramentas, de técnicas, são, é claro, mensuráveis, "quantificáveis" e fazem parte
das forças produtivas. É claro, há uma diferença de quantidade entre as forças mobilizadas para a
fabricação de um machado de pedra ou de uma ferramenta metálica, mas o fator comum é o trabalho
humano.
Razão por que Marx ressalta que é "o indivíduo social (o qual) representa o fundamento essencial da
riqueza" (Grundisse)1. Em outras palavras, é a utilização pelo homem das técnicas e ferramentas (que,
lembremos, contém já trabalho humano cristalizado) que dá a este conjunto o caráter de "forças produtivas
da humanidade". O marxismo não reduz as forças produtivas a um "progresso técnico", mas destaca a
principal força produtiva, a que dá coerência à totalidade, que é o trabalho humano. Por isso, para o
24
marxismo, a "revolta das forças produtivas"2 contra as relações capitalistas se expressam na luta de
classes, opondo proletários e burgueses.
O caráter social da produção, o desenvolvimento das forças produtivas na época do capitalismo
ascendente, tendem à socialização da produção, o que contrasta com a propriedade privada, com a
apropriação privada que em um momento determinado (imperialismo) se converte em obstáculo absoluto
para o desenvolvimento das forças produtivas.
Desse ponto de vista, temos que distinguir "desenvolvimento das forças produtivas" de
"desenvolvimento da produção". No capítulo anterior vimos que o limite do capital é o próprio capital,
que produz muito pouco tendo em conta as necessidades da humanidade e produz muito do ponto de vista
das relações capitalistas. As forças produtivas da humanidade devem ser libertadas do obstáculo
capitalista pela revolução proletária.
Imperialismo significa que as "forças produtivas já não crescem mais". Ele é a causa da destruição de
setores inteiros da indústria, da liquidação da agricultura, da fome, da miséria e das guerras. Do contrário,
o socialismo, ao libertar as forças produtivas, desenvolverá a economia mundial no sentido do interesse
esmagador da maioria dos habitantes do planeta.
Em 1939 (sim, em 1939), Leon Trotsky escreveu: Consequentemente, para salvar à sociedade não é
necessário deter o desenvolvimento da técnica, fechar fábricas, conceder prêmios aos agricultores para
que sabotem a agricultura, transformar um terço dos trabalhadores em mendigos, (...). Nenhuma destas
medidas, que constituem uma farsa horrível para os interesses da sociedade, é necessária. O que é
indispensável e urgente é separar os meios de produção de seus atuais proprietários parasitas e
organizar a sociedade de acordo com um plano racional". (O marxismo e nossa época)3.
Repetindo, para a 4ª Internacional "as forças produtivas da humanidade cessaram de crescer. As novas
invenções e os novos progressos técnicos não conduzem a um acréscimo de riqueza material".
Neste sentido, Trotsky, sem negar "as novas invenções" e "os novos avanços técnicos", consideram que
eles não levam a "um aumento da riqueza material". Trotsky não fala da riqueza do sentido do termo
capitalista e trivial, mas o desenvolvimento de toda a sociedade, da "riqueza material da humanidade".
A ciência pura, ou seja, a pesquisa fundamental que tornou possível os maiores descobrimentos na
época moderna, como a "teoria do quanta/quantum" de Max Planck (1900) ou a "relatividade" de Einstein
(1905), apenas ocasionalmente deriva em aplicações práticas imediatamente utilizáveis e por isso mesmo,
rentáveis. De fato, esses grandes descobrimentos científicos fundamentais que revolucionaram a ciência
são, essencialmente, resultado de trabalhos realizados no século XIX ou nas primeiras décadas do século
XX.
No século XX e mais especificamente em sua segunda metade, em que impera a lei do lucro e dos
créditos necessários, a pesquisa irá se reorientar principalmente para a "pesquisa aplicada". Ou seja, uma
pesquisa determinada pelas exigências de rentabilidade da produção capitalista. A utilização de cientistas
na primeira guerra imperialista (radar, armas químicas) e principalmente na segunda (armas atômicas),
deu grande impulso nesse sentido.
Em 1950 havia nos EUA 400.000 pesquisadores, quando eram 15.000 em 1930. Certamente, isto indica
o potencial humano de desenvolvimento das ciências, mas significa, sob o calcanhar de ferro do
imperialismo, a "industrialização" da pesquisa científica, com suas leis: o lucro com suas regras, as de
rentabilidade. Por outro lado, devemos destacar que o setor de armamento é o maior consumidor de
pesquisa científica aplicada.
O desenvolvimento da internet (utilizado desde 1941 pelo exército norte-americano), os telefones
celulares (utilizados pelo exército norte-americano na década de 1940 sob a forma de telefones sem fio), a
informática (desde a década de 1930), é essa a "revolução tecnológica" de que tanto nos falam?
Participam do desenvolvimento da "riqueza material da humanidade"?
Caricaturando, podemos comparar isso com uma versão mais moderna da carta que chegava no dia
seguinte depois de ter sido entregue no correio, quando os serviços de Correios funcionavam, do telefone
fixo, da máquina de escrever ou da calculadora mecânica (de Pascal). Trata-se de uma diferença de
quantidade, não de qualidade.
Marx explicou: "O desenvolvimento do capital fixo indica até que grau o saber geral, o conhecimento
se converte em força produtiva imediata"2.
Neste sentido, na época do imperialismo, se choca com as relações capitalistas. Tudo que produz a
ciência aplicada, submetida à lei do lucro, não é mais que uma melhora técnica do que já existe.
A ciência não é uma abstração. Todos os descobrimentos científicos devem ser julgados em função do
processo global de desenvolvimento da humanidade. Não são produtos da natureza, mas da sociedade
humana. Os dez dedos com os quais os homens executaram sua primeira operação, são tudo o que se
quiser, exceto uma criação do "entendimento". Esses dez dedos das mãos que foram liberadas pela posição
ereta do homem permitiram caçar, contar, pintar, esculpir, construir máquinas, fabricar mercadorias,
compor música, resumindo, impulsionaram a história do homem. Na ciência, como na técnica, assim
como na arte, a liberação das forças produtivas da âncora das relações burguesas permitirá os maiores
descobrimentos.
26
Com seu extraordinário gênio materialista e dialético, e também com seu próprio estilo, Engels escreveu
em o Anti-Dühring - a melhor introdução ao método do marxismo que existe: "Os primeiros homens que
se destacaram da animalidade não eram essencialmente livres como os próprios animais, mas cada
progresso na cultura foi um passo para a liberdade. No limiar da história da humanidade encontra-se o
descobrimento da transformação do movimento mecânico em calor: a produção de fogo por fricção, no
último estágio da evolução vivida até hoje chegamos ao descobrimento da transformação do calor em
movimento mecânico: a máquina a vapor. E apesar da gigantesca subversão libertadora que produziu a
máquina a vapor no mundo social -- ação que não se encontra sequer em sua metade --, é indiscutível
que [105] a produção do fogo por fricção a supera enquanto eficácia libertadora do homem com relação
ao mundo. Pois o fogo produzido por fricção, deu ao homem, pela primeira vez, o domínio sobre uma
força natural e o separou definitivamente do reino animal. A máquina a vapor, nunca produzirá na
evolução da humanidade um salto tão descomunal (...)" 1 [negritos do redator]. A "ciência pura", é
Einstein em 1905 (E=mc2, a equivalência entre massa e energia). Este descobrimento, sem objetivo de
aplicação imediata, contém em seu interior, a possibilidade, entre muitas outras, da bomba de fusão...
que explodiu sobre Hiroshima quarenta anos depois. O imperialismo é "a reação em toda a linha", é a
estagnação e a destruição das forças produtivas, a produção de forças destrutivas.
Analisando os mecanismos do capital, Marx e Engels deduzem já sua tendência fundamental: "No
desenvolvimento das forças produtivas se chega a uma fase em que surgem forças produtivas e meios de
troca que, sob as relações existente, apenas podem ser fontes de males, que não são já tais forças
produtivas, mas sim forças destrutivas" (A Ideologia Alemã)2.
Essa fase é a do imperialismo.
Em sua fase suprema, a própria concorrência do capitalismo ascendente (que tinha estimulado o
desenvolvimento das forças produtivas) engendra o seu contrário: o monopólio.
A constituição da oligarquia do capital financeiro1 é parte desse mesmo movimento, enquanto que se
desenvolvem massivamente a exportação de capitais -- ameaçando o equilíbrio do mercado mundial,
submetido a crises desarticuladoras (de 1929 a 2009) --, a exploração de regiões inteiras do planeta,
saqueadas e destruídas em seu potencial de desenvolvimento pela dominação imperialista.
Mas o monopólio não termina com a concorrência inerente do capitalismo, nem a divisão do mundo
põe fim a concorrência entre as burguesias imperialistas.
Esta situação em que a concorrência é exacerbada, para ganhar novos mercados para as mercadorias e
capitais, se expressa, senão, pela confrontação violenta: a humanidade pagará o preço com duas grandes
guerras mundiais. Lenin analisará também as consequências da passagem da fase imperialista no
movimento operário, com o desenvolvimento de uma aristocracia operária, base social do reformismo (ver
brochura nº 3).
Nosso propósito aqui, não é tratar sobre a fase atual de decomposição do imperialismo, sobre o lugar do
imperialismo norte-americano
e suas relações com os demais imperialismos, ou sobre a fase atual das crises capitalistas (mercados
financeiros, especulação, parasitismo, armamento, desindustrialização e destruição do trabalho
assalariado, etc.), nem sequer da marcha para o desmembramento de nações (papel do imperialismo
estadunidense, União Europeia, etc.) e da humanidade, todas elas fundamentais para compreender o que é
hoje a agonia do capitalismo. Para isso, uma nova brochura é necessária. Vamos nos conformar, portanto,
em remeter à leitura de livros, documentos ou artigos recentes a que faremos referência.
Nas páginas seguintes, nos limitaremos a ilustrar a definição do caráter totalmente reacionário e
parasitário do imperialismo, através de alguns exemplos que parecem úteis para uma compreensão global,
com a finalidade de desmitificar, através da análise marxista, algumas "evidências" que nos impingem
todos os dias.
Este é, certamente, o fundamento das teses marxistas, ou seja, as da 4ª Internacional, sobre o caráter
internacional e permanente da revolução proletária.
Trotsky destaca:” O capitalismo tem o duplo mérito histórico de ter elevado a técnica a um nível elevado
e de ter conectado todos os países através dos laços econômicos. Assim proporcionou os pré-requisitos
materiais para a utilização sistemática de todos os recursos de nosso planeta. Entretanto, o capitalismo
não se encontra em posição de cumprir essa tarefa urgente".3
Falar de "globalização" como um fenômeno novo e denunciá-la como tal esconde um fato
determinante: não é a "globalização" da economia que é "ruim" para a humanidade, pelo contrário, a
constituição de um mercado mundial foi um fator de progresso (e destacamos, de passagem, isso permitiu
a Marx concluir que "os proletários não tem pátria").
O que destrói a humanidade é o domínio desse mercado pelo capitalismo em agonia, porque suas
"crises financeiras", suas guerras, ameaçam a cada instante em desarticular o mercado mundial. De modo
que o que está em questionamento é o imperialismo, o regime capitalista em agonia e nada mais.
Tudo isso não obedece a uma política agressiva e militarista de um governo estadunidense
"ultraconservador", mas às necessidades da classe capitalista dos EUA que, para sobreviver, deve esmagar
por sua vez seus competidores imperialistas e os trabalhadores e povos do mundo. Nenhuma barreira
nacional política, alfandegária ou legal (Leis trabalhistas, acordos coletivos, etc.) deve opor-se à circulação
das mercadorias e capitais estadunidense. Evidentemente, isso provoca resistências -- que acentuam a
violenta confrontação mundial, através de golpes e conflitos em qualquer parte do mundo --, mas são
tímidas pelo lugar e o papel dos EUA como guardião supremo da "ordem" capitalista mundial contra a
revolução proletária.
Assim, portanto, não existe um "império do mal estadunidense" como gostam de dizer os
altercapitalistas, mas um sistema, o do imperialismo, em que a burguesia imperialista estadunidense joga
um papel determinante. Mas não estamos em uma nova fase, uma em que a humanidade estaria submetida
ao "superimperialismo" estadunidense. Não há superimperialismo, nem nova fase. Há um regime em
crise, incluindo principalmente o próprio EUA, e a situação mundial provoca uma crise da própria
dominação política estadunidense, que se expressa na necessidade de recorrer à eleição de Obama e,
sobretudo, na resistência dos trabalhadores estadunidense contra a guerra, ligada a defesa de seus direitos
(saúde, educação, trabalho).
deixaria de ser capitalismo (...). Enquanto o capitalismo é capitalismo, o excesso de capital não consagra
a elevação do nível de vida das massas (...), mas à acumulação dos (...) lucros" 2.
E Lenin explicou que no curso da acumulação crescente de capitais e da formação de monopólios,
estes, cartéis ou "trusts" tomaram o controle de seu mercado interno e estão "ligados necessariamente ao
mercado externo". Há muito tempo que o capitalismo criou o mercado mundial. Os "trustes" e cartéis, sob
todas as formas (exportação de capitais, colônias, zonas de influência) estendem sua influência através de
suas fronteiras e se dirigem para "a formação de cartéis internacionais3.
Como explicou Lenin: "O excesso de capitais (...) se consagra (...) ao aumento do (...) lucros através
da exportação de capital"4.
Se no século XI se exportavam mercadorias, no século XX, a isto se acrescenta uma exportação
massiva de capitais.
"O que caracterizava o velho capitalismo, no qual dominava plenamente a livre concorrência, era a
exportação de mercadorias. O que caracteriza o capitalismo moderno, o que nele impera é o monopólio,
é a exportação de capital"5.
Esta situação não é uma monstruosidade alheia ao sistema, não é mais que o produto do capitalismo, de
seu desenvolvimento e de sua fase superior, o imperialismo. Essas "multinacionais" não são um polvo
misterioso que estende seus tentáculos em torno do planeta, são monopólios. E a oligarquia financeira,
através de seu controle dos monopólios, é quem dirige não apenas a economia mundial, mas também a
política mundial e impõe suas leis às nações. De acordo com os próprios números da ONU, 300.000
pessoas em todo o mundo possuem o equivalente de recurso que mais de 2.300 milhões de seres humanos.
No marco das relações de forças mundiais, essas "multinacionais" estão dominadas pelo capital mais
poderoso, ou seja, quse sempre pelo capital norte-americano.
Basta observar os últimos vinte anos, quando, a medida que se aplicavam as exigências e diretivas da
União Europeia contra o "protecionismo" e o "nacionalismo", se produziu a avalanche de capitais note-
americanos na Europa e no mundo.
Já em 1924, Leon Trotsky dizia: "O capital norte-americano não quer tornar a Europa em um
concorrente. Não pode admitir que Inglaterra, e com mais razão, Alemanha e França, recuperem seus
mercados mundiais, porque ele é restrito, e porque, ele mesmo, exporta seus produtos e se exporta a si
mesmo. Direciona para a dominação mundial, quer instaurar a supremacia dos EUA em nosso planeta O
que a Europa deve fazer sobre isso? Dizem que deve ficar tranquila. Como? Sob sua hegemonia. Isso
significa permitir que a Europa se erga, mas com limites bem determinados, lembrando das restrições a
determinados setores do mercado mundial. O capital norte-americano determina agora a diplomacia. Se
prepara para comandar também os bancos e os trustes europeus, a toda a burguesia europeia. Isso é o
que ele indica. Atribuirá aos financistas e industriais europeus setores determinados do mercado.
Regulará sua atividade. Em uma palavra, pretende reduzir a Europa capitalista a um conjunto acessório,
dito de outro modo, indicando quantas toneladas, litros ou quilogramas de tal ou qual produto tem
direito a comprar e vender" 1.
Um capitalismo financeirizado?
31
Um dos novos argumentos dos novos álter e anti-capitalistas consiste em explicar a situação atual
pelo desvio financeiro e especulativo de determinados capitalistas (os patrões sem escrúpulos"). Já
assinalamos que o imperialismo se caracteriza pela constituição de um capital financeiro e pela exportação
de capitais. Mas chega um momento em que a saturação conduz o imperialismo a buscar ou criar novos
mercados, que são artificiais: é o reino da especulação. O imperialismo, confrontado por um lado pela
desvalorização do capital e, por outro lado, à lei de tendência decrescente da taxa de lucro, procura
valorizar o capital (de D para D') de modo artificial, ou seja, sem passar pelos termos de mudança D-M-
D'. (...)
Hoje, todas estas 'teorias' caíram por terra, despedaçadas e espalhadas pelas medidas tomadas pelo
imperialismo estadunidense"2.
Em 1999, o orçamento militar estadunidense atingia a 150.000 milhões de dólares, quase 300.000 em
2005, 500.000 em 2007 e 600.000 em 2008. Os gastos militares dos EUA em 1999 (ou seja, antes da 2ª
guerra do Golfo) representavam 36% dos gastos mundiais. O orçamento dos EUA para armamentos, na
mesma época, equivale aos gastos militares da Alemanha, França, Grã Bretanha, Japão e Rússia juntos.
Em doze anos, a dívida pública dos EUA aumentou cerca de 450%. Em 1980 era de 3.600 dólares por
habitante. Depois da 2ª guerra do Golfo, em 1992, cresceu para 16.000 dólares! Diante da enormidade da
dívida pública, que serviu para financiar a indústria privada, a administração estadunidense teve que
proceder, de um lado a cortes drásticos em todos os orçamentos sociais (saúde, educação...), jogando
sobre os trabalhadores estadunidenses a fatura dos enormes lucros realizados pelos grandes trusts do setor
de armamentos; de outro lado, tem que transferir através de diversos mecanismos (debilidade do dólar,
taxas de juros, etc...) esta dívida pública a outros em todo o mundo, especialmente a seus 'aliados'
europeus.
É sabido que a LCR1 -- que se diz "anticapitalista" -- explicou que as forças produtivas continuam se
desenvolvendo; não é um debate abstrato.
O principal teórico da corrente pablista Ernest Mandel, escreveu sobre a Seguridade Social de 1945:
"as experiências mais importantes de Seguridade Social (...) foram financiadas muito mais por uma
imposição sobre os próprios trabalhadores (...) que por uma imposição sobre a burguesia. (...) Existe
entretanto outro aspecto de importância crescente do "salário diferido", dos seguros sociais, na renda
nacional dos países capitalistas industrializados e é precisamente seu caráter anticíclico. Aqui
encontramos outra razão de que o Estado burguês, o neocapitalismo, tenha interesse em aumentar o
volume deste "salário diferido". Que atua como amortecedor que impede uma queda muito brusca e forte
da renda nacional em caso de crise" [destacado por nós] (iniciação a teoria econômica marxista)2.
Para Mandel, não existiu onda revolucionária em 1945, que ameaçasse o regime capitalista e o obrigara
a reconhecer esta imensa conquista operária -- contraditória com as leis do capitalismo, já que se baseia
no salário diferido! --(e não em um imposto sobre os trabalhadores!) --, ou seja, um progresso na
resistência à expropriação da mais-valia, uma melhora considerável das condições de reprodução da força
de trabalho contra as exigências do capital e um progresso em matéria de saúde e de humanidade.
Ao não partir da luta de classes, mas do caráter insuperável do capitalismo, Mandel não vê na
Seguridade Social de 1945 mais que a aplicação, por um capitalismo que se autorreforma, de mecanismos
para amortizar a crise.
É fácil ver que após o debate teórico sobre o imperialismo, sobre as forças produtivas, está em joto algo
prático, neste caso a defesa da Seguridade Social. Já que (ironias), algum tempo depois desta sagaz
elaboração, a burguesia francesa tomava as primeiras medidas contra a Seguridade Social e, depois de
quarenta anos, esta questão está em jogo na luta de classes.
Sob o efeito da crise generalizada do sistema capitalista, na França, bem como no resto do mundo, o
imperialismo tenta desmontar tudo o que foi conquistado em décadas anteriores.
A ofensiva para destruir a Seguridade Social, a proibição de trabalho noturno das mulheres, o
aumento do tempo de contribuição para a aposentadoria(40-42), os deslocamentos de empresas, a lei
sobre as 35 horas -- que questiona a jornada de trabalho em horas/dia e semana a favor da anualização do
tempo de trabalho e da exibilidade (ou seja, que aumenta a taxa de exploração) --, todas estas medidas tem
um só objetivo: contestar a lei da queda tendencial da taxa média de lucro, a lei que expressa fortemente
em uma época de crise do sistema, na corrida pelo lucro se torna mais áspera. A destruição de ramos
inteiros da economia na antiga URSS e nos países da Europa do leste (cuja produção industrial caiu cerca
de 60%, com relação aos anos da década de 1970); o aumento do trabalho infantil na Ásia; as "zonas
economicas especiais"; a privatização-destruição de empresas em todos os continentes; o questionamento
das leis trabalhistas..., participam do mesmo objetivo.
A privatização dos serviços públicos, das empresas públicas, o fim dos monopólios (rodovias, gás,
ferrovias) pretendem abrir ao capital novas esferas para se valorizar.
Os ataques contra a escola, contra os diplomas nacionais se inscrevem nesta ofensiva de busca de
valorização do capital, levando ao aumento da taxa de exploração, da desqualificação da juventude
35
1. - Traduzido do francês. Esta citação é de um texto redigido por Marx para o volume 1 de O Capital
que não chegou a ser publicado. Existe edição em castelhano: O Capital, livro 1, capítulo VI inédito,
Resultados do processo imediato de produção, tradução de Pedro Scaron, México, SigloXXI editores,
1971, páginas 106-107 (N. do T.].
1. - A versão francesa que retraduzimos difere da espanhola: "Surge apenas quando o possuidor dos
meios de produção e meios de subsistência encontra no mercado o trabalhador livre como vendedor de sua
força de trabalho e esta condição histórica envolve uma história universal. O capital, portanto, anuncia
36
desde o primeiro momento uma nova época no processo de produção social, Karl Marx, o Capitaí Edición
de Pierre Scaron, México, Siglo XXI Editores, 1975, tomo I, Vol. I, p. 207. (N. do T.].
2.- Ibidem, vol. I, páginas 43 y 44. (N. do T.].
3.- Ibid., p. 50. Nota del redactor entre paréntesis. (N. do T.].
1. - Traduzido do francês: Marx, Le Capital, tradução de Joseph Roy, Lachâtre ed., 1872, livro I, p.27.
Versión castellana de Scaron en Op. cit., vol. I, página 85: “La forma de equivalente general es una forma
de valor en general. (...) Por outro lado, uma mercadoria só se encontra na forma de equivalente geral (...)
porque todas as demais mercadorias estão isoladas de si mesmas, na qualidade de equivalente e na medida
que isso tenha ocorrido. E apenas a partir do momento dessa separação se circunscreve definitivamente em
uma classe específica de mercadoria, a forma relativa unitária de valor, própria do mundo das mercadorias
adquire consistência objetiva e vigência social geral. A classe específica de mercadorias com cuja forma
natural se liga socialmente a forma de equivalente, torna-a uma mercadoria dinheiro ou funciona como
dinheiro. Chega ser sua função social específica e portanto seu monopólio social, desempenhar dentro do
mundo das mercadorias o papel de equivalente geral". (N. do T.].
2.- Op. cit., pág. 115. (N. del T.). 3.- K. Marx y F. Engels, Obras escogidas en tres tomos, Moscú,
Editorial Progreso, 1974, tomo II, p. 52. (N. del T.). 4.- Ibid., p. 52. (N. del T.).
37
1.- Ibid., p. 44. (N. do T.]. 2.- Ibid., tomo I, p. 160. (N. del T.). 3.- Ibid. (N. del T.). 4.- Ibid., p. 161. (N.
del T.).
1.- Op. cit., p. 180. (N. del T.). 2.- Ibid. (N. del T.). 3.- Ibid., p. 184; [D ȂM ȂD, donde D’ = D + σD].
(N. del T.). 4.- Ibid., p. 186. (N. del T.). 5. - Em A Verdade nº 34, de outubro de 2003, pode-se um artigo
sobre esse "slogan".
1.Ǧ K. Marx y F. Engels, Obras escogidas en tres tomos, Moscú, Editorial Progreso, 1974, tomo II, p.
57. (N. del T.).
2.- “El valor de la fuerza de trabajo se determina por la cantidad de trabajo necesario para su
conservación o reproducción, pero el uso de esta fuerza de trabajo no encuentra más límite que la energía
activa y la fuerza física del obrero. El valor diario o semanal de la fuerza de trabajo y el ejercicio diario o
semanal de esta misma fuerza de trabajo son dos cosas completamente distintas.” Ibid., (N. del T.).
3.- Ibid. (N. del T.). 4.- Op. cit., páginas 187 y188. (N. del T.).
1.Ǧ K. Marx, El capital: Crítica de la economía política. Antología, traducción de Manuel Sacristán,
Madrid, Alianza editorial, 2010, páginas 139Ȃ140. [En la edición de Pedro Scaron: vol. I, p. 234]. (N. del
T.).
2.Ǧ Ibid., p. 427. [En la edición de P. Scaron: t. III, vol. 6, p. 30]. (N. del T.).
38
1.Ǧ Plustrabajo, trabajo excedente o trabajo de más (surtravail, mehrarbeit, surplus labour). (N. del T.).
[página 15]
1.Ǧ K. Marx, El capital. Crítica de la economía política. Antología, traducción de Manuel Sacristán,
página 449. [En la edición de P. Scaron: vol. 6, p.199]. (N. del T.).
2.Ǧ Karl Marx, El capital, edición de Pedro Scaron, Mexico, Siglo XXI editores, 1976, vol. 6, p. 248.
(N. del T.).[página 16]
1.Ǧ K. Marx, El capital... Antología, traducción de Manuel Sacristán, páginas 458 y 459. [En la edición
de Scaron: vol.6, p. 270]. (N. del T.).
2.Ǧ Ibid., páginas 459 y 460. [En la edición de Pedro Scaron: vol. 6, p. 271]. (N. del T.). [ página 17]
1.Ǧ Ibid., página 471. [En la edición de Pedro Scaron: vol.6, p. 310]. (N. del T.).
2.Ǧ Karl Marx, El capital, edición de Pedro Scaron, Mexico, Siglo XXI editores, 1976, vol. 6, p. 297.
[Na comentada tradução de Manuel Sacristán, paginas 463-464] (N. do T.].
3.Ǧ Ibid., p. 300. (N. del T.).
4.Ǧ K. Marx, El capital... Antología, tr. de Manuel Sacristán, página 472. [Ed. de Scaron: vol. 6, p.
313]. (N. del T.).
5.Ǧ DzIntroducción general a la crítica de la economía políticadz, en Contribución a la crítica de la
economía política, edición de Jorge Tula, México, Siglo XXI editores, 1980, p. 292. [Texto reproduzido
também em : Karl Marx, linhas fundamentais da crítica da Economia Política [Grundrisse], tradução de
Javier Pérez Royo, Barcelona, Editorial Crítica, 1978, vol I, p.16] (N. do T.]. 6. Ǧ Ibid., página 300. (N. del
T.).[página 18]
1.Ǧ K. Marx, El capital... Antología, tr. de Manuel Sacristán, p. 472Ȃ473. [Ed. de Scaron: vol. 6, p.
313Ȃ 314]. (N. del T.).
2.Ǧ Ibid., p. 458. [Edición de Scaron: vol. 6, pág. 270]. (N. del T.).
3.Ǧ K. Marx y F. Engels, Obras escogidas en tres tomos, Moscú, Editorial Progreso, 1974, tomo I, p.
116Ȃ117 (N. del T.).[página 19]
39
1.Ǧ K. Marx, El capital, edición de Pedro Scaron, México, Siglo XXI editores, 1976, vol. 6, p. 246. (N.
del T.).
2.Ǧ DzTeorías sobre la plusvalía IIdz, en Obras fundamentales de Marx y Engels, traducción de
Wenceslao Roces, México, Fondo de Cultura Económica, 1980, vol. 13, página 485. (N. del T.).
3.Ǧ Karl Marx, El capital, edición de Pedro Scaron, Mexico, Siglo XXI editores, 1976, vol. 6, p
330Ȃ331. (N. del T.).
4.Ǧ Ibid., p. 321. (N. del T.).[página 21]
1.Ǧ K. Marx y F. Engels, Obras escogidas en tres tomos, Moscú, Editorial Progreso, 1974, tomo I, p.
518. (N. del T.).
2.- Ibid., (N. del T.).
3.- En España, Esquerda Anticapitalista e Revolta Global. (N. do T.].
4. - Passagem publicada em espanhol no boletim da Liga Comunista Revolucionaria da Espanha, em 20
de fevereiro de 1971, com o título: Nossas divergências com o lambertismo (N. del T.]. [página 23]
40
1. - "É (...) o desenvolvimento do indivíduo social, apresentado como a pedra angular da produção e
riqueza", Karl Marx, Línhas fundamentais da crítica da Economia Política (Grundisse), tradução de Javier
Pérez Royo, Barcelona, Editorial Crítica, 1978, vol. II, pág. 91. (N. do T.].
2.- Vid. "Manifiesto del Partido Comunista", K. Marx y F. Engels, Obras escogidas en tres tomos,
Moscú, Editorial Progreso, 1974, tomo I, p. 116. (N. del T.).
3.Ǧ Traducido del francés, (Léon Trotsky, Œuvres, tomo 20, Institut Léon Trotsky, 1985, París, pág.
147); versión digital del CEIP de su compilación: León Trotsky, Naturaleza y dinámica del capitalismo y
la economía de transición, Buenos Aires, Centro de Estudios, Investigaciones y Publicaciones DzLeón
Trotskydz, 1999. [Outra versão em espanhol é intitulada: O pensamento vivo de Marx, Buenos Aires,
Editorial Losada.] (N. do T.]. del T.).[página 24]
1.Ǧ Lenin, El imperialismo, fase superior del capitalismo, Pekín, Ediciones en Lenguas Extranjeras,
1966, páginas 126 y 127. (N. do T.].
2.Ǧ Karl Marx, Líneas fundamentales de la crítica de la Economía Política [Grundrisse], traducción de
Javier Pérez Royo, Barcelona, Editorial Crítica, 1978, vol. II, pág. 92. (N. del T.).[página 25]
1.Ǧ F. Engels, Anti–Dühring, versión española de Manuel Sacristán, México, Editorial Grijalbo, 1964,
páginas 104 y 105. (N. del T.).
2.Ǧ K. Marx y F. Engels, DzPrimer capítulo de La ideología alemanadz, Obras escogidas en tres tomos,
Moscú, Editorial Progreso, 1974, tomo I, p. 37. (N. del T.).
3.Ǧ Lenin, El imperialismo, fase superior del capitalismo, Pekín, Ediciones en Lenguas Extranjeras,
[página 26]
Naturaleza y dinámica del capitalismo y la economía de transición, Buenos Aires, Centro de Estudios,
Investigaciones y Publicaciones DzLeon Trotskydz, 1999. [Outra versão em espanhol é intitulada: O
pensamento vivo de Marx, Buenos Aires, Editorial Losada, 1962.] (N. do T.]. do T.].
1.Ǧ Lenin, El imperialismo, fase superior del capitalismo, Pekín, Ediciones en Lenguas Extranjeras,
1966, pág. 126. (N. do T.]. 2.Ǧ Ibid., pág. 127. (N. del T.).[página 28]
1.Ǧ DzPerspectivas del desarrollo mundialdz [discurso de Trotsky pronunciado el 28 de julio de 1924
en Moscú], en León Trotsky, El capitalismo y su crisis (compilación), Buenos Aires, Centro de Estudios,
Investigaciones y Publicaciones DzLeón Trotskydz, 2008, páginas 131 y 132. (N. del T.).
2.Ǧ Daniel Gluckstein, Lucha de clases y mundialización, Madrid, Partido Obrero Socialista
Internacionalista, 2001. (N. del T.).[página 30]
1.Ǧ DzLo que está en juego en el VII Congreso Mundial de la IV Internacionaldz, La Verdad n .͑ 63,
pág. 7. (N. del T.).
2.Ǧ DzDeclaración del Buró Político de la Organización Comunista Internacionalista (por la
reconstrucción de la IV Internacional)dz, La Verdad n.͑ 60 Ȃ61, 2008, pág. 10. (N. del T.).[ página 31]
1.Ǧ Liga Comunista Revolucionaria (LCR), organización del Secretariado Uniβicado en Francia hasta
2009, año en que se disolvió en el Nuevo Partido Anticapitalista (NPA). (N. del T.).
2.Ǧ Iniciación a la teoría económica marxista, (en PDF), Ernest Mandel Ȃ Archivo Internet, páginas 36
y 37. (N. del T.).[página 33]
Bibliografia sumaria
Karl Marx y Friedrich Engels: Manifiesto del Partido Comunista.
• Karl Marx, El capital, libro I
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