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Sobre a Necropolítica de Mbembe:

Necropolítica e Biopolítica são como duas faces de uma mesma moeda: a do poder do homem
sobre o homem. Enquanto que Foucault trabalha com a regulação da vida, aquilo que deve ser feito,
o que não deve ser feito, Mbembe trabalha com a regulação da morte, quem deve e quem não deve
morrer. Desse modo, o caráter assassino do Estado fica bastante explicitado em toda a sua
argumentação. Dominação e Soberania se entrelaçam num complexo emaranhado de relações em
que uma condiciona o poder de morte, o necropoder, sobre povos ou grupos de uma nação.
Sintetizando, o necropoder diz respeito à capacidade de assassinar determinados segmentos e ele
caracterizaria a soberania de um povo, capacidade de escolher quem deve ou não morrer, a política
pautada na morte, nessa escolha racional de quem morre, é a necropolítica. A racialização,
bestialização, segregação é parte intrínseca desse tipo de governo. Mbembe, no entanto, não
menciona o caráter de classe que poderia ter essa necropolítica, como se o Estado a exercesse pelo
simples ato de subjugar os corpos à morte. Ele estabelece, contudo, a relação entre o Estado de
Exceção Permanente e o Terror com a Necropolítica, principalmente quando se trata de estados
ocupados, como a Palestina, ou estados pós-coloniais, os casos africanos. Há, nestes, uma negação
completa dos direitos básicos, e a soberania lhes é negada, cabe aos Estados Soberanos fazer as
escolhas, fazer suas segregações, etc…
Embora o trabalho de Mbembe acerte no que diz respeito as ações desses Estados, ele acaba
trabalhando de forma unilateral a questão da soberania, que é, justamente, seu ponto chave. Ao
reduzir a Necropolítica à Soberania, e ainda por cima uma soberania baseada no território,
conceituado em termos geográficos, ele acaba por abstrair todas as relações de dependência
econômicas que farão movimentar as engrenagens da necropolítica e do necropoder. Afinal de
contas, o Estado não é um ente que se move por si só, controlando quem vive e que morre ao seu
bel prazer, simplesmente porque sim; o Estado é um instrumento de classes, de uma classe
considerada a nível nacional, e tem de servir aos desígnios dessa classe, assim, todas as suas
políticas, dentre elas a tal da Necropolítica, o poder de mando sobre a vida e a morte, atendem a
desígnios, na maioria dos casos, de classe mais do que de raça ou de qualquer outra coisa. Os
grupos que são submetidos ao estado de exceção permanente, ao terror permanente, são grupos bem
definidos pela lógica do capital em seus diferentes níveis nacionais. Não é por nada que a
necropolítica é vivenciada no Brasil pela sua população negra, posto que a Maquina de Guerra das
Milícias e do próprio Estado está voltada para o seu extermínio, mas não simplesmente pelo fato da
racialização, mas porque a morte do negro gera disciplina necessária para que ele ocupe o seu
espaço na produção brasileira, o espaço de subordinado dos subordinados. Além disso, condicionar
a soberania ao poder de mando de vida e morte de determinados grupos é esquecer a totalidade das
relações globais, pois, ao analisarmos a relação palestina e israel, poderiamos compreender que
Israel não atua simplesmente como “Estado Tampão” posto para vigília daquela região do oriente,
mas como Estado completamente soberano, pois, afinal, ele controla a vida e a morte dos palestinos
que vivem sobre a sua ocupação.
Em sua conclusão ele afirma que a Biopolítica de Foucault não era suficiente para explicar as
ocupações modernas, afirmo, também, que nem sua Necropolítica é capaz de fazê-lo. A analise a
posteriori das relações econômicas, suas significações puramente concreta – a exploração, o
genocídio, etc… - não é capaz de desvendar os mecanismos e as motivações pelas quais são
executadas tais ações. É notável a falta de proposições do livro para a questão da Necropolítica,
portanto, cabe buscar na economia política, na análise da circulação de capitais entre os povos em
estado de sítio e terror permanentes, subjugados pelo necropoder, e as nações monopolizadoras da
necropolítica ou os grupos efetivadores das Maquinas de Guerra, as razões e soluções para a
questão tão cara ao marxismo que é o domínio do homem pelo homem.

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