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De início, o autor aborda o quanto o ser humano é a espécie mais frágil,

com muitas limitações, mas que durante os anos foi arrumando meios para
garantir a sua sobrevivência. Dessa forma, ao passar dos séculos foi evoluindo
em diversos aspectos, entre eles, um dos mais importantes foi o
desenvolvimento de funções cognitivas que foram de suma relevância para
outras evoluções da espécie.
Mas foi a partir da noção de morte que o ser humano se distanciou da
vida animal, desenvolvendo consciência de si e da sua relação com os outros.
Diante da morte e do cuidado com o outro, o ser humano se reparou com o
limite e com a ideia de que não pode controlar tudo, fazendo com que a lei, as
regras e as proibições fossem criadas para conter esse lado animal do ser
humano. Porém, com o passar dos anos isso vai levando o ser humano a
banalizar o seu desejo e fluxo natural da espécie, controlando, além de sua
espécie, toda a natureza.
Em um monto caótico e imprevisível, o ser humano achou formas de
controlar na natureza o que lhe é favorável, mapeando as regularidades
possíveis e necessárias a ele.
Além da morte, a linguagem possibilitou para que o ser humano se
colocasse em questão. Ademais, a linguagem, a capacidade de codificar as
informações e simboliza-las deu abertura para que o ser humano regrasse e
controlasse o seu laço social.
Essa capacidade também possibilitou a construção histórica da
humanidade ou mesmo tempo que favoreceu as estratégias que controlam os
impulsos e desejos, privando o ser humano da sexualidade e dos prazeres. Em
troca de uma vida planejada e regrada.
Dessa forma, ao longo de sua história, o ser humano foi deixando para
trás sua espontaneidade, sua criatividade, sua relação com a vida comunitária
e todo tipo de excitação, ou seja, tornando sua vivência reprimida e controlada.
E nesse sentido, as organizações sociais foram se construindo na lógica
da dominação dos corpos e das experencias, dessa repressão frente ao existir,
tornando os sujeitos cada vez mais apáticos.
O autor da obra aponta que, o que há nessa sociedade contemporânea
não decorre da natureza. Essas formas de preconceitos, a miséria, a
degradação da natureza, as doenças, como, depressão ansiedade, burnout,
etc. Todas decorrem de uma construção histórica de um excesso de controle e
regra que foram estruturando a sociedade por meio de símbolo e sendo
internalizados nos sujeitos desde a infância, gerando uma lógica de negação
da vida em todos os aspectos. Instalando a lógica de repressão que se
encontram em todas as camadas da sociedade de forma implícita e explícita.
E falar desses assuntos implica falar do capitalismo, pois, conforme o
autor do capítulo, é impossível falar em dominação e não falar em capitalismo.
Pois esse sistema mudou a forma das relações sociais e tem influência direta
nas questões de dominação.
Nesse sentido, o neoliberalismo, decorrente do capitalismo, essa lógica
de que o Estado deve cada vez mais intervir de forma mínima, vai além de uma
forma de fazer política ou de economia, é uma lógica que afeta diretamente as
relações sociais, uma estratégia de dominação social que dita formas de
funcionamento que influencia a educação formal e informal que constrói a
sociedade.
Esse sistema instala e propaga ideologias ao seu favor que são formas
de controlar os corpos, entre elas, a meritocracia, o individualismo e a
competitividade. São formas de dominação que reforças diretamente a lógica
neoliberal de que os sujeitos são os únicos responsáveis pelo seu sucesso,
que o sucesso e ilimitado e que se você não alcançou o mesmo foi falta de
esforço seu. Além de reforçar a produtividade, torna os sujeitos extremamente
cansados, esgotados, pois joga os sujeitos em um ciclo de frustração, além de
afasta-los da vida comunitária.
Os empregos desse sistema são precários e colocam os sujeitos em
uma relação de dominado pelo seu chefe, trabalha para enriquecer o seu
patrão enquanto o entregado vive com o básico para sobreviver.
Frente a essa sociedade, os sujeitos se encontram com o que os
escritores da Gestalt terapia chamam de apatia generalizadas, ao invés de
lutarem por uma mudança social, vão atrás de crescimento e desenvolvimento
individual. Os deixando sempre alheios da sua própria vida, não percebendo o
próprio sofrimento e nem o sofrimento alheio.
Nessa sociedade, as minorias são diariamente perseguidas e mortas,
tendo seus direitos básicos negados. Uma sociedade opressora constituída por
um padrão branco, hétero, adulto, cisgênero, classe média alta e de
descendência europeia ou americana, onde tudo que é diferente desse padrão
é visto como vidas que não importam, que podem ser violadas e mortas.
Nesse sentido, a desigualdade de gênero se faz presente, as mulheres
recebem salários inferiores para cargos iguais aos dos homens. Seus corpos
são objetificados e os procedimentos estéticos são a maioria para o público
feminino.
O racismo também é um fato, a sociedade brasileira carrega as marcas
da escravidão que teve abolição sem nenhuma assistência aos negros. Os
salários dos negros vão inferiores e é a população que mais é afetada pela
desigualdade social. A maior parte da população carcerária é a população
negra, assim como nas escolas pública e nas favelas. Ademais, é a população
perseguida e assassinada pela polícia.
A comunidade LGBTQI+ sofrem com o aprisionamento e controle dos
corpos, visto que pesquisas mostraram em 1960 que a compreensão de
gênero é uma criação social para regrar a sexualidade na sociedade. A
sociedade tão opressora ao ponto de criar métodos de curar formas de
expressão que são naturais da natureza.
A sociedade brasileira também domina e persegue a população
indígena, tomando suas terras, negando suas expressões culturais, são vistos
como atrasados e não civilizados. Uma lógica Europeia que, de forma
hegemônica, nega a existência do outro que é diferente.
Diante dessa sociedade opressora, repressora e dominadora, a Gestalt
Terapia pode ser vista como uma solução frente a esses problemas sociais,
pois a ação do sujeito está diretamente ligada a constituição do social. A
Gestalt Terapia chega para pensar além da lógica instalada na sociedade, que
gera um mal-estar na sociedade. Nesse sentido, é importante resgatar a
criatividade e a espontaneidade dos sujeitos, os ajustamentos criativos, pois é
um potencial de mudança social frente aos problemas sociais que abaram a
sociedade contemporânea.

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