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Nome: João Victor Almeida e Silva

Matrícula: 211010735

QUESTIONÁRIO NORBERT ELIAS

1) Apresente e comente o problema proposto por Elias que o levará a construir e


desenvolver a teoria do processo civilizador.

Elias começa estudando as transformações que ocorrem no comportamento dos


membros das cortes europeias em questão de costumes, limitações sociais e modos
de etiqueta que atuam para a formação de estruturas de personalidade que levam a
um grande refreamento do superego dos membros das cortes e o estabelecimento
de um habitus que restringe e limita socialmente além de controlar as funções
corporais desses indivíduos. Essa mudança que irá ocorrer nas sociedades das
cortes no século XVII e XVIII e irá ser incorporada por outras classes da sociedade,
como por exemplo as classes médias dos comerciantes, e sendo vista pelo mundo
ocidental como o estabelecimento do comportamento civilizado e o estabelecimento
de sociedades civilizadas. A partir dessas incorporações gerais pelas demais classes
se tem o que Norbert Elias descreve como processo civilizador, levando também a
sociogênese dos Estados Absolutistas. Além de haver mudanças no comportamento
social das pessoas, temos a transformação das próprias consciências dos indivíduos
que internalizam esses novos comportamentos e formam um habitus civilizado.
Se torna marcante nessa nova sociedade civilizada a moderação dos impulsos, da
vida instintiva e afetiva com uma pacificação das condutas e a formação de formas
mais complexas de organização política e de divisão do trabalho. É marcante em todo
esse processo a relação que se tem com os novos constrangimentos sociais externos
e o constrangimento individual. Desse modo pode-se reduzir toda a questão do
processo civilizador ao problema de como as pessoas conseguem satisfazer suas
necessidades animalescas sem acabar se destruindo ou humilhando de algum modo
a si e a outros nessa busca, o principal objetivo dessa civilidade em formação é buscar
a satisfação sem causar dano à dignidade humana

2) Em que medida a Idade Moderna se diferencia da Idade Média em relação ao


controle da violência, à moderação e a pacificação nas relações sociais. Trabalhe os
exemplos.

A partir do período da Renascença se tem um crescente incômodo com relação a


atos e comportamentos que eram comuns na Idade Média, tais como, comer com
com outras pessoas do mesmo prato, cuspir, assoar na roupa, limpar os dentes com
a faca entre outros. Esse processo de regulação e autorregulação iniciado nas
classes altas da sociedade conduz a um processo de abandono de certos
comportamentos que passam a ser considerados como vergonhosos, como o ato de
soltar gases em público e alguns passam a ser vistos como cruéis e impróprios para
a conduta de pessoas de certo nível e status social. No século IX Elias expõe em suas
obras que guerras eram extremamente violentas e cruéis, onde se tinha não só uma
grande matança mas se fazia o uso do estupro e do mutilamento em massa como
tática de guerra visando desmoralizar o inimigo. Além disso, no período medieval foi
muito comum expressões de agressividade como o espancamento de mulheres por
cavaleiros e tortura de prisioneiros, além de se fazer o uso de calabouços e
masmorras para prender pessoas e retirar delas qualquer dignidade humana como
punição. Existia nessa época um prazer sem culpa por parte dos agressores dado
pelo direito do mais poderoso de abusar dos mais fracos.
A sensibilidade e o repúdio que se tem hoje a esses atos violentos e agressivos se
deve a um enorme processo de mudança no equilíbrio de poder que se refletiu nos
padrões de sociabilidade e nas estruturas emocionais e mentais. Com a decadência
do poder da aristocracia europeia e a ascendência de uma nova classe, a classe dos
burgueses, os Estados passaram a centralizar cada vez mais o poder gerando o
Absolutismo com o objetivo de proteger os mercadores e as mercadorias dos
burgueses, expandir o comércio e controlar novas regiões.
Com essa necessidade de pacificação social da Europa Ocidental Medieval se tem
um aumento das restrições comportamentais e emocionais e o monopólio da violência
passa para as mãos do Estado. Houve assim uma domesticação dos impulsos, uma
mudança psicogenética e sociogenética, como define Elias, transformando as antigas
estruturas mentais e sociais europeias.

3) Na investigação sobre o processo civilizador N. Elias distingue a sociogênese da


psicogênese. Explique os fundamentos destes dois processos.

Pode-se dizer que Elias estava interessado nas mudanças civilizatórias que
ocorreram nas estruturas sociais, a sociogênese, e de personalidade, a psicogênese.
Nesses processos temos o fortalecimento do Estado que toma para si o monopólio
da violência para que as pessoas deixem de usar a força física para resolução de
conflitos, cabendo somente essas prerrogativas de força legítima ao poder estatal
central. Nisso se tem a pacificação dos conflitos e a criação de uma sociedade
civilizada que é a definição do conceito de sociogênese. Porém parte da estrutura da
personalidade do indivíduo passa a corresponder a essa agência controladora e
temos assim além da pacificação social, uma incorporação psíquica de
comportamentos e condutas consideradas civilizadas que são bastante controladoras
quanto a funções corporais, desejos e emoções além gerarem uma padronização
totalmente inovadora dos indivíduos modernos e civilizados, nisso temos a construção
da psicogênese.

4) Explique o surgimento e o papel do Estado no contexto do processo civilizatório

Para Elias o Estado teve papel central no processo civilizador por conta da sua
capacidade de retirar a violência do meio da sociedade e permitir que os conflitos
entre pessoas possam ser solucionados de formas legítimas baseando-se no direito,
no contrato social estabelecido e na própria justiça. Para ter essas capacidades o
Estado precisou tomar para si o monopólio da violência e legitimar essa violência,
para que houvesse após isso uma pacificação nas relações sociais entre os
indivíduos e se abrisse espaço para o processo civilizador seguir o seu caminho e
estabelecer laços civis e legítimos de relações sociais.

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