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Docente: João Carlos Soares Zuin

Discente: Marcos Carara Americhi

Aula X - O sentido e o significado do poder e da política na era global: a


modernidade líquida segundo Zygmunt Bauman

I.Introdução.............1

II.Desenvolvimento.3

III.Conclusão...........8

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I - Introdução

Inicialmente, podemos dizer que a modernidade líquida é um termo usado por


Bauman que sintetiza a sociedade capitalista globalizada, que rompe com a importância
do passado em nossa existência, para o desenvolvimento da ideologia do “presentismo”,
ou seja, uma memória que se preocupa apenas com a relação do tempo presente para
com o tempo futuro. De um modo geral. nessa relação também estão presentes as
dinâmicas das fronteiras com países internacionais, colaborando para uma era de fluxos
cada vez mais extenso, onde os espaços sociais serão cada vez mais diferentes, sendo
ultrapassadas pelos interesses das fábricas transacionais e suas capacidades de se
deslocarem, produzindo consequentemente uma expansão de mercado.

Essa expansão de mercado, caracteriza um novo processo de civilização e um


novo modo de se constituir como ser humano, pois exprimem mudanças
comportamentais e subjetivas muito abrangentes em todos os seres humanos,
genericamente, uma profunda mudança econômica, política, social e antropológica. A
Transformação do fim da modernidade sólida (das revoluções burguesas do pensamento
e da revolução industrial) para modernidade líquida a partir dos anos 80, ocasionou uma
mudança radical do espaço da produção onde ocorreu o fim da fábrica fordista, gerando
um deslocamento dos capitais fora do espaço nacional para o resto do mundo,
oferecendo uma demanda de consequências econômicas impositivas, dentre elas a
relação de salários que esses novos espaços de produção estão dispostos a pagar.

“ o aumento do prestígio e do poder das grandes indústrias (sobretudo, das


companhias transnacionais) e do capital financeiro em dominar à política (as forças
sociais dos sindicatos e políticas dos partidos políticos que representavam sujeitos e
classes coletivas organizadas), os poderes políticos do Estado nacional (sobretudo, o
poder executivo, neutralizando os poderes legislativos e judiciários). “ pag 9

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II. Desenvolvimento

A nova forma de qualificação das grandes empresas e essa mudança nos espaços
dos estados nacionais, como vimos, rompem com seus limites e produzem uma maior
expansão de mercado a todo custo. Bauman analisa que há uma maior capacidade do
mercado em impor suas necessidades e suas demandas junto a desregulamentação
política da economia, e um ponto de análise para Bauman é que a política impõe
barreira para produção e extração de valores de capital. Assim, a economia irá se
autodeterminar e destruir todas as barreiras morais, políticas e religiosas que impuseram
ao capitalismo limites da produção e extração de mais valor. Segundo Bauman, isso se
denomina na própria lógica do capitalismo, a chamada “harmonia” entre a oferta e a
demanda.

“para Hayek, o mercado quanto mais for autorregulado, funcionando pelo princípio
da livre concorrência entre a demanda e a oferta, e por ser uma expressão espontânea,
natural, garante a plena liberdade de todos os indivíduos, que poderão agir para o
proveito próprio e contribuindo para o aumento da riqueza social. Logo, para que o
mercado funcione e produza a riqueza social e garanta a liberdade do indivíduo, é
preciso que se afaste do Estado, do parlamento, da política, dos partidos que agem
sempre em proveito daqueles que os elegeram.” Pag 9

Dentro do impacto que as novas empresas transacionais irão causar, a nova era
moderna da globalização é feita por grandes revoluções, principalmente eletrônica e
microeletrônica que produzirão uma maior presença da máquina e da automatização
com intuitos específicos que deduzem toda lógica da modernidade líquida, produzir
mais e em maior velocidade. Essa lógica acompanhada de grandes invenções servirão
como alicerce para a modernidade líquida e sua capacidade em se articular de um modo
que também sintetiza essa nova era, o rápido fluxo da comunicação e tomada de
decisões em um breve período de tempo, segundo Bauman isso influenciará
profundamente a nossa existência.

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O novo capital associado as revoluções tecnológicas e os novos cyberespaços,
irão impor a maneira que milhões de pessoas vão conduzir sua vida. Iremos ver que
entre as ideologias de pensamento único que irão ser disseminadas, uma delas é o
pensamento de que há um inimigo a ser combatido, impondo isso também culturalmente
através de filmes e séries com sentimentos de intolerância e ódio. Há de se analisar que
essa dinâmica que a modernidade líquida procura, essa disseminação de um pensamento
único ocasionam uma profunda transformação do estado social em estado penal,
gerando uma sociedade punitiva para os mais fracos.

Pode-se dizer que essa modernidade líquida tange um olhar sociológico a


fenômenos sociais que tenta-se aqui descrever, acarretadas por mudanças sociais e
desprendimentos do passado profundos. Essa nova organização social vigente abandona
agora as ideias e valores da modernidade baseados na razão, no progresso geral quanto
ao processo emancipatório da civilização e do estado, ou seja, a coletividade, o espírito
de um ser social e do ser coletivo baseado em sensação de pertencimentos ao fator
coletivo e principalmente o papel da ciência atuando para o bem dessa coletividade, ou
seja, o progresso como melhoria do Estado é superado.

Prosseguindo com a lógica dessa nova era, e dos impactos que ela ocasionou a
essa nova sociedade, para Bauman, modernidade líquida é “um período histórico no
qual ocorrerá uma modernização “compulsiva e obsessiva”. Ou seja, a modernidade
líquida agora exige de toda a sociedade uma maior eficácia, criação e exige uma
obsessão em obter o lucro, diminuindo a renda para ampliar as capacidades de extrair
mais valor e riquezas. O espírito competitivo abrange o inconsciente da sociedade
caracterizando a era da formação social baseada nos valores do neo-liberalismo. Esse
processo produz para Bauman a destruição do sentimento de pertencimento do ser
humano coletivo como nas famílias, no bairro, na sociedade e no estado nacional,
reproduzindo com o neo-liberalismo a sensação de hiperindividualismo que resulta um
indivíduo egocêntrico, narcísico e egoísta competindo permanentemente com o intuito
de ampliar sua renda. Essa nova forma de imposição do ser individual é perpetuada em
todos os continentes, em todos os estados, e caracteriza uma das formas com que a
modernidade líquida se instalou.

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Outra característica consequente dessa nova modernidade é a produção de um
indivíduo livre e autônomo envolto de uma nova rotina do tempo e da vida dessa nova
sociedade, a relação do indivíduo na sociedade também se transforma, com o ideal de
rapidez e de ser eficiente, o tempo para serelacionar com as outras pessoas foi também
limitado devido a esse fato. Esse indivíduo não é mais regulado por um estado ou por
uma sociedade e suas instituições e sindicatos. Na sociedade líquida, quem efetu as
mobilizações globais são os capitais, que são capazes de impor para todas as partes
transformações e novas maneiras do ser humano existir e agir, os capitais transacionais
mobilizam recursos agora em uma escala global, legitimando um triunfo das forças
econômicas e um esvaziamento das forças políticas.

“as gigantescas transformações sociais e psicológicas no modo de pensar,


perceber e agir no mundo: o indivíduo livre, soberano senhor de si, tutor de si
mesmo e desvinculado dos organismos coletivos criados na modernidade:
sindicato, partido, classe, nação, Estado; “ pag 10

O que está em vigência agora é o fator financeiro, as oportunidades que o


estados criam, estes têm que elaborar fins que gerem lucro para os cidadãos e suas
empresas. Essa lógica e ideal que são tratadas são permutadas por um encobrimento das
leis para que tenha sua regência, ou seja, o fator punitivo agora é mais exacerbado,
punindo com maior severidade os indivíduos que fogem dessas novas condutas. Tudo
para imposição desse novo espírito de empreendedor independente que visa à máxima
da produção e rendimento.

Para Bauman, essa nova forma de organização social é acompanhada por uma
crise intensa, a crise da modernidade, em que os relacionamentos sociais, as
representatividades e suas organizações institucionais expressam uma formação social
“dinâmica e volátil” e essas relações podem ser compostas e decompostas em curto
espaço de tempo. Junto a isso, a lógica do custo e benefício passa a ser hegemônica e
tem como alicerce entre os novos vínculos estabelecidos nessa sociedade. O novo
indivíduo que rompe com o passado e que está cercado por essas crises, é um indivíduo

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que se faz volátil, flexível, dinâmico, pois agora ele não tem um compromisso
longínquo com seus vínculos sociais, ele tem a capacidade de romper mais brevemente
seus vínculos sociais sem carregar a culpa por esse acontecimento, atendendo as
exigências das forças sociais que o controla.

A modernidade líquida é dotada de uma nova forma de exercer o seu poder e sua
política. O poder agora é exercido fora do território nacional, e é construída uma
capacidade subjetiva das forças sociais hegemônicas imporem os seus interesses aos
Estados nacionais, forçando mudanças nos valores e nas estruturas sociais sobre a qual
já discorreu-se. Assim, a política passa a ser uma força de menor grau comparada com a
força do poder dos capitais transacionais, e são situadas dentro dos territórios nacionais.

“a política é a capacidade de tomar decisões, de criar algo e está situada dentro do


território nacional e sempre mais incapaz de estabelecer relações de força com as
forças sociais transnacionais, internacionais (a porosidade das fronteiras, a força dos
fluxos de capitais, migratórios, especulação financeira, ações do crime organizado,
etc.).” pag 15

Com a alteração dessas fontes de poderes hegemônicos contornada pela relação


inferior do poder político nacional, o estado mínimo, e suas políticas, agora espaço
público, é considerado um espaço para exibir os poderes particulares conquistados pelo
acúmulo do capital. Dentro desse espaço público, acompanhado pela construção social
de indivíduos com uma mentalidade e um intento em serem empreendedores,
produtivos, criativos, ou de serem perdedores, improdutivos. Essa dicotomia é a
delineação social dessa sociedade com destaque do poder privado. O capitalismo gerará
aqui uma abstração de que é preciso crescer, é preciso aumentar a produção, o
desempenho para sermos mais competitivos ou então seremos perdedores, “loosers”,
gerando o efeito da marginalização e exclusão social, afastando e polarizando o
convívio coletivo em geral. Isso gera um prestígio e aumento do poder das forças
econômicas.

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Pode-se notar que atualmente, na campanha do governador do estado de São
Paulo, João Dória usou muito um discurso apolítico de um governo empreendedor, em
que se enfatizou muito a tática de uma “redução de custos”. Em seu discurso como
candidato, João Dória disse que abriria mão do seu salário para economizar nas
despesas do Estado. Essa lógica não é nova, ela faz parte do modelo ideal da
modernidade líquida, em que o os interesses privados do mercado estão acima do
interesse público.

Portanto, para Bauman, a lógica do poderio do mercado e da mínima


interferência do estado leva a sociedade a adotar uma lógica de desinteresse pela vida
pública com a política. Há também na teoria elaborada por Bauman, os casos públicos e
políticos sociais como saúde, educação, previdência e presídios serem instrumentos para
extração de lucros para empresas de âmbito privado. Isso é um indicador muito
profundo da mínima influência que o estado está passando cada vez mais a exercer,
transferindo seu poder administrativo para mão do mercado, os interesses privados. Seu
poder de fiscalização e controle foge cada vez mais de seu alcance para fazer a vontade
de interesses particulares gerando também valores de hiperindividualismo na sociedade.
Essas manifestações acontecem em reformas e mudanças no espírito das leis, que para
Bauman, significam que as constituições nacionais terão uma nova linguagem privada
que aumentará de tamanho se comparada a uma linguagem pública e universal. O
crescimento do direito privado em concomitância ao crescimento da extração de mais
valor gera e acentua a nova forma da transformação do estado social em um estado
penal.

Assim, essa política não é implementada pacificamente pelas forças de controle


hegemônico. Para o seu sucesso dependem uma série de fatores determinantes e um
deles é o alto poder punitivo que o estado passa a exercer, a política de “tolerância zero”
e o aumento quantitativo de penitenciárias em todo o território. O número de presos
cresce gradativamente. Especialmente no Brasil, estudos apontam que o número de
encarcerados já passa de 1 milhão de pessoas.

A política de “tolerância zero” foi criada nos EUA e resultaram punições cada
vez maiores para os pequenos delitos de rua, impondo o retorno da pena como castigo,
pois visa a punição e não o reparo social. Consequentemente, a expansão do sistema
carcerário e surgimento de prisões particulares funcionam como um negócio e fazem

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também com que a penitenciaria se torne uma fábrica gerando mais valor. Entretanto
essa lógica passa a ser mais profunda, para ser implementada ela também foi
naturalizada no inconsciente de toda uma geração, fazendo parte do seu próprio modo
de pensar. Como exemplo disso, podemos voltar ao caso da campanha do governador
João Dória, incluindo em seu discurso que polícia de São Paulo vai “atirar para matar”.
Aliado a suas promessas de aumento de penas para delitos simples e qualificados, nos
últimos 25 anos, o governo do PSD quadriplicou o número de detentos no Estado. Pode-
se notar a nítida aplicação dessa transformação no estado Penal.

III - Conclusão

Diante do que foi tratado, evidencia-se que consequentes crises são mantidas
para transformar e transmutar a realidade social. Essas crises sociais estão em constante
relação com o fator econômico que a partir dos anos 80 passou por uma nova fase,
descrita por Bauman como “modernidade líquida”. Dentro das profundas alterações
inconscientes e comportamentais que essa nova fase da modernidade reproduz, foi
abordado enfaticamente o fator da transformação do Estado Social para o Estado Penal,
o poder punitivo passou a ser uma das principais características do novo Estado, em que
a punição, além de ser uma fonte de obtenção de renda do setor privado, é também, uma
espécie de encobrimento para a hegemonia das forças de mercado transacionais.

Referência:

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/05/numero-de-presos-em-sao-paulo-
quadruplica-sob-governos-do-psdb.shtml
Aula X – Bauman. pdf

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