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A influência da cultura

digital e cinematográfica na
formação de identidade dos
sexos

"O filósofo Michel Foucault (1926-1984) escreveu em sua obra em três volumes, 'A História da
Sexualidade', que não apenas o nosso gênero, mas também a sexualidade são moldados pela
cultura na qual vivemos.
A cultura ocidental perpetuou ideias sobre como são/deveriam ser os temperamentos de homens
e mulheres. Segundo esses ideais, a figura masculina seria dominante, forte, bruta, líder e
poderosa, enquanto a figura feminina é vista como passiva, cuidadora e frágil, características que
influenciam a premissa de que a mulher deve ser dona de casa e cuidadora dos filhos, uma
posição na sociedade que é imposta sobre elas contra suas vontades e restringe seu papel social.

A ideia de que o homem não é afetado pelos sentimentos o faz esquecer de sua própria
vulnerabilidade, nega a tristeza e melancolia, resultando em uma maior taxa de suicídio entre
homens do que entre mulheres, devido à falta de busca de ajuda de profissionais de saúde mental.
Essa imaturidade em dissociar a tristeza da raiva torna-os propensos à violência, ao abuso de
drogas e ao consumo de substâncias alcoólicas.

Tudo isso fornece um repertório para que escritores e diretores possam criar seus personagens e
histórias na cultura pop literária e cinematográfica, que podem tanto quebrar quanto prolongar
essa divisão de temperamentos. Pode-se dizer que a arte imita a vida, ao mesmo tempo em que é
o martelo que a forja. A romantização desses ideais, das dores masculinas e femininas e a
construção de personagens estereotipados segundo o patriarcado incentivam a permanência desse
sistema que oprime as mulheres e prejudica a saúde mental dos homens.

Desenvolvimento

Em Sexo e temperamento em três sociedades primitivas a antropologa Margaret Mead


(1901-1978) diz que " As diferenças comportamentais entre macho e fêmea não são inatas e sim
moldadas pela cultura ". Cultura na sociologia é tudo aquilo que é produto do ser humano, sendo
assim pode-se dizer que o temperamento e a noção do papel social do indivíduo derivam de

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agentes externos, sendo impossível ser 100% autêntico, diferente ou alternativo, além do mais
tudo o'que uma pessoa pode aprender e desenvolver sozinha em um quarto são dúvidas que não
pode responder, ansiedade, solidão e uma noção de que precisa de um diferente dele para se
enxergar e de alguém semelhante a quem se espelhar. Portanto é compreensível que haja
diferenças entre as pessoas, diferenças que para a maior parte das culturas é resultante de seu
gênero.

A forma como a cultura Ocidental define os papéis de gênero é resultado da visão dos
conservadores ou de movimentos com ideais que propõem maior liberalidade sexual. No que diz
respeito ao papel do homem, os neoconservadores frequentemente defendem a ideia de que os
homens devem assumir um papel de liderança na família e na sociedade, enfatizando valores
como a autoridade, a responsabilidade e a força. Quanto ao papel da mulher, os
neoconservadores muitas vezes apoiam a ideia de que as mulheres devem desempenhar um papel
tradicional centrado na família, como mães e esposas. Isso pode se traduzir em opiniões que
favorecem a permanência das mulheres em casa para cuidar da família em vez de buscar
carreiras fora do lar. Já os ideais com propostas mais feministas tentam dar liberdade para ambos
os sexos, proteger o direito da mulher de escolher seu papel na sociedade e libertar os homens
das exigências do patriarcado já que segundo a autora bell hooks (1952-2021) em sua obra
Feminismo é para todos " A maioria dos homens tem dificuldade em ser patriarcas. A maioria
dos homens são perturbados pelo ódio e pelo medo das mulheres, pela violência masculina
contra as mulheres, até mesmo pelos homens que perpetuam essa violência."

Foi seguindo essa teoria da influência da cultura perante o gênero e o sexo que a antropóloga
Margaret Mead ao fazer a análise das tribos primitivas para seu livro descobriu três formas
diferentes de tratamento dos gêneros masculino e feminino entre si e que se distinguem do
mundo globalizado. A primeira delas é a tribo Arapesh, lá Lead se deparou com homens e
mulheres que cumpriam o mesmo papel social, eram gentis, companheiros e atentos às
necessidades alheias, além de terem responsabilidade igual no cuidado com os filhos. A segunda
tribo, os Mundugumor seriam mais violentos, agressivos e guerreiros, porém também sem
distinção entre os sexos, tanto os homens quanto as mulheres apresentavam comportamento
violento. A terceira tribo, os Tchambuli se caracterizam pelo oposto da visão tradicional do papel
social entre homens e mulheres, nessa tribo as mulheres assumem uma posição de poder, são o

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sexo dominante responsável pela caça e pesca, são também as responsáveis pelas negociações de
comércio para garantir o sustento da tribo. Enquanto isso, os homens são o gênero que adere a
sensibilidade, são "frágeis" e se dedicam a funções de arte e estética.

Simone de Beauvoir (1908-1986) foi precursora da segunda onda do feminismo com seu livro
O segundo sexo onde escreveu a celebre frase " não se nasce mulher, torna-se". Se tornando
assim uma das primeiras pessoas a negar a diferença entre os sexos e diferenciar gênero (
biológico macho e fêmea) de sexo ( homem e mulher segundo seu papel social). Com isso,
pode-se reforçar o fato da personalidade dos gêneros ser artificial e fruto do meio em que as
pessoas vivem, porém isso não impede que haja uma fuga, qualquer tipo de ideia que perpetue
violência, opressão ou ditadura deve ser abolida, se algo trás consequências negativas não deve
mais ser usado. Traduzindo isso para a sociedade contemporânea atual seria algo como o homem
e a mulher se conectando por meio da apropriação de características que antes eram vistas como
do sexo oposto. A comunicação, cuidado e boa observação em relação com suas emoções, antes
vistos como valores femininos não precisam se restringir às mulheres ou sequer ser exigido que
venha delas de antemão, assim como o comportamento protagonista de força e valentia precisa
ser parte do cotidiano feminino para conquistarem o espaço que falta na sociedade. A
completude do indivíduo é alcançada assim.

Qual a raiz de todo o mal ? De fato a cultura é um fator importante na formação da identidade,
mas oque faz com que as pessoas fiquem a mercê da cultura de forma a se tornarem vítimas dela
? A resposta é falta de maturidade social que pode decorrer de uma exclusão da pessoa e uma
falha na sua base familiar. Em um país como o Brasil com 110.716 certidões de nascimento sem
o nome do pai ou em que ter pai e mãe presente pode ser artigo de luxo, é de se esperar que haja
consequências, e uma delas é não ter onde se espelhar. Uma criança, menino ou menina precisa
de uma figura paterna e materna que a ensinem a ser pessoas, formam seus caráter e
personalidade, quando isso está em falta a criança sentirá falta de duas coisas: Alguém em quem
deposite essa responsabilidade de cuidado e alguém que lhe ensine a ser ele. Quando isso ocorre,
a criança precisa recorrer a outros meios para aprender isso e suprir suas carências. Na segunda
década do século XXI as redes sociais já são acessadas pelas crianças desde mais novas, o
Twitter, YouTube, Instagram e o TiK Tok são fortes meios de propagação de cultura, não do tipo
erudita, mas do tipo mais rasa, onde a criança pode encontrar o refúgio que não tinha em casa,
escolhendo o isolamento social em prol do uso do digital, negando assim a possibilidade de
amadurecer e aprender e enxergar o outro na prática.

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CONCLUSÃO

Por fim, podemos concluir que nossa cultura patriarcal e lares disfuncionais criam pessoas
quebradas, essas que por falta de completude, buscam criar sua identidade no pior lugar possível,
na internet. Baseando-se em personagens (às vezes em figuras públicas) problemáticos da cultura
pop, garotos se baseiam em personagens hiper masculinizados e garotas em personagens
femininas hiper sexualizadas.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro, Edições


Graal, 1977.

MEAD, M. Sex and temperament in three primitive societies. New York: William Morrow &
Company, Inc., 1935.

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 3ª ed. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 2019.

BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo – a experiência vivida; tradução de Sérgio Millet. 4 ed.
São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980.

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