Você está na página 1de 3

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Federal de Alfenas - Campus Varginha. Unifal-MG


Av. Celina Ferreira Ottoni, 4000 – Padre Vitor, Varginha-MG 37048-395

Política, Ideologia e Hegemonia


Docente: Vanessa Dias
Discente: Alex Luiz Pereira – 2019.2.24.120

Instituições, humanos e o fascismo.

Ao longo da disciplina foi se percebendo que nenhum dos termos que iriamos trabalhar,
assim como quase nenhum termo derivado das ciências sociais e humanas, e simples, com uma
classificação técnica e específica. Entretanto, dentre tudo o que falamos, vimos e lemos na
disciplina, o fascismo foi algo que me fez pensar muito em relação ao sistema. Como se fosse algo
que precisa ser cuidado pois já faz parte como forma de existência e não algo que surgi com
governos neoliberais ou ditaduras. Theodor Adorno (1995), em seu texto “Educação após Aushwitz”
demonstra bem essa ideia de que o fascismo precisa ser cuidado nas primeiras idades, com meios
de se perceber os símbolos e signos culturais que despertam ações, pensamentos, ditos como
fascistas, com o objetivo de modificar esses mecanismos (simbologia: símbolos e signos) culturais
através da educação. A família é a principal instituição social responsável pela introdução e
manutenção das culturas, ou seja, dos mecanismos culturais no indivíduo e segundo Terry Eagleton
(1997), seria a introdução de ideologias. No Brasil como braço funcional para o mecanismo que ativa
o fascismo, temo ideologias como racismo que permeia as culturas e as instituições da sociedade,
entretanto, clientelismo, machismo, homofobia, xenofobia, transfobia entre outros preconceitos
também formam a base da sociedade.

O filme Batismo de Sangue, que achei interessante por trazer membros da igreja
relacionando com outras ideologias comi comunismo e o processo de resistência que ocorreu na
ditadura militar brasileira. Somando com a lembrança de que muito as igrejas e padres americanos,
também são retratados em filmes como, Harriet - O Caminho para a Liberdade. Assim como toda
instituição a igreja não é isenta de cometer atrocidades, como foi por exemplo as Cruzadas, a Santa
Inquisição, entre outras ações deliberadamente cruéis e perversas, contrariando o seu proposito
moral/ espiritual que se acredita seus seguidores. É aqui, nesta perspectiva podemos comparar a
igreja com o próprio Estado no período da ditadura, na questão em que: a instituição não está mais
configurada em prol do seu interesse nato, perceptível e projetado em constituinte no caso do
Estado. Vale ressaltar que falamos de tempos distintos, culturas distintas, momentos históricos
distintos, mas de mesma forma, o poder, o conflito por ele, e seu uso, forjam de alguma maneira a
realidade física, e a realidade simbólica de uma sociedade, e dessa maneira tanto igreja quanto
Estado necessitam de uma simbologia para existirem da forma que são e nessa forma permanecer.

Um Insight me veio à mente também em relação a interferência do homem nestas


instituições solidificadas no meio físico/ mundo sensível como diria Platão, e de alguma forma
tentam se solidificar no meio simbólico mais abstrato/ espiritual, mundo inteligível que Platão
descreveu. O homem atua em duas frentes opostas, uma pra solidificar, e outra pra transmutar,
assim como o Estados Unidos nas Guerras do Petróleo. Relaciona-se aqui também Emile Durkheim
e Max Weber: A Instituição atua em detrimento de quem estar no poder, da elite
(social/agraria/acadêmica/industrial/midiática...) – de umas mais que as outras, entretanto atua
perante a convicção destas organizações que detém o poder através do jogo político, o que se
encaixa com a ideia de Durkheim, onde existe um comando, um controle social, uma espécie de
matrix social, definida por alguns, ou seja, existe uma ideologia que oprimem outras. E por outro
lado, a ideia de que o humano não é definido por ideias a ponto de serem todos iguais, ou não
tomarem decisões próprias em relação ao mundo e a si próprios, para Max Weber, o tipo ideal de
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Universidade Federal de Alfenas - Campus Varginha. Unifal-MG
Av. Celina Ferreira Ottoni, 4000 – Padre Vitor, Varginha-MG 37048-395

Política, Ideologia e Hegemonia


Docente: Vanessa Dias
Discente: Alex Luiz Pereira – 2019.2.24.120
ser humano e exatamente essa qualidade de não estar alienado a matrix, mas conseguir usar a
matrix em prol dos seus interesses, mesmo que a própria matrix esteja subjugando-o, ou seja como
Terry Eagleton (1997) diz, que mesmo existindo uma ou varias ideologias, o homem não está refém,
a ponto de escolher, tomar decisões, se projetar ou não para qualquer ideologia, obviamente existe
questões mais difíceis de lidar, até mesmo em questão de regras jurídicas, porem a autonomia do
individuo é preservada mesmo com alguma pressão ideológica que domine.

Ao ver a luta dos padres, pensei um pouco no papel político das instituições e do homem
enquanto indivíduo e cidadão. E paralelo, como é perigoso ficarmos imersos na realidade. Como
diria Ailton Krenak (2020), em seu livro “A vida não é útil”, vivemos em um modo automático,
tentando fazer a vida ser útil, ser produtiva e esquecemos de viver, de pensarmos nosso papel no
mundo, de sentir a terra, enfim, de viver de fato. É nítido que estamos apenas consumindo.
Trabalhando para consumir. Sem pensar, sem questionar. O consumo, o capitalismo valem o preço.
Mas na verdade estamos destruindo o planeta e uns aos outros para isso. A miséria, a fome, o
desmatamento, a poluição, como vemos essa violência? Será que porque não enxergamos ela, não
somos violentos? Nesta condição de violência, o liberalismo, ou o mais atualizado neoliberalismo,
usa o Estado e suas instituições e instrumentos em detrimento dos interesses de mercado
exclusivamente, o que beneficia as camadas mais abastadas economicamente da sociedade, ou seja,
a elite, em especial. Para que toda essa organização possa ocorrer é necessário um planejamento e
engajamento ideológico e político para que se solidifique no meio sensível e inteligível a realidade
que se quer impor ou “propor”. No artigo Neofascismo e neoliberalismo no Brasil do Governo
Bolsonaro, do professor da UNICAMP Armando Boito, Para que o governo Bolsonaro chegasse ao
poder, foi necessária uma propagação de ideais falsas e tendenciosas, empregadas de racismo e
violência física e simbólica, sendo essa violência já embutida no viés cultural da nossa sociedade
desde a invasão europeia, como foco nos portugueses, e na formação da sociedade brasileira, como
descreve Darcy Ribeiro (2015), em seu livro “O Povo Brasileiro”. Consequentemente essa onda de
ideias de pura violência e ódio acarretou mais violência e morte, principalmente entre negros e
indígenas que já morriam, já eram exterminados pelo governo nas favelas, nas zonas rurais, matas
e florestas de todo Brasil, porém, não se espera um descaso tão grotesco – salvo aqui, o que veio
dizendo na primeira parte, como tamanha violência no Brasil e no mundo contra natureza: fauna e
flora; povos e minorias, e não é tratado como fascismo. Será que fascismo também é um conceito
construído coletivamente, assim como a liberdade e violência? – e que a população brasileira pagaria
com a vida. A pandemia foi a juíza, ninguém esperava por isso.

Conforme o DATASUS (2023), no site do Governo Federal, atualmente são quase 700.000
mil mortos pela covid, um genocídio, uma guerra. Fora nossos gays, trans, mulheres mortas pelo
machismo, nossos meninos e meninas negros e pardos que morrem pela guerra do tráfico, morrem
pela miséria. Aqui coloco um problema da pandemia em relação com os problemas da sociedade
brasileira do cotidiano, pra se destacar que os números aqui são as vidas das pessoas, e que o
aumento desse número, ou seja a morte de alguém, não gera penas um aumento, gera uma
desestruturação na sociedade, pois atinge diretamente a família, em especial, o cidadão e seu
direito a vida.

Pra finalizar, penso sim que o Governo Bolsonaro foi um governo fascista, porem todos os
governos do Brasil foram também em determinado grau, ou se não foram se coligaram a estratégias
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Universidade Federal de Alfenas - Campus Varginha. Unifal-MG
Av. Celina Ferreira Ottoni, 4000 – Padre Vitor, Varginha-MG 37048-395

Política, Ideologia e Hegemonia


Docente: Vanessa Dias
Discente: Alex Luiz Pereira – 2019.2.24.120
e políticas fascistas. O que me leva a pensar duas coisas: A primeira: Gilberton Dimenstein, Silvio
Almeida, Pierre Bourdieu, Milton Santos, Carlos Montano, entre outros, concordam que existe uma
falha sistêmica em garantir à todos os indivíduos seus direitos, uma capacitação para a vida com
dignidade, que o Estado deve agir através de mecanismos para essas as questões sociais e suas
demandas sejam sanadas conforme a Constituição de cada país, entretanto existe uma linha tênue,
na minha visão, sobre a responsabilidade e a responsabilização, do Estado perante a sociedade. Que
assim como a Rita, drag do blog Tempero Drag diz que a elite não pode ter cara para realizar suas
atrocidades, eu penso que o fascismo ao contrário, erroneamente, precisa ter cara pra ser julgado
como de fato fascita; ou pelo menos, como discutido em sala, a liberdade é uma ideia construída
coletivamente, e o fascismo, ao meu ver, também. A segunda: que talvez não seja apenas o
Governo, e sim o Estado, sua estrutura que carrega em seu DNA, em sua matriz, seu cerne, a
violência, o ódio a descriminação e, portanto, o fascismo. Por outro lado, a democracia vem
trazendo o poder das mãos da elite e colocando no povo. Mesmo esse povo preferindo ser
consumidor antes de qualquer forma de existência, pois é embutido a ele essa realidade.

Conforme Paulo Freire (1970), o oprimido tem em mãos o poder de curar o opressor e nessa
condição de curador, a liberdade pode ser atrativa. De qualquer forma, para curar é preciso estar
curado e seguimos com a mente embaçada de tanta informação, que não conseguimos ver o que
realmente importa, e assim nos curar.

REFERÊNCIAS:
ADORNO, Theodor W. Educação após Auschwitz. Educação e emancipação, v. 3, p. 119-
138, 1995.

BOITO, Armando. Neofascismo e neoliberalismo no Brasil do Governo


Bolsonaro. Observatorio Latinoamericano y Caribeño, v. 4, n. 2, p. 8-30, 2020.

DATASUS. Coronavírus Brasil. Governo do Brasil, 2023. Disponível em:


https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 11 de fevereiro de 2023

EAGLETON, Terry. Ideologia. Editora da Universidade Estadual Paulista: Editora Boitempo,


1997.

FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA do OPRIMIDO. EDITORA PAZ E TERRA S/A, 1970. São Paulo – SP.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. Companhia das Letras, 2020.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Global Editora e


Distribuidora Ltda, 2015.

Você também pode gostar