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Resquícios da colonização; “Estado” e políticas de morte!

Disciplina: (Des) Colonização das Américas


Docente: Lucinete Morais
Discente: Daniel Victor Lima Alves
E – Mail: daniel.victor1@mail.uft.edu.br

Resenha da Obra: MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de


exceção, política da morte. Tradução de Renata Santini. São Paulo: N-1 Edições,
2018.

Achille Mbembe é um filósofo, historiador e teórico político camaronês,


nascido em 1957. Ele é conhecido por seu trabalho em estudos pós-coloniais, teoria
crítica e pensamento político. Mbembe aborda questões relacionadas à
colonialidade, poder, violência, necropolítica e formas de resistência. Ele é autor de
vários livros influentes, incluindo "On the Postcolony" (1992), onde analisa as
dinâmicas pós-coloniais na África, e "Necropolitics" (2011), onde explora a
interseção entre política e necropolítica, esta última referindo-se ao poder de
determinar quem vive e quem morre.

"Necropolítica" de Achille Mbembe é uma obra que oferece uma análise


aprofundada das relações entre poder político, soberania, e a gestão da vida e da
morte. Publicado em 2011, o livro expande as discussões sobre biopolítica, um
conceito introduzido por Michel Foucault, e introduz o termo "necropolítica" para
descrever as práticas políticas que se concentram na manipulação direta da morte
como instrumento de poder. Mbembe introduz seu percurso teórico mostrando os
impactos do colonialismo e do sistema escravocrata para o surgimento das
desigualdades e diversas violências contra a população negra, onde mulheres e
homens estavam expostos igualmente ao trabalho pesado, opressão e castigo.
Segundo o autor “as colônias são o local por excelência em que os controles e as
garantias de ordem judicial podem ser suspensos – a zona em que a violência do
estado de exceção supostamente opera a serviço da civilização”. (2018, p. 35).
O Autor situa sua obra no contexto da biopolítica, que examina como o poder
político regula a vida das populações. Contudo, ele argumenta que, além do controle
sobre a vida, a necropolítica envolve o controle direto sobre a morte, destacando a
dualidade desses mecanismos de poder. Mbembe explora como a necropolítica se
torna uma expressão particular da soberania estatal. Enquanto a soberania muitas
vezes é associada à capacidade de preservar a vida, o autor destaca que, em
muitos contextos, ela também é exercida através do controle sobre a morte,
decidindo quem pode ser morto sem repercussões significativas. Um dos aspectos
importantes do livro é a análise das práticas necropolíticas em contextos coloniais.

Ele também examina como a colonização frequentemente envolvia não


apenas a exploração econômica e política, mas também o domínio da vida e a morte
das populações colonizadas. Mbembe aborda a necropolítica em estados que estão
colapso ou enfrentam instabilidade políticas, aqui podemos citar; Israel, Síria, Irã,
Eua, Venezuela etc. Nessas situações, a manipulação da morte pode ser usada
como uma ferramenta para manter o controle ou reafirmar a autoridade. É explorado
como a necropolítica afeta os corpos individuais e coletivos, moldando
subjetividades e experiências. Ele examina como a exposição constante à violência
e à morte pode influenciar a forma como as pessoas percebem a si mesmas e o
mundo ao seu redor. O livro também destaca formas de resistência e apresenta
alternativas. A busca por justiça, igualdade e dignidade é apresentada como uma
resposta vital à lógica necropolítica.

Embora o livro “Necropolítica” seja amplamente elogiado por seu impacto no


campo dos estudos pós-coloniais, teoria política e filosofia crítica, como qualquer
obra significativa, é importante destacar alguns pontos; a linguagem e os conceitos
utilizados pelo autor podem ser excessivamente complexos e teoricamente densos,
o que pode dificultar a acessibilidade da obra para leitores que não estão
familiarizados com os debates acadêmicos em filosofia política e estudos culturais.
Apesar do autor destacar a importância da resistência, falta soluções práticas ou
orientações, porém, creio que cada experiência carregue em si sua própria
particularidade e que não se deve ficar refém de “receitas prontas”. O livro também
sofre de uma diversidade teórica, pois se baseia predominantemente em
perspectivas ocidentais, seria bastante benéfico uma maior incorporação de vozes e
teorias de outras regiões e tradições de pensamento.
Portanto, “Necropolítica” oferece uma análise profunda e provocativa sobre as
relações entre poder, soberania e controle sobre a vida e morte. Ao explorar essas
dinâmicas em contextos coloniais, pós-coloniais e de estados em crise, Mbembe
contribui significativamente para os campos de estudos pós-coloniais, teoria política
e filosofia crítica. É importante destacar que essas críticas não negam a importância
do trabalho do autor, mas sim buscam enriquecer o debate acadêmico e promover
uma análise mais aprofundada das ideias apresentadas.
Arreda Homem que ai vem mulher!

Disciplina: (Des) Colonização das Américas


Docente: Lucinete Morais
Discente: Daniel Victor Lima Alves
E – Mail: daniel.victor1@mail.uft.edu.br

Análise da série documental “Rainhas Africanas”

A Rainha Nzinga, também conhecida como Ana de Sousa Nzinga Mbande, foi
uma figura proeminente na história de Angola durante o século XVII. Ela
desempenhou um papel significativo na resistência contra a colonização portuguesa
e na defesa dos interesses de seu povo, o povo Mbundu. Nzinga nasceu por volta
de 1583 no Reino de Ndongo, que fazia parte da região que hoje é conhecida como
Angola. Após a morte de seu irmão, ela assumiu o trono e tornou-se rainha.

Nzinga liderou a resistência contra a ocupação portuguesa e a expansão do


comércio de escravos na região. Ela habilmente usou a diplomacia e a guerra para
proteger seu povo da exploração portuguesa. Em várias ocasiões, Nzinga negociou
com os portugueses para proteger os interesses de seu reino. Em 1657, assinou um
tratado de paz com os portugueses, garantindo uma relativa autonomia para
Ndongo. Além de suas atividades políticas e militares, Nzinga trabalhou para
preservar a cultura e as tradições de seu povo.

Na série documental “Rainhas Africanas” podemos aprender mais sobre a


rainha Jinga, onde, com ajuda de especialistas é possível trazer à tona a história de
Jinga. Fica explicito a maneira que a colonização cuidou de apagar as histórias de
luta e resistências de determinados povos, criando uma ideia de que só a história
dos “vencedores” valeria a pena ser contada. Um dos pontos a qual considero
importante é de saber como as civilizações africanas eram organizadas, quebrando
o véu ideológico de que as populações africanas eram atrasadas, selvagens e que
precisavam de um “mecanismo civilizador”. O machado que Jinga utiliza em seus
combates me lembram bastante ao orixá xangô, deus da justiça na mitologia
africana. O respeito pelos ancestrais, a liderança forte e a forma que Jinga esbanja
feminilidade, traz a recordação de que xangô (orixá da justiça) não é completo sem
Iansã (orixá das tempestades) e que a força feminina também é importante. Na luta
contra o tráfico de seres humanos em África, difundiu os ideais e a coragem da sua
luta pela liberdade, cujas narrativas foram apagadas pela colonização europeia, e
por um regime brutal de silenciamento, Jinga é símbolo que o continente africano
resiste, resiste a imposição de culturas estrangeiras, resiste a imposição da religião
e resiste também ao desumanismos implementado pela colonização.

Portanto, é de suma importância trazer à tona a história de mulheres africanas


que é composta por rainhas, guerreiras e líderes espirituais que romperam
costumes, e alcançaram o poder e prestígio, expandiram seus domínios, expulsaram
os invasores europeus e inspirando a coragem junto ao seu povo. A história da
Rainha Nzinga é um testemunho dos seus esforços para lutar contra o domínio
colonial e proteger o seu povo do comércio de escravos. É uma figura venerada na
história de Angola e de África como um todo.
É um monstro grande pisa forte!

Disciplina: (Des) Colonização das Américas


Docente: Lucinete Morais
Discente: Daniel Victor Lima Alves
E – Mail: daniel.victor1@mail.uft.edu.br

Análise do documentário/ livro o “último navio negreiro”

"Barracoon: A História da Última 'Carga Negra'" é um livro de Zora Neale


Hurston (1891–1960) que foi uma autora, antropóloga e cineasta americana, mais
conhecida por suas contribuições à literatura afro-americana e por sua exploração
do folclore e da cultura afro-americana. Ela foi uma figura proeminente durante a
Renascença do Harlem, um movimento cultural, social e artístico que ocorreu na
década de 1920 no Harlem, Nova York. O livro foi publicado postumamente em
2018, mais de 60 anos após a morte de Hurston. É uma obra de não ficção que
narra a vida de Cudjo Lewis, o último sobrevivente conhecido do comércio de
escravos no Atlântico. Cudjo Lewis, também conhecido como Oluale Kossola, que
nasceu na África Ocidental (atual Benin) e foi capturado e escravizado em 1860. Ele
foi transportado para os Estados Unidos a bordo do Clotilda, o último navio
conhecido a trazer africanos escravizados para os EUA.

O Clotilda foi o último navio negreiro conhecido dos EUA a trazer africanos
escravizados para os Estados Unidos. Foi capitaneado por William Foster e chegou
a Mobile Bay, Alabama, em 1860, mais de 50 anos depois de os Estados Unidos
terem proibido o comércio internacional de escravos. Os armadores do navio,
Timothy Meaher e seus irmãos, organizaram a viagem ilegal na tentativa de dar
continuidade à prática de importação de escravos. Para evitar a detecção, o Clotilda
foi levado para o rio Mobile e queimado depois que os africanos escravizados foram
trazidos para terra e escondidos. Os africanos foram então forçados à escravatura
em vários locais da área de Mobile. Após a Guerra Civil e a abolição da escravatura,
os irmãos Meaher, responsáveis pela viagem ilegal, nunca foram processados. Em
2018, foram descobertos os destroços do Clotilda no Rio Mobile, fornecendo provas
físicas deste acontecimento histórico. A descoberta atraiu atenção significativa, pois
lançou luz sobre um capítulo sombrio da história americana e contribuiu para
discussões sobre reparações e responsabilidade histórica. Em "Barracoon", Hurston
apresenta a história de Lewis em suas próprias palavras, enquanto ela conduzia
entrevistas com ele no final da década de 1920.

O documentário “O Último Navio Negreiro” foi dirigido pele documentarista


Margaret Brown, que possui profundas ligações com a história, pois Mobile Bay é
sua cidade natal. Ela começou a documentar os esforços das buscas pelos
destroços do clotilda em 2016, assim, através desse documentário podemos
conhecer o legado desse povo através de seus descendentes, e acompanhamos
seu logo processo para tentar recuperar os destroços do navio. Além disso, a
documentarista foca bastante nos moradores de “Africatow” que desde o início
consideram que o encontro dos resquícios do clotilda na qual seus antepassados
chegaram ilegalmente aos Estados Unidos, servindo como um pedaço recuperado
de sua história, e de provas dos crimes cometidos pelos antigos donos do navio, a
qual ainda hoje a família é a dona das terras e possui bastante influência no
território.

O título "Barracoon" refere-se aos recintos onde os africanos escravizados


eram mantidos antes de serem transportados através do Atlântico. A narrativa de
Hurston fornece informações sobre as experiências de Cudjo Lewis, sua captura, a
Passagem Média e sua vida como pessoa livre nos Estados Unidos. O livro e o
documentário são significativos por relatar sobre o comércio de escravos e seu
impacto sobre os indivíduos. Também investiga questões de identidade, cultura e
resiliência do espírito humano. "Barracoon" é um importante documento histórico
que contribui para a compreensão da experiência afro-americana e dos efeitos
duradouros da escravidão nos Estados Unidos.

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