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AVALIAÇÃO INDIVIDUAL – PSICOLOGIA INSTITUCIONAL

DO CONJUNTO DE TEXTOS LIDOS NA DISCIPLINA, SELECIONE TRÊS


DELES. CONSIDERANDO ESTES TEXTOS SELECIONADOS, DESTAQUE
TRÊS EXCERTOS (TRÊS PARÁGRAFOS) E OS COMENTE.

Cada questão deve conter, ao mínimo, 1 (uma) página de extensão como


resposta.

Questão 1
Texto Selecionado: Necropolítica.
(referência bibliográfica): MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: Artes &
Ensaios – revista do ppgav/eba/UFRJ, n. 32, 2016.

Excerto 1
“Que a “raça” (ou, na verdade, o “racismo”) tenha um lugar proeminente na
racionalidade própria do biopoder é inteiramente justificável. Afinal de contas,
mais do que o pensamento de classe (a ideologia que define história como uma
luta econômica de classes), a raça foi a sombra sempre presente sobre o
pensamento e a prática das políticas do Ocidente, especialmente quando se
trata de imaginar a desumanidade de povos estrangeiros – ou dominá-los.
Referindo-se tanto a essa presença atemporal como ao caráter espectral do
mundo da raça como um todo, Arendt localiza suas raízes na experiência
demolidora da alteridade e sugere que a política da raça, em última análise,
está relacionada com a política da morte. Com efeito, em termos foucaultianos,
racismo é acima de tudo uma tecnologia destinada a permitir o exercício do
biopoder, “aquele velho direito soberano de morte”. Na economia do biopoder,
a função do racismo é regular a distribuição de morte e tornar possível as
funções assassinas do Estado. Segundo Foucault, essa é “a condição para a
aceitabilidade do fazer morrer.”

Comentário
No que tange a relação entre biopoder e o racismo, podem-se
considerar termos diretamente ligados, haja vista que a expressão “biopoder”,
conceito empregado por Michel Foucault, é caracterizada pelo poder de
controle sobre os corpos de determinada população. Assim ocorre com os
europeus perante a subjugação dos corpos no período de colonização,
exemplo que se enquadra diretamente no entrelaçamento entre biopoder e
racismo, pois as raças não europeias são admitidas instantaneamente como
inferiores, despindo-as de seu valor social, cultural, histórico e todas as suas
peculiaridades, que as torna únicas.
Por outro lado, essa conjuntura não se limita somente a situações tão
distantes, como o período colonial supramencionado. As atrozes ocorrências
nos campos de concentração/extermínio exemplificam o estado de exceção,
definindo a supressão de direitos individuais (MBEMBE, 2016). Sendo assim, o
estado pauta, muitas vezes, o seu nacionalismo e união voltando-se contra um
suposto inimigo comum, aquele que não possui a mesma raça, no caso do
nazismo, a raça ariana, superior às demais, abrindo espaço para a legitimação
do biopoder desta sobre as outras.

Excerto 2
“Não obstante, em nenhum momento se manifestou tão claramente a
fusão da razão com o terror como durante a Revolução Francesa. Nesse
período, o terror é interpretado como uma parte quase necessária da política.
Reivindica-se existir uma transparência absoluta entre o Estado e o povo.
Como categoria política, “o povo” é gradualmente deslocado da realidade
concreta à figura retórica. Como David Bates tem mostrado, os teóricos do
terror acreditam ser possível distinguir entre autênticas expressões da
soberania e as ações do inimigo. Eles também acreditam que é possível
distinguir entre o “erro” do cidadão e o “crime” do contrarrevolucionário na
esfera política. Assim, o terror se converte numa forma de marcar a aberração
no corpo político, e a política é lida tanto como a força móvel da razão quanto
como a tentativa errante de criar um espaço em que o “erro” seria reduzido, a
verdade, reforçada, e o inimigo, eliminado.”
Comentário
O período medieval foi mais um marco histórico que reforça a biopolítica
de alguns povos, exercendo a sua desumanidade em detrimento de uma
suposta melhoria interna de sua nação, evidenciando a necropolítica
empregada e usufruindo de sua influência social e política para e apresentando
o destino que consideram merecidos por esta ou aquela população. É um
poder semelhante ao papel de um “deus”, o Estado apropria-se do terror para
legitimar quem deve ou não morrer, quem é certo ou errado e, em suma, quem
é digno de viver.
Similarmente, essa situação pode ser refletida atualmente nos povos
árabes em relação ao Mundo Ocidental, tendo como principal líder os Estados
Unidos, amados e idolatrados, que possuem controle sobre a paz mundial por
meio de seu discurso libertador. Dessa forma, todo e qualquer povo árabe é
apontado como terrorista (desde o ataque de 11 de setembro realizado por
uma facção específica), sendo associado necessariamente ao perigo e, assim,
a “nação salvadora” se apropria desse elemento para subjugar o Oriente e
intervir sempre que assim achar conveniente, explorando - de diferentes formas
- seu povo, suas terras e seu precioso petróleo.

Excerto 3
“No passado, com efeito, guerras imperiais tiveram como objetivo
destruir os poderes locais, instalando tropas e instituindo novos modelos de
controle militar sobre as populações civis. Um grupo de auxiliares locais podia
participar da gestão dos territórios conquistados, anexados ao Império. Dentro
do Império, as populações vencidas obtinham um status que consagrava sua
espoliação. Em configurações como essas, a violência constitui a forma original
do direito, e a exceção proporciona a estrutura da soberania. Cada estágio do
imperialismo também envolveu certas tecnologias-chave (canhoneira, quinino,
linhas de barcos a vapor, cabos do telégrafo submarino e ferrovias coloniais).”

Comentário

De acordo com o período estudado, cada um deles possui seus próprios


instrumentos, como exposto no excerto acima, as tecnologias-chave do
imperialismo evidenciam a soberania, porém, para além disso, há outras
ferramentas que influenciam diretamente na dominação dos povos. Análogo a
isso, tem-se o desenvolvimento da guilhotina no chamado período
revolucionário na França, tornando-se central não somente para a punição de
vidas pela morte, mas também como forma de entretenimento diante de um
inimigo merecedor por possuir seu status inigualável. Assim, caracteriza-se o
controle militar sobre a população civil.

Questão 2
Texto Selecionado: Pomba-giras: contribuições para afrocentrar a psicologia
(referência bibliográfica): CARVALHO, H.; GALINDO, Dolores; Lopes, M.;
LOURDES, S.; Valencia, L.. Pomba-giras: contribuições para afrocentrar a
psicologia. QUADERNS DE PSICOLOGIA. INTERNATIONAL JOURNAL OF
PSYCHOLOGY, v. 21, p. e1466, 2019.

Excerto 1
“De acordo com Molefi Kete Asante (2009), a afrocentricidade confere
relevância epistemológica ao lugar a partir do qual são tecidas considerações.
Para o autor, “é importante que qualquer avaliação de suas condições, em
qualquer país, seja com base em uma localização centrada na África e sua
diáspora” (p. 93). Frantz Fanon (2008), em sua obra Pele negra, máscaras
brancas, frisa que na visão de mundo colonizadora há uma “impureza”, uma
“obsessão”, uma ausência e esvaziamento que proíbe qualquer realidade
ontológica aos saberes e práticas diferentes da razão colonialista. Diante do
olhar do colonizador, busca-se destituir o negro e a negra de existência
ontológica, forçando-os a se adequarem aos códigos morais que lhes são
impostos pela supremacia branca.”

Comentário
Os saberes e a produção de conhecimentos pelos povos do rico
continente africano são, em muitos momentos da história, suprimidos por meio
do racismo estrutural, principalmente enquanto racismo científico, pautado em
teorias para classificação de raças superiores e inferiores, com base em
características como tamanho e/ou forma do crânio - como é o caso da teoria
da Frenologia, introduzida por Nina Rodrigues -, cor da pele e até mesmo a
vinculação de uma figura religiosa suprema à sua semelhança, Jesus: homem
branco, com cabelo e olhos claros.
Apesar da negação dos conhecimentos africanos, muitos de seus
desenvolvimentos foram tomados destes com uma nova configuração, para
apreciação do povo branco. Situação evidenciada nos mais diversos
segmentos, como o musical. O jazz foi apropriado como cultura norteamericana
para difundir seu sucesso, entretanto, sabe-se que sua origem ocorreu em solo
nigeriano.

Excerto 2
“As Pomba-giras em suas performances de gênero nos terreiros
esbanjam sensualidade, irreverência, agressividade e perigo, sob o ponto de
vista moral de uma sociedade moralista e conservadora. Elas inauguram nos
terreiros, corações baldios das cidades, modos de viver livres, autônomos e
corajosos. Assim, não se deve impor às entidades dos terreiros as
performances de gênero atribuídas historicamente às mulheres brancas e
europeias (Oyewùmí, 2004).”

Comentário
Diversas vezes ouvimos comentários sobre a “pomba-gira” no cotidiano
e, majoritariamente, a eles são atribuídos valores pejorativos, como algo fora
da conduta socialmente adequada. Os espaços de terreiros de Candomblé e
Umbanda são amplamente procurados por adeptos ou não das referidas
religiões, a fim de buscar soluções para seus problemas referentes à vida
amorosa e sexualidade por meio das Pomba-giras, o que destaca a hipocrisia
por sua subjugação.
Por se tratar de religião afrobrasileira, essas importantes figuras do
Candomblé (do qual se originam as Pomba-giras), a “Exu-mulher” é
considerada pelo moralismo e conservadorismo como representante do
estereótipo de prostituta. Em linhas gerais, um modelo que desvia da moral
embranquecida possui seu modo próprio de existir, convocando o
afrocentrismo como essencial para sua perpetuação.

Excerto 3
“A vida social dos terreiros é remetida ao corpo humano e, segundo
José Barros e Maria Teixeira (2006), o corpo é o veículo de comunicação com
os Orixás “força da natureza, que, através da possessão ritual, incorporam em
seus ‘cavalos’ ou médiuns”. Esses autores salientam ainda que a construção
social da pessoa nos espaços sagrados do Candomblé é desenvolvida
gradualmente, a partir do processo iniciático.”

Comentário
Os espaços dos terreiros representam a resistência dos povos negros
escravizados, funcionando tanto como refúgio, como local para difundir a sua
cultura livremente, haja vista que há a repressão do referido modo de
existência fora desses ambientes. O desenvolvimento do ser integrante a esses
espaços requer a obtenção de uma perspectiva que busca acolher o diferente,
e não excluí-lo e reprimi-lo, como prática de conduta do eurocentrismo. Assim,
seus corpos são vistos como forma de acesso ao divino, que pode ser obtido
por aqueles que desejem alcançar este contato espiritual.

Questão 3
Texto Selecionado: Descolonizando a Psicologia: notas para uma Psicologia
Preta.
(referência bibliográfica):
VEIGA, L. M. Descolonizando a psicologia: notas para uma Psicologia Preta.
Fractal: Revista de Psicologia, v. 31, n. esp., p. 244-248, set. 2019. doi:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i_esp/29000.

Excerto 1
“Como descendentes de africanos nascidos pós-abolição, e ainda que
não tenhamos vivido os horrores da escravidão do modo como nossos
ancestrais viveram, trazemos as marcas desse período. Para além disso,
estamos inseridos num país que implementou e que perpetua com múltiplos
dispositivos uma política de embranquecimento da população.”
Comentário

O fortalecimento da Psicologia Preta possui grande importância para a


população, pois além de torná-la ciente sobre os verdadeiros preceitos de
acontecimentos históricos, e não somente as romantizadas histórias tiradas
dos livros de História. A exemplo disso, temos o marco da Lei Áurea decretada
pela Princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela
Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança em 1888, que mais uma vez
vangloria o nobre povo branco, que concedeu direitos ao povo negro.
Entretanto, sabe-se que a situação foi criada por eles próprios tornando-se
libertadores do aprisionamento de outrem criado por eles mesmos e, além
disso, sem haver tido uma reinserção e humanização dos ex-escravizados,
permanecendo à margem da sociedade, situação que ainda se reflete nos dias
de hoje.

Segundo dados de Carneiro (2011 apud VEIGA, 2019, p. 245), a


“Política esta que se inaugura com a abertura do país para a entrada de
imigrantes europeus no fim do século 19 a fim de substituir a mão de obra
escrava e que se desdobra até os dias de hoje onde a cada 23 minutos um
jovem negro é assassinado; em que a expectativa de vida dos negros é de seis
anos a menos que a dos brancos; em que 75% da população mais pobre é
negra; em que a renda per capita de famílias negras é 200% menor que a
renda de famílias brancas; em que, apesar de ser mais de 54% da população
nacional, negros são minoria no Congresso, na Academia, na Televisão e em
todos os espaços de poder da sociedade”.

Excerto 2
“De acordo com a psicanalista, o branco como ideal e como marca do
desejo faz com que o negro se engaje em formas de se aproximar desse ideal
branco, aproximação que tem como objetivo e como efeito apagar os signos
corporais do corpo negro, afilar seus traços como alisar ou raspar os cabelos,
e, no limite, desejar o apagamento total do corpo negro, sua própria extinção.”

Comentário
A propagação dos conceitos e práticas racistas não se findam em si,
havendo uma instauração do ódio do corpo negro sobre si mesmo, que passa a
considerar seu próprio corpo como diferente, errado e imperfeito. Assim, é
provocado o sentimento de algum dia alcançar a supremacia branca, com
traços como o cabelo, o nariz, a estrutura corporal, entre outras características.
Tal situação fortalece ainda mais o sistema capitalista, lucrando com as
indústrias da beleza e estética, como a submissão a maior número de cirurgias
plásticas e uso de instrumentos e produtos que façam com que, principalmente
mulheres negras, possam se assemelhar o máximo possível a mulheres
brancas, afetando severamente a autoestima delas.
Analogamente ao ocorrido com os movimentos feministas, em que há a
incitação do ódio de mulheres para com outras mulheres, é incitado a revolta
de descendentes de africanos, sobretudo afrobrasileiros no Brasil, para com
eles mesmos, perpassando o racismo estrutural que julga em todos os âmbitos
os padrões devidos, como a questões institucionais, como a garantia de uma
vaga de emprego concorrida com candidatos brancos e, majoritariamente, a
sua preferência pelos últimos.

Excerto 3
“O resgate da autoestima e do senso de valor de sua história e de seu
povo não é suficiente para expurgar os efeitos do racismo na subjetividade e no
cotidiano dos negros e negras. Pensar que se livrar das mazelas que o racismo
produz é um trabalho apenas psicológico é perder de vista toda a engrenagem
social que perpetua a supremacia branca e reproduz violências aos corpos
negros. Destruir o racismo implica destruir o mundo tal como ele se encontra
agora. O trabalho sobre si, o autocuidado – tão importante para que sigamos
com saúde mental num mundo que quer nos exterminar – é ferramenta de
fortalecimento para o confronto permanente com a realidade social do
racismo.”

Comentário
O cuidado com a saúde mental de homens e mulheres negros e negras
deve ser trabalhado para além de uma condição subjetiva, pois não são casos
isolados, e sim uma sucessão de fatos socio-histórico-culturais que atravessam
diferentes sociedades, períodos e culturas e não foram estagnados ainda hoje.
Por mais que haja a tentativa de invisibilização dos acontecimentos, com
o Mito da Democracia Racial, são evidentes as recorrências, exemplo disso
são as manifestações ainda necessárias, como ocorrido no Brasil em diversas
cidades, com a morte de João Pedro em 2020 e o movimento conhecido como
Black Lives Matter, no mesmo ano, ocorrido nos Estados Unidos, com a
sensibilização da torturante morte de George Floyd. Os casos supracitados são
apenas exemplos das atrocidades às quais os negros ainda estão sujeitos
atualmente. Por isso, é imprescindível que haja o cuidado não só com a saúde
mental individual, mas a luta constante pela mudança de toda uma estrutura
social.

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