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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BACABAL - CESB


CURSO DE DIREITO – 4º PERÍODO
DISCIPLINA: TEXTOS JURÍDICOS
ALUNOS: FABIO HENRIQUE ANDRADE, CLÁUDIA LUÍSA CHAVES SOUZA
ANDRADE, JOELMA C. DE SOUSA, RAIMUNDO TANCREDO DE JESUS
SOARES, PAULO DA SILVA LIMA, JAIRO DE LIRA RODRIGUES
DATA: 18/02/2021

RESENHA

NECROPOLÍTICA BRASILEIRA: MATAR E/OU DEIXAR MORRER.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção e política da


morte. São Paulo: n-1 edições. 2018. 80p.
 Filósofo Achille Mbembe, nascido na República dos Camarões em 1957,
hoje professor de História e de Ciências Políticas do Instituto Witwatersrand, em
Joanesburgo, África do Sul, e leciona na Universidade Duke, nos EUA. Um dos
pensadores contemporâneos mais prolíficos e ativos, tem uma extensa obra publicada
sobre história e política africanas, na qual explora os temas do poder e da violência. É
autor de Delapostcolonie - Essaisurl'imagination politique dansl'Afriquecontemporaine
(2000), de Sortir de la grande nuit - Essaisurl'Afrique déco/onisée (2010), de Ensaio
Necropolíticae Crítica da razão negra(2018).
No ensaio NECROPOLÍTICA, seu autor Achille Mbembe oferece subsídios
informativos para a produção acadêmica a respeito aspectos como violência,
cerceamento, desigualdade, exploração de recursos naturais e criação de mundos de
morte, com ênfase ao ocorrido nas colônias do século XV, e na Palestina.
Diante das muitas possibilidades de análise e respeitando os limites desta
resenha, pretende-se pensar sobre as potencialidades do termo “necropolítica” para o
debate do Estado Brasileiro, como ente que pode estabelecer entre matar ou deixar
morrer aqueles que são marcados pela forte segregação socioeconômica e racial, tendo
em vista que o estado de exceção tem sido a regra e a morte um fator constante.
A expressão máxima da soberania é a produção de normas gerais por
um corpo (povo) composto por homens e mulheres livres e iguais.
Esses homens e mulheres são considerados sujeitos completos,
capazes de autoconhecimento, autoconsciência e auto-representação.
A política, portanto, é definida duplamente: um projeto de autonomia
e a realização de acordo em uma coletividade mediante comunicação e
reconhecimento. (MBEMBE, 2018a, p. 9).
Mbembe considera esta versão de soberania, normativa, e ainda como
romântica, a qual embasou a formação social no imaginário da modernidade nos “países
do norte”, totalmente diferente do caso dos países da América Latina e África cujo
processo de colonização e normatização que tiveram uma luta não por autonomia, mas
sim da “instrumentalização generalizada da existência humana e a destruição material
de corpos humanos e populações” (p. 10-11).
Dessa forma, a modernidade e colonialidade são completamente
antagônicas, pois o projeto de autonomia do “Norte” foi pautado no projeto de
colonização dos corpos e dos territórios do “Sul”.
Nesse contexto, o pensamento da Biopolítica de Michael Foucault, que
defende a possibilidade de uns em construir uma sociedade pautada no fazer viver entre
indivíduos entendidos como iguais, só foi possível com a política do fazer morrer
colonial e neocolonial.
Em contrapartida, nas colônias, os ameríndios e os africanos escravizados
nunca foram tratados como sujeitos de igual valor, portanto, não tinham o mesmo
reconhecimento em termos de humanidade, pois a concepção da razão foi utilizado para
julgá-los como selvagens, sendo então o determinismo geográfico e o evolucionismo
que trouxeram o verniz científico à dominação.
Com isso, a prática do racismo resolve o problema da morte praticada pelos
Estados soberanos, tanto em seus territórios quanto em além-mar, com a agravante de
que nas colônias, a morte era resultado de todo tipo de violação, abuso e tortura.
Nesse sentido, Mbembe interpreta que o direito de matar nas colônias não se
sujeitava a nenhuma norma legal e institucional, porque o corpo condenado à morte não
era considerado de um ser humano, dentro dos parâmetros ocidentais.
Trazendo para a realidade brasileira, verifica-se que foram séculos sob o
jugo colonial e imperial escravagista, que resultou na formação de território e sociedade
marcados por uma profunda desigualdade e pela constante presença da morte e da
exploração de corpos e recursos.
Os mundos de morte dos quais trata Mbembe não precisam ser em nosso
caso brasileiro, o da morte violenta do corpo, mas também o fato da omissão e
negligência do Estado, através de suas Instituições Política, da Saúde, da Educação e da
Segurança Pública, que deixar morrer a os direitos fundamentais da pessoa humana.
Assim, é importante destacar a questão de Necropolítica e da Soberania,
pois nesse sentido, a idéia que o autor busca envolve quem tem sido definido como
matável. Desta forma, sendo definida a raça, para saber quem eram os indivíduos
destituídos de valor, indivíduos hierarquizados, postos como subalternos, que nem
mesmo quando morrem aos milhões geram comoção social.
A necropolítica passou a ser definida como o direito de matar, não somente
isso, pois o Soberano não é considerado assassino. Essa ideia passou a ser utilizada
pelos movimentos sociais no Brasil para pensar o quanto uma política administrada de
morte tem sido uma marca do racismo estrutural brasileiro.
O genocídio foi um termo que passou a ser utilizado no pós-segunda guerra
mundial, e passou a ser um termo jurídico, isto é, os Estados após a segunda guerra
mundial, que passassem a ser reconhecidos como praticantes de algum tipo de
genocídio, ou seja, de extermínio de massa de uma população receberiam deveriam
receber sanções, e a idéia de necropolítica passou a ser utilizada para entender o quanto
as ações do Estado têm provocado o aumento da morte de jovens negros.
Como exemplo, pode-se citar o quanto agentes poluidores são colocados
em onde vivem majoritariamente a população pobre negra, onde se verifica que lixões e
produtos químicos são lançados às vezes em rios tem atingindo a população negra.
Isso implica em dizer que a Necropolítica tem relação direta com o
capitalismo, porque define que determinados grupos são de menos valor, e por isso são
descartáveis. Age em eliminar a população em situação de rua, principalmente em áreas
vitrines da cidade, ao invés de se pensar em uma política que combata a desigualdade
social. Política administrada de Norte, visa atrair grandes investimento e
empreendimentos, então ela está diretamente relacionada com o capitalismo.
Como saída, conscientes de que o Racismo é estrutural da sociedade
brasileira, e estrutura o sistema econômico, o sistema político, a produção do
conhecimento, as instituições brasileiras, reconhecer isso significa que precisamos
reconhecer quais os elementos que não forma combatidos e se não deseja combater, e os
que se precisa combater.
Isso coloca a necessidade de descolonizar a forma de como pensamos a
sociedade brasileira e particularmente a população pobre e negra. Não há uma solução
fácil. É preciso criar múltiplas escalas do agir político, pensar o enfrentamento nas
instituições brasileiras, especificamente do Estado, pensar a área de segurança que tem
cada vez mais reproduzindo essa politica administrada de morte, de ouvir
principalmente as pessoas que tem sido vítimas dessa violência, ouvir os movimento
sociais. Mandela disse que ninguém nasce racista, agente aprende a ser racista. Então
agente pode desaprender. E como fomos formados em uma sociedade colonial, e vários
privilégios historicamente foram se instituindo e nunca foram combatidos ou abolidos,
pra combater o racismo, é preciso combater os privilégios, criar políticas reparatórias de
longo prazos para constatarmos que estas instituições servem aos nossos propósitos,
porque atualmente elas não servem.
Como análise, pode-se afirmar que o citado ensaio é mais analítico e
descritivo do que expositivo, e devidamente alimentado por fontes bibliográficas de
autores extremamente conceituados como Michael Foucault, Giorgio Agambem, entre
outros, que em comum têm em suas temáticas a idéia de dominadores e dominados, vida
e política.
Toda via, o referido ensaio se tornaria mais rico se fosse mais robusto de
exemplos práticos,e, por isso, poderia ter mencionado a situação de racismo no Brasil,
que tem população prevalente de negros devida a herança da colonização, sendo a
segunda maior nação negra do mundo, atrás apenas da Nigéria, na África . (Fonte:
HTTP://www.arcodacultura.org.br/ação/programa/quilombo. Acesso em 24 de fevereiro de
2021).
Diante o que foi expresso, pode-se afirmar que a referida obra é rica em
referência bibliográfica filosófica, mas carente de exemplos cotidianos, dessa forma a
leitura é útil para esclarecer que a NECROPOLÍTICA está cada vez mais presente na
atual conjuntura mundial, e que nós brasileiros ainda caminhamos a passos de tartaruga
rumo às soluções vislumbradas.
Em razão disso, fica latente que é preciso considerar que a Necropolítica,
no tocante a realidade brasileira, é uma triste realidade, e que os cidadãos, juntamente
com o Estado, e suas Instituições é que acionam os gatilhos que matam os menos
favorecidos, e que a forma de reverter isso, é a efetivação de políticas sociais efetivas
que façam valer os direitos fundamentais do indivíduo, ouvir as vítimas de grotesco
sistema, ouvir os movimentos sociais, para assim, combater o racismo, através do
combate aos privilégios, criar políticas reparatórias de longo prazos para constatarmos
que estas instituições servem aos nossos propósitos, porque atualmente elas não servem,
o que torna a obra obrigatóriapara acadêmicos de Direito, e profissionais da área de
Segurança Pública, Políticos, Jurístas e a sociedade como um todo .
REFERÊNCIAS

AGAMBEN, G. Estado de exceção: [Homo Sacer II, I]. São Paulo: Boitempo, 2015.

FANON, F. Os condenados da terra. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.

FOULCOUT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France


(1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 208b.

HTTP://www.arcodacultura.org.br/ação/programa/quilombo. Acesso em 24 de fevereiro


de 2021

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção e política da


morte. São Paulo: n-1 edições; 2018a. ______. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1
edições; 2018b.

RODRIGUES, Eduardo de Oliveira. Necropolítica: uma pequena ressalva crítica à luz


das lógicas do arrego. Rio de Janeiro. 2019. (mimeo.)

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