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A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA

O RADICALISMO COM O A SOLUÇÃO PARA AS FRUSTAÇÕES E DECEPÇÕES DA VIDA


A VERDADEIRA HIPOCRISIA É NEGAR A LUTA DE RAÇAS E PERDER A CHANCE DE SE
PREPARAR E DE SE DEFENDER QUANDO O MOMENTO DE LUTA CHEGAR
A MUDANÇA COMO RAIZ DE TODO O PRECONCEITO

O filme “A outra História Americana”, dirigido por Tony Kaye e escrito por David
McKenna apresenta aos espectadores a história de dois jovens, Derek Vinyard e seu irmão
mais novo Danny Vinyard, pertencentes a uma família abalada pela perda precoce de seu pai,
um bombeiro baleado em um bairro negro durante o atendimento de uma ocorrência. A partir
desta fatalidade, Derek desenvolve um ódio a comunidades negras e às minorias imigrantes,
passando ainda a construir laços sociais com células supremacistas brancos denominados de
Skinhead (cabeças raspadas). Derek é preso após assassinar um grupo de homens negros que
estavam tentando furtar o carro de sua família. Posteriormente sua pena é cumprida, ele
descobre que seu irmão se aproximou do mesmo grupo a quem pertencia antes da prisão,
levando o até então o protagonista do filme a buscar uma forma de evitar que o irmão siga o
mesmo caminho e cometa os mesmos erros. Em decorrência dos eventos aqui narrados e
apresentados no filme, é possível estabelecer uma série de correlações com conceitos
apresentados e discorridos na esfera antropológica, no que diz respeito a alteridade,
etnocentrismo, relativismo cultural e racialização. Antes de começar a análise, faz-se
necessário primeiro esclarecer que a ordem dos temas a serem apresentadas não é baseada na
ordem de apresentação dos conceitos, e sim, quando estes foram identificados no longa. Serão
utilizados ainda, matérias, capítulos de livros e outras formas de referenciação a fim de
fundamentar mais o assunto a ser discorrido.
É fato que ao longo das eras o ser humano estabeleceu diversos tipos de relações
sociais. Estas podem assumir várias formas, sendo elas econômicas, políticas e culturais,
podendo ainda permear as barreiras impostas pelo espaço geográfico. Porém, para que estas
relações se consolidem e mantenham-se, é necessário que haja entre os indivíduos/ grupos
uma semelhança entre as partes.

Tais relações são regidas pela presença de um conceito universal denominado


Alteridade. Alteridade é um estranhamento que é sentido e manifestado ao ser introduzido ao
novo, que quase sempre não se mostra coerente com as crenças já estabelecidas a um outro
meio social, político e principalmente religioso. É uma prática classificatória que vai permitir
e ser utilizada para hierarquizar as relações sociais no mundo no qual se vive, bem como
justificar algumas práticas. Tomemos como exemplo o período do “Descobrimento do Novo
Mundo” como exemplo, onde o europeu utiliza de suas crenças e apresenta opiniões a cerca
do indígena americano e dos povos africanos.
“(...) Las Casas:

Àqueles que pretendem que os índios são bárbaros, responderemos que essas pessoas têm aldeias,
vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa. (...)
Esses povos igualavam ou até superavam muitas nações do mundo conhecidas como policiadas e
razoáveis, e não eram inferiores a nenhuma delas. Assim, igualavam-se aos gregos e os romanos, e
até, em alguns de seus costumes, os superavam (...). (LAPLANTINE, François. A História da
Antropologia pg. 45).

“(...) Tudo na África, é nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” não respeitam
nada, ne, mesmo eles próprios, já que comem carne humana e fazem comércio da “carne” de seus
próprios. Vivendo em uma ferocidade bestial inconsciente de si mesma, em uma selvageria em
estado bruto, eles não têm moral, nem instituições sociais, religião ou Estado. Petrificados em uma
desordem inexorável, nada, nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preencher o fosso
que os separa da História universal da humanidade. (LAPLANTINE, François. A História da
Antropologia pg. 45).

Ambos os trechos apresentados acima, apresentam duas visões de um mesmo observador


sobre grupos diferentes. Ainda que ambos os povos tenham sofrido com o processo de
escravização, os relatos acima apresentam ainda que de forma leve, uma afinidade por parte
dos europeus com os povos indígenas do Brasil (em função das pequenas semelhanças
compartilhadas) enquanto, em relação aos povos africanos, lhes são atribuídos a rejeição por
completo e concebidos ao nível de um objeto sem valor.
A alteridade pode ser identificada no filme pela presença dos grupos supremacistas brancos.
Estes por sua vez, condenavam uma sociedade multicultural e as minorias que ali existem. As
gangues recrutavam indivíduos jovens inseguros, desempregados e sem perspectiva de vida,
onde a célula neonazista unia todos por uma crença comum, consolidando assim uma relação
de semelhança, visto que todos compartilhavam dos mesmos pensamentos: o ódio aos negros,
latinos e a minoria de imigrantes no país.

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