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Michel Foucault é cirúrgico neste texto, deixando um resumo estruturado, logo no

primeiro excerto, do que foi tratado na aula de 17 de março de 1976: a questão das
guerras como guerra de raças, fatos iniciados alguns séculos atrás que perduram até
hoje. O conceito de racismo foi comentado no final do texto. O autor achou conveniente
conceituar a teoria da Soberania, à princípio.

A dita teoria, para Foucault, era a base para as guerras, pois nela consistia em
saber sobre o direito de vida e de morte, e que o sujeito não era nem vivo e nem morto,
era neutro, apenas. Mas neutro porque era o soberano que decidia sobre o direito de
estar vivo ou até mesmo morto.

Mas dentro deste pensamento sobre o direito de vida ou de morte, a partir do


século XIX, surge outro que é importante, o qual também é subordinado ao soberano:
deixar viver ou fazer morrer. Num primeiro momento, o conceito parece-nos confuso,
porém se torna algo realmente verificável quando pensamos em momentos de tensões e
conflitos, até mesmo no sentido de direitos, no campo político. É uma soberania que
detém esse poder.

Dentro de todo esse conceito, podemos pensar em como se dava essa soberania
sobre vida ou morte. A partir das transformações industriais, as tecnologias necessitam
de novas formas de disciplina de trabalho. Neste sentido, Foucault lista duas tomadas de
poder: a primeira é centrada no indivíduo (homem-corpo), denominada “tecnologia
disciplinar do trabalho”. A segunda surge no decorrer do século XVIII, a qual Foucault
chamaria de “biopolítica”. Nesta, a tomada de poder, nas palavras de Foucault, “não é
individualizante, mas que é massificante” (p. 289), ou seja, uma tecnologia de poder na
qual a sociedade sendo um conjunto, é vista como um problema. Isso porque, a partir da
biopolítica, fez-se necessária a implantação de mecanismos reguladores que pudessem
calcular estatísticas, “trata-se de um conjunto de processos como o a proporção dos
nascimentos e dos óbitos, a taxa de reprodução, a fecundidade de uma população, etc.”
(p. 290), por exemplo.

Refletindo ainda sobre a inoperância da soberania, a qual já não lograva reger a


sociedade, que se deu o que Foucault chama de “primeira acomodação” sobre o corpo
individual por meio da disciplina, e uma “segunda acomodação”, esta, sobre a
população, ambos mecanismos não estão no mesmo nível, porém são articulados um
com o outro. Vemos isso no campo da sexualidade, por exemplo, a qual no âmbito
individual necessita de certa vigilância, caso contrário o corpo seria punido com
doenças. Assim como a sexualidade como fonte procriadora, se insere no campo da
regulamentação, pois uma pessoa pervertida, por exemplo, considerando sua
hereditariedade, todos seriam pervertidos.

Temos então o conceito de norma, mencionado por Foucault, que nada mais é
aquilo que se pode aplicar num corpo, pode-se aplicar também numa população que se
quer regulamentar. Ao dialogar sobre o contexto do século XIX, o autor menciona que o
biopoder, mais precisamente seu excesso, devolve em certa medida o poder soberano
acrescentando o poder de “matar a própria vida”. (p. 303).

Assim, partindo de algumas reflexões, o autor adentra ao tema ao qual gostaria de


ter conceituado logo no início: o racismo. O racismo foi inserido justamente pela
ascensão do biopoder. A hierarquia das raças, a defasagem de uma população em
relação à outra, a divisão, é a primeira função do racismo. Segue então, uma segunda
função: a de matar quem é considerado de raça inferior, no sentido de formar uma
sociedade pura, pois “quanto mais as espécies inferiores tenderem a desaparecer [...]
menos degenerados haverá em relação à espécie [...]” (p. 305). Percebemos que para
uma sociedade ser normalizada, ela vai passar pelo racismo.

Ao final do texto percebemos, juntamente com o autor, que o racismo “é ligado ao


funcionamento de um Estado que é obrigado a utilizar a raça, a eliminação das raças e a
purificação da raça para exercer seu papel soberano” (p. 309). Ou seja, através da
tecnologia de poder, do biopoder, o Estado se torna um assassino e o racismo é
concretizado.

Obviamente, para exemplificar essa parte, o autor não poderia ter deixado de
mencionar o nazismo, pois é um dos acontecimentos no qual foi possível perceber com
clareza o poder disciplinar. E o poder de matar foi tão manifesto nessa sociedade, que
além de deterem o poder sobre a vida de outras raças, também o faziam com a própria
população, inserida como um dever obrigatório, com nome de obediência. Um Estado
racista. Não podemos também, deixar de refletir que qualquer outro Estado, seja ele
capitalista ou socialista, é regido pelo racismo.

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