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FOUCAULT, Michel.

Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel


Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2004.

Discente: GISELE DE FÁTIMA DO PRADO

RESENHA: TERCEIRA PARTEE, CAPÍTULO I: OS CORPOS DÓCEIS

A terceira parte do livro Vigiar e Punir: nascimento da prisão (2004), de Michel


Foucault, traz como tema a disciplina, e o primeiro capítulo “Os Corpos Dóceis” parte
da perspectiva militar do século XVII e XVIII, comparando, a partir de seus
comportamentos, como seria um soldado ideal, sendo que na época os soldados eram
vistos como exemplos e para seguirem carreira, evidentemente, era necessário certo
preparo físico, mas também eram os principais objetos de adestramento. Então os
corpos foram reduzidos a objetos de estudo, para que assim, houvesse a possibilidade de
adestramento, uma disciplina idealizada no corpo do soldado, um corpo obediente e
funcional, um corpo dócil. Percebemos então uma primeira visão deste adestramento: o
soldado através de uma certa disciplina que vira dominação.

Um corpo dócil é aquele que também é frágil, fácil de manipular, passível de ser
dominado. O único corpo útil é o corpo que produz. Podemos dizer então que este é o
papel da disciplina: produzir corpos dóceis, especializados para realizar diversas tarefas,
tudo isso sendo submissos e produtivos. Cada gesto, cada detalhe precisa ser analisado.
Foucault menciona que

ela (mecânica do poder) define como se pode ter domínio sobre


o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se
quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas,
segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina
fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis.
(2004, p. 115)
O autor elenca quatro mecanismos disciplinares formadores de corpos dóceis:

1. A arte das distribuições: dois objetivos: proteção e controle. Consiste em


distribuir os indivíduos no espaço, utilizando técnicas como “encarceramento”,
que seria um lugar com paredes, muros, cercas, como colégios, quartéis,
indústrias, sem que haja conflitos entre as pessoas, pois todos estariam sob o
mesmo teto; “localização imediata” que nada mais é do que um espaço funcional
para cada indivíduo, evitando a aglomeração como tática de antivadiagem e
antideserção, possibilitando a vigilância constante dos corpos; a organização
sequencial em filas, que individualiza e distribui os corpos e também torna
possível controle individual e o trabalho do grupo.
2. O controle da atividade: o horário como forma de controle. Cada atividade
sendo cronometrada, em cada setor, desde passos, lavagem das mãos, com
proibição de “perda de tempo” através da pressão dos fiscais, pois o tempo
“medido e pago deve ser também um tempo sem impureza” (p. 128); a
elaboração temporal do ato significa a duração de cada atividade, definido o
tempo em que cada objeto vai ser produzido, ou quanto tempo cada gesto dura;
corpo e gesto devem manter uma relação garantindo eficácia e rapidez; a
utilização exaustiva através do princípio da não ociosidade, jornadas de trabalho.
3. A organização das gêneses: esta parte trata da maneira como os corpos são
disciplinados, como os corpos são criados, inventados; organização do tempo
como forma de capitalizar os movimentos dos indivíduos, pois a função social é
percebida pela gênese laboral. O tempo no trabalho é organizado a partir de
alguns processos militares, como: a decomposição do tempo, na qual as
atividades são separadas em sequências, progressivas e cada atividade com um
tempo cronometrado; a seriação: distribuição de tarefas de acordo com o nível,
habilidade, de acordo com a força e a docilidade (por exemplo as séries
escolares, quem tem doutorado e quem não tem, os setores de uma empresa
etc.), possibilitando a caracterização, como se fossem estágios de conhecimento,
para tornar o homem útil; a prova final como forma de verificação da
capacidade.
4. A composição das forças: é a união de todas as articulações para a obtenção de
um trabalho eficiente. O homem mesmo sendo um ser individual, ao ser inserido
se constitui uma peça de uma máquina multissegmentar; o tempo deve ser gerido
para que possa ser proveitoso; as ordens não precisam ser esmiuçadas, apenas
um gesto ou olhar deve ser suficiente para a comunicação.

Percebemos que a disciplina produz um corpo que pode ser controlado,


individualidades que são controladas por técnicas como a construção de quadros,
prescrição de manobras, exercícios impostos e organização de táticas. Todos esses
mecanismos agregados produzem uma relação de poder, e essa relação é percebida
ainda nas escolas, nos hospitais, nos quartéis, nas empresas, nas fábricas, a história
continua a mesma, este estudo realizado por Foucault diz muito sobre a sociedade
contemporânea. Os corpos ainda são dóceis.

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