1) O documento descreve a organização de escolas de arte no século XVIII, divididas em três classes com diferentes níveis de habilidade e exercícios.
2) Explica como as disciplinas militares dividiam o tempo em segmentos sequenciais e paralelos com objetivos específicos para capitalizar o tempo individual e acumular duração.
3) Discutem como as novas técnicas de poder no século XVIII levaram ao surgimento de uma historicidade "evolutiva" baseada no progresso contínuo em oposição à
1) O documento descreve a organização de escolas de arte no século XVIII, divididas em três classes com diferentes níveis de habilidade e exercícios.
2) Explica como as disciplinas militares dividiam o tempo em segmentos sequenciais e paralelos com objetivos específicos para capitalizar o tempo individual e acumular duração.
3) Discutem como as novas técnicas de poder no século XVIII levaram ao surgimento de uma historicidade "evolutiva" baseada no progresso contínuo em oposição à
1) O documento descreve a organização de escolas de arte no século XVIII, divididas em três classes com diferentes níveis de habilidade e exercícios.
2) Explica como as disciplinas militares dividiam o tempo em segmentos sequenciais e paralelos com objetivos específicos para capitalizar o tempo individual e acumular duração.
3) Discutem como as novas técnicas de poder no século XVIII levaram ao surgimento de uma historicidade "evolutiva" baseada no progresso contínuo em oposição à
Encontramos a as caractersticas prprias da aprendizagem corporativa: relao de
dependncia ao mesmo tempo individual e total quanto ao mestre; durao estatutria da formao que se conclui com uma prova qualificatria, mas que no se decompe segundo um programa preciso; troca total entre o mestre que deve dar seu saber e o aprendiz que deve trazer seus servios, sua ajuda e muitas vezes uma retribuio. A forma da domesticidade se mistura a uma transferncia de conhecimento. Pg. 182 A escola dividida em trs classes. A primeira para os que no tm nenhuma noo de desenho; mandam-nos copiar modelos, mais difceis ou menos difceis, segundo as aptides de cada um. A segunda para os que j tm alguns princpios ou que passaram pela primeira classe; devem reproduzir quadros primeira vista e sem tomar-lhes o trao, mas considerando s o desenho. Na terceira classe, aprendem as cores, fazem pastel, iniciam-se na teoria e na prtica do tingimento. Regularmente, os alunos fazem deveres individuais: cada um desses exerccios, marcado com o nome do autor e a data da execuo, depositado nas mos do professor; os melhores so recompensados; reunidos no fim do ano e comparados entre eles, permitem estabelecer os progressos, o valor atual, o lugar relativo de cada aluno; determinam-se ento os que podem passar para a classe superior. Pg. 182
[...] uma nova tcnica para a apropriao do tempo das existncias singulares; para reger as relaes do tempo, dos corpos e das foras; para realizar uma acumulao da durao; e para inverter em lucro ou em utilidade sempre aumentados o movimento do tempo que passa. Como capitalizar o tempo dos indivduos, acumul-lo em cada um deles, em seus corpos, em suas foras ou capacidades, e de uma maneira que seja susceptvel de utilizao e de controle? Como organizar duraes rentveis? As disciplinas, que analisam o espao, que decompem e recompem as atividades, devem ser tambm compreendidas como aparelhos para adicionar e capitalizar o tempo. Pg. 183
[...]E isto por quatro processos, que a organizao militar mostra com toda a clareza. 1o) Dividir a durao em segmentos, sucessivos ou paralelos, dos quais cada um deve chegar a um termo especfico. [...] 2) Organizar essas sequncias segundo um esquema analtico sucesso de elementos to simples quanto possvel, combinando-se segundo uma complexidade crescente. [...] 3o) Finalizar esses segmentos temporais, fixar-lhes um termo marcado por uma prova, que tem a trplice funo de indicar se o indivduo atingiu o nvel estatutrio, de garantir que sua aprendizagem est em conformidade com a dos outros, e diferenciar as capacidades de cada indivduo. [...] 4o) Estabelecer sries de sries; prescrever a cada um, de acordo com seu nvel, sua antiguidade, seu posto, os exerccios que lhe convm; os exerccios comuns tm um papel diferenciador e cada diferena comporta exerccios especficos. Ao termo de cada srie, comeam outras, formam uma ramificao e se subdividem por sua vez. De maneira que cada indivduo se encontra preso numa srie temporal, que define especificamente seu nvel ou sua categoria. Pg. 183-184
Forma-se toda uma pedagogia analtica, muito minuciosa e tambm muito precoce em sua histria. Pg. 185
Cada patamar na combinatria dos elementos devesse inserir numa grande srie temporal, que ao mesmo tempo uma marcha natural do esprito e um cdigo para os processos educativos. Pg. 185
A colocao em srie das atividades sucessivas permite todo um investimento da durao pelo poder: possibilidade de um controle detalhado e de uma interveno pontual (de diferenciao, de correo, de castigo, de eliminao) a cada momento do tempo; possibilidade de caracterizar, portanto de utilizar os indivduos de acordo com o nvel que tm nas sries que percorrem; possibilidade de acumular o tempo e a atividade, de encontr-los totalizados e utilizveis num resultado ltimo, que a capacidade final de um indivduo. Recolhe-se a disperso temporal para lucrar com isso e conserva-se o domnio de uma durao que escapa. O poder se articula diretamente sobre o tempo; realiza o controle dele e garante sua utilizao. Pg. 185
Os procedimentos disciplinares revelam um tempo linear cujos momentos se integram uns nos outros, e que se orienta para um ponto terminal e estvel. Em suma, um tempo evolutivo. Ora, preciso lembrar que no mesmo momento as tcnicas administrativas e econmicas de controle manifestavam um tempo social de tipo serial, orientado e cumulativo: descoberta de uma evoluo em termos de progresso. As tcnicas disciplinares, por sua vez, fazem emergir sries individuais: descoberta de uma evoluo em termos de gnese. Progresso das sociedades, gnese dos indivduos, essas duas grandes descobertas do sculo XVIII so talvez correlatas das novas tcnicas de poder e, mais precisamente, de uma nova maneira de gerir o tempo e torn-lo til, por recorte segmentar, por seriao, por sntese e totalizao. Uma macro e uma microfsica do poder permitiram, no certamente a inveno da histria (j h um bom tempo ela no precisava mais ser inventada), mas a integrao de uma dimenso temporal, unitria, cumulativa no exerccio dos controles e na prtica das dominaes. A historicidade evolutiva, assim como se constitui ento e to profundamente que ainda hoje para muitos uma evidncia est ligada a um modo de funcionamento do poder, da mesma forma que a histria-rememorao das crnicas, das genealogias, das proezas, dos reinos e dos atos esteve muito tempo ligada a uma outra modalidade do poder. Com as novas tcnicas de sujeio, a dinmica das evolues contnuas tende a substituir a dinstica dos acontecimentos solenes. Pg. 185-186
Dirigindo o comportamento para um estado terminal, o exerccio permite uma perptua caracterizao do indivduo seja em relao a esse termo, seja em relao aos outros indivduos, seja em relao a um tipo de percurso. Assim, realiza, na forma da continuidade e da coero, um crescimento, uma observao, uma qualificao. Antes de tomar essa forma estritamente disciplinar, o exerccio teve uma longa histria: encontrado nas prticas militares, religiosas, universitrias s vezes ritual de iniciao, cerimnia preparatria, ensaio teatral, prova. Sua organizao linear, continuamente progressiva, seu desenrolar gentico ao longo do tempo tm, pelo menos no exrcito e na escola, introduo tardia. E sem dvida de origem religiosa. [...] Sob sua forma mstica ou asctica, o exerccio era uma maneira de ordenar o tempo aqui de baixo para a conquista da salvao. Vai pouco a pouco, na histria do Ocidente, inverter o sentido guardando algumas caractersticas: serve para economizar o tempo da vida, para acumul-lo de uma maneira til, e para exercer o poder sobre os homens por meio do tempo assim arrumado. O exerccio, transformado em elemento de uma tecnologia poltica do corpo e da durao, no culmina num mundo alm; mas tende para uma sujeio que nunca terminou de se completar. Pg 186-187
A COMPOSIO DAS FORAS
Desde o fim do sculo XVII, o problema tcnico da infantaria foi de libertar-se do modelo fsico da massa. Armada de lanas e mosquetes lentos, imprecisos, que no permitiam ajustar um alvo e mirar uma tropa era usada ou como um projtil, ou como um muro ou uma fortaleza [...] a repartio dos soldados nessa massa era feita principalmente segundo sua antiguidade e valentia; no centro, encarregados de fazer peso e volume, de dar densidade ao corpo, os mais novatos; na frente, nos ngulos ou pelos lados, os soldados mais corajosos ou reputados os mais hbeis. Passou-se no decorrer da poca clssica a um jogo de articulaes minuciosas. A unidade regimento, batalho, seo, mais tarde diviso torna-se uma espcie de mquina de peas mltiplas que se deslocam em relao umas s outras para chegar a uma configurao e obter um resultado especfico. As razes dessa mudana? Algumas so econmicas: tornar til cada indivduo e rentvel a formao, a manuteno, o armamento das tropas; dar a cada soldado, unidade preciosa, um mximo de eficincia. Mas essas razes econmicas s puderam se tornar determinantes a partir de uma transformao tcnica: a inveno do fuzil: mais preciso, mais rpido que o mosquete, valorizava a habilidade do soldado; mais capaz de atingir um alvo determinado, permitia explorar a potncia de fogo ao nvel individual; e inversamente fazia de cada soldado um alvo possvel, exigindo pela mesma razo maior mobilidade; e assim ocasionava o desaparecimento de uma tcnica das massas em proveito de uma arte que distribua as unidades e os homens ao longo de linhas extensas, relativamente flexveis e mveis. Da a necessidade de encontrar um prtica calculada das localizaes individuais e coletivas, dos deslocamentos de grupos ou de elementos isolados, das mudanas de posio, de passagem de uma disposio a outra; enfim, de inventar uma maquinaria cujo princpio no seja mais a massa mvel ou imvel, mas uma geometria de segmentos divisveis cuja unidade de base o soldado mvel com seu fuzil; e, acima do prprio soldado, os gestos mnimos, os tempos elementares de ao, os fragmentos de espaos ocupados ou percorridos. Pg. 187-188
Surge assim uma exigncia nova a que a disciplina tem que atender: construir uma mquina cujo efeito ser elevado ao mximo pela articulao combinada das peas elementares de que ela se compe. A disciplina no mais simplesmente uma arte de repartir os corpos, de extrair e acumular o tempo deles, mas de compor foras para obter um aparelho eficiente. Essa exigncia se traduz de vrias maneiras. Pg 189
1) O corpo singular torna-se um elemento, que se pode colocar, mover, articular com outros. [...] O soldado cujo corpo foi treinado para funcionar pea por pea para operaes determinadas deve por sua vez formar elemento num mecanismo de outro nvel. [...] O corpo se constitui como pea de uma mquina multissegmentar. Pg. 189
2) So tambm peas as vrias sries cronolgicas que a disciplina deve combinar para formar um tempo composto. O tempo de uns deve-se ajustar ao tempo de outros de maneira que se possa extrair a mxima quantidade de foras de cada um e combin-la num resultado timo. [...] No h um s momento da vida de que no se possa extrair foras, desde que se saiba diferenci-lo e combin-lo com outros. [...] A escola torna-se um aparelho de aprender onde cada aluno, cada nvel e cada momento, se esto combinados como deve ser, so permanentemente utilizados no processo geral de ensino. Pg. 189-190
3) Essa combinao cuidadosamente medida das foras exige um sistema preciso de comando. Toda a atividade do indivduo disciplinar deve ser repartida e sustentada por injunes cuja eficincia repousa na brevidade e na clareza; a ordem no tem que ser explicada, nem mesmo formulada; necessrio e suficiente que provoque o comportamento desejado. Do mestre de disciplina quele que lhe sujeito, a relao de sinalizao: o que importa no compreender a injuno, mas perceber o sinal, reagir logo a ele, de acordo com um cdigo mais ou menos artificial estabelecido previamente. Colocar os corpos num pequeno mundo de sinais a cada um dos quais est ligada uma resposta obrigatria e s uma: tcnica do treinamento que: exclui despoticamente em tudo a menor representao, e o menor murmrio; o soldado disciplinado comea a obedecer ao que quer que lhe seja ordenado; sua obedincia pronta e cega; a aparncia de indocilidade, o menor atraso seria um crime. Pg. 191
O treinamento das escolares deve ser feito da mesma maneira; poucas palavras, nenhuma explicao, no mximo um silncio total que s seria interrompido por sinais sinos, palmas, gestos, simples olhar do mestre, ou ainda aquele pequeno aparelho de madeira que os Irmos das Escolas Crists usavam; era chamado por excelncia o Sinal e devia significar em sua brevidade maquinal ao mesmo tempo a tcnica do comando e a moral da obedincia. Pg. 191
O aluno dever aprender o cdigo dos sinais e atender automaticamente a cada um deles. Pg. 191
Em resumo, pode-se dizer que a disciplina produz, a partir dos corpos que controla, quatro tipos de individualidade, ou antes uma individualidade dotada de quatro caractersticas: celular (pelo jogo da repartio espacial), orgnica (pela codificao das atividades), gentica (pela acumulao do tempo), combinatria (pela composio das foras). E, para tanto, utiliza quatro grandes tcnicas: constri quadros; prescreve manobras; impe exerccios; enfim, para realizar a combinao das foras, organiza tticas. A ttica, arte de construir, com os corpos localizados, atividades codificadas e as aptides formadas, aparelhos em que o produto das diferentes foras se encontra majorado por sua combinao calculada sem dvida a forma mais elevada da prtica disciplinar. Pg. 192
A poltica, como tcnica da paz e da ordem internas, procurou pr em funcionamento o dispositivo do exrcito perfeito, da massa disciplinada, da tropa dcil e til, do regimento no acampamento e nos campos, na manobra e no exerccio. Nos grandes Estados do sculo XVIII, o exrcito garante a paz civil sem dvida porque uma fora real, uma espada sempre ameaadora, mas tambm porque uma tcnica e um saber que podem projetar seu esquema sobre o corpo social. Se h uma srie guerra-poltica que passa pela estratgia, h uma srie exrcito-poltica que passa pela ttica. a estratgia que permite compreender a guerra como uma maneira de conduzir a guerra entre os Estados; a ttica que permite compreender o exrcito como um princpio para manter a ausncia de guerra na sociedade civil. A era clssica viu nascer a grande estratgia poltica e militar segundo a qual as naes defrontam suas foras econmicas e demogrficas; mas viu nascer tambm a minuciosa ttica militar e poltica pela qual se exerce nos Estados o controle dos corpos e das foras individuais. Pg. 193
O sonho de uma sociedade perfeita facilmente atribudo pelos historiadores aos filsofos e juristas do sculo XVIII; mas h tambm um sonho militar da sociedade; sua referncia fundamental era no ao estado de natureza, mas s engrenagens cuidadosamente subordinadas de uma mquina, no ao contrato primitivo, mas s coeres permanentes, no aos direitos fundamentais, mas aos treinamentos indefinidamente progressivos, no vontade geral, mas docilidade automtica. Pg. 193
Enquanto os juristas procuravam no pacto um modelo primitivo para a construo ou a reconstruo do corpo social, os militares e com eles os tcnicos da disciplina elaboravam processos para a coero individual e coletiva dos corpos. Pg. 194
Bibliografia Foucault, M. (s.d.). Fonte: ftp://ftp.unilins.edu.br/leonides/Aulas/Ci_ncia%20Pol_tica%20- %20I/Foucault%20-%20Vigiar%20e%20Punir.pdf