1) O documento discute três questões fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa histórica: a periodização, o entendimento de fontes históricas, e a relação entre o presente e o passado.
2) É importante reconhecer que as fontes históricas representam perspectivas intencionais e não necessariamente a sociedade como um todo, e que o presente interroga o passado, não o contrário.
3) Ao invés de visões mecânicas ou moralistas da relação entre passado, presente e futuro, o historiador deve explic
1) O documento discute três questões fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa histórica: a periodização, o entendimento de fontes históricas, e a relação entre o presente e o passado.
2) É importante reconhecer que as fontes históricas representam perspectivas intencionais e não necessariamente a sociedade como um todo, e que o presente interroga o passado, não o contrário.
3) Ao invés de visões mecânicas ou moralistas da relação entre passado, presente e futuro, o historiador deve explic
1) O documento discute três questões fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa histórica: a periodização, o entendimento de fontes históricas, e a relação entre o presente e o passado.
2) É importante reconhecer que as fontes históricas representam perspectivas intencionais e não necessariamente a sociedade como um todo, e que o presente interroga o passado, não o contrário.
3) Ao invés de visões mecânicas ou moralistas da relação entre passado, presente e futuro, o historiador deve explic
Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 15, n. 1, p. 113-121, jan./abr.
2012
HISTORIADOR DA EDUCAÇÃO: O Para começar destacamos três grandes
APRENDIZADO DO “OFÍCIO” questões fundamentais para o desenvolvimento da operação historiográfica. A primeira se refere ao Fazendo uma análise das estruturas estabelecimento dos marcos temporais, ou curriculares do curso de Pedagogia, seja, como periodizar. identifica-se que o pedagogo, em sua A periodização está relacionada ao tempo formação, dificilmente adquire delimitado para o objeto de estudo. Quando conhecimentos que compõem o campo da o destaque é o objeto de estudo, o tempo História. Não é de hoje essa constatação. definido é o da duração do fenômeno em Eliane Marta Lopes, desde 1986, apresenta estudo. Isso significa que o tempo não é questões contundentes no que se refere ao mais algo externo e independente dos ensino e à formação de historiadores da temas-objetos. O tempo não é mais educação. Esta historiadora da educação homogêneo e nem universal. Para Barreira incita a enfrentar a questão da formação do (1995, p. 92), “[...] um produto de pesquisa pesquisador da História da Educação é determinado pelo movimento descrito, no porque, para ela, essa tarefa não foi tempo e assumida pelos cursos de educação e de no espaço, pelo próprio objeto de pedagogia. A autora (LOPES, 1986, p. 36) investigação”. afirma que “[...] o educador ou o pedagogo, A segunda relaciona-se ao entendimento de não recebendo formação específica nem em fontes. Partimos do princípio de que é o metodologia de pesquisa histórica nem em objeto de estudo, e o historiador, que define teorias da História, dificilmente pode qual a fonte mais apropriada para o seu tornar-se um historiador”, pois, para atender desenvolvimento. o rigor e o método que o ofício do Considerando que todo vestígio deixado historiador “[...] exige-se um crescente pela entendimento da História da educação, que humanidade são possíveis de se tornarem deve ser escrita através de pesquisas fontes para a pesquisa histórica, nos rigorosas que obedeçam aos critérios e às distanciamos da compreensão de que a vê exigências da própria ciência da história”. como aquele que origina ou produz uma Partindo do pressuposto de que permanece causa. Esta matriz explicativa, esta noção atual a identificação de que o pedagogo de documento histórico estabelece regras de carece de familiaridade com o trato do dependência, estabelece hierarquização, histórico e com o conjunto de reflexões resultando em uma compreensão congelada sobre a História, quer no terreno teórico do passado. Aquele que está pronto para quer na atividade prática, entendese que todo o sempre, que tem e teve um saber está apresentado o desafio da superação instalado, cabendo a nós, historiadores, dessa carência e que existe a possibilidade revelá-lo. Fonte é, para nós, instrumento de que que representa e resulta do desejo de quem isso seja conseguido pelos interessados, à as produziu, intencionalmente ou não, de medida que a História seja reconhecida construir uma determinada imagem de si como campo de conhecimento e dominada mesmo ou de no máximo do seu grupo em seus próprios domínios, ou seja, é social, ou seja, não se constituem, fundamental, no exercício da escrita da necessariamente, como expressão da História da Educação, conhecer as sociedade em geral. Esta compreensão concepções teóricas, os procedimentos destaca e reconhece que a descrição é uma investigativos, as suas normas, a sua ética, a operação historiográfica das mais sua terminologia mais corrente e as suas importantes. Com isso é importante técnicas de trabalho. reconhecer que a relação com os Partindo do pressuposto de que a História é documentos oferece, no a ciência da mutação e da explicação dessa mínimo, duas perspectivas, a de que elas mudança, como operacionalizamos esta propiciam esclarecimentos, e, também, elas compreensão na escrita da história da recebem explicações. A nós, nos cabe educação? interpretálas. Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 15, n. 1, p. 113-121, jan./abr. 2012
A terceira trata do entendimento da relação postura, destaca-se a operação arriscada da
entre o presente e o passado. Entendemos previsão do futuro porque se ignoram as que o historiador longe de tecer possibilidades de todas as ações e considerações moralistas e mecânicas sobre movimentos que cotidianamente se a relação “passado, presente e futuro”, pode realizam e, por sua vez, mudam e alteram, e deve explicá-las, amparado em substanciosamente, a trajetória humana. investigações constantemente refeitas. Esta discussão nos remete à polemica Com este sentido, defendemos a construção questão sobre se há sentido na História. de trabalhos em História da Educação As contribuições teóricas que comprovam a Brasileira que partam da construção de uma relação mecânica entre o estudo do passado história problematizada, quer seja, por meio para entender o presente e direcionar o das indagações, de perguntas do futuro foram deixadas de lado, há quase um pesquisador, instalado no presente, cria-se século (LOPES, 2001, p. 16), todavia, ainda novos contornos ao passado. É o presente encontramos na pesquisa da História da que interroga o passado com o intuito de Educação esse procedimento. Grosso modo, renovar o passado e não o inverso. percebemos que as justificativas para o Entendemos que não é o passado que desenvolvimento de trabalhos de caráter ilumina, explica ou justifica o presente, mas histórico enfatizam, equivocadamente, a que é o presente que dá ao passado uma importância e a manutenção de sua multiplicidade de sentidos. Caso contrário, atualidade. Na tentativa de justificar a corre-se o risco de se cometer os principais importância estabelece-se o raciocínio da delitos em História, como o anacronismo5, a continuidade histórica entre longos Doença de Lamartini6; e da transferência de períodos. O risco deste procedimento se categorias analíticas de períodos históricos visualiza diferentes (BLOCH, 1965, p. 18 e p. 29; LE nas operações metodológicas de GOFF, 1996, p. 15). justaposições, nas abordagens Pontuamos que o regresso do pesquisador descontextualizadas e o no estabelecimento ao de analogias fortuitas e superficiais entre o passado, por meio das fontes históricas, passado e o presente, negligenciando o possui sempre uma intencionalidade que contexto histórico em que foram busca pôr luz, busca iluminar os objetos produzidas. Identificar como se construiu que permanecem nas sombras, recuperando essa tradição, como e onde se instalou essa assim, sentimentos perdidos e esquecidos, compreensão no terreno da História da mas que a leitura que o historiador fará do Educação é um problema teórico- passado, dependerá “[...] de como este metodológico muito profícuo. profissional vê e vive o seu próprio Enfim, estes três procedimentos que presente, pois, a leitura do passado será caracterizam a escrita da história (a realizada, a partir de questões postas em periodização, as fontes e relação entre o certas situações cotidianas”. (NUNES, presente e o passado) nos permitem 1992, p.13). entender além do que foi apresentado se Distanciamo-nos do princípio da ater a outros procedimentos como: continuidade e da unidade histórica e da reconhecer e distinguir o que e quais são as história do homem como dado natural e principais categorias históricas; desenvolver genérico. Distanciamos da herança da cuidados especiais para com o tratamento tradição hegeliana, concepção marcada das diferentes formas de documentos; pelos grandes consensos em História e pela reconhecer os instrumentos de trabalho do manutenção generalizada do “espírito da historiador, como as bibliotecas, os época”. Sabe-se que a História, como arquivos, os catálogos, os inventários de campo de estudos e pesquisas, ainda manuscritos, os periódicos, entre outros; e, mantém a noção do campo disciplinar, adquirir sensibilidade para com o uso, mais porém, há muito tempo, não mais defende a refinado, das palavras e de seus múltiplos mecanicidade “das causas e dos efeitos”, da significados. premissa do estudo do passado para Finalmente, perceber que o que caracteriza entender o presente e direcionar o futuro. um trabalho histórico não são as Dentre a multiplicidade de críticas a tal generalizações universais, mais próximas Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 15, n. 1, p. 113-121, jan./abr. 2012
do campo da Filosofia, mas a minúcia do
pormenor concreto; a investigação empírica e documental, a preocupação em relacionar a ordem de permanência e a ordem da transformação, observando sempre o reconhecimento dos diferentes ritmos e tempos históricos. Portanto, perante tantos desafios, é saudável ter cautela no exercício, no fazer da História da Educação, como recomenda Brandão (1998). Acredita-se, portanto, que, neste momento, entre os muitos desafios, o nosso ainda seja o de buscar a compreensão do fenômeno educativo no movimento histórico, priorizando o rigor científico-metodológico, sem, no entanto, abrir mão, como diria Nunes (1990, p. 36), “[...] da imaginação, da paixão e do desejo de sentir ou conversar com o passado”. Os autores, quando escrevem, estão condicionados pelas “leis do meio”, pela “polícia do trabalho”, pela “materialidade de lugar de produção”; já os leitores podem praticar uma antidisciplina perante os textos, que também são produtos culturais. (CERTEAU, 1994, p. 41). Em outras palavras, entende-se que os autores têm regras, limites que permeiam seus trabalhos, ao passo que os leitores e pesquisadores não são passivos e podem exercer sua astúcia, sua criatividade e produzir outras realidades textuais com os elementos apresentados. Portanto, o que caracteriza o movimento da escrita e da leitura é o da sua constante reconstrução. Esperamos ter deixado claro a importância atual da História da Educação para a formação dos professores, pois para o bom desempenho de sua função, nada mais eficaz do ler, pesquisar e compreender sua história, pois a História da Educação é, em boa medida, a história daqueles responsáveis pela transmissão, institucional ou não, dos saberes sociais, o professor.