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Z

Dossiê

A Evidência
Prof.ª M.ª Diana Lobo
Mestre em Ensino de História
no Ensino Básico e no Ensino

Histórica na Sala de Secundário pela Universidade­


de Coimbra.

Aula: da Exploração
das Fontes Históricas
ao Desenvolvimento
do Pensamento
Histórico dos Jovens
Resumo
A investigação no âmbito da Educação Histórica atribuiu um impor­
tante destaque aos conceitos de segunda ordem, considerados fun­
damentais para a progressão do conhecimento histórico dos alunos,
sobretudo a Evidência Histórica. No entanto, no domínio epistemológico
este conceito encontra-se desfasado das suas potencialidades de
trabalho, e a prática docente reconhecida como o principal agente
limitador. A aula de História tem de ser um espaço privilegiado para o
desenvolvimento de tarefas direcionadas para a apropriação e com­
preensão da noção de evidência e, adjacente a esta, à noção de fonte
histórica. Neste trabalho, encontram-se sumariados alguns pontos
que fazem parte de um estudo realizado no mestrado em ensino de
História na Universidade de Coimbra. O estudo principal, de caráter
teórico e descritivo, procura averiguar de que forma a exploração de
fontes diversas pode constituir uma estratégia pedagógica relevante
para a compreensão da evidência histórica. Esta investigação deu
corpo a uma proposta fundamentada, acompanhada por um conjunto
de materiais, capaz de problematizar este conceito.

Palavras-chave: Conceitos de segunda ordem; Conhecimento his­


tórico; Compreensão histórica; Fontes históricas; Evidência histórica.

Resumen
La investigación en educación histórica ha atribuído un importante
enfoque en conceptos de segundo orden, fundamental para la progresión
del conocimiento históricos de los alumnos, especialmente la evidencia
histórica. Sin embargo, en el âmbito epistemológico, este concepto está
desfasado de su potencial de trabajo y la práctica de los profesores es
Edição 05 | Fevereiro de 2022

reconocida como el principal agente limitante. Introdução


La clase de Historia tiene que ser un espacio
privilegiado para el desarrollo de tareas para A investigação no âmbito da Educação His­
la apropiación y comprensión de la noción de tórica tem procurado compreender a natureza
evidencia y, adyacente a ésta, la noción de fuente epistemológica do conhecimento histórico e o
histórica. Este trabajo resume algunos puntos seu papel no processo de aprendizagem, tendo
que forman parte de un estudio realizado en la para isso direcionado a sua atenção para um
Maestría en la enseñanza de la Historia, en la conjunto de questões relacionadas com o lugar
Universidad de Coimbra. El estudio principal, de que a evidência histórica ocupa na construção
carácter teórico y descriptivo, busca averiguar do conhecimento histórico dos alunos, e qual
a relação que estabelecem com este conceito
cómo la exploración de diferentes fuentes puede
de segunda ordem. A paulatina afirmação da
constituir una estrategia pedagógica relevante
Educação Histórica tem contribuído para a
para la comprensión de la evidencia histórica.
publicação de trabalhos nos quais podemos
Esta investigación plasmó una propuesta, que se
perceber a necessidade de alterar as ideias que
acompaña de un conjunto de materiales, capaz
os alunos apresentam em relação ao conheci­
de problematizar este concepto.
mento histórico e à Historiografia, destacando,
Palabras-clave: Conceptos de segundo orden; neste domínio, a compreensão dos conceitos de
Conocimiento histórico; Comprensión histórica; segunda ordem ou ditos estruturais1.
Fuentes históricas, Evidencia histórica.
Numa fase inicial, definimos que a presente
investigação iria partir da seguinte questão:
Abstract De que forma a exploração de fontes diversas
pode constituir uma estratégia fundamental
Investigation in the context of historical pedagógica para a compreensão do conceito
education has focused mostly in second order de evidência? Para lhe dar resposta, foram
concepts, considering them as vital to the formulados objetivos específicos. Os objeti­
progress of student’s historical knowledge, vos iniciais – reformulados tendo em conta
especially that of historical evidence. However, a conjuntura – deram, então, lugar a outros
in the epistemic domain this concept is far from novos através dos quais procuramos: avaliar
its work potencial, and teachers are the main as noções de fontes históricas e de evidência
limiting agents. The history class has to be a histórica dos alunos; definir um projeto capaz
privileged space for the development of tasks de fomentar o desenvolvimento do conceito de
that allow the appropriation and understanding evidência histórica.
of evidence and historical sources notion. In this Como os alunos construem conhecimento
paper we sumarize the main points of the work histórico complexo através da exploração de
we have developed during our Master degree in fontes históricas? Para dar resposta a esta
History teaching. Our main goal, which was both questão, destacámos a Evidência Histórica e
theoretical and descriptive, was to determine orientámos o conjunto de objetivos a desen­
how the exploration of multiple sources might volver para a sua compreensão e apropriação,
constitute a significant pedagogical strategy privilegiando a mobilização de informação, a
to the understanding of historical evidence.
This investigation led to a grounded proposal, 1 Os conceitos estruturais encontram-se ligados à na­
supported by an ensemble of materials that tureza do conhecimento histórico e às ideias que os
alunos apresentam em relação à narrativa histórica, à
were able to problematize the concept.
evidência, à empatia, à mudança, à significância. ­Peter
Keywords: Second order concepts; Historical Lee (2006) reconhece que conceitos como evidência
histórica dão consistência à disciplina de História e
knowledge; Historical understanding; Historical aju­dam os alunos a estruturar a sua compreensão his­
sources; Historical evidence. tórica e a organizar o conhecimento substantivo.

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formulação de hipóteses, a problematização do ­investigação recorrendo, para isso, a várias


conhecimento adquirido, o processo de seleção, propostas, recursos e estratégias de explora­
análise e sintetização informação, a elabora­ ção didática.
ção de interpretações e o desenvolvimento do
pensamento crítico e autónomo.
A Evidência Histórica
Apesar de o presente estudo apresentar uma
­enquanto Conceito Estrutural:
componente prática articulada com a aplica­
ção em contexto sala de aula, deparamo-nos Enquadramento Teórico
com desafios inesperados, desencadeados por Não podíamos dar início a esta exposição
uma pandemia à escala mundial. O seu impacto sem fazer uma breve referência à definição
veio condicionar o desenvolvimento da pre­ conceptual – ou propostas de definição – e ao
sente investigação, sobretudo no que respeita enquadramento teórico do conceito de Evidên­
à concretização das experiências esboçadas. cia Histórica. Tendo em conta o supraci­tado,
Não obstante aos constrangimentos, depressa recorremos a um conjunto de trabalhos de
nos empenhamos em adequar a configuração inves­tigação, nomeadamente aos contributos
inicial a uma realidade inteiramente nova, dire­ que deram corpo a propostas de definição de
cionada para o domínio teórico. Neste sentido, evidência histórica, dos quais se distingue a
procuramos fundamentar a proposta com uma sugestão de definição de Rosalyn Ashby: “A evi­
metodologia, estratégias e recursos que per­ dência histórica situa-se entre o que o passa­
mitissem a sua aplicação teórica. do deixou para trás e o que reivindicamos do
Estamos, por isso, na presença de uma inves­ passado” (ASHBY, 2003, p. 42).
tigação com potencialidades e objetivos peda­ A História resulta da interpretação de fontes
gógicos que, carecendo de aplicação prática, “a expressão colectiva de determinado contexto
deixa descrita e delineada uma proposta devi­ espácio-temporal e a partir das quais o histo­
damente fundamentada e acompanhada pelos riador pode obter resposta para as perguntas
respetivos materiais. É sobre os princípios dessa que faz acerca do passado” (MOREIRA, 2004,
aplicação que nos debruçaremos. Embora a p. 43), que, por sua vez, fornecem a evidência, no
tarefa esteja, idealmente, desenhada para ser entanto, o passado que pretendemos conhecer
desenvolvida em contexto sala de aula e em não pode ser observado de forma direta e, por
grupo, não pudemos deixar de considerar uma isso, não é possível conhecer a realidade na
situação de ensino à distância. sua totalidade. Assim, quando nos referimos ao
A encabeçar o artigo está o enquadramento conhecimento histórico estamos na presença
concetual que passa pela definição do objeto de um conhecimento que abarca apenas uma
de estudo e pela contextualização do estado parte da realidade histórica, conhecimento
da arte. Segue-se uma sumária referência a este também designado de conhecimento por
estudos empíricos e respetivos contributos da testemunho. São as próprias especificidades da
prática pedagógica. Num terceiro momento, natureza do conhecimento histórico que repre­
terá lugar uma reflexão acerca do uso peda­ sentam a principal ameaça quando introduzido
no ensino, uma vez que é apresentado como um
gógico das fontes históricas. No ponto quatro
conhecimento fixo, definitivo e acabado (PRATS,
são apresentadas as questões metodológi­
1996, p. 2), o que nos parece uma incoerência
cas, ­nomeadamente, a natureza do estudo, os
visto que o conhecimento histórico é complexo
obje­tivos da investigação e os instrumentos,
e dinâmico.
processos de recolha e de análise de dados.
A encerrar, na quinta parte, debruçar-nos-e­ Apesar de o alcance que nos permite conhe­
mos sobre questões que concernem à compo­ cer o passado estar limitado, tal não significa
nente didática, à contextualização, enquadra­ que o passado não possa ser a ­ preendido, e é
mento curricular e organização do projeto de neste ponto que a evidência adquire significado.­

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A evidência estabelece a ligação entre o passa­ investigação, para sustentar uma teoria, do
do e a interpretação que é feita a partir dela. seu uso para validar uma afirmação ou o que
Na sua reflexão, Ana Catarina Simão (2015) rei­ fundamenta uma resposta a uma questão, in­
tera que as fontes históricas fornecem a funda­ dependentemente das suas imperfeições como
mentação para justificar as inferências, que se informação (ASHBY, 2006, p. 50).
baseiam na evidência. Ora, a evidência encon­
tra-se na base das ­inferências do historiador
e são, exatamente, essas inferências que lhe
A Evidência, a Educação
permitem reconstruir o passado2. ­Sublinhe-se e a Investigação
que só estamos na efetiva presença de evidên­ Histórica: Contributos
cia histórica quando a natureza da questão da Prática Pedagógica
é compreendida, uma vez que “a validade de
uma fonte muda para diferentes afirmações ou Enquanto explorávamos alguns dos traba­
questões e que o seu uso como evidência depen­ lhos de investigação, desenvolvidos no âmbito
de do peso de que esta se reveste­como evidência da Educação Histórica (ASHBY, 2003, 2006; LEE;
em relação a uma questão” (ASHBY, 2006, p. 50). ASHBY, 1987; PINTO, 2011; SHEMILT, 1987; SIMÃO,
A par desta está também a compreensão de 2007, 2015), percebemos que é partilhada a ideia
uma natureza implícita, que pode ser ou não de que é necessário concentrar esforços no
intencional. A interpretação das fontes tem de sentido da progressão e construção de uma
ter em consideração a chamada história física compreensão histórica mais elaborada, que
da fonte, o contexto e a intenção do seu criador. poderá ser desenvolvida na aula de História
Se cabe ao historiador construir a evidência, através de exercícios de tipo inferencial, a partir
estamos perante um processo de tipo inferen­ de fontes históricas, e do estabelecimento da
cial, no qual a evidência só é compreendida a relação entre a fonte e a questão.
partir de sua relação com a fonte. Este processo De forma a apurar os níveis de compreensão
não é tão linear quanto aparenta, isto porque o do conceito de evidência, a investigação extra­
critério de credibilidade­é frequentemente usado polou da teoria para o estudo em contexto real.
para legitimar a vali­dade ou não de uma fonte. Estes estudos foram inaugurados nos anos
A História não é feita através de um processo de 80 do século XX com Both, cuja investigação
seleção que considera uma fonte em detrimento pretendia que os alunos fossem capazes de
de outa e a exclui em função do que se pres­ inferir um maior número de conceitos a partir
supõe credível. Uma fonte só se compreende de uma fonte. Da sua investigação surgiram
como evidência histórica quando é questionada. duas categorias: na primeira – concreta – os
A questão que lhe é colocada traduz-se numa alunos responderam com base na observação
afirmação, ora, se forem colocadas diferentes direta e com pouca argumentação; na segun­
questões serão obtidas diferentes afirmações. da – abstrata – os alunos revelaram capacida­
A mesma evidência pode ainda dar resposta de­de inferência e apresentaram argumentos
a questões diferentes e diferentes questões fundamentados. A este seguiu-se Denis ­Shemilt,
podem também revelar dados que não tinham que definiu no seu trabalho Adolescents ideas
sido pensados como evidência. É a natureza about evidence and methology in History, em
das questões que determina o que é evidência 1987, um modelo de progressão das ideias dos
histórica, que designa o seu potencial para uma alunos acerca da evidência, composto por qua­
tro estádios de progressão lógica das ideias
2 MOREIRA, 2004, p. 43: “A História atua através da in­ dos alunos. No primeiro e segundo estádios, os
terpretação de evidências, usualmente chamadas de menos elaborados, as fontes primárias são
fontes, que são a expressão colectiva de determinado entendidas como acontecimentos do passado e
contexto espácio-temporal e a partir das quais o his­
toriador pode obter resposta para as perguntas que
o conhecimento do passado é verdadeiro e in­
faz acerca do passado”. questionável, nos estádios seguintes, os alunos

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inferem que as fontes podem ser incompletas e mações históricas como se estas se tratassem
têm uma atitude crítica face ao conhecimento de problemas que devessem ser resolvidos com
histórico3. Ainda neste âmbito temos que desta­ recurso à autoridade ou pela identificação entre
car o trabalho de Ashby e Lee do qual resultou o principal sujeito do problema e o material que
a categorização das ideias dos alunos acerca o passado deixou para trás. Também Portugal
da evidência, que derivou num modelo de pro­ tem contribuído­para a consolidação da Inves­
gressão composto por 6 (seis) níveis4 . tigação em Educação e Cognição Histórica. Ana
Desta hierarquia de ideias, definidas como Catarina Simão desenvolveu com uma amostra
mais ou menos poderosas, fazem parte as ideias de 100 participantes, de diferentes níveis de en­
que os alunos podem trabalhar quando tratam sino (8º e 11º anos), um estudo de natureza qua­
fontes e em resposta a questões colocadas às litativa, no qual procurou compreender de que
mesmas. Rosalyn Ashby propõe, por um lado, forma os alunos se relacionam com as fontes
que o professor se afaste do tradicional trata­ históricas e como entendem a evidência. Verifi­
mento das fontes como informação e privilegie cou que a maioria dos alunos do ensino básico
um tratamento da evidência problematizador e se situa no nível de progressão dois, enquanto
elaborado e, por outro, que o currículo forneça um maior número de alunos do ensino secun­
aos alunos uma maior compreensão da natureza dário apresenta níveis de pensamento sobre a
da investigação histórica, atribuindo um papel evidência mais elaborados situando-os, por isso,
central ao conceito de evidência. Em 2006, a nos níveis três e quatro (SIMÃO, 2007, p. 301).
mesma investigadora levou a cabo um estudo Considerando os resultados, Simão revela que
com 320 alunos (do 3º, 6º 7º e 9º anos) através a utilização de fontes históricas em sala de aula
do qual constatou que os alunos envolvidos, de deve ser uma estratégia introduzida desde cedo
diferentes faixas etárias, tratavam as infor­ para contrariar a posição que ocupa no ensino
da História, reduzida “à sua dupla função de
3 Para uma análise mais aprofundada dos estádios de infor­mação, ou estímulo para a aprendizagem”
progressão das ideias dos alunos acerca da evidência (SIMÃO, 2007, p. 302).
histórica (1 – conhecimento do passado é tido como
garan­tido; 2 – evidência como informação privilegiada Moreira (2004), no seu estudo As fontes his-
do passado; 3 – evidência como base para inferir
tóricas propostas no manual e a construção do
sobre o passado; 4 – Consciência da historicidade da
evidência), ver Adolescents ideas about evidence and conhecimento histórico procura compreender
methodology in History. como se processa a aprendizagem dos alunos
4 No nível 1 (imagens do passado), os alunos consideram
através do uso de fontes históricas propostas
que as fontes históricas proporcionam acesso direito­ao
passado, não levantando questões acerca dos fun­ no manual, identificando quais são as maiores
damentos da afirmação. No nível 2 (informação), os dificuldades durante a sua análise. O projeto foi
alunos reconhecem que as fontes estão associadas
desenvolvido em contexto de sala de aula com
ao passado, que é tido como fixo, e é através delas que
é possível retirar informação acerca do passado, mas uma turma do 8º ano de escolaridade, à qual foi
apelam à autoridade para responder às questões. disponibilizada questionários completados, numa
No entanto, as fontes são tratadas como corretas ou
incorretas, mas restando espaço para informação
fase posterior, com entrevistas. Verifica que um
contraditória. No nível 3 (testemunho), os alunos são número reduzido de alunos reproduz na íntegra
capazes de distinguir evidência e informação. Consi­ a informação contida na fonte, uma vez que a
deram que a fonte fornece uma informação que deve
ser avaliada em função da sua veracidade, a escolha
maioria seleciona elementos presentes nas fon­
recaí sobre o melhor relato. No nível 4 (tesoura e cola), tes e (re)interpretam-nas. Conclui que os alunos:
os alunos revelam um maior entendimento das fon­ integram nas suas respostas inferências feitas
tes, que interpretam, mas não fundamentam nem têm
em consideração o contexto de produção. No nível 5
a partir de evidências; justificam a sua resposta;
(evidência em isolamento), os alunos compreendem mostram preferência pelos docu­mentos de tipo
que as informações do passado podem ser inferidas informativo, tarefas simples e que não impliquem
a partir de fragmentos de evidência. No sexto e último­
nível (evidência em contexto), compreendem a evi­ raciocínios; apresentam maiores dificuldades na
dência no seu contexto histórico. interpretação de fontes iconográficas e escritas

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primárias. A investigadora constatou que a lin­ problemas que limitam e atuam em prejuízo
guagem, sobretudo a linguagem das fontes pri­ do ensino da História – mas que, sublinhe-se,
márias quando não submetida a um processo de muitas vezes o próprio perpetua – e cujas im­
adaptação ao nível de ensino, pode constituir um plicações influenciam de forma inconveniente
obstáculo à sua compreensão. Percebemos que o modo como os alunos aprendem (ou estão
na maioria destes trabalhos os alunos reconhe­ a aprender História)7. Se o ensino continuar
ceram que o conhecimento histórico depende dos a insistir no tratamento das fontes reduzido
vestígios deixados pelo passado, mas precisam à informação, à ilustração, negligenciando a
de recorrer a uma autoridade para validar as problematização, a análise crítica, o estabele­
informações históricas5. Estas informações são cimento da relação entre a fonte e a questão e
tratadas tal como são encontradas, uma vez a evidência continuar a ser apresentada como
que consideram que as fontes fornecem acesso prova, a utilização destes recursos não contri­
direto ao passado (ASHBY, 2006, p. 151) e que con­ buirá para alterar as conceções dos alunos e,
têm informação verdadeira, inquestionável e fixa por sua vez, não se traduzirá em aprendizagens
(BUCHTIK, 2018). Contudo, esta tendência parece significativas, no desenvolvimento de níveis de
contrariar a natureza do conhecimento histórico, compreensão mais sofisticados ou na capaci­
um conhecimento que se apresenta dinâmico e dade de realizar inferências.
provisório, que pode ser reformulado com novas
As fontes representam diversas possibilida­
perguntas e a descoberta de novas evidências.
des de estudo e a evidência revela indícios que
A avaliação das fontes é feita em função da resultam das questões colocadas, porém a fon­
credibilidade/validade, critério que revela in­ te­apenas se transforma em evidência q ­ uando
compreensão da natureza das fontes históricas. se torna capaz de demonstrar um vestígio do
A interpretação das fontes pressupõe uma acontecimento que se procura conhecer, por
análise crítica e um trabalho de perceção do isso, é necessário que os alunos compreendam
material que tem em conta um conjunto impor­ “a diferença entre fonte e evidência, compreen­
tante de aspetos como o período histórico, o der que é o relacionamento entre uma ques­
contexto de produção, o autor, o destinatário tão de investigação e a fonte, tratada como
ou o objetivo. Se os alunos não situam a fonte evidência, que determinará o valor da mesma
no seu contexto de produção acabam por fazer como evidência para uma investigação espe­
uma avaliação simplista recorrendo à “inútil cífica” (SIMÃO, 2015, p. 72). A resposta parece
designação das fontes como credíveis e não passar pela alteração do tratamento da fonte
credíveis” (ASHBY, 2003, p. 49), condicionando como informação pelo tratamento da fonte
tanto a sua interpretação, quer a sua utilização. como evidência, pela introdução gradual de
A validade de uma fonte só pode ser determi­ tarefas que ajudem os alunos a fazer inferên­
nada no contexto do seu uso como evidência e cias acerca do passado, de levantar questões,
tendo em conta o potencial para responder a de colocar ­hipóteses, pelo estabelecimento da
uma questão. Pela sua complexidade, a Evidên­ diferenciação de conceitos como evidência e
cia Histórica exige uma preparação conveniente fontes histórias, mas a mudança deve ter lugar,
que permita que os alunos sejam capazes de sobretudo, na própria prática docente muitas
fazer inferências e compreender a natureza do vezes responsável por insistir na utilização das
conhecimento histórico6. A falta de compreensão fontes como informação, prova ou ilustração.
concetual dos alunos dá-nos conta dos ­vários Rosalyn Ashby (2006, p. 153) considera que,

5 Estas autoridades podem apresentar-se na forma de 7 Rosalyn Ashby (2003) verifica que os alunos revelam
livros, autores, professores. difi­culdades em distinguir entre o que o passado deixou
6 Peter Lee (2006, p. 135) reconhece que conceitos como para trás e a evidência, tratam as fontes como se estas
a evidência histórica ajudam a estruturar a compre­ proporcionassem acesso direito ao passado, conside­
ensão histórica dos alunos e organizar o conhecimen­ ram as informações retiradas garantidas (e verdadei­
to substantivo. ras) e tratam a informação de forma superficial.

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Z Dossiê

para assegurar o desenvolvimento de níveis iniciação no tratamento e na exploração de fon­


de compreensão de evidência histórica mais tes, no sentido de os levar a compreender como
sofisticados, a metodologia da investigação é que o conhecimento histórico é construído, de
histórica deve ser incorporada no currículo compreender que:
de História8.
a História é uma ciência com uma meto-

As Fontes Históricas e o dologia própria e que muda com o tempo;


que o conhecimento do passado é sempre
­Ensino­da História: Qual parcial e se dá a partir de testemunhos,
a Posição da Evidência? muitas vezes contraditórios; que existem
diversos níveis de análise sobre o pas-
Depois de percorrido um longo caminho no sado, bem como diferentes construções
processo de alargamento da História e de reno­ conceituais, as quais se denomina histo-
vação do saber histórico que contou com a am­ riografia; que os grandes modelos históri-
pliação do conceito de documento, a rede­finição cos são elaborações à posteriori, a partir
de estudos parciais; que cada geração
do objeto de estudo e a reformulação do próprio
e cada indivíduo podem colocar novas
método de construção do conhecimento­históri­
questões. (SCHMIDT; GARCIA, 2003, p. 225)
co (nova atitude, nova leitura e nova tipologia)9,
as fontes históricas passam a ser entendidas
como testemunhos de uma época, com inten­ Este poderoso recurso poderá contribuir
cionalidades, conflitos e omissões. As fontes para o desenvolvimento da capacidade de
não são usadas para procurar a verdade, mas observação e interpretação (ALMEIDA; SOLÉ,
para compreender as sociedades do passado. 2017, p. 241), análise de testemunhos, da leitura,
Partindo da premissa de que não se pode fazer confronto de perspetivas, participação, auto­
História sem fontes, também não se pode de­ nomia, debate e a estruturação do pensamento
senvolver o conhecimento histórico dos alunos próprio (BLACH, 2013). A figura do professor, as
sem a introdução e a compreensão dos métodos suas práticas e conceções representam, neste
de produção historiográfica, ou seja, sem uma contexto, o eixo fundamental para desmitificar,
através da análise das fontes, a questão da cre­
dibilidade das fontes, para desenvolver um tra­
8 ASHBY, 2001, p. 50: “ser capaz de fazer inferências
acerca do passado a partir das fontes é uma parte balho de compreensão e perceção do material
importante do ofício do historiador e é preciso que os – tipo de documento, autor, época, contexto de
alunos aprendam como responder e fazer questões a
produção, intencionalidade –, ajudar os alunos a
uma fonte, o que lhes possibilitará chegar aquilo que
nunca pensaram”. Investigadores em Educação His­ fazer inferências, a colocar questões, a integrar
tórica, como A. K. Dickinson e Peter Lee, referem nas diferentes perspetivas, a compreender agentes
suas publicações a necessidade de introduzir na aula
e contextos históricos. No entanto, é frequente
de História os princípios da prática metodológica do
historiador. os alunos esquecerem-se de situar a fonte no
9 A noção de documento passa a ser considerada a seu contexto de produção, indicador que nos
uma escala alargada, valoriza qualquer registo hu­
mostra a necessidade de “rever os métodos
mano, escrito, visual, oral, construído, na diversidade
de espaços e tempos, em todas as suas dimensões – de ensino da História, nomeadamente­no que
as suas manifestações políticas, económicas, sociais, respeita à utilização de fontes, que deve visar
cultuais, religiosas e mentais. Este alargamento vai,
a interpretação da evidência e ter em conta o
desta forma, acabar por se refletir no progressivo in­
teresse e em novas possibilidades de campos de in­ contexto que a produziu” (SIMÃO, 2007, p. 67).
vestigação – História das Mentalidades; Uma Nova
História Social; História das Mulheres; Uma Nova His­ Sublinhe-se, no entanto, que nos estamos
tória Política, História da cultura; História Ecológica, a referir a um trabalho lento e que tem de ser
História dos Poderes, História das Religiões, História sistemático para produzir resultados efetivos.
da Ciência. Para aprofundar a questão da abertu­
ra da historiografia a novos campos, ver Margarida A investigação é unânime ao considerar que o
­Sobral Neto, Problemática do saber histórico, 2016. modelo que assenta a análise na credibilidade

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das fontes históricas conduz o aluno a noções essenciais a adquirir num determinado nível
simplistas e redutoras (ASHBY, 2003, p. 49). de escolaridade, mencionam a exigência de
No processo de construção do conhecimento transportar para a sala de aula e de aproxi­
histórico os alunos mostram ainda preferên­ mar o aluno das metodologias específicas do
cia por fontes ou outros elementos que lhes saber histórico e dos instrumentos de traba­
forneçam informação completa e pronta a lho do historiador, de utilizar adequadamente
consumir. Para ajudar os alunos a compreen­ fontes históricas de tipologia diversa, distinguir
der as fontes como evidência, o professor deve informação implícita e explícita, tratar a infor­
desenvolver o conceito de evidência histórica, mação numa perspetiva crítica10. A questão das
estabelecendo que: a validade de uma fonte competências é também integrada no Perfil dos
muda consoante as afirmações; as fontes têm Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória,
de ser consideradas em função do seu poten­ documento no qual encontramos referência ao
cial para validar uma determinada afirma­ desenvolvimento de competências que permi­
ção ­(independentemente da sua imperfeição tam ao aluno analisar e questionar de forma
­enquanto informação); têm de fazer a distinção crítica a realidade em que se encontra inserido,
entre a natureza intencional e não intencional avaliar e selecionar diferentes tipologias de
de uma fonte; a História não depende de narra­ infor­mação, formular hipóteses, fundamentar
tivas ou testemunhos; as fontes têm de passar a as suas perspetivas, desenvolver capacidades
ser encaradas como um conjunto (ASHBY, 2003, de comunicação, de relacionamento e con­
p. 49-50). A interpretação de fontes históricas vivência com o outro. Ora, se as disposições
diversas, o tratamento de informação contradi­ das Aprendizagens Essenciais fazem referên­
tória e o cruzamento de diferentes perspetivas cia à análise, tratamento e confrontação de
sobre o mesmo tema pode ser uma estratégia fontes históricas, na formulação de hipóte­
capaz de desenvolver o pensamento histórico ses sustentadas em evidências, em promover
dos jovens. O processo de didatização da fonte o envolvimento dos alunos na construção do
é determinante para que a História deixe de ser conhecimento histórico, porque razão estes
considerada um conjunto de informação para pressupostos permanecem no campo teórico?
ser aceite e memorizada e para que se supere
A Educação adquiriu uma feição prescriti­
a compreensão do documento como prova e
va e uma natureza narrativa que “conduz os
este passe, por sua vez, a ser entendido como
educandos à memorização mecânica dos con­
um vestígio deixado pelo passado. Este processo
teúdos e à sua, posterior, reprodução” (FREIRE,
passa por adequar os materiais à faixa etária
2018, p. 64). Esta imposição de saberes anula o
dos alunos, aos comportamentos, caraterísticas
conhecimento como processo de busca, não res­
e interesses da própria turma, pode envolver a
tando espaço para o cruzamento de informação,
atualização da grafia, da pontuação, o escla­
para o confronto de diferentes interpretações,
recimento de palavras, conceitos e expressões
para a reflexão e para a descoberta crítica. Nas
que possam suscitar maiores dificuldades, o
Aprendizagens Essenciais (em arti­culação com
fornecimento de sinónimos, mas sem descara­
o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade
terizar o documento ou desvirtuar significados.
Obrigatória) é reiterada a ideia de que o aluno
Encontramos em vários documentos de refe­ deve: compreender o papel das fontes históricas
rência curricular um conjunto de competências
que devem ser desenvolvidas na disciplina de 10 Apresentam também um conjunto de ações a desen­
volver: formular hipóteses com base na evidência; uti­
História. As Aprendizagens Essenciais (AE) – da
lizar a metodologia específica da história para a análise
disciplina de História no 3º ciclo do ensino básico de acontecimentos e processos; mobilizar o discurso ar­
e no curso de Línguas e Humanidades do ensino gumentativo; sustentar afirmações; organizar debates
orientados; analisar fontes históricas com diferentes
secundário – enquanto orientações curricula­
pers­petivas; problematizar fontes; orga­nizar o discurso
res que estabelecem os conhecimentos, con­ oral e escrito recorrendo, para tal, a conceitos operató­
teúdos e conceitos/noções, que se c ­ onsideram rios da História; colaborar com pares e com professores.

22 Pluri Ensino de História Percursos Temáticos de Aprendizagem, São Paulo, n. 5, p. 15-32, fev. 2022
Z Dossiê

no processo de construção do conhecimento No que concerne à escolha das técnicas e


histórico; utilizar fontes históricas de tipologia instrumentos de recolha, foi definido que os da­
diversa; recolher e tratar informação; abordar dos seriam recolhidos através de inquéritos por
a realidade de forma crítica; desconstruir infor­ questionário de resposta individual e aberta11.
mação; desenvolver perspetivas críticas a partir Os inquéritos foram disponibilizados e preenchi­
da análise de fontes diversificadas. De modo a dos numa fase inicial de forma a diagnosticar
assegurar a concretização destes pressupostos, e fazer o levantamento das conceções dos alu­
a disciplina deve ver reforçada a utilização de nos acerca do conceito de evidência histórica e
conceitos operatórios e metodológicos da His­ fontes históricas. A informação obtida, por mais
tória. A reflexão, o cruzamento de informação, incipiente que se pode apresentar, permitiu aferir
o confronto de agentes e diferentes perspetivas um conjunto de conclusões fundamentais para a
significa permite compreender agentes históri­ elaboração das atividades futuras12. A conclusão
cos e o contexto em que se inserem, que varia mais clara retirada da análise dos inquéritos é
consoante o tempo e o espaço (CARVALHO, s. d, que não foi desenvolvido o trabalho com concei­
p. 1). Não obstante, o ensino da História parece tos estruturais, ou seja, as fontes históricas não
estar a ocultar a sua metodologia e a desvalo­ foram usadas como base da evidência histórica.
rizar a problematização do passado. Estes dados indicam-nos que o uso de fontes
históricas continua reduzido à ilustração dos
conteúdos, a exposição dos conteúdos não é
Metodologia feita a partir dos dados fornecidos pelas fontes,
fontes essas entendidas como “um ponto de
De que forma é que a exploração de fon­
chegada, uma mera ilustração daquilo que foi
tes diversas pode constituir uma estratégia
exposto” (MOREIRA, 2004, p. 152).
peda­gógica fundamental para a compreensão
do conceito de evidência? De maneira a dar Verificamos que os alunos da turma do 8º ano
resposta à questão de investigação, tivemos não são capazes de definir fontes históricas, no
que adaptar o projeto a uma nova realidade entanto, atribuem-lhe uma função particular.
e reformular os objetivos, que se centraram Os alunos compreendem o papel das fontes his­
em: avaliar as noções de fontes históricas e tóricas na construção do conhecimento histórico,
de evidência histórica dos alunos; definir um apesar de considerarem que a sua informação é
projeto capaz de fomentar o desenvolvimento clara, direta e verdadeira. Somente uma minoria
do conceito de evidência histórica. admite que as fontes permitem a formulação
de hipóteses e a produção de interpretações.
O estudo apresenta uma abordagem meto­
Tendo em conta estes dados, podemos situar
dológica qualitativa e uma natureza descritiva,
as respostas dos alunos do ensino básico no
uma vez que, em virtude das caraterísticas
nível 1 (informação do passado) do modelo de
apresentadas, consideramos pertinente adotar
progressão das ideias de Lee e Ashby (1987), uma
a abordagem metodológica de caráter qualita­
tendência análoga à que se encontra nos estudos
tivo fundada Design Based Research (WANG;
desenvolvidos no campo da Educação Histórica.
HANNAFIN, 2005). Trata-se de uma aborda­
gem diferenciada no âmbito da investigação Os alunos do ensino secundário (11º ano), por
em Educação. Esta metodologia desenvolvi­ outro lado, já indicam o que são fontes históri­
da na última década do século XX procura cas, ainda que a maioria considere apenas as
pesquisar problemas em contextos reais de
11 O inquérito disponibilizado aos alunos do 11º ano ad­
atuação pedagógica, com vista à resolução de
quiriu uma configuração mais extensa e questões mais
problemas significativos, conciliando teoria e exigentes do que aquelas que foram preenchidas pe­
prática através de uma ligação entre investi­ los alunos do 8º ano.
gadores e profissionais que procuram enten­ 12 A análise do conteúdo não deixa de ter em conta as
questões que se encontram estreitamente relaciona­
der, documentar e melhorar as suas práticas das com o nível de ensino dos alunos, que fazem parte
(­TRINDADE; MOREIRA, 2018, p. 77). de universos de ensino distintos.

23
Edição 05 | Fevereiro de 2022

fontes tradicionais – documentação escrita as fontes históricas e as afirmações que sus­


– e ainda reconhecem o papel das fontes his­ tentam” (ASHBY, 2006, p. 153) envolvendo os
tóricas no trabalho do historiador. Apesar de alunos em tarefas escritas ou orais, a serem
admitirem o papel das fontes na construção desenvolvidas em grupo.
do conhecimento, a fonte é vista, uma vez mais,
Os alunos esperam, através de uma análise
como modo de aceder ao passado de forma
superficial, que a fontes forneçam a informa­
direta. Quando inquiridos acerca da diferen­
ção de forma direta, mas as fontes históricas
ciação entre “fontes” e “evidência histórica”, as
não fornecem o acesso direto ao passado nem
respostas dividem-se entre os que afirmam que
revelam a totalidade da realidade, constituem
ambas provam factos ou fornecem informação
acerca do passado e aqueles que as distinguem, apenas representações, fragmentos ou indícios
no entanto, não demonstram uma compreensão do passado. A informação não é de imediato
efetiva do seu significado. Através da análise apreendida, identificada, compreendida e sis­
dos dados recolhidos em ambas as turmas tematizada, a interpretação implica a com­
– e ainda que em níveis de ensino distintos –, preensão da natureza da questão.
procuramos definir e desenvolver uma pro­ De forma sumária, este projeto apresenta
posta didática cujas atividades se encontras­ uma componente, sobretudo, prática, e pres­
sem voltadas para o trabalho com a evidência supõe a criação, em contexto sala de aula, de
histórica, aproximando os alunos do objeto de um espaço de ação e discussão arbitrado por
estudo e promovendo uma exploração efetiva fontes históricas diversas. No Quadro a seguir,
das fontes históricas. Pareceu-nos a estratégia segue uma breve descrição das principais eta­
a privilegiar e o projeto adiante apresentado
pas que serão desenvolvidas no decurso da
reflete estes nossos objetivos.
presente proposta didática.

Quadro 1 – Descrição das


Projeto Didático: Fundamentos,
etapas da proposta didática
Descrição e Materiais
Distribuição de um
Sem as condições pedagógicas desejadas Inquéritos
inquérito inicial e final.
para levar a cabo a sua aplicação, adaptamos
Planificação Articulação dos conteúdos,
os conteúdos programáticos ao nosso estudo
das tarefas objetivo e recursos.
empírico e procuramos estruturar e demons­
trar, através de um conjunto de recursos, uma Seleção Eleger as fontes
proposta de tarefa para trabalhar a evidên­ das fontes adequadas.
cia histórica, aproximar os alunos no proces­ Guias de análise Orientações.
so­de construção do conhecimento histórico
Formação Divisão da turma em
e ­reforçar o uso de conceitos operatórios e
de grupos grupos de trabalho.
metodológicos da História, em contexto sala
de aula. Distribuição Entrega da fonte
dos materiais e do guião.
As informações recolhidas através dos ques­
tionários mostraram-se fundamentais para Desenvolvimento Processo de análise e
a definição da orientação didática que este da tarefa interpretação em grupo.
estudo viria a tomar. Procuramos criar uma Estabelecimento
Apresentação
sequência didática com potencial pedagógico de interação.
que permita abordar diferentes temáticas dos Debate Confronto de ideias.
conteúdos que integram o programa ­disciplinar
de História, simultaneamente, no 3º ciclo do Com o objetivo de diagnosticar qual a perce­
ensino básico e no ensino secundário e, sobre­ ção e a relação que os alunos estabelecem com
tudo, trabalhar “a relação da evidência entre o conceito de evidência e fonte histórica, foram

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Z Dossiê

distribuídos inquéritos por questionário. Depois recolhidas as respostas, cada grupo terá de
de conhecido o quadro concetual dos alunos13, apresentar o resultado final do seu trabalho
procedemos à elaboração e planificação das à restante turma, que terá a possibilidade
tarefas a implementar, nas quais se encon­ de o debater14. Quando pensamos na aula de
tra a temática, se articulam os conteúdos, os História pensamos num espaço partidário da
obje­tivos, os recursos a utilizar e as atividades exploração da dimensão crítica, dos proble­
a desenvolver. Ao professor será atribuída a mas do passado e do nosso tempo, para a
importante tarefa de clarificar e enquadrar as formação de uma consciência mais crítica,
etapas do trabalho a ser desenvolvido, neste um espaço que combate a instrumentalização
caso, ao uso da evidência e de fontes históricas. pelo conhecimento.
Tendo em conta o supracitado, deve ser reser­
Esperamos que os alunos compreendam o
vado um momento da aula para recordar – ou
conceito de evidência histórica, pois a diante
para introduzir – questões relacionadas com
ser-lhes-á atribuída a tarefa de determinar
a noção de fonte históricas (tipologia de fon­
qual a pergunta a que querem dar resposta.
tes, as diferenças entre elas e, sobretudo, que
compreendam a diferença entre fonte e texto Procuramos desenhar uma tarefa que se
historiográfico). Para além desta, o professor adaptasse aos extensos programas da dis­
deve ainda recolher e selecionar as fontes que ciplina de História e a dois níveis de ensino (8º
considera adequadas, em função do objeto ou e 11º anos), mas cujo programa é semelhante.
dos conteúdos de estudo, e interrogar-se se Uma vez que as fontes históricas constituem
estas permitem a identificação, compreensão instrumentos que podem ajudar os alunos a
de mudanças e continuidades de momentos estabelecer diferenciações e abstrações, deter­
ou processos, protagonistas, opiniões, inte­ minamos que o trabalho seria desenvolvido
resses e o contexto (BLANCH, 2013, p. 40). Ter­ em torno do Iluminismo, uma temática que
minada a seleção de fontes, o professor cria implica maiores níveis de abstração. A tarefa
um guia de análise para orientar o trabalho teria início com a introdução do contexto de
dos alunos, que serão divididos em grupos de produção da fonte histórica, esclarecimento
trabalho. A cada grupo será distribuída uma seguido da distinção da natureza das fontes
fonte histórica – que será a mesma para to­ históricas – fontes primárias e fontes secundá­
dos – a partir da qual os alunos terão de se rias – fontes historiográficas e iconográficas.
apropriar e mobilizar o conceito de evidência Moreira verificou que uma das dificuldades
histórica. No guia de análise entregue consta dos alunos pareceu estar relacionada com a
uma questão que difere em todos os grupos a interpretação de fontes iconográficas e es­
partir da qual e, apesar de toda a turma deter quemas, exatamente porque os alunos não as
a mesma fonte, o respetivo grupo terá que a consideravam explícitas e claras, mostrando
interpretar e problematizar. O professor tem a preferência pelo texto informativo (MOREIRA,
tarefa de assegurar a monitorização de toda 2004, p. 151). Para que o trabalho com fontes se
a atividade, garantindo que os alunos atingem traduza em níveis de compreensão histórica
os objetivos propostos e compreendem noções mais sofisticados, as tarefas têm de ser imple­
epistemológicas. Concluída a interpretação e mentadas de forma gradual e acompanhadas
por guiões que orientem os alunos. Pretendemos
13 Os alunos do 8º ano não apresentam uma noção for­
abordar com os alunos do 8º ano as mudanças
mada de fontes históricas, apesar de as considerarem
importantes no processo de construção do conheci­ operadas no século XVIII – o Século das Lu­
mento histórico, mas enquanto fonte de informação zes – através da exploração das perspetivas
direta e verdadeira acerca do passado. Ainda que o
quadro concetual apresentado pelos alunos do 11º ano
seja mais complexo – conseguem identificam tipos de 14 O desenvolvimento deste tipo de exercício pode cons­
fontes, funções, o papel do historiador no processo de tituir uma oportunidade para o professor perceber as
análise, etc. – consideram que através das fontes his­ ideias que os alunos apresentam e proceder à revisão
tóricas se pode aceder ao passado de forma direta. de conceitos.

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Edição 05 | Fevereiro de 2022

políticas defendidas pelos principais filósofos


iluministas, perspetivas essas que se inserem
– Guião 8º ano –
num contexto de renovação intelectual e de Atividade nº 3
discussão de novas categorias teóricas como Grupo A
a questão dos direitos do Homem, tolerância
religiosa, equilíbrio de poderes e opinião pública, Documento 1:
que questionam e contestam os fundamentos “O direito da intolerância é, portanto, absurdo e bárba-
ro; é o direito dos tigres, sendo mais horrível porque os
preconizados no Antigo Regime.
tigres dilaceram as suas presas para comer, enquanto
O professor deve preparar os guiões e os nós exterminamos por causa de alguns parágrafos”.
Voltaire, Tratado sobre a Tolerância por ocasião da
respetivos materiais para cada grupo, sendo
morte de Jean Calas (1763), (tradução),
que em cada um desses guiões consta uma Porto Alegre, L&PM editores, 2011, p. 28.
pergunta orientadora, questão que pressu­
põe um exercício de interpretação. Adjunto à Figura 2 – Exemplo de um guião, criado
pergunta encontrar-se-á, de entre o conjunto para ser aplicado na turma do 8º ano,
existente de fontes diversas, uma fonte escrita, que procura explorar a questão
uma fonte iconográfica, uma fonte primária, da tolerância
uma fonte secundária ou texto historiográfico15.
– Guião 8º ano –
– Guião 8º ano – Atividade nº 1
Atividade nº 2 Grupo A
Grupo A
Documento 1:
Documento 1: “Nenhum homem recebeu da Natureza o direito de
“Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo comandar os outros. A liberdade é um presente do céu, e
corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse cada indivíduo da mesma espécie tem o direito de gozar
os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resolu- dela logo que goze da Razão”.
ções políticas e o de julgar os crimes ou as querelas”. Denis Diderot, “Autoridade Política” in Enciclopédia, 1751-1780.
Montesquieu, Espírito das Leis, 2ª edição (tradução), editora
Martins Fontes Ltda., 2000. Obra originalmente escrita em 1748.
Documento 2:
Documento 2: “O Iluminismo era um desejo para que os assuntos dos
“É no governo republicano que se precisa de todo o homens fossem orientados pela racionalidade em vez
poder da educação [...] mas a virtude política [...] de serem pela fé, superstição ou revelação; um acreditar
podemos definir essa virtude [como]: o amor às leis e à no poder da razão humana para modificar a sociedade e
pátria. Este amor, que exige que se prefira continua- libertar o indivíduo das restrições de costumes ou de
mente o interesse público ao seu interesse. [...] Este autoridade arbitrária; e tudo isto assente numa visão
amor está singularmente ligado às democracias. Só [...] validada pela ciência em lugar de o ser pela religião
nelas, o governo é confiado a cada cidadão”. ou tradição”.
Montesquieu, Espírito das Leis, 2ª edição (tradução), editora Outram, Dorinda, “O que é Iluminismo?” in Iluminismo, cap. I,
Martins Fontes Ltda., 2000. Obra originalmente escrita em 1748. Lisboa: temas e debates, 2001, p. 20

Figura 1 – Exemplo de um guião, criado para Figura 3 – Exemplo de um guião, a ser


ser aplicado na turma do 8º ano, que procura aplicado na turma do 8º ano, no qual se
explorar as perspetivas políticas defendidas encontram uma fonte histórica primária
pelos pensadores iluministas e um texto historiográfico

15 Nos guiões encontra-se uma questão para identificar


a tipologia da fonte.

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 Dossiê

– Guião 8º ano –
Atividade nº 3
Grupo A
Documento 1:
“O direito da intolerância é, portanto, absurdo e bárba-
ro; é o direito dos tigres, sendo mais horrível porque os
tigres dilaceram suas presas para comer, enquanto nós
exterminamos por causa de alguns parágrafos”.
Voltaire, Tratado sobre a Tolerância por ocasião da
morte de Jean Calas (1763), (tradução), Porto Alegre,
L&PM editores, 2011, p. 28.

Documento 2:

Figura 1 – Execução de condenados pela Inquisição em Goa


Fonte: Reprodução

Figura 4 – Exemplo de um guião, a ser


aplicado na turma do 8º ano, no qual se
encontram uma fonte histórica primária e
uma fonte iconográfica

Os ideais iluministas destacam­se, na sua


essência, pela defesa da universalidade da
razão, todavia, esta defesa tornou­se um ins­
trumento usado para exercer violência sobre as
mulheres, através da imposição de um modelo
de pensamento único, criado por homens. São
defensores da liberdade, mas que continua a
secundarizar a mulher.

Figura 5 – Exemplo de um guião relativo


ao papel das mulheres na sociedade
do século XVIII, criado para ser
aplicado na turma do 11º ano

27
Edição 05 | Fevereiro de 2022

Figura 6 – Exemplo de um segundo Figura 7 – Exemplo de um terceiro


guião relativo ao papel das mulheres guião relativo ao papel das mulheres
na sociedade do século XVIII, criado na sociedade do século XVIII, criado
para ser aplicado na turma do 11º ano para ser aplicado na turma do 11º ano

28 Pluri Ensino de História Percursos Temáticos de Aprendizagem, São Paulo, n. 5, p. 15-32, fev. 2022
Z Dossiê

Estes instrumentos são disponibilizados aos ideais progressistas, e é sensível aos direitos do
alunos para que compreendam a diferença homem, mas será que inclui as mulheres? No que
entre evidência e fontes históricas e, sobretudo, respeita às mulheres, os filósofos iluministas
que compreendam que é a relação estabele­ excluíram-nas e colocaram-nas num plano
cida entre a questão e a fonte, que fornece a secundário no mundo do saber. Os ideais ilumi­
evidência. Pretendemos que as respostas dos nistas destacam-se, na sua essência, pela de­
alunos revelem, progressivamente, maiores ní­ fesa da universalidade da razão, todavia, esta
veis de compreensão da natureza da evidência defesa tornou-se um instrumento usado para
histórica e capacidade de fazer inferências, exercer violência sobre as mulheres, através da
acerca do passado, a partir de fontes históricas, imposição de um modelo de pensamento único,
superando a ideia de que as fontes fornecem criado por homens. São defensores da liberdade,­
informação direta e imediata. Além de orien­ mas continuam a secundarizar a mulher.
tar as dinâmicas na sala de aula, o professor
Estes instrumentos são disponibilizados aos
deve solicitar a elaboração de uma reflexão
alunos para que compreendam a diferença
final, através da qual pode, simultaneamente,
entre evidência e fontes históricas e, sobretudo,
esboçar um balanço da tarefa e avaliar o envol­
que compreendam que é a relação estabele­
vimento dos alunos. Para isso, o professor deve
cida entre a questão e a fonte, que fornece a
estruturar um instrumento de recolha. Neste
evidência. O nosso objetivo é que as respostas
contexto, para alcançar os objetivos anterior­
dos alunos revelem, progressivamente, maiores
mente referidos, consideramos adequada a
níveis de compreensão da natureza da evidên­
formulação de um conjunto de questões diri­
cia histórica e capacidade de fazer inferências,
gidas, questões essas distribuídas concluída
acerca do passado, a partir de fontes históricas,
a atividade.
superando a ideia de que as fontes fornecem
A tarefa encontra-se planificada para deco­ informação direta. Além de orientar as tarefas
rrer em vários blocos de aulas e para serem na sala de aula, o professor deve solicitar a
introduzidos nesse conjunto de aulas foram elaboração de uma reflexão final através da
concebidos três guiões16. O 8º ano dispunha de qual pode fazer um levantamento da tarefa e
dois blocos de 50 minutos semanais, o que exige avaliar o envolvimento dos alunos.
um trabalho de preparação e coordenação
Apesar de não vermos reunidas as condi­
rigoroso, e o 11º ano do ensino secundário dispu­
ções necessárias para observar as atividades e
nha de três (3) blocos de 100 minutos semanais.
­auferir resultados, não nos sentimos impedidos
Com os alunos do 11º ano pretende-se abordar,
de pelo menos projetar um possível cenário
da mesma forma, o processo de renovação de
conclusivo. O uso de fontes históricas diver­
mentalidades e a construção iluministas de
sas pode ser considerado um recurso com um
uma Sociedade de Direito, problematizar os
potencial pedagógico capaz de influenciar a
novos fundamentos do poder político, que em
qualidade do ensino e da aprendizagem, à dis­
muito diferem do Absolutismo, articular o papel
posição do professor para abordar temáticas
atribuído ao cidadão com o novo quadro político
e conteúdos e para promover a construção do
e analisar a questão da tolerância religiosa,
conhecimento histórico.
através de propostas morais independentes
de preceitos religiosos, problematizar o papel
das mulheres na sociedade do século XXVIII, Conclusão
compreendendo qual a situação das mulheres
no século das luzes e as suas representações. Só estamos na presença de uma verdadeira­
A sociedade das Luzes encontra-se imbuída de Educação Histórica quando é desenvolvido um
trabalho de identificação, interpretação, cara­
16 Procuramos preparar materiais alternativos aos reti­ terização, reflexão, reconstituição das socieda­
rados dos manuais escolares. des humanas, de conceitos de segunda­ordem e,

29
Edição 05 | Fevereiro de 2022

em particular, da evidência histórica. A questão os alunos a resolver problemas a partir da evi­


central desta investigação procura compreen­ dência, tem subjacente a ideia de que a História
der de que forma é que a exploração de fontes pode responder a necessidades de tipo forma­
diversas pode constituir uma estratégia peda­ tivo. Nas palavras de Dewey, se “a História [for
gógica fundamental para a compreensão do ensinada como uma disciplina preestabelecida],
conceito de evidência. Após a sua formulação que uma pessoa estuda simplesmente porque a
procuramos verificar a impor­tância do traba­ mandaram para a escola, facilmente aprende
lho com fontes diversas para a apropriação uma grande quantidade de conteúdos distantes
do conceito de evidência histórica, nas aulas e estranhos à experiência quotidiana.­Uma mera
de História e averiguar as implicações desta acumulação de conhecimentos sepa­rada dos
estratégia pedagógica no processo de ensino interesses directos da vida petrifica o espírito;
e aprendizagem. Uma vez que não foi possível a sua elasticidade desaparece” (DEWEY, 2007,
concretizar os objetivos inicialmente propostos, p. 183). A História é considerada uma disciplina
foi necessário proceder à sua reformulação e de caráter informativo, assente na acumulação
doravante procuraríamos avaliar as noções de de saberes isolados, ideias que desvalorizam
fontes históricas e de evidência histórica dos a função que verdadeiramente representa no
alunos e definir um projeto capaz de fomentar desenvolvimento de experiência sociais e inte­
o desenvolvimento do conceito de evidência lectuais (DEWEY, 2002, p. 184-185). O conheci­
histórica. Sem as condições neces­sárias para mento histórico parece reduzir-se à simples
implementar a proposta de investigação, cana­ transmissão de informação e restringir-se ao
lizamos os nossos esforços para a fundamenta­ saber vinculado pelos manuais escolares. Certo
ção rigorosa e organizada da nossa abordagem é que o tempo disponível para a concretização
pedagógica. Não restam dúvidas que o uso de deste tipo de estratégia será o maior obstá­
fontes históricas não tem ambicionado mais do culo, tempo esse reservado ao ensinar para
que os objetivos que lhe são tradicionalmente os exames Para além dos objetivos que defi­
atribuídos, têm sido usados como recursos que
nimos ambicionamos, ao mesmo tempo, que a
teoricamente motivam os alunos ou constituem
nossa investigação, apesar de modesta, possa
um “estímulo para a aprendizagem” (SIMÃO,
ser acolhida como um novo contributo para os
2007, p. 302), provam ou ilustram uma determi­
estudos em Educação Histórica.
nada ideia ou o próprio discurso do professor.
Ao percorrer as orientações dos documentos
de âmbito educativo17, rapidamente percebe­ Referências
mos que não resta lugar para compreender a
ALMEIDA, É.; SOLÉ, G. M. Património Histórico de
complexidade do processo de construção do
Braga como recurso didático: um estudo com
saber histórico, das suas especificidades e pro­
alunos do 5º ano de escolaridade. In: RIBEIRO,
blemas, das leituras e das representações sobre
C. P. et al. (coord.). Epistemologias e ensino da
o passado, de perceber o relato histórico como
História (XI Congresso das Jornadas Interna­
uma interpretação e entender as fontes como
cionais de Educação Histórica). CIED: Univer­
uma construção do seu tempo (PINTO, 2011,
sidade do Minho, 2017.
p. 214), não permite que os alunos interpretem
as fontes com base na evidência, nem é dado ASHBY, R. Desenvolvendo um conceito de evi­
espaço para que façam inferências com maior dência histórica: as ideias dos estudantes sobre
complexidade. A definição dos nossos objetivos, testar afirmações factuais singulares. EDUCAR,
além de ter a preocupação de desenvolver a Curitiba, p. 151-170, 2006.
compreensão conceptual dos jovens, de ajudar
ASHBY, R. O conceito de evidência histórica: exi­
17 Neste ponto estamos a referimo-nos às Aprendiza-
gências curriculares e concepções dos alunos.
gens Essenciais. In: BARCA, Isabel (org.). Educação histórica e

30 Pluri Ensino de História Percursos Temáticos de Aprendizagem, São Paulo, n. 5, p. 15-32, fev. 2022
Z Dossiê

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