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Dossiê
A Evidência
Prof.ª M.ª Diana Lobo
Mestre em Ensino de História
no Ensino Básico e no Ensino
Aula: da Exploração
das Fontes Históricas
ao Desenvolvimento
do Pensamento
Histórico dos Jovens
Resumo
A investigação no âmbito da Educação Histórica atribuiu um impor
tante destaque aos conceitos de segunda ordem, considerados fun
damentais para a progressão do conhecimento histórico dos alunos,
sobretudo a Evidência Histórica. No entanto, no domínio epistemológico
este conceito encontra-se desfasado das suas potencialidades de
trabalho, e a prática docente reconhecida como o principal agente
limitador. A aula de História tem de ser um espaço privilegiado para o
desenvolvimento de tarefas direcionadas para a apropriação e com
preensão da noção de evidência e, adjacente a esta, à noção de fonte
histórica. Neste trabalho, encontram-se sumariados alguns pontos
que fazem parte de um estudo realizado no mestrado em ensino de
História na Universidade de Coimbra. O estudo principal, de caráter
teórico e descritivo, procura averiguar de que forma a exploração de
fontes diversas pode constituir uma estratégia pedagógica relevante
para a compreensão da evidência histórica. Esta investigação deu
corpo a uma proposta fundamentada, acompanhada por um conjunto
de materiais, capaz de problematizar este conceito.
Resumen
La investigación en educación histórica ha atribuído un importante
enfoque en conceptos de segundo orden, fundamental para la progresión
del conocimiento históricos de los alumnos, especialmente la evidencia
histórica. Sin embargo, en el âmbito epistemológico, este concepto está
desfasado de su potencial de trabajo y la práctica de los profesores es
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A evidência estabelece a ligação entre o passa investigação, para sustentar uma teoria, do
do e a interpretação que é feita a partir dela. seu uso para validar uma afirmação ou o que
Na sua reflexão, Ana Catarina Simão (2015) rei fundamenta uma resposta a uma questão, in
tera que as fontes históricas fornecem a funda dependentemente das suas imperfeições como
mentação para justificar as inferências, que se informação (ASHBY, 2006, p. 50).
baseiam na evidência. Ora, a evidência encon
tra-se na base das inferências do historiador
e são, exatamente, essas inferências que lhe
A Evidência, a Educação
permitem reconstruir o passado2. Sublinhe-se e a Investigação
que só estamos na efetiva presença de evidên Histórica: Contributos
cia histórica quando a natureza da questão da Prática Pedagógica
é compreendida, uma vez que “a validade de
uma fonte muda para diferentes afirmações ou Enquanto explorávamos alguns dos traba
questões e que o seu uso como evidência depen lhos de investigação, desenvolvidos no âmbito
de do peso de que esta se revestecomo evidência da Educação Histórica (ASHBY, 2003, 2006; LEE;
em relação a uma questão” (ASHBY, 2006, p. 50). ASHBY, 1987; PINTO, 2011; SHEMILT, 1987; SIMÃO,
A par desta está também a compreensão de 2007, 2015), percebemos que é partilhada a ideia
uma natureza implícita, que pode ser ou não de que é necessário concentrar esforços no
intencional. A interpretação das fontes tem de sentido da progressão e construção de uma
ter em consideração a chamada história física compreensão histórica mais elaborada, que
da fonte, o contexto e a intenção do seu criador. poderá ser desenvolvida na aula de História
Se cabe ao historiador construir a evidência, através de exercícios de tipo inferencial, a partir
estamos perante um processo de tipo inferen de fontes históricas, e do estabelecimento da
cial, no qual a evidência só é compreendida a relação entre a fonte e a questão.
partir de sua relação com a fonte. Este processo De forma a apurar os níveis de compreensão
não é tão linear quanto aparenta, isto porque o do conceito de evidência, a investigação extra
critério de credibilidadeé frequentemente usado polou da teoria para o estudo em contexto real.
para legitimar a validade ou não de uma fonte. Estes estudos foram inaugurados nos anos
A História não é feita através de um processo de 80 do século XX com Both, cuja investigação
seleção que considera uma fonte em detrimento pretendia que os alunos fossem capazes de
de outa e a exclui em função do que se pres inferir um maior número de conceitos a partir
supõe credível. Uma fonte só se compreende de uma fonte. Da sua investigação surgiram
como evidência histórica quando é questionada. duas categorias: na primeira – concreta – os
A questão que lhe é colocada traduz-se numa alunos responderam com base na observação
afirmação, ora, se forem colocadas diferentes direta e com pouca argumentação; na segun
questões serão obtidas diferentes afirmações. da – abstrata – os alunos revelaram capacida
A mesma evidência pode ainda dar resposta dede inferência e apresentaram argumentos
a questões diferentes e diferentes questões fundamentados. A este seguiu-se Denis Shemilt,
podem também revelar dados que não tinham que definiu no seu trabalho Adolescents ideas
sido pensados como evidência. É a natureza about evidence and methology in History, em
das questões que determina o que é evidência 1987, um modelo de progressão das ideias dos
histórica, que designa o seu potencial para uma alunos acerca da evidência, composto por qua
tro estádios de progressão lógica das ideias
2 MOREIRA, 2004, p. 43: “A História atua através da in dos alunos. No primeiro e segundo estádios, os
terpretação de evidências, usualmente chamadas de menos elaborados, as fontes primárias são
fontes, que são a expressão colectiva de determinado entendidas como acontecimentos do passado e
contexto espácio-temporal e a partir das quais o his
toriador pode obter resposta para as perguntas que
o conhecimento do passado é verdadeiro e in
faz acerca do passado”. questionável, nos estádios seguintes, os alunos
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inferem que as fontes podem ser incompletas e mações históricas como se estas se tratassem
têm uma atitude crítica face ao conhecimento de problemas que devessem ser resolvidos com
histórico3. Ainda neste âmbito temos que desta recurso à autoridade ou pela identificação entre
car o trabalho de Ashby e Lee do qual resultou o principal sujeito do problema e o material que
a categorização das ideias dos alunos acerca o passado deixou para trás. Também Portugal
da evidência, que derivou num modelo de pro tem contribuídopara a consolidação da Inves
gressão composto por 6 (seis) níveis4 . tigação em Educação e Cognição Histórica. Ana
Desta hierarquia de ideias, definidas como Catarina Simão desenvolveu com uma amostra
mais ou menos poderosas, fazem parte as ideias de 100 participantes, de diferentes níveis de en
que os alunos podem trabalhar quando tratam sino (8º e 11º anos), um estudo de natureza qua
fontes e em resposta a questões colocadas às litativa, no qual procurou compreender de que
mesmas. Rosalyn Ashby propõe, por um lado, forma os alunos se relacionam com as fontes
que o professor se afaste do tradicional trata históricas e como entendem a evidência. Verifi
mento das fontes como informação e privilegie cou que a maioria dos alunos do ensino básico
um tratamento da evidência problematizador e se situa no nível de progressão dois, enquanto
elaborado e, por outro, que o currículo forneça um maior número de alunos do ensino secun
aos alunos uma maior compreensão da natureza dário apresenta níveis de pensamento sobre a
da investigação histórica, atribuindo um papel evidência mais elaborados situando-os, por isso,
central ao conceito de evidência. Em 2006, a nos níveis três e quatro (SIMÃO, 2007, p. 301).
mesma investigadora levou a cabo um estudo Considerando os resultados, Simão revela que
com 320 alunos (do 3º, 6º 7º e 9º anos) através a utilização de fontes históricas em sala de aula
do qual constatou que os alunos envolvidos, de deve ser uma estratégia introduzida desde cedo
diferentes faixas etárias, tratavam as infor para contrariar a posição que ocupa no ensino
da História, reduzida “à sua dupla função de
3 Para uma análise mais aprofundada dos estádios de informação, ou estímulo para a aprendizagem”
progressão das ideias dos alunos acerca da evidência (SIMÃO, 2007, p. 302).
histórica (1 – conhecimento do passado é tido como
garantido; 2 – evidência como informação privilegiada Moreira (2004), no seu estudo As fontes his-
do passado; 3 – evidência como base para inferir
tóricas propostas no manual e a construção do
sobre o passado; 4 – Consciência da historicidade da
evidência), ver Adolescents ideas about evidence and conhecimento histórico procura compreender
methodology in History. como se processa a aprendizagem dos alunos
4 No nível 1 (imagens do passado), os alunos consideram
através do uso de fontes históricas propostas
que as fontes históricas proporcionam acesso direitoao
passado, não levantando questões acerca dos fun no manual, identificando quais são as maiores
damentos da afirmação. No nível 2 (informação), os dificuldades durante a sua análise. O projeto foi
alunos reconhecem que as fontes estão associadas
desenvolvido em contexto de sala de aula com
ao passado, que é tido como fixo, e é através delas que
é possível retirar informação acerca do passado, mas uma turma do 8º ano de escolaridade, à qual foi
apelam à autoridade para responder às questões. disponibilizada questionários completados, numa
No entanto, as fontes são tratadas como corretas ou
incorretas, mas restando espaço para informação
fase posterior, com entrevistas. Verifica que um
contraditória. No nível 3 (testemunho), os alunos são número reduzido de alunos reproduz na íntegra
capazes de distinguir evidência e informação. Consi a informação contida na fonte, uma vez que a
deram que a fonte fornece uma informação que deve
ser avaliada em função da sua veracidade, a escolha
maioria seleciona elementos presentes nas fon
recaí sobre o melhor relato. No nível 4 (tesoura e cola), tes e (re)interpretam-nas. Conclui que os alunos:
os alunos revelam um maior entendimento das fon integram nas suas respostas inferências feitas
tes, que interpretam, mas não fundamentam nem têm
em consideração o contexto de produção. No nível 5
a partir de evidências; justificam a sua resposta;
(evidência em isolamento), os alunos compreendem mostram preferência pelos documentos de tipo
que as informações do passado podem ser inferidas informativo, tarefas simples e que não impliquem
a partir de fragmentos de evidência. No sexto e último
nível (evidência em contexto), compreendem a evi raciocínios; apresentam maiores dificuldades na
dência no seu contexto histórico. interpretação de fontes iconográficas e escritas
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primárias. A investigadora constatou que a lin problemas que limitam e atuam em prejuízo
guagem, sobretudo a linguagem das fontes pri do ensino da História – mas que, sublinhe-se,
márias quando não submetida a um processo de muitas vezes o próprio perpetua – e cujas im
adaptação ao nível de ensino, pode constituir um plicações influenciam de forma inconveniente
obstáculo à sua compreensão. Percebemos que o modo como os alunos aprendem (ou estão
na maioria destes trabalhos os alunos reconhe a aprender História)7. Se o ensino continuar
ceram que o conhecimento histórico depende dos a insistir no tratamento das fontes reduzido
vestígios deixados pelo passado, mas precisam à informação, à ilustração, negligenciando a
de recorrer a uma autoridade para validar as problematização, a análise crítica, o estabele
informações históricas5. Estas informações são cimento da relação entre a fonte e a questão e
tratadas tal como são encontradas, uma vez a evidência continuar a ser apresentada como
que consideram que as fontes fornecem acesso prova, a utilização destes recursos não contri
direto ao passado (ASHBY, 2006, p. 151) e que con buirá para alterar as conceções dos alunos e,
têm informação verdadeira, inquestionável e fixa por sua vez, não se traduzirá em aprendizagens
(BUCHTIK, 2018). Contudo, esta tendência parece significativas, no desenvolvimento de níveis de
contrariar a natureza do conhecimento histórico, compreensão mais sofisticados ou na capaci
um conhecimento que se apresenta dinâmico e dade de realizar inferências.
provisório, que pode ser reformulado com novas
As fontes representam diversas possibilida
perguntas e a descoberta de novas evidências.
des de estudo e a evidência revela indícios que
A avaliação das fontes é feita em função da resultam das questões colocadas, porém a fon
credibilidade/validade, critério que revela in teapenas se transforma em evidência q uando
compreensão da natureza das fontes históricas. se torna capaz de demonstrar um vestígio do
A interpretação das fontes pressupõe uma acontecimento que se procura conhecer, por
análise crítica e um trabalho de perceção do isso, é necessário que os alunos compreendam
material que tem em conta um conjunto impor “a diferença entre fonte e evidência, compreen
tante de aspetos como o período histórico, o der que é o relacionamento entre uma ques
contexto de produção, o autor, o destinatário tão de investigação e a fonte, tratada como
ou o objetivo. Se os alunos não situam a fonte evidência, que determinará o valor da mesma
no seu contexto de produção acabam por fazer como evidência para uma investigação espe
uma avaliação simplista recorrendo à “inútil cífica” (SIMÃO, 2015, p. 72). A resposta parece
designação das fontes como credíveis e não passar pela alteração do tratamento da fonte
credíveis” (ASHBY, 2003, p. 49), condicionando como informação pelo tratamento da fonte
tanto a sua interpretação, quer a sua utilização. como evidência, pela introdução gradual de
A validade de uma fonte só pode ser determi tarefas que ajudem os alunos a fazer inferên
nada no contexto do seu uso como evidência e cias acerca do passado, de levantar questões,
tendo em conta o potencial para responder a de colocar hipóteses, pelo estabelecimento da
uma questão. Pela sua complexidade, a Evidên diferenciação de conceitos como evidência e
cia Histórica exige uma preparação conveniente fontes histórias, mas a mudança deve ter lugar,
que permita que os alunos sejam capazes de sobretudo, na própria prática docente muitas
fazer inferências e compreender a natureza do vezes responsável por insistir na utilização das
conhecimento histórico6. A falta de compreensão fontes como informação, prova ou ilustração.
concetual dos alunos dá-nos conta dos vários Rosalyn Ashby (2006, p. 153) considera que,
5 Estas autoridades podem apresentar-se na forma de 7 Rosalyn Ashby (2003) verifica que os alunos revelam
livros, autores, professores. dificuldades em distinguir entre o que o passado deixou
6 Peter Lee (2006, p. 135) reconhece que conceitos como para trás e a evidência, tratam as fontes como se estas
a evidência histórica ajudam a estruturar a compre proporcionassem acesso direito ao passado, conside
ensão histórica dos alunos e organizar o conhecimen ram as informações retiradas garantidas (e verdadei
to substantivo. ras) e tratam a informação de forma superficial.
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das fontes históricas conduz o aluno a noções essenciais a adquirir num determinado nível
simplistas e redutoras (ASHBY, 2003, p. 49). de escolaridade, mencionam a exigência de
No processo de construção do conhecimento transportar para a sala de aula e de aproxi
histórico os alunos mostram ainda preferên mar o aluno das metodologias específicas do
cia por fontes ou outros elementos que lhes saber histórico e dos instrumentos de traba
forneçam informação completa e pronta a lho do historiador, de utilizar adequadamente
consumir. Para ajudar os alunos a compreen fontes históricas de tipologia diversa, distinguir
der as fontes como evidência, o professor deve informação implícita e explícita, tratar a infor
desenvolver o conceito de evidência histórica, mação numa perspetiva crítica10. A questão das
estabelecendo que: a validade de uma fonte competências é também integrada no Perfil dos
muda consoante as afirmações; as fontes têm Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória,
de ser consideradas em função do seu poten documento no qual encontramos referência ao
cial para validar uma determinada afirma desenvolvimento de competências que permi
ção (independentemente da sua imperfeição tam ao aluno analisar e questionar de forma
enquanto informação); têm de fazer a distinção crítica a realidade em que se encontra inserido,
entre a natureza intencional e não intencional avaliar e selecionar diferentes tipologias de
de uma fonte; a História não depende de narra informação, formular hipóteses, fundamentar
tivas ou testemunhos; as fontes têm de passar a as suas perspetivas, desenvolver capacidades
ser encaradas como um conjunto (ASHBY, 2003, de comunicação, de relacionamento e con
p. 49-50). A interpretação de fontes históricas vivência com o outro. Ora, se as disposições
diversas, o tratamento de informação contradi das Aprendizagens Essenciais fazem referên
tória e o cruzamento de diferentes perspetivas cia à análise, tratamento e confrontação de
sobre o mesmo tema pode ser uma estratégia fontes históricas, na formulação de hipóte
capaz de desenvolver o pensamento histórico ses sustentadas em evidências, em promover
dos jovens. O processo de didatização da fonte o envolvimento dos alunos na construção do
é determinante para que a História deixe de ser conhecimento histórico, porque razão estes
considerada um conjunto de informação para pressupostos permanecem no campo teórico?
ser aceite e memorizada e para que se supere
A Educação adquiriu uma feição prescriti
a compreensão do documento como prova e
va e uma natureza narrativa que “conduz os
este passe, por sua vez, a ser entendido como
educandos à memorização mecânica dos con
um vestígio deixado pelo passado. Este processo
teúdos e à sua, posterior, reprodução” (FREIRE,
passa por adequar os materiais à faixa etária
2018, p. 64). Esta imposição de saberes anula o
dos alunos, aos comportamentos, caraterísticas
conhecimento como processo de busca, não res
e interesses da própria turma, pode envolver a
tando espaço para o cruzamento de informação,
atualização da grafia, da pontuação, o escla
para o confronto de diferentes interpretações,
recimento de palavras, conceitos e expressões
para a reflexão e para a descoberta crítica. Nas
que possam suscitar maiores dificuldades, o
Aprendizagens Essenciais (em articulação com
fornecimento de sinónimos, mas sem descara
o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade
terizar o documento ou desvirtuar significados.
Obrigatória) é reiterada a ideia de que o aluno
Encontramos em vários documentos de refe deve: compreender o papel das fontes históricas
rência curricular um conjunto de competências
que devem ser desenvolvidas na disciplina de 10 Apresentam também um conjunto de ações a desen
volver: formular hipóteses com base na evidência; uti
História. As Aprendizagens Essenciais (AE) – da
lizar a metodologia específica da história para a análise
disciplina de História no 3º ciclo do ensino básico de acontecimentos e processos; mobilizar o discurso ar
e no curso de Línguas e Humanidades do ensino gumentativo; sustentar afirmações; organizar debates
orientados; analisar fontes históricas com diferentes
secundário – enquanto orientações curricula
perspetivas; problematizar fontes; organizar o discurso
res que estabelecem os conhecimentos, con oral e escrito recorrendo, para tal, a conceitos operató
teúdos e conceitos/noções, que se c onsideram rios da História; colaborar com pares e com professores.
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distribuídos inquéritos por questionário. Depois recolhidas as respostas, cada grupo terá de
de conhecido o quadro concetual dos alunos13, apresentar o resultado final do seu trabalho
procedemos à elaboração e planificação das à restante turma, que terá a possibilidade
tarefas a implementar, nas quais se encon de o debater14. Quando pensamos na aula de
tra a temática, se articulam os conteúdos, os História pensamos num espaço partidário da
objetivos, os recursos a utilizar e as atividades exploração da dimensão crítica, dos proble
a desenvolver. Ao professor será atribuída a mas do passado e do nosso tempo, para a
importante tarefa de clarificar e enquadrar as formação de uma consciência mais crítica,
etapas do trabalho a ser desenvolvido, neste um espaço que combate a instrumentalização
caso, ao uso da evidência e de fontes históricas. pelo conhecimento.
Tendo em conta o supracitado, deve ser reser
Esperamos que os alunos compreendam o
vado um momento da aula para recordar – ou
conceito de evidência histórica, pois a diante
para introduzir – questões relacionadas com
ser-lhes-á atribuída a tarefa de determinar
a noção de fonte históricas (tipologia de fon
qual a pergunta a que querem dar resposta.
tes, as diferenças entre elas e, sobretudo, que
compreendam a diferença entre fonte e texto Procuramos desenhar uma tarefa que se
historiográfico). Para além desta, o professor adaptasse aos extensos programas da dis
deve ainda recolher e selecionar as fontes que ciplina de História e a dois níveis de ensino (8º
considera adequadas, em função do objeto ou e 11º anos), mas cujo programa é semelhante.
dos conteúdos de estudo, e interrogar-se se Uma vez que as fontes históricas constituem
estas permitem a identificação, compreensão instrumentos que podem ajudar os alunos a
de mudanças e continuidades de momentos estabelecer diferenciações e abstrações, deter
ou processos, protagonistas, opiniões, inte minamos que o trabalho seria desenvolvido
resses e o contexto (BLANCH, 2013, p. 40). Ter em torno do Iluminismo, uma temática que
minada a seleção de fontes, o professor cria implica maiores níveis de abstração. A tarefa
um guia de análise para orientar o trabalho teria início com a introdução do contexto de
dos alunos, que serão divididos em grupos de produção da fonte histórica, esclarecimento
trabalho. A cada grupo será distribuída uma seguido da distinção da natureza das fontes
fonte histórica – que será a mesma para to históricas – fontes primárias e fontes secundá
dos – a partir da qual os alunos terão de se rias – fontes historiográficas e iconográficas.
apropriar e mobilizar o conceito de evidência Moreira verificou que uma das dificuldades
histórica. No guia de análise entregue consta dos alunos pareceu estar relacionada com a
uma questão que difere em todos os grupos a interpretação de fontes iconográficas e es
partir da qual e, apesar de toda a turma deter quemas, exatamente porque os alunos não as
a mesma fonte, o respetivo grupo terá que a consideravam explícitas e claras, mostrando
interpretar e problematizar. O professor tem a preferência pelo texto informativo (MOREIRA,
tarefa de assegurar a monitorização de toda 2004, p. 151). Para que o trabalho com fontes se
a atividade, garantindo que os alunos atingem traduza em níveis de compreensão histórica
os objetivos propostos e compreendem noções mais sofisticados, as tarefas têm de ser imple
epistemológicas. Concluída a interpretação e mentadas de forma gradual e acompanhadas
por guiões que orientem os alunos. Pretendemos
13 Os alunos do 8º ano não apresentam uma noção for
abordar com os alunos do 8º ano as mudanças
mada de fontes históricas, apesar de as considerarem
importantes no processo de construção do conheci operadas no século XVIII – o Século das Lu
mento histórico, mas enquanto fonte de informação zes – através da exploração das perspetivas
direta e verdadeira acerca do passado. Ainda que o
quadro concetual apresentado pelos alunos do 11º ano
seja mais complexo – conseguem identificam tipos de 14 O desenvolvimento deste tipo de exercício pode cons
fontes, funções, o papel do historiador no processo de tituir uma oportunidade para o professor perceber as
análise, etc. – consideram que através das fontes his ideias que os alunos apresentam e proceder à revisão
tóricas se pode aceder ao passado de forma direta. de conceitos.
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– Guião 8º ano –
Atividade nº 3
Grupo A
Documento 1:
“O direito da intolerância é, portanto, absurdo e bárba-
ro; é o direito dos tigres, sendo mais horrível porque os
tigres dilaceram suas presas para comer, enquanto nós
exterminamos por causa de alguns parágrafos”.
Voltaire, Tratado sobre a Tolerância por ocasião da
morte de Jean Calas (1763), (tradução), Porto Alegre,
L&PM editores, 2011, p. 28.
Documento 2:
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Estes instrumentos são disponibilizados aos ideais progressistas, e é sensível aos direitos do
alunos para que compreendam a diferença homem, mas será que inclui as mulheres? No que
entre evidência e fontes históricas e, sobretudo, respeita às mulheres, os filósofos iluministas
que compreendam que é a relação estabele excluíram-nas e colocaram-nas num plano
cida entre a questão e a fonte, que fornece a secundário no mundo do saber. Os ideais ilumi
evidência. Pretendemos que as respostas dos nistas destacam-se, na sua essência, pela de
alunos revelem, progressivamente, maiores ní fesa da universalidade da razão, todavia, esta
veis de compreensão da natureza da evidência defesa tornou-se um instrumento usado para
histórica e capacidade de fazer inferências, exercer violência sobre as mulheres, através da
acerca do passado, a partir de fontes históricas, imposição de um modelo de pensamento único,
superando a ideia de que as fontes fornecem criado por homens. São defensores da liberdade,
informação direta e imediata. Além de orien mas continuam a secundarizar a mulher.
tar as dinâmicas na sala de aula, o professor
Estes instrumentos são disponibilizados aos
deve solicitar a elaboração de uma reflexão
alunos para que compreendam a diferença
final, através da qual pode, simultaneamente,
entre evidência e fontes históricas e, sobretudo,
esboçar um balanço da tarefa e avaliar o envol
que compreendam que é a relação estabele
vimento dos alunos. Para isso, o professor deve
cida entre a questão e a fonte, que fornece a
estruturar um instrumento de recolha. Neste
evidência. O nosso objetivo é que as respostas
contexto, para alcançar os objetivos anterior
dos alunos revelem, progressivamente, maiores
mente referidos, consideramos adequada a
níveis de compreensão da natureza da evidên
formulação de um conjunto de questões diri
cia histórica e capacidade de fazer inferências,
gidas, questões essas distribuídas concluída
acerca do passado, a partir de fontes históricas,
a atividade.
superando a ideia de que as fontes fornecem
A tarefa encontra-se planificada para deco informação direta. Além de orientar as tarefas
rrer em vários blocos de aulas e para serem na sala de aula, o professor deve solicitar a
introduzidos nesse conjunto de aulas foram elaboração de uma reflexão final através da
concebidos três guiões16. O 8º ano dispunha de qual pode fazer um levantamento da tarefa e
dois blocos de 50 minutos semanais, o que exige avaliar o envolvimento dos alunos.
um trabalho de preparação e coordenação
Apesar de não vermos reunidas as condi
rigoroso, e o 11º ano do ensino secundário dispu
ções necessárias para observar as atividades e
nha de três (3) blocos de 100 minutos semanais.
auferir resultados, não nos sentimos impedidos
Com os alunos do 11º ano pretende-se abordar,
de pelo menos projetar um possível cenário
da mesma forma, o processo de renovação de
conclusivo. O uso de fontes históricas diver
mentalidades e a construção iluministas de
sas pode ser considerado um recurso com um
uma Sociedade de Direito, problematizar os
potencial pedagógico capaz de influenciar a
novos fundamentos do poder político, que em
qualidade do ensino e da aprendizagem, à dis
muito diferem do Absolutismo, articular o papel
posição do professor para abordar temáticas
atribuído ao cidadão com o novo quadro político
e conteúdos e para promover a construção do
e analisar a questão da tolerância religiosa,
conhecimento histórico.
através de propostas morais independentes
de preceitos religiosos, problematizar o papel
das mulheres na sociedade do século XXVIII, Conclusão
compreendendo qual a situação das mulheres
no século das luzes e as suas representações. Só estamos na presença de uma verdadeira
A sociedade das Luzes encontra-se imbuída de Educação Histórica quando é desenvolvido um
trabalho de identificação, interpretação, cara
16 Procuramos preparar materiais alternativos aos reti terização, reflexão, reconstituição das socieda
rados dos manuais escolares. des humanas, de conceitos de segundaordem e,
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Edição 05 | Fevereiro de 2022
32 Pluri Ensino de História Percursos Temáticos de Aprendizagem, São Paulo, n. 5, p. 15-32, fev. 2022