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Michel Foucault:

da anátomo-política do
corpo humano à biopolítica
da espécie humana
Fernando Danner*

Resumo: O artigo relaciona o desenvolvimento das relações de produ-


ção capitalistas e a utilização da anatomo-política disciplinar e da biopo-
lítica normativa enquanto procedimentos institucionais de modelagem
do indivíduo e de gestão da população, em vista do desenvolvimento e
da consolidação do capitalismo, a partir de Foucault.

Palavras-chave: Foucault. Capitalismo. Anatomo-política. Biopolítica.

A constituição do Estado moderno, com a gênese e o desenvolvi-


mento das novas relações de produção capitalistas, leva, segundo Foucault,
à instauração da anátomo-política disciplinar e da biopolítica normativa
enquanto procedimentos institucionais de modelagem do indivíduo e de
gestão da coletividade, de formatação do indivíduo e de administração
da população.
* Doutorando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS).

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A anátomo-política e a biopolítica marcam o momento em que a
vida humana entra em jogo nas estratégias e nos cálculos de poder dos
Estados, cujo objetivo principal já não consiste mais, como no poder
de soberania, em “fazer morrer ou deixar viver”; e sim em “fazer viver e
deixar morrer”, exercendo um poder que se investe sobre a vida humana,
de alto a baixo e inversamente. A anátomo-política (ou disciplinas) age
sobre o indivíduo naquilo que ele tem de mais íntimo, seu corpo, a fim
de torná-lo o mais útil e dócil possível. A biopolítica toma, por sua vez,
como objeto de sua intervenção a espécie humana, a própria vida dos
indivíduos. E mais, estes dois processos tiveram uma importância cen-
tral no processo de consolidação e do desenvolvimento do capitalismo
moderno.
Neste sentido, o artigo pretende mostrar que as sociedades moder-
nas serão caracterizadas, por Foucault, como sociedades disciplinares e
normativas, na medida em que o desenvolvimento do indivíduo e da so-
ciabilidade se dá a partir dos condicionamentos do Panóptico, entendido
enquanto o modelo basilar a partir do qual se dá a gênese deste indiví-
duo e desta população moderna.

1. O poder disciplinar e a formatação do homem moderno

Vigiar e Punir e os cursos no Collège de France, na década de 1970,


são as obras nas quais Foucault mostra como surgiram, a partir do século
XVII, técnicas de poder centradas no corpo dos indivíduos, em que o
principal objetivo era criar corpos submissos e dóceis, formatados: “[...]
ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, respon-
de, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam” (FOUCAULT, 1987,
p. 117). A essas técnicas de poder que atingem o corpo dos indivíduos
Foucault chamou de “disciplinas”.
O que se entende por disciplinas? Por disciplinas, Foucault entende
uma série de mecanismos de controle, de técnicas, de táticas, de estraté-
gias para o exercício do poder, “[...] que permitem o controle minucioso
das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças
e lhe impõem uma relação de utilidade-docilidade” (FOUCAULT, 1987,
p. 117). O surgimento da tecnologia disciplinar está diretamente rela-

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cionado ao momento do nascimento da arte do corpo humano, que não
visa apenas ao aumento de suas habilidades ou o aprofundamento de
sua sujeição, “[...] mas a formação de uma relação que, no mesmo meca-
nismo, o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente”
(FOUCAULT, 1987, p. 119). Têm-se aí aquilo que se poderia chamar de
uma política das coerções, “[...] que são um trabalho sobre o corpo, uma
manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus com-
portamentos” (FOUCAULT, 1987, p. 119). Dessa forma, o corpo huma-
no é capturado em uma “[...] maquinaria do poder que o esquadrinha, o
desarticula e o recompõe” (FOUCAULT, 1987, p. 119).
As disciplinas fazem nascer a “anatomia-política” do corpo humano
que é, ao mesmo tempo, uma “mecânica do poder” que permite perceber
como se pode obter o controle dos corpos não para que façam o que se
quer, mas para que operem como se quer, segundo a rapidez e a eficácia
exigida. Pode-se dizer “[...] que a coerção disciplinar estabelece no corpo
o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acen-
tuada” (FOUCAULT, 1987, p. 119). As disciplinas são, portanto, “uma
anatomia política do detalhe” (FOUCAULT, 1987, p. 120). Nada escapa
de sua ação; elas agem naquilo de mais íntimo e particular que os huma-
nos têm, o corpo, buscando torná-lo o mais dócil e submisso possível.
No dizer de Foucault,

A disciplina fabrica, assim, corpos submissos e exercitados, cor-


pos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos
econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em
termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o
poder do corpo; faz dele, por um lado, uma “aptidão”, uma “ca-
pacidade”, que ela procura aumentar, e inverte, por outro lado, a
energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dele uma rela-
ção de sujeição estrita (1987, p. 119).

Como funcionam as disciplinas? Quatro características indicam o


funcionamento das disciplinas.
Em primeiro lugar, as disciplinas funcionam através da distribuição
dos indivíduos no espaço. Isto é, os indivíduos são distribuídos através
da inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório,
combinatório. O indivíduo é isolado em um espaço fechado, esquadri-
nhado e hierarquizado, no qual passa a ser capaz de realizar funções di-
ferentes segundo o objetivo específico que se espera dele (MACHADO,

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1992, p. 17). A disciplina exige a cerca, isto é, “[...] a especificação de um
local heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo. Local prote-
gido da monotonia disciplinar” (FOUCAULT, 1987, p. 122). Elas proce-
dem também pelo princípio da clausura. Este princípio é caracterizado
pelo mecanismo da localização imediata ou do quadriculamento: “cada
indivíduo no seu lugar e, em cada lugar, um indivíduo”. Com isso, evita-
se a distribuição dos indivíduos por grupos, decompõem-se as implan-
tações coletivas e analisa-se as pluralidades confusas, maciças ou fugi-
dias. “O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quantos
corpos ou elementos há a repartir” (FOUCAULT, 1987, p. 123). O poder
disciplinar caracteriza-se ainda pela regra das localizações funcionais:
“Lugares determinados se definem para satisfazer não só a necessidade
de vigiar, de romper as comunicações perigosas, mas também de criar
um espaço útil” (FOUCAULT, 1987, p. 123). Por último, a disciplina se
caracteriza pela posição na fila. Nela os corpos podem intercambiar-se
entre si pelo fato de que cada um se define pelo lugar que ocupa na série
e pela distância que o separa do outro. “Ela individualiza os corpos por
uma localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular
numa rede de relações” (FOUCAULT, 1987, p. 125).
Em segundo lugar, a disciplina funciona pelo controle do tempo. As
disciplinas realizam a sujeição do corpo ao tempo com o objetivo de pro-
duzir o máximo com o máximo de rapidez e de eficácia. Por isso, ela não
se interessa tanto pelo resultado da ação e sim por todo o seu desenrolar.
Nas palavras de Foucault:

O tempo medido e pago deve ser também um tempo sem impu-


reza nem defeito, um tempo de boa qualidade, e, durante todo
o seu transcurso, o corpo deve ficar aplicado a seu exercício. A
exatidão e a aplicação são, com a regularidade, as virtudes funda-
mentais do tempo disciplinar (1987, p. 129).

As disciplinas realizam, ainda, a elaboração do ato em todos os seus


elementos:

É definida a posição do corpo, dos membros, das articulações;


para cada movimento é determinada uma direção, uma amplitu-
de, uma duração; é prescrita sua ordem de sucessão. O tempo pe-
netra o corpo e, com ele, todos os controles minuciosos do poder
(FOUCAULT, 1987, p. 129).

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A disciplina estabelece também a correlação de um gesto específico
com o corpo que o produz, de modo que o controle do corpo pelo poder
disciplinar não consiste apenas em ensinar ou impor uma série de gestos
definidos, mas, ao mesmo tempo, em estabelecer a melhor relação entre
um gesto e a atitude do corpo, que é sua condição de eficácia e de rapi-
dez, Dito por Foucault, “[...] um corpo disciplinado é a base de um gesto
eficiente” (1987, p. 130). Ela realiza ainda a articulação do corpo com o
objeto a ser manipulado: a disciplina define cada uma das relações que o
corpo deve manter com o objeto que manipula. Dessa forma, “[...] a re-
gulamentação imposta pelo poder é, ao mesmo tempo, a lei de constru-
ção da operação. E, assim, aparece esse caráter do poder disciplinar: tem
uma função menos de retirada que de síntese, menos de extorsão do pro-
duto que de laço coercitivo com o aparelho de produção” (FOUCAULT,
1987, p. 131). As disciplinas também procedem pelo princípio da utiliza-
ção exaustiva: organizam uma economia positiva do tempo, possibilitam
a utilização sempre crescente do tempo: “[...] importa extrair do tempo
sempre mais instantes disponíveis e, de cada instante, sempre mais forças
úteis” (FOUCAULT, 1987, p. 131).
Em terceiro lugar, a vigilância é um dos principais instrumentos de
controle da disciplina. A vigilância dos corpos deve ser contínua, perpé-
tua, permanente. É um poder que deve penetrar nos lugares mais recôn-
ditos e deve estar presente em toda a extensão do espaço. Foucault afirma
que “[...] o poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se
apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’; ou, sem dúvida,
adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra
as forças para reduzi-las; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las
num todo” (1987, p. 143). As disciplinas transformam corpos e forças
inúteis em indivíduos eficientes e produtivos. Para Foucault:

A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um


poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e
como instrumentos de seu exercício. Não é um poder triunfante
que, a partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu super-
poderio; é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo
de uma economia calculada, mas permanente (1987, p. 143).

As instituições disciplinares desenvolveram, portanto, uma maqui-


naria de controle que procedeu como um microscópio do comporta-
mento. Com efeito, dada a sua eficácia,
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O aparelho disciplinar perfeito capacitaria um único olhar a tudo
ver permanentemente. Um ponto central seria, ao mesmo tem-
po, fonte de luz que iluminasse todas as coisas e lugar de conver-
gência para tudo o que deve ser sabido: olho perfeito a que nada
escapa e centro em direção ao qual todos os olhares convergem
(FOUCAULT, 1987, p. 146).

Com o advento do capitalismo, à medida que o aparelho de pro-


dução vai se tornando mais importante e mais complexo, à medida que
há aumento do número de operários e a divisão social do trabalho, essas
técnicas de controle se tornam muito importantes. A vigilância se torna,
então, uma função definida que deve fazer parte integrante do processo
de produção. Por isso, um pessoal especializado é indispensável para o
bom andamento do processo de produção capitalista. “A vigilância tor-
na-se um operador econômico decisivo, na medida em que é, ao mesmo
tempo, uma peça interna no aparelho de produção e uma engrenagem
específica do poder disciplinar” (FOUCAULT, 1987, p. 147).
Em quarto e último lugar, a disciplina implica registro contínuo
do conhecimento, pois, ao mesmo tempo em que exerce poder, produz
saber. O conceito de exame torna-se ideia central para compreender este
processo de registro do conhecimento. O exame inverte a economia da
visibilidade no exercício de poder. Contrariando a ideia tradicionalmente
corrente de que o poder seria aquilo que poderia ser visto, aquilo que se
manifesta e que encontra o princípio de sua força no movimento com
o qual se exibe, o poder disciplinar se exerce tornando-se invisível. Em
compensação, impõe aos que estão sendo observados um princípio de
visibilidade constante e obrigatória. No dizer de Foucault:

Na disciplina, são os súditos que têm que ser vistos. Sua ilumina-
ção assegura a garra do poder que se exerce sobre eles. É o fato
de ser visto sem cessar, de sempre poder ser visto, que mantém
sujeito o indivíduo disciplinar. E o exame é a técnica pela qual o
poder, em vez de emitir os sinais de seu poderio, em vez de impor
sua marca a seus súditos, capta-os num mecanismo de objetiva-
ção (1987, p. 156).

O exame faz a individualidade entrar em um campo documentário.


A disciplina implica também registro constante dos corpos e dos dias.
Com efeito, um “poder de escrita” torna-se peça integrante das engre-

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nagens da disciplina. O exame, graças ao aparelho escrito que o acom-
panha, abre duas possibilidades correlatas: de um lado, a constituição
do indivíduo como objeto descritível, analisável, não para reduzi-lo a
traços “específicos”, mas para mantê-lo em seus traços singulares, em
sua evolução particular, em suas evoluções ou capacidades próprias, sob
um controle de um poder permanente; de outro lado, a constituição de
um sistema comparativo que permite a medida de fenômenos globais,
a descrição de grupos, a caracterização de fatos coletivos, a estimativa
dos desvios dos indivíduos entre si e sua distribuição numa população
(FOUCAULT, 1987, p. 158).
O exame, com todas as suas técnicas documentárias, faz de cada in-
divíduo um caso. Um caso se constitui, ao mesmo tempo, como um ob-
jeto para o conhecimento e uma tomada para o poder. O caso “[...] é o
indivíduo tal como pode ser descrito, mensurado, medido, comparado
a outros, e isso em sua própria individualidade; e é também o indivíduo
que tem que ser treinado e re-treinado, tem que ser classificado, norma-
lizado, excluído, etc.” (FOUCAULT, 1987, p. 159).
Foucault assinala que os procedimentos disciplinares fazem da in-
dividualidade registrada, documentada, um meio de controle e de domi-
nação dos indivíduos. Estes registros são tomados pela tecnologia disci-
plinar não simplesmente como memória futura, mas como documento
para uma eventual utilização. Ou seja, nos procedimentos disciplinares,
os registros documentários funcionam “[...] como processo de objetiva-
ção e de sujeição” (FOUCAULT, 1987, p. 159). O exame também está no
centro dos processos que constituem o indivíduo como efeito e objeto de
poder, como efeito e objeto de saber. Diz Machado:

A ação sobre o corpo, o adestramento do gesto, a regulação do


comportamento, a normalização do prazer, a interpretação do
discurso, com o objetivo de separar, comparar, distribuir, avaliar,
hierarquizar, tudo isso faz com que apareça pela primeira vez na
história esta figura singular, individualizada – o homem – como
produção do poder. Mas também, e ao mesmo tempo, como obje-
to de saber. Das técnicas disciplinares, que são técnicas de indivi-
dualização, nasce um tipo específico de saber: as ciências huma-
nas (1992, p. 20).

O indivíduo é um produto da disciplina; uma realidade fabrica-


da por ela. No dizer de Foucault: “O indivíduo é, sem dúvida, o átomo
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fictício de uma representação ‘ideológica’ da sociedade; mas é também
uma realidade fabricada por essa tecnologia específica de poder que se
chama ‘disciplina’” (1987, p. 161). É por isso que não se pode tomar o po-
der somente em termos negativos: o poder “exclui”, “reprime”, “recalca”,
“mascara”, “censura”, “abstrai”, “esconde”, etc. (FOUCAULT, 1987, p. 161).
Na realidade, para Foucault, “[...] o poder produz; ele produz realidade;
produz campos de objetos e rituais da verdade. O indivíduo e o conheci-
mento que dele se pode ter se originam nessa produção” (1987, p. 161).
O panóptico, de Jeremy Bentham, é a figura arquitetural dessa nova
tecnologia disciplinar. O panóptico é uma máquina de vigilância que
possibilita que alguns indivíduos consigam vigiar eficiente e permanen-
temente o comportamento de muitos. É isto que passamos a ver.

1.2. O panóptico de Jeremy Bentham

O panóptico, idealizado por Jeremy Bentham no século XIX, fun-


ciona com base em três elementos arquitetônicos principais: 1) um es-
paço circular e fechado; 2) uma divisão em celas; e 3) uma torre central.
Diz Foucault:

O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel;


no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas, que se abrem
sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em
celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas
têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas
da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse
a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre cen-
tral e em cada cela trancar um louco, um doente, um condena-
do, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se
perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade,
as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas,
tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfei-
tamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo
panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem pa-
rar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da mas-
morra é invertido; ou, antes, de suas três funções – trancar, privar
de luz e esconder –, só se conserva a primeira e suprimem-se as
outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que

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a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadi-
lha. [...] Cada um, em seu lugar, está bem trancado em sua cela, de
onde é visto de frente pelo vigia; mas os muros laterais impedem
que entre em contato com seus companheiros. É visto, mas não
vê; objeto de uma informação, nunca sujeito numa comunicação.
A disposição de seu quarto, em frente da torre central, lhe impõe
uma visibilidade axial; mas as divisões do anel, essas celas bem
separadas, implicam uma invisibilidade lateral. E esta é a garantia
da ordem (1987, p. 165-166).

O panóptico é um verdadeiro produtor de individualidades. Nele,


a multidão é abolida em prol de um grande número de individualidades
separadas. O mais importante deste dispositivo é sua capacidade de in-
duzir os indivíduos a um estado permanente de visibilidade que assegu-
ra perfeitamente o funcionamento automático do poder. Diz Foucault:

Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento


um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura
o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilân-
cia seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em
sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atua-
lidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma
máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente
daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos
numa situação de poder de que eles mesmos são os portadores.
Para isso, é ao mesmo tempo excessivo e muito pouco que o pri-
sioneiro seja observado sem cessar por um vigia; muito pouco,
pois o essencial é que ele se saiba vigiado; excessivo, porque ele
não tem necessidade de sê-lo efetivamente (1987, p. 166-167).

Assim, justifica-se a afirmação de Bentham de que o poder deve ser


visível e inverificável. Visível, na medida em que o detento terá sempre
diante de seus olhos a torre de onde está sendo vigiado. Inverificável,
pois o detento nunca deve saber se está sendo observado, mas deve ter
certeza que pode sempre vir a sê-lo. Portanto, “[...] o panóptico é uma
máquina de dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, se é total-
mente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser
visto” (FOUCAULT, 1987, p. 167).
O panóptico é um dispositivo que automatiza e desindividualiza o
poder. Seu princípio de funcionamento não reside tanto numa pessoa,
mas sim na distribuição espacial dos corpos, no jogo de olhares a que es-
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tão submetidos os prisioneiros, nos mecanismos de vigilância utilizados,
etc. Ele é um dispositivo de vigilância capaz de alcançar os resultados
mais produtivos. Segundo Foucault, “O panóptico é uma máquina ma-
ravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homo-
gêneos de poder” (1987, p. 167). Esse mecanismo de vigilância faz com
que “uma sujeição real nasce mecanicamente de uma relação fictícia”
(FOUCAULT, 1987, p. 167). Ele funciona como uma espécie de labo-
ratório de poder, isto é, uma maquinaria óptica graças à qual é possível
fazer experiências e obter o controle e a manipulação do comportamento
dos indivíduos. “O panóptico é um local privilegiado para tornar possí-
vel a experiência com homens e para analisar com toda certeza as trans-
formações que se pode obter neles” (FOUCAULT, 1987, p. 169).
O panóptico é, em última instância, o princípio de uma nova “ana-
tomia política” que tem como finalidade não a instauração ou a manu-
tenção de relações de soberania, mas as relações de disciplina. É por isso
que não se pode confundir a disciplina com uma instituição ou com um
aparelho (como, por exemplo, as instituições penitenciárias ou como as
casas de correção do século XX): “[...] ela é um tipo de poder, uma mo-
dalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de instrumen-
tos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é
uma ‘física’ ou uma ‘anatomia’ do poder, uma tecnologia” (FOUCAULT,
1987, p. 177).
Foucault diagnostica a formação da sociedade disciplinar. Segundo
ele, está ligada a uma série de processos históricos no interior dos quais
ela tem lugar. Entre estes processos se destacam os processos econômi-
cos, os jurídico-políticos e os científicos. Vejamos cada um deles:
Os processos econômicos. Para Foucault, as disciplinas caracterizam-
se como técnicas capazes de assegurar a ordenação das multiplicidades
humanas. O que é próprio das disciplinas é que elas buscam estabelecer,
em relação a estas multiplicidades humanas informes, uma tática de po-
der que obedece a três critérios fundamentais: primeiro, tornar o exer-
cício de poder o menos custoso possível (economicamente, pelo pouco
custo que acarreta; politicamente, pela sua descrição, sua invisibilidade,
pelo pouca resistência que suscita etc.); segundo, as disciplinas buscam
fazer com que os efeitos de poder sejam levados a seu máximo de inten-

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sidade e estendidos a todos os indivíduos, sem exceção e sem fracasso;
terceiro, as disciplinas buscam ligar o crescimento “econômico” do po-
der e o rendimento dos aparelhos no interior dos quais o poder se exerce;
em outras palavras, seu objetivo é fazer crescer, em termos de docilidade
e utilidade, os indivíduos integrados neste sistema.
Esse triplo papel das disciplinas responde a dois fenômenos históri-
cos muito precisos: de um lado, a grande explosão demográfica do século
XVIII; de outro lado, o crescimento do aparelho de produção no proces-
so de explosão demográfica. No caso do primeiro, a disciplina realiza um
trabalho de fixação, controlando ou manipulando os grupos humanos;
no do segundo, induz à rentabilidade. O desenvolvimento da tecnologia
disciplinar marca o aparecimento de técnicas de poder que derivam de
uma economia totalmente diversa. Essas técnicas de poder integram-se
perfeitamente à eficácia do aparelho de produção, ao crescimento dessa
eficácia e à utilização do que ela produz. No dizer de Foucault:

As disciplinas substituem o velho princípio “retirada-violência”


que regia a economia do poder pelo princípio “suavidade-pro-
dução-lucro”. Devem ser tomadas como técnicas que permitem
ajustar, segundo esse princípio, a multiplicidade dos homens e
a multiplicação dos aparelhos de produção (e, como tal, deve-se
entender não só a “produção” propriamente dita, mas a produção
de saber e de aptidões na escola, a produção de saúde nos hospi-
tais, a produção de força destrutiva com o exército) (1987, p. 180).

O desenvolvimento da tecnologia disciplinar está intimamente li-


gado ao processo de desenvolvimento da economia capitalista. Graças à
tecnologia disciplinar, a economia capitalista conseguiu extrair o máxi-
mo de submissão das forças e dos corpos e, ao mesmo tempo, conseguiu
colocar em funcionamento, através de regimes políticos muito precisos,
de aparelhos ou de instituições muito diversas, toda essa maquinaria de
produção. No entanto, para Foucault, o processo de desenvolvimento
econômico no Ocidente não teria sido possível sem a correlata acumu-
lação dos homens. Na verdade, estes dois processos, acumulação de ho-
mens e acumulação de capital, não podem ser separados, pois não seria
possível resolver o problema da acumulação dos homens sem colocar
em funcionamento um aparelho de produção capaz de mantê-los e de

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utilizá-los. Inversamente, o processo de aceleração da produção capita-
lista não teria sido possível sem o desenvolvimento de técnicas que tor-
nassem úteis a multiplicidade cumulativa dos homens e de suas forças.
Sem dúvida, a tecnologia disciplinar se constitui como uma célula do
poder que contribuiu para o desenvolvimento e a acumulação das forças
e do capital. Segundo Foucault:

A disciplina é o processo técnico unitário pela qual a força do


corpo é, com o mínimo de ônus, reduzida como força “política” e
maximalizada como força útil. O crescimento de uma economia
capitalista fez apelo à modalidade específica do poder disciplinar,
cujas fórmulas gerais, cujos processos de submissão das forças e
dos corpos, cuja “anatomia política”, em uma palavra, podem ser
postos em funcionamento através de regimes políticos, de apare-
lhos e de instituições muito diversas (1987, p. 182).

Os processos jurídico-políticos. Foucault afirma que, historicamente,


o processo pelo qual a burguesia se tornou a classe politicamente domi-
nante no decorrer do século XVIII estava baseado em um quadro jurídi-
co explícito, codificado, formalmente igualitário, organizado por um re-
gime parlamentar representativo. O desenvolvimento e a generalização
dos dispositivos disciplinares levaram a uma inversão desse processo. A
forma jurídica que garantia um sistema de direitos em princípio igualitá-
rio era sustentada por um conjunto de mecanismos miúdos, cotidianos
e físicos, por uma série de sistemas de micropoderes essencialmente ini-
gualitários e assimétricos que constituem as disciplinas. Com efeito, se
no regime representativo a vontade de todos era instância fundamental
da soberania, as disciplinas dão a garantia da submissão das forças e dos
corpos. “As disciplinas reais e corporais constituíram o subsolo das liber-
dades formais e jurídicas” (FOUCAULT, 1987, p. 183).
Para Foucault, temos de ver nas disciplinas e em todas suas técnicas
uma espécie de contra-direito. Enquanto os sistemas jurídicos qualificam
os sujeitos de direito, segundo normas universais, “[...] as disciplinas ca-
racterizam, classificam, especializam; distribuem ao longo de uma esca-
la, repartem em torno de uma norma, hierarquizam os indivíduos em
relação uns aos outros e, levando ao limite, desqualificam e invalidam”
(FOUCAULT, 1987, p. 183). As disciplinas são uma espécie de “contra-

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direito”, pelo fato de que fazem funcionar, ao contrário do direito que
fixa limites para o exercício do poder, “[...] uma maquinaria ao mesmo
tempo imensa e minúscula que sustenta, reforça, multiplica a assimetria
dos poderes e torna vão os limites que lhe foram traçados” (FOUCAULT,
1987, p. 184). Elas formam, na genealogia da sociedade moderna, com a
dominação de classe que a atravessa, uma forma de contrapartida políti-
ca das normas jurídicas segundo as quais era redistribuído o poder. Em
outras palavras, as disciplinas, como um “feixe de técnicas físico-políti-
cas”, se constituem numa série de mecanismos capazes de desequilibrar
definitivamente e em qualquer parte as relações de poder que então em
funcionamento.
Os processos científicos. A grande novidade que a tecnologia discipli-
nar trouxe, principalmente a partir do século XVIII, é um nível a partir do
qual formação de saber e majoração do poder se reforçam regularmente
a partir de um processo circular. As disciplinas, a partir de então, atra-
vessam um limiar “tecnológico”. O hospital, a escola e depois a oficina
não foram simplesmente organizados e postos em funcionamento pela
tecnologia disciplinar. Estas instituições se tornaram, graças às discipli-
nas, aparelhos de objetivação que valem como instrumentos de sujeição
através dos quais qualquer crescimento de poder dá lugar a conhecimen-
tos possíveis, à formação de um determinado saber. Graças também a
esse sistema tecnológico foi possível formar no elemento disciplinar uma
série de ciências como a medicina clínica, a psiquiatria, a psicologia da
criança, a psicopedagogia, a racionalização do trabalho. Um duplo pro-
cesso: de um lado, “arrancada epistemológica a partir de um afinamento
das relações de poder”; de outro, “multiplicação dos efeitos de poder gra-
ças à formação e à acumulação de novos conhecimentos” (FOUCAULT,
1987, p. 185).
Com efeito, o poder posto em funcionamento pela tecnologia disci-
plinar, graças a seus mecanismos de controle, permite aumentar sempre
mais e mais. É um poder direto e absolutamente físico, um poder que os
homens exercem uns sobre os outros. É por isso que essas ciências do
homem (como a psicologia, a pedagogia, a psiquiatria, a criminologia,
etc.), “[...] têm sua matriz técnica na minúcia tateante e maldosa das dis-
ciplinas e de suas investigações” (FOUCAULT, 1987, p. 186).

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2. O nascimento da biopolítica

2.1. Biopolítica e gestão da população

No último capítulo de História da Sexualidade: a Vontade de Saber,


intitulado “Direito de Morte e Poder sobre a Vida”, e Em Defesa da So-
ciedade, curso ministrado no Collège de France nos anos de 1975 e 1976,
Foucault inicia uma série de análises sobre uma nova arte de governar,
a biopolítica. Em História da Sexualidade, afirma que um dos privilégios
atribuído ao poder soberano era o direito de vida e de morte. Esse poder
derivava do velho princípio da patria potestas, que dava ao pai de família
romano o direito de “dispor” livremente da vida de seus filhos e de seus
escravos: a qualquer momento podia retirar-lhes a vida, já que lhes tinha
“dado” (FOUCAULT, 1988, p. 127).
Na relação soberano/súditos, o direito de vida e de morte só pode
ser exercido nos casos em que a vida do soberano se encontra exposta:
“uma espécie de direito de réplica”. Em caso de ser ameaçado por inimi-
gos externos que desejam derrubá-lo ou contestar seus direitos, o sobe-
rano pode entrar em guerra e solicitar a seus súditos que tomem parte
da defesa do Estado. Neste caso, “’[...] sem se propor diretamente à sua
morte’ é-lhe lícito ‘expor-lhes a vida’: neste sentido, exerce sobre eles um
direito ‘indireto’ de vida e de morte” (FOUCAULT, 1988, p. 127). Em
contrapartida, se foi um de seus súditos que se levantou contra ele e in-
fringiu as leis, pode exercer um poder direto sobre sua vida: pode até
matá-lo como castigo. O direito de vida e de morte estava condicionado
à defesa do soberano e à sua sobrevivência. Este direito, em última ins-
tância, é assimétrico, pois está sempre do lado da morte. Ou seja, “[...] o
direito que é formulado como ‘de vida e de morte’ é, de fato, direito de
causar a morte ou de deixar viver” (FOUCAULT, 1988, p. 128). É pelo
fato do soberano poder matar que exerce seu poder sobre a vida.
Ora, no século XIX ocorreu uma marcante transformação do direi-
to político. O velho direito de soberania, que consistia em fazer morrer
ou deixar viver, é agora substituído por um novo, isto é, “fazer” viver e
“deixar” morrer: “[...] um poder que gere a vida e a faz se ordenar em
função de seus reclamos” (FOUCAULT, 1988, p. 128). Ao fim de História

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da Sexualidade: a Vontade de Saber, Foucault resume o processo pelo
qual a vida humana entra em jogo nas estratégias políticas de poder dos
Estados modernos: “O homem, durante milênios, permaneceu o que era
para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de existência políti-
ca; o homem moderno é um animal em cuja política sua vida de ser vivo
está em questão” (FOUCAULT, 1988, p. 134).
Com efeito, as próprias guerras, que jamais assumiram proporções
tão sangrentas e que levaram ao extermínio tantas pessoas como no sé-
culo XIX, já não se travam mais em nome da defesa do soberano, mas
sim da existência de todos. Apresentam-se agora como um poder que
se exerce positivamente sobre a vida, que estimula e garante o seu cres-
cimento, que empreende a sua gestão e a sua majoração, que garante a
multiplicação de suas possibilidades, etc. Diz Foucault:

As guerras já não se travam em nome do soberano a ser defendi-


do; travam-se em nome da existência de todos; populações intei-
ras são levadas à destruição mútua em nome da necessidade de
viver. Os massacres se tornam vitais. Foi como gestores da vida e
da sobrevivência dos corpos e da raça que tantos regimes pude-
ram travar tantas guerras, causando a morte de tantos outros. E,
por uma reviravolta que permite fechar o círculo, quanto mais a
tecnologia das guerras voltou-se para a destruição exaustiva, tan-
to mais as decisões que as iniciam e as encerram se ordenaram em
função da questão nua e crua da sobrevivência. A situação atômi-
ca se encontra hoje no ponto de chegada desse processo: o poder
de expor uma população à morte geral é o inverso do poder de ga-
rantir à outra sua permanência em vida. O princípio “poder matar
para poder viver”, que sustentava a tática dos combates, tornou-se
princípio de estratégia entre Estados; mas a existência em questão
já não é aquela – jurídica – da soberania, é outra – biológica –, de
uma população. Se o genocídio é, de fato, o sonho dos poderes
modernos, não é por uma volta, atualmente, ao velho direito de
matar, mas é porque o poder se situa e exerce ao nível da vida, da
espécie, da raça e dos fenômenos maciços de população (1988,
p. 129).

O poder sobre a vida desenvolveu-se no decorrer do século XVII


sob dois aspectos. O primeiro, como anteriormente vimos, centrou-se
no momento histórico das disciplinas, no momento em que o corpo
tornou-se objeto e alvo do poder pelo adestramento, a ampliação de suas
aptidões, a extorsão completa de suas forças, o crescimento de sua utili-
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dade e docilidade, em sua integração em sistemas de controle econômi-
cos e eficazes. A esse momento Foucault chamou de anátomo-política do
corpo humano. O segundo aspecto deste poder sobre a vida formou-se
um pouco depois, por volta da metade do século XVIII, e centrou-se no
corpo-espécie, no corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como
suporte dos processos biológicos: o controle dos nascimentos e da mor-
talidade, a saúde da população, a duração da vida, a longevidade, etc. A
esse processo Foucault chamou de uma biopolítica da população: “[...]
um poder cuja função mais elevada já não é mais matar, mas investir
sobre a vida, de cima a baixo” (FOUCAULT, 1988, p. 131).
Para Foucault, o “limiar de modernidade biológica” de uma socie-
dade é o momento em que uma espécie entra em jogo nas estratégias
políticas de um Estado: “O homem, durante muito tempo, permaneceu o
que era para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de existên-
cia política; o homem moderno é um animal, em cuja política, sua vida
de ser vivo está em questão” (FOUCAULT, 1988, p. 134). Os dois pro-
cessos, o anatômico e o biológico (ou biopolítico), constituíram-se nos
pólos sobre os quais se deu a organização do poder sobre a vida. Foucault
mostra que o velho princípio de soberania é recoberto pela “[...] admi-
nistração dos corpos e pela gestão calculista da vida” (FOUCAULT, 1988,
p. 131).
A biopolítica não anula a anátomo-política. Ela a integra em seus
mecanismos reguladores. A biopolítica age no nível “[...] da vida dos ho-
mens, ou ainda, [...] ela se dirige não ao homem-corpo, mas ao homem
vivo, ao homem ser vivo; no limite, se vocês quiserem, ao homem-espé-
cie” (FOUCAULT, 1999, p. 289). Na obra Em Defesa da Sociedade Fou-
cault afirma:

Logo, depois de uma tomada de poder sobre o corpo que se fez


consoante o modo da individualização, temos uma segunda to-
mada de poder que, por sua vez, não é individualizante, mas que é
massificante, se vocês quiserem, que se faz não do homem-corpo,
mas do homem-espécie (1999, p. 289).

O que vem a ser biopolítica? Nas palavras de Foucault, “[...] trata-


se de um conjunto de processos como a proporção dos nascimentos e
dos óbitos, a taxa de reprodução, a fecundidade de uma população, etc.”
(1999, p. 289-290). Com efeito, foi em torno desses processos, juntamen-

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te com uma grande quantidade de problemas econômicos e políticos,
que se constituíram, na segunda metade do século XVIII, os primeiros
objetos de saber e os primeiros alvos de controle da biopolítica. Foi neste
momento que se colocou em prática uma política da natalidade, uma
espécie de intervenção nesses fenômenos de natalidade. Mas, a biopo-
lítica não trata apenas do fenômeno da natalidade; trata-se também do
problema da morbidade. Morbidade não simplesmente no sentido de
epidemias, mas de algo diferente, que apareceu no fim do século XVIII:
aquilo que se poderia denominar de endemias, ou seja, “[...] a forma,
a natureza, a extensão, a duração, a intensidade das doenças reinantes
numa população” (FOUCAULT, 1999, p. 290). As endemias devem ser
encaradas como fatores permanentes de subtração das forças e, portan-
to, de diminuição do tempo disponível de trabalho, baixa de energias,
aumento dos custos econômicos, tanto por causa da produção não re-
alizada quanto dos tratamentos que podem custar. A endemia é “[...]
a morte permanente, que se introduz sorrateiramente na vida, a corrói
perpetuamente, a diminui e a enfraquece” (FOUCAULT, 1999, p. 291).
Com efeito, o século XVIII prestou uma grande atenção a esses fe-
nômenos e foi a partir deles que se introduziu uma nova medicina com
a função de exercer maior controle da higiene pública, da saúde da po-
pulação. Este processo contou com o apoio de organismos de coordena-
ção dos tratamentos médicos, de centralização de informações, de nor-
malização de saber, e que adquire também um aspecto de campanha de
aprendizado da higiene e de medicalização da população, a fim de exercer
maior controle em temas de reprodução, de morbidade, de natalidade,
de doença da população, etc. (FOUCAULT, 1999, p. 291). Foi nestes pro-
cessos que a biopolítica passou a intervir.
Outro aspecto de intervenção da biopolítica diz respeito a todo um
conjunto de fenômenos, uns universais e outros acidentais, que acarreta
na expulsão dos indivíduos para fora do circuito produtivo em consequ-
ência da industrialização, da velhice, da incapacidade produtiva, além de
problemas como os acidentes, as enfermidades, as anomalias diversas,
que afetam os seres humanos. Em todo o caso, é em relação a esses fenô-
menos que a biopolítica vai introduzir não apenas instituições de assis-
tência (que já existiam há muito tempo), mas mecanismos muito mais
sutis, economicamente mais racionais do que a grande assistência que
era vinculada à Igreja: mecanismos de seguros, de poupança individual e
coletiva, de seguridade, etc. (FOUCAULT, 1999, p. 291).
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Os processos relacionados à espécie humana e seu meio de existên-
cia (problemas de geografia, de clima, de hidrografia) causam uma série
de efeitos na vida da população em geral. Entre eles estão os problemas
decorrentes das epidemias ligadas à existência de pântanos, da vida na
cidade e das relações com o ambiente e os efeitos que causa na popula-
ção. É desse conjunto de fenômenos (de natalidade, de morbidade, de
incapacidades biológicas, dos efeitos oriundos do meio) que a biopolítica
vai extrair seu saber e fixar o campo de intervenção de seu poder.
A instauração da biopolítica, esse poder que se lança sobre a vida
do homem, do homem-espécie, faz com que uma série de fenômenos
importantes sejam levados em conta. Em primeiro lugar, o aparecimento
de um elemento novo e sobre o qual a biopolítica vai exercer o seu poder,
a população. Não mais o indivíduo-corpo, como era característico do
poder disciplinar, mas a população. Segundo Foucault, um “[...] corpo
múltiplo, corpo com inúmeras cabeças, se não infinito pelo menos ne-
cessariamente numerável” (1999, p. 292). A biopolítica trata da popula-
ção. A população surge como problema político, como problema a um só
tempo científico e político, como problema biológico e como problema
de poder.
O segundo aspecto é a natureza dos fenômenos que começam a ser
levados em conta. São fenômenos coletivos que só aparecem com efeitos
econômicos e políticos e que só se tornam pertinentes no nível da massa.
São fenômenos que se desenvolvem essencialmente na duração da vida,
que devem ser considerados num certo limite de tempo relativamente
longo (FOUCAULT, 1999, p. 293). São fenômenos que aparecem em sé-
rie e que, em relação aos indivíduos, são fenômenos aleatórios que ocor-
rem numa população em toda a sua duração.
O terceiro aspecto dessa nova tecnologia de poder, a biopolítica,
é todo um mecanismo de previsões, de estimativas estatísticas, de me-
dições globais. A biopolítica se ocupa com uma série de intervenções
em relação a esses fenômenos no que eles têm de globais: vai ser preciso
baixar a morbidade, vai ser preciso prolongar a vida, vai ser preciso es-
timular a natalidade (FOUCAULT, 1999, p. 293). Trata-se de estabelecer
mecanismos reguladores para fixar equilíbrio, manter uma média, esta-
belecer uma espécie de homeóstase, assegurar compensações em relação
a esses fenômenos globais que perpassam a população. A biopolítica in-
tervém na vida da população, nos processos biológicos do homem-espé-

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cie, estabelecendo sobre eles uma espécie de regulamentação. Em oposi-
ção ao sombrio e terrível poder de soberania, que consistia em poder de
fazer morrer e em poder de deixar viver, surge uma nova tecnologia de
poder: poder biológico e científico que age sobre a população enquanto
tal, sobre o homem enquanto ser vivo, sobre o homem-espécie. A biopo-
lítica é um poder de regulamentação para “fazer viver” e “deixar morrer”.
Com efeito, o poder torna-se cada vez menos o direito de fazer mor-
rer e cada vez mais o direito de intervir para fazer viver, na maneira de
viver e no “como” da vida, já que intervém, sobretudo para aumentar a
vida, para controlar seus acidentes, suas eventualidades, suas deficiên-
cias (FOUCAULT, 1999, p. 295). A morte é o limite, a extremidade do
poder.. O poder só terá domínio sobre a morte de modo geral, em sen-
tido estatístico, global. Aquilo sobre o qual o poder terá controle não é a
morte, é a mortalidade. Enquanto que no poder de soberania a morte era
a forma mais manifesta do poder absoluto do soberano, agora, ao con-
trário, a morte é o momento em que o indivíduo escapa do alcance de
qualquer poder e volta para si, ensimesma-se em sua parte mais privada.
Nesse sentido, o poder já não mais conhece a morte; a deixa de lado.
Para resumir, o poder que tinha como elemento organizador a so-
berania teria se tornado inoperante para controlar o corpo econômico e
político de uma sociedade em vias, a um só tempo, de explosão demo-
gráfica e de industrialização. Foucault afirma que o poder de soberania
se tornava falho na medida em que dele escapavam muitas coisas, tanto
no detalhe quanto na massa. Foi justamente para recuperar esse detalhe
que, na segunda metade do século XVII e no início do século XVIII, foi
instalada a instituição (escola, quartéis, fábricas, oficinas, hospitais, etc.)
pela tecnologia disciplinar (ou anátomo-política) sobre o corpo indivi-
dual para torná-lo dócil e útil. Por outro lado, na segunda metade do
século XVIII e no século XIX, aparece uma nova tecnologia de controle
global, populacional, do homem-espécie, uma biopolítica da espécie hu-
mana e de todos os seus processos biológicos. Diz Foucault:

Temos, pois, duas séries: a série corpo-organismo-disciplina-ins-


tituições; e a série população-processos biológicos-mecanismos
regulamentadores-Estado. Um conjunto orgânico institucional: a
organo-disciplina da instituição, se vocês quiserem, e, de outro
lado, um conjunto biológico e estatal: a bio-regulamentação pelo
Estado (1999, p. 298).

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Foucault afirma que uma das consequências do desenvolvimento
do biopoder foi a grande importância assumida pela norma em relação
ao sistema jurídico da lei. A lei não pode deixar de ser armada e, por esta
via, sua arma por excelência é a morte. Aos que a violam, ela responde,
pelo menos como último recurso, com a ameaça da morte. Um poder
como este, que tem como tarefa principal a garantia da vida, terá a ne-
cessidade de mecanismos contínuos, reguladores e corretivos. Isso não
quer dizer que a lei ou as instituições judiciárias tendam a desaparecer,
mas que, por um lado, a lei cada vez mais tende a funcionar como norma
e que, por outro, as instituições judiciárias tendem a se integrar em um
conjunto de aparelhos (médicos, administrativos, etc.), cujas funções são
essencialmente reguladoras. “Uma sociedade normalizadora é o efeito
histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida” (FOUCAULT,
1988, p. 135).
Foi a norma que conseguiu estabelecer controle entre o elemento
disciplinar do corpo individual e o elemento regulamentador de uma
multiplicidade biológica. A norma é aquilo que se pode aplicar tanto a
um corpo que se deseja disciplinar quanto a uma população que se dese-
ja regulamentar. A sociedade de normalização é uma sociedade onde se
cruzam a norma disciplinar e a norma da regulamentação. Para Foucault,
a sociedade de normalização conseguiu cobrir toda essa superfície que
vai do orgânico ao biológico, do corpo à população, mediante a instaura-
ção dessas duas tecnologias, disciplinar e regulamentadora (1999, p. 302).

2.2. O racismo de estado

Foucault questiona essa tecnologia de poder que se lança sobre a


vida, que tem por objeto e objetivo a vida. Pergunta-se sobre o exercício
do direito de morte (que, por outro lado, é a “possibilidade” para que os
outros vivam) em um sistema político centrado em um biopoder dis-
ciplinar ou regulamentador. Como um poder como a biopolítica pode
matar se, na verdade, trata-se de um poder que tem por objetivo o au-
mento da vida, o prolongamento de sua duração, a multiplicação de suas
possibilidades, ou ainda a possibilidade de desviar seus acidentes ou de
compensar suas deficiências? Como um poder como este pode solicitar
a morte, não apenas dos inimigos externos, mas dos próprios cidadãos

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internos, se se trata de um poder que tem por objetivo melhorar a vida?
Como exercer o direito de morte sobre os indivíduos numa sociedade
perpassada pelo biopoder? (FOUCAULT, 1999, p. 303-304).
Foucault detecta o aparecimento de um elemento novo, o racismo.
A emergência do biopoder inseriu o racismo nos mecanismos de con-
trole do Estado. Foi nesse momento que o racismo se inseriu como me-
canismo fundamental de poder nos Estados modernos, o que faz com
que quase não haja funcionamento do Estado moderno que não passe
pelo racismo.
O que é o racismo? Em primeiro lugar, por racismo se deve enten-
der um meio de introduzir NO domínio sobre a vida um corte entre “o
que deve viver e o que deve morrer”. O aparecimento do racismo, a dis-
tinção das raças, a hierarquia de uma raça sobre as outras, a qualificação
de uma raça como boa e das outras como ruins ou inferiores, tudo isso
aparece como “[...] uma maneira de defasar, no interior de uma popula-
ção, uns grupos em relação aos outros” (FOUCAULT, 1999, p. 304), uma
espécie de censura de tipo biológico realizada no interior de uma popu-
lação. Para Foucault, esse processo permitirá tratar da população como
uma mistura de raças ou, dito de outra forma, permitirá subdividir uma
população em sub-grupos, raças. A função do racismo é, por excelência,
“[...] fragmentar, fazer censuras no interior desse contínuo biológico a
que se dirige o biopoder” (FOUCAULT, 1999, p. 305).
Em segundo lugar, o racismo tem um papel positivo no sentido de
que não privilegia apenas um indivíduo, mas uma espécie inteira. Por isso,
“[...] quanto mais você matar, mais você fará morrer”, ou “quanto mais você
deixar morrer, mais, por isso mesmo, você viverá” (FOUCAULT, 1999, p.
305). Todavia, a relação entre “se você quer viver, é preciso que você faça
morrer, é preciso que você possa matar” não foi inventada nem pelo ra-
cismo nem pelo Estado moderno. Deriva de uma relação militar e guer-
reira: “para viver, é preciso que você massacre seus inimigos”. O racismo
vai fazer funcionar esse princípio de vida e de morte não mais através de
uma relação de tipo militar ou guerreira, mas de uma forma totalmente
nova, de tipo biológico. No dizer de Foucault:

Quanto mais as espécies inferiores tenderem a desaparecer, quan-


to mais os indivíduos anormais forem eliminados, menos dege-
nerados haverá em relação à espécie, mais eu – não enquanto
indivíduo, mas enquanto espécie – viverei, mais forte serei, mais
vigoroso serei, mais poderei proliferar (1999, p. 305).

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O extermínio do outro, da raça ruim, da raça inferior, do indivíduo
degenerado ou anormal, não é simplesmente a garantia da vida do indi-
víduo melhor, mas também aquilo que vai deixar a vida em geral mais
sadia e mais pura. O princípio “quanto mais você matar, mais você fará
morrer, mais você viverá” está diretamente vinculado não à vitória so-
bre os adversários políticos, mas aos “perigos, externos e internos, em
relação à população e para a população”. O “tirar a vida” está diretamente
vinculado “[...] à eliminação do perigo biológico e ao fortalecimento, di-
retamente ligado a essa eliminação, da própria espécie ou da raça”. Nessa
perspectiva, o racismo se caracteriza como a única possibilidade aceitá-
vel de tirar a vida em uma sociedade de normalização. Em resumo, “[...]
a função assassina do Estado só pode ser assegurada desde que o Estado
funcione no modo do biopoder, pelo racismo”. O racismo é a condição
sine qua non “para que se possa exercer o direito de matar” (FOUCAULT,
1999, p. 306, em todas as citações do parágrafo).

Considerações finais

Para Foucault, a anátomo-política e a biopolítica foram dois instru-


mentos de poder postos em prática pela sociedade moderna em vias de
explosão demográfica e também pelo crescimento do aparelho de pro-
dução capitalista.
A anátomo-política é um poder que se exerce sobre o corpo dos in-
divíduos com o objetivo principal de criar corpos submissos e dóceis. Ela
está intimamente ligada ao processo de desenvolvimento da economia
capitalista, pois, graças a ela, foi possível a extração das forças e a submis-
são total dos corpos. Graças ao poder disciplinar, a sociedade capitalista
conseguiu colocar em funcionamento, através de regimes políticos, de
aparelhos ou de instituições muito diversas, essa máquina de produção.
A biopolítica, por sua vez, é um poder que se exerce ao nível do
homem-espécie, da população. Ela trata dos fatores relacionados aos nas-
1cimentos e aos óbitos, à taxa de reprodução, à fecundidade de uma po-
pulação, aos fatores relacionados ao clima, etc, enfim, aos processos rela-
cionados à saúde da população. A biopolítica inverte a lógica subjacente
ao poder de soberania: do “fazer” morrer e o “deixar” morrer para o faz

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viver e deixa morrer. Em suma, trata-se de um poder que gere a vida, que
está preocupado com todos os fatores que afetam a vida da espécie, com
o objetivo de administrar e de controlar a sociabilidade a fim de extrair
as forças necessárias ao desenvolvimento econômico, mesmo retirando
o poder político dos indivíduos.

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