Você está na página 1de 15

A relação saber-poder na sociedade disciplinar:

Uma contribuição de Michel Foucault

Gabriela Kossmani
Geovanna Fernandesii
Marcia Braiaiii
Sheila Souzaiv

Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar as relações de poder e saber em
Foucault, salientar que a partir do embate dessas relações produz conhecimento.
Entendendo a diferença entre o poder em suas malhas para Foucault e uma
ideologia de poder para Marx. O desenvolvimento dos dispositivos de poder, para a
subjetivação do sujeito, o processo adotado em instituições sociais para o controle,
disciplinando cada ser humano, ao mesmo tempo em que criam uma ilusão de
liberdade para as pessoas, mesmo que sejam controladas, inclusive em sua
privacidade.
Palavras-chave: Poder. Saber. Ideologia. Disciplina.

Resumen

El presente artículo tiene como objetivo presentar las relaciones de poder y saber
em Foucault, mostrar que el contraste de estas relaciones produce conocimiento.
Una comprensión entre el poder en sus mallas para Foucaul e una ideologia de
poder para Marx. El desarollo de los dispositivos de poder, para la subjetividad del
sujeto, el proceso adoptado en las instituciones sociales para el control,
disciplinando a cada ser humano, que al mismo tiempo crea una ilusión de libertad
para las personas y a la par son controladas, incluso en su espacio de privacidad.

Palabras-clave: Poder. Saber. Ideologia. Disciplina.


Introdução

No primeiro tópico deste artigo pretende-se fazer uma breve abordagem de


caráter introdutório sobre um tema amplo e complexo, abordando o filósofo e
pensador francês Michel Foucault, sobre como o poder exerce a disciplina sobre o
sujeito e, ao mesmo tempo produz uma forma de conhecimento. Ou seja, tendem a
ampliar infinitamente, surgindo novos elementos que tendem a se integrar:
Produção, afetos, subjetividades e comportamentos.
O poder está diluído em várias estruturas e agrupamentos sociais,
que formam um estado e toda estrutura de uma sociedade, mostrando o quão ele é
mais sentido do que visto. Sendo um controle constante em vários níveis, mas, nem
sempre percebemos este controle. os comportamentos sociais, as lutas, as relações
que irão dar origem ao conhecimento. Ou seja, o poder em si só não existe, mas as
relações de poder expostas em todos os âmbitos e esferas é que originam o
conhecimento. A construção do sujeito e suas verdades, o conjunto de enunciados que
vão regularizar o que pode ou não ser dito, sendo a verdade influenciada pelo poder,
assim sendo o poder um produtor de saber e gerador de um molde da verdade.
Em seguida vamos acometer o que acreditava Foucault sobre a definição de
poder, ele acreditava que o poder não é um recurso que algumas pessoas e ou
instituições possuem para controlar outras pessoas, mas sim uma força que atravessa
todas as relações sociais, senso exercida e resistiva. E expondo uma diferente
perspectiva, como a do Filosofo Karl Marx, que acredita que o poder reside naquele que
possui os meios materiais de produção de capital. Por meio da posso dos meios de
produção, o proprietário submete seus empregados ao seu poder.
E no segundo tópico, vamos exibir o que compreendia Foucault sobre
disciplina, vamos entender como uma sociedade pode ser embasada para introduzir no
corpo das pessoas e no intelecto das mesmas a disciplina. Sendo uma obediência, uma
espécie de educação para um determinado fim e, este fim está muito atrelado ao
capitalismo e toda cultura criada. A ideia dessa sociedade disciplinar é criar corpos
doceis e produtivos, que trabalhem muito. Para isso, foi criado os dispositivos de
vigilância.
Relação entre saber-poder

A relação entre saber e poder ao indivíduo moderno de Michel Foucault,


não existindo a provalência de um sobre o outro, mas amarração, duplo nascimento e
existência conjunta. Neste sentido, ambos convalidam seus objetivos, instituidos, por sua
vez, como pontas de apoio, sob o horizonte dos discursos de verdade, os escorrando em
Deus, na natureza ou nas ciências. (FOUCAULT, 2017, p.31)
o poder é um instrumento de análise capaz de explicar a produção de saber
e de subjetividade. A concepção de poder em Foucault não é edificada somente no
aspecto repressivo, mas, essencialmente, na sua dimensão produtiva e/ou de
adestramento. É melhor vigiar do que punir. É por isso que ele polemiza com as
noções que simplificam o poder, analisando-o somente no aspecto negativo,
consequentemente, em torno da força e da repressão:

Ora, me parece que a noção de repressão é totalmente inadequada para


dar conta do que existe justamente de produtor no poder. Quando se define
os efeitos do poder pela repressão; tem-se uma concepção puramente
jurídica desse mesmo poder; identifica-se o poder a uma lei que diz não.
Fundamental seria a força e a repressão. Ora, creio ser esta uma noção
negativa, estreita e esquelética do poder, que curiosamente todo mundo
aceitou. Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a
não ser dizer não, você acredita que seria obedecido? O que faz com que o
poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele permeia,
produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.
(FOUCAULT: 2017, pag.7 e 8).

Trata-se, de captar o poder nas formas cada vez menos jurídicas, que
possam ser expressas fora do âmbito das normalizações, ultrapassando os aparatos
e os esquemas repressivos. A rede tentacular que ocupa a esfera do mundo vivido é
o espaço que leva à tona as análises de Foucault, retirando o poder do seu centro,
entendendo-o como realmente é, a forma como é exercido, seu modo de atuação e
a maneira de transformar os indivíduos e produzir conhecimento.
Para Foucault o discurso tem uma ordem própria, uma organização
imanente, um sistema de regras através das quais seus elementos constitutivos se
relacionam; “A ordem é ao mesmo tempo aquilo que se oferece nas coisas como
sua lei interior, a rede secreta segundo a qual elas, de uma certa forma, se olham
entre si e que só existe através do crivo de um olhar de atenção, de uma linguagem”
(FOUCAULT, 2017, p.16). Trata-se tanto da ordem interna ao discurso, quanto da
ordem externada pelo discurso: O discurso é uma palavra da ordem e de ordem.
O objetivo do filosofo com este eixo, é revelar que o saber tanto efetiva uma
ordem no campo social, quanto é produzida por essa mesma necessidade de
organizar, disciplinar e controlar aquilo que pode ser dito e visto dentro de uma
sociedade. Procedimento relacionado a uma série de enunciados que permitem, por
exemplo, que determinada sociedade possa selecionar, induzir, derivar, ampliar,
limitar ou até mesmo excluir “bons discursos” dos maus.
O conhecimento, como instância discursiva produz se na diástole entre dito
e não dito entre a interdição e a licença da palavra. Tal dinâmica revela como o
saber é indissociável de uma luta política constante que há uma vontade um desejo
que pulsa de uma muda na história do saber. O saber não é apenas dominação,
depois a palavra poder não traz em si uma conotação exclusivamente negativa.
A linguagem torna-se algo capaz de dizer a verdade e não de fazê-la, ou
produzir. Ela perde então seu caráter persuasivo e sua dimensão retórica essencial
para se tornar neutra e capaz de espelhar plenamente o mundo. Mas questiona-se
Foucault, o que se diz nesta transformação entre a função da verdade se não uma
vontade de saber. O filósofo sustenta a possibilidade de diferentes abordagens para
situar o sujeito em sua relação com a verdade. (WEIZENMANN: 2013, p.33).

É preciso se livrar do sujeito constituinte, livrar-se do próprio sujeito, isto é,


chegar a uma análise que possa dar conta da constituição do sujeito na
trama histórica. [..] uma forma histórica de constituição de saberes, dos
discursos, dos domínios de objeto etc., sem ter que se referir a um sujeito,
seja ele transcendente com relação ao campo de acontecimentos
(FOUCAULT: 2003, p.7)

Foucault diz que a verdade não existe fora do poder ou sem poder. A
verdade é deste mundo; ela é produzida nele, graças a múltiplas coerções e nele
produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de
verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e
faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instancias que permitem
distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e
outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da
verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como
verdadeiro.
O estudo dessa relação entre saber e poder é que estrutura
esquematicamente toda a análise de Foucault. Seus escritos são baseados
principalmente nesses dois processos que se completam: uma arqueologia do saber
e uma genealogia do poder. Seu primeiro procedimento e denominado arqueológico,
porque procura as camadas fundamentais, configuradoras do saber ocidental
contemporâneo. Essas camadas não são, contudo, uniformes e contínuas; segundo
Foucault, a análise dessas regularidades discursivas presentes nos saberes
formadores de uma determinada época traz à tona uma descontinuidade, que
apresentam os discursos relacionando-se de forma dinâmica.
Ao afirmar a relação poder e saber, Foucault cria uma definição nova que
garante que o poder do discurso pode funcionar negativamente, distorcendo a
verdade e garantindo a dominação do poder opressor. Essa forma de “ameaça” se
dá através do saber. Mas, qual o perigo que a liberdade do discurso pode trazer? É
nessa dúvida que a teoria do filósofo aposta e vai se desenvolver. Para começarmos
uma compreensão faz-se necessário um olhar sobre a questão do saber e o
conceito de vontade de verdade.
Diferente do que é o poder para a corrente marxista, que tem uma ideologia
que o poder está concentrado em uma instituição especifica, polarizando as forças
presentes na sociedade, entre aqueles que são detentores dos meios de produção e
aqueles que tem a força de trabalho, colocando uma polaridade do poder nas mãos
dos poderosos, da burguesia em contraste com aqueles que não tem o poder.

Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os


pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder
material dominante numa determinada sociedade é também o poder
espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção material
dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo que o
pensamento daqueles aos quais são negados os meios de produção
intelectual está
submetido também à classe dominante. (MARX; ENGELS, 2007, p. 48)

Foucault vai entender que neste sentido não existe uma dicotomia, o poder
está disseminado na sociedade de uma forma ampla em todas as camadas sociais.
A partir daí ele vai pensar. Então ele vai observar onde esta o poder nas micro
relações, ele não acredita que o poder está concentrado em uma instituição, mas,
que está em todas elas, inclusive em todas as relações humanas. Querendo
compreender como estas relações de força de poderes se estabelecem algumas
verdades, que são tidas como verdades, universais e Foucault vai questionar isso.

A noção de ideologia me parece dificilmente utilizável [..] ela está sempre


em oposição virtual a alguma coisa que seria verdade. Ora, creio que o
problema não é de se fazer partilha entre o que num discurso releva da
cientificidade e da verdade e o que relevaria de outra coisa; mas de ver
historicamente como se produzem efeitos de verdade no interior de
discursos que não são em si verdadeiros e nem falsos[..] enfim, a ideologia
está em posição secundária com relação a alguma coisa que deve funcionar
para ela como infraestrutura ou determinação econômica, material [...] o que
faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele
não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia,
produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso (FOUCAULT,
2017, p.44 e 45)

Existem diversas verdades, que vem de diversas forças, diversos saberes


que são constituídos. E na verdade o foco de Foucault não era como se deram estes
conhecimentos, mas, sim o sujeito; porque ele acredita que uma subjetividade é o
resultado dessas relações de forças, que institui saberes e estes saberes que são
tidos como discursos, modos discursivos, são modos de subjetivação. Ele acredita
que os sujeitos são resultado desses embates das relações de poder e, o
estabelecimento de diversos saberes. Então quando Foucault diz que de fato o
interesse é no sujeito, é ora se pensar, como a subjetividade ao longo do tempo, vai
se metamorfoseando por conta dessas relações que uma hora se embricam e outra
se separam, uma sobrepunha a outra ou as vezes juntas. Então não vemos algo que
já estabelecido como verdade universal, e ele vem nos mostrar que é uma relação é
um embate que vai do resultado a saberes que subjetivam os sujeitos e, os
transformam em quem são.
Sim, pouco sobra em comum entre ideologia e discurso. Porém, uma
importante convergência entre esses conceitos nas obras de Marx e
Foucault merece ser abordada. Trata-se da oposição à filosofia do sujeito,
ou seja, da confrontação com o indivíduo tomado como ser isolado e
centrado em sua própria consciência como fundamento do devir histórico.
Realmente, com os conceitos de práxis e ideologia, Marx desloca o sujeito
de seu auto centramento e o insere em amplas categorias socioeconômicas.
Foucault, por sua vez, ao analisar os procedimentos de produção de
verdade no discurso, debruça-se sobre processos históricos de objetivação
do sujeito que pouco têm a ver com a razão libertadora do Iluminismo.
Nesse ponto solitário, as obras de Marx e Foucault tocam-se cúmplices, por
um instante apenas, para logo se afastarem novamente. (MACHADO, 2010,
p.71)

FOUCAULT E O PANOPTISMO
Para Foucault, o poder disciplinar é um poder descentralizado, estratégico
e que tem como elementos o espaço e o tempo. A hipótese correlacionada às
estratégicas de fuga a esse poder consiste nas práticas do cuidado de si.

Para o cientista em questão, o exercício do poder não ocorre de modo


independente dos processos de resistência. Então como é que o corpo pode resistir
às tecnologias de poder de ordem disciplinar? É o que proporemos a explicar neste
trabalho.

O controle disciplinar não se trata somente de cuidar do corpo como se


fosse uma unidade, mas de trabalhar nos seus mínimos detalhes tanto dos gestos
como das atitudes. O controle está presente como funcionamento do corpo, a
eficácia dos movimentos e finalmente com os seus exercícios. Para Foucault, o que
define a eficiência dos métodos de integração e para que tenham êxito os poderes
disciplinares são necessários que estejam presentes corpo, tempo e espaço.

Para que o projeto disciplinar tenha êxito é necessário que o espaço seja
fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estejam
inseridos em um lugar fixo, e seus menores movimentos serão controlados e todos
os acontecimentos sejam registrados, ou seja, os indivíduos estão inseridos em um
lugar fixo e que seus menores movimentos são controlados e todos os
acontecimentos sejam registrados. Com todo esse controle, cada indivíduo deve
estar em constante vigilância e localizado, examinado e distribuído. A eficácia da
disciplina só se dá na medida em que elas, propulsionam as relações de poder na
própria trama da multiplicidade das relações, sendo estas, as mais discretas
possíveis, dando-se por um poder anônimo e hierárquico e não por um poder que
vem de cima para baixo.

Assim, as disciplinas se consolidam, porque incorporam a preocupação com


o detalhe na discrição das características mais tênues dos seres humanos. A nova
racionalidade trazida nas disciplinas de Foucault tem a intenção de articular com
minúcias, as formas de treinamento do ser humano.

A ética do cuidado de si auxilia no processo do desatar de nós que


prendem o sujeito a ele mesmo e consequentemente ao outro como forma de
sujeição, em outras palavras, a ética do cuidado de si, suas técnicas e práticas
objetivam abolir a escravidão imposta ao sujeito que torna imperativa a atitude crítica
e reflexiva do sujeito sobre si mesmo e ocupar-se de si mesmo, preocupando-se
consigo.

Agora, classificaremos o que Foucault entendia como espaço e o que ele


levava em conta quanto este assunto, pois é dele que define de certo modo o que é
disciplina.

PANOTISMO E O ESPAÇO VIGIADO (BENTHAM)

“O panóptico, deve ser compreendido como um modelo generalizável de


funcionamento; uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana
dos homens” (FOUCAULT, 2011, p.194).

O panoptismo, deve servir como categoria de análise, como ferramenta, de


compreensão de uma forma específica de “economia política”, de tecnologia
economia do controle e da punição.

O objetivo derradeiro do modelo panóptico não é a imposição de um castigo


como fim em si, mas a promoção de “um grande experimento: a transformação do
homem”

(PAVARINI, 2007, p. 214).

O homem vigiado, docilizado, submisso é o que se pretende obter com o sistema


de vigilância permanente e difuso que o panóptico propõe. As disciplinas próprias
deste sistema de controle “funcionam como técnicas que fabricam indivíduos úteis”
(FOUCAULT, 2011, p.199.)

O poder, através do sistema panóptico, para atingir o seu objetivo, não depende
da vigilância concreta, mas da certeza de que ela está presente sem intermitências.
“É, ao mesmo tempo excessivo e muito pouco que o prisioneiro seja observado sem
cessar por um vigia: muito pouco, pois o essencial é que ele se saiba vigiado;
excessivo, porque ele não tem a necessidade de sê-lo efetivamente” (FOUCAULT,
2011, p.191)

Foucault, faz uma analogia da sociedade com o sistema panóptico das prisões
em relação a punição, vigilância e correção. Esse sistema de “tratamento” dos
presos podemos encontras nas instituições como, escolas e hospitais. No século
XIX, se sabe que a arquitetura panóptica das prisões era usada nas escolas,
manicômio, orfanato, hospitais e em outras instituições, como forma de disciplinar o
corpo.

Até a chegada dos anos de 1980, houve várias teorias e críticas sobre as
prisões, no entanto, nesta época, com as influências de Foucault e Goffman os
estudos sobre as prisões tem outro contexto diferente da corrente revisionista que
veio antes deles, esta corrente, via no encarceramento um processo humanitário de
substituição dos castigos físicos, que Foucault denominou de “Escola da marcha
para o progresso”.

Antes de Foucault, havia as correntes revisionistas que buscavam inserir


as prisões em um contexto social amplo, que incluísse os asilos e os hospícios,
havia também uma terceira corrente, esta apontava a “luta de classes”, gerada por
uma criminologia de inspiração neomarxista, que se concentrou “no conflito social e
na importância dos interesses econômicos nos procedimentos da justiça.

DISCIPLINA

O filosofo e teórico francês Michel Foucault, em sua obra vigiar e punir (1997),
vem descrevendo sua análise sobre a disciplina que molda o indivíduo e a relação
de poder da sociedade moderna. Antes, reinava uma relação soberana de poder,
onde tais sociedades pré-capitalistas utilizavam do poder centralizado, o estado o
detinha, era estes órgãos que decidiam sobre a vida e sobre a morte dos súditos.
Já, pós o século XVIII, desenvolvem poderes que circulam entre as malhas sociais,
uma relação de poder disciplinar, um poder descentralizado, estratégico e que tem
como elementos o espaço e o tempo. Aqui, a o indivíduo será arquitetado desde seu
nascimento a conviver em tal sociedade.

A disciplina acusada por Foucault, desenvolve então toda uma


esquematização da sociedade capitalista para o melhoramento do homem como ser
produtivo. Introduz ao intelecto uma obediência, criando seres dóceis e assim
produzem padrões de formas de agir, pensar, trabalhar. Esta sociedade disciplinar
constrói formas de modelar o sujeito que vive em sociedade para manter a mesma
ordenada. Com dispositivos disciplinares, assim chamada por Foucault, podemos
perceber claramente como instituições como escolas, hospitais e quartéis, por
exemplo, controlam e corrigem ações dos usuários, com técnicas de regulação de
horários para tais atividades, controle de ocupação de espaços, cumprimento de
regras estabelecidas pelo local, isso faz parte da estrutura de poder da sociedade
disciplinar e das instituições, como também das camadas sociais.

(...)o soldado tornou-se algo que se fabrica; de uma massa informe,


de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos
poucos as posturas; lentamente uma coação calculada percorre cada parte
do corpo, se assenhoreia dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente
disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos; (...)
(FOUCAULT, 1997, p.162)

A época clássica via o corpo social uma necessidade de padronização, pois


um corpo submisso com a devida adestração minuciosa e detalhada formaria
pessoas úteis. E de que maneira? Bem, para cada unidade seria lhe imposto
obrigações, limitações e proibições assim como também trabalhar na distribuição
dos corpos em grupos, a ideia foucaultiana falava que individualizar cada corpo era
mais vantajoso para exercer sobre ele o poder, esse processo é arquitetado para
não haver espaços inúteis, assim o corpo trabalharia cada vez mais. Seguindo a
ideia, o tempo deve ser composto por atividades sem interrupções, controlando o
corpo do indivíduo fracionando suas ações em repetições, e isso sob uma vigilância
hierárquica. A disciplina tende a controlar os indivíduos pelo jogo de olhares, isto é,
tecnologias que permitem vigiar induzindo os efeitos de poder sendo aplicados sobre
estes. Como o autor escreve: “A disciplina é uma anatomia política do detalhe.”
(1997, p. 165). O controle disciplinar não se trata somente de cuidar do corpo como
se fosse uma unidade, mas de trabalhar nos seus mínimos detalhes tanto dos
gestos como das atitudes. O controle está presente como funcionamento do corpo, a
eficácia dos movimentos e finalmente com os seus exercícios. Para Foucault, o que
define a eficiência dos métodos de integração e para que tenham êxito os poderes
disciplinares, é necessário que estejam presentes corpo, tempo e espaço.

A disciplina faz “funcionar” um poder relacional que se autossustenta


por seus próprios mecanismos e substitui o brilho das manifestações
pelo jogo ininterrupto dos olhares calculados. Graças às técnicas de
vigilância, a física do poder, o domínio sobre o corpo se efetua
segundo as leis da ótica e da mecânica, segundo um jogo de
espaços, de linhas, de telas, de feixes, de graus e sem recursos, pelo
menos em princípio, ao excesso, a força, a violência, poder que é em
aparência ainda menos “corporal” por ser mais sabiamente “físico”
(FOUCAULT, 1997, P. 170-171).

A disciplina é uma arte de compor forças para a eficiência, a singularização


do corpo foi arquitetada para isto.

O corpo singular se torna um elemento, que se pode colocar, mover,


articular com outros. Sua coragem ou força não são mais as variáveis
principais que o definem; mas o lugar que ele ocupa o intervalo que
cobre a regularidade, a boa ordem segundo as quais opera seu
deslocamento [...] o corpo se constitui como peça de uma máquina
multisseguimentar. (FOUCAULT, 1997, p. 158)

Percebemos, também, que esta forma de disciplinar que está inserida na


vivência humana, domina os corpos fazendo com que cumpram normas a troca de
garantias que as instituições onde estão inseridos proporcionam. Estas têm
maneiras exatas de recompensar ou punir qualquer corpo que venha fugir da ordem.
Para isto, existem técnicas de coordenação, direcionamento, maneiras de
manipulação do comportamento, normalizando seus horários, movimentos etc.
Seguindo nesta analogia, todos os dispositivos disciplinares funcionam como
pequenos mecanismos penais.

Para que o projeto disciplinar tenha êxito é necessário que o espaço seja
fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estejam
inseridos em um lugar fixo, e seus menores movimentos serão controlados e todos
os acontecimentos sejam registrados, ou seja, os indivíduos estão inseridos em um
lugar fixo e que seus menores movimentos são controlados e todos os
acontecimentos sejam registrados. Com todo esse controle, cada indivíduo deve
estar em constante vigilância e localizado, examinado e distribuído. A eficácia da
disciplina só se dá na medida em que elas, propulsionam as relações de poder na
própria trama da multiplicidade das relações, sendo estas, as mais discretas
possíveis, dando-se por um poder anônimo e hierárquico e não por um poder que
vem de cima para baixo.

Assim, as disciplinas se consolidam, porque incorporam a preocupação


com o detalhe na discrição das características mais tênues dos seres humanos. A
nova racionalidade trazida nas disciplinas de Foucault tem a intenção de articular
com minúcias, as formas de treinamento do ser humano.

Referências
ALMEIDA SILVEIRA, Fernando De Almeida Silveira. Michel Foucault y la
construcción discursiva del cuerpo de lo sujeto moderno: y su relación con la
psicologia. Nome do Site. 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pe/a/Djgmt3HnrHmq58wZTzXMyDC/#. Acesso em: 17 maio
2023.
BODART, C. Poder para Foucault: Teoria sociológica. Sociologia
contemporânea. Disponível em: <https://cafecomsociologia.com/o-poder-em-
foucault-breves-apontamentos/>.
FOUCAULT, Michel . A ordem do discurso. Tradução: Laura Fraga de
Almeida Sampaio. Edição Loyola. São Paulo, 1996.
._________, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução
Raquel Ramalhate. Prtopólis. Rio de Janeiro: Vozes 1997
._________, Michel. Em defesa da sociedade. Editora Martins Fontes. São
Paulo 2005
._________, Michel . MICROFÍSICA DO PODER. 6. ed. Rio de Janeiro/São
Paulo: Paz & Terra, 2017. v. 6. ISBN: 978-85-7753-296-4
SILVEIRA, F. DE A.; FURLAN, R. Corpo e Alma em Foucault: Postulados
para uma Metodologia da Psicologia. Psicologia USP, v. 14, n. 3, p. 171–194, 2003.
SOBRINHO, Antônio Santana. Elementos da Teoria de Poder em Michel
Foucault. 1. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Quipá, 2021. v. 1.
SILVEIRA, F. DE A.; FURLAN, R. Corpo e Alma em Foucault: Postulados
para uma Metodologia da Psicologia. Psicologia USP, v. 14, n. 3, p. 171–194, 2003.
WEIZENMANN, Mateus. Foucault: Sujeito, Poder e Saber. 1. ed. Pelotas:
Dissertatio Studia, 2013. 124-133 p. v. 1. ISBN 978-85-67332-02-4.
ALMEIDA SILVEIRA, Fernando De Almeida Silveira. Michel Foucault y la
construcción discursiva del cuerpo de lo sujeto moderno: y su relación con la
psicologia. Nome do Site. 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pe/a/Djgmt3HnrHmq58wZTzXMyDC/#. Acesso em: 17 maio
2023.
i

ii

iii

iv

Você também pode gostar