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Antes de

continuar: alguns
conceitos
essenciais

Poder, discurso,
saber, episteme,
dispositivo,
subjetivação
• O uso de vocabulários, dicionários,
Olhando a léxicos no estudo da Filosofia
filosofia de • Quem faz filosofia cria conceitos
• Identificar e compreender os
Foucault por conceitos que compõem uma
dentro filosofia permite compreender sua
economia interna
poder

• Foucault nunca trata do poder como uma entidade coerente, unitária e estável, mas
de "relações de poder" que supõem condições históricas de emergência complexas e
que implicam efeitos múltiplos, compreendidos fora do que a análise filosófica
identifica tradicionalmente como o campo do poder.
• Sua análise nos leva a duas ponderações:
• A) se é verdade que não há poder que não seja exercido por uns sobre os outros - "os
uns" e "os outros" não estando nunca fixados num papel, mas sucessiva, e até
simultaneamente, inseridos em cada um dos polos da relação -, então, uma
genealogia do poder é indissociável de uma história da subjetividade;
• B) se o poder não existe senão em ato, então é à questão do "como" que ele retorna
para analisar suas modalidades de exercício, isto é, tanto à emergência histórica de
seus modos de aplicação quanto aos instrumentos que ele se dá, os campos onde ele
intervém, a rede que ele desenha e os efeitos que ele implica numa época dada.
• Em nenhum caso, trata-se, por consequência, de descrever um princípio de poder
primeiro e fundamental, mas um agenciamento no qual se cruzam as práticas, os
saberes e as instituições, e no qual o tipo de objetivo perseguido não se reduz
somente à dominação, pois não pertence a ninguém e varia ele mesmo na história
Ainda sobre o poder

A análise do poder exige que se fixe um certo número de pontos: 1) o sistema das
diferenciações que permite agir sobre a ação dos outros, e que é, ao mesmo
tempo, a condição de emergência e efeito de relações de poder (diferença
jurídica de estatuto e de privilégios diferença econômica na apropriação da
riqueza, diferença de lugar no processo produtivo, diferença linguística ou
cultural, diferença de saber-fazer ou competência ...); 2) o objetivo dessa ação
sobre a ação dos outros (manutenção de privilégios, acumulação de proveitos,
exercício de uma função ...); 3) as modalidades instrumentais do poder (as armas,
o discurso, as disparidades econômicas, os mecanismos de controle, os sistemas
de vigilância ...); 4) as formas de institucionalização do poder (estruturas
jurídicas, fenômenos de hábito, lugares específicos que possuem um regulamento
e uma hierarquia próprios, sistemas complexos como aquele do Estado ...); 5) o
grau de racionalização, em função de alguns indicadores (eficácia dos
instrumentos, certeza do resultado, custo econômico e político ...).
Caracterizando as relações de poder como modos de ação complexos sobre a ação
dos outros, Foucault inclui na sua descrição a liberdade, na medida em que o
poder não se exerce senão sobre sujeitos - individuais ou coletivos
saber

• Foucault distingue nitidamente o "saber" do "conhecimento":


enquanto o conhecimento corresponde à constituição de discursos
sobre classes de objetos julgados cognoscíveis, isto é, à
construção de um processo complexo de racionalização, de
identificação e de classificação dos objetos independentemente
do sujeito que os apreende, o saber designa, ao contrário, o
processo pelo qual o sujeito do conhecimento, ao invés de ser
fixo, sofre uma modificação durante o trabalho que ele efetua
na atividade de conhecer.
Saber-poder

• 0 saber está essencialmente ligado à questão do poder, na medida


em que, a partir da Idade clássica, por meio do discurso da
racionalidade - isto é, a separação entre o científico e o não-
científico, entre o racional e o não-racional, entre o normal e o
anormal - vai-se efetuar uma ordenação geral do mundo, isto é,
dos indivíduos, que passa, ao mesmo tempo, por uma forma de
governo (Estado) e por procedimentos disciplinares. A
disciplinarização do mundo por meio da produção de saberes
locais corresponde à disciplinarização do próprio poder: na
verdade, o poder disciplinar, "para exercer-se nesses mecanismos
sutis, é obrigado a formar, organizar e pôr em circulação
E MAIS...

Não há relação de poder onde as determinações estão


saturadas... A análise foucaultiana destrói, portanto, a ideia de
um paradoxo/contradição entre o poder e a liberdade: é
precisamente tornando-os indissociáveis que Foucault pode
reconhecer no poder um papel não somente repressivo, mas
produtivo (efeitos de verdade, de subjetividade, de lutas), e que
ele pode, inversamente, enraizar os fenômenos de resistência
no próprio interior do poder que eles buscam contestar, e não
num improvável "exterior".
Saber-poder

• um saber, ou melhor, aparelhos de saber" , isto é, instrumentos


efetivos de acumulação do saber, de técnicas de arquivamento, de
conservação e de registro, de métodos de investigação e de
pesquisa, de aparelhos de verificação etc. Ora o poder não pode
disciplinar os indivíduos sem produzir igualmente, a partir deles e
sobre eles, um discurso de saber que os objetiva e antecipa toda
experiência de subjetivação. A
discurso

• 0 discurso designa, em geral, para Foucault, um conjunto de


enunciados que podem pertencer a campos diferentes, mas que
obedecem, apesar de tudo, a regras de funcionamento comuns.
Essas regras não são somente linguísticas ou formais, mas
reproduzem um certo número de cisões historicamente
determinada: a "ordem do discurso" própria a um período
particular possui, portanto, uma função normativa e reguladora e
coloca em funcionamento mecanismos de organização do que
entendemos como realidade por meio da produção de saberes, de
estratégias e de práticas.
dispositivo

• 0 conceito de "dispositivo" aparece em Foucault nos anos 70 e designa


inicialmente os operadores materiais do poder, isto é, as técnicas, as
estratégias e as formas de assujeitamento utilizadas pelo poder. A partir
do momento em que a análise foucaultiana se concentra na questão do
poder, o filósofo insiste sobre a importância de se ocupar não "do edifício
jurídico da soberania, dos aparelhos do Estado, das ideologias que o
acompanham, mas dos mecanismos de dominação: é essa escolha
metodológica que engendra a utilização da noção de "dispositivos". Eles
são, por definição, de natureza heterogênea: trata-se tanto de discursos
quanto de práticas, de instituições quanto de táticas moventes: é assim
que Foucault chega a falar, segundo o caso, de "dispositivos de poder",
de "dispositivos de saber", de "dispositivos disciplinares", de "dispositivos
de sexualidade" etc
Episteme ou solo epistemológico

0 conceito de episteme é designado por Foucault como um conjunto de


relações que liga tipos de discursos e que corresponde a uma dada época
histórica: "são todos esses fenômenos de relações entre as ciências ou entre
os diferentes discursos científicos que constituem aquilo que eu denomino a
episteme de uma época“. A episteme de uma época não é "a soma de seus
conhecimentos ou o estilo geral de suas pesquisas, mas o desvio, as
distâncias, as oposições, as diferenças, as relações de seus múltiplos
discursos científicos ou vigentes que produzem saberes: a episteme não é
uma grande teoria subiacente, e sim um espaço de dispersão, é um campo
aberto l ... a episteme não é cobertura de história comum a todas as
ciências; é um jogo simultâneo, um feixe de relações e deslocamento,
portanto, não é um sistema, mas a proliferação e a articulação de múltiplos
sistemas que remetem uns aos outros.
Processos de subjetivação

• 0 termo "subjetivação" designa, para Foucault, um processo pelo


qual se obtém a constituição de um sujeito, ou, mais
exatamente, de uma subjetividade. Os "modos de subjetivação" ou
"processos de subjetivação" do ser humano correspondem, na
realidade, a dois tipos de análise: de um lado, os modos de
objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos - o
que significa que há somente sujeitos objetivados e que os modos
de subjetivação são, nesse sentido, práticas de objetivação; de
outro lado, a maneira pela qual a relação consigo, por meio de um
certo número de técnicas, permite constituir-se como sujeito de
sua própria existência...
Campo semântico-transcendental-histórico

DISCURSOS subjetivação
SABER/
PODER

dispositivos
Indicações para esta e próxima aula:

• Referência de leitura para esta aula:


• Revel, Judith. Foucault, Conceitos essenciais.
• Castro, E. Vocabulário Foucault.

• Para a próxima aula:


• Foucault, Michel. História da sexualidade, volume I. A vontade de
saber, parte II.

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