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Temas de Política Contemporânea II

Profº Ronaldo Tadeu de Souza


Thabata Faganelli Salmerón - 791530

Comentário do texto “Segurança, Território, População” - Michel Foucault

Um grande conceito apresentado pelo autor, não somente nesta obra mas em outras que
antecederam e precederam seu trabalho, é seu interesse no estudo das relações de poder,
dependendo também do entendimento da sociedade e dos seus mecanismos de regulação. Não
somente, Foucault destaca os procedimentos e os efeitos de tais mecanismos, uma vez que o
foco para ele não é o fenômeno do poder em si, mas das construções que são feitas que
garantem o funcionamento do mesmo.
Inicialmente, o autor traz a ideia de “governamentalidade”, sugerindo que haveria uma
necessidade de analisar as relações de poder as quais são referidas em estudos do século XVI,
todas presentes nas práticas mercantilistas da época. O objetivo dessa análise seria por fim
para entender o que ele chama de “o problema do estado e da população”. O autor, baseando-
se no trabalho de P. Veyne discorre sobre seus estudos das sociedades gregas e romanas, as
quais estipularam que “o exercício do poder político não pressupunha o direito de um governo
ter como objetivo a condução da vida dos indivíduos”.
Segurança, Território, População introduz o entendimento de biopoder, além de abordar um
tipo diferente de poder, distintivo, conduzido por um soberano-pastor, o qual assegura a
salvação. Esse discurso ganhou terreno com sua introdução através do cristianismo no
Ocidente, construindo seu reconhecimento eclesiástico e firmando-se no meio. Para além, foi
a partir do renascimento que houve uma demanda por novos processos para a conquista do
poder, sejam elas espirituais ou territoriais, uma vez que tal renovação exigia novas relações
econômicas, sociais e político-estruturais.
Foucault trabalha sua abordagem a partir de explicações de métodos consistentes que tem
como propósito sustentar seu objeto de estudo, o Estado e a população. De tal modo, ele
constrói seu campo de investigação com divisões complementares, explorando fenômenos que
ele intitula respectivamente como passagem do exterior em relação a problemática da
instituição, em relação à função e em relação ao objeto.
Inicialmente, a instituição remete a uma competência global, caracterizando essa escala por
sua ordem geral, por pontos de apoio e por uma tecnologia do poder. Tal exterior dos
domínios conclui-se em : “passar por fora da instituição para substituí-la pelo ponto de vista
global da tecnologia de poder”.
Em seguida, “substituir o ponto de vista interno da função pelo ponto de vista externo das
estratégias e táticas”, o que ele notoriamente exemplifica utilizando o conceito da prisão, uma
vez que este analisa as funções e atribuições de uma prisão e o saldo positivo e negativo de
seu funcionamento. Considerando que, para o autor, o sucesso e desenvolvimento de uma
prisão, ou de qualquer outra instituição que fosse analisada, não depende exclusivamente de
suas vitórias e decepções, mas sim, em tudo aquilo que é feito para garantir o sustento da
estrutura institucional em si, independente da tempestade pela qual essa passe.
Por último, o autor entra em oposição a fenomenologia, e ao invés de atribuir uma descrição
imediata, sem qualquer explicação teórica, Foucault se dispõem a entender e ensinar que há
sim uma necessidade de apreender o movimento de tais fenômenos com seus campos da
verdade e objetos de saber. Ao adentrar no próprio conceito, sob seu ponto de vista e
funcionamento, ele rejeitava tais preceitos como verdades universais e media seus
desenvolvimentos com sua própria régua, a qual era filosoficamente imensurável.
O intuito dessas passagens, como o autor discute, é de “procurar destacar as relações de poder
da instituição, a fim de analisá-las sobre a ótica das tecnologias, diferenciando-as da função,
para retomá-las em uma análise estratégica”. Ou seja, a tentativa é entender e averiguar o
próprio estado, destituindo de seu pedestal e estudando suas camadas, seu interior e seu
exterior, questionando como atravessar os muros do estado e desmontá-lo, entendê-lo suas
características, instituições e relações de poder, de modo semelhante ou igual feito ao hospital
psiquiátrico ou à prisão.
Ao retomar o conceito de governamentalidade, o estudo concentra-se na noção de governo,
indo além das mais diversas interpretações e recorrendo a sua introdução e formação histórica
e as técnicas desenvolvidas e adquiridas. Se possível, assemelha-se tal conceito e tal estudo
com o surgimento da “razão de estado”. Assim, compreende-se que o novo modelo de estado
moderno possui uma condição em que estabelece ao governante o imperativo de uso da força
estatal e dos demais meios que forem necessários para a manutenção do poder (raison d'État).
A nova percepção que surge foge dos padrões antigos e das virtudes tradicionais, aplicando-se
a uma arte de governar, a qual também não recorre mais ao poder pastoral e ao império
universal. A integridade territorial, o desenvolvimento de tecnologias e do conhecimento
serão a sentença para os estados que querem assegurar sua soberania, não somente ao próprio
estado, mas instrumentos/delegações que farão isso dentro do mesmo.
Essa nova percepção de razão governamental inclui que, o Estado, ao sustentar seu domínio e
sua ordem, exercendo o que o autor chama de “domínio sobre si mesmo e sobre os outros”,
tem propriedade suficiente para manter um crescimento comercial e equilíbrio monetário. A
premissa da construção de Foucault insere seu ponto principal, o poder pastoral. De longe, “o
mais criativo, o mais conquistador, o mais arrogante e o mais sangrento”. Até uma civilização
marcante como a grega ou a romana não conquistaram tanto sentimento de pertencimento
quanto essa, submetendo até mesmo a razão ocidental, expandindo-se pelos indivíduos e não
somente pelos territórios.
Foucault marca seu trabalho e sua tese de biopoder, pelo simples fato de que tal poder não
constrói civilizações e impérios para depois tomá-los, ele simplesmente reivindica sistemas e
modelos prontos, sendo produto de uma força que produz efeitos dentro da própria sociedade
e da sua essência.

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