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Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes

Oficina de texto em comunicação – Vanuza (Aynin Mayuma) Souza Silva

(Jornalismo – Vespertino)

Maria Luisa de Farias Teixeira Lima

Análise referente a obra “ordem do discurso”, de Michel Foucault

Maceió, março de 2024


Na obra “Ordem do discurso”, de Michel Foucault, publicada em 1971 apresenta
a ideia de como analisar a sociedade, as dinâmicas sociais e políticas, assim como as
instituições através do discurso dominante entre grupos sociais, por meio de
procedimentos externos e internos, os rituais que são percursores para o entendimento das
formas de sociedades e normas montada pelas teorias de Foucault.
Ao abordar os conceitos presentes no livro, percebe-se a integração do poder
por trás do discurso, primeiro Foucault vai chamar de procedimentos externos, sendo
mecanismos que dão autoridade ao discurso.

Dentro desse processo, há a interdição, de modo que no campo da linguagem


se coloca em lados opostos aquilo que pode ser falado e aquilo que não pode ser falado,
são palavras, frases, assuntos e maneiras, tendo foco o que é permitido discutir. Três
exemplos que Foucault traz é a sexualidade, a política e a religião, ambos articulam
formas de domínio de discurso à sentido do seguinte texto:

Existe em nossa sociedade outro princípio de exclusão: não mais a interdição,


mas uma separação e uma rejeição. Penso na oposição razão e loucura. Desde
a alta Idade Média, 0 louco e aque1e cujo discurso não pode circular como 0
dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja
acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na
justiça, não podendo autenticar um ato. ou um contrato, não podendo nem
mesmo, no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um
corpo; (FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed.
Loyola,1996, p. 10 e 11)

No segundo procedimento, o de separação e rejeição que define quem pode


transmitir e quem pode dizer esses assuntos, notoriamente quem tem o poder de dizer
esses assuntos, possui um direito privilegiado, refutado por Foucault. Assim, há uma
separação entre discursos que são de direitos privilegiados, são aqueles que é lógico,
organizado e ouvido e por outro lado há o discurso ilógico, os rejeitados.

Além de que a autoridade do discurso, estabelece autoridades sociais. A concepção


da loucura, um dos tópicos estudado por Michel Foucault, é legitimado como evidência
de quem é visto como louco, não é ouvido devido à falta de lógica, de sentido e é impedido
de produzir o seu discurso.

No ultimo procedimento, introduz a oposição entre razão e loucura, o oposto entre


verdadeiro e falso. Esse tipo de organização externa de discurso advém da vontade de
saber que Foucault denomina. Por causa dessa divisão, os discursos passam a funcionar
nos campos sociais, que passa também pela ordem da construção de símbolos, signos e
conceitos que determinam por sua vez de produzir efeitos de poder na sociedade, na
ordem sociológica e antropológica.

Essas convenções são tão neutralizadas, que de fato não há só a separação do


discurso entre razão e loucura, no entanto também separa os indivíduos entre normais e
anormais, entre corretos e incorretos. No livro Memórias da Emília, do Monteiro Lobato,
a personagem título, questionada pela Dona Benta, que duvidava que ela soubesse o que
era verdade e mentira, respondeu-lhe: “verdade é uma espécie de mentira bem pregada,
das que ninguém desconfia” (2009, p. 13).

Com tal articulação de discurso prescreve e organiza também os corpos, além de


defender a ideia de que para ser útil, precisa ser verificável e testado, dando valor aquilo
que é estabelecido com maior regularidade pois o desconhecido causa uma espécie de
medo, de afastamento como no seguinte contexto:

Porque, ainda nos poetas gregos do século VI, o discurso verdadeiro —


no sentido forte e valorizado do termo —,o discurso verdadeiro pelo
qual se tinha respeito e terror, aquele ao qual era preciso submeter-se,
porque ele reinava, era o discurso pronunciado por quem de direito e
conforme o ritual requerido; era o discurso que pronunciava a justiça e
atribuía a cada qual sua parte; era o discurso que, profetizando o futuro,
não somente anunciava o que ia se passar, mas contribuía para a sua
realização, suscitava a adesão dos homens e se tramava assim com o
destino. (FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed.
Loyola,1996, p. 14)

O autor Michel Foucault segue para os procedimentos internos ou princípio de


rarefação do discurso que é usado para se autocontrolar.

O primeiro princípio de autocontrole do discurso é chamado de comentário, na


qual produz uma figura interessante, o comentador que por assim revisita o discurso, na
qual expõe e expande o discurso por intermédio de articulações dos conceitos expostos.
Assim se forma dois tipos de discurso, a partir de um discurso originário, que são os
comentadores que acompanham o discurso inicial, que vão repetir e reafirmar o que já foi
repercutido e o discurso que vai expandir o conhecimento e criar, da mesma forma
Foucault diz no seguinte parágrafo:

Em suma, pode-se supor que há, muito regularmente nas sociedades,


uma espécie de desnivelamento entre os discursos: os discursos que
"se dizem" no correr dos dias e das trocas, e que passam com o ato
mesmo que os pronunciou; e os discursos que estão na origem de certo
número de atos novos de fala que os retomam, os transformam ou falam
deles, ou seja, os discursos que, indefinidamente, para além de sua
formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer. Nós
os conhecemos em nosso sistema de cultura: são os textos religiosos ou
jurídicos, são também esses textos curiosos, quando se considera o seu
estatuto, e que chamamos de "literários"; em certa medida textos
científicos. (FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo:
Ed. Loyola,1996, p. 21)

Dentro desse procedimento existe outras formas de produção de comentários, tal


como o filósofo Tomás de Aquino que explica Aristóteles e cria um modelo de
entendimento em discurso sobre o mundo através do modelo aristotélico, em que Aquino
cria novos textos, novas palavras e novos conceitos. Refutado isso, Tomás de Aquino
lança pela concepção de Aristóteles o que Foucault descreve como um dos meios de
processo que controla o discurso por intervenção do comentário.
O segundo procedimento interno é o autor, que no livro é denominado de unidade
de origem de significações, esse discurso feito por um autor resulta na consequência de
apagar a sua individualidade, tendo como fator importante o de produzir o discurso, não
como produziu, o processo não interessa e para decidir qual autor, gera a predominância
do autor e da sua identidade.

Vale ressaltar a palavra do autor Velloso Rocha do que lhe chama atenção ao
lembrar que o ato de nomear algo, atribuindo lhe uma identidade, desconsidera as
diferenças presentes no mundo, selecionando determinadas características e ignorando as
demais. A linguagem, assim, traria uma ilusão da ideia de substância, não observando o
caráter instável e mutável do devir ao tentar apreender a realidade em formas perenes
(2003, p. 98). Diz ela:

A linguagem produz uma ilusão de substância, violentando assim


o caráter instável e mutável do devir, fixando-o em formas
permanentes. Essa potência de falsificação se intensifica quando
se leva em conta que toda palavra é um conceito, que generaliza
e abstrai aquilo que é necessariamente singular e concreto (2003,
p. 98).

Terceiro procedimento é a organização das disciplinas, os discursos precisam ser


organizados e categorizados dentro de disciplinas, colocando uma espécie de controle
interno. Esse sistema, deve estudar o discurso, testar, aprovar e assim colocá-lo dentro de
uma disciplina, na qual Foucault consolida no texto:

A organização das disciplinas se opõe tanto ao princípio do


comentário como ao do autor. Ao do autor, visto que uma
disciplina se define por um domínio de objetos, um conjunto de
métodos, um corpus de proposições consideradas verdadeiras,
um jogo de regras e de definições, de técnicas e de instrumentos:
tudo isto constitui uma espécie de sistema anônimo à disposição
de quem quer ou pode servir-se dele, sem que seu sentido ou sua
validade estejam ligados a quem sucedeu ser seu inventor.
(FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed.
Loyola,1996, p. 30)

O enquadramento desse procedimento existe para aquilo que Foucault chama de


“fazer mais para ter menos” em que o discurso é preenchido, categorizado, com suas
partes conectadas para transformá-lo no final em uma teoria, como a teoria da evolução.

Foucault critica a questão desse enquadramento, que estabelece as próprias


definições fixas, que determina que um médico não é de humana, porém médicos também
são da área de humana pois lidam com humanos, devido a isso as disciplinas são fechadas
apesar de que não devem serem, não permitem o fluxo entre outros campos que remete
novamente a questão da autoridade do autor.

Logo após, Foucault procura estudar dentro do discurso as condições de


funcionamento do discurso, os mecanismos de ligação e exclusão entre sujeito e discurso.
O primeiro mecanismo é chamado de ritual. Os rituais é a organização interna de como e
quem deve se apossar do discurso, são regras e padrões que viram rituais.

Segunda condição de funcionamento é a sociedade do discurso, que é responsável


por manter, organizar e circular esse discurso da própria maneira. Essa circulação do
discurso emplaca com questões que se tornam bem definidas e devem ser seguidas, como
pautas sobre encarceramento, aborto, violência nelas existem normas que proíbem tal
condicionamento da prática, isso ocorre devido aos discursos socias que organiza onde
deve circular, seja em reuniões, congressos e clubes e para participar desses lugares de
discursos, participa primeiro como ouvinte, depois há a permissão de falar somente o que
o discurso produz, tendo de maneira há concordar com o discurso do lugar.

O terceiro mecanismo, as doutrinas, estão também relacionadas as regras e


organizações do discurso, que pertence a tal grupo, parte do processo de quem deve impor
ou não. Assim se forma não somente os congressos, mas os sínodos, os encontros, os
colóquios que se tornam lugares de manutenção de uma doutrina, que hierarquiza
primeiro o sujeito acima o discurso e acima ainda do discurso existe os grupos que
consente o discurso. Foucault analisa da seguinte maneira:
À primeira vista, as "doutrinas" (religiosas, políticas, filosóficas)
constituem o inverso de uma "sociedade de discurso": nesta, o
número dos indivíduos que falavam, mesmo se não fosse fixado,
tendia a ser limitado; e só entre eles o discurso podia circular e ser
transmitido. A doutrina, ao contrário, tende a difundir-se; e é pela
partilha de um só e mesmo conjunto de discursos que indivíduos, tão
numerosos quanto se queira imaginar, definem sua pertença
recíproca. (FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo:
Ed. Loyola,1996, p. 41)

Na quarta condição de funcionamento, a educação, tem o papel de viabilizar o


contato do sujeito com o discurso, no entanto, existe nela uma hierarquia, um esquema de
pirâmide que se inicia no aluno, depois os professores e formadores. A educação para
Foucault é uma maneira política de manutenção do discurso e da propagação de que tipo
de discurso interessa e como deve ser passado, tendo regras para funcionar.

Ademais, existe uma organização da educação estabelecida por séries, por


etapas que produz no campo educacional uma espécie de ritualização da palavra pois
quem fala, quem educa é uma espécie de guru. Esse fator, é bastante questionado por
Foucault, inclusive na esfera da filosofia, que participa também desses jogos de poder
discursivos e é preciso que ela se abra, para que não se transforme em mais uma que
manipula os desejos e o poder da sociedade.

Para Michel Foucault, a filosofia deve parar de obedecer aquilo que ele chama
de logosofia, um amor exacerbado pela palavra, pelo discurso e pela organização. Isso
acontece em razão do medo que os indivíduos possuem sobre o que é ilógico,
desconhecido já que pode revelar o violento e o descontinuo.
Referências:

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola,1996. pp. 01-43.

LOBATO, Monteiro. Memórias da Emília, 2ª ed., São Paulo: Globo, 2009. Pp. 13

ROCHA, Silvia Pimenta Velloso. Os abismos da suspeita: Nietzsche e o


perspectivismo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. pp. 98

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