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Michel Foucault, um filósofo de renome mundial do século XX, conquistou esta

reputação através das suas investigações profundas e originais sobre o poder, o controlo
social e os discursos da verdade. Além disso, ele teve uma enorme influência em uma
série de disciplinas, incluindo filosofia, sociologia, psicologia, bem como estudos
culturais. Através desta avaliação crítica, algumas das contribuições significativas feitas
por Foucault serão brevemente discutidas, juntamente com certas objeções gerais ao seu
trabalho.
A crítica de Foucault ao poder, ao controle social e à disciplina é bem conhecida,
destacando-se sua obra “Vigiar e Punir: O Nascimento da Prisão” (1975). Neste livro
influente, Foucault investiga como as práticas punitivas evoluíram ao longo do tempo.
Ele traça o seu desenvolvimento, desde formas violentas de castigo corporal até o
surgimento de instituições disciplinares modernas, como prisões e escolas. Segundo o
autor, houve uma mudança nas atitudes em relação à punição ao longo dos anos, diz
(...) um fato é certo: em algumas dezenas de anos, desapareceu
o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo
principal da repressão penal. (FOUCAULT, p. 12, 1987)
Percebe-se que, com o passar do tempo, a punição explícita que antes
envolvia a manifestação de dor física começa a desaparecer. O poder é exercido e
tomado como parte dos seus súbditos, o que ajudará a estabelecer uma crítica informada
aos sistemas opressivos. A análise de Michel Foucault sobre o poder e o controlo nas
sociedades disciplinares proporciona uma compreensão crucial das relações de poder
evidentes entre as instituições sociais.
Uma das principais críticas de Foucault ao sistema penal é a sua eficácia
em normalizar e disciplinar os corpos, em vez de apenas punir comportamentos
considerados desviantes. Ele argumenta que, ao longo do tempo, as sociedades
desenvolveram métodos mais sofisticados de controle social, substituindo a violência
física manifesta por técnicas de vigilância, classificação e normalização. Nesse sentido,
as instituições disciplinares como prisões, escolas e hospitais funcionam como
instrumentos de poder que moldam o corpo e a subjetividade do indivíduo e, assim, os
tornam mais conformes às normas sociais.
Foucault critica a ideia de que as instituições disciplinares visam apenas
punir crimes ou corrigir comportamentos desviantes. Pelo contrário, sugere que estas
instituições servem o propósito mais amplo de criar e reproduzir relações de poder,
mantendo ao tempo a ordem social existente. Através de técnicas como a vigilância
constante, as hierarquias de poder e a normalização do comportamento, as instituições
disciplinares exercem um controlo subtil e abrangente sobre os corpos de pessoas,
moldando a sua subjetividade de acordo com as normas e valores dominantes.
Esta ideia de Foucault alimentou a ideia de que o sistema penal era uma resposta
eficaz a problemas sociais como o crime e a violência. Ele argumenta que, em vez de
resolver estes problemas, as instituições disciplinares os perpetuam e criam uma
sociedade cada vez mais vigilante e complacente. Além disso, Foucault salienta que as
práticas punitivas muitas vezes reforçam as desigualdades sociais existentes e visam
particularmente grupos marginalizados e excluídos. O autor diz
Segundo essa penalidade, o corpo é colocado num sistema de
coação e de privação, de obrigações e de interdições.
(FOUCAULT, p. 15, 1987)
Uma das contribuições mais importantes de Foucault é a sua análise dos "corpos
dóceis" e dos mecanismos através dos quais as instituições disciplinares os criam.
Expõe a ilusão de liberdade individual ao mostrar como espaços como escolas, hospitais
e prisões impõem uma disciplina dolorosa aos corpos, transformando-os em
instrumentos obedientes de poder dominante.
O personagem principal introduzido por Foucault é o corpo obediente, entidade
presente em todas as áreas da sociedade, disponível em diferentes formas e muitas vezes
presente em diferentes instituições. Representa um organismo caracterizado por
processos disciplinares e, assim, concretiza o ideal almejado pela autoridade disciplinar.
Como diz o autor, a um corpo obediente
“O Homem-máquina” de La Mettrie é ao mesmo tempo uma
redução materialista da alma e uma teoria geral do
adestramento, no centro dos quais reina a noção de “docilidade”
que une ao corpo analisável o corpo manipulável. É dócil um
corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode
ser transformado e aperfeiçoado. (FOUCAULT, p. 163, 1987)
Através dos quatro elementos-chave que Foucault identifica na criação dos
corpos dóceis, somos levados a refletir sobre a profundidade do controle exercido pelas
instituições disciplinares. A arte da distribuição, o controle da atividade, a organização
das origens e a composição das forças revelam uma complexa rede de técnicas e
tecnologias que não só regulam o comportamento, mas também moldam a identidade
dos indivíduos.
Em Vigiar e Punir, Foucault também enfatiza o desenvolvimento da disciplina,
que exige não apenas atividade física constante, mas também máxima eficiência de sua
parte. O poder disciplinar não se limita mais a extrair e acumular tempo do corpo, mas
visa criar uma máquina eficiente, capaz de produzir e trabalhar até a exaustão. Você
pode entender o que o autor está dizendo
(...) realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem
uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar
as “disciplinas”. (FOUCAULT, p. 164, 1987)
Foucault enfatiza a importância da distribuição espacial e do controle do tempo
como técnicas disciplinares fundamentais. A distribuição espacial visa categorizar e
confinar as pessoas em locais específicos, criando espaços que facilitam a vigilância e a
punição. O controle do tempo, por sua vez, estabelece horários de trabalho rígidos,
repetíveis e consistentes que visam maximizar a eficiência e os benefícios do corpo.
O trabalho analisa o surgimento e o desenvolvimento do corpo como fonte
primária de força no século XVIII sob a perspectiva da teoria de Michel Foucault. O
autor destaca como o corpo se transformou numa máquina disciplinar que pode ser
manipulada e treinada para servir os objetivos do poder dominante.
Além disso, o autor discute os princípios do controle hierárquico, da unificação
das sanções e do exame como forma de exercício do poder disciplinar. A supervisão
hierárquica visa monitorar e observar continuamente o comportamento dos indivíduos,
enquanto as sanções normalizadoras impõem sanções leves ou severas para violações
das normas estabelecidas. A prova, por sua vez, representa o ápice de técnicas
disciplinares que combinam supervisão, punição e correção em um único exercício.
No centro de sua análise, Foucault destaca três recursos principais utilizados
pelas instituições de poder para disciplinar os corpos e moldar os sujeitos. A supervisão
hierárquica é considerada o principal mecanismo que estabelece uma rede de controle
que permeia os diferentes níveis de autoridade das instituições disciplinares. Esta
vigilância constante não só reforça normas e expectativas, mas também cria uma
sensação de vigilância generalizada que molda o comportamento individual.
A normalização das sanções é outra estratégia utilizada por Foucault, que
enfatiza o uso de recompensas e punições como forma de promover o cumprimento das
normas estabelecidas. Este sistema de recompensas e punições não só incentiva os
atores à conformidade, mas também os leva a internalizar as normas e valores da
instituição e a tornar a disciplina parte integrante da sua subjetividade.
Por fim, a auditoria é considerada um importante mecanismo de controle por
meio do qual as empresas são avaliadas e classificadas com base no seu desempenho e
no cumprimento dos padrões estabelecidos. Esta prática não só mede o conhecimento e
as competências dos atores, mas também os classifica numa hierarquia social ou
institucional, fortalecendo assim as relações de poder existentes. É o que afirma o autor
o exame é na escola uma verdadeira e constante troca de
saberes: garante a passagem dos conhecimentos do mestre ao
aluno, mas retira do aluno um saber destinado e reservado ao
mestre. (FOUCAULT, p. 211, 1987)

Ao destacar estes recursos para a “boa educação” dos corpos, Foucault encoraja-
nos a pensar criticamente sobre as formas como o poder opera na nossa vida quotidiana.
As suas análises mostram como as instituições de poder exercem controlo não apenas
através da coerção física, mas também através de técnicas subtis de monitorização,
recompensa e avaliação, moldando não só o nosso comportamento, mas também a nossa
subjetividade. No entanto, embora Foucault ofereça uma análise profunda da dinâmica
do poder nas sociedades contemporâneas, a sua abordagem também levanta críticas e
questões. Alguns poderão dizer que a sua teoria ignora a resistência e as ações dos
indivíduos às estruturas de poder, reduzindo-as a meros produtos passivos das forças
sociais. Além disso, as suas análises tendem a enfatizar o aspecto negativo do poder
disciplinar e a negligenciar os potenciais benefícios e efeitos positivos das instituições
disciplinares.
Além disso, algumas críticas são dirigidas à própria abordagem de Foucault.
Alguns argumentam que a sua análise tende a ser demasiado abstrata e generalizada,
negligenciando as complexidades e nuances das instituições sociais. Além disso, a sua
teoria do poder é frequentemente acusada de determinismo, sugerindo que as relações
de poder são inerentemente opressivas e inevitáveis. Apesar dessas críticas, a obra de
Foucault continua sendo uma referência importante para quem deseja compreender a
dinâmica do poder e do controle na sociedade contemporânea. A sua análise perspicaz
das instituições disciplinares oferece informações valiosas sobre os mecanismos de
poder que moldam as nossas vidas e relações sociais.
Em suma, Disciplina e Castigo é uma leitura instigante e provocativa sobre a
natureza do poder e do controle nas sociedades contemporâneas. Foucault leva-nos a
questionar a relação entre poder, conhecimento e subjetividade e encoraja-nos a
repensar as nossas noções convencionais de liberdade e autonomia à luz da complexa
dinâmica de poder que permeia a nossa vida quotidiana.
Muitos dos conceitos e análises de Foucault ainda são relevantes hoje. Vivemos
numa sociedade cada vez mais vigilante onde a tecnologia desempenha um papel
importante na monitorização e controlo das pessoas. Do policiamento da Internet ao
policiamento das ruas, as questões de Foucault sobre poder, controlo e disciplina ainda
ressoam hoje.
Além disso, as preocupações relacionadas com a privacidade, a liberdade
individual e a justiça também continuam a ser tópicos importantes do debate
contemporâneo. Pode-se, portanto, concordar com muitos dos argumentos de Foucault
relativos à vigilância e à punição, especialmente à luz da situação atual.
As técnicas disciplinares descritas por Foucault poderiam ajudar a aumentar a
eficiência econômica e a manter a ordem social. A disciplina ajudou a organizar e
controlar os corpos dos trabalhadores nas fábricas, garantindo, por exemplo, uma
produção mais fluida e previsível. Além disso, a padronização de sanções e controlos
pode ter ajudado a criar uma sociedade mais disciplinada e conformista, reduzindo a
criminalidade e promovendo o respeito pelas normas sociais.
Por outro lado, as medidas disciplinares também podem ser vistas como formas
de controlo e opressão que limitam a liberdade e a autonomia do indivíduo. A vigilância
constante e as sanções por mau comportamento podem criar uma atmosfera de medo e
ansiedade em que os indivíduos são encorajados a conformar-se com as expectativas da
sociedade, mesmo que isso vá contra os seus próprios interesses e desejos.
Existem críticas positivas e negativas à teoria de Foucault. A análise
aprofundada das relações de poder e dos seus efeitos na sociedade, bem como a ênfase
na importância do discurso e do conhecimento na formação do poder devem ser
destacadas positivamente. No entanto, alguns críticos acreditam que as suas teorias
podem ser demasiado deterministas, deixando pouco espaço para resistência ou ação
individual.
Além disso, alguns críticos questionam a falta de soluções práticas nas suas
análises e argumentam que as suas teorias podem ser descritivas e não normativas.
Outros críticos enfatizam as possíveis limitações de sua abordagem metodológica e de
suas generalizações sobre o funcionamento do poder em diferentes contextos sociais e
históricos. Em suma, embora as teorias de Foucault tenham sido influentes e
provocativas, foram também objeto de críticas e debates contínuos no meio acadêmico.
No contexto atual, uma crítica positiva da teoria do corpo sujeito de Foucault
pode incluir uma apreciação da sua análise crítica das instituições sociais e do poder
disciplinar, que permanece relevante para a compreensão das dinâmicas
contemporâneas de controlo social, vigilância e normalização do corpo. Além disso,
muitos estudiosos e ativistas apreciam a ênfase de Foucault na importância do
conhecimento e do discurso na construção de identidades corporais e relações de poder.
Por outro lado, os críticos negativos podem argumentar que as teorias de
Foucault podem ser demasiado deterministas ou simplistas porque veem o corpo como
inteiramente moldado pelo poder disciplinar, deixando pouco espaço para a resistência
ou agência individual. Além disso, há falta de atenção às experiências físicas positivas e
às formas de resistência física e de empoderamento que desafiam as normas sociais e os
sistemas disciplinares.
Além disso, a ênfase na eficiência e na produtividade pode levar à exploração
desumana dos trabalhadores, sacrificando o seu bem-estar e saúde em nome do lucro e
da competitividade. A busca incansável pela maximização da produção pode levar a
condições de trabalho precárias, abuso infantil e desigualdade social.
Conclusão o trabalho de Michel Foucault representa uma contribuição
inestimável para o pensamento crítico e a compreensão da dinâmica do poder na
sociedade. Ler e estudar suas obras é altamente recomendado para qualquer pessoa
interessada em compreender as complexidades do poder e da resistência nas sociedades
contemporâneas. Foucault nos encoraja a questionar as estruturas de poder e a procurar
novas formas de pensar e agir em prol da justiça e da liberdade.

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