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Autor:
Paulo Bilynskyj, Beatriz V. P.
Pestilli, Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas
13 de Outubro de 2021
Sumário
1. Introdução ao Estudo do Pensamento Penal Ideológico ............................................................................... 3
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- Larissa Nunes Souza
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Aula 04
Resumo............................................................................................................................................................. 41
Legislação ..................................................................................................................................................... 48
Jurisprudência .............................................................................................................................................. 55
Considerações finais......................................................................................................................................... 56
Questões comentadas...................................................................................................................................... 56
Lista de questões.............................................................................................................................................. 76
Gabarito ....................................................................................................................................................... 87
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Aula 04
Há quem diga que “para saber o grau de violência institucional de uma sociedade, não é preciso muito,
basta olhar o modelo de política criminal implementado”.
Isso porque, o modelo de política criminal adotado e o conjunto dos procedimentos pelos quais o corpo
social organiza as respostas ao fenômeno criminal1.
Se de um lado, o primeiro é determinado pelas correntes ideológicas e traçados que orientam a política
Criminal, de outro lado, o segundo, trabalha as grandes influências ideológicas que vão de comandar a
política criminal.
As grandes influências ideológicas que comandam as escolhas de política criminal situam-se em três eixos
principais: liberdade, igualdade e autoridade2.
Nesse sentido, a partir deste raciocínio de Delmas, pode-se dizer que essas grandes influências ideológicas
que determinam as escolhas de política criminal, dividem-se em três vieses, quais sejam:
1. Liberdade;
2. Igualdade;
3. Autoridade.
1
MIRELLE, Delmas-Marty. Os grandes sistemas de política criminal; trad. Denise Radanovic Vieira.
Baueri, SP: Manoele, 2004, p. 3 (destaque original)
2
Ibidem, p. 95-321.
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Aula 04
Evidentemente, a liberdade é proclamada por uma corrente liberal. Esta corrente possui origem num
movimento ilustrado que se apoia, evidentemente e fundamentalmente, na primazia da liberdade do ser
humano.
Por outro lado, a igualdade é defendida por aqueles de corrente igualitária. É que a corrente igualitária se
alicerça num fundamento crítico, voltado diretamente ao liberalismo e à desigualdade que produz na
realidade.
Guerreiro, importante destacar que os movimentos político-criminais NÃO representam uma concepção
de ideias, ao contrário, esses movimentos representam muitos mais.
Seja como for, predomina hoje a tendência de tolerância no sistema penal. Eu sei e você também sabe.
Ocorre que essa tendência, como já disse o Professor Eduardo Viana em seu Manual (Criminologia, 2018, p.
374), prende-se ao fato de que as pessoas são levadas a crer que a prisão conduz à emenda do criminoso.
Despreza-se, portanto, o fato de que a verdadeira irracionalidade da prisão é um dos segredos melhor
guardados em nossa sociedade3. Se esse segredo fosse revelado, destruiria as raízes do sistema atual e
implicaria no começo de sua ruína (Mathiesen, 1997, p.277). Segundo a reação social, responsável pela
3
VIANA, Eduardo. Criminologia. 6ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora
JusPodivm,2018. Pg. 374.
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Aula 04
Seja como for, entendemos que faz sentido de certa maneira, se olharmos sobre o binômio: legitimidade –
necessidade do sistema penal que hoje gravita o abolicionismo – neste caso, considerando-o como
vertente da Criminologia crítica - e o movimento de política criminal Lei e Ordem.
É que, de um lado, tem-se a defesa de que o mal causado pelo sistema penal é muito mais grave do que o
fato que gera sua intervenção, pregada pelo abolicionismo. Vale lembrar inclusive que, em sua vertente
mais radical, há proposta até de abolição.
Em sentido contrário, ideias de intervenção máxima no sistema penal representam o movimento lei e
ordem.
Mas acalmem-se, falaremos sobre tudo isso com detalhes, afinal, esse é o tema da nossa aula de hoje.
Ao falar em movimentos ideológicos de Direito Penal, ou ainda, como diz a doutrina, nos movimentos
atuais de políticas criminais, 04 (quatro) movimentos ganham destaques, a saber:
1. O abolicionismo;
2. O minimalismo;
3. O correcionalismo; e
4. O garantismo.
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A vertente mais pacífica parte da premissa de que o mal causado pelo sistema penal à sociedade é muito
mais grave que o proporcionado pelo fato que gera sua intervenção4.
Noutro giro, a vertente mais radical vai nos dizer muito sobre o niilismo penal, isso significa
discursos de descrença absoluta ou redução ao nada.
Note que o nome do movimento nos remete de forma intuitiva ao seu próprio conceito ou à filosofia que
se prega. Com isso, é dizer que, para este movimento, qualquer que seja o instrumento de repressão ao
crime, seja ele o Direito Penal, o processo penal ou mesmo as legislações extravagantes, é considerado
nocivo à sociedade e, por isso, deve ser completamente extinto.
Vale dizer que o discurso tem suas bases assentadas na teoria do etiquetamento ou Labeling Approach em
que os comportamentos desviantes seriam produzidos pela própria sociedade.
E caso você não se lembre, aqui vai um parêntese sobre a Teoria Labelling Approach.
4
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 236.
5
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 40.
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comportarem dessa forma. Condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade
rotulam às outras que as praticam. A teoria da rotulação de criminosos cria um processo de
estigmatização para os condenados, funcionando a pena como algo que acentua as
desigualdades. Nessa interação estigmatizante, o sujeito acaba sofrendo reação da família, de
amigos, conhecidos e colegas, acarretando a marginalização nos diferentes meios sociais. De
forma a ilustrar o pensamento desse importante marco teórico da Criminologia, pode ser
apontado o determinismo como um fenômeno social que cria o criminoso tendo em vista o
local em que ele vive e relaciona-se com outras pessoas. Veja-se o exemplo de um menino que
mora numa comunidade carente. Ora, essa pessoa é vítima constante do Estado, uma vez que
não possui os direitos básicos como cidadão, apesar de a Constituição Federal pugnar em seu
art. 6º que
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.
Esse mesmo menino tem sua matrícula indeferida na escola local por ausência de vagas; ele
também perde a sua mãe em virtude de uma infecção generalizada adquirida na unidade de
pronto-atendimento da comunidade carente, uma vez que os órgãos sanitários não fizeram a
devida fiscalização; por fim, seu pai é baleado por um policial quando voltava do trabalho, pois
fora confundido com um traficante local. O Estado em vez de dar educação, saúde e segurança
pública, ao contrário, retirou os seus entes queridos de sua convivência. Tal fragilização permite
que ele fique vulnerável aos traficantes locais, que o assediam para trabalhar para eles de
“aviãozinho” no tráfico, fazendo com que se torne um criminoso. Ora, o meio social é que o
transformou num criminoso que veio a praticar crimes, sendo o Estado o grande incentivador
com sua ausência constante nos grotões de pobreza.
Note que por todos esses motivos e com as bases alicerçadas nesta teoria é que o abolicionismo
representa pelo fim das prisões e do próprio Direito Penal, por exemplo. Por considerá-los instrumentos de
manejo por grupos sociais dominantes para definição das condutas criminosas, seu fim é medida que se
impõe.
Mas atenção!
O discurso de redução ao nada não é só para o Direito Penal, mas também ao processo penal
e às legislações extravagantes e todos os demais instrumentos que representam ou que corroborem para
manejo, do ponto de vista abolicionista, devem ser abolidos.
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Até lá?
Bem, até lá, na visão abolicionista, o crime é justificado por uma realidade construída de forma arbitrária
ou por conveniência. O termo crime é substituído pela expressão situação-problema, seria uma forma de
prestigiar os meios alternativos de solução de conflitos como a conciliação, a compensação, a arbitragem,
medidas terapêuticas, dentre outras.
Merece destaque a segunda crítica mirada no Direito Penal, neste caso, o elevado índice da cifra negra.
A cifra negra, também chamada de zona obscura, dark number ou ciffre noir, representa apenas uma
pequena parcela dos crimes.
Proposta por Edwin Sutherland, nas chamadas cifras negras ou ocultas estão os crimes de
colarinho-branco que não são descobertos e ficam fora das estatísticas sociais. Como os seus
autores gozam do chamado “cinturão da impunidade”, os seus delitos ficam encobertos,
ocorrendo o que se chama de cifra oculta ou negra da criminalidade. Cumpre ressaltar que tais
delitos são infinitamente superiores aos delitos que são descobertos e que entram nas
estatísticas sociais, uma vez que os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e contra a
administração pública que realmente ocorrem e não são punidos constituem a grande maioria.
Já as chamadas cifras douradas ou de ouro correlacionam-se aos crimes de colarinho-branco
que são oficialmente conhecidos e punidos, o que, claramente, constituem uma minoria ínfima
perto dos que acontecem e não são descobertos. Os crimes de colarinho-branco conhecidos
oficialmente e punidos são bem menores e são chamados de cifras de ouro. Essa é a ideia de
cifras negras e douradas em Sutherland.
Todavia, numa versão brasileira, muitos professores e doutrinadores trouxeram o conceito de
cifras negras e douradas para o Brasil com a simples máxima entre os crimes conhecidos e
punidos e os não conhecidos e não punidos, sem reservar o estudo apenas para os crimes de
colarinho-branco, como foi a ideia originária de Edwin Sutherland. Para aclarar o que se
entende pela expressão cifras ocultas da criminalidade no Brasil, é citado o escólio de Salo de
Carvalho, bem elucidativo por sinal, in verbis: “A cifra oculta da criminalidade corresponderia,
pois, à lacuna existente entre a totalidade dos eventos criminalizados ocorridos em
determinados tempo e local (criminalidade real) e as condutas que efetivamente são tratadas
como delito pelos aparelhos de persecução criminal (criminalidade registrada). E os fatores
explicativos da taxa de ineficiência do sistema penal são inúmeros e dos mais distintos,
incluindo desde sua incapacidade operativa até o desinteresse das pessoas em comunicar os
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GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 48.
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crimes dos quais foram vítimas ou testemunhas. Como variável obtém-se o diagnóstico da baixa
capacidade de o sistema penal oferecer resposta adequada aos conflitos que pretende
solucionar, visto que sua atuação é subsidiária, localizada e, não esporadicamente, filtrada de
forma arbitrária e seletiva pelas agências policiais (repressivas, preventivas ou
investigativas).”46 No Brasil, portanto, a ideia que persiste é a de que os crimes conhecidos e
punidos (cifras de ouro) são os crimes cometidos por pessoas de baixa renda, ou chamados de
blue-collar, enquanto os crimes não conhecidos, e por isso não punidos, possuem o conceito de
cifras ocultas e são cometidos pelas pessoas de alta renda (white-collar). Da mesma forma que,
na versão originária de Sutherland, as chamadas cifras negras são bem maiores que as cifras
douradas, pois os crimes que de fato acontecem e não são descobertos são infinitamente
superiores, tais cifras no Brasil referem-se aos crimes de colarinho-branco e também aos de
colarinho-azul. Foi nessa toada que surgiu o antagonismo entre criminosos de colarinho-branco
e colarinho-azul, quando se quer referir aos tipos de infrações penais cometidos por pessoas de
diferentes classes sociais, sendo muito comum em provas de concursos públicos a utilização de
tais expressões, devendo apenas ser atentado para o que foi o pensamento original em
Sutherland e o que é o pensamento atual, sendo ambas as formas corretas, devendo apenas
ser identificado qual momento histórico está sendo questionado.
O tema em provas
c. Não registrada pela Polícia, elucidada, mas não punida pelo Judiciária.
e. Não registrada pela Polícia, porém conhecida e denunciada diretamente pelo Ministério
Público.
Gabarito: D
Destaca-se que há seletividade no sistema penal. Este apenas atuará em determinados casos, de acordo
com a classe social a que pertence o ator do fato, operando uma espécie de eleição de ocorrência e de
infratores. (Natacha Alves, 2018. p. 236)
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Finalmente, é a partir dessa deslegitimação do sistema penal, que o movimento abolicionista vai sustentar
a necessidade de abandono da programação “criminalizante seletiva” e também do controle repressivo na
forma em que é realizado, a fim de que se implementem sistemas alternativos. A ideia é que essa
alternatividade seja capaz de buscar ou oferecer uma solução informal e composição de conflitos7,
mediante uma intervenção das partes envolvidas.
De forma resumida, podemos dizer que os principais argumentos do movimento abolicionista (e por isso
os mais explorados em provas) para extinção do sistema penal são:
➔ Um sistema penal anômico. Se o sistema penal não cumpre as normas penais sua
função preventiva se manifesta;
➔ Sistema Penal é seletivo e estigmatizante;
➔ Sistema penal marginaliza a vítima e, como consequência, coloca-a numa posição
secundária no processo;
➔ A prisão é irracional. Ora, a prisão não cumpre as finalidades a que se propõe, portanto,
só pode ser considerada irracional;
➔ Sistema penal produz dor inútil, de maneira que se as normas penais não são capazes
de cumprir sua função e a execução penal não recupera o desviante, as penas são
perdidas.
Isto posto, a doutrina destaca os representantes deste movimento. Vale esclarecer que o
tema é divergente!!!
7
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 236.
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De outro, Führer e também José César Naves de Lima Júnior, asseveram que o abolicionismo apresente 03
(três) vertentes representadas pelos seus maiores expoentes8, a saber: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen
e Nils Christie.
Perceba que a divergência está localizada na figura de Michael Focault e cuidado para não errar isso em
prova.
Louk era catedrático de Rotterdam, autor de Penas Perdidas – O Sistema penal em questão (1982) ficou
conhecido por tratar o abolicionismo sob uma perspectiva fenomenológica, estabelecendo suas críticas a
partir da realidade do sistema (Natacha Alves, 2018. p. 236).
No abolicionismo pregado por Louk, a palavra de ordem é abolir por completo o sistema penal uma vez
que cabe aos envolvidos resolver seus próprios problemas. José César Naves nos ensina, in verbis:
No abolicionismo de Louk Hulsman, o correto seria abolir completamente o sistema penal, de forma que o
Estado não atuaria mais na solução de situações-problema. Caberia às pessoas envolvidas resolver os próprios
conflitos, pois as leis sociais já seriam suficientes aos homens. Para ele a justiça penal é incontrolável e
causadora de sofrimentos desnecessários, além de discriminatória e lesiva aos direitos dos envolvidos em
conflitos.
Note que Louk parte de uma negativa acerca da existência de uma realidade ontológica do crime,
propondo uma nova abordagem da infração, a forma desvinculada. Significa dizer que a situação-problema
(crime) deve ser desvinculado do Direito Penal.
8
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 157.
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É que o Direito Penal, na ótica de Louk, é por si só um problema. Isso porque é materialmente desigual,
causador de sofrimento e expropriador de direitos dos envolvidos, sobretudo das vítimas. É por isso que
seus discursos são contemplados pela completa abolição.
Essa linha de pensamento destaca o caráter lesivo e discriminatório da Justiça Criminal. Verbera que as
cifras negras da criminalidade, acabam sendo solucionados na informalidade e longe da justiça, concluindo
que a concentração das espécies de resposta no Estado e a violência do sistema penal afastam os meios
alternativos de solução de conflitos, como a compensação, arbitragem e terapia.
Por esse pensar, é sustentada inclusive a necessidade de mudança da própria terminologia penal, de forma
que os crimes sejam tratados como situações problemáticas, e isto porque, ao se atribuir a um fato a
qualidade de crime, estaria sendo excluída previamente todas as outras maneiras ou possibilidades de
pacificação social do conflito, que se vê reduzida a uma só alternativa emanada da estrutura burocrática do
Estado. A transformação conceitual propiciaria também a substituição da lógica punitivista de modo a
descriminalizar determinadas condutas e promover a descarcerização de outras, além de possibilitar no
processo penal meios mais flexíveis de solução de conflitos, à semelhança do que ocorre nas esferas cíveis
e administrativas. (José César Naves de Lima Júnior, 2018. p. 190).
Importante, portanto, é destacar que nessa vertente o abolicionismo vai apresentar duas vertentes, quais
sejam: o abolicionismo institucional e abolicionismo acadêmico.
Em resumo, Lima Júnior (2017. p. 181) apresenta as duas posturas da seguinte forma:
De forma resumida, pode se dizer que para a pacificação do conflito, além da abolição gradual do sistema
penal com a ampla descriminalização e descarceirização, proposta inicialmente, visa também à
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substituição do sistema de justiça criminal por um mecanismo informal e flexível, bem parecido aos da
justiça administrativa ou cível, por exemplo.
Thomas foi professor de sociológica do direito em Oslo, faculdade local, também autor da obra The Politics
Of Abolition (1974), apresentando uma perspectiva marxista do abolicionismo.
Mathiesen vincula a existência do sistema penal à estrutura produtiva capitalista, de modo a enxergá-lo
como mais um instrumento de dominação de classe e, por isso, deveria ser extinto. Ocorre que essa
extinção, a seu ver, deveria ser feita de forma que se abolisse ou reduzisse em quantidade e tamanho as
instituições penitenciárias, chegando a negar a possibilidade de penas alternativas.
A proposta de Thomas concentrava-se na criação de estruturas para uma revolução nas instituições punitivas
que não procurasse propriamente reformar o sistema de penas, mas de mantê-lo aberto a outras medidas,
como o melhoramento das condições de vida, ampliação do regime de visitas, aumento do período das saídas
temporárias, etc.
No entanto, merece atenção o fato de que o plano de fundo é a crença de que as políticas sociais e
descriminalização de drogas irão gradualmente demonstrar a (des)necessidade do sistema penal.
Sugerindo, portanto, a compensação R$$$$$ (financeira) pelo Estado como forma de proteger a vítima.
9
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 192.
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Paulo Bilynskyj, Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
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Merece destaque que foi a partir da política abolicionista de Thomas Mathiesen que ocorreu a
criação da Organização Norueguesa Anti-carcerária, a KRON. Os recursos eram completamente voltados à
abolição do cárcere, negando, inclusive, a possibilidade de penas alternativas.
Isso significa que seus discursos eram assentados na crítica ao sistema penal, mas pelo viés de dor e
sofrimento. Explico.
É que, para Nils, o sistema penal opera mediante a produção de sofrimento e dor, assentando, portanto,
falsas premissas dissociadas na realidade do homem, da sociedade e das formas de controle social da
criminalidade, bem como por estabelecer uma classificação dicotômica entre culpado e inocente destrutiva
dos vínculos sociais horizontais. (Natacha Alves, 2018. p. 240)
A partir disso, a solução proposta por Nils Christie como solução para o delito ou situação-problema é a
criação e implementação de comitês responsáveis por encontrar soluções alternativas, como por
exemplo, a compensação da vítima, a mediação, mas sem falar em imposição de pena. Para Nils, a
imposição de pena não era uma opção. Nas entrelinhas, é possível perceber a defesa de uma justiça
10
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 192.
11
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 239.
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José César Naves (2018. p.193) vai dizer que esse modelo proposto por Nils Christie se distancia das penas
privativas de liberdades, bem como das restritivas, para se aproximar da indenização dos danos, da
informalidade e da participação da vítima na solução do caso.
Outro ponto que merece destaque é o antagonismo doutrinário justificacionista do direito de punir
conferido ao Estado.
É que, se de um lado esse antagonismo busca justificar a pena imposta a quem praticou o delito, a
epistemologia estudada até aqui defende o fim do Direito Penal em virtude da carência de legitimidade,
entendendo que a substituição dele por medidas pedagógicas e por meios de controle social informal
teriam mais efetividade com menos custos para a pessoa humana.
Em sua obra VIGIAR E PUNIR (1975), Foucault problematizou o saber difundido pelo discurso científico da
Criminologia tradicional, responsável pela legitimação do poder punitivo ocidental por meio do falso
discurso humanista ressocializador, bem como rompeu com a noção de sistema punitivo, ao demonstrar
as estruturas capilares de poder - invisibilidade do poder -, sobretudo às relativas ao sistema carcerário
(Carvalho, 2017. p. 246).
Assim, ao analisar a forma com que se aplicavam as sanções criminais, Foucault ofereceu vasto material
crítico para que outros pensadores pudessem desenvolver uma política alternativa a essa espécie de
restrição da liberdade, uma vez que os presídios eram vistos apenas como estruturas voltadas para
encarcerar e sem nenhum viés ressocializador. A forma precisa e cruel com que Foucault expôs as
entranhas do sistema carcerário fez com que houvesse uma revisitação das ideias punitivas e novas
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concepções foram pensadas, dando ensejo até mesmo para ideias mais liberais, que podem ser chamadas
de abolicionistas12.
Além disso, frente à alusão direta de teses que vão ao encontro do abolicionismo, destacou-se a
expropriação dos conflitos pelo poder quando da formação dos Estados nacionais, negando o modelo de
uma instância superior decisória que se sobreponha ao litigante.
O tema em provas
(FCC / DPE SP Defensor Público – 2015) “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os
crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem
produzir a delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos
perigosa − talvez até utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente
marginalizado mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito
patologizado”.
12
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 39.
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O trecho acima, extraído de “Vigiar e punir”, sintetiza uma importante conclusão de Michel
Foucault decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar
moderna. Para o autor, a prisão permite
Gabarito: D
O tema em provas
(FCC/ DPE SP Defensor Público – 2013) “Levado pela onipresença dos dispositivos de
disciplina, apoiando-se em todas as aparelhagens carcerárias, este poder se tornou uma das
funções mais importantes de nossa sociedade. Nela há juízes da normalidade em toda parte.
Estamos na sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘assistente
social’-juiz; todos fazem reinar a universalidade do normativo; e cada um no ponto em que se
encontra, aí submete o corpo, os gestos, os comportamentos, as condutas, as aptidões, os
desempenhos”.
No trecho acima, extraído da obra Vigiar e punir, Michel Foucault refere-se ao tipo de poder
cujo grande apoio, na sociedade moderna, foi a rede carcerária, em suas formas concentradas
ou disseminadas, com seus sistemas de inserção, distribuição, vigilância, observação. Este
poder é denominado pelo filósofo de poder:
a. Totalitário
b. Total
c. Judiciário
d. massificador
e. normalizador
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Gabarito: E
Em síntese, são as palavras chaves que precisam ser lembradas por vocês no dia da prova:
• Perspectiva • Perspectiva
fenomenológica Marxista
Louk Thomas
Hulsman Mathiesen
Michel Nils
Foucault Christie
• Perspectiva • Perspetiva
Estruturalista Fenomenológica-
historicista
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2.2 – MINIMALISMO
Se de um lado o abolicionismo prega a (des)legitimização do sistema penal, propondo, como o próprio
nome sugere uma intervenção mínima do Direito Penal, de outro lado, o movimento minimalista, o Direito
Penal deve procurar intervir somente em situações excepcionais e relevantes para a sociedade 13, aqui, fala-
se então última ratio legis do Direito Penal.
Noutras palavras significa que o Direito Penal pode atuar, mas tão somente naqueles casos em que
inexistam outros meios ou recursos para a manutenção da ordem jurídica do Estado. Caso contrário, na
visão minimalista, tornar-se-ia um instrumento de graves injustiças, punindo quem deveria proteger, além
de contribuir, de certa forma, para impunidade ao abarrotar o judiciário com processos de somenos
importância mediante uma prevenção e retribucionismo flagrantemente exagerados 14.
2
Atualmente, considera-se esse movimento uma forma atenuada de abolicionismo.
Zaffaroni chega a justificar que o movimento só existe como uma etapa ou fase intermediária entre o
Direito Penal máximo – movimento lei e ordem – e o abolicionismo, ou seja, uma espécie de transição
entre dois extremos.
O tema em provas
a. Certo
b. Errado
Gabarito: Errado
13
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 195.
14
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 196.
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Vale frisar, foi um movimento que cresceu, fortalecendo-se após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a
consolidação do Estado Democrático de Direito, do liberalismo e da filosofia humana.
O minimalismo consiste num movimento que procura atribuir ao Direito Penal apenas
a tutela de bens jurídicos relevantes, quer dizer, indispensáveis
0 ao convívio harmonioso e em sociedade
(José César Naves, 2018. p. 196). Isso significa que a base desse movimento é alicerçada em princípios, cujo
destaque basilar é claramente o princípio da intervenção mínima, do qual são corolários vários outros
princípios, como o da fragmentariedade e ofensividade, por exemplo.
Um princípio de direito representa o mandamento nuclear de um sistema, portanto, sua ofensa é muito mais
grave do que a perpetrada isoladamente contra um determinado dispositivo legal, pois a lesão atinge o
ordenamento jurídico como um todo, e não apenas uma parte.
Partindo-se dessa lógica, é imprescindível a análise de alguns dos princípios que representam a base do
Direito Penal mínimo visando sua adequada compreensão.
15
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 196.
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Legalidade
Intervenção
Mínima
Subsidiariedade
Princípios do
minimalismo
Fragmentariedade
Adequeção social
Dignidade da
pessoa humana
5
Lesividade
Insignificância
Também conhecido como princípio da reserva legal, está previsto no art. 5ª da Constituição Federal, e
ainda no art. 1º do Código Penal, in verbis:
Em reforço:
Anterioridade da Lei
Art. 1º - CP: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Cleber Masson (2017, p. 24) vai nos dizer que este princípio preceitua, basicamente, a exclusividade da lei
para a criação de delitos e contravenções penais, possuindo indiscutível dimensão democrática, pois revela
a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso Nacional, pela opção legislativa no âmbito criminal. De
fato, não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal: nullum crime nulla poena sine
lege.
Isso significa que o princípio da reserva legal possui dois fundamentos básicos, sendo um de natureza
jurídica e outro de natureza política. O primeiro é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica,
por parte do legislador, a determinação precisa, ainda que mínima do conteúdo do tipo penal e da pena a
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Aula 04
ser aplicada, bem como, da parte do juiz na máxima vinculação ao mandamento legal, inclusive apreciação
de benefícios16.
Para o STJ17:
O princípio da reserva legal atua como expressiva limitação constitucional ao aplicador judicial da lei, cuja
competência jurisdicional, por tal razão, não se reveste de idoneidade suficiente para que lhe permita a
ordem jurídica ao ponto de conceder benefícios proibidos pela norma vigente, sob pena de incidir em
domínio reservado ao âmbito de atuação do Poder Legislativo.
Assim, a natureza política é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu
poder punitivo, enquadrando-se entre os direitos fundamentais de 1ª geração.
Em complemento, se é que precisamos, significa consistência numa verdadeira garantia para qualquer
d que manifesta em 04 (quatro) dimensões, a saber:
cidadão, à medida que limita o jus puniendi do Estado,
16
MASSON, Cleber. Direito Penal - parte geral. 11ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. Pg. 10.
17
HC 92.010/ES, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª. Turma. J. 21.02.2008
18
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 244.
19
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 234.
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Não há crime sem lei estrita. A competência para criar e cominar penas é do Poder legislativo,
por meio de lei, não podendo outros poderes (Executivo e Judiciário) fazê-lo. É vedado o
emprego da analogia in malan partem, isto é, para criar crimes ou agravar penas20.
Art. 8º. A
lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido
senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Surge aqui o princípio da intervenção mínima ou, como chamado por outra parte da doutrina, princípio da
necessidade.
A afirmação é de que é legitima a intervenção penal, mas apenas quando a criminalização de um fato se
constitui meio indispensável para a proteção de determinado bem ou interesse, não podendo ser tutelado
por outros ramos do ordenamento jurídico. (Cleber Masson, 2017. P. 52)
Em reforço, o STJ22:
A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decorrência
disso, a intervenção penal deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais
relevantes e em casos de lesões de maior gravidade.
20
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 244.
21
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 245.
22
HC 50.863/PE, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 6ª. Turma, j. 04.04.2006.
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Finalmente, vale alertar que, embora o princípio da intervenção mínima seja usado para amparar a
corrente do minimalismo, a compreensão daquilo que se entende por intervenção mínima varia de acordo
com as correntes penais e com a interpretação dos operadores do direito. Nesse sentido, o STJ 23:
2.2.1.2.1 – Fragmentariedade
O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, como por exemplo,
a vida, liberdade, patrimônio, dignidade sexual etc. Assim, apenas devem configurar infrações penais os
ilícitos que atentem contra valores fundamentais para a manutenção da sociedade. Conclui-se, assim, que
o Direito Penal é a última dimensão de proteção do bem jurídico. Diz-se que o Direito Penal é fragmentário,
pois, dentro do universo de ilicitude, seleciona os comportamentos (fragmentos) lesivos a bens jurídicos de
suma importância, os quais constituirão infrações penais24.
O Direito Penal deve atuar de forma subsidiária, como ultima ratio, isto é, quando insuficientes as demais
formas de controle social – formais ou informais – mais brandas e, portanto, menos invasivas da liberdade
individual.
23
HC 92.463/RS, rel. Min. Celso de Mello, 2ª. Turma, j. 16.12.2007.
24
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 246.
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De acordo com esse princípio, que funciona como causa supralegal de exclusão da tipicidade pela
ausência da tipicidade material, não pode ser considerado criminoso o comportamento humano que,
embora tipificado em lei, não afronta o sentimento social de justiça. É o caso, dos trotes acadêmicos
moderados e da circuncisão realizada pelos judeus. (Masson, 2017. p. 51)
É incabível a aplicação do princípio da adequação social, segundo o qual, dada a natureza subsidiária e
fragmentária do direito penal, não se pode reputar como criminosa uma ação ou uma omissão aceita e
tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo penal incriminador.
Assim sendo, a partir desse princípio, pode-se concluir que não se justifica incriminar condutas toleradas
pela sociedade e que não atentem contra bens ou quaisquer interesses relevantes.
Trata-se de princípio consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, do qual é consectária a
vedação da pena de morte, de caráter perpétuo, de trabalho forçado e desumana ou cruel a imposição de
respeito à integridade física e moral do preso (Natacha Alves, 2018. p. 244).
Traduz a ideia de que não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de
lesão ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência de delimitação do Direito Penal, tanto
em nível legislativo como no âmbito jurisdicional (Masson, 2017. p. 59).
25
RHC 60.611/DF, rel. Min. Rogério Schuetti Cruz, 6ª. Turma, j. 15.09.2015
26
PALAZZO, Francesco C. Valores constitucionais e direito penal. Trad. Gérson Pereira dos Santos.
Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 80
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Em síntese, pode-se dizer que 04 (quatro) são as funções desse princípio, apontadas pela
doutrina majoritária, a saber:
Trata-se de um princípio idealizado por Roxin, pelo qual, para que haja uma infração penal, é necessário
que exista lesão grave, efetiva ou potencial, ao bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Em caso
de lesão ínfima, exclui-se a tipicidade material da conduta, passando a ser considerada fato atípico (STF, HC
nº 84.412/SP, Rel. Min. Celso de Mello, in Dj 18/11/2004).
Nesse ínterim, vale destacar que a jurisprudência brasileira apresenta os seguintes requisitos para o
reconhecimento da incidência do princípio da insignificância:
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Finalmente, convém destacar o princípio da culpabilidade, pelo qual não é possível uma responsabilização
de alguém sem culpa – nullum crimen sine culpa. Outrora bastava a produção de resultado para surgir
responsabilidade penal do autor, isto é, uma responsabilidade penal objetiva27.
Guerreiros,
Notem que, a concretização do Direito Penal mínimo pode ser vista tanto na criação como na revogação da
lei ou no momento em que é aplicada, observado os princípios que norteiam essa espécie de movimento
ideológico. Assim, o legislador deverá criteriosamente selecionar os bens jurídicos que pela importância na
sociedade exigem a tutela penal.
Óbvio que, conforme já destacava Hungria, não se pode exigir uma perfeição do texto legal a ponto de
levá-lo ao automatismo, sendo mais importante submetê-lo ao processo exegético para se atingir a sua
real finalidade, in vebis28:
O monopólio legal do direito repressivo não podia oferecer ou assegurar a mirífica perfeição dos textos da lei.
Para reduzir a função do juiz ao puro automatismo na aplicação literal deles. Mesmo os textos aparentemente
mais claros não estão isentos da necessidade de explicação, pois seu verdadeiro alcance pode ficar aquém ou
além das letras [...] não foi reservado ao legislador a condição impecável justeza da expressão [...] A lei, por
mais cuidada na forma e no fundo, dificilmente se exime à diversidade de entendimento. Nem é preocupação
27
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 200.
28
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Vol. I. Arts. 1º a 27º. São Paulo: Forense, 1949,
p. 47-48-49.
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constante na fatura das leis, e de sua escrupulosa correção [...] como toda norma jurídica, a norma penal não
pode prescindir do processo exegético, tendente a explicar-lhe o verdadeiro sentido, o juto pensamento, a real
vontade, a exata razão finalística, quase nunca devidamente expressos com todas as letras.
O tema em provas
II – KARL BINDING (1841-1920), em sua mais famosa obra “As normas e sua contravenção”,
desenvolve a definição de normas como proibições ou mandatos de ação.
III – A Teoria da Anomia caracteriza-se por ser uma política ativa de prevenção que intenta
tutelar a sociedade, protegendo também o delinquente, pois visaria assegurar-lhe, através de
condições e vias legais, um tratamento apropriado.
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Gabarito: B
2.3 – CORRECIONALISMO
O correcionalismo é abordado por Oswaldo Henrique Duek29, e explica que o alemão Cárlos David Augusto
Röder, no século XIX (precisamente em 1939), postulava a pena com o fim de corrigir a vontade perversa
do criminoso, argumentando ainda que poderia ser o primeiro a defender a reprimenda de duração
indeterminada, quer dizer, condicionada à reforma do delinquente. Conta ainda que Röder pregava a pena
correcional, ou seja, um remédio que atua na esfera psíquica do autor de um delito no intuito de
reestabelecer a efetividade da lei e saúde social. Acreditava, em epítome, que a correção moral do
delinquente e sua reforma interior seriam a base e finalidade de todo o sistema penal.
Como comenta Dorado Montero: “Para Röder, [...] a correção moral, a transformação interna dos criminosos,
é a base e a finalidade exclusiva de toda atividade penal, o nisus formativus de todo o sistema penal. Todavia,
as ideias de Röder só iriam difundir-se, de forma marcante, no final do século XIX, principalmente com as
obras de Concepción Arenal e Pedro Dorado Montero. Diante da crise da pena retributiva, ambos propõem a
imposição de métodos corretivos durante a execução penal, não como objetivo de castigar, mas com objetivo
de recuperar o delinquente e torná-lo útil a sociedade. Na visão desses autores, não há criminosos
incorrigíveis, mas somente não corrigíveis. [...] Para Dorado Montero, o delito nada mais é do que um sintoma
da anormalidade psíquica do infrator, uma prova de seu desequilíbrio moral, que denota a necessidade de um
remédio racional destinado à sua emenda, em seu próprio benefício. Dessa forma, a pedagogia correcional
substituiu o sistema penal puramente repressivo, alicerçado no malum passionais propter malum actionis,
sem nenhuma utilidade para o delinquente ou para a comunidade30.
Exposto isto, podemos afirmar que o movimento do correcionalismo era um movimento ideológico que
considerava o Direito Penal protetor dos delinquentes, onde a pena era tratada como um direito de
recuperação e adaptação, enfim, de caráter eminentemente pedagógico. Frise-se ainda que não havia
delito natural, pois toda espécie de delito era criação artificial da sociedade que selecionava determinados
comportamentos como sendo criminosos.
29
MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p.
114-115.
30
MARQUES, 2008 apud MONTERO, 1973, p. 276.
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Importante destacar que o correcionalismo tem como premissa ideias deterministas. Por isso, parte da
doutrina vai justificar como vertente da Escola Positiva.
Daí porque, nesse contexto, como o proceder desviante está emparelhado a motivos determinantes o
conceito de responsabilidade vai variar, uma vez que a índole caminha para a responsabilidade coletiva ou
difusa, atribuindo-se ao corpo social uma espécie de responsabilidade solidária.
Assim, se a pena está desatrelada dos fins retribucionistas, deve ser aplicada apenas como meio de
defesa social. Sob essa ótica, serve para prevenir perigos que se atribuem ao delinquente através de sua
recuperação. Logo, significa dizer:
Este raciocínio permite-nos perceber, como plano de fundo, a unificação. Significa um modelo de Direito
Penal em que poder judiciário, polícias e demais órgãos de controle social fossem unificados a fim de
constituir um corpo de polícia social31.
A finalidade?
Bem, a finalidade dessa composição seria promover o bem-estar da sociedade tratando o delinquente
como uma pessoa que necessita de ajuda. A partir de sua adaptação deixaria de constituir elemento de
perturbação e perigo a toda coletividade (José César Naves, 2018. p. 202).
31
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 203.
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2.4 – GARANTISMO
Daí o parêntese.
O iluminismo pode ser definido como um movimento intelectual burguês que vigorou na
Europa durante o século XVIII, e se caracterizava pela crítica generalizada ao antigo regime
absolutista monárquico – “ao rei todo poder soberano”; tendo como principais defensores
Montesquieu, Voltaire e Rousseau.
Noutro giro, o liberalismo se apresenta em uma linha de pensamento do iluminismo, tendo
como base a não intervenção do Estado nas relações privadas, no mercado, enfim, defendia o
direito de propriedade, a liberdade individual e a igualdade perante o direito. John Locke, Adam
Smitch, e David Ricardo, dentre outros são expoentes do liberalismo econômico que pode meio
do Laissez-faire, Laissez passer; buscava criar uma ordem espontânea e por meio dela
promover o bem-estar social.32
Fechado o parêntese.
Daí porque, José Naves (2017. p. 204) vai dizer que, em virtude desses movimentos e por um contexto
paramentado pelas doutrinas do contratualismo, separação dos poderes, supremacia da lei, positivismo
jurídico e utilitarismo penal, observava-se que não havia sentido unívoco e homogêneo entre tais
32
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 204.
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princípios, tanto que poderiam assumir um papel garantista ou não, revelando certa ambivalência. Naves
cita ainda o exemplo citado por Ferrajoli que em seu manual Direito e razão: teoria do garantismo penal
vai dizer que, se o positivismo encontra-se embasado no princípio da legalidade estrita, poderia ainda
sustentar modelos penais absolutistas em que o poder normativo do soberano não estaria sujeito a limites.
O utilitarismo penal poderia conceber a pena como o último recurso necessário ao enfrentamento da
criminalidade, isto é, a mínima aflição necessária, ou concebê-la sob a ótica antigarantista da prevenção
especial com vistas à máxima segurança possível. Distante dessa ambivalência, esses princípios, da maneira
como foram consolidados em textos constitucionais, formaram um sistema harmonioso e unitário que no
modelo garantista irá identificar o proceder desviante no intuito de assegurar a limitação do jus puniendi
do Estado e proteger a pessoa humana contra abusos e arbitrariedades de toda a ordem.
O garantismo busca o equilíbrio, ou seja, nem o excesso e nem a insuficiência da atuação estatal. Deve
proteger os bens jurídicos e os direitos constitucionalmente assegurados, mas de modo que a resposta ao
crime seja suficiente.
De caráter humanista e fundamentada no positivismo criminológico tem como expoente Adolphe Prins e o
professor genovês Pilippo Gramática. Aquele autor da Obra Defesa Social e as transformações do Direito
Penal, de 1910, concebe um direito penal humanista que deve proteger a pessoa humana, a vida e o
patrimônio. [...] Diante da impossibilidade de se fixar a pena proporcional a lesão causada pelo direito, que a
mesma seja estabelecida conforme a periculosidade do delinquente. As pessoas menos abastadas deveriam
ser protegidas pela Nova Defesa Social, sendo inadmissível relegá-las a mercê da própria sorte nas mãos de
criminosos. Alerta para o perigo de fomentar a transformação destas pessoas em delinquentes.
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Com o passar do tempo, já no período pós-guerra, surge Filippo Gramático (1901-1979) com
a chama Defesa Social Radical. Um pensamento da Nova Defesa Social que prega a extinção do Direito
Penal, a ser substituído por um direito de defesa a sociedade.
As normas não passariam de meras convenções emanadas da coletividade por intermédio do estado, e por
isso, teriam caráter relativo. A prática de delitos, por conseguinte, não deveria ser punida, mas sujeita a
tentativa de adaptação do delinquente às normas sociais. Nesse particular, a medida de defesa social que não
comporta tempo determinado visa substituir as penas e medidas de segurança, e pode ser aplicada antes ou
depois da prática do delito. Por meio da precaução e da cura, tem como finalidade ressocializar o delinquente.
Vale destacar que diante da indefinição conceitual acerca da antissocialidade, a teoria de Filippo Gramática
sofreu duras críticas, pois para estes, a teoria era suscetível de manipulações.
O Tema em provas
33
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 226.
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d. Criminologia Crítica
e. Lei e Ordem.
Gabarito: C
Um pouco mais à frente, precisamente em 1902-1990, uma nova teoria ganha destaque. Encabeçada pelo
jurista Marc Ancel, professor e magistrado da Corte de Cassação Francesa, defendia para Nova Defesa
Social os traços da escola clássica na medida em que defendia o livre-arbítrio, elemento crucial da
responsabilidade individual. Ancel acreditava em outros meios de defesa e que esses deveriam
compreender não apenas as medidas contra o delinquente, mas também contra todos aqueles que
estivessem na iminência de praticar um delito.
Guerreiros,
O Tema em provas
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A "Nova Defesa Social", inspirada na obra de Marc Ancel, foi um movimento extremista,
caracterizado pela defesa de um corpo de doutrina estável, com uma programação acrítica.
a. Verdadeiro
b. Falso
Gabarito: Falso
[...] ressalta-se o Movimento da Lei e Ordem em que, no mesmo raciocínio da Política de Tolerância Zero e da
teoria das janelas quebradas, apregoa a aplicação implacável da lei a qualquer conduta ilícita com o fim de
manter a ordem social. Sem lei haverá uma completa anarquia da sociedade, em que cada um fará aquilo que
bem entender, pois não deve submissão a nenhum regramento jurídico. Com a ideia rígida de a lei ser
cumprida sempre, sem tergiversações, o sentimento de impunidade e desordem desaparece, fazendo com que
todos pensem em obedecer aos preceitos legais, pois essa é a coisa certa a fazer. Sob esse enfoque, não se
analisa se a lei é boa ou ruim, mas sim que ela deve ser aplicada por ser ela votada legitimamente para reger
as condutas sociais.
Quanto aos acontecimentos, podemos destacar o atentado de 11 de setembro de 2001, em que as torres
gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque – EUA, deixaram a população atônita, provocando uma
sensação de insegurança a ponto de exigir mudanças profundas no Direito para enfrentamento do
terrorismo, por exemplo.
Como reforço, a título de exemplo ainda podemos citar a, relativamente recente, eleição do republicano
Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, sempre laureado na ideia de combater o Estado
Islâmico, por este criar o caos e a desordem mundial.
Ademais, não podíamos ficar de fora. Aqui no Brasil, demos uma guinada para esse tipo de pensamento
eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República. É que a escolha, por si só, prega o pensamento
militarizado com base na hierarquia, ordem e lei. É bom deixar claro que, não se está aqui criticando ou
elogiando quaisquer das candidaturas, mas tão somente demonstrando as recentes adoções do
Movimento da Lei e Ordem em várias frentes políticas.
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É importante destacar que alguns autores denominam esse tipo de teoria (janelas
quebradas) ou política (Tolerância Zero e Lei e Ordem) implementada com base no Direito Penal Máximo,
de Neorretribucionismo ou Realismo de Direita, uma vez que se confere ao sistema penal a
responsabilidade em fazer com que o meio social fique em paz, usando-se da força e da coerção, pouco
importando a pessoa do criminoso. Em outras palavras, o que se prega é a pura concepção de que a
prevenção geral solucionará todos os problemas com o temor iminente de uma pena (Gonzaga, 2018.
p.69).
[...] sustenta que os crimes mais graves devem receber uma resposta exemplar da sociedade, devendo haver a
ampliação das medidas cautelarias detentivas, bem como impedimento da flexibilização do cumprimento da
pena privativa de liberdade e na fase de execução penal mediante a redução do poder discricionário do juízo.
Daí porque, chamamos de “norma para inglês ver”, já que o que não se levou em consideração é que boa
parte da população não atua com base no medo, mas sim no utilitarismo que a infração penal pode
fornecer.
3 – TEMAS ESPECIAIS
Guerreiro,
A partir de algumas situações trágicas, como no caso das Torres Gêmeas citada no capítulo anterior é que
movimentos que tratam o suposto terrorista como um inimigo da sociedade (por conta disso, ele não
deveria ser tratado como pessoa, mas como coisa), vão surgindo.
Esse tipo de pensamento recebe da doutrina a nomenclatura de pensamento jusfilosófico, pois revela
traços de um Direito Penal do inimigo.
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A doutrina clássica subdivide essa tendência em 03 (três) espécies que, de acordo com
ela, tem capacidade de ilustrar a essência do movimento, além de permitir sua identificação com o Direito
Penal do autor, a saber:
Perceba que, por esse pensar, o Movimento Lei e Ordem, a Tolerância Zero, bem como o Estado de Polícia
são subespécies da tendência securitária e, como disse Lima Júnior (2018. p. 230), parecem se completar
num gradualismo fenomenológico de ataque à criminalidade através de determinados expedientes ou
medidas que possivelmente comprometem direitos e garantias fundamentais. Falaremos sobre eles em
tópico específico.
Noutro giro, pode-se dizer que a Tendência Justicialista dá-se pelo aumento dos poderes do juiz, em
detrimento dos demais poderes e cidadãos35.
Quanto à Tendência Belicista caracteriza-se pela supressão de direitos e pela garantia fundamentais,
ensejando a despersonalização do indivíduo36.
34
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
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35
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Pg. 256.
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Por fim, importante esclarecer que, em todas essas tendências, a influência do sensacionalismo midiático
sobre a opinião pública, com disseminação do medo e discurso de impunidade, a justificar a expansão do
sistema penal e adoção de medidas próprias do denominado Direito penal do autor no combate à
criminalidade e aos criminosos.
Movimento de Lei e Ordem: Baseia-se no Direito Penal máximo para proteger os bens jurídicos por meio
de penas severas. Não é descabido apontar a criação das normas penais incriminadoras e penas
acentuadas como solução para a prevenção e reprovação do conflito criminal, especialmente quando a
legislação em vigor não conseguir atingir estas finalidades. Nesse panorama, a polícia assume papel
decisivo na persecução penal por se apresentar nesse contexto como a principal instituição garantidora dos
bens jurídicos tutelados, prendendo em flagrante os supostos autores de delitos ao custo da relativização
de liberdades e garantias individuais37.
O enfoque da Política de Tolerância Zero é o de que todas as condutas contrárias ao ordenamento jurídico,
por menor que sejam, devem ser punidas, sob pena de crimes básicos como de furto e uso de drogas
eclodirem em crimes de roubo e de tráfico de drogas38.
Noutras palavras é dizer que ao menor sinal de prática criminosa, como um simples furto ou uso de
maconha, a ordem era prender e punir, de forma a impedir o encorajamento de outros crimes mais graves.
36
OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018.
Pg. 256.
37
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm, 2018. Pg. 230.
38
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 68.
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Corolário do Movimento Lei e Ordem, a Tolerância Zero Defende uma atuação incisiva da Polícia contra a
pequena criminalidade no intuito de evitar seu crescimento, pois a perda do controle da situação pelo
Estado poderia gerar impunidade e insegurança. Para que isso seja possível, o Estado, por intermédio do
Poder Legislativo, aprova leis criminalizando condutas a princípio sem a nocividade que justifique a
incidência do Direito Penal. Cite-se ainda que o Estado de Polícia como vertente securitária, por meio do
qual o poder e sua vontade apoiam-se na Polícia como instituição e atividade. O Estado policialesco posta-
se de forma a perseguir uma segurança cognitiva do corpo social, tão contaminado por medos
disseminados pela imprensa sensacionalista que flexibiliza direitos e garantias em favor de uma atuação
eficaz. (Lima Júnior, 2018. p. 230 - 231)
A Teoria foi exposta criticamente com base em um conceito de inimigo desenvolvido por Günther Jakobs,
durante uma palestra em Frankfurt, na Alemanha, no ano de 1985, onde ele alertava para os riscos de sua
adoção. Em 1999, Jakobs já começa a tratá-la de uma maneira mais enérgica, sendo desenvolvida nos
moldes do que ele vem a defender como a “Teoria do Direito Penal do Inimigo”. Tais mudanças no
pensamento do filósofo alemão refletem-se com a necessidade da criação de “leis de combate” para os
efeitos criados após a queda do comunismo.
[...] acerca do Direito Penal do Inimigo, como teoria capaz de restabelecer o equilíbrio sistêmico. Com viés
extremamente punitivo e sem observância das garantias processuais, o Direito Penal do Inimigo almeja punir
aquele que viola as expectativas sociais e põe em risco toda a coletividade. O inimigo é aquele que não
respeita o Estado de Direito, praticando condutas criminosas que ameaçam todos os direitos sociais, como a
vida, a segurança pública, a saúde etc. Se assim o for desrespeitando as leis e a Constituição Federal, o
ordenamento jurídico também não deve ser aplicado a ele de forma a tratá-lo igualmente àquele que respeita
todos os direitos e as garantias individuais. Para ter-se uma noção mais precisa da visão de Jakobs, deve ser
levado em consideração o caso do terrorista que não respeita os direitos de outra nação e que mata milhares
de inocentes. Por exemplo, os Estados Unidos da América aplicam claramente a ideia de Direito Penal do
Inimigo para os terroristas que ameaçam diariamente a paz social dos seus cidadãos. Lá foi cunhado o
chamado Ato Patriótico, que permite, entre outras coisas, a interceptação de e-mail e telefones sem nenhuma
autorização judicial, bastando que haja indícios de que o indivíduo esteja conspirando para fazer algum
ataque àquele país.
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Note, portanto, que o inimigo não é sujeito processual e, consequentemente, não pode contar com
quaisquer garantias ou mesmo os direitos a todos conferidos.
Jacobs argumentava que, “embora o tratamento com o inimigo seja a guerra, trata-se de uma guerra
rigorosamente delimitada” em que só se priva o inimigo estritamente necessário para neutralizar seu perigo,
mas se deixa aberta a porta para se retorno ou incorporação, mantendo todos os seus demais direitos. Poder-
se-ia dizer que, assim como propõe encerrar o direito penal num compartimento estanque para salvar o resto
do direito penal (do cidadão), ele também aspira a limitar o caráter de não pessoa do inimigo quanto à
intensidade da despersonalização. Tudo isso coloca como uma limitação aos princípios do Estado de direito,
imposta pela necessidade e em sua estrita medida. Sem dúvida, esta tática de contenção está destinada ao
fracasso, porque não reconhece que para os teóricos – e sobretudo para os práticos – da exceção, esta
sempre invoca uma necessidade que não conhece lei nem limites. Como ninguém pode prever exatamente o
que qualquer um de nós fará no futuro – nem sequer nós mesmos -, a incerteza do futuro mantém em aberto
o juízo de periculosidade até o momento em que tem o poder de decisão deixe de considerá-la inimigo.
Assim, o grau de periculosidade dependerá sempre, na medida em que o poder real o permitir do juízo
subjetivo do individualizador.
Para finalizar, importante destacar que as raízes do Direito Penal do inimigo podem ser encontradas em
várias tendências doutrinárias que surgiram durante o Século XIX. Mas, destaque-se que o cenário mundial
era completamente diferente dos dias de hoje, mas que, por apresentar pontos semelhantes
provavelmente continuam influenciado vários institutos das ciências penais39.
O tema em provas
I – Segundo tal linha de pensamento, o Estado deve manter duas espécies de Direito Penal, o
primeiro voltado para o cidadão e o segundo voltado para o inimigo;
39
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e
ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 235.
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II – Cidadão é quem, mesmo depois do crime, oferece garantias de que se conduzirá como
pessoa que atua com fidelidade ao Direito. Inimigo é quem não oferece garantia, se
afastando de modo permanente do Direito.
III – O Cidadão que pratica um crime será respeitado e contará com todas as garantias
processuais e penais; o inimigo, por não admitir ingressar no estado de cidadania, não pode
contar com as mesmas garantias penais e processuais do cidadão.
IV – Para o cidadão espera-se que ele exteriorize um fato para que incida a reação estatal; em
relação ao inimigo deve ele ser interceptado prontamente, no estágio prévio, em razão de
sua periculosidade.
V – As medidas contra o inimigo olham prioritariamente o que ele fez no passado, sem
influência do que ele poderá representar de perigo no futuro.
Gabarito: A
Guerreiros, finalizamos o nosso conteúdo teórico relacionado à aula de hoje. Abaixo, dispomos nossa
lista de questões para fins de fixação do conteúdo. Não deixe de respondê-la.
Quaisquer dúvidas, estamos à disposição.
RESUMO
Guerreiros,
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o Movimentos
Abolicionista
Louk Hulsman
Thomas Mathiesen
Nils Christie
Correcionalismo
Minimalismo
Garantismo
Nova Defesa Social
Adolphe Prins
Filippo Gramática
Marc Ancel
Movimento Abolicionista
o Conceito
Vertente Pacífica: parte da premissa de que o mal causado pelo sistema penal à sociedade é muito
mais grave que o proporcionado pelo fato que gera sua intervenção.
Vertente radical: vai nos dizer muito sobre o niilismo penal, isso significa discursos de descrença
absoluta ou redução ao nada.
o Bases assentadas
Na teoria do etiquetamento ou Labeling Approach
Comportamentos desviantes seriam produzidos pela própria sociedade.
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Abolir por completo o sistema penal uma vez que cabe aos envolvidos resolver seus
próprios problemas. José César Naves nos ensina, in verbis:
Thomas Mathiesen
Vincula a existência do sistema penal à estrutura produtiva capitalista, de modo a
enxergá-lo como mais um instrumento de dominação de classe e, por isso, deveria ser
extinto. Ocorre que, essa extinção, a seu ver, deveria ser feita de forma que se abolisse ou
reduzisse em quantidade e tamanho as instituições penitenciárias, chegando a negar a
possibilidade de penas alternativas.
Pensamento de Thomas Mathiesen em 03 vetores:
Libertar o corpo social dos meios de comunicação de massa;
Reestabelecimento dos movimentos sociais e;
Restauração do compromisso de pesquisa das intelectualidades em prol
dos interesses do homem comum.
Nils Christie
Pregava uma perspectiva fenomenológica-historicista. Isso significa que seus
discursos eram assentados na crítica ao sistema penal, mas pelo viés de dor e
sofrimento. Explico.
Michael Foucault
Foucault é um, de quatro apontados por Zaffaroni como principais representantes
do movimento penal abolicionista que justifica seu apontamento dizendo que
embora Foucault “não possa ser considerado um abolicionista no sentido dos demais
autores” foi inequivocamente, um abolicionista, por ter produzido, em uma
perspectiva estruturalista, subsídio teórico a este saber contracultural.
Obra: VIGIAR E PUNIR (1975)
Ideia central
Foucault problematizou o saber difundido pelo discurso científico
da criminologia tradicional, responsável pela legitimação do poder
punitivo ocidental por meio do falso discurso humanista
ressocializador, bem rompeu com a noção de sistema punitivo, ao
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Correcionalismo
o Conceito
O correcionalismo é abordado por Oswaldo Henrique Duek, explica que o alemão Cárlos David
Augusto Röder no século XIX (precisamente em 1939), postulava a pena com o fim de corrigir a
vontade perversa do criminoso, argumentando ainda que poderia ser o primeiro a defender a
reprimenda de duração indeterminada, quer dizer, condicionada a reforma do delinquente. Conta
ainda que Röder pregava a pena correcional, ou seja, um remédio que atua na esfera psíquica do
autor de um delito intuito de reestabelecer a efetividade da lei e saúde social. Acreditava, em
epítome, que a correção moral do delinquente e sua reforma interior.
Garantismo
o Conceito
O modelo de movimento garantista, encontra fundamento nos princípios da legalidade estrita,
lesividade, responsabilidade pessoal, presunção de não culpabilidade e contraditório, remetendo-nos,
notadamente, ao iluminismo e liberalismo para justificar sua origem.
Iluminismo
Movimento intelectual burguês que vigorou na Europa durante o século XVIII, e se
caracterizava pela crítica generalizada ao antigo remine absolutista monárquico – “ao rei
todo poder soberano.
Liberalismo
Tem como base a não intervenção do Estado nas relações privadas, no mercado, enfim,
defendia o direito de propriedade, a liberdade individual e a igualdade perante o direito
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tendo como base a não intervenção do Estado nas relações privadas, no mercado, enfim,
defendia o direito de propriedade, a liberdade individual e a igualdade perante o direito.
o Conceito
Trata-se de um movimento de política criminal com a finalidade volta à modernização do direito,
especialmente no que se refere às medidas protetivas.
o Destaques do movimento
Adolphe Prins
Defendia a necessidade de se perquirir a existência concreta da periculosidade individual
do delinquente, e se ela justificaria uma medida de proteção social.
Filippo Gramático
Pregava a extinção do direito penal, a ser substituído por um direito de defesa a
sociedade.
Marc Ancel
Defendia para Nova Defesa Social os traços da escola clássica na medida em que defendia
o livre-arbítrio, elemento crucial da responsabilidade individual. Ancel acreditava em outros
meios de defesas e que esses deveriam compreender não apenas as medas contra o
delinquente, mas também contra todos aqueles que estivessem na iminência de praticar um
o Conceito
[...]ressalta-se o Movimento da Lei e Ordem em que, no mesmo raciocínio da Política de
Tolerância Zero e da teoria das janelas quebradas, apregoa a aplicação implacável da lei a qualquer
conduta ilícita com o fim de manter a ordem social. Sem lei haverá uma completa anarquia da
sociedade, em que cada um fará aquilo que bem entender, pois não deve submissão a nenhum
regramento jurídico. Com a ideia rígida de a lei ser cumprida sempre, sem tergiversações, o
sentimento de impunidade e desordem desaparece, fazendo com que todos pensem em obedecer
aos preceitos legais, pois essa é a coisa certa a fazer. Sob esse enfoque, não se analisa se a lei é boa
ou ruim, mas sim que ela deve ser aplicada por ser ela votada legitimamente para reger as condutas
sociais.
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II - Temas especiais
o Tendências
Securitárias
Movimento Lei e Ordem
Tolerância Zero
Estado de Polícia
Justicialista
Belicista
o Conceito
A tendência securitária está fundamentada na tutela de bens jurídicos por meio do aumento de
poderes materiais da polícia com redução da intervenção direta do Poder Judiciário nas
investigações, sob argumento de que os estados ricos ou de perigosidade existentes no meio social
exigem respostas imediatas, cuja apreciação pelo juiz apenas seria possível em momento ulterior,
justificável pelo periculum in mora e salvaguarda da prova penal.
o Subdivisões
Movimento de Lei e Ordem
Tolerância Zero
Estado de Polícia
Tendência Justicialista
o Conceito
Dá-se pelo aumento dos poderes do juiz, em detrimento dos demais poderes e cidadãos.
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Tendência Belicista
o Conceito
Caracteriza-se pela supressão de direitos e garantia fundamentais, ensejando a despersonalização do
indivíduo
o Conceito
Baseia-se no direito penal máximo para proteger os bens jurídicos por meio de penas severas. Não
é descabido apontar a criação das normas penais incriminadoras e penas acentuadas como solução
para a prevenção e reprovação do conflito criminal, especialmente quando a legislação em vigor não
conseguir atingir estas finalidades. Nesse panorama, a polícia assume papel decisivo na persecução
penal por se apresentar nesse contexto como a principal instituição garantidora dos bens jurídicos
tutelados, prendendo em flagrante os supostos autores de delitos ao custo da relativização de
liberdades e garantias individuais.
Tolerância Zero
o Conceito
O enfoque da Política de Tolerância Zero é o de que todas as condutas contrárias ao ordenamento
jurídico, por menor que sejam, devem ser punidas, sob pena de crimes básicos como de furto e uso de
drogas eclodirem em crimes de roubo e de tráfico de drogas.
Estado de Polícia
o Conceito
Corolário do Movimento Lei e Ordem, a Tolerância Zero Defende uma atuação incisiva da Polícia
contra a pequena criminalidade no intuito de evitar seu crescimento, pois a perda do controle da
situação pelo Estado poderia gerar impunidade e insegurança. Para que isso seja possível, o Estado,
por intermédio do Poder Legislativo, aprova leis criminalizando condutas a princípio sem a
nocividade que justifique a incidência do direito penal. Cite-se ainda que o Estado de Polícia como
vertente securitária, por meio do qual o poder e sua vontade apoiam-se na Polícia como instituição e
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atividade. O Estado policialesco posta-se de forma a perseguir uma segurança cognitiva do corpo
social, tão contaminado por medos disseminados pela imprensa sensacionalista que flexibiliza
direitos, e garantias em favor de uma atuação eficaz.
LEGISLAÇÃO
▪ Direitos Fundamentais
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
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XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local,
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
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XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será
objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei
sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem
aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
==205da2==
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem
como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº
12.527, de 2011)
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
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a) a plenitude de defesa;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento)
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
b) perda de bens;
c) multa;
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
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d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e
o sexo do apenado;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma
da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas
em lei; (Regulamento)
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;
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LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo
fixado na sentença;
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LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania. (Regulamento)
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos
aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261, de 2015, DEC
9.522, de 2018)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão.
Art. 6º - CR/88. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
▪ Princípio da Legalidade
(...)
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
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▪ Anterioridade da Lei
Art. 1º - CP: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
JURISPRUDÊNCIA
▪ Princípio da Reserva Legal
O princípio da reserva legal atua como expressiva limitação constitucional ao aplicador judicial da lei, cuja
competência jurisdicional, por tal razão, não se reveste de idoneidade suficiente para lhe permita a ordem
jurídica ao ponto de conceder benefícios proibidos pela norma vigente, sob pena de incide em domínio
reservado ao âmbito de atuação do Poder Legislativo (HC 92.010/ES, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
5ª. Turma. J. 21.02.2008).
▪ Princípio da Fragmentariedade
A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decorrência
disso, a intervenção penal deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais
relevantes e em casos de lesões de maior gravidade (HC 50.863/PE, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 6ª.
Turma, j. 04.04.2006).
É incabível a aplicação do princípio da adequação social, segundo o qual, dada a natureza subsidiária e
fragmentária do direito penal, não se pode reputar como criminosa uma ação ou uma omissão aceita e
tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo penal incriminador (RHC 60.611/DF,
rel. Min. Rogério Schuetti Cruz, 6ª. Turma, j. 15.09.2015).
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QUESTÕES COMENTADAS
1. (MPE/SC Promotor De Justiça - 2010 ) Julgue os itens a seguir:
I – Sustentando que a prisão poderia se constituir num instrumento de transformação dos indivíduos a ela
submetidos, Michel Foucalt (Vigiar e punir, 1975) a considerou um “mal necessário”.
II – Podemos identificar Enrico Ferri (1856-1929) como o principal expoente da “sociologia criminal”, tendo
através da sua escola definido o trinômio causal do delito (fatores antropológico, social e físico).
III – Segundo a posição de Garófalo (Criminologia, 1885) o delito é fenômeno natural, e não um ente
jurídico, devendo ser estudado precipuamente pela antropologia e pela sociologia criminal.
IV – Lombroso (O homem delinquente, 1876), como estudioso de formação médica, promoveu análises
craniométricas em criminosos, com o objetivo de comprovar uma das bases de sua teoria, qual seja, a
“regressão atávica” do delinquente (retrocesso ao homem primitivo). Seus estudos, despidos da necessária
abordagem científica, tiveram como mérito incontestável o questionamento ao “livre-arbítrio” na apuração
da responsabilidade penal (marco teórico da escola clássica do direito penal).
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Comentários
a) Errada. Todos os incisos estão corretos, pois cada um dos temas foi definido de forma correta com o
pensamento da Criminologia. O inciso I retrata o famoso pensamento de Michel Foucault, em que prisão
deve ser vista com o único meio capaz de impedir que o criminoso ficasse na sociedade livre para o
cometimento de crimes. Tal autor, inclusive, em seu livro Vigiar e punir, demonstrou várias formas de
prisões que deram certo ao longo da História, em especial para aquelas que se utilizaram do chamado
“panóptico” de Bentham, que consiste numa torre de vigicolocada no meio do presídio para poder
visualizar tudo que os detentos estivessem fazendo. Tal modelo é utilizado até os dias de hoje. O inciso III
também está correto, uma vez que cita o nome do autor (Garófalo) que tratou do crime enquanto
fenômeno natural regido pela antropologia e pela sociologia, distanciando-se da ideia de ser meramente
um ente jurídico, como era próprio na Escola Clássica de Cesare Beccaria, que se valia do princípio da
legalidade para cunhar o crime e o criminoso. O inciso V também está correto, pois tal modelo de fato fora
utilizado no estado de Santa Catarina como alternativa aos presídios fixos, valendo-se de unidades móveis
e mais fáceis de serem utilizadas.
b) errada. Conforme explicado acima, todos os itens estão corretos. O inciso II está correto também, uma
vez que Enrico Ferri, apesar de pertencer à Escola Positivista, foi o primeiro autor que incrementou os
estudos da sociologia na análise do fenômeno criminógeno, mantendo-se os fatores físico e antropológico
trabalhados por Lombroso.
e) certa. Todos os itens foram corretamente explicados em cada uma das assertivas acima.
Gabarito: E
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2. (PC/SP Delegado de Polícia – 2011) O efeito criminógeno da grande cidade, valendo-se dos
conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos, é explicado
pela:
c) teoria da anomia.
e) teoria ecológica.
Comentários
a) Errada. A teoria do criminoso nato remonta às ideias de Cesare Lombroso da Escola Positivista, levando-
se em consideração elementos antropológicos na formatação do criminoso.
b) Errada. A teoria da associação diferencial refere-se aos integrantes de um certo grupo que se associam
por causa de elementos de identidade entre eles, mas que são diferentes daqueles outros pertencentes à
sociedade tradicional.
c) Errada. A teoria da anomia está ligada à ausência de normas capazes de reger os comportamentos
humanos de uma dada sociedade.
d) Errada. A teoria do labelling approach relaciona-se ao etiquetamento feito pelos órgãos de controles
sociais formais na forma de atuar contra os comportamentos desviados.
e) Certa. A teoria ecológica trabalha aspectos urbanísticos para aquilatar de forma clara o surgimento do
crime, levando-se em consideração elementos da arquitetura de uma cidade, bem como a sua divisão em
bairros. Como exemplo, a periferia é onde se concentra o maior número de crimes, uma vez que há uma
clara ausência estatal em sua região.
Gabarito: E
a) é classificada como uma das “teorias de conflito” e teve, como autores, Erving Goffman e Howard
Becker.
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b) foi desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland e deu origem à expressão white collar
crimes.
d) iniciou-se com as obras de Émile Durkheim e Robert King Merton e significa ausência de lei.
e) foi desenvolvida por Rudolph Giuliani, também conhecida como “teoria da tolerância zero”.
Comentários
a) Errada. Ela é classificada como teoria do consenso, inexistindo participação dos órgãos de persecução
estatal na imposição de modelos de condutas a serem seguidos.
b) Errada. Edwin Sutherland cunhou a expressão white collar crimes para definir os crimes cometidos por
pessoas da elite, a exemplo dos crimes de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e fraude em licitações, em
contraposição aos chamados blue collar crimes que se relacionam aos crimes cometidos por pessoas de
baixa renda, tais como furtos, roubos e estelionatos.
c) Errada. A teoria da anomia não é atribuída à Escola de Chicago, apesar de ambas serem consideradas
teorias do consenso. Trata-se de temas diversos da Criminologia.
d) Certa. A assertiva definiu corretamente o que vem a ser a anomia, sendo, em última análise ou numa
visão mais literal, a ausência de lei.
e) Errada. O prefeito de Nova Iorque Rudolph Giuliani implementou a teoria da tolerância zero, mas que
não se confunde com a anomia. Aquela teoria está relacionada à ideia de punição de qualquer conduta, por
menor que seja, independentemente do bem jurídico violado.
Gabarito: D
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b) Apresentam dois modelos bem distintos: o tradicional e o moderno, por entender que um tem foco na
punição e recuperação do delinquente, e o outro tem foco na reparação do delito; o primeiro olha para o
delinquente e o segundo, somente para a vítima, não importando a recuperação do delinquente.
c) Estão divididos em dois modelos: o concreto e o abstrato, nos quais os objetivos são comuns, ou seja,
ambos estão focados no sujeito ativo do delito e em como fazer com que ele não volte a delinquir; o
primeiro visa aplicar uma pena privativa de liberdade e o segundo, uma pena pecuniária.
d) São três os modelos teóricos: o moderno, o contemporâneo e o tradicional; o modelo moderno objetiva
tratar a prevenção do delito como um problema social, no qual todos têm responsabilidade na
ressocialização do criminoso; o modelo contemporâneo entende que há necessidade de as penas serem
proporcionais ao bem jurídico protegido, enquanto o modelo tradicional busca no sistema de justiça
criminal (Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e Sistema Penitenciário) a efetividade para a
prevenção do delito.
e) São caracterizados por três modelos, também conhecido como as três velocidades do direito penal, um
direito penal mais “duro” para os crimes mais violentos, um direito penal mais brando, por exemplo, para
os crimes de menor potencial ofensivo e um direito penal intermediário, um meio termo, para os demais
crimes.
Comentários
a) Certa. Os modelos de reação ao crime são os três assinalados na questão. O clássico que se relaciona
com a imposição clássica de um castigo a alguém por meio do Estado, sem preocupar-se com a pessoa da
vítima ou com a ressocialização do delinquente. O ressocializador que já passa a dar atenção para a
reinserção social do agente de um crime, de forma a fazer com que ele volte para a sociedade melhor do
que saiu dela, quando fora preso. O integrador que leva em conta o comportamento do autor de forma a
reparar o dano causado à vítima por meio da conduta criminosa, sendo o Estado mero coadjuvante nesse
tipo de modelo40.
b) Errada. Os modelos citados na assertiva em nada se relacionam com o que a Criminologia trabalha de
forma tradicional.
40
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 176.
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d) Errada. Da mesma forma explicitada anteriormente, tais modelos citados na assertiva inexistem nos
estudos da Criminologia.
e) Errada. As velocidades do Direito Penal em nada se assemelham ao que a Criminologia trabalha nos
modelos de reação ao crime.
Gabarito: A
I. Das construções doutrinárias de Günther Jakobs acerca do “Direito Penal do Inimigo”, extrai-se que
aquele que por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um comportamento
pessoal, por isso não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como inimigo;
II. Uma classificação atual de justiça – levada em consideração na criação de novos métodos de resolução
de conflitos –, que surge como alternativa para que o crime não seja punido de maneira retributiva, mas
que o dano causado seja reparado ou minimizado, é a Justiça Restaurativa;
III. O Direito pátrio acolhe muitas das reinvindicações das minorias mediante edição de normas jurídicas
que visam manter a convivência harmônica do coletivo;
IV. A afirmativa de João Baptista Herkenhoff (in Movimentos Sociais, Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004, p.25) de que “Os movimentos sociais não se submetem aos padrões do Direito estabelecido.
Sobretudo em sociedades, como a brasileira, onde milhões de pessoas estão à margem de qualquer direito,
num estado de permanente negação da Cidadania, os movimentos sociais estão sempre a ´criar direitos´ à
face de uma realidade sociopolítica surda aos apelos de direito e dignidade humana”, reflete o confronto
dos movimentos sociais com a ordem social cristalizada.
Comentários
a) Errada. O inciso I conceituou perfeitamente o que vem a ser o Direito Penal do Inimigo trabalhado por
Günther Jakobs. Por meio dele, o inimigo não deve ser reconhecido como cidadão porque quebrou todas
as expectativas sociais, devendo o sistema penal fazer a sua punição sem preocupar-se com as garantias
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constitucionais para o seu processamento. Ocorre uma supressão de garantias processuais com o fim de
aplicar-se uma pena privativa de liberdade. O inciso II está correto, uma vez que o modelo de reação ao
crime chamado de integrador ou Justiça Restaurativa, de fato pugna pela reparação do dano como forma
de resolver os conflitos sociais envolvendo algum crime. O inciso III também está correto, pois o Direito
busca ouvir também as reivindicações de grupos menores, ainda que seja um meio de fazer valer a ideia de
Direito Penal simbólico (atender a anseios sociais momentâneos e fugazes). O inciso IV está correto, de tal
forma que a chamada “desobediência civil” constitui uma dessas formas de ir contra aquilo que fora
estabelecido por uma minoria elitizada contra uma maioria que busca a realização de direitos sociais 41.
Gabarito: E
6. (TJ/JUIZ SP – 2007) O meio-termo entre o Direito Penal e o Direito Administrativo, sem pesadas
sanções, mas garantidor mínimo, com eficácia no combate à criminalidade coletiva, segundo
Hassemer, tem a seguinte denominação:
a. Direito de Socialização.
b. Direito de Repressão.
c. Direito de Contenção.
d. Direito da Lei e da Ordem.
e. Direito de Intervenção.
Comentários
A aplicação do Direito Administrativo aos fatos criminais é chamado de administrativização. Neste caso,
busca-se a diminuição das penas criminais em detrimentos de sanções mais rápidas e menos invasivas com
o Direito Administrativo. É a partir desse pensamento que surge a expressão de Direito de Intervenção,
uma expressão típica do Direito Administrativo.
41
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 176.
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Sendo assim, a única alternativa que corresponde ao quanto explicado é a letra E, sendo que as demais não
correspondem ao conceito do enunciado.
Gabarito: E
Comentários
A criminologia é uma ciência autônoma, empírica e interdisciplinar que possui como objeto de estudo, o
crime, o criminoso, a vítima e o comportamento social. A política criminal é ciência independente.
Num primeiro momento, é ela que apresenta críticas, num segundo, apresenta reformas ao Direito Penal
em vigor.
Para Basileu Garcia, a política criminal constitui uma ponte entre a teoria jurídico-penal e a realidade.
Em reforço, Masson vai nos dizer que a política criminal encontra-se intimamente relacionada com a
dogmática, uma vez que na interpretação e aplicação da lei penal interferem critérios de política criminal.
Baseia-se em considerações filosóficas, sociológicas e políticas, e também de oportunidade, em sintonia
com a realidade social, para propor modificações no sistema penal.
Já o direito penal analisa os fatos humanos indesejados, define quais devem ser rotulados como crime ou
contravenção e anuncia penas; Ocupa-se do Crime enquanto norma.
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Gabarito: A
Comentários
ALTERNATIVA A: CORRETA. O bem jurídico realmente tem essa função limitadora, além disso, busca
tutelar aqueles valores mais importantes para a sociedade, sendo um farol para que o legislador
elabore os tipos penais.
ALTERNATIVA B: CORRETA. A política criminal é responsável pela seleção dos bens (ou direitos) que
devem ser tutelados jurídica e penalmente, escolhendo o caminho para efetivar tal tutela.
ALTERNATIVA C: ERRADA. O direito penal tem caráter fragmentário, assim, é impossível a tutela de
todos os bens jurídicos existentes na sociedade, por isso, ele vai proteger apenas os bens mais caros
e importantes, restando para os demais ramos do Direito a tutela daqueles bens menos valiosos.
ALTERNATIVA D: CORRETA. A Criminologia tem por missão estudar os objetos que já discorremos,
além de propor ofertas de boas soluções para que se evite o crescimento da criminalidade.
Gabarito: C
Comentários
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O garantismo busca o equilíbrio, ou seja, nem o excesso e nem a insuficiência da atuação estatal. Deve
proteger os bens jurídicos e os direitos constitucionalmente assegurados, mas de modo que a resposta ao
crime seja suficiente.
Já o abolicionismo representa pelo fim das prisões e do próprio Direito Penal, por exemplo. Por considerá-
los instrumentos de manejo por grupos sociais dominantes para definição das condutas criminosas, seu fim
é medida que se impõe.
Gabarito: CERTO
10. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2019) A política de repressão implementada nos anos 90 pelo
então Prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, orientada pelo chamado “movimento da lei e da
ordem”, é criticada porque resultou no aumento da violência policial e não obteve redução dos
índices de criminalidade.
a. Certo
b. Errado
Comentários
Em Nova York, após a atuação de Rudolph Giuliani (prefeito) e de Willian Bratton (chefe de polícia) com a
“zero tolerance”, os índices de criminalidade caíram 57% em geral e os casos de homicídios caíram 65%, o
que é no mínimo elogiável.
Gabarito: ERRADO
11. (CESPE/TJ-DFT TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS – 2019) Acerca dos pensamentos
criminológicos e das bases históricas, filosóficas e teóricas do direito penal, assinale a opção
correta.
a. O direito penal do inimigo, de Gunther Jakobs, estabelece a proteção da norma jurídica como fator
de proteção social, com recrudescimento das medidas penais com vistas à contenção da violência,
mas garantindo ao inimigo a postura de sujeito de direito, por meio da observância das garantias
constitucionais.
b. O neopunitivismo, como movimento panpenalismo, estabelece baixo nível de seletividade dos fatos
criminosos e de seus autores pelas leis penais e máxima garantia ao cidadão contra a intervenção
excessiva do Estado punitivista.
c. O direito intervencionista oferece soluções satisfatórias para o enfrentamento da criminalidade,
com ampliação do Estado punitivista e imposição de penas mais drásticas na contenção de crimes
de perigo abstrato ou contra bens coletivos ou difusos.
d. O Código Criminal do Império foi criado, em 1830, com vistas ao estabelecimento de um
ordenamento jurídico penal brasileiro próprio, embora não tenha conseguido seu intento liberal,
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Comentários
Alternativa A – INCORRETA. No direito penal do inimigo, este não é sujeito de direitos, não necessita
observar as garantias constitucionais.
Alternativa B - INCORRETA. Enquanto o neopunitivismo trata da punição de chefe de Estado que violou os
direitos humanos, o panpenalismo trata sobre o direito penal máximo, o que reduz os direitos e garantias
fundamentais do cidadão.
Alternativa C – INCORRETA. O intervencionismo realemente se resume em mais penas, mas não é uma
prática que reduz satisfatoriamente a criminalidade.
Alternativa D – CORRETA.
Gabarito: D
12. (UEG/GO DELEGADO DE POLÍCIA – 2018) Em Vigiar e Punir, Michel Foucault (1926-1984) aborda a
transformação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo, dentre cujos aspectos
fundamentais destaca-se:
a. a coexistência entre diversas economias políticas do castigo, mas, fundamentalmente, a mudança
qualitativa que representou substituição do carcerário pelo patibular.
b. o pensamento criminológico centrado na figura do homem delinquente, o que constitui a força
motriz para o surgimento e consolidação da prisão como mecanismo de controle.
c. o cumprimento dos fins declarados da pena de prisão na medida em que separa os espaços sociais
livres de castigo e os que devem ser objeto da repressão estatal.
d. o abandono completo do suplício corporal como tecnologia encarceradora que passa ser utilizada a
partir do século XIX.
e. o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se ergue a sociedade disciplinar.
Comentários
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Em sua obra VIGIAR E PUNIR (1975), Foucault problematizou o saber difundido pelo discurso científico da
Criminologia tradicional, responsável pela legitimação do poder punitivo ocidental por meio do falso
discurso humanista ressocializador, bem como rompeu com a noção de sistema punitivo, ao demonstrar
as estruturas capilares de poder - invisibilidade do poder -, sobretudo às relativas ao sistema carcerário
(Carvalho, 2017. p. 246).
Assim, ao analisar a forma com que se aplicavam as sanções criminais, Foucault ofereceu vasto material
crítico para que outros pensadores pudessem desenvolver uma política alternativa a essa espécie de
restrição da liberdade, uma vez que os presídios eram vistos apenas como estruturas voltadas para
encarcerar e sem nenhum viés ressocializador. A forma precisa e cruel com que Foucault expôs as
entranhas do sistema carcerário fez com que houvesse uma revisitação das ideias punitivas e novas
concepções foram pensadas, dando ensejo até mesmo para ideias mais liberais, que podem ser chamadas
de abolicionistas.
Gabarito: B
Trata-se das funções não declaradas da pena, que ampliam a ameaça punitiva para satisfazer a demanda
social de castigo. A norma penal não se dirige estritamente à sua aplicação, senão que segue encaminhada
aos possíveis eleitores e a opinião pública em geral, para demonstrar que os governantes fazem algo contra
o delito, procurando tranquilizar a sociedade mediante a ideia de uma eficaz atuação preventiva do Estado.
Comentários
O chamado “direito penal simbólico” ou “direito penal de emergência” surge quando a sociedade clama
por segurança pública e o legislador, tentando atender ao clamor acaba criminalizando condutas sem
fundamento criminológico e de política criminal, acabando por ser uma mera ilusão de que o problema
será solucionado.
Gabarito: D
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Comentários
No que tange ao Direito Penal Mínimo, Ferrajoli, enfatiza para a necessidade de tutela das liberdades
individuais em face do arbítrio punitivo estatal. Desse modo, toda vez que sejam incertos ou
indeterminados os pressupostos da responsabilidade penal, esta será afastada.
Por outro lado, para que o Direito Penal seja racional, é imprescindível que suas intervenções sejam
previsíveis, rechaçando-se reações informais violentas. Uma norma de limitação do modelo de direito
penal mínimo é informada pela certeza e pela razão, consequentemente a responsabilidade será afastada
ou atenuada toda vez que subsistir incerteza quanto aos pressupostos cognitivos da pena.
Gabarito: B
15. (FCC/DPE-PR DEFENSOR PÚBLICO – 2017) Com fundamento no ensinamento de Michel Foucault
sobre panoptismo, é correto afirmar:
a. A localização GPS inserida em fotos de pessoas tiradas de celulares juntamente ao reconhecimento
facial automatizado permite um controle de deslocamento constante e invisível dessas pessoas,
porém não é um exemplo de panóptico por não se poder visualizar quem o exerce.
b. A indefinição do ponto de vigilância, de quem vigia e de quem aplicará eventual sanção
normalizadora é considerada uma falha no sistema panóptico e exige correção, por via de
procedimento de exame.
c. Há distinção entre panoptismo e sistema panóptico, sendo que este último apenas pode ser
operado via instâncias disciplinadoras oficiais do Estado, como as escolas e prisões.
d. O monitoramento eletrônico de presos, via colocação de tornozeleiras eletrônicas com SIM Cards, é
exemplo de panoptismo, cuja função de vigilância é exercida com auxílio de um software de
georrastreamento.
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Comentários
O pensamento de Michel Foucault, em que prisão deve ser vista com o único meio capaz de impedir que o
criminoso ficasse na sociedade livre para o cometimento de crimes. Tal autor, inclusive, em seu livro Vigiar
e punir, demonstrou várias formas de prisões que deram certo ao longo da História, em especial para
aquelas que se utilizaram do chamado “panóptico” de Bentham, que consiste numa torre de vigicolocada
no meio do presídio para poder visualizar tudo que os detentos estivessem fazendo. Nos dias de hoje, a
releitura desse modelo é demonstrada pelo monitoramento eletrônico.
Gabarito: D
16. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) Em sua obra "O Novo em Direito e Política", José
Alcebíades de Oliveira Júnior cita interessante trecho da doutrina de Luigi Ferrajoli: "a sujeição do
juiz à lei já não é de fato, como no velho paradigma juspositivista, sujeição à letra da lei, qualquer
que seja o seu significado, mas sim sujeição à lei somente enquanto válida, ou seja, coerente com
a Constituição". A interpretação da frase em destaque nos remete ao conteúdo do modelo
garantista.
a. Certo
b. Errado
Comentários
Ferrajoli, o maior expoente do garantismo penal, em seu manual Direito e razão: teoria do garantismo
penal, diz que, se o positivismo encontra-se embasado no princípio da legalidade estrita, poderia ainda
sustentar modelos penais absolutistas em que o poder normativo do soberano não estaria sujeito a limites.
O utilitarismo penal poderia conceber a pena como o último recurso necessário ao enfrentamento da
criminalidade, isto é, a mínima aflição necessária, ou concebê-la sob a ótica antigarantista da prevenção
especial com vistas à máxima segurança possível. Distante dessa ambivalência, esses princípios, da maneira
como foram consolidados em textos constitucionais, formaram um sistema harmonioso e unitário que no
modelo garantista irá identificar o proceder desviante no intuito de assegurar a limitação do jus puniendi
do Estado e proteger a pessoa humana contra abusos e arbitrariedades de toda a ordem.
Gabarito: CERTO
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17. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) O Conselho Nacional de Justiça, através de seu
Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, publicou no ano de 2014
diagnóstico de pessoas presas no Brasil, posicionando-nos em terceiro lugar no ranking dos dez
países com maior população prisional do mundo, com cômputo das pessoas que se encontram em
prisão domiciliar no Brasil. Outras constatações relevantes e retratadas no referido diagnóstico
foram o considerável déficit de vagas prisionais e o elevado número de mandados de prisão em
aberto.
a. Certo
b. Errado
Comentários
Em junho de 2017, o Ministério da Justiça divulgou os dados referentes ao ano de 2016, onde consta o
crescimento carcerário que de 622.202 pessoas passou a ser de 726.712 pessoas, fazendo com que o Brasil
ultrapassasse a Rússia, alcançando a terceira posição. Com isso, temos:
EUA
China 2.217,00
BRASIL 1.657.812
Rússia 726.712
Gabarito: CERTO
18. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) O minimalismo, enquanto movimento crítico ao sistema
de justiça penal, foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema penal por outras
instâncias de controle social. Em sentido oposto, revelou-se o movimento “Lei e Ordem”, que
reconhecia no direito penal máximo o instrumento primordial à resolução dos problemas que
afligem a sociedade.
a. Certo
b. Errado
Comentários
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O abolicionismo que foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema penal e não o
minimalismo.
O minimalismo defende a limitação da atuação estatal, ou seja, a redução da pena privativa de liberdade
quando possível bem como a substituição por sanções alternativas.
Gabarito: ERRADO
19. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2015) “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os
crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a
delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos perigosa − talvez até
utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginalizado mas
centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado".
O trecho acima, extraído de Vigiar e punir, sintetiza uma importante conclusão de Michel Foucault
decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna. Para o autor, a prisão
permite:
Comentários
Foucault assim diz: “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os crimes deve talvez ser substituído
pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a delinquência, tipo especificado, forma
política ou economicamente menos perigosa - talvez até utilizável- de ilegalidade; produzir os
delinquentes, meio aparentemente marginalizado mas centralmente controlado; produzir o delinquente
como sujeito patologizado. O sucesso da prisão: nas lutas em torno da lei e das ilegalidades, especificar
uma "delinquência". Vimos como o sistema carcerário substituiu o infrator pelo "delinquente". E afixou
também sobre a prática jurídica todo um horizonte de conhecimento possível. Ora, esse processo de
constituição da delinquência-objeto se une à operação política que dissocia as ilegalidades e delas isola a
delinquência. A prisão é o elo desses dois mecanismos; permite-lhes se reforçarem perpetuamente um ao
outro, objetivar a delinquência por trás da infração, consolidar a delinquência no movimento das
ilegalidades. O sucesso é tal que, depois de um século e meio de "fracasso", a prisão continua a existir,
produzindo os mesmos efeitos e que se têm os maiores escrúpulos em derrubá-la”
Gabarito: A
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Comentários
A partir das teorias que visam impedir que o criminoso faça essa violação sistêmica, ou seja, quebre as
expectativas sociais de forma grave e sem consequências maiores, é que surge o conceito de Günther
Jakobs, surge, portanto, o Direito Penal do Inimigo.
[...] acerca do Direito Penal do Inimigo, como teoria capaz de restabelecer o equilíbrio sistêmico. Com viés
extremamente punitivo e sem observância das garantias processuais, o Direito Penal do Inimigo almeja punir
aquele que viola as expectativas sociais e põe em risco toda a coletividade. O inimigo é aquele que não
respeita o Estado de Direito, praticando condutas criminosas que ameaçam todos os direitos sociais, como a
vida, a segurança pública, a saúde etc. Se assim o for desrespeitando as leis e a Constituição Federal, o
ordenamento jurídico também não deve ser aplicado a ele de forma a tratá-lo igualmente àquele que respeita
todos os direitos e as garantias individuais. Para ter-se uma noção mais precisa da visão de Jakobs, deve ser
levado em consideração o caso do terrorista que não respeita os direitos de outra nação e que mata milhares
de inocentes. Por exemplo, os Estados Unidos da América aplicam claramente a ideia de Direito Penal do
Inimigo para os terroristas que ameaçam diariamente a paz social dos seus cidadãos. Lá foi cunhado o
chamado Ato Patriótico, que permite, entre outras coisas, a interceptação de e-mail e telefones sem nenhuma
autorização judicial, bastando que haja indícios de que o indivíduo esteja conspirando para fazer algum
ataque àquele país.
Além disso, a prevenção especial negativa baseia-se na premissa de que o encarceramento do condenado
gera segurança social. E o direito penal do inimigo busca justamente a neutralização do inimigo com a sua
prisão.
Gabarito: A
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21. (VUNESP/SP DESENHISTA TÉCNICO PERICIAL – 2014) A moderna criminologia exige do Estado
Democrático de Direito um controle razoável da criminalidade que, no Brasil, apresenta como
sugestão metodológica eficaz para a pequena e média criminalidade o modelo:
a. de justiça consensual como, por exemplo, a lei dos Juizados Especiais Criminais.
b. da “tolerância zero”, criminalizando toda e qualquer conduta antissocial.
c. do “Direito Penal do Inimigo”, desenvolvido pelo alemão Günther Jakobs.
d. de “recrudescimento da pena” como, por exemplo, o tráfico de drogas ilícitas, de acordo com a Lei
n.º 11.343/06.
e. da utilização do Direito Penal como “prima ratio”, evitando desdobramentos mais graves.
Comentários
A Lei dos Juizados Especiais Criminais enquadra-se no conceito de justiça restaurativa vista em aula
anterior. Nesse modelo busca-se o diálogo entre o agressor e a vítima, ou seja, é um modelo consensual de
política criminal.
Gabarito: A
22. (VUNESP/SP ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL – 2014) Entende-se por cifras negras:
a. as ocorrências criminais não registradas nos órgãos policiais responsáveis, em prejuízo do interesse
da sociedade.
b. somente os delitos praticados pelos criminosos de colarinho branco, em prejuízo da coletividade.
c. os crimes hediondos praticados com violência ou grave ameaça.
d. os crimes de menor potencial ofensivo praticados sem violência ou grave ameaça.
e. apenas os crimes praticados por policiais, que não são apurados, por temor de represália.
Comentários
A expressão cifra negra, cifra também chamada de cifra oculta ou zona escura, dark number ou ciffre noir,
corresponde ao número de crimes não levados ao conhecimento das autoridades públicas.
Gabarito: A
23. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) Para Michel Foucault, em Vigiar e punir, as razões de ser
essenciais da reforma penal no século XVIII, também denominada Reforma Humanista do Direito
penal, são constituir uma nova economia e uma nova tecnologia do poder de:
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a. recuperar.
b. ressocializar.
c. humanizar.
d. punir.
e. descriminalizar.
Comentários
Em sua obra VIGIAR E PUNIR (1975), Foucault problematizou o saber difundido pelo discurso científico da
Criminologia tradicional, responsável pela legitimação do poder punitivo ocidental por meio do falso
discurso humanista ressocializador, bem como rompeu com a noção de sistema punitivo, ao demonstrar
as estruturas capilares de poder - invisibilidade do poder -, sobretudo às relativas ao sistema carcerário
(Carvalho, 2017. p. 246).
Assim, ao analisar a forma com que se aplicavam as sanções criminais, Foucault ofereceu vasto material
crítico para que outros pensadores pudessem desenvolver uma política alternativa a essa espécie de
restrição da liberdade, uma vez que os presídios eram vistos apenas como estruturas voltadas para
encarcerar e sem nenhum viés ressocializador. A forma precisa e cruel com que Foucault expôs as
entranhas do sistema carcerário fez com que houvesse uma revisitação das ideias punitivas e novas
concepções foram pensadas, dando ensejo até mesmo para ideias mais liberais, que podem ser chamadas
de abolicionistas.
Gabarito: D
24. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) “Levado pela onipresença dos dispositivos de disciplina,
apoiando-se em todas as aparelhagens carcerárias, este poder se tornou uma das funções mais
importantes de nossa sociedade. Nela há juízes da normalidade em toda parte. Estamos na
sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘assistente social’-juiz; todos
fazem reinar a universalidade do normativo; e cada um no ponto em que se encontra, aí submete
o corpo, os gestos, os comportamentos, as condutas, as aptidões, os desempenhos”.
No trecho acima, extraído da obra Vigiar e punir, Michel Foucault refere-se ao tipo de poder cujo
grande apoio, na sociedade moderna, foi a rede carcerária, em suas formas concentradas ou
disseminadas, com seus sistemas de inserção, distribuição, vigilância, observação. Este poder é
denominado pelo filósofo de poder;
a. totalitário
b. total.
c. judiciário.
d. massificador.
e. normalizador.
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Comentários
Para Michel Foucault, em sua obra Vigiar e Punir, um dos instrumentos do poder disciplinar é justamente a
punição que concomitantemente condiciona as condutas dos indivíduos, chamando de “sanção
normalizadora”.
Gabarito: E
25. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) “(...) instrumento de legitimação da gestão policial e
judiciária da pobreza que incomoda - a que se vê, a que causa incidentes e desordens no espaço
público, alimentando, por conseguinte, uma difusa sensação de insegurança, ou simplesmente de
incômodo tenaz e de inconveniência -, propagou-se através do globo a uma velocidade
alucinante. E com ela a retórica militar da “guerra” ao crime e da “reconquista” do espaço
público, que assimila os delinquentes (reais ou imaginários), sem-teto, mendigos e outros
marginais a invasores estrangeiros - o que facilita o amálgama com a imigração, sempre rendoso
eleitoralmente.”
a. funcionalismo penal.
b. abolicionismo penal.
c. “tolerância zero”.
d. Escola de Chicago.
e. associação diferencial.
Comentários
À luz da Política de Tolerância Zero todas as condutas contrárias ao ordenamento jurídico, por menor que
sejam, devem ser punidas, sob pena de crimes básicos como de furto e uso de drogas eclodirem em
crimes de roubo e de tráfico de drogas.
Ao que parece, não é exagero afirmar que se trata de uma aplicação nítida do Direito Penal Máximo, em
total contraposição ao chamado Direito Penal Mínimo.
Gabarito: C
26. (VUNESP/SP AGENTE DE POLÍCIA -2013) Os “crimes de colarinho branco” são delitos conhecidos
na Criminologia por:
a. crimes contra a dignidade social.
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Comentários
Também chamado de White-collar crimes, ou cifras de ouro, refere-se a crimes de colarinho branco não
revelados ou não apurados pelo Estado.
Gabarito: E
Comentários
Para Michel Foucault, em sua obra Vigiar e Punir, um dos instrumentos do poder disciplinar é justamente a
punição que concomitantemente condiciona as condutas dos indivíduos, chamando de “sanção
normalizadora”.
Gabarito: B
LISTA DE QUESTÕES
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I – Sustentando que a prisão poderia se constituir num instrumento de transformação dos indivíduos a ela
submetidos, Michel Foucalt (Vigiar e punir, 1975) a considerou um “mal necessário”.
II – Podemos identificar Enrico Ferri (1856-1929) como o principal expoente da “sociologia criminal”, tendo
através da sua escola definido o trinômio causal do delito (fatores antropológico, social e físico).
III – Segundo a posição de Garófalo (Criminologia, 1885) o delito é fenômeno natural, e não um ente
jurídico, devendo ser estudado precipuamente pela antropologia e pela sociologia criminal.
IV – Lombroso (O homem delinquente, 1876), como estudioso de formação médica, promoveu análises
craniométricas em criminosos, com o objetivo de comprovar uma das bases de sua teoria, qual seja, a
“regressão atávica” do delinquente (retrocesso ao homem primitivo). Seus estudos, despidos da necessária
abordagem científica, tiveram como mérito incontestável o questionamento ao “livre-arbítrio” na apuração
da responsabilidade penal (marco teórico da escola clássica do direito penal).
2. (PC/SP Delegado de Polícia – 2011) O efeito criminógeno da grande cidade, valendo-se dos
conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos, é explicado
pela:
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a. é classificada como uma das “teorias de conflito” e teve, como autores, Erving Goffman e Howard
Becker.
b. foi desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland e deu origem à expressão white collar
crimes.
c. surgiu em 1890 com a escola de Chicago e teve o apoio de John Rockefeller.
d. iniciou-se com as obras de Émile Durkheim e Robert King Merton e significa ausência de lei. e) foi
desenvolvida por Rudolph Giuliani, também conhecida como “teoria da tolerância zero”.
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I. Das construções doutrinárias de Günther Jakobs acerca do “Direito Penal do Inimigo”, extrai-se que
aquele que por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um comportamento
pessoal, por isso não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como inimigo;
II. Uma classificação atual de justiça – levada em consideração na criação de novos métodos de resolução
de conflitos –, que surge como alternativa para que o crime não seja punido de maneira retributiva, mas
que o dano causado seja reparado ou minimizado, é a Justiça Restaurativa;
III. O Direito pátrio acolhe muitas das reinvindicações das minorias mediante edição de normas jurídicas
que visam manter a convivência harmônica do coletivo;
IV. A afirmativa de João Baptista Herkenhoff (in Movimentos Sociais, Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004, p.25) de que “Os movimentos sociais não se submetem aos padrões do Direito estabelecido.
Sobretudo em sociedades, como a brasileira, onde milhões de pessoas estão à margem de qualquer direito,
num estado de permanente negação da Cidadania, os movimentos sociais estão sempre a ´criar direitos´ à
face de uma realidade sociopolítica surda aos apelos de direito e dignidade humana”, reflete o confronto
dos movimentos sociais com a ordem social cristalizada.
6. (TJ/JUIZ SP – 2007) O meio-termo entre o Direito Penal e o Direito Administrativo, sem pesadas
sanções, mas garantidor mínimo, com eficácia no combate à criminalidade coletiva, segundo
Hassemer, tem a seguinte denominação:
a. Direito de Socialização.
b. Direito de Repressão.
c. Direito de Contenção.
d. Direito da Lei e da Ordem.
e. Direito de Intervenção.
Comentários
A aplicação do Direito Administrativo aos fatos criminais é chamado de administrativização. Neste caso,
busca-se a diminuição das penas criminais em detrimentos de sanções mais rápidas e menos invasivas com
o Direito Administrativo. É a partir desse pensamento que surge a expressão de Direito de Intervenção,
uma expressão típica do Direito Administrativo.
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Sendo assim, a única alternativa que corresponde ao quanto explicado é a letra E, sendo que as demais não
correspondem ao conceito do enunciado.
Gabarito: E
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10. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2019) A política de repressão implementada nos anos 90 pelo
então Prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, orientada pelo chamado “movimento da lei e da
ordem”, é criticada porque resultou no aumento da violência policial e não obteve redução dos
índices de criminalidade.
a. Certo
b. Errado
11. (CESPE/TJ-DFT TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E REGISTROS – 2019) Acerca dos pensamentos
criminológicos e das bases históricas, filosóficas e teóricas do direito penal, assinale a opção
correta.
a. O direito penal do inimigo, de Gunther Jakobs, estabelece a proteção da norma jurídica como fator
de proteção social, com recrudescimento das medidas penais com vistas à contenção da violência,
mas garantindo ao inimigo a postura de sujeito de direito, por meio da observância das garantias
constitucionais.
b. O neopunitivismo, como movimento panpenalismo, estabelece baixo nível de seletividade dos fatos
criminosos e de seus autores pelas leis penais e máxima garantia ao cidadão contra a intervenção
excessiva do Estado punitivista.
c. O direito intervencionista oferece soluções satisfatórias para o enfrentamento da criminalidade,
com ampliação do Estado punitivista e imposição de penas mais drásticas na contenção de crimes
de perigo abstrato ou contra bens coletivos ou difusos.
d. O Código Criminal do Império foi criado, em 1830, com vistas ao estabelecimento de um
ordenamento jurídico penal brasileiro próprio, embora não tenha conseguido seu intento liberal,
diante de obstáculos socioeconômicos enraizados na sociedade agrária, escravista e patriarcal
existente à época.
e. A criminalização primária, consistente no poder punitivo subjetivo exercido pelo Estado contra
pessoas determinadas, caracteriza-se pela seletividade e vulnerabilidade, com fundamento na
teoria do etiquetamento.
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12. (UEG/GO DELEGADO DE POLÍCIA – 2018) Em Vigiar e Punir, Michel Foucault (1926-1984) aborda a
transformação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo, dentre cujos aspectos
fundamentais destaca-se:
a. a coexistência entre diversas economias políticas do castigo, mas, fundamentalmente, a mudança
qualitativa que representou substituição do carcerário pelo patibular.
b. o pensamento criminológico centrado na figura do homem delinquente, o que constitui a força
motriz para o surgimento e consolidação da prisão como mecanismo de controle.
c. o cumprimento dos fins declarados da pena de prisão na medida em que separa os espaços sociais
livres de castigo e os que devem ser objeto da repressão estatal.
d. o abandono completo do suplício corporal como tecnologia encarceradora que passa ser utilizada a
partir do século XIX.
e. o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se ergue a sociedade disciplinar.
Trata-se das funções não declaradas da pena, que ampliam a ameaça punitiva para satisfazer a demanda
social de castigo. A norma penal não se dirige estritamente à sua aplicação, senão que segue encaminhada
aos possíveis eleitores e a opinião pública em geral, para demonstrar que os governantes fazem algo contra
o delito, procurando tranquilizar a sociedade mediante a ideia de uma eficaz atuação preventiva do Estado.
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15. (FCC/DPE-PR DEFENSOR PÚBLICO – 2017) Com fundamento no ensinamento de Michel Foucault
sobre panoptismo, é correto afirmar:
a. A localização GPS inserida em fotos de pessoas tiradas de celulares juntamente ao reconhecimento
facial automatizado permite um controle de deslocamento constante e invisível dessas pessoas,
porém não é um exemplo de panóptico por não se poder visualizar quem o exerce.
b. A indefinição do ponto de vigilância, de quem vigia e de quem aplicará eventual sanção
normalizadora é considerada uma falha no sistema panóptico e exige correção, por via de
procedimento de exame.
c. Há distinção entre panoptismo e sistema panóptico, sendo que este último apenas pode ser
operado via instâncias disciplinadoras oficiais do Estado, como as escolas e prisões.
d. O monitoramento eletrônico de presos, via colocação de tornozeleiras eletrônicas com SIM Cards, é
exemplo de panoptismo, cuja função de vigilância é exercida com auxílio de um software de
georrastreamento.
e. A arquitetura panóptica refere-se unicamente a estruturas físicas de edifícios (prisões, escolas,
hospitais etc.), não se cogitando que sistemas de informação sejam arquitetados para operar em
panoptismo.
16. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) Em sua obra "O Novo em Direito e Política", José
Alcebíades de Oliveira Júnior cita interessante trecho da doutrina de Luigi Ferrajoli: "a sujeição do
juiz à lei já não é de fato, como no velho paradigma juspositivista, sujeição à letra da lei, qualquer
que seja o seu significado, mas sim sujeição à lei somente enquanto válida, ou seja, coerente com
a Constituição". A interpretação da frase em destaque nos remete ao conteúdo do modelo
garantista.
a. Certo
b. Errado
17. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) O Conselho Nacional de Justiça, através de seu
Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, publicou no ano de 2014
diagnóstico de pessoas presas no Brasil, posicionando-nos em terceiro lugar no ranking dos dez
países com maior população prisional do mundo, com cômputo das pessoas que se encontram em
prisão domiciliar no Brasil. Outras constatações relevantes e retratadas no referido diagnóstico
foram o considerável déficit de vagas prisionais e o elevado número de mandados de prisão em
aberto.
a. Certo
b. Errado
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18. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA – 2016) O minimalismo, enquanto movimento crítico ao sistema
de justiça penal, foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema penal por outras
instâncias de controle social. Em sentido oposto, revelou-se o movimento “Lei e Ordem”, que
reconhecia no direito penal máximo o instrumento primordial à resolução dos problemas que
afligem a sociedade.
a. Certo
b. Errado
19. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2015) “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os
crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir a
delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos perigosa − talvez até
utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginalizado mas
centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado".
O trecho acima, extraído de Vigiar e punir, sintetiza uma importante conclusão de Michel Foucault
decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna. Para o autor, a
prisão permite:
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21. (VUNESP/SP DESENHISTA TÉCNICO PERICIAL – 2014) A moderna criminologia exige do Estado
Democrático de Direito um controle razoável da criminalidade que, no Brasil, apresenta como
sugestão metodológica eficaz para a pequena e média criminalidade o modelo:
a. de justiça consensual como, por exemplo, a lei dos Juizados Especiais Criminais.
b. da “tolerância zero”, criminalizando toda e qualquer conduta antissocial.
c. do “Direito Penal do Inimigo”, desenvolvido pelo alemão Günther Jakobs.
d. de “recrudescimento da pena” como, por exemplo, o tráfico de drogas ilícitas, de acordo com a Lei
n.º 11.343/06.
e. da utilização do Direito Penal como “prima ratio”, evitando desdobramentos mais graves.
22. (VUNESP/SP ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL – 2014) Entende-se por cifras negras:
a. as ocorrências criminais não registradas nos órgãos policiais responsáveis, em prejuízo do interesse
da sociedade.
b. somente os delitos praticados pelos criminosos de colarinho branco, em prejuízo da coletividade.
c. os crimes hediondos praticados com violência ou grave ameaça.
d. os crimes de menor potencial ofensivo praticados sem violência ou grave ameaça.
e. apenas os crimes praticados por policiais, que não são apurados, por temor de represália.
23. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) Para Michel Foucault, em Vigiar e punir, as razões de ser
essenciais da reforma penal no século XVIII, também denominada Reforma Humanista do Direito
penal, são constituir uma nova economia e uma nova tecnologia do poder de:
a. recuperar.
b. ressocializar.
c. humanizar.
d. punir.
e. descriminalizar.
24. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) “Levado pela onipresença dos dispositivos de disciplina,
apoiando-se em todas as aparelhagens carcerárias, este poder se tornou uma das funções mais
importantes de nossa sociedade. Nela há juízes da normalidade em toda parte. Estamos na
sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘assistente social’-juiz; todos
fazem reinar a universalidade do normativo; e cada um no ponto em que se encontra, aí submete
o corpo, os gestos, os comportamentos, as condutas, as aptidões, os desempenhos”.
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No trecho acima, extraído da obra Vigiar e punir, Michel Foucault refere-se ao tipo de poder cujo
grande apoio, na sociedade moderna, foi a rede carcerária, em suas formas concentradas ou
disseminadas, com seus sistemas de inserção, distribuição, vigilância, observação. Este poder é
denominado pelo filósofo de poder;
a. totalitário
b. total.
c. judiciário.
d. massificador.
e. normalizador.
25. (FCC/DPE-SP DEFENSOR PÚBLICO – 2013) “(...) instrumento de legitimação da gestão policial e
judiciária da pobreza que incomoda - a que se vê, a que causa incidentes e desordens no espaço
público, alimentando, por con- seguinte, uma difusa sensação de insegurança, ou simplesmente
de incômodo tenaz e de inconveniência -, propagou-se através do globo a uma velocidade
alucinante. E com ela a retórica militar da “guerra” ao crime e da “reconquista” do espaço
público, que assimila os delinquentes (reais ou imaginários), sem-teto, mendigos e outros
marginais a invasores estrangeiros - o que facilita o amálgama com a imigração, sempre rendoso
eleitoralmente.”
a. funcionalismo penal.
b. abolicionismo penal.
c. “tolerância zero”.
d. Escola de Chicago.
e. associação diferencial.
26. (VUNESP/SP AGENTE DE POLÍCIA -2013) Os “crimes de colarinho branco” são delitos conhecidos
na Criminologia por:
a. crimes contra a dignidade social.
b. crimes de menor potencial ofensivo.
c. cifras cinza.
d. cifras amarelas.
e. cifras douradas.
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GABARITO
1. E 10. ERRADO 19. A
2. E 11. D 20. A
3. D 12. B 21. A
4. A 13. D 22. A
5. E 14. B 23. D
6. E 15. D 24. E
7. A 16. CERTO 25. C
8. C 17. CERTO 26. E
9. CERTO 18. ERRADO 27. B
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