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Autores:
Paulo Bilynskyj, Beatriz V. P.
Pestilli
Aula 05
13 de Abril de 2020
Sumário
1 – Introdução .................................................................................................................................................... 4
Escola .............................................................................................................................................................................. 25
Família ............................................................................................................................................................................ 25
Igreja ............................................................................................................................................................................... 26
Pontos em comum.......................................................................................................................................................... 36
Resumo............................................................................................................................................................. 53
Considerações finais......................................................................................................................................... 75
Questões comentadas...................................................................................................................................... 75
Gabarito ....................................................................................................................................................... 96
TEORIAS DO CONFLITO
1 – INTRODUÇÃO
Guerreiro,
Vimos na aula passada que a partir do momento em que a Criminologia se expandiu, tornando-se uma
ciência criminológica, houve, consequentemente um senso de responsabilidade no sentido de
compreender, explicar e prevenir o crime, privilegiando:
Por isso, a fim de cumprir esse senso de responsabilidade, surgiram várias teorias com o objetivo de
fornecer uma resposta racional ao problema da violência, ou seja, o trio: crime, criminoso e afetados.
Falamos que, neste caso, prevalecem as explicações etiológicas (causa), como resposta ao fenômeno
criminal, mas não se pode negar que, outras vertentes intermediárias surgem, e até mesmo aquelas que
negam qualquer possibilidade explicativa, e que, como Ciência, a Criminologia contou com colaborações
teóricas de ordem biológica, criminológica, sociológica. Assim, a doutrina fala em diversos modelos
teóricos explicativos como:
Por tal razão, não há que se falar em única Criminologia, já que a Criminologia se diversificou em várias
vertentes.
Expliquei que quando falamos em modelos teóricos explicativos, podemos encontrar diversas classificações
e divisões utilizadas pela doutrina brasileira a fim de explicar tais modelos. Que uma parte da doutrina, ao
chegar no capítulo de modelos teóricos explicativos da Criminologia, divide os modelos teóricos em:
Teorias de Níveis individuais e Teorias Sociológicas. Outra parte da doutrina, vai dividir os modelos
teóricos explicativos em Teorias Etiológicas e Teorias Sociológicas, apenas.
Seja como for, os conceitos dessas classificações não são excludentes. Por isso, quero que você os saiba
com firmeza, assim, caso sua prova utilize qualquer nomenclatura, você estará familiarizado.
Trata-se de uma classificação encabeçada por Peluzo1 e adotada por José Cesar Naves de Lima Júnior2.
Para o autor, os estudos dos modelos teóricos explicativos podem ser vistos a partir de dois paradigmas, o
individual e o sociológico.
Individual: essas teorias visam fornecer uma explicação das causas individuais do crime.
Além disso, para os autores, os paradigmas se subdividem, o que podemos resumir a partir do seguinte
quadro sinóptico:
1
PELUSO, Vinícius de toledo Piza. Introdução às Ciências Criminais. Salvador: Editora Juspodiwm,
2015, p. 110.
2
LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. Salvador: Editora Juspodiwm, 2018, p.
122.
Teorias
biológicas ou
bioantropológicas
Individual
Teorias
psicológicas
Teorias
Teorias
Etiológicas
Sociológico
Teorias
Interacionistas
Isso significa que as teorias que têm o objetivo de explicar as causas individuais do fenômeno criminal
acrescentam;
3
Ibid.
Embora Lima Júnior faça tais classificações iniciais, não se pode extrair de seu manual quais teorias,
especificamente, ele classifica como uma ou outra. No entanto, a partir do conceito acima, é possível
chegar a essa conclusão ao estudar cada uma das teorias.
Para eles:
Etiológicas
Teorias do
Teorias
Consenso
Sociológicas
Teorias do
Conflito
4
Ibid.,p.80
Hoje veremos as teorias de cunho sociológico, em especial, as do conflito, bem como os demais modelos
teóricos ofertados pela Biologia Criminal, Psicologia e também não deixaremos de falar sobre os modelos
etiológicos.
Vamos lá?
2 – TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Como já fora dito, as teorias de cunho sociológico analisam o contexto social que o indivíduo está inserido,
bem como esse contexto tem o poder de influenciar, ou não, no cometimento de crimes.
As teorias sociológicas propõem compreender e explicar a criminalidade como um fenômeno social nas
perspectivas etiológicas (causa) ou interacionistas (reações sociais).
As teorias criminológicas de base macrossociológicas explicam a criminalidade como um fenômeno social nas
perspectivas etiológicas (causas) ou ainda interacionistas (reações sociais).
[...] fazem parte da Criminologia moderna, levam em conta o criminoso, reconhecendo que o delito decorre de
uma multiplicidade de fatores. Há uma ruptura de mito da causalidade, aceitando que a explicação
criminológica não se subordina ao modelo de determinismo e previsibilidade, mas apenas ao da
probabilidade. Ocorre uma virada sociológica (ou giro sociológico), pois a ciência criminológica passa a levar
em conta todas as estruturas que não têm como paradigmas fatores patológicos individuais.
Nesse sentido, majoritariamente, a doutrina clássica dividirá as teorias sociológicas em dois grandes
grupos, quais sejam: teorias sociológicas do consenso e teorias sociológicas do conflito.
As TEORIAS DO CONSENSO são aquelas que, de acordo com Paulo Sumariva (2017, p.65),
concentram suas análises nas consequências do delito e defendem a tese de que a finalidade
da sociedade é atingida quando as pessoas partilham objetivos comuns e aceitam normas
vigentes na sociedade, havendo o perfeito funcionalismo das instituições.
Em outras palavras, é dizer que por intermédio do consenso é que a sociedade se estrutura em elementos
que integrados serão funcionais e que se tornarão inesgotáveis, garantindo, consequentemente, a
harmonia social. São exemplos de modelos teóricos com bases consensuais: a Escola de Chicago, Teoria da
Associação Diferencial, Teoria da Subcultura Delinquente e a Teoria da Anomia.
Perceba que é um discurso muito atual e que o meio da força, dos sangues nos olhos DEVE SER IMPOSTO
pelos sistemas de controle social. Diga-se de passagem, o controle social é representado pela família,
escola, vizinhos, opinião pública, mídia, - modelo (IN)formal - e pela Polícia, Ministério Público,
Magistratura e Administração Penitenciária, em seu modelo Formal.
Para teorias de cunho conflitual, a ideia é de que com a IMPOSIÇÃO da ordem e da coesão social, é
possível GARANTIR o poder vigente e ESTABELECER relações de dominação e sujeição. São exemplos de
modelos teóricos com bases conflituais: A teoria do etiquetamento também chamada de Appelling
Aprooach e a Criminologia (teoria) Crítica.
Antes de analisarmos, é importante que você saiba que esta teoria recebe outros nomes e que estes
poderão ser explorados em sua prova. Assim, a Teoria do Etiquetamento, também é chamada de:
1. Labbeling Approach;
2. Teoria da Rotulação Social;
3. Teoria da Reação Social;
4. Teoria do Interacionismo Simbólico;
A Criminologia Interacionista estudava o aspecto social do criminoso e do delinquente. Sua tese, incluía a
responsabilidade da sociedade na contribuição da formatação do criminoso, não sendo o livre-arbítrio
sozinho, uma vertente capaz de causar o “surgimento” do crime e do criminoso.
Erving Goffman e;
Howard Becker.
– Tese defendida
A ideia central desta Teoria, fundou-se na possibilidade de a intervenção da justiça (modelo formal de
Controle Social) na esfera criminal acentuar a criminalidade. Trata-se de uma teoria com teses
intimamente ligadas aos processos de reação social, procedimento responsável pelo processo de criação
de normas penais e também sociais relacionadas com o comportamento desviante.
De acordo com a doutrina, esse processo tende a ser seletivo e também discriminatório, que tem como
premissa maior, atribuir meras qualidades de condutas desviadas a comportamento do autor, e, por isso,
rotula-o ou dá-lhe um etiquetamento de delinquente, mas por interesse de um sistema social.
Para essa corrente, o crime e a reação social são processos de interação social, como já dito, seletivo e
discriminatório. Em outras palavras, pode-se explicar que, um delinquente primário, ou seja, quando
pratica um crime pela primeira vez, produz um rótulo social de delinquente, ensejando um processo de
estigmatização e como consequência a marginalização dos meios sociais que esse indivíduo vive, como por
exemplo, sociedade, família, trabalho. Esse etiquetamento, ou rotulação, de acordo com a doutrina, é a
CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA.
De acordo com a teoria, assim surge a aproximação de outros indivíduos que já cometeram crime e
também foram rotulados como delinquentes, nascendo, consequentemente, uma expectativa social de
que a conduta desviante será novamente praticada. Essa expectativa negativa da sociedade, sobre o
indivíduo, faz com que até ele se rotule como tal, gerando, automaticamente, uma perpetuação do
comportamento criminoso, que resulta na CRIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA, REINCIDENTE.
Para essa corrente, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um
processo de estigmatização. É o mesmo que dizer que o criminoso só é diferente do homem comum por
razões do rótulo que recebe e do estigma que sofre.
A sociedade define, por meio dos controles sociais informais, o que se entende por comportamento desviado,
isto é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se
comportarem dessa forma. Condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam às
outras que as praticam. A teoria da rotulação de criminosos cria um processo de estigmatização para os
condenados, funcionando a pena como algo que acentua as desigualdades. Nessa interação estigmatizante, o
sujeito acaba sofrendo reação da família, de amigos, conhecidos e colegas, acarretando a marginalização nos
diferentes meios sociais. De forma a ilustrar o pensamento desse importante marco teórico da Criminologia,
pode ser apontado o determinismo como um fenômeno social que cria o criminoso tendo em vista o local em
que ele vive e relaciona-se com outras pessoas. Veja-se o exemplo de um menino que mora numa comunidade
carente. Ora, essa pessoa é vítima constante do Estado, uma vez que não possui os direitos básicos como
cidadão, apesar de a Constituição Federal pugnar em seu art. 6º. Esse mesmo menino tem sua matrícula
indeferida na escola local por ausência de vagas; ele também perde a sua mãe em virtude de uma infecção
generalizada adquirida na unidade de pronto-atendimento da comunidade carente, uma vez que os órgãos
sanitários não fizeram a devida fiscalização; por fim, seu pai é baleado por um policial quando voltava do
trabalho, pois fora confundido com um traficante local. O Estado, em vez de dar educação, saúde e segurança
pública, ao contrário, retirou os seus entes queridos de sua convivência.
É por razões como esta, citada no exemplo do Ilmo. Professor, que a fragilização, faz da pessoa, alguém
vulnerável aos traficantes locais, que muito provavelmente, o assediam para trabalhar, fazendo com que se
torne um criminoso. Significa dizer que o meio social é que o transformou num criminoso que veio a
praticar crimes, sendo o Estado o grande incentivador com sua ausência constante nos grotões de pobreza.
Como se pode perceber, a Teoria do Etiquetamento se apresenta sob uma perspectiva de NEGAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA IGUALDADE.
Acerca dos modelos teóricos explicativos do crime, oriundos das teorias específicas que, na
evolução da história, buscaram entender o comportamento humano propulsor do crime,
assinale a opção correta.
E. O modelo teórico de opção racional estuda a conduta criminosa a partir das causas que
impulsionaram a decisão delitiva, com ênfase na observância da relevância causal etiológica do
delito.
GABARITO: D
Podemos destacar que, uma das consequências jurídicas dessa teoria, no Brasil, pode ser
encontrada a partir da Reforma Penal de 1984.
Na Reforma, parte do Código Penal foi alterada, em especial, a progressão dos regimes de
pena, bem como as penas alternativas, seguindo, portanto, uma tendência garantista não
intervencionista, abordado pelo que alguns vão chamar de Direito Penal Mínimo.
É a partir de realidades como esta, que outras teorias foram desenvolvidas a fim de explicar compreender
os processos da criminalização e estigmatização social dentro do panorama reação social.
A ideia de coculpabilidade encabeçada por Zaffaroni, está concentrada na ideia de que a sociedade deve
arcar com a alta vulnerabilidade a que está exposta grande parcela da população, desenhando uma ideia
de (CO)culpa.
Neste caso, é dizer que a (co)culpabilidade permitiria que o Estado-Juiz pudesse conceder algum tipo de
benefício penal para os chamados “vulneráveis sociais”, sendo no Direito Penal brasileiro a aplicação da
atenuante inominada do art. 66 do Código Penal a sua correta manifestação 5.
Vejamos:
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao
crime, embora não prevista expressamente em lei.
Em outras palavras, como o Estado-Executivo não conseguiu prover os direitos sociais citados acima
(saúde, educação, moradia, etc.), agora, o Estado-Juiz, ao aplicar a pena por algum tipo de infração penal
cometida pelo vulnerável-delinquente, deverá arcar com sua parcela de culpa na prática da infração
penal, daí porque o nome “coculpabilidade” remeter à ideia de concorrência de culpas entre delinquente e
5
GONZAGA, Christiano. Op. Cit. p.41.
Estado-Executivo; este último assume a mea-culpa e, por meio do Estado-Juiz, aplica a atenuante do art.
66 do Código Penal6.
Finalmente, podemos aplicar a teoria da coculpabilidade a partir de vários pontos, neste sentido,
destacamos os principais7:
1. Coculpabilidade à medida de pena: esta será dividida entre Estado e criminoso, ou seja,
culpabilidade não enquanto elemento do crime na visão tripartida ou analítica, mas sim,
aquela que incide na dosimetria da pena e está inserida no art. 59, caput, do CP,
permitindo-se a adequação da pena de forma a compensar a ausência estatal na
consecução dos direitos sociais básicos;
Fixação da pena
6
GONZAGA, Christiano. Op. Cit. p.41.
7
Op. Cit.
2. Coculpabilidade, como a ideia da baixa vulnerabilidade por parte dos integrantes das
classes sociais mais elevadas, conhecida como “elite social: Tais pessoas gozam de
todos os direitos sociais, podendo educar seus filhos nas melhores escolas nacionais e
estrangeiras; usufruindo de segurança particular; tratando-se nos melhores hospitais
privados em caso de doença; entre outros privilégios que o dinheiro pode comprar.
Todavia, como a infração penal é algo inerente a todo ser humano, o qual deve lutar
diariamente para não enveredar pelo caminho da facilidade que a prática criminosa
permite, as “elites sociais” também infringem as leis. Nesse diapasão, cada pessoa
pratica o tipo de crime que lhe é peculiar. No caso dos excluídos socialmente, a prática
criminosa cinge-se a delitos patrimoniais e tráfico de drogas, enquanto os ricos praticam
crimes de violação difusa, tais como lavagem de dinheiro, contra o Sistema Financeiro
Nacional, sonegação fiscal e contra a Administração Pública.
Conforme nos explica o Professor Christiano Gonzaga, em seu manual já citado, in verbis:
A prática criminosa por pessoas que gozam da totalidade dos direitos sociais deve ser
repudiada mais severamente, uma vez que eles optaram pelo “mundo do crime” apenas para
aumentar ainda mais a sua satisfação de todos os direitos sociais que já possuíam. Essa busca
desenfreada pelo aumento em progressão geométrica dos seus bens materiais deve ser mais
rígida pelo Estado-Juiz quando for aplicar a pena pela infração da lei, como exemplo no caso da
famosa operação “Lava-Jato”, em que políticos e empreiteiros reuniram-se para surrupiar os
cofres públicos em cifras bilionárias. O mesmo ocorreu na ação penal 470/STF (“Mensalão”),
em que o Ministro-Relator Joaquim Barbosa aplicou penas severas para os chamados
“mensaleiros”. Assim, na fase da dosimetria da pena, o Magistrado deverá utilizar-se do art. 59,
caput, do Código Penal, para aumentar a reprimenda tendo em vista a baixa vulnerabilidade a
que está exposto o integrante das elevadas classes sociais. A esse fenômeno de aumento da
intensidade da pena por causa da baixa vulnerabilidade social, podemos denominar de
coculpabilidade às avessas, pois estaria aumentando-se a punição do agente por parte do
Estado-Juiz na análise dos elementos do art. 59, caput, do CP, tais como “os antecedentes, à
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime”, sendo o oposto da coculpabilidade tradicional.
Noutras palavras, significa dizer que ao aumentar a punição do agente por parte do Estado-Juiz, na análise
dos elementos do art. 59, caput, do CP, tais como “os antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime”, por exemplo, temos o fenômeno da
coculpabilidade às avessas, sendo o oposto da coculpabilidade tradicional.
Fixação da pena
A Criminologia do Colarinho Azul, bem como a Criminologia do Colarinho Branco, também são chamadas,
respectivamente;
1. Blue-Collar e;
2. White-Collar.
Ambas foram desenvolvidas pelo criminologista Edwin Sutherland, no ano de 1949. Sutherland, passou a
estudar os crimes cometidos pelos altos executivos americanos, e, de acordo com sua pesquisa, estes
infringiam, praticamente todas as leis, como a de combate à sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Os executivos sempre estão bem alinhados em ternos caríssimos e com camisas com colarinho-
branco impecável, daí surgiu a expressão white-collar. De outro lado, os operários braçais que
trabalham no chão da fábrica, bem como motoristas de ônibus e pessoas de baixa renda, usam
uniformes azuis com colarinhos da mesma cor, o que se convencionou chamar de blue-collar.
Em sua obra, Sutherland destaca dois pontos como alicerces de sua análise, a saber:
A partir disso, o que se pode concluir é que a prática de crimes não é exclusiva dos criminosos de
colarinho-azul, dessa forma, consequentemente, a tese sobre o caráter de patologia inerente aos
criminosos ou mesmo aquelas que rechaçam a exclusividade de que apenas pessoas pobres cometem
crimes, caem por terra.
Deste modo, prevalece que o crime é UM ENTE SOCIAL e deve ser estudado em todas as suas formas, pois
ele pode nascer em qualquer local, bastando para tanto que exista uma interação social9.
8
Op. Cit.
9
Op. Cit. p.46
Em contrapartida, encontramos outra dicotomia que consistente nas chamadas cifras negras e as cifras
douradas ou de ouro, também propostas por Edwin Sutherland.
De um lado, as chamadas Cifras Negras representam os crimes de colarinho-branco que não são
descobertos e, por isso, ficam fora das estatísticas sociais (Gonzaga, 2018, p. 47).
Como os seus autores gozam do chamado “cinturão da impunidade”, os seus delitos ficam encobertos,
ocorrendo o que se chama de cifra oculta ou negra da criminalidade. Cumpre ressaltar que tais delitos são
infinitamente superiores aos delitos que são descobertos e que entram nas estatísticas sociais, uma vez
que os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e contra a administração pública que realmente
ocorrem e não são punidos constituem a maioria. Já as chamadas cifras douradas ou de ouro
correlacionam-se aos crimes de colarinho-branco que são oficialmente conhecidos e punidos, o que,
claramente, constituem uma minoria ínfima perto dos que acontecem e não são descobertos. Os crimes de
colarinho-branco conhecidos oficialmente e punidos são bem menores e são chamados de cifras de ouro.
Essa é a ideia de cifras negras e douradas em Sutherland10.
10
Op. Cit.
Importante ressaltar que a nossa versão brasileira, sobre as cifras douradas e negra, difere da versão
original!
Entre os crimes conhecidos e punidos e os não conhecidos e não punidos, sem reservar o estudo apenas
para os crimes de colarinho-branco, como foi a ideia originária de Edwin Sutherland. (Gonzaga, 2018, p.
47).
Para aclarar o que se entende pela expressão cifras ocultas da criminalidade no Brasil, é citado o escólio de
Salo de Carvalho, bem elucidativo por sinal, in verbis:
“A cifra oculta da criminalidade corresponderia, pois, à lacuna existente entre a totalidade dos eventos
criminalizados ocorridos em determinados tempo e local (criminalidade real) e as condutas que efetivamente
são tratadas como delito pelos aparelhos de persecução criminal (criminalidade registrada). E os fatores
explicativos da taxa de ineficiência do sistema penal são inúmeros e dos mais distintos, incluindo desde sua
incapacidade operativa ao desinteresse das pessoas em comunicar os crimes dos quais foram vítimas ou
testemunhas. Como variável obtém-se o diagnóstico da baixa capacidade de o sistema penal oferecer resposta
adequada aos conflitos que pretende solucionar, visto que sua atuação é subsidiária, localizada e, não
esporadicamente, filtrada de forma arbitrária e seletiva pelas agências policiais (repressivas, preventivas ou
investigativas).”
a. da anomia
b. da associação diferencial
c. da ecologia criminal
d. da subcultura delinquente
Gabarito: Letra E
Os controles sociais constituem formas de influência no modo de agir e pensar do ser humano.
Sabemos que, desde cedo, somos influenciados pelas mais variadas formas de controle, a título de
exemplo citamos: a escola, a Igreja e a família, etc. Isso auxilia a construção da nossa personalidade e, é a
partir dessas construções que passamos a obedecer aos mais diversos dogmas imposto socialmente.
É a partir dessa noção que as teorias visam a explicar o comportamento criminoso, levando em
consideração as regras sociais, só que, pelo viés do controle informal, que é exercido pela própria
sociedade, sem a participação direta do Estado.
Escola
É onde as crianças aprendem as primeiras lições da vida, pode-se dizer que esse é um controle
extremamente marcante. Na escola é onde são lecionadas as primeiras regras do que é certo e errado,
bem como onde os comportamentos são estigmatizados, sempre tomando por base o status social das
pessoas que se relacionam. Trata-se de fato notório que os mais abastados da escola gozam de uma certa
superioridade sobre os demais, sendo aqueles jovens que lançam tendências e ditam o que é certo e
errado fazer. A escola é o primeiro contato do indivíduo com uma instituição de controle alheia à família,
em que se permeiam vários relacionamentos entre crianças das mais variadas classes sociais. Esse
intercâmbio cultural gera padrões de comportamentos, pois as crianças passam a falar, vestir-se e portar-
se como os integrantes daquele grupo escolar, haja vista a “febre” entre eles de usar roupas, objetos e
marcas referentes a um determinado grupo musical que tenha caído no gosto popular em dado momento
histórico. Tais padrões comportamentais são forjados desde cedo, sendo a Professora ou a Diretora da
escola outro personagem importante em tal padronização, pois ela está numa posição de ensinar e
repreender quando alguém comporta-se de forma desviante ao que se exige. Aquela Professora, então, lá
do jardim de infância, também é responsável por criar um padrão de comportamento que o adulto de hoje
possui, não sendo esse um fator único na formatação do caráter de alguém, mas se trata de elemento
importante e marcante na vida das pessoas11.
Família
A outra forma de controle social informal é a família, que desde a infância ensina a noção de certo e
errado, principalmente com os exemplos paternos. Os pais funcionam como espelhos para a educação dos
filhos, que imitam tudo o que eles fazem. Se os pais praticam atos ilícitos ou reprováveis em casa, como
abusos sexuais, uso de drogas e tabagismo, há uma tendência de os filhos também seguirem por esse
caminho, pois desde cedo estão tendo esse tipo de exemplo diário no seio familiar. Percebe-se que o
determinismo social está agindo dentro da própria família, pois o meio em que a criança vive poderá
fatalmente influenciar nas suas escolhas. Por essa ótica, o surgimento do crime pode ocorrer em virtude
dos maus exemplos que os filhos possuem dentro da própria casa, sendo o comportamento parental muito
importante para ditar o que os filhos devem seguir. Se tiver bons exemplos, vai praticar boas condutas. Ao
contrário, se presenciar péssimos exemplos, natural que tenha isso como o correto e pratique condutas
semelhantes. Daí a importância dos pais na educação dos filhos como meio de impedir o surgimento de
11
GONZAGA, Christiano. Op. Cit., p. 52.
condutas criminosas. Nessa linha de pensamento, fica claro que o controle social informal representado
pela família pode ser tanto ensejador quanto impeditivo de condutas criminosas, a depender da forma com
que se analisa a questão12.
Igreja
Todas as religiões que ditam as condutas certas e, em alguns casos raros, fornece maus exemplos, como os
casos de abusos sexuais cometidos por padres, pastores, etc. Os comportamentos tidos como corretos são
salutares e permitem que as pessoas sigam práticas virtuosas. Todavia, como já se viu em mais de uma
ocasião, alguns desvios e abusos são cometidos dentro do próprio local onde se exerce a liberdade de culto
e de religião, o que torna o exemplo bem negativo, podendo influenciar o comportamento futuro daqueles
que foram abusados. Ora, se aquele que deveria primar por bons ensinamentos, valendo-se do natural
temor reverencial que possui, pratica condutas criminosas, como estupros e crimes contra a dignidade
sexual, mais uma vez o determinismo social irá atuar e incutir nas vítimas dos crimes a ideia do que vem a
ser o “correto”, tornando-se, eles próprios, num futuro não tão distante, abusadores sexuais. O mau
exemplo aprendido outrora é muito danoso por forjar futuros comportamentos criminosos, daí a
importância para que esse tipo de controle social seja corretamente exercido, sob pena de estimular
potenciais delinquentes13.
Opinião Pública
Por meio dela, as pessoas passam a ter a ideia do certo e errado conforme a opinião ditada por uma
influente parcela do meio em que vive. A mídia tem um poder muito grande de criar rótulos que ela
considera corretos e fundamentais na sociedade moderna. Muitos programas jornalísticos, notadamente
os de cunho policial, tacham as pessoas de delinquentes conforme as condutas praticadas, muitas vezes
antes mesmo de qualquer processo criminal com trânsito em julgado. Como exemplo, citam-se os casos de
homicídios praticados por pessoas conhecidas: a mídia faz uma cobertura exaustiva, apontando como
assassino o suposto autor do crime. Essa pecha de criminoso atribuída a ele desde o início e maciçamente é
12
Op. Cit.
13
Op. Cit.
dificilmente retirada ao longo do devido processo legal, e os jurados, quando forem julgar o acusado, já
possuem uma predisposição para a condenação, tudo isso em razão do que já foi noticiado 14.
Duas teorias são desenvolvidas nos EUA, e merecem destaque. A saber, a teoria da contenção, de Walter
Reckless, e a Teoria da Neutralização de David Matza e Gresham Sykes.
Teoria da contenção
Para os que compõem esta teoria, o controle social pode ser feito de duas formas: controle interno e
controle externo.
Dessa forma, as expectativas relacionadas a cada indivíduo, bem como juízo negativo que outros possam
fazer da pessoa do agente, são fatores que, juntamente com o controle interno, pode conter eventual
conduta desviante. Dessa maneira, para Recklees, o crime ocorre quando esses dois níveis de controle
falham.15
14
Op. Cit.
15
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit., p. 131
Teoria da Neutralização
Segundo sociólogos Americanos, os jovens em fase se amadurecimento são como barcos à deriva, e,
portanto, ainda não tem propósito firme de não delinquir. O ponto da deriva está na metade do caminho
entre o controle e a liberdade, pois o adolescente encontra-se num limbo entre o racional e o delitivo, e,
alternadamente, responde às exigências de ambos: ora a um, ora a outro16.
Destaque-se que a teoria da neutralização é certamente, uma crítica à teoria das subculturas, cujo
fundamentos são no sentido de que o criminoso tem um sistema de valores autônomo e diferente dos que
são aceitos pelo restante da sociedade.
Finalmente, como forma de estudar as técnicas de neutralização, que são meios pelos quais os
delinquentes buscam justificar sua ação criminosa, por uma série de argumentos, a fim de tornar suas
ações mais aceitáveis perante os olhos da sociedade, os autores elencam 05 tipos de neutralização, que
podemos classificar da seguinte forma:
16
Op. Cit.
Negação da
Neutralização responsabilidade
Negação do
Prejuízo
Desclassificação
da Vítima
Condenação dos
que condenam
Demonstração de
lealdade
Nas palavras de Eduardo Fontes e Henrique Hoffamann, podemos exemplificar da seguinte forma:
Até aqui, podemos resumir que a Criminologia “tradicional” apontou aspectos significativos, deixando
traços de seu perfil. Pode-se dizer que foi uma Criminologia marcada por ideias difundidas em:
O criminoso é visto como uma pessoa diferente das demais, nesse sentido, ele é integrante, sob
esse ponto de vista, como integrante da minoria.
O viés patológico do crime;
O viés etiológico do crime, é destacado com a finalidade de descobrir as causas do crime.
É exatamente nessa ruptura que surge, precisamente, no final dos anos 60, um outro panorama
criminológico um tanto quanto heterogêneo também, o movimento que ganhou repercussão, foi
denominado de:
Seja como for, a ideia central da teoria, converteu as estruturas e interações sociais como foco de seu
conteúdo programático. Daí porque, parte da doutrina refere-se à esse giro como um segundo dos mais
significativos na história da Criminologia.
Sem desconsiderar a ideia significativa, vale lembrá-lo que estudamos até agora, 04 marcos, na verdade, 05
com este, na história da Criminologia. Convém destacar:
Nesse sentido, é possível assegurar que essa Nova Criminologia, como o próprio nome sugere, não faz
investidas na compreensão da Criminalidade como uma via de mão única, mas pelo viés da multiplicidade
de fatores de riscos que se integram para formar o problema da criminalidade.
Logo, esse é o marco destacado pela doutrina e, de acordo com ela, é a partir dessa remodelagem que
ganhou força e destaque nos anos 70, é que surge a Criminologia Crítica ou Nova Criminologia.
Fato é que, esse novo modelo Criminológico se espalhou como vírus. Fundamentado na influência cultural
da época, em especial do movimento científico que pregava o relevante papel desempenhado pelas
estruturas de poder no estudo criminológico, até então, ignorado pelos criminólogos da época, muitos
foram os criminólogos que aderiram ao movimento.
Nesse sentido, havia, inclusive, enumeração de motivos preponderantes para tamanha popularidade da
Criminologia Crítica ou Nova Criminologia. Conforme destaca Eduardo Fontes (2018, p. 327):
Em pouco tempo este no olhar criminológico ganhou forte adesão científica e, consequentemente, elevada
popularidade.
O autor continua a dizer que foram os motivos listados por Sykes, para tamanha popularidade do
movimento:
– Principais Representantes
A Nova Criminologia (Criminologia Crítica, Criminologia Radical) teve um conteúdo programático extenso,
processado por diversos autores, sendo que, naquela época, três se destacaram nos principais centros de
desenvolvimento da Nova Criminologia, a saber, o centro;
Britânico, sendo os autores que se destacaram: Ian Taylor, Paul Walton e Jock Youn;
O Norte Americano, tendo como destaque o autor Chambliss;
O Italiano, cujo principal autor foi Alexandre Baratta
1. Lola Aniyar;
Importante destacar que o tema despertou diversas obras que deram origens a incontáveis vertentes.
– Tese Defendida
A doutrina conta-nos sobre uma bifurcação nesse novo giro criminológico em que é possível identificar
duas correntes.
A primeira tem uma origem marxista, chamada de Criminologia Radical de corte marxista. Trata-se de um
movimento crítico atuante no campo criminológico e que se iniciou pela obra The New Criminology: For a
Social Theory of Deviance, publicada na Inglaterra em 1973, por:
1. Ian Taylor;
2. Paul Walton e
3. Jock Young.
Este ramo da Criminologia propõe uma análise na sociedade capitalista, destacando sempre, fatores de
ordem econômica para explicar a delinquência.
Curiosamente, essa corrente surge como uma própria Crítica à Criminologia Crítica.
Para estes críticos, não é possível compreender e explicar o fenômeno criminal, limitando-o à fatores
econômicos. É necessário que se acrescente componentes de ordem sociológica, cultural e política, a fim
de chegar à um resultado mais seguro.
Se de um lado, há quem proponha uma análise na sociedade capitalista, destacando sempre, fatores de
ordem econômica para explicar a delinquência e o Direito Penal, utilizando como fundamento desta tese, o
próprio Código Penal, uma vez que este não apresenta consenso, mas interesses garantidos com
preferência da Classe dominante.
A propósito, para esta tese, a sociedade não tem os mesmos valores, a sociedade é multiplicidade,
pluralidade, o que traz impactos diretos na análise criminológica. É que para eles, uma Criminologia
desenvolvida a partir de fatores, não pode partilhar da análise desses indivíduos anormais que violam a lei,
castigá-los, melhorá-los, ou mesmo adaptá-los, restando apenas libertá-los da camisa de força, dos códigos
e estabelecer autonomamente seu objeto de estudo, uma vez que se trata de seres, como o próprio nome
diz, ANORMAIS. Por isso, preferem levantar a bandeira econômica, justificando, portanto, a nova tese.
Isso significa que a Nova Criminologia fundamenta sua tese na separação das estruturas da criminalidade
que corresponde à classe dominante versus classe dominada, proveniente da acumulação legal e ilegal de
capital, juntamente com o controle dos processos de incriminação legal e de criminalização pelos
instrumentos coibitórios.
Parte da ideia de que a divisão de classe no sistema capitalista gera desigualdades e violências
contida pela legislação penal. Desse modo a norma busca assegurar uma provisória
estabilidade, contendo as confrontações violentas entre classes de uma determinada
sociedade.
Enxerga o delito como um fenômeno proveniente do sistema de produção capitalista17.
Como bem lembrado por Henrique Hoffmann e Eduardo Fontes, as teorias conflitais e do Labelling
Approach fora campo fértil para a passagem da Criminologia Liberal para a Criminologia Crítica. A
Criminologia apresenta como traço principal a construção de uma teoria do desvio e da criminalização.
Com base teórica marxista, combina-se com trabalho de observação empírica, a fim de que a Criminologia
se construa a partir do ponto de vista das classes subalternas. Como contraponto no enfoque
biopsicológico ao macrossociológico, esta Criminologia analisa a realidade comportamental do desvio a
partir do contexto histórico em que este se insere. Trata-se inequivocamente de oposição ao modelo
tradicional de Criminologia, promovendo um ataque à ordem legal instituída pelo Direito Penal. Deixa de
conceber o criminoso como um anormal18.
Por isso, de outro lado, surgem os críticos (dentro da própria Criminologia Crítica), rebatendo a tese. Como
já dissemos, este lado vai dizer que não é possível compreender e explicar o fenômeno criminal,
limitando-o à fatores econômicos. É necessário que se acrescente componentes de ordem sociológica,
cultural e política, a fim de chegar à um resultado mais seguro.
17
FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Op. Cit., p.152.
18
FONTES, Eduardo & HOFFMANN Henrique. Op. Cit., p.151.
Pontos em comum
Embora estejam ligadas ao mesmo tronco científico criminológico, mas com propostas
divergentes acerca da resposta ao fenômeno criminal, alguns autores falam em Criminologias
Críticas.
Seja como for, mesmo com tantas polêmicas, é possível afirmar que compõem a espinha dorsal dessas
Criminologias Críticas (Fontes, 2018, p. 328/329):
pessoa de Taylor, Walton e Yong e também a “Criminologia Crítica Italiana” ligada à figura de Alessandro
Baratta.
Inicialmente, Baratta dedicou especial atenção ao caráter filosófico do Direito Penal, ao menos, é o que
demonstra sua tese de doutorado em que destacou o pensamento de RAdbruch.
Em 1975, trabalhou na Revista La Questione Criminale, que funcionou como uma espécie de laboratório
para desenvolver sua principal obra chamada Criminologia Crítica do Direito Penal. Introdução à
sociologia jurídico-penal (de 1982). A doutrina aponta a obra como uma das principais influenciadoras do
campo científico da Criminologia.
– Tese Defendida
Na obra, Alessandro Baratta defendeu uma Criminologia aproximada do Direito Penal. Em outras palavras,
o autor apresentou uma proposta de uma Sociologia Jurídico-Penal19 fundamentada no diálogo entre esse
novo modelo criminológico, chamado Criminologia Crítica e a crítica do Direito Penal.
Nesse sentido, é possível afirmar que a ideia foi transferir a crítica sobre a desigualdade das sociedades
capitalistas para o Direito Penal.
Para guia de uma política criminal, tanto de curto como de médio prazo, Baratta fazia um discurso de ideia
mínima de intervenção penal. Para ele, era necessário um modelo capaz de substituir as formas de
controle, sem que esse modelo interferisse nas garantias. Logo, o modelo precisava substituir, sem que
fosse necessário abdicar garantias. Seria, basicamente, “a superação do sistema penal tradicional em
direção a um sistema de defesa e garantia dos direitos humanos20”.
Além disso, Baratta afirmava que a principal função de um criminólogo é elaborar uma “teoria
materialista” ou seja, com viés econômico-político sobre o desvio do criminoso, dos comportamentos
socialmente negativos e da própria criminalização, a fim de traçar uma “linha de política criminal
alternativa, de uma política das classes determinadas.21”
Com isso, é dizer que compete sim à Criminologia Crítica questionar os fatos como expressão da
decadência dos sistemas sócio-econômicos e políticos. Mas não é só isso, não é exagero dizer que,
Alessandro Baratta defendeu a tese de que, cabe à Criminologia Crítica reter como material de interesse
para o Direito Penal apenas o que efetivamente mereça punição reclamada pelo consenso social, e
denunciando todos os expedientes destinados a incriminar condutas que, apenas por serem contrárias
aos poderosos do momento, política ou economicamente, venham a ser transformadas em crimes.
Podemos resumir os principais destaques de Alessandro Baratta com o quadro sinóptico da questão abaixo
que, inclusive, foi tema de prova no concurso do MPE/PR. Veja:
19
VIANA, Eduardo. Criminologia. 6ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora
JusPodivm,2018. Pg. 336.
20
Op. Cit.
21
Op. Cit.
I-A criminologia crítica parte da premissa de que a Criminologia não deve ter por objeto apenas
o crime e o criminoso como institucionalizados pelo direito positivo, mas deve questionar
também as bases estruturais econômicas e sociais que caracterizam a sociedade na qual vive o
autor da infração penal.
II-Entende a doutrina que cabe à criminologia crítica questionar os fatos como expressão da
decadência dos sistemas sócio-econômicos e políticos.
Gabarito: A
Guerreiro,
Ocorre que a doutrina destaca algumas críticas de Aebi, à Criminologia Crítica dirigida por Alessandro
Baratta. Embora as críticas tenham sido elaboradas, num modelo especialmente à tese de Baratta, a
doutrina entende que pode ser estendida às concepções globais da teoria, sem quaisquer problemas.
Eduardo Fontes (2018, p. 337/338) destaca sete críticas apontados por Aebi, as quais reproduzimos:
22
Op. Cit.
1. A Criminologia Crítica tradicional não pode ser considerada uma teoria científica, eis que
calcada em uma concepção não suscetível de refutação por meio de investigação
científica;
2. A suposta revolução epistemológica agregada ao pensamento da Criminologia Crítica
não ocorreu como tal. A Criminologia Crítica enriqueceu a Criminologia com um novo
paradigma que põe ênfase no controle social e na justiça criminal.
3. É incoerente negar um determinismo defendido pela Criminologia Científica e, ao
mesmo tempo, postular uma explicação totalmente determinista baseada em um único
fator explicativo: o pertencimento do delinquente e determinada classe social;
4. Utiliza metodologia cega e seletiva;
5. Não basta alegar o caráter discriminatório do sistema de justiça, é necessária uma
investigação empírica que a prove ou a refute;
6. A previsão de que as sociedades solícitas teriam como consequência a abolição do
sistema penal e a erradicação da delinquência não está devidamente demonstrada na
prática;
7. Provocou um estancamento de propostas político-criminais progressistas distintas e
alternativas à pura repressão penal.
Finalmente, cumpre esclarecer que a doutrina considera as críticas de Aebi um tanto quanto exageradas e,
inclusive, citam o modelo Brasileiro para contradizê-la. A Criminologia Crítica, ainda que taxada de
intensamente desconstrutiva e, por isso mesmo, pouco propositiva, não lhe pode ser sacado o mérito de
advertir o criminólogo sobre a importância de observar com muito cuidado o seletivo funcionamento do
sistema penal. Em solo brasileiro, por exemplo, uma simples mirada nas cifras fornecidas pelo
Departamento Nacional de Política Penal e Penitenciária indica que as engrenagens do sistema penal
funcionam com “maior eficiência” no setor mais marginalizado da sociedade. Isso significa que, ao menos
em plano hipotético, que a Criminologia crítica pode ter alguma razão em suas conclusões, mas nada além
disso, é dizer, o ponto de chegada – seletividade penal – está correto, mas os caminhos que a conduzem a
esta conclusão, não. Talvez em razão de todas as duras críticas dirigidas à Criminologia Crítica, tem-se
afirmado que ela teve muitos filhos, mas agora, estão todos órfãos23.
Minimalismo Penal ou Direito Penal Mínimo é considerado uma das 03 principais vertentes da
Criminologia Crítica. Para se ter noção de tamanha importância, é o seu movimento ideológico que atribui
ao Direito Penal apenas a tutela dos bens jurídicos mais importantes, ou seja, indispensável ao convívio
social.
Paulo Queiroz24 nos ensina que a corrente minimalista pode ser dividida em 02 vertentes, quais sejam:
1. MINIMALISMO RADICAL;
2. MINIMALISMO MODERADO.
23
Op. Cit. p. 338
24
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Lumem Juris, 2008. p.97.
25
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. 2ª. tir.:ago/2018. Salvador:
Editora JusPodivm, 2018. p. 160.
As ideias se assemelham em muitos pontos ao Índole garantista, o qual atribui ao Direito Penal
abolicionismo, e que admite a intervenção apenas a tutela de bens jurídicos relevantes, ou
somente em situações excepcionais. seja, indispensáveis ao convívio social. Esta última
vertente pauta-se no princípio da intervenção
mínima, do qual decorre seus corolários:
subsidiariedade, fragmentariedade e ofensividade.
Nas palavras de Christiano Gonzaga: “Forte no princípio da intervenção mínima, em que o Direito Penal
deve ser utilizado apenas como ultima ratio, a ideia de combate ao crime deve ser feita apenas em casos
extremos, como nos crimes de homicídios, roubos, tráficos e outros que são praticados com violência ou
grave ameaça à pessoa.
Essa corrente se opõe à política criminal de Direito segundo a qual se exige a repressão imediata mesmo
das infrações mais simples como forma de manter a ordem e a coerção máxima e urgente a qualquer
deleito.
26
Op. cit.,
27
Op. Cit.,p.155.
3.2.4 – Abolicionismo
A doutrina28 classifica o abolicionismo como uma das principais vertentes da Criminologia Crítica.
Nesse sentido, diz-se que o sistema punitivo deve ser abolido por inúmeros motivos:
Não é demais ressaltar que, a teoria do abolicionismo é completamente incompatível com a Carta
Constitucional.
Falamos no decorrer de nossas aulas em nosso estudo, que prevalecem as explicações etiológicas (causa),
como resposta ao fenômeno criminal, no entanto, há outras vertentes intermediárias que foram surgindo
ao longo dos anos, algumas que até mesmo negam qualquer possibilidade explicativa.
28
LIMA JÚNIOR, José César Naves de. Criminologia. Salvador: Juspodivm
29
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p.153.
Dissemos que, como Ciência, a Criminologia contou com colaborações teóricas de ordem sociológica e,
como demonstramos, este modelo apresentado sofre uma bifurcação fazendo com que surja um modelo
consensual e um modelo de conflito.
Superado estes modelos teóricos, sabemos que não se pode falar em um único modelo criminológico, que
além do modelo sociológico a doutrina destaca: Modelo teórico de Biologia criminal; Modelo teórico de
Psicologia criminal.
Por isso, seguindo em nosso estudo, veremos agora, esses outros modelos teóricos, sendo que, nem todas,
serão classificá-las como biológicas, sociológicas ou psicológicas. Primeiro porque há uma ausência
doutrinária em classificá-las assim, segundo, pela imensa divergência doutrinária que paira sobre tema e
que não tende a ser objeto de prova. Como será visto, com a quantidade de teorias que surgem, alguns
modelos chegam a adotar uma tese dupla psicológica, biológica, outras surgem apenas para criticar, sendo,
portanto, impossível estabelecer uma classificação exata.
O behaviorismo pode ser considerado uma corrente que se posiciona contrariamente ao estudo
da Psicologia baseado em questões filosóficas, transcendentais ou introspectivas. Em virtude
disso, direciona seus estudos ao comportamento objetivos, captados por meio da observação.
O behaviorismo se preocupa com o estudo das interações entre o sujeito, o ambiente e suas
ações, isto é, o seu comportamento corresponde a uma resposta causa que o levaram a pratica
do crime31.
30
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p.145
31
Op. Cit
Tem por referência os estudos de Ivan Pavlov, que desenvolveu o meio de condicionamento clássico
através de um trabalho com estímulos e respostas, através de experiências para o condicionamento, de
cães. Para clássicos, o comportamento é sempre uma resposta a determinado estimulo32.
O expoente é John Watson, e este sugere uma oposição à introspecção e ao mentalismo, de modo que,
sem dar grande importância aos processos internos do indivíduo, utilizava a observação das manifestações
comportamentais, a fim de prever e controlar o comportamento33.
Liderado por Burrhus Skinner, que publicou em 1953, o livro Science and Human Behavior.
O Behaviorismo radical nega absolutamente a existência de algo que escape ao mundo físico, que não
possua existência de algo que escape ao mundo físico, que não possua existência identificável no tempo e
no espaço, enquanto aceita integralmente todos os fenômenos comportamentais 34.
32
Op. Cit
33
Op. Cit, p.146
34
Op. Cit.
De acordo com a tese, mesmo que o instinto delituoso seja reprimido pelo superego, ele não é destruído,
por isso, continua latente do subconsciente do indivíduo. Nesse sentido, é possível dizer que em sua órbita
gravitam o sentimento de culpa, bem como, a vontade de confessar.
O ciclo jamais se encerra, pois, é só com a prática do comportamento criminoso que se supera o
sentimento de culpa e, assim, realiza sua tendência à confissão.
Atualmente, fala-se em teoria do delito como eleição racional, ideia difundida por James Wilson, e Richard
Herrnstein na obra Crime e Natureza Humana, bem como por Donald Clarke e Derek Cornish, segundo os
quais a infração penal é furto de uma decisão racional
O agente elege se vai praticar o crime ou não. Ou seja, antes de levar a cabo seus intentos
criminosos, o indivíduo, que possui pleno domínio de suas faculdades mentais, realiza um
cálculo mental, sopesando as chances de obter com a prática delituosa e a probabilidade de ser
castigado por sua conduta35.
É diante desse panorama, que a pena vai desempenhar a funções preventivas, sejam elas gerais ou
especiais.
35
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p. 129.
Tem função
integradora. A
Positiva sociedade gosta de
segurança.
Geral
Tem função
Negativa exemplificadora.
eona serve de ex.
Prevenção da Pena
Tem função
Positiva ressocializadora.
Especial
Tem função
preventiva. P/
Negativa impedir que cometa
mais crime, prende.
A função de prevenção GERAL: o próprio nome nos dá uma ideia intuitiva, é a função em relação a TODA a
sociedade. Enquanto isso, a função especial, é direcionada ao próprio delinquente, tornando-se um
influente instrumento de dissuasão daqueles que cogitam cometer alguma infração penal, pois reafirma o
Estado não tolera o crime, e demonstra que a punição é certa e inevitável36.
Nas palavras de Beccaria, o castigo tem por finalidade impedir o culpado de ser nocivo futuramente à
sociedade e desviar seus concidadãos da cena do crime37.
36
Op. Cit.
37
Op. Cit.
A teoria anuncia a aplicação implacável da lei a qualquer conduta ilícita com o fim de manter a
ordem social. Sem lei haverá uma completa anarquia da sociedade, em que cada um fará aquilo
que bem entender, pois não deve submissão a nenhum regramento jurídico 38.
Nessa perspectiva de que a lei deve ser cumprida sempre, sem desculpas, o sentimento de impunidade e
desordem somem sob a impressão do dever de obedecer aos preceitos legais, pois essa é a coisa certa a
fazer. Sob essa vista, pouco importa se a lei é boa ou se é ruim, mas tão somente que ela deve ser aplicada,
pois é dotada de legitimidade para reger condutas da sociedade.
Vale lembrar que esse tipo de movimento vem ganhando força mundo afora. E aqui, destacamos alguns
exemplos, sem qualquer partidarismo, mas com finalidade técnica, com a recente eleição de Donald Trump
para a presidência dos Estados Unidos e, posteriormente, no Brasil com a nova direção do Presidente Jair
Bolsonaro.
O primeiro, sempre com discursos alinhados na ideia de combater o Estado Islâmico, ainda que isso exija
criar o caos e a desordem mundial. O segundo, com pensamentos também militarizados, fundamentados
na hierarquia, ordem e lei.
Alguns autores denominam esse tipo de teoria das janelas quebradas ou política Tolerância Zero e Lei e
Ordem, implementadas com base no Direito Penal Máximo, de Neorretribucionismo ou Realismo de
Direita, uma vez que se confere ao sistema penal a responsabilidade em fazer com que o meio social fique
em paz, usando-se da força e da coerção, pouco importando a pessoa do criminoso. Em outras palavras, o
38
GONZAGA, Christiano. Op. Cit., 68.
que se prega é a pura concepção de que a prevenção geral solucionará todos os problemas com o temor
iminente de uma pena. Todavia, o que não se levou em consideração é que boa parte da população não
atua com base no medo, mas sim no utilitarismo que a infração penal pode fornecer.39
O fator responsável por evitar que um indivíduo siga o caminho do crime é justamente a ligação
que o mantém com a sociedade em que está inserido.
Note que se trata de uma datação a teoria da neutralização de Matza e Sykes (criminoso tem mais chances
de delinquir na medida em que sua crença nas normas sociais diminui).
A partir da teoria dos vínculos sociais, são 04 os elementos41 sociais que formam o elo indivíduo e
sociedade:
39
Op. Cit.
40
GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. Niteroi, Rj:
Impetus, 2009. p.39.
41
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit., p. 133
Nas palavras de Rogério Greco42, essa teoria está ligada com a afetividade, por isso, para ela, a
probabilidade de um jovem se envolver em ilícitos penais diminuirá gradativamente na medida em que
mantiver boa relação, seja com amigos, pais, igrejas e até mesmo escolas.
Guerreiro,
Nós finalizamos as teorias sociológicas em especial, as do conflito. Passaremos agora ao estudo de outros
modelos teóricos.
42
GRECO, Rogério. Op. Cit.
RESUMO
As teorias criminológicas podem ser vistas por dois paradigmas (vertentes), quais sejam: individual e o
sociológico.
No paradigma individual
As teorias visam fornecer uma explicação sobre as causas individuais do crime – o homem criminoso.
O homem
Delinquente
Biológicas
(Bioantropológicas)
Teorias individuais
43
PELUSO, Vinícius de Toledo Piza. Introdução às Ciências Criminais. Salvador: Editora Juspodivm,
2015, p.112
associada às variáveis congênitas do indivíduo, ou melhor, à sua própria estrutura orgânica. Assim,
entende-se que o “o delinquente é um ser organicamente distinto dos demais cidadãos44”.
Teorias Psicológicas.
Justificam o comportamento criminoso através do mundo anímico, dos processos psíquicos ou na vivências
subconscientes do criminoso, bem como nos seus processos de aprendizagem e socialização. 45 Em outras
palavras, significa dizer que essas teorias fundamentam suas respostas às causas do fenômeno
criminológico a partir do estado anímico do indivíduo, de suas vivências, subconsciente, levando em
consideração, inclusive os processos de aprendizagem e socialização.
Estas não partem do pressuposto que o delinquente é um ser diferente do cidadão não criminoso, cujas
causas da prática de um crime estão em falhas no processo de aprendizado e socialização. Por isso, elas
investigam o porquê da maioria das pessoas não praticarem crimes.
Sentido diverso ao paradigma individual que se fundamentam nas causas individuais do crime, o paradigma
social volta-se à análise social.
É que, se de um lado a análise é feita sobre aspectos individuais do crime, de outro, falta analisar o
contexto social que o crime se encontra, daí porque o paradigma social.
Fala-se então que no paradigma social o que se busca é entender a criminalidade como um fenômeno
social, ou seja a sociedade criminógena. Assim, tentam compreender e explicar a criminalidade como um
fenômeno social nas perspectivas de causas ou de reações sociais, ou seja, etiológicos ou interacionistas.
44
LIMA JÚNIOR, José Cesar Naves. Manual de Criminologia. Salvador: Editora Juspodivm, 2015,
p.122
45
PELUSO, Vinícius de Toledo Piza. Ibid.
Sociedade elevada
ao fator
criminógeno.
Consenso
Teorias sociológicas
Conflito
Essa dicotomia é formada a partir das perguntas que vão surgindo sobre o significado dos valores sociais e
o papel que eles influenciam na sociedade.
1) Teoria do consenso
Sociedade
elevada ao fator
criminógeno. As teorias do consenso ou funcionalistas ou de interação
como prefere chamar alguns doutrinadores, pertence a
uma Criminologia tradicional.
Consenso
A perspectiva adotada por esta corrente parte da
Teorias
sociológicas “Existência de uma constelação de valores fundamentais,
comuns a todos os membros da sociedade, em que a ordem
Conflito
social se baseia e por cuja promoção se orienta” (Eduado
Viana, Criminologia 2018, pg. 2010).
São esses valores que definem a identidade do sistema e asseguram, em última instância, uma coesão
social. É que, entende-se que a sociedade é concebida em termos de se excluir a hipótese de conflito
estruturalmente gerado.
Noutras palavras, a partir da teoria do consenso, pode-se afirmar que existe um senso comum entre as
pessoas no sentido de aceitar as regras e normas de convivência social, a fim de que convivam de
maneira harmoniosa46.
==16ef80==
De outro lado, temos as teorias do conflito social fundada sob as palavras: coesão, ordem e força.
A coesão e ordem, são fundadas na força, toda a sociedade se mantém graças a coação que alguns de seus
membros exercem sobre outros. Em linhas gerais, este sistema conflitual determina, em sede de Direito
Penal, um planejamento de produção de normas (criminalização primária) voltado para assegurar o triunfo
da classe dominadora. A histórica preferência da programação criminalizante pelas classes inferiores seria
uma comprovação da essência conflitual, a exemplo do que postulam os teóricos da reação social ou
crítica.
Escola de Chicago
A Escola foi um dos focos de expansão mais poderosos e influentes da Sociologia criminal.
No tocante à explosão urbana na cidade Chicago, destaca-se Park, um dos principais teóricos da escola.
46
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. 2ª. tir.:ago/2018. Salvador:
Editora JusPodivm, 2018. p. 114.
Park era jornalista e, com 25 (vinte e cinco) anos de observação e coleta de dados, constatou
que a população de Chicago, entre os anos 1860 e 1910, dobrava a cada dez anos, com as
ondas de imigração47.
Fazendo uma analogia entre a distribuição das plantas e a natureza e organização humana nas sociedades,
a principal tese da Escola está relacionada às zonas de delinquência. Significa dizer que espaços
geográficos com características determinadas, não só explicam o crime como sua própria distribuição.
Segundo ele, como impossibilidade de definir modelos e padrões de condutas coletivas, decorrendo daí a
ausência de limites para o indivíduo expressar suas inclinações48.
47
Eduardo Viana. Op. cit., p. 213: Cf. Vold, George B: Beenard, Thomas J; Sinpes, Jeffreu B.
Theoretical Criminology. New York: Oxford Universitu Press, 1998, p. 141.
48
Op. Cit.p.,215
Para ele, a cidade representa um organismo vivo, que, à semelhança, cresce, invade determinadas áreas, as
domina e expulsa outras formas de vida inexistentes. Isso ficou claro, por exemplo, nos estados do sul
estadunidense, primeiro ocupados apenas por arvores, vegetação perene, pinheiros, estabilizando-se,
finalmente, com carvalhos nogueira. Esse processo, que os ecologistas descrevem como invasão,
dominação e sucessão, foi transplantado por ele para explicar similarmente a história das Américas e a
invasão, dominação e sucessão no território dos nativos americanos49.
O processo de crescimento descrito por Park foi apropriado e sistematizado por Burgess, na forma Teoria
das Zonas Concêntricas.
Zona 1: Também conhecida por Loop, é o centro da cidade. O coração comercial, onde se situam os
principais bancos e lojas.
Zona 2: Geralmente a parte mais antiga e degradada da cidade, forma a chamada Zona de
Transição, essencialmente habitada pela população mais pobre, que não pode adquirir moradias
melhores.
Zona 3: É formada pela população de trabalhadores que possui melhores condições financeiras e,
por isso mesmo, afasta-se do deteriorado centro para moradias e apartamentos mais modestos.
Zona 4: Corresponde à chamada zona de residências, habitada pela classe média, a qual é integrada
por melhores moradias.
Zona 5: Finalmente, áreas mais afastadas e até mesmo fora das cidades, como cidades satélites,
ocupadas pelas classes altas.
49
Op. Cit.
Contudo, mais do que entender a etiologia criminal, Shaw se preocupava com a prevenção do crime, de
modo que criou programas de políticas criminais tendentes à prevenção delitiva, entre os quais os mais
destacados foi Chicago Area Project (CAP) em 1932.
O projeto foi regionalizado envolvendo jovens e engajando toda a comunidade social, que era despertada
para uma prevenção do delito. Implementava programas desportivos e recreativos como forma de
fomentar a conscientização social a respeito problema da delinquência. O programa é uma clara expressão
da base em que se funda a Escola de Chicago, que era a questão social, e também da linha de pesquisa de
Shaw.
A teoria foi pensada numa situação de ausência estatal e proliferação do crime por causa dessa falta, ainda
dentro da sistemática dos três círculos concêntricos, em que a periferia teria a grande concentração de
práticas criminosas. Como se verá a seguir, a relação conceitual que se faz é entre ordem e desordem.
Nas palavras de Christiano Gonzaga50: Foi feito um experimento na cidade de Nova Iorque, no qual dois
carros foram deixados em regiões distintas (Bronx e Palo Alto). A escolha desses locais foi feita com base na
maior e na menor presença estatal, sendo quase inexistente no Bronx um policiamento ostensivo,
enquanto em Palo Alto, rica região da Califórnia, há polícia pública e até mesmo segurança particular. Após
alguns dias, o carro deixado no Bronx teve uma das janelas quebradas (daí o nome da teoria), mas por
inexistir segurança pública no local nada foi feito contra quem fez o dano. Em virtude disso, no outro dia,
uma das portas do veículo foi arrancada, bem como o toca-fitas, e também nada foi feito, encorajando-se
futuras condutas delituosas e até mesmo mais graves. Por fim, o carro estava totalmente arrombado,
ficando apenas a sua carcaça, como se vê em muitos filmes norte-americanos que retratam os já citados
guetos. Nas periferias do Brasil também é possível vislumbrar tal cenário, em que carcaças de carros são
deixadas nas vielas até mesmo para impedir que a polícia suba o morro e acesse locais de pontos de
drogas. Noutro giro, o carro deixado em Palo Alto não sofrera nenhum tipo de arrombamento ou qualquer
conduta criminosa, uma vez que o policiamento ostensivo e rigoroso em tal região desencoraja os
50
GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva.
2018. p. 65.
moradores locais de praticarem condutas ilícitas. Nem se diga, como sói acontecer que os crimes são
praticados na região da periferia porque os pobres são dados à práticas criminosas, enquanto os ricos não
o são. O motivo do surgimento do crime na periferia foi por causa da ausência estatal, pois no menor sinal
de prática criminosa, ainda que fosse no Bronx e tivesse policiamento presente, seria tal conduta coibida
pela força estatal. Quando se quebra a janela do carro e nada é feito, tem-se a clara sinalização de que o
Estado será omisso contra aquele criminoso, dando ensejo à novas condutas. Nesse sentido, caso se
quebre uma janela de um prédio e ela não seja imediatamente consertada, os transeuntes pensarão que
não existe autoridade responsável pela conservação da ordem naquela localidade. Em breve, todas as
outras janelas serão quebradas. Nisso, haverá a decadência daquele espaço urbano em pouco tempo,
facilitando a permanência de marginais no lugar, criando-se, por consequência, um caos anunciado. Dessa
forma, defende-se que a desordem tem relação de causalidade com a criminalidade, pois deve haver uma
repressão imediata e severa das menores infrações na via pública, com o escopo de deter o
desencadeamento de grandes ações criminosas, restabelecendo nas ruas um clima de ordem.
Alguns doutrinadores, colocam eu dúvida essa ideia de a presença estatal ter reduzido a criminalidade em
Nova Iorque. Aos que defendem divergem a queda abrupta da criminalidade naquela cidade não é prova
suficiente de que a teoria das janelas quebradas funcione, pois, “Basta ver que outras grandes cidades ao
longo dos EUA experimentaram uma queda notável da criminalidade ao longo dos anos 90. Muitas delas –
incluindo Boston, Houston, Los Angeles, St. Louis, San Diego, San Antonio, San Francisco e Washington, D.C.
– com índices maiores que os de Nova Iorque, sem que tivessem implementando a mesma política. Nova
York teve uma queda de 51% na taxa de homicídios no período de 1991 a 1996; Houston, 69%; Pittsburgh,
61%; Nova York ficou em quinto lugar (Joanes, 1999, p. 303).”
Seja como for, prevalece que estimula o crime é a ausência de força policial e, consequentemente, a
inexistência do Estado nas regiões mais pobres.
Ao menor sinal de prática criminosa, como um simples furto ou uso de maconha, a ordem era prender e
punir, de forma a impedir o encorajamento de outros crimes mais graves. A ideia era a de que se os crimes
mais simples fossem punidos a sociedade estaria ciente de que o Estado está presente e vai punir qualquer
conduta praticada às margens da lei51.
Isso significa que, à luz da Política de Tolerância Zero todas as condutas contrárias ao ordenamento
jurídico, por menor que sejam, devem ser punidas, sob pena de crimes básicos como de furto e uso de
drogas eclodirem em crimes de roubo e de tráfico de drogas.
O movimento Lei e Ordem, segue raciocínio similar ao da Teoria das Janelas Quebradas e também o da
Teoria da Política de Tolerância Zero.
A teoria anuncia a aplicação implacável da lei à qualquer conduta ilícita com o fim de manter a ordem
social. Sem lei haverá uma completa anarquia da sociedade, em que cada um fará aquilo que bem
entender, pois não deve submissão a nenhum regramento jurídico52.
Nessa perspectiva de que a lei deve ser cumprida sempre, sem desculpas, o sentimento de impunidade e
desordem somem sob a impressão do dever de obedecer aos preceitos legais, pois essa é a coisa certa a
fazer. Sob essa vista, pouco importa se a lei é boa ou se é ruim, mas tão somente que ela deve ser aplicada
pois é dotada de legitimidade para reger condutas da sociedade.
Desenvolvida por Oscar Newman, foi ele quem escreveu a obra Defensible Space Crime Prevention
Through Urban Design, em 1972.
51
Op. Cit., p. 69.
52
GONZAGA, Christiano. Op. Cit., 68.
Para o autor, a estrutura física e arquitetônica das cidades é fato relevante na incidência das práticas
delitivas, pois o isolamento das pessoas em relação aos vizinhos e inexistência de vigilância facilitam a
ocorrência dos crimes. Com isso, ele argumenta que uma área se tornará mais segura a partir do momento
em que os próprios residentes daquela comunidade assumirem o senso de reponsabilidade e dever de
cuidado. Se o criminoso percebe que determinado local está sob intensa vigilância, certamente se sentirá
menos seguro para cometer uma infração penal. Em suma, essa teoria trabalha com a hipótese de
diminuição do delito através do design ambiental53.
Os que são adeptos a esta teoria, a fundamentam a partir da seguinte concepção: O agente elege se vai
praticar o crime ou não. Ou seja, antes de levar a cabo seus intentos criminosos, o indivíduo, que possui
pleno domínio de suas faculdades mentais, realiza um cálculo mental, sopesando as chances de obter êxito
com a prática delituosa e a probabilidade de ser castigado por sua conduta 54.
É diante desse panorama, que a pena vai desempenhar a funções preventivas, sejam elas gerais ou
especiais.
Tem função
Positiva integradora. A
sociedade gosta de
segurança.
Geral
Tem função
Negativa exemplificadora. eona
serve de ex.
Prevenção
da Pena
Positiva Tem função
ressocializadora.
Especial
Tem função
Negativa preventiva. P/ impedir
que cometa mais
crime, prende.
53
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. 2ª. tir.:ago/2018. Salvador:
Editora JusPodivm, 2018. p. 123.
54
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p. 129.
A função de prevenção GERAL: o próprio nome nos dá uma ideia intuitiva, é a função em relação a TODA a
sociedade. Enquanto isso, a função especial, é direcionada ao próprio delinquente, tornando-se um
influente instrumento de dissuasão daqueles que cogitam cometer alguma infração penal, pois reafirma o
Estado não tolera o crime, e demonstra que a punição é certa e inevitável55.
Os controles sociais constituem formas de influência no modo de agir e pensar do ser humano.
A teoria visa a explicar o comportamento criminoso, levando em consideração as regras sociais, só que,
pelo viés do controle informal, que é exercido pela própria sociedade, sem a participação direta do Estado.
Duas teorias são desenvolvidas nos EUA, e merecem destaque. A saber, a teoria da contenção, de Walter
Reckless, e a Teoria da Neutralização de David Matza e Gresham Sykes.
55
Op. Cit.
Teoria da contenção: Para os que compõem esta teoria, o controle social pode ser feito de duas formas:
controle interno e controle externo.
Teoria da Neutralização: Segundo sociólogos Americanos, os jovens em fase se amadurecimento são como
barcos à deriva, e, portanto, ainda não tem propósito firme de não delinquir. O ponto da deriva está na
metade do caminho entre o controle e a liberdade, pois o adolescente encontra-se num limbo entre o
racional e o delitivo, e, alternadamente, responde às exigências de ambos: ora a um, ora a outro 56.
Finalmente, como forma de estudar as técnicas de neutralização, que são meios pelos quais os
delinquentes buscam justificar sua ação criminosa, por uma série de argumentos, a fim de tornar suas
ações mais aceitáveis perante os olhos da sociedade, os autores elencam 05 tipos de neutralização, que
podemos classificar da seguinte forma:
no momento do crime.
Negação do
Prejuízo Negação do Prejuízo: Ex. o ladrão
afirma ter roubado pessoa rica porque
Desclassificação seus bens subtraídos não lhe fariam falta.
da Vítima Desclassificação da Vítima: Ex.
Condenação dos Indivíduo que comete estupro e justifica-
que condenam se dizendo que a vítima era uma
Demonstração de
lealdade
56
Op. Cit.
Para Travis, autor da teoria: O fator responsável por evitar que um indivíduo siga o caminho do crime é
justamente a ligação que o mantém com a sociedade em que está inserido.
Note que se trata de uma datação a teoria da neutralização de Matza e Sykes (criminoso tem mais chances
de delinquir na medida em que sua crença nas normas sociais diminui).
A partir da teoria dos vínculos sociais, são 04 os elementos57 sociais que formam o elo indivíduo e
sociedade:
Teoria da Anomia
57
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit., p. 133
A sociedade é vislumbrada como um organismo humano, que necessita realizar certas funções vitais para
manter a própria sobrevivência. Quando isso não ocorre, surge a disfunção, falha no sistema de
funcionamento da sociedade. Nesse caso deve a sociedade reagir para saná-la.
Noutras palavras, a anomia em Merton seria esse desequilíbrio entre os meios disponíveis para poucos e
as metas culturais estabelecidas para todos, o que geraria uma ausência de oportunidades (desigualdade
material) para a consecução dos fins tidos como essenciais (fortuna, sucesso e poder).
Nas palavras do Professor Christiano Gonzaga, a subcultura delinquente é um fenômeno que deve ser
estudado com o enfoque na complexidade das relações humanas. Veja o porquê e como se desenvolveu a
teoria:
O conceito da teoria da subcultura pode ser aplicado ainda nos dias de hoje, veja que, de fato, alguns
grupos de excluídos socialmente aglutinam-se e formam verdadeiros Estados Paralelos, a exemplo:
Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e Família do Norte (FDN).
Subcultura Contracultura
Leva a ideia de uma cultura dentro de outra Cria-se apenas uma aversão ao que é tido
cultura, o que gera dificuldade, uma vez que se como socialmente aceito, numa forma de
deve definir o que vem a ser cultura. rebeldia sem causa. Os seus integrantes
simplesmente não concordam com o
establishment e opõem-se a tudo que é tido
como tradicional. Trata-se de uma espécie de
anarquia.
Em suma, a subcultura pode ser compreendida como movimento que surge para contrapor os ideais sociais
impostos, padrões aos quais todos os membros da sociedade devem se submeter, posto que nem todos
terão de alcançar esse ideal, consequentemente, essa desestabilidade produz inquietação social. Por esta
razão, é que grupos excluídos estabelecem sua subcultura que, na maioria das vezes, são alimentadas por
delinquência.
A teoria propõe que o comportamento criminoso de indivíduos tem sua gênese pela aprendizagem, com o
contato com padrões de comportamento favoráveis à violação da lei em sobreposição aos contatos
contrários à violação da lei. Os criminosos tendem a copiar o comportamento daqueles com quem
convivem ou estão associados. É uma espécie de teoria que se baseia no aspecto social como motivador do
surgimento do crime, relegando a segundo plano o aspecto puramente biológico ou psíquico. Os
associados tendem a ter comportamentos coligados e violadores da lei, em contraposição àqueles que
cumprem os ditames legais. Seria uma aplicação prática do jargão popular “diga-me com quem andas e te
direis quem és”. Analisando-se tal associação no âmbito das comunidades carentes, vulgarmente
chamadas de “favelas”, percebe-se que muitos criminosos surgem do convívio com pessoas que já estão há
muito tempo inseridas na delinquência.58
58
Op. Cit.
Teoria Behaviorista
Esta teoria está vinculada a uma área da psicologia denominada behaviorismo, que por sua vez, trata do
comportamento humano59.
O behaviorismo pode ser considerado uma corrente que se posiciona contrariamente ao estudo da
Psicologia baseado em questões filosóficas, transcendentais ou introspectivas. Em virtude disso, direciona
seus estudos ao comportamento objetivos, captados por meio da observação. O behaviorismo se preocupa
com o estudo das interações entre o sujeito, o ambiente e suas ações, isto é, o seu comportamento
corresponde a uma resposta causa que o levaram a pratica do crime60.
Behaviorista Clássico
Tem por referência os estudos de Ivan Pavlov, que desenvolveu o meio de condicionamento clássico
através de um trabalho com estímulos e respostas, através de experiências para o condicionamento, de
cães. Para clássicos, o comportamento é sempre uma resposta a determinado estimulo61.
Behaviorista Metodológico
O expoente é John Watson, e este sugere uma oposição à introspecção e ao mentalismo, de modo que,
sem dar grande importância aos processos internos do indivíduo, utilizava a observação das manifestações
comportamentais, a fim de prever e controlar o comportamento62.
59
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p.145
60
Op. Cit
61
Op. Cit
62
Op. Cit, p.146
Behaviorista Radical
O Behaviorismo radical nega absolutamente a existência de algo que escape ao mundo físico, que não
possua existência de algo que escape ao mundo físico, que não possua existência identificável no tempo e
no espaço, enquanto aceita integralmente todos os fenômenos comportamentais 63.
A Criminologia Interacionista estudava o aspecto social do criminoso e do delinquente. Sua tese, incluía a
responsabilidade da sociedade na contribuição da formatação do criminoso, não sendo o livre-arbítrio
sozinho, uma vertente capaz de causar o “surgimento” do crime e do criminoso.
Para essa corrente, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um
processo de estigmatização. Logo, o criminoso só é diferente do homem comum por razões do rótulo que
recebe e do estigma que sofre. Noutras palavras, significa que, nesse modo de pensar o tema central é o
processo de interação em que o indivíduo é chamado de criminoso.
Nesse sentido, Christiano Gonzaga, in verbis: A sociedade define, por meio dos controles sociais informais,
o que se entende por comportamento desviado, isto é, todo comportamento considerado perigoso,
constrangedor, impondo sanções àqueles que se comportarem dessa forma. Condutas desviantes são
aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam às outras que as praticam. A teoria da rotulação de
criminosos cria um processo de estigmatização para os condenados, funcionando a pena como algo que
acentua as desigualdades. Nessa interação estigmatizante, o sujeito acaba sofrendo reação da família, de
amigos, conhecidos e colegas, acarretando a marginalização nos diferentes meios sociais. De forma a
ilustrar o pensamento desse importante marco teórico da Criminologia, pode ser apontado o determinismo
como um fenômeno social que cria o criminoso tendo em vista o local em que ele vive e relaciona-se com
outras pessoas. Veja-se o exemplo de um menino que mora numa comunidade carente. Ora, essa pessoa é
vítima constante do Estado, uma vez que não possui os direitos básicos como cidadão, apesar de a
Constituição Federal pugnar em seu art. 6º. Esse mesmo menino tem sua matrícula indeferida na escola
63
Op. Cit.
local por ausência de vagas; ele também perde a sua mãe em virtude de uma infecção generalizada
adquirida na unidade de pronto-atendimento da comunidade carente, uma vez que os órgãos sanitários
não fizeram a devida fiscalização; por fim, seu pai é baleado por um policial quando voltava do trabalho,
pois fora confundido com um traficante local. O Estado, em vez de dar educação, saúde e segurança
pública, ao contrário, retirou os seus entes queridos de sua convivência.
Foi a partir de realidades como esta, que teorias foram desenvolvidas. A título de exemplo, citamos:
A ideia de coculpabilidade intitulada por Zaffaroni, em que afirma que a sociedade deve arcar com a alta
vulnerabilidade a que está exposta grande parcela da população.
Coculpabilidade às Avessas
A coculpabilidade às avessas ocorre quando há um aumento da intensidade da pena por causa da baixa
vulnerabilidade social.
Significa dizer que ao aumentar a punição do agente por parte do Estado-Juiz, na análise dos elementos do
art. 59, caput, do CP, tais como “os antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime”, por exemplo, temos o fenômeno da coculpabilidade
às avessas, sendo o oposto da coculpabilidade tradicional.
Colarinho-Azul, Colarinho-Branco
Em sua obra, Sutherland destaca dois pontos como alicerces de sua análise, a saber:
3. Evidenciar que as pessoas de classe socioeconômica alta cometem muitos delitos e estas
condutas deveriam ser incluídas no campo das teorias gerais do delito; e, face às
evidências;
4. Apresentar hipóteses que possam explicar tanto os crimes de colarinho-branco como os
demais ilícitos.
A partir disso, o que se pode concluir é que a prática de crimes não é exclusiva dos criminosos de
colarinho-azul, o que afasta o caráter de patologia inerente aos criminosos ou até mesmo a exclusividade
de que apenas pessoas pobres delinquem.
Logo, o crime é um ente social e deve ser estudado em todas as suas formas, pois ele pode nascer em
qualquer local, bastando para tanto que exista uma interação social64.
Outra dicotomia consistente nas chamadas cifras negras ou ocultas e cifras douradas ou de ouro, também
propostas por Edwin Sutherland.
Nas chamadas cifras negras ou ocultas estão os crimes de colarinho-branco que não são descobertos e
ficam fora das estatísticas sociais. Como os seus autores gozam do chamado “cinturão da impunidade”, os
seus delitos ficam encobertos, ocorrendo o que se chama de cifra oculta ou negra da criminalidade.
Cumpre ressaltar que tais delitos são infinitamente superiores aos delitos que são descobertos e que
entram nas estatísticas sociais, uma vez que os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e contra a
administração pública que realmente ocorrem e não são punidos constituem a grande maioria. Já as
chamadas cifras douradas ou de ouro correlacionam-se aos crimes de colarinho-branco que são
oficialmente conhecidos e punidos, o que, claramente, constituem uma minoria ínfima perto dos que
acontecem e não são descobertos. Os crimes de colarinho-branco conhecidos oficialmente e punidos são
bem menores e são chamados de cifras de ouro. Essa é a ideia de cifras negras e douradas em
Sutherland65.
64
Op. Cit. p.46
65
Op. Cit.
Não obstante, não é demais ressaltar que, numa versão brasileira, muitos professores e
doutrinadores trouxeram o conceito de cifras negras e douradas para o Brasil com a simples máxima
entre os crimes conhecidos e punidos e os não conhecidos e não punidos, sem reservar o estudo apenas
para os crimes de colarinho-branco, como foi a ideia originária de Edwin Sutherland66.
A teoria crítica está diretamente associada à estrutura política e econômica da sociedade. Assim, o rótulo
de criminoso atribuído a uma pessoa não decorre da prática de um fato intolerável pelo corpo social, mas
por servir aos interesses da classe dominante.
Parte da ideia de que a divisão de classe no sistema capitalista gera desigualdades e violências contida pela
legislação penal. Desse modo a norma busca assegurar uma provisória estabilidade, contendo as
confrontações violentas entre classes de uma determinada sociedade.
Abolicionismo
A doutrina68 classifica o abolicionismo como uma das principais vertentes da Criminologia crítica.
66
Op. Cit.,p.47
67
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p.152.
68
LIMA JÚNIOR, José César Naves de. Criminologia. Salvador: Juspodivm
Nesse sentido, diz-se que o sistema punitivo deve ser abolido por inúmeros motivos:
O realismo de esquerda, ao contrário, prega que a criminologia regresse à investigação completa das
causas e circunstancias do delito. Assim, seria possível denunciar os padrões de injustiça social como
pobreza decorrente do sistema capitalista, além de outros fatores como expectativa superdimensionada,
individualismo exagerado, competitividade e etc70.
Minimalismo penal ou Direito penal Mínimo e é considerada uma das 03 principais vertentes da
Criminologia Crítica. Para se ter noção de tamanha importância, é o seu movimento ideológico que atribui
ao Direito Penal apenas a tutela dos bens jurídicos mais importantes, ou seja, indispensável ao convívio
social.
69
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Op. Cit.,p.153.
70
Op. Cit.,p.155.
Paulo Queiroz71 nos ensina que a corrente minimalista pode ser dividida em 02 vertentes, quais sejam:
3. MINIMALISMO RADICAL;
4. MINIMALISMO MODERADO.
71
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Editora Lumem Juris, 2008. p.97.
72
FONTES, Eduardo & HOFFAMANN Henrique. Criminologia. 1ª. Edição. 2ª. tir.:ago/2018. Salvador:
Editora JusPodivm, 2018. p. 160.
73
Op. cit.,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Guerreiros,
Finalizemos o todo conteúdo de Teorias. Espero que tenha sido uma experiência fantástica para vocês e
que essa matéria se fixe, de uma vez por todas.
Paulo Bilynskyj
E-mail: pbilynskyj@gmail.com
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Youtube: Projeto Policial
Facebook: Paulo Bilynskyj
QUESTÕES COMENTADAS
1. (VUNESP/PROMOTOR DE JUSTIÇA PR – 2014) Analise as assertivas abaixo e indique a alternativa:
i. Das construções doutrinárias de Günther Jakobs acerca do “Direito Penal do Inimigo”, extrai-se
que aquele que por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um
comportamento pessoal, por isso não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido
como inimigo;
ii. Uma classificação atual de justiça – levada em consideração na criação de novos métodos de
resolução de conflitos –, que surge como alternativa para que o crime não seja punido de maneira
retributiva, mas que o dano causado seja reparado ou minimizado, é a Justiça Restaurativa;
iii. O Direito pátrio acolhe muitas das reinvindicações das minorias mediante edição de normas
jurídicas que visam manter a convivência harmônica do coletivo;
iv. A afirmativa de João Baptista Herkenhoff (in Movimentos Sociais, Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2004, p.25) de que “Os movimentos sociais não se submetem aos padrões do Direito
estabelecido. Sobretudo em sociedades, como a brasileira, onde milhões de pessoas estão à
Comentários
ITEM I: CORRETO. De fato, as construções doutrinárias de Günther Jakobs acerca do “Direito Penal do
Inimigo”, extrai-se que aquele que por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um
comportamento pessoal, por isso não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como
inimigo.
ITEM II: CORRETO. Está correto a classificação atual de justiça que leva em consideração na criação de
novos métodos de resolução de conflitos –, que surge como alternativa para que o crime não seja punido
de maneira retributiva, mas que o dano causado seja reparado ou minimizado, é a Justiça Restaurativa;
ITEM III: CORRETO. O Direito pátrio acolhe muitas das reinvindicações das minorias mediante edição de
normas jurídicas que visam manter a convivência harmônica do coletivo, SIM.
ITEM IV: CORRETO. De tal forma que a chamada “desobediência civil” constitui uma dessas formas de ir
contra aquilo que fora estabelecido por uma minoria elitizada contra uma maioria que busca a realização
de direitos sociais.
Gabarito: E
Comentários
Ao lembrar do da vertente criminológica defendida pela teoria do etiquetamento, por si só, já seria
possível eliminar esta alternativa. É que para a vertente criminológica do “etiquetamento a
criminologia deve estudar o efeito estigmatizante da atividade da polícia, do Ministério Público e dos
juízes. Mas não é só isso, de modo geral, lembre-se que A Escola Interacionista trabalha a atuação
dos controles, sejam eles formais ou informais no estudo do crime e do criminoso e, para esta
Escola, os controles formais possuem a responsabilidade na rotulação daquele comportamento
chamado de desviado, pois, a forma de atuação do MP, Polícia e Poder Judiciário traz uma marca
inerente à própria função pública, que causa, inevitavelmente, um estigma. Por exemplo, qualquer
vizinho seu que responda por um crime ou que seja investigado, pelo simples fato de ser investigado
e de ter contato com esse controle formal, será estigmatizado para o resto da vida, independente de
culpabilidade.
Letra B: CORRETA. É este o nosso gabarito. A teoria do etiquetamento pode aparecer na sua prova
sendo representada pelos seguintes sinônimos: teoria da rotulação, teoria do etiquetamento ou
labelling approach.
Letra D: CORRETA. Howard Becker, também foi expoente da teoria, tendo grande colaboração no
tema.
Letra E: CORRETA. Sim e sim. A teoria do etiquetamento surgiu nos EUA. Aliás, uma dica importante
para se ter em mente é que toda criminologia contemporânea surge nos EUA. #pegaessebizú
Gabarito: A
RELEMBRANDO O ASSUNTO..
A partir dessa ideia preliminar, três são os modelos de reação da sociedade face a um crime:
1. MODELO CLÁSSICO
2. MODELO RESSOCIALIZADOR
3. MODELO RESTAURADOR
Agora que você já lembrou dos conceitos, vamos aos erros das alternativas.
Comentários
LETRA C: ERRADA. O aparelhamento Estatal não é dispensado nesse modelo, ao contrário, são
protagonistas deste modelo o criminoso e o estado.
LETRA D: ERRADA. O modelo ressocializador não está limitado apenas à imposição da pena. A
utilidade da pena aqui é pensada de modo que, o Estado tem que preparar o condenado para
reintegrá-lo ao corpo social, não podendo simplesmente aplicar a pena e, depois de cumprida, jogar
o criminoso na sociedade.
LETRA E: ERRADA. Esse é um tema com inúmeras divergências doutrinárias, sendo que a doutrina
não é pacífica sobre o alcance da justiça restaurativa, especialmente, no tópico de aplicação em
crimes graves.
Gabarito: A
Comentários
LETRA A: ERRADA. Os controles dos meios de comunicação apresentam-se sob o viés dos fatores sociais da
criminalidade, uma vez que possuem um papel tanto pedagógico quando de influência no comportamento
social.
LETRA E: ERRADA. Nada a ver. O Conflite ignora a existência de acordos e valores e dependem da força e
coerção, justificando as relações sociais conflituosas a partir de uma desigualdade de autoridade, daí
porque, a força e coerção.
Gabarito: D
Comentários
Letra A: ERRADA. A escola do etiquetamento não se preocupa em investigar as causas dos crimes de
colarinho-branco, essa tese é muito trabalhada pela nova criminologia. A vertente criminológica do
etiquetamento trabalha os conceitos da Escola Interacionista, isso significa que, sua análise aborda o
comportamento desviado, em que, os controles, sejam eles formais ou informais são os responsáveis
em rotular e estigmatizar as condutas socialmente reprováveis.
Letra C: Certa. De fato, para a vertente criminológica do “etiquetamento a criminologia deve estudar
o efeito estigmatizante da atividade da polícia, do Ministério Público e dos juízes. Mas não é só isso,
de modo geral, lembre-se que A Escola Interacionista trabalha a atuação dos controles, sejam eles
formais ou informais no estudo do crime e do criminoso e, para esta Escola, os controles formais
possuem a responsabilidade na rotulação daquele comportamento chamado de desviado, pois, a
forma de atuação do MP, Polícia e Poder Judiciário traz uma marca inerente à própria função pública,
que causa, inevitavelmente, um estigma. Por exemplo, qualquer vizinho seu que responda por um
crime ou que seja investigado, pelo simples fato de ser investigado e de ter contato com esse
controle formal, será estigmatizado para o resto da vida, independente de culpabilidade.
Letra D: ERRADA. É a Escola Crítica que se ocupa da crítica do comportamento como bom ou mau
(maniqueísmo entre bom ou mal, pobre e rico), valorando-o como positivo ou negativo do ponto de
vista ético (perspectiva da defesa social) e não a Escola interacionista.
Gabarito: C
Comentários
Letra A: ERRADA. Para a teoria da anomia a falta da confiança é a tese central. Fala-se na falta de
confiança da sociedade nas normas existentes, já que, para a sociedade as normas não são eficazes a
ponto de reger relações, por isso, a sensação de falta de leis – fenômeno conhecido como anomia.
Letra D: ERRADA. A Ecologia é ligada diretamente à Escola de Chicago e, por isso, é dizer que os
ecológicos influenciam na formação da delinquência citando 03 círculos concêntricos como tese: i)
periferia, subúrbio, centro cívico, sendo relevante no estudo do crime a análise da arquitetura do
espaço cultural.
Gabarito: B
Item II: ERRADA. São princípios informadores do direito penal mínimo: insignificância e intervenção
mínima, apenas.
Item IV: CORRETA. De fato, Hegel pregava ao mal do crime o mal da pena, trata-se da teoria da
retribuição, sem adicionar análise posterior na ressocialização.
Item V: CORRETA. De fato, a Escola de Política Criminal ou Escola Sociológica Alemã, brigava por
pena para os imputáveis e medidas de segurança para os inimputáveis, sendo, num segundo plano,
adicionada as penas privativas de liberdade de pequena duração. A teoria aqui ventila é, pena para
quem possui culpabilidade e medidas de segurança para análise de culpabilidade.
Gabarito: D
Comentários
Alternativa A: ERRADA. A Escola de Chicago não faz parte da teoria crítica, mas é vinculada ao marco
teórico da Escola Interacionista.
Alternativa B: ERRADA. O delito é sim objeto de estudo da criminologia, assim como o delinquente,
a vítima e o controle social.
Alternativa C: ERRADA. A criminologia é sim uma ciência empírica, significa dizer que seu estudo é
fundado no caso concreto, ao contrário do Direito Penal, por exemplo, que é ciência dedutiva.
Alternativa D: ERRADA. A teoria do criminoso nato fez parte dos estudos da Escola Positivista.
Ademais foi Cesare Lombroso que cunhou características sobre a fronte dos indivíduos.
Alternativa E: CORRETA. De fato, ambos pertencem à Escola Positiva tendo frisado o paradigma
etiológico no surgimento do crime e do criminoso.
Gabarito E
Comentários
Item I: CORRETA. Esta é a Criminologia Crítica, que defende o fator econômico intimamente ligado ao
surgimento do crime e do criminoso. Aqui, adota-se a ideia da pirâmide social em que o topo está ocupado
pelos ricos e a base composta pelos pobres.
Item II: CORRETA. O fator econômico-social visto como estimulador de práticas criminosas é conatural à
Criminologia Crítica.
Item III: CORRETA. A visão do Direito Penal como instrumento de denominação social para criminalizar
condutas, de forma que uma classe (rica) subjugue a outra classe (pobre) é a bandeira discriminatória
recriminada pela Criminologia Crítica, já que a lei deveria ser igual para todos.
Item IV: CORRETA. Na visão dos doutrinadores da criminologia crítica, o princípio do fim ou da prevenção
da pena é questionado a partir do entendimento de que a ressocialização não pode ser obtida numa
instituição como a prisão, sim. Para eles é um erro a prevenção da pena ter apenas o papel de castigar, não
por outro motivo, os presídios tornam-se verdadeiras universidades do crime e, com isso, há chance
mínima de ressocialização.
Item V: CORRETA. Há sim a teoria das subculturas delinquentes, composta por integrantes que: i)
desrespeitam as culturas dominantes (tipificações oficiais), e; ii) passam a criar as suas condutas ou
códigos de condutas que regem os seus integrantes. A título de exemplo, reitero as facções como CV e
PCC.
Gabarito: A
10. (ACAFE/DELEGADO DE POLÍCIA – 2014) São referências de teorias penais e criminológicas latino-
americanas e brasileiras que tiveram grande repercussão entre os anos 60 a 80 do século XX:
a. A Criminologia dialética desenvolvida pelos brasileiros Roberto Lyra (pai) e Roberto Lyra Filho.
b. Criminologia da Liberação desenvolvida em colaboração pelas Venezuelanas Lola Aniyar de Castro e
Rosa Del Olmo.
c. A Sociologia do controle penal desenvolvida conjuntamente pelo argentino Roberto Bergalli e pelo
chileno Eduardo Novoa Monreal.
d. O Realismo jurídico-penal marginal, a partir do ponto de vista de uma região marginal do poder
planetário, desenvolvido pelo argentino Eugenio Raúl Zaffaroni.
e. A Criminologia radical desenvolvida pelo brasileiro Juarez Cirino dos Santos e As matrizes Ibéricas
do Direito Penal brasileiro, desenvolvida conjuntamente pelos brasileiros Nilo Batista e Vera
Malaguti W. de Souza Batista.
Comentários
Alternativa A: ERRADA. A Criminologia dialética desenvolvida por Roberto Lyra Filho, apenas.
Alternativa C: ERRADA. Foi o Argentino Roberto Bergalli, que desenvolveu a sociologia do controle
penal.
Alternativa D: CERTA. De fato, é o realismo jurídico tem como partida fundamental a ideia de que a
lei não pode consistir em meras ideias impositivas, e para isso, ele relaciona a lei com a eficácia das
regras. Também é a tese defendida por Zaffaroni que analisa a discursividade criminológica como um
fato de poder vindo do centro à periferia. Aliás, Zaffaroni vai defender que uma das técnicas de poder
é o monopólio da informação, que tira a comunicação com as margens causando um isolamento
intramarginal e também internacional.
Alternativa E: ERRADA. Juarez Cirino dos Santos é quem desenvolveu a criminologia crítica.
Gabarito: D
Comentários
LETRA A: ERRADA. Na forma do art. 20, parágrafo único, as descriminantes putativas ocorrem nos
casos em que o agente imagina estar atuando dentro dos casos de excludentes de ilicitude.
LETRA B: ERRADA. Absolutamente errado. A cifra negra não tem absolutamente nada a ver com o
conceito da assertiva, mas reflete os crimes não solucionados.
LETRA C: ERRADA. Absolutamente errado. A cifra negra não tem absolutamente nada a ver com o
conceito da assertiva, mas reflete os crimes não solucionados.
LETRA D: CORRETA. De fato, as cifras negras ou ocultas da criminalidade corresponde aos crimes
que ocorrem, mas que não são descobertos pelos órgãos de segurança pública, o que permite a
assertiva de que elas são bem superiores à chamada criminalidade oficial. Como o sistema penal é
seletivo, impossível punir todos os crimes que ocorrem, mas apenas aqueles escolhidos pelos
controles sociais formais, tendo em vista a sua maior gravidade aparente.
Gabarito: D
Comentários
Alternativa A: ERRADA. É CORRETA afirmar que a Criminologia desenvolvida com base no chamado
“paradigma etiológico”, de matriz positivista, e a Política criminal dela decorrente, exerceram influência
marcante na execução penal, já que há a possibilidade de remição da pena, seja por trabalho, estudo etc.,
Alternativa C: CORRETA. A Criminologia crítica realmente destaca o estudo do sistema penal, incluindo a
agência policial, como parte integrante de seu objeto, e conclui que a seletividade estigmatizante é a lógica
estrutural de seu funcionamento. Ademais, A agência policial é um exemplo de atuação estigmatizante
utilizado como forma de dominação social, selecionando-se certas condutas do colarinho-azul para
punição.
Alternativa D: ERRADA. A obra “Dos delitos e das penas” (1764), é anterior ao positivismo e,
consequentemente, um exemplo da Escola Clássica da Criminologia, enquanto a Criminologia como uma
disciplina autodenominada de “ciência” causal-explicativa da criminalidade está relacionado ao período
posterior à Escola Clássica.
Alternativa E: ERRADA. A criminologia não de desenvolve de forma autônoma desde sempre na América
Latina, tampouco no Brasil, seu objeto não é variável tendo mudado apenas a perspectiva depois da
Escola Positivista, não sendo usual a aplicação durante a Escola clássica que utilizava o método dedutivo,
baseando-se na análise lógico-abstrata do Direito Penal.
Gabarito: C
Comentários
Letra A: ERRADA. A criminologia não é ciência normativa, tampouco se preocupa com a repressão
social contra o delito por meio de regras coibitivas, cuja transgressão implica sanções. Ao contrário, a
criminologia é ciência autônoma, empírica e interdisciplinar, importante fonte de informação para
estratégias de prevenção criminal conferindo subsídios à políticas públicas.
LETRA C: ERRADA. Erradíssimo, quase toda absurda a assertiva. Primeiro que a não é objetivo da
criminologia a criação ou estabelecimento de comandos legais de repressão à criminalidade e
despreza. Segundo que ela não se ocupa em estudar o homem apenas em seu aspecto antropológico,
essa é apenas uma das teorias vista no decorrer do estudo, é a teoria de Lombroso. Finalmente. A
criminologia considera sim o meio social como fatores criminógenos. Assertiva erradíssima, para ficar
mais errada que isso faltou dizer que a finalidade da criminologia como ciência é buscar a
ressocialização ou a eliminação do crime.
LETRA D: ERRADA. Embora estese sejam os objetos de estudo da criminologia, não são tidos a partir
de fatos abstratos. Ao contrário, a criminologia parte do concreto para a formulação de teorias
abstratas.
LETRA E: ERRADA. Está errada a segunda parte da assertiva, pois, embora a criminologia tenha como
objeto de estudo a diversidade patológica e a disfuncionalidade do comportamento criminal do
indivíduo delinquente ela não produz fundamentos seguros, de nenhuma ordem, para definições
jurídico-formal do crime e da pena.
Gabarito: B
LISTA DE EXERCÍCIOS
2. (UEG/GO DELEGADO DE POLÍCIA – 2018) Sobre o labelling approach e sua influência sobre o
pensamento criminológico do século XX, constata-se que:
a. a criminalidade se revela como o processo de anteposição entre ação e reação social.
b. recebeu influência decisiva de correntes de origem fenomenológica, tais como o interacionismo
simbólico e o behaviorismo.
c. o sistema penal é entendido como um processo articulado e dinâmico de criminalização.
d. parte dos conceitos de conduta desviada e reação social como termos independentes para
determinar que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta.
e. no processo de criminalização seletiva o funcionamento das agências formais de controle mostra-se
autossuficiente e autorregulado.
a. escola de Chicago.
b. associação diferencial.
c. labelling approach.
d. subcultura delinquente.
e. teoria crítica.
7. (MPE/SC PROMOTOR DE JUSTIÇA MATUTINA – 2019) A criminologia crítica é elaborada com base
em uma interpretação da realidade realizada a partir de um ponto de vista marxista. Trata-se de
uma proposta política que considera que o sistema penal é ilegítimo, e seu objetivo é a
desconstrução desse sistema.
a. Certo
b. Errado
8. (CESPE/DPE-DF DEFENSOR PÚBLICO – 2019) Acerca dos modelos teóricos da criminologia, julgue o
item que se segue.
Para a teoria da conformidade diferencial, a comunidade produz estímulos e pressões que impulsionam o
indivíduo à conduta criminal, mas tais impulsos são impedidos por fatores internos — como a
personalidade forte — e externos — como a coação normativa exercida pela sociedade.
a. Certo
b. Errado
I – O labeling approach tem se ocupado em analisar, especialmente, as reações das instâncias oficiais de
controle social, ou seja, tem estudado o efeito estigmatizante da atividade da polícia, dos órgãos de
acusação pública e dos juízes.
PORQUE
II – Não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal, pois
o status social de delinquente pressupõe o efeito da atividade das instâncias oficiais de controle social da
delinquência.
10. (VUNESP/BA DELEGADO DE POLÍCIA – 2018) Assinale a alternativa correta no que diz respeito à
criminologia e ao controle social.
a. A criminologia crítica radical, através de análises profundas e contundentes, busca apresentar
meios eficazes de aperfeiçoamento do controle social exercido pela justiça criminal.
b. A afirmação do criminólogo Jeffery, no sentido de que “mais leis, mais penas, mais policiais, mais
juízes, mais prisões significam mais presos, porém não necessariamente menos delitos”, refere-se a
uma crítica ao controle social informal.
c. A esterilização eugenista aplicada a criminosos contumazes e estupradores com o objetivo de evitar
a procriação foi sustentada, no início do século XX, como forma de controle social por correntes
criminológicas derivadas do pensamento positivista.
d. a conclusão de uma pesquisa que indica maior punibilidade para negros (mais condenados do que
indiciados e mais presos em flagrante do que indiciados por portaria) contradiz os fundamentos da
criminologia crítica em relação ao controle social.
e. A incipiente criminologia na escola clássica afastava o livre-arbítrio como fundamento do sistema
penal de controle social.
João nutria grande desejo por sua colega de turma, Estela, mas não era correspondido. Esse desejo
transformou-se em ódio e fez que João planejasse o estupro e o homicídio da colega. Para isso, ele passou
a observar a rotina de Estela, que trabalhava durante o dia e estudava com João à noite. Determinado dia,
após a aula, em uma rua escura no caminho de Estela para casa, João realizou seus intentos criminosos,
certo de que ficaria impune, mas acabou sendo descoberto e preso.
Conforme a criminologia crítica, o crime praticado contra Estela, descrito no texto 1A14AAA, pode ser
explicado:
a. por traumas de infância desenvolvidos por João, o que tornou difícil a sua relação com as mulheres.
b. pela pouca iluminação da rua que Estela elegeu para voltar para casa depois da aula.
c. pelo comportamento imprudente de Estela, que, no período noturno, andava sozinha em rua mal
iluminada.
d. pela existência de alguma característica inata de João, que fatalmente o levaria a cometer os crimes
de estupro e homicídio.
e. por multifatores, como uma cultura misógina que desvaloriza as mulheres e que legitima a sua
punição quando não forem atendidos os interesses e os desejos masculinos.
12. (CESPE/POLÍCIA FEDERAL DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL – 2018) Julgue o item a seguir, relativos
a modelos teóricos da criminologia.
Para a teoria da reação social, o delinquente é fruto de uma construção social, e a causa dos delitos é a
própria lei; segundo essa teoria, o próprio sistema e sua reação às condutas desviantes, por meio do
exercício de controle social, definem o que se entende por criminalidade.
a. Certo
b. Errado
c. A moderna Sociologia Criminal contempla o fato delitivo invariavelmente como “fenômeno natural”
e pretende explicá-lo em função de um determinado marco jurídico.
d. A Teoria Estrutural-Funcionalista explica o efeito criminógeno das grandes cidades, valendo-se dos
conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e, sobretudo,
invocando o debilitamento do controle social nestes núcleos.
e. Teorias do Conflito, tradição na Sociologia Criminal norte-americana, pressupõem a existência, na
sociedade, de uma pluralidade de grupos e subgrupos que, eventualmente, apresentam
discrepâncias em suas pautas valorativas.
14. (FCC/AL-PB PROCURADOR – 2013) Franz Von Liszt (1851-1919) foi um modernizador do Direito
Penal, propondo repensá-lo desde a ótica de uma política criminal que tenha na pena uma
ferramenta estatal na luta contra o crime, inclusive com fundamentos científicos da criminologia e da
penologia. O movimento correspondente, que teve em Von Liszt um de seus mais importantes
defensores, denomina-se:
a. Escola de Kiel.
b. Teoria da nova defesa social.
c. Finalismo.
d. Programa de Marburgo.
e. Escola Positiva.
15. (VUNESP/SP PAPILOSCOPISTA POLICIAL – 2013) Umas das formas que o Estado Democrático de
Direito possui para prevenir o crime é a pena. De acordo com a teoria mista que estuda as penas,
estas têm a finalidade de:
a. punir o delinquente de forma proporcional ao mal praticado.
b. trazer mais tranquilidade para a sociedade, uma vez que o criminoso não estará mais nas ruas.
c. retomar a tranquilidade e a paz pública.
d. prevenção geral e prevenção especial.
e. afastar o delinquente da sociedade, para evitar novos crimes.
GABARITO
1. A
2. C
3. D
4. B
5. C
6. C
7. A
8. B
9. B
10. C
11. E
12. A
13. E
14. D
15. D