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Epistemologia de

Ciências Sociais
Curso de Licenciatura em Ensino de História

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas (FCSF)

Departamento de História

Universidade Pedagógica
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo
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e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com
Ficha técnica

Autoria: Ângelo Pelembe Bunguele

Revisão Científica: Jorge Fernando Jairosse

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Augusta Guilima

Edição Linguistica: Salomão Massingue

Edição técnica/Maquetização: Aurélio Armando Pires Ribeiro

Layout da Capa: Valdinácio Florêncio Paulo


Imagem base da Capa: Gaël Epiney

© 2017 Universidade Pedagógica

Primeira Edição

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.
Índice
Visão Geral do Módulo i

Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais 10

Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de Epistemologia de Ciências Sociais 11


a) Epistemologia .............................................................................................. 12
b) Conhecimento .............................................................................................. 14
c) Verdade ........................................................................................................ 15
d) Lógica .......................................................................................................... 17
e) Pesquisa........................................................................................................ 17
f) Ciência ......................................................................................................... 21

Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de Ciências Sociais (conclusão)24


g) Método científico ......................................................................................... 25
h) Teoria ........................................................................................................... 26
i) Sociologia - .................................................................................................. 28
j) Ciências sociais ............................................................................................ 28

Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências Sociais 32


Principais formas de conhecimento e classificação do conhecimento científico .. 33
a) Formas de conhecimento e Ciências Sociais ............................................... 33
b) Classificação geral das ciências e o lugar das ciências sociais. ................... 35

Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências Sociais 41


a) Contexto da transição à modernidade em que emerge o método científico 42
b) Transição da filosofia à sociologia .............................................................. 43
c) Filosofia fenomenológica e existencialista .................................................. 46
d) Reflexos sobre a igreja, agente cultural e político ....................................... 48

Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências Sociais 52


Principais características do método científico ..................................................... 53

Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas, crítica e complementaridade 57


A qualificação e a quantificação em Ciências Sociais. ......................................... 58
6.1. Método quantitativo .................................................................................... 58
6.2. Método qualitativo ...................................................................................... 62
6.3. Critérios científicos e complementaridade.................................................. 65
Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências sociais 71
Peculiaridades das Ciências Sociais ...................................................................... 72

Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de Ciências Sociais 80

Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo 81


8.1. Positivismo ..................................................................................................... 82
8.2. Funcionalismo ................................................................................................ 82
8.3. Estruturalismo ................................................................................................ 84

Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo 88


9.1. Etnometodologia ............................................................................................ 89
9.2. Fenomenologia ............................................................................................... 89
9.3. Racionalismo .................................................................................................. 91

Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo 94


10.1. Empirismo .................................................................................................... 95
10.2. Realismo ....................................................................................................... 95
10.3. Idealismo ...................................................................................................... 97

Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia analítica da linguagem 100


11.1. Materialismo histórico. ............................................................................... 101
11.2. Hermenêutica.............................................................................................. 104
11.3. Filosofia analítica da linguagem ................................................................. 106

Unidade 3: 112

Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais 113


Métodos que operacionalizam os quadros de referência na pesquisa social. ...... 114

Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais 125


Modelos de explicação dos fenómenos sociais. .................................................. 126
13.1. A busca de leis invariáveis ......................................................................... 126
13.2. A explicação dialéctica ............................................................................... 126
13.3. A explicação das causas ............................................................................. 128
13.4. A explicação funcionalista ......................................................................... 128
13.5. A explicação hipotético-dedutiva ou racionalismo crítico ......................... 130
13.6. A explicação estatística e o factor de prova ou variável .......................... 131
13.7. Explicação sociológica ou ruptura epistemológica. ................................. 132
13.8. Explicações a posterior ou post-factum ................................................... 133
Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais 135
Modelos de compressão e interpretação dos fenómenos sociais ......................... 136
14.1. As ciências do espírito ou humanas ........................................................... 136
14.2. Ciência Cultural e Ciência Natural ............................................................. 137
14.3. Os tipos ideais ............................................................................................ 138
14.4. As bases fenomenológicas das Ciências Sociais. ....................................... 139
14.5. Filosofia das Ciências Humanas................................................................. 142
14.6. A linguagem da acção ................................................................................ 144
14.7. A dupla hermenêutica ................................................................................. 145
14.8. A interpretação da interacção social ........................................................... 147

Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais 151


Estratégias metodológicas para a credibilização e validação da pesquisa social. 151
15.1. Análise de conteúdo ................................................................................. 152
15.2. Fontes comuns de erros ........................................................................... 152
15.3. Controlo de variáveis estranhas. .............................................................. 155

Bibliografia do Módulo 159


Visão Geral do Módulo
Introdução
Bem-vindo ao módulo de Epistemologia de Ciências Sociais, seu
instrumento de estudo dos conteúdos do plano temático no curso
de Ensino de História

Faça bom proveito.


Caro estudante, o módulo que se apresenta enquadra-se nas
cadeiras do 1º ano do curso de Licenciatura em Ensino de História,
visa a iniciação à pesquisa científica em Ciências Sociais, e em
História em particular, não obstante o Módulo de Introdução de
história lhe proporcionar as ferramentas da produção do
conhecimento histórico e a natureza da ciência histórica, como
Ciência Social. Com o estudo deste módulo será possível
diferenciar o conhecimento científico de outras formas de
conhecimento, reconhecer e manusear as singularidades da
pesquisa social, escolher ascorrentes filosóficas, os métodos e as
técnicas apropriadas àcompressão, interpretação e explicação dos
fenómenos sociais. Portanto, este módulo associado ao de
Metodologia de Investigação, habilitar-lhe-á a redigir textos
científicos coerentes.
O estudante deve considerar como ponto de partida que, em termos
gerais, a epistemologia é a análise do conhecimento científico e, em
termos mais específicos, analisa os suportes filosóficos das
ciências, seu objecto de estudo, os valores implicados na criação do
conhecimento, a estrutura lógica das suas teorias, os métodos
empregues na investigação e na explicação dos seus resultados e a
verificabilidade ou refutabilidade de suas teorias.Nesta senda, este
módulo pretende proporcionar ao estudante o domínio das teorias,
processos e produção do conhecimento científico em Ciências
Sociais.

i
Objectivos do Módulo
Ao completar as lições deste módulo o prezado estudante
deverá possuir três competências básicas:
 Adquirir noções básicas sobre teorias e métodos das
ciências sociais;

 Dominar os mecanismos de busca da objectividade nas


ciências sociais;

 Compreender a importância, utilidade e paradigmas da


investigação em ciências sociais.

Por outro lado, no fim do módulo deve ser capaz de:


 Compreender os princípios filosóficos, base das teorias e
métodos das ciências sociais;

 Conhecer os diversos tipos de explicação e interpretação


usados pelas ciências sociais;

 Diferenciar os principais paradigmas e os níveis de


integração que se estabelecem;

 Conhecer os princípios fundamentais das novas teorias


derivadas dos grandes paradigmas teóricos das ciências
sociais;

 Conhecer os procedimentos de pesquisa objectiva e


credível em ciências sociais.

Propósito do módulo.

O impacto prático projectado para este módulo é munir o futuro


professor de História,agente social por excelência, com
ferramentas debusca da objectividadena pesquisa de fenómenos
sociais e compreender a importância, utilidade e paradigmas da
investigação em ciências sociais.

ii
A quem se destina o Módulo
Caro estudante e futuro professor de História tem à sua disposição
um módulo elaborado na perspectiva de combinar material de raiz e
a bibliografia básica, visando guiar e não limitar sua aprendizagem,
na perspectiva polissémica e probabilística da pesquisa social
sempre aberta a novas fontes e interpretações. Prezado colega, este
é um guia para aqueles que são confrontados com a exigência que
caracteriza o estudo universitário, onde o carácter académico
contraria a indicação de receitas únicas.

Métodos de estudo.
Estudo individual: Grande parte da sua aprendizagem,
realiza sozinho, a ler e a pensar em silêncio. Caro estudante
o módulo apresenta quatro (4) elementos estruturantes: os
apontamentos de indução, a indicação das leituras
obrigatórias, as actividades visando a realização dos
objectivos das lições e os exercícios de aplicação.
Grupos de estudo informais: Naturalmente, você não
precisa de estudar este módulo apenas individualmente. Os
materiais podem e devem ser usados por si com outros
estudantes deste curso e professores do seu grupo de
disciplina.

NOTA: Este módulo não pretende assumir nem inculcar nenhum


absolutismo do saber, por isso é desejável que seja estudado em
combinação com outros materiais, os mais importantes constam da
bibliografia final, cujas chamadas constam ao longo das lições.

iii
Avaliação
Caro estudante, a avaliação obrigatória consistirá de dois (2)
testesescritos e exame final. Contudo, a sua calendarização e
oportunidade dependerá da planificaçãoa ser feita pelo tutor de
especialidade ou orientador, que poderá identificar outras
modalidades de avaliação e estratégias de condução do módulo.

Organização do Módulo
Estruturalmente o módulo comportatrês unidades de
aprendizagem, apresentados no sinopse que segue:

Nr. de lições Conteúdo Tempo de


estudo

Unidade I: Introdução à Epistemologia de 10h


ciências sociais:
1e2
1.1. Discussão dos conceitos operacionais de
Epistemologia das Ciências Sociais.

I 1.2. Formas de conhecimento e classificação 30h


3 3h
do conhecimento científico.

1.3. A evolução: Das ciências naturais à


4 3h
sociais

1.4. Método científico em ciências sociais


5 5h

1.5. Método quantitativo e qualitativo:


6 5h
Críticas, critérios e complementaridade.

iv
1.6. Peculiaridades das ciências sociais
7 4h

8 Unidade II: Suporte filosófico ou quadros de 3


referência das ciências sociais:
II
2.1. Positivismo, Funcionalismo,
Estruturalismo 10

2.2. Etnometodologia,
9 2
Fenomenologia, Racionalismo

2.3. Empirismo, Realismo, Idealismo


10 2

2.4. Materialismo e materialismo


11 3
histórico, Hermenêutica e Filosofia
analítica da linguagem

12 Unidade III: A construção epistemológica 5


das ciências sociais
3.1. Métodos das ciências sociais

III
 Métodos de procedimento
30
 Métodos de abordagem

3.2. Explicação nas ciências sociais


13 10

3.3. A compreensão e interpretação


14 10
nas ciências sociais

3.4. Confiabilidade e validade das


15 5
investigações

Total 80

v
Ícones de Actividades

Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e


facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones
foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e
Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a
diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o
que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no
módulo:

1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[peneira]
[colher de pau com alimento
[enxada em actividade] para provar]
4. Exemplo/estudo de caso 5. Debate 6. Trabalho em
grupo

[Jogo Ntxuva]

[fogueira]
[mãos unidas]
7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[batuque
soando] [estrela cintilante] [livro aberto]

vi
10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da
fogueira]
[sol]
[embondeiro]
13. Terminologia 14. Video/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[Dicionário] [computador]
[Balão de fala]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com


um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática
ou aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e
verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não
aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso
diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente
ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para
novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de
entreajuda, que se apoiem uns aos outros

vii
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter
informações adicionais através de livros ou outras fontes.
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento
para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou
lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou
então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo
para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na
plataforma digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar
a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de
auto-avaliação.

viii
Conteúdos
Introdução à
Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais Epistemologia de Ciências
Sociais
Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de
Epistemologia de Ciências Sociais

UNIDADE
Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de
Ciências Sociais (conclusão)

1
Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências
Sociais

Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências


Sociais

Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências


Sociais

Principais características do método científico

Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas,


crítica e complementaridade

Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências


sociais

Pág. 10 - 78

9
Unidade 1: Introdução à Epistemologia de Ciências Sociais
Introdução
Nesta1ª unidade de aprendizagem apresentam-se seteliçõesque
correspondem ao estudo dos conceitos operacionais, a identificação do
lugar das Ciências Sociais no campo dos estudos científicos e as
particularidades da pesquisa social. Assim, nesta unidade, o focoestá nos
aspectos introdutórios do plano do módulo, conforme indiciam as metas
que seguem.

Objectivos da unidade
Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:
 Descrever os conceitos operacionais da disciplina;

 Analisar o lugar das ciências sociais na classificação geral das


ciências;

 Descrever a evolução histórica das ciências naturais às sociais;

 Caracterizar o método científico em ciências sociais;

 Caracterizar, criticar e reconhecer os critérios básicos e de


complementaridade entre os métodos quantitativo e qualitativo na
pesquisa social;

 Explicar as peculiaridades que desafiam a pesquisa nas ciências


sociais.

30 horas.

Tempo

10
Lição n° 1: Conceitos eoperacionais da disciplina de Epistemologia
de Ciências Sociais

Introdução
Bem-vindoà lição inaugural de Epistemologia de Ciências Sociais, ela
habilita-lhe a compreender a polissemia e o carácter provisório dos
conceitos estruturantes da epistemologia da ciência e da ciência social,
mormente as características do método científico e as peculiaridades da
pesquisa social. Os conceitos e actividades seleccionadas para esta aula,
exige muita leitura e constituem o fundamento para estudar o resto do
módulo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Descrever conceitos operacionais de Epistemologia,
Conhecimento, Verdade, Lógica, Pesquisa e Ciência,

 Relacionar os conceitos operacionais indicados para esta


lição.

Objectivos

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

Tempo

11
Conceitos de Epistemologia, Conhecimento, Verdade, Lógica,
Pesquisa e Ciência.

Terminologia

a) Epistemologia
Caro estudante, este é um conceito central da filosofia do conhecimento
que indaga as leis científicas, ele integra três aspectos centrais:
possibilidade de conhecer, relação subjectiva entre sujeito e objecto do
conhecimento e a validade e aplicabilidade do conhecimento.

Gomes (1988) considera como noções elementares de epistemologia a


relação entre o sujeito e o objecto, para além dos processos histórico-
filosóficos do conhecimento e a evolução da problemática sobre sua
origem, natureza e valor.

12
Caro estudante, leia o conceito de epistemologia em Gomes
(1988:351/362) ou na Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de
Cultura1e, no seu bloco de notas, estabeleça a relação
epistemológica, relacionando o que leu e a situação hipotética do
Actividade exemplo que segue: Se entregarum apagador a uma criança de 2
anos, ela pode estabelecer uma relação particular como se de um
brinquedo de viatura se tratasse e o mesmo apagador diante de
um adolescente de 16 anos a relação entre ambos muda
totalmente.

Se nas notas que fez da leitura dos autores e páginas referidos no


enunciado constam os aspectos constantes no quadro,está no
caminho certo, então complete as duas colunas em branco. Mas
se não conseguiu releia os textos e anote os elementos que
permitem chegar ao resultado esperado.

Sujeito Objecto Relação epistemológica

Criança de 2 Brinca com o apagador como


anos brinquedo de carro: vhummmm…
Apagador
Adolescente Pensa no ambiente escolar: sala
de 16 anos de aula, professor, quadro, giz,
etc.
Você, caro Ciências
estudante, sociais
antes da
leitura
Você, depois Ciências
da leitura dos sociais
textos
indicados
acima

1
O prezado estudante poderá consultar outra enciclopédia disponível na biblioteca mais
próxima. Contudo, tem ao seu dispor na Web a Enciclopédia Verbo Edição Século XXI,
sucessora da Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura (ambas disponíveis
emhttps://pt.m.wikipedia.org e https://www.olx.pt)

13
b) Conhecimento
Partamos da convicção deque o conhecimento, emergindo da totalidade da
vida psíquica, em que se insere, impõe-se como fenómeno originário e
irredutível. Objecto de uma experiência universal e constante, permanece
intraduzível na sua misteriosa complexidade, daí ser compreensível o
recurso a analogias e imagens mais ou menos sugestivas para melhor o
aproximar e descrever. Numa análise elementar, o conhecimento aparece
como acto imanente pelo qual a consciência abre-se para o mundo
circundante, tornando-o intencionalmente presente na consciência.
Inicialmente o conhecimento é um fenómeno consciente – conhecer é
ter consciência de alguma coisa, onde o conhecimento e a consciência
constituem uma unidade indissolúvel, não existindo um sem outro. Em
todo o caso conhecer é presente, pelo menos implicitamente, a reflexão
(consciência do eu) que opõe um sujeito a um objecto, relação
necessáriapois não há conhecimento sem sujeito que conhece ou sem um
objecto conhecido. O sujeito deve apreender o objecto, acolhê-lo, torná-lo
presente; enquanto ao objecto compete deixar-se apreender e especificar,
o conhecimento dando-lhe um conteúdo.

Repare que, conhecer objectivamente é manter o outro à distância,


evitando confundir-se com ele. A apreensão, pelo sujeito, manifesta-se
como êxito da consciência, uma saída da sua esfera para a do objecto e o
consequente regresso a si mesmo depois de haver o apreendido. Ora, o
sujeito não pode apreender o objecto sem se transcender, nem pode ser
consciente dessa apreensão sem de novo regressar a si mesmo ou se
interiorizar (conhecer é tornar-se o Outro, enquanto Outro). Fusão em que
no interior de um mesmo acto, sujeito e objecto conservam a sua
autonomia, portanto o sujeito torna-se o Outro sem o absorver,
respeitando a sua individualidade e no objecto não se opera nenhuma
modificação, permanecendo inalterável na sua realidade ontológicae
indiferente a ser ou não conhecido. O conhecimento é uma relação
dinâmica e vital, uma reacção a um excitante. Ora, nenhuma excitação
pode provocar uma sensação ou pensamento, se o sujeito não reagir
espontânea e pessoalmente. Essa espontaneidade é relativa: Impõe-se a

14
intervenção de um excitante para que haja sensação e a própria vida
intelectual depende da sensibilidade. O sujeito é incapaz de produzir ou
criar o objecto, mas deve esperar que este se lhe manifeste, sendo o
sujeito de algum modo passivo, deixando-se medir e determinar pelo
objecto. O conhecimento não se pode definir como pura subjectividade,
nem como pura objectividade, é ao mesmo tempo activo e passivo,
constitutivo e receptivo, promoção interior e informação exterior, ele vive
e alimenta-se da tensão dialécticaentre o sujeito e o objecto, expressa em
termos de isolamento e comunhão, identidade e diversidade, coincidência
e distância, passividade e liberdade (Verbo Enciclopédia Luso-brasileira
de Cultura, Vol. 5, pp.1391-1395).

Agora, verifique o que percebeu de conhecimento e se reconhece os


problemas que envolvem sua definição: Escreva no seu bloco de notas o
que entendeu como noção, origens, problemas epossibilidades do
conhecimento.
Actividade
Se nas notas que fez conseguiu identificar a noção, origem, problemas e
possibilidades de conhecer, então está no caminho certo, mas se não
conseguiu volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de
Lopes (1970:171-203) que lhe permitirá fácil identificação dos
elementos que lhe conduzirão ao resultado esperado.

c) Verdade
Retenha, antes de tudo, que por verdade pode referir-se ao pensamento, ao
ser e à palavra. Na experiência humana a verdade afecta primeiro o
pensamento, este é sempre sobre alguma coisa, ele possui verdade
quando apreende o que uma coisa é, portanto, a verdade estabelece uma
relação entre o pensamento e o ser das coisas. Por outro lado, o ser das
coisas refere-se à inteligência, de outro modo não poderia por ela ser
apreendido, pois o ser das coisas é inteligível.

Observe que na comunhão interpessoal, os homens falam entre si das


coisas, dos factos e acontecimentos, pela palavra comunicam os seus

15
conhecimentos, estatelando-se uma rede de relações de inteligências, ser e
palavra. Diz-se que há verdade na inteligência ou entendimento
quando ela conhece o que uma coisa é, quando há correspondência ou
adequação entre a inteligência e o ser; quando o que a inteligência diz
que é ou não é, se verifica na realidade: a verdade é lógica, porque ela
está na mente, no logos (razão). Para que a inteligência conheça o ser
das coisas, estas devem ser inteligíveis (verdade ontológica). De facto, a
relação de verdade é recíproca: A inteligência pode conhecer as coisas e
estas podem ser conhecidas, a inteligência conformando-se com o ser das
coisas e este conformando-se com a inteligência (Ex: o artista – verdade
ontológica e interprete – verdade lógica). Quando há acordo entre o que se
pensa e se diz dá-se a verdade moral (veracidade - mentira), esta é
compatível com a falsidade lógica. São disciplinas que se ocupam do
problema da verdade: Lógica/filosofia analítica da linguagem; a
lógica/coerência do pensamento/correcção do raciocínio; crítica ou teoria
do conhecimento (Gnosiologia, Epistemologia), a Ontologia, Ética,
Moral, etc.

Caro estudante, agora questione-se sobre o tipo de verdade que a


ciência pode oferecer: Registe no seu bloco de notas as atitudes da
inteligência perante a verdade e o carácter não finito da verdade
científica.
Actividade
Se nas notas que fez conseguiu identificar o processamento da
verdade pela inteligência e o carácter não dogmático da verdade
científica, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a
ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de Lopes (1970:214-
219) que lhe permitirá fácil identificação dos elementos que lhe
conduzirão ao resultado esperado.

16
d) Lógica
Termo de origem grego, etimologicamente significa ciência do logos-
razão (Ciência da palavra ou do pensamento), mas a expressão pode ser
tomada em muitos sentidos. Aristóteles não usou a palavra lógica, mas
seu equivalente mais próximo naqueles tempos é analítica. Crisipo dividiu
a filosofia em Lógica, Ética e Física. Para os estóicos a Lógica
compreende a Retórica e a Dialéctica. Para Cícero, Alexandre de
Afrodisia e Beócio, o termo lógica parece designar, unicamente a
dialéctica dos estóicos. No começo da escolástica o termo mais usado foi
dialéctica, mas entre os séculos XIII-XV e XVII predomina o termo
lógica.

Considerando que a lógica é uma ciência, arroleos requisitos


epistemológicos básicos de qualquer campo que mereça tal
consideração: Descreva, sucintamente, no seu bloco o objecto,
divisão, origem e evolução da lógica.
Actividade
Se nas notas que fez conseguiu identificar objecto, divisão, origem e
evolução da lógica, então está no caminho certo, mas se não
conseguiu volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se no texto de
Lopes (1970: 5-12) que lhe permitirá fácil identificação dos elementos
que lhe conduzirão ao resultado esperado.

e) Pesquisa
Caro estudante, apreciemos Richardson (1999:15), para quem não existe
uma fórmulamágica e única para realizar uma pesquisa ideal, talvez não
existe uma pesquisa perfeita. A investigação é um produto humano, e seus
produtores são seres falíveis, pois os conceitos e princípios fundamentais
da ciência são invenções livres do espírito humano (Albert Einstein). Isto
é algo importante que o principiante deve ter em mente: fazer pesquisa
não é privilégio de alguns poucos génios. Precisa-se ter conhecimento da
realidade, algumas noções básicas de metodologia e técnicas de pesquisa,
seriedade e, sobretudo trabalho em equipa e consciência social.
Evidentemente é desejável chegar a um produto acabado, mas não é

17
motivo de frustração um produto imperfeito. É melhor ter trabalho de
pesquisa imperfeito a não ter trabalho nenhum.

De facto, toda a pesquisa continuará uma ilha no grande oceano do


conhecível sobre o assunto em questão, por isso toda a pesquisa deve ser
rebatida na perspectiva deque o movimento que promove a ciência nasce
da dúvida permanente e da capacidade de invalidar oque se apresenta
como a fase suprema do saber. Por isso, toda a afirmação, todo o
princípio e toda a deliberação feita por si ou por outros pesquisadores
devem ser examinados sob o ponto de vista da sua veracidade ou
falsidade e como se pode medir sua falsidade ou veracidade. Ora para
o pesquisador principiante esta atitude pode parecer estranha pois a nossa
escola transmite uma visão absolutista do saber, porque é mais fácil
ensinar dogmaticamente que levantar dúvidas, intranquilidades ou
inquietudes. Assim, a atitude do pesquisador exige uma reorganização do
conceito de saber, uma nova visão que permita reconhecer a incerteza, a
falta de clareza, a relatividade, a instrumentalização e ambiguidade do
conceito de verdade científica. Esta posição conduz a avanços na
produção e democratização do saber e não a aceitação não questionada do
que aparece nos livros e mentes dos especialistas (Richardson, 1999:18).

Afinal para que pesquisar? Para Goergen apud Richardson (1999:16) “ a


pesquisa nas ciências sociais não pode excluir de seu trabalho a reflexão
sobre o contexto conceptual, histórico e social que forma o horizonte
mais amplo, dentro do qual as pesquisas isoladas obtém o seu sentido”.
Disto se compreende que os estudos tanto teóricos como empíricos
podem mudar de sentido a partir da consciência dos pressupostos
[valores] sociais, culturais, políticos ou mesmo individuais que se
escondem sob a enganadora aparência dos factos objectivos. Assim,
ainda que seja comum a realização de pesquisas para beneficio do próprio
pesquisador, não devemos esquecer de que o objectivo último das ciências
sociais é o desenvolvimento do ser humano [teleológica, a pesquisa social
não é de simples erudição], não obstante seu fim imediato seja a aquisição
de conhecimento.

18
Como ferramenta para adquirir conhecimento, a pesquisa pode ter os
seguintes objectivos: Resolver problemas específicos, gerar teorias e
avaliar ou testar teorias existentes. Retenha que nenhum destes três
objectivos é superior aos outros, e os três podem complementar-se.

Os modelos de pesquisa segundo a classificação Issac (Gressler


(1979:19/26) pedem ser: Modelo de pesquisa histórica; Modelo de
pesquisa descritiva; Modelo de pesquisa desenvolvimentista; Modelo de
pesquisa estudo de casos; Modelo de pesquisa correlacional; Modelo de
pesquisa causa-comparação ou Ex post-facto; Modelo de pesquisa
experimental; Modelo de pesquisa quase-experimental e o Modelo de
pesquisa em acção.

Gressler (1979:9) chama atenção à valorização e fé nas pesquisas


tecnológicas e económicas em detrimento das sociais onde as exigências
são puramente teóricas, chegando-se a adulterar o conceito de pesquisa
através do simples transporte das informações contidas num livro para a
folha de papel. Por outro lado, elenca como importância da pesquisa
social: 1º desenvolver a capacidade de pensamentocrítico, levando o
estudante a aprender a pensar, acurada e criticamente; 2ºpromover a
liberdade intelectual e o pensamento independente através do
envolvimento doa alunos na pesquisa; 3º torna-os mais cooperativos
quando sua contribuição é solicitada.

19
1. Com esta actividade pretendo reafirmar que a pesquisa científica
é o objecto central deste módulo e acautelar-lhe que no mundo
real irá enfrentar a dificuldade de recursos para a pesquisa social
e estimular-lhe a começar a idealizar o campo que poderá

Actividade abraçar na sua monografia.


1.1. Registe no seu bloco os factores que justificam maiores
recursos para pesquisas tecnológicas e económicas
(laboratórios, transporte para estudos de campo e
equipamentos) e descreva as possibilidades de alargar o
prestígio da pesquisa social.

Se nas notas que fez conseguiu identificar os elementos que explicam a


tecnicização das ciências, então está no caminho certo, mas se não releia
o texto e faça notas.

1.2. Para a apropriação eficaz deste assunto descreva no seu


bloco de notas exemplos da pesquisa social, na área de
História, para cada um dos três objectivos da pesquisa e o
quarto exemplo para a possibilidade de complementaridade.

Se nas notas que fez conseguiu identificar os três objectivos da pesquisa


social e os fundamentos da complementaridade, então está no caminho
certo, mas se não conseguiu releia, faça notas e aplique tais objectivos a
uma hipotética pesquisa social histórica. Por outro lado, apoie-se no
texto de Richardson (1999:17) que lhe permitirá fácil identificação dos
elementos que lhe conduzirão ao resultado esperado.

1.3. Como caracteriza o Modelo de pesquisa histórica. Em


que difere com os níveis de pesquisa?

Se nas notas que fez conseguiu diferenciar modelos e níveis de


pesquisa, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler
e faça notas. Por outro lado, apoie-se nos textos de Gressler (1999:19);
Gomes (1988:343/350) e Gil (1999: 4248) que lhe permitirão fácil

20
identificação dos elementos que conduzem ao resultado esperado.

f) Ciência
Caro estudante, a ciência nada mais é que uma das maneiras de explicar o
universo no qual vivemos, este corpo de conhecimentos inclui aspectos
teóricos e práticos. Pode ser definida como a acumulação de
conhecimentos sistematizados, ela aborda o mundo que é possível ser
experimentado pelo Homem no seu quotidiano [mundo empírico].

Embora adefiniçãode ciência seja problemática, pode-se definir ciência


como uma forma de conhecimento que tem por objectivo formular,
mediante linguagem rigorosa e apropriada (se possível, com auxílio da
linguagem matemática), leis que regem os fenómenos. Embora variadas,
essas leis têm em comum o seguinte: podem descrever séries de
fenómenos; são comprováveis através da observação e experimentação;
são capazes de prever os acontecimentos, pelo menos de forma
probabilística. Por outro lado, pode-se definir ciência através da
identificação das suas características essenciais, portanto como forma de
conhecimento objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e fiável2
(Gil, 1999:20).

Em geral a ciência é uma poderosa ferramenta de convicção. Existem


outras, tais como a intuição, a experiência mística, a aceitação da
autoridade. Mas a ciência, talvez pela aparente objectividade e eficiência,
proporciona a informação mais conveniente. Se alguma evidência
científica é relevante para a determinada afirmação, dita evidênciaajudará
na decisão de aceitar ou rejeitar essa afirmação. Repare que a ciência não

2
O conhecimento científico é objectivo porque descreve a realidade independentemente
dos caprichos do pesquisador [?]; é racional porque se vale da razão e não de sensações
ou impressões, para chegar a seus resultados; é sistemático porque se preocupa em
construir sistemas de ideias organizadas racionalmente e em incluir os acontecimentos
parciais em totalidades cada vez mais amplas; é geral porque seu interesse se dirige à
elaboração de leis ou normas gerais, que explicam todos os fenómenos de certo tipo; é
verificável porque sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações; é fiável
porque , ao contrário de outros sistemas de conhecimento, reconhece sua própria
capacidade de errar (Gil,1999:20).

21
é dona da verdade, toda verdade científica tem carácter probabilístico
(Richardson,1999:17).

A priori, não há base para afirmar que a ciência é melhor que a revelação,
depende da cultura e das crenças das pessoas, alguns pressupostos serão
mais convincentes que outros. Contudo, pode-se aceitar que a ciência é
uma forma de adquirir conhecimento, compreensão, crença da falsidade
ou veracidade de uma proposição.

A pesquisa científica é um inquérito ou exame cuidadoso para descobrir


novas informações ou relações, ampliar e verificar o conhecimento
existente. A pesquisa científica não se limita à simples colecta de dados,
pode ser entendida como forma de observar, verificar e explanar factos
para os quais o homem necessita ampliar sua compreensão, ou testar a
compreensão que já possui a respeito dos mesmos (Gressler,1979:16)

O método científico é comparável a um telescópio, no qual diferentes


lentes, aberturas e distâncias produzem formas diversas de ver a natureza.
Assim, o uso de apenas uma vista não oferecerá uma representação
adequada do espaço total que desejamos compreender. Talvez diversas
vistas parciais [a ciência não é imparcial] permitam elaborar um mapa
tosco da totalidade procurada, que apesar da sua falta de precisão tal
mapaajudará a compreender o território em estudo (Richardson,1999:19).

Resumo da lição
Os conceitos operacionais e/ou estruturantes deste módulo,
tratados nesta aula inaugural, são cinco, designadamente:
Epistemologia, conhecimento, verdade, lógica e pesquisa. O
primeiro discute a relação entre o sujeito e objecto do
conhecimento e mobiliza o debate recorrente em ciências
sociais, o da objectividade,comummente vista como a ambiciosa
separação do pesquisador com seus valores; quanto ao conceito
de conhecimento retenha-se que ele emerge da experiência e

22
revela a abertura da consciência ao mundo à volta, já a verdade,
sempre em renovação, revela a correspondência entre a
inteligência e o ser das coisas, ela é racional (produto da mente);
já a lógica é a ciência da palavra, um exercício fundamental na
pesquisa ou busca metódica da verdade dos fenómenos e factos
da natureza e da sociedade.

As aparentes lacunas na cientificidade do campo das


humanidades podem atrapalhar o estudioso menos experiente,
mas as ciências sociais, como todas as ciências, seu
desenvolvimento esbarra contra ilusões do senso comum.
Porque as ciências sociais são recentes, a resistência das ilusões
do senso comum mantém-se mais fortes. Por outro lado, o
conhecimento é teleológico e inteligível, a verdade relativa,
contingencial e dinâmica e, por fim, a pesquisa não é linear.

Bibliografia da Lição
 DUVERGER, M.Sociologia política, Coimbra:
Almedina, 1983
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento
histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988.
 GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:
Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,
amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.
 LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica
editora, 1970
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:
Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.
 Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura.

23
Lição n° 2: Conceitos operacionais da disciplina epistmologia de
Ciências Sociais (conclusão)

Introdução
Bem-vindoà 2ª lição, ela conclui o tema em apreço, visando habilitar-lhe a
compreender a polissemia e o carácter transitório e dinâmico dos
conceitos da ciência e da ciência social, mormente as características do
método científico e as peculiaridades da pesquisa social. Os conceitos e
actividades seleccionadas para esta aula, como na 1ª aula, constituem o
fundamento para estudar o resto do módulo

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:


 Descrever conceitos operacionais de Método científico, Teoria,
Sociologia e Ciências Sociais,

 Relacionar os conceitos operacionais indicados para esta lição.

Objectivos

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

Tempo

Método científico, Teoria, Sociologia e Ciências Sociais

Terminologia

24
g) Método científico
Caro estudante, repare que a ideia de método é antiga, na Grécia
Arquimedes se preocupou com o método de cálculo de áreas planas e
Aristóteles formulou o método dedutivo para inferir logicamente as
características gerais de um fenómeno, mas foi Galileu (1564-1642) que
deu os primeiros passos para o método científico moderno ao insistir na
necessidade de elaborar hipóteses e submetê-las a provas experimentais.
Contudo, o conceito de método como procedimento para chegar a um
objectivo, começa a consolidar-se com o nascimento da ciência na Idade
Moderna, no século XVII: Francis Bacon entrou na história como criador
do método indutivo, que consiste em concluir o geral do particular,
obtido através da experiência e observação. Para ele, o método científico é
um conjunto de regras para observar fenómenos e inferir conclusões; por
seu turno, René Descartes defendia a dedução, para ele qualquer
conhecimento deve ser rigorosamente demostrado e inferido de um
principio único e fidedigno [do pressuposto geral aos particularismos].
Para ele, toda a ciência deve ter o rigor matemático e o critério para que o
conhecimento seja verdadeiro é a clareza e a evidência.

Segundo Gressler (1979:16), enquanto a pesquisa tem por finalidade a


solução de um problema, o método visa orientar a busca da solução do
problema. Assim, o método científico pode ser definido como uma
sucessão de passos pelos quais se descobrem as soluções dos problemas,
como sejam: observações preliminares, problema, revisão bibliográfica,
amostragem, instrumentos, colecta de dados, tabulação, análise e
inferências.

Retenha que, uma das condições fundamentais da ciência é a análise


imparcial dos factos. A ênfase na exactidão e imparcialidade aumenta a
validade dos conceitos e as virtudes do processo de investigação. Um
cientista que apresenta factos procedentes de observações reaplicadas
supera aqueles que não seguiram o mesmo rigor em suas pesquisas
(Gressler,1979:15).

25
1. Caro estudante mobilize todo o seu saber e experiência
para definir a ciência histórica, considerando que os
aspectos da vida humana que ele persegue são: a
organização para produzir, as actividades económicas e

Actividade recursos tecnológicos e a partilha do resultado do


trabalho.
1.1. Escreva no seu bloco de notas a definição de
História e, em seguida, identifique as operações de
medição, contidas na sua definição, nomeadamente os
instrumentos e as medições em causa.

Se nas notas que fez a sua definição de História considera que é


uma ciência social; estuda a evolução de alguns aspectos da vida
dos agrupamentos humanos; através do tempo e lugar
especificados, então está no caminho certo, mas se não conseguiu
releia, faça notas e, por outro lado, busque na sua definição regras
para a medição requerida na actividade e devidamente
demostradas no texto da aula.

h) Teoria
Caro estudante repare que muita gente usa este termo: Na linguagem
popular a teoria é identificada com a especulação, mas para a ciência é,
segundo Braithwaite apud Gil (1999:36) o conjunto de hipóteses que
formam um sistema dedutivo, ou seja, um sistema organizado de maneira
que, considerando como premissas algumas hipóteses, destas decorram
logicamente todas as outras. A importância das teorias na pesquisa social
reside em permitir uma adequada definição de conceitos, estabelecimento
de sistemas conceptuais, indicar lacunas no conhecimento, auxiliar na

26
construção de hipóteses, explicar/generalizar e sintetizar os
conhecimentos e sugerir a metodologia adequada para a investigação3.

Por outro lado, filosoficamente, teoria expressa uma visão intuitiva ou


intelectiva, alguns cientistas tomam teoria como sinónimo de hipótese,
mas é distinta desta e de ciência como sistema total, porque no sentido
científico a hipótese é uma fase anterior à teoria e é parte integrante da
ciência teórica ou aplicada. Ora, o conceito teoria é relativo e paradoxal,
porque sendo a filosofia uma metateoria em relação às teorias científicas,
também inclui na sua constituição a teoria! Há, pois vários tipos de teorias
que se distinguem pelas suas estruturas e pelos objectivos formais das
ciências que vão constituir. A teoria opõe-se à praxis/acção da mesma
forma que o conceito ao objecto real, mas são complementares: A teoria é
uma visão abstracta das coisas, por oposição à prática. Mas, o conceito
científico de teoria é mais profundo e problemático: 1º Natureza da
teoria - Define-se genericamente como a explicação lógica ou abstracta
de um problema ou conjunto de problemas de qualquer ciência. Sabe-se
que o método científico começa pela observação e/ou experimentação,
hipótese e formulação da lei geral ou teoria. É pois uma hipótese já
confirmada pela experiência e que faz parte integrante da ciência, mas há
vários tipos de teorias e ciências. A teoria define-se rigorosamente pela
estrutura das proposições e operadores que a constituem, sendo que em
relação aos juízos (operadores lógicos) e suas preposições, as teorias
podem ser analíticas ou sintéticas e em relação aos raciocínios
(operadores lógicos) e suas preposições, podem ser dedutivas ou
indutivas; 2º Valor das teorias – A teoria dedutiva é sempre verdadeira
de certeza absoluta, portanto a indução, nem sempre é exacta, mas
provável, mas na Matemática é sempre certa porque pelo princípio de
recorrência são eliminadas as hipóteses de erro; 3º Limites das teorias –
São definidos pelos parâmetros de cada ciência e pelo objecto formal ou
ângulo de investigação. A teoria está para a ciência, como a parte para o

3
Quanto ao papel metodológico das teorias Karl Popper apudGil (1999:36) as considera
redes estendidas para capturar o que chamamos o mundo, para realizá-lo, explicá-lo e
dominá-lo

27
todo. Há teorias perfeitas, saturadas, inacabadas (…) porque são possíveis
séries translimites de teoremas e novas extensões. O limite de uma teoria
dedutiva é função de potência de generalizações do grupo de axiomas,
mas aparecem antinomias que são limites; o limite de uma teoria indutiva
é função do princípio da verificação, se a lei geral enunciada engloba
todos os fenómenos da experiência ou não. Segundo o Teorema de Gödel,
o único limite absoluto da teoria é a metateoria.

O ponto básico na construção de uma teoria é a agregação dos


conhecimentos já existentes em uma determinada área, conhecimentos
capazes de oferecer explanações lógicas das interacções entre os
fenómenos, bem como de lançar bases para novas hipóteses. Para tanto, a
teoria deve ser suficientemente bem estruturada, a fim de que as
explanações oferecidas sejam compreensíveis. A adequação de uma teoria
reflecte-se em sua capacidade de predizer novas situações, oferecendo
assim caminho para o homem visualizar o futuro antes que o mesmo
aconteça (Gressler,1979:15).

i) Sociologia -
É o estudo da vida social humana, grupos e sociedades. A Sua esfera, é
muito abrangente indo desde a análise de encontros casuais entre
indivíduos na rua, até processos sociais globais. Revela a necessidade de
adoptar uma perspectiva mais abrangente do nosso modo de ser e das
razões pelas quais agimos; ensina que o que se pode considerar natural,
inevitável, bom e verdadeiro, pode não ser, e que o que se toma como
dano na nossa vida é fortemente influenciado por forças históricas e
sociais e permite compreender as maneiras ao mesmo tempo subtis,
complexas e profundas, pelas quais as nossas vidas individuais reflectem
os contextos da nossa experiência social.

j) Ciências sociais
Foi demonstrado que a ciência tem como propósito oferecer uma
explanação objectiva, factual e útil do universo, uma explanação

28
verificável dos fenómenos naturais e sociais, diferente da abordagem
artística e religiosa.

As ciências sociais e do comportamento, em particular, analisam as


interacções entre os grupos humanos e elas são produtos recentes do
esforço humano em ampliar seu raio de compressão a respeito de si
mesmo enquanto objecto de análise. Assim, não se pode pretender uma
definição de ciência que tenha aceitação universal e perene, as definições
são mutáveis no espaço e no tempo (Gressler,1979:14).

Resumo da lição
Os conceitos operacionais e/ou estruturantes deste módulo,
tratados nesta aula, encerrando a ideia da aula anterior são
quatro, designadamente: método científico, teoria, sociologia e
ciência social. O primeiro integra o conjunto de regras para
observar fenómenos e tirar conclusões, onde o ideal básico é que
qualquer conhecimento deve ser rigorosamente demonstrado;
quanto ao conceito de teoria entenda-se como o conjunto de
hipóteses de um sistema dedutivo que permite a definição
adequada de conceitos e indica as lacunas do conhecimento
nesse sistema, já a sociologia é a abordagem quantitativa
pioneira do facto social e o termo genérico de ciências sociais
integra as ciências do espírito humano. Estas duas lições
inaugurais revelam que a ciência não é a única forma de
produção do conhecimento mas, através da aplicação do método
científico, a mais credível e tem as teorias como esforço de
sistematização e universalização que, não obstante ser
problemática nas ciências sociais, foi o ponto de partida com a
sociologia ou física social, que permite abordagem quantitativa
na pesquisa social.

29
Bibliografia da Lição
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:
Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,
amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.
 Verbo Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura.

Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar o tema sobre os conceitos operacionais
e não teríamos melhor forma de fazê-lose não verificarmos oque se
conseguiu retere que podemos aplicar em situações da realidade
social. Então, veja se sabe:
I. Defina Epistemologia de Ciências Sociais?

Se a sua definição não integra os elementos definidores considerados


nos dois primeiros parágrafos da 1ª lição e a respectiva actividade na
página 7, está no caminho certo. Caso contrário releia os textos
indicados e conceba uma definição mais integradora.

II. Qual a relação entre os ideais deverdade científica e


democratização do saber?

Se nas notas que fez identificou elementos justificadores de verdade


cientifica e de democratização do saber, então está no caminho certo,
mas se não conseguiu releia, faça notas e, depois descubra as
ligações entre os dois conceitos.

III. Relacione os conceitos de conhecimento e de verdade,


como operacionais da Epistemologia de Ciências
Sociais.

Se nas notas que fez no seu bloco constam os aspectos apresentados


no quadro, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a
ler e fazer notas, assim chegará ao resultado esperado

30
CONHECIMENTO: A VERDADE: Relação entre o
consciência abre-se ao pensamento e o ser das coisas, este
mundo circundante, é inteligível:
tornando-o intencionalmente
presente em si

 Fenómeno  Há verdade na inteligência


consciente, ter consciência ou no entendimento,
de algo - o Homem sabe  Quando há correspondência ou
que sabe (unidade adequação entre a inteligência e
indissolúvel entre o ser; quando o que a
conhecimento e inteligência diz que é ou não é,
consciência), se verifica na realidade: a
 Capacidade de verdade é lógica, porque ela está
representar o mundo na mente, no logos (razão).
circundante e reagir nele,
 Fusão em que sujeito
e objecto conservam a sua
autonomia (sujeito torna-se
o Outro sem absorver o
objecto, respeita a sua
individualidade).

IV. Explique em que medida o conhecimento histórico é


objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e
fiável.

Se nas notas que fez identifica elementos explicativos do carácter


objectivo, racional, sistemático, geral, verificável e fiável do
conhecimento científico, então está no caminho certo, mas se não
conseguiu releia, tome notas e, por outro lado, os aplica ao caso
particular do conhecimento histórico.

31
Lição n° 3: Classificação geral das ciências e lugar das Ciências
Sociais

Introdução
Bem-vindo à 3ª lição, ela tem como suporte os conceitos das duas lições
anteriores e o seu objectivo é compreender o lugar das Ciências Sociais
nas formas de conhecimento e, particularmente, no conhecimento
científico. Estude os apontamentos e realize zelosamente as actividades
com vista uma realização eficaz dos objectivos desta lição.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Caracterizar as várias formas de conhecimento,

 Classificar o campo do conhecimento científico.

Objectivos

Tempo de estudo da Unidade: 03 horas.

Tempo

32
Principais formas de conhecimento e classificação do
conhecimento científico

a) Formas de conhecimento e Ciências Sociais


Ao longo da sua existência, o Homem vem desenvolvendo sistemas mais
ou menos elaborados que lhe permitem conhecer a natureza das coisas e o
comportamento das pessoas. Pela observação ele adquire grande
quantidade de conhecimentos, valendo-se dos sentidos recebe e interpreta
as informações do mundo exterior:
 Olha para o céu e vê formarem-se nuvens cinzentas, percebe que
vai chover e procura abrigo – conhecimento empírico, baseado na
observação casual.
 Ao nascer, depara-se com um conjunto de crenças acerca de Deus,
da vida além da morte, seus deveres para com Deus e o próximo.
Ora, para muitos, as crenças religiosas são fontes privilegiadas de
conhecimento acima de qualquer outra fonte – conhecimento
religioso, baseado no dogma e na fé.
 Os romances, poemas e a arte no geral proporcionam informações
sobre o mundo, os sentimentos e motivações das pessoas –
conhecimento artístico, baseado na ficção e representação.
 Pais e professores descrevem o mundo para as crianças, enquanto
governantes, líderes partidários, escritores e jornalistas definem
normas e procedimentos que consideram adequados e, à medida
que segmentos da população lhes dão crédito, esses
conhecimentos são tidos como verdadeiros – conhecimento
autoritário, baseado na autoridade.
 Os filósofos proporcionam elementos para compreender o mundo
[causas últimas das coisas] – conhecimento filosófico, em
procedimentos racional-especulativos.
 Conhecimento científico, baseado no método científico. Surge
porque as anteriores formas de conhecimentos não satisfazem aos
espíritos mais críticos, para os quais a observação casual conduz a

33
equívocos porque o homem é mau observador dos fenómenos
mais simples; as religiões por serem variadas oferecem
informaçõescontraditórias; a poesia e o romance são subjectivos; o
argumento da autoridade deixa transparecer a sua fragilidade de
querer manter o poder e os filósofos habitualmente avançam para
explicações metafísicas e absolutistas, que não possibilitam a
verificação (Gil,1999:20).

Como pode ver, a ciência, um dos mais importantes componentes


intelectuais do mundo contemporâneo, é uma forma de conhecimento,
mas nem todo o conhecimento é ciência. Embora a discussão em torno da
definição de ciência esteja longe do consenso, é possível descriminar o
conhecimentocientíficode outras formas de conhecimento (veja nota 2).
Contudo, há situações em que, no domínio das ciências humanas, não é
possível determinar com clareza se determinado conhecimento pertence à
ciência ou à filosofia. Ora, este debate está reflectido nas designações e
arranjo institucional da nossa faculdade, que já se designou Faculdade de
Ciências Sociais, à luz dos autores que incluem a filosofia nas ciências
sociais e agora Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas,
aparentemente à luz dos que entendem filosofia fora das ciências sociais.

1. O conhecimento no geral e o científico, em particular, não visa


outra coisa se não a melhoria das condições de vida, por isso
as verdades são relativas, com idiossincrasias variadas.
1.1. Descreva no seu bloco de notas como o tema vida é

Actividade analisado diferentemente por filósofos, cientistas, poetas,


sacerdotes e pessoas comuns.

Se nas suas notas identifica as diferentes acepções de vida, está na


linha certa, caso contrário releia o texto e pode aprofundar as várias
acepções do conceito de vida lendo a Verbo enciclopédia.
1.2. Identifique algumas verdades amplamente
reconhecidas que se justificam apenas pelo argumento da

34
autoridade.

Se nas suas notas conseguiu identificar as verdades de cada


argumento (ciência, religião, autoridade…) está no caminho certo,
mas se não conseguiu volte a ler e faça anotações.

b) Classificação geral das ciências e o lugar das ciências


sociais.
Segundo Gil (1999:21), ao longo do desenvolvimento da ciência
surgiramvárias propostas de sistemas de classificação das inúmeras
ciências e nenhum deles se mostra absolutamente satisfatório, mas
podem-se classificar as ciências, num primeiro momento em duas
categorias:
 Formais, são as que tratam de entidades ideais e de suas relações,
sendo a matemática e a lógica formal as mais importantes
[exemplo a designação Faculdade de Ciências Naturais e
Matemática, revela a necessária separação da Matemática das
Ciências Naturais].
 Empíricas, são as tratam de factos e processos e subdividem-se
em:
 Ciências Naturais (Física, Química, Astronomia,
Biologia…)
 Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, História,
Ciência Política, Economia, Psicologia).

A Geografia uma ciência técnica de acessória à governação (gestão


territorial e geoestratégia) se separou da Faculdade de CiênciasSociais e
criou-se a Faculdade das Ciências da Terra [qual a ciência que não é da
Terra?], não obstante os especialistas da geografia humana argumentarem
que a Geografia Física é acessória à humana, fim último da pesquisa. A
Psicologia, com algumas características que a aproximam das Ciências
Naturais, constitui uma Ciência Social porque, ao tratar do estudo do
comportamento humano, trata-o a partir da interacção entre individuais.

35
1. Considere a sua anterior definição de história e a taxonomia das
ciências descrita no texto anterior como uma síntese de uma
longa evolução do esforço de classificação.
1.1. Nomeie oito diferentes tipos de ciências e, a seguir,

Actividade identifique seus objectos.

Se nas suas notas conseguiu identificar os objectos de alguns tipos de


ciências, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler,
anotações e alargue esse leque para oito.

1.2. Sugira uma classificação das ciências, alternativa à


considerada neste módulo.

Certamente que compreendeu a classificação das ciências sugerida no


texto e seu carácter não absoluto, mas se não compreendeu releia e faça
notas. Por outro lado, apoie-se no texto de Lopes (1970:83/138) que lhe
oferece um leque alargado de taxonomias das ciências.

Como pode verificar, qualquer taxonomia tem uma perspectiva


metodológica e argumentativa. Na proposta apresentada não constam as
ciências técnicas que são muitas vezes transversais como Geografia, a
Medicina, a Filosofia [cuja cientificidade foi posta em causa], a
arquitectura e outras.

Retornando ao nosso foco, as Ciências Sociais, sabe que elas não gozam
do mesmo prestígio das Ciências Naturais, havendo autores que defendem
a sua não inclusão nas verdadeiras ciências e apresentam uma série de
objecções que induzem ao atendimento das peculiaridades das Ciências
Sociais:
 Os fenómenos humanos não obedecem uma ordem semelhante à
do universo físico, o que torna impossível sua previsibilidade;
 As Ciências Humanas lidam com entidades não quantificáveis,
oque dificulta a comunicação dos resultados das investigações;

36
 O método experimental, fundamento da ciência, exige o controlo
de variáveis que podem interferir no fenómeno estudado, ao passo
que as Ciências Sociais envolvem uma grande variedade de
factores que inviabilizam uma pesquisa rigidamente
experimental [veja fontes comuns de erros].

Gil (1999:22) entende que são objecções sérias e não emocionais, daí que
a melhor defesa das ciências sociais não está em demostrar a falácia
destas argumentações, mas antes em demonstrar que mesmo nas Ciências
Naturais, não se observa a rigorosaobservância dos itens considerados, tal
como ilustra Duverger (1983:13), para quem as Ciências Sociais:

(…) Como todas as ciências, seu desenvolvimento esbarra contra


ilusões do senso comum. Mas, nas ciências da natureza, que são mais
antigas, muitas dessas ilusões foram desde há muito denunciadas e os
factos científicos entraram no senso comum: assim, toda a gente
admite hoje que a Terra é uma esfera, embora pareça plana, e que gira
em volta do sol, embora tenhamos a impressão do contrário. Porque as
ciências sociais são recentes, a resistência das ilusões do senso comum
mantém-se mais forte.
Em seguida evidenciar que as Ciências Sociais podem fornecer
explicações segundo padrões não muito distantes das Ciências Naturais.
Com subsídios da Filosofia da Ciência4a resposta a aquelas subjecções,
em defesa do carácter científico das Ciências Sociais, podem ser:
 A diferença entre as Ciências Naturais e Sociais, no tocante às
explicações, está somente em que as sociais são mais
probabilísticas que as naturais. Actualmente, esta derruba o
determinismo absoluto das ciências naturais: A genética não deixa
de ser científica por suas explicações serem de natureza
probabilística;
 Uma análise profunda do problema da quantificação em Ciências
Sociais, revelo-o menos crítico do que aparenta: 1º Reconheça-se
que o objecto de estudo das Ciências Sociais é visto de um modo
que dificulta seu tratamento quantitativo (o homem não pode ser

4
A obra de Lopes (1970) depois de apresentar a classificações das ciências em
Aristóteles, Bacon, Ampere, Comte e reconhecer divisão das ciências em Matemáticas,
físicas, biológicas e humanas, aborda a filosofia incluindo o que chama ciências de
espírito (sociais ou humanas), incluindo a História entre as pp.124-153.

37
reduzido a um número; não se pode tratar o homem como um
conjunto de traços quantitativos …), são afirmações emocionais
que não devem ser atendidas pelos pesquisadores; 2º reconhecer
que a mensuração de fenómenos intangíveis ou o comportamento
humano (inteligência, emoções, atitudes, nível de aculturação,
mobilidade social…) é complexo porque muito mais mutável que
o comportamento de rochas, metais ou gases, oque não significa
que seja impossível o tratamento científico dos fenómenos sociais,
oque acontece é que os fenómenos humanos não podem ser
quantificados com o mesmo grau de precisão das Ciências
Naturais5.
 Considera-se um obstáculo o facto de o pesquisadorestar
envolvido com o fenómeno que investiga, de facto os valores
permeiam as pesquisas sociais. Hegenberg apud Gil (1999:23)
esclarece esta questão classificando os problemas científicos em
teóricos6 (tratados mediante hipóteses e observações), técnicos
(conduzem à verificação do que é e não do que deve ser, não
envolvendo juízos de valor) e de acção (envolvendo considerações
valorativas). Gil (1999:25) reitera que as ciências sociais não
devem relegar todas as questões de valor, mas antes considerá-
lopara que cumpram um de seus mais importantes papéis –
auxiliar a promoção do ser humano.
 Reconheça-se que nos experimentos em Ciências Sociais o
pesquisador não tem o poder de introduzir modificações nos
fenómenos que estuda, devendo decidir se experimento

5
Os fenómenos sociais são mensurados mediante escalas menos sofisticadas- nominais e
ordinais: nas escalas nominaissão atribuídos números a categorias que se distinguem
apenas por serem mutuamente exclusivas, por exemplo a classificação de populações
segundo traços como sexo, cor da pele e nacionalidade, enquanto as escalas ordinais
deixam implícito algum tipo de ordenação, por exemplo, a ordenação dapopulação
segundo ela seja, mais ou menos agressiva, ou apresentem diferentes níveis
socioeconómicos.
6
Ora um mesmo assunto pode ser enfocado sob o ponto de vista teórico e do ponto de
vista de acção. Por exemplo numa pesquisa sobre a privatização da terra, no que respeita
à sua conveniência alguns estarão a favor e outros contra (problema acção, envolve oque
deve ser), mas no que respeita a suas consequências estarãode acordo que aumentariam o
poder do estado (problema teórico).

38
controlado é indispensável para a obtenção de resultados
cientificamente aceitáveis. Lembre-se que disciplinas das Ciências
Naturais como Astronomia, Embriologia,Física Relativista e
Geologia não são respeitadas pelo uso de experimentos, para além
de que a Psicologia Social e a Sociologia revelam sucesso
deexperimentos no campo social, por exemplo em pesquisas de
Sociologia Industrial aplicam-se situações laboratoriais parecidas
com as das naturais, implantando-se sistemas democráticos e
ditatoriais entre grupos de operários, sem incluir exemplos mais
amplos em pesquisas sobre migrações, comportamentopolítico e
variações de índices de natalidade que, embora não rigidamente
experimentais, possibilitam razoável grau de controlo das
variáveis envolvidas.

Resumo da lição
Esta lição ofereceu-lhe mais elementos que mostram que a ciência não
é a única forma de conhecer o mundo natural e social (empírico,
religioso, artístico, autoritário e científico) e as ciências podem ser
classificadas com base em várias taxonomias, sendo a mais conhecida
a que divide as ciências em empíricas e formais. Contudo, o exercício
apresentado permite-lhe visitar outras taxonomias e tomar uma
posição crítica sobre elas. Por outro lado, os exemplos das
designações das faculdades da UP, considerados ao longo do texto,
revelam seu carácter teleológico e, por isso, contingencial.

Bibliografia da Lição
 DUVERGER, M.Sociologia política, Coimbra:
Almedina, 1983
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica
editora, 1970.

39
Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 3ª lição e não teríamos melhor
forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu retere que
podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se
sabe:
I. Analise a expressão: A ciência, ao contrário de outros
sistemas elaborados pelo homem, reconhece sua
capacidade de errar.

Se nas suas notas conseguiu identificar elementos que revelam que a


ciência não produz conhecimento infalível, então está no caminho
certo, mas se não volte a ler e faça anotações.

II. Oque justifica a cientificidade das Ciências Sociais


perante a acusação de sua a-cientificidade?

Se nas suas notas conseguiu identificar aspectos que sustentem que


as ciências sociais são um campo científico mas deferente das
naturais, então está no caminho certo, mas se não volte a ler e tome
notas das críticas que acusam os estudos sociais de estarem longe de
ser científicos, bem como os argumentos a favor de sua
cientificidade.

40
Lição n° 4: Evolução histórica das Ciências Naturais às Ciências
Sociais

Introdução
Bem vindo à 4ª lição, ela aprofunda a aula anterior ao recuperar o
momento histórico em que surge o conhecimento científico e a evolução
das Ciências Sociais, a partir das Ciências Naturais. Estude os
apontamentos e realize zelosamente as actividades com vista o alcance
eficaz dos objectivos da lição:

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Caracterizar a emergência do método científico;

 Explicar a transição da filosofia à sociologia e desta à


fenomenologia e existencialismo;
Objectivos
 Explicar o impacto do método científico sobre a doutrina e
instituição religiosa.

Tempo de estudo da Unidade: 03 horas.

Tempo

41
a) Contexto da transição à modernidade em que emerge o
método científico
 O absolutismo (s. XV/XVI) como transição política, no contexto da
luta da burguesia emergente contra o feudalismo;
 Reforma protestante (s. XVI), como transição religiosa ao liberalismo;
 Evolução do Jusnaturalismo7 ao renascimento humanista, daqui ao
iluminismo e revoluções (científica e técnica/I e IIRI e
burguesa/política e o comunismo), germes e desenvolvimento europeu;
 Enquanto a revolução francesa (1789) foi o triunfo das ideias e valores
como liberdade e igualdade, sobre a ordem social tradicional, o
comunismo marxista foi o triunfo de ideias de solidariedade e justiça
distributiva;
 A exaltação das nacionalidades europeias e o chauvinismo justificam o
imperialismo, que provoca o colonialismo, neste período de
transformações ou evolução das instituições políticas das monarquias
ao liberalismo e repúblicas;
 Transformações nas ciências (Revolução Científica):
 Naturais e tecnologia, onde a experimentação culmina com
o Darwinismo, alargado à interpretação da sociedade e da
relação entre Estados (Darwinismo político e social);
 As humanas, conferem uma visão rica do Homem, com três
grandes conquistas: Psicologia, Sociologia e Antropologia, fruto
das preocupações da economia que inquere as instituições
políticas. Ora, o desenvolvimento industrial provocou a
sociologia, nascida do empirismo para vender produtos ou seja
ciência das teorias de produção e comercialização baseada no

7
O direito natural moderno liberalizou-se com Grotius, substituindo a acção e a vontade
pessoal e transcendente de Deus pela ordem imanente à natureza humana, portanto a
razão vê-se confrontada consigo própria, abstraindo de Deus e da revelação e com
Cromwell difundiu-se pela Inglaterra. Por seu turno, John Locke (Pai do liberalismo)
tentou associar o direito natural à liberdade individual, para ele, o estado de natureza,
visto como estado de guerra, e o consenso social, visto como uma espécie de
capitulação incondicional, conduziram ao absolutismo; mas o estado de natureza,
considerado como estado de paz, e o consenso social, considerado uma convenção
limitada, condicional e revogável, podem levar à liberdade: A lei da natureza é de
obrigação porque é de liberdade (Raymond Polin apud Prelot II, 2001:37).

42
método quantitativo (soma os factos, analisa-os e infere o
caminho da sociedade).

b) Transição da filosofia à sociologia


O termo sociologia é da autoria de August Comte, considerado pai da
nova ciência ao defender a possibilidade de utilização do método de
análise das ciências naturais (exactas?) pelas ciências sociais atribuindo-
as o mesmo estatuto, daí ter chamado inicialmente a nova disciplina de
Física Social. Para ele esta seria uma ciência globalizante de todos os
domínios sociais (histórico, económico, político, etc.), entendendo que só
da complementaridade e interdependência das várias facetas do social, se
poderia ter uma visão perfeita [?] dos fenómenos sociais, usando o método
positivo (observação seguida de experimentação), fundamentada pela sua
famosa lei dos três estágios do desenvolvimento da inteligência humana
desde os primórdios até aos nossos dias (OLIVEIRA,1989):
 O estado teológico ou fictício em que o espírito humano dirige as
investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e
finais, isto é, para conhecimentos absolutos, onde os fenómenos são
produzidos pela acção directa e contínua de agentes sobrenaturais;
 O estado metafísico é uma modificaçãogeral do primeiro, onde os
agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstractas como
entidades inerentes aos diversos seres do mundo e concebidas como
capazes de engendrar por si próprias todos os fenómenos observados;
 O estado positivo, onde o espírito humano reconhece a
impossibilidade de obter noções absolutas, deixa de procurar a
origem e o destino do universo e de reconhecer causas íntimas dos
fenómenos, para se ocupar apenas em descobrir, pela utilização bem
combinada do raciocínio e da observação, explicando os factos pelos
seus elementos reais.

Portanto, neste período o conhecimento deixa-se de partir de grandes


afirmações ético-valorativas e metafísicas, entende-se que a formação das
instituições parte do comportamento social das pessoas. Ora, enquanto a

43
Filosofia estuda todos os fenómenos, humanos, naturais e divinos para
encontrar e explicar suas causas últimas ou profundas, a Sociologia estuda
e aprofunda o comportamento do homem no seu contexto político,
económico e cultural, usando o método quantitativo, fruto da experiência
da Escola de Chicagopreocupada no marketingde electrodomésticos, em
que era importante saber quem poderia os comprar, pois se não
interessassem os potenciais destinatários não valeriam a pena, contudo,
não se deve confundir sociologia com materialismo, ela parte do Homem
e não de matéria. Portanto, a Sociologia surge da necessidade de
compreender e de actuar sobre a sociedade industrial.

São contribuições que caracterizam esta transição, as seguintes:


 A crítica da Economia Política revelou que não se pode governar
sem saber como funciona a economia (Max Weber -1864/1920, em
Economia e Sociedade e Karl Marx -1818/1883, em O Capital - a
economia política alemã). Portanto, a política brota da aplicação de
grandes princípios (Aristóteles...) e entra nos fluxos sociais, pondo
em sua frente a condição humana, contra o Estado acima do
indivíduo defendido por Hegel, cuja filosofia foi muito criticada por
Marx. Nesta senda, Auguste Comte (1798-1857) defendeu a análise
não dos princípios da gestão pública, mas seus aspectos reais,
portanto as necessidades dos cidadãos e no seu catequicismo
positivista defendeu que gerir é contabilizar o que serve, para quem?
Governar é conhecer a sociedade e não unicamente as leis;
 O desenvolvimento da Psicologia, foi uma grande conquista ao
discutir o comportamento humano para apoiar as acções ao serviço
das suas necessidades (Porque o homem age assim? Que factores o
explicam?). O médico neurologista austríaco, Sigmund Freud (1856-
1939) desenvolveu a psicologia da forma (Gestalt Theorie), segundo
qual a percepção é influenciada pelo contexto e pela configuração
do elemento percebido, ié, é o contexto em que o homem vive que
influi sobre ele. Nietzsche, por seu turno, mostra que o homem é
eixo da teologia e da política;

44
 A Epistemologia ao questionar as leis científicas, sua validade e
aplicabilidade suscita o problema de relevância da ciência, como
conjunto de leis que o homem cria para qualificar objectos
exteriores a ele. Como domínio do saber ela começou pela validação
das ciências naturais, desemboca na teoria da relatividade do físico
judeu Albert Einstein, para quem as teorias não são definitivas, mas
aquilo que a mente alcança. A nível individual provoca o problema
da participação, pois a ciência vale quando a vivo. Esta validade
individual, suscita o problema de me relacionar com o aprendido e o
deficit epistemológico.

1. Ao momento em que emergiu o conhecimento científico,


Hobsbawn dedicou uma obra intitulada A época das Revoluções,
nesta eraa lei natural é aplicada na interpretação da sociedade e
justificar o contratualismo e humanização do conhecimento.

Actividade 1.1. Registe no seu bloco de notas duas características das


Revolução Industrial; da Revolução Burguesa e da
Revolução Científica. Depois, explique as sinergias ou
retroalimentação entre elas.

Se nas suas notas conseguiu identificar as características das três


revoluções da era moderna, então está no caminho certo, mas se não
volte a ler e faça notas, para depois descobrir as influências entre
elas.Por outro lado, apoie-se nasobras de Hobsbawn (A Era do capital e
A Época das Revoluçõesque lhe permitirão chegar facilmente ao
resultado esperado.

1.2. Descreva um aspecto que elucide o contributo do jus-


naturalismo, o renascimento, o positivismo, humanismo e
iluminismo no desenvolvimento das Ciências Sociais.

Se nas suas notas conseguiu identificar elementos que revelam que a


ciência não produz conhecimento infalível, então está no caminho certo,
mas se não volte a ler e faça notas. Por outro lado, apoie-se na obraO

45
Espírito das leis de Charles de Secondat, o barão de Montesquieu
(2005:19-29), para compreender o contributo do Jus-naturalismo no
desenvolvimento das ciências sociais e consulte os conceitos de
renascimento, positivismo, humanismo e iluminismo na Enciclopédia
Verbo, para descobrir sua implicação com o desenvolvimento das
Ciências Sociais.

c) Filosofia fenomenológica e existencialista


Partamos da compreensão de que a sociologia8 é uma ciência empírica
que parte da colecta dos dados, seguida pela sua análise, desabrocha
favorecida pelas transformações na filosofia, principalmente temáticas
como a dialéctica entre corpo e espírito e o problema gnosiológico. Ora,
deixou de ser o corpo separado do espírito ou o intelecto separado do
corpo, é o tempo da valorização do entendimento do objecto exterior
como base do conhecimento científico, portanto o fenómeno e não o
intelecto. Sobressai a experiência da relação consigo mesmo e com o
mundo exterior, esta é a Fenomenologia, que começa na Alemanha
(unificada em 1882, e já sem entraves para se desenvolver e formar uma
sociedade burguesa consumista), com adeptos comoRatzell, Max Weber e
Émile Durkheim, na França.

A filosofia alemã, era o eixo das humanidades, partindo da abstracção ao


conhecimento empírico9, isto é, dos grandes princípios à vida humana ou
da metafísica à Antropologia. A fenomenologia é o método que valoriza o
objecto - a percepção10 e revela que o objecto à minha frente, não o posso
esgotar.

8
Max Weber e Émile Durkheim são os clássicos europeus e William James e, seu aluno,
John Dewey são os expoentes na América.
9
Hegel tinha escrito no passado a Fenomenologia do espírito agora parte-se sim do
Homem concreto, não das ideias gerais ou espírito das coisas que se entendia estarem
antes das coisas.
10
David Hume, publicou “A percepção é o início do ser”, pondo em causa a filosofia
escolástica, foi perseguido pala inquisição e morreu de ataque cardíaco quando tentava
fugir para a América.

46
Combinando as linhas favoráveis da sociologia e da fenomenologia
emerge na década de 1920 a Escola de Frankfurt que investigou como os
políticos lidam com a pobreza no seu discurso, identificando-se com a
crítica à modernidade na sua sociologia do comportamento humano
(Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse,
Leo Löwenthal, Franz Neumann, Friedrich Pollock, Erich Fromm, Jürgen
Habermas, Oskar Negt e Axel Honneth).

Nos séculos XIX e XX, surgiu o existencialismo11 como movimento


filosófico e literário distinto, mas os seus primeiros elementos encontram-
se no pensamento e vida de Sócrates, na Bíblia, Aurélio Agostinho e no
trabalho de muitos filósofos e escritores pré-modernos. A existência se
colocou acima da metafísica, portanto o discurso metafísico ficou na
defensiva e a fenomenologia o auge, Bobbio chama de era nobre.

Culturalmente, pode-se identificar duas linhas de pensamento


existencialista: Alemã-Dinamarquesa e Anglo-Francesa. A cultura judaica
e russa também contribuíram para esta filosofia. O movimento filosófico
agora conhecido como existencialismo francês pode ser traçado de 1879
até 1986.

1. A cientificidade da pesquisa social foi sustentada por correntes,


na sua maioria muito críticas,centradas no valor do homem suas
actividades e na consciência.
1.1. Descreva a diferença entre fenomenologia e existencialismo,

Actividade referindo-se à forma como catapultaram as Ciências Sociais?

11
Existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual,
a responsabilidade e a subjectividade. O existencialismo considera cada homem com um
ser único que é mestre dos seus actos e do seu destino, afirmando o primado da
existência sobre a essência, segundo Sartre: A existência precede a essência. Definição
que funda a liberdade e a responsabilidade do homem, visto que esse existe sem que seu
ser seja definido. A palavra "existencialismo" vem de "existência". Sartre, após ter feito
estudos sobre fenomenologia na Alemanha, cria o termo utilizando a palavra francesa
"existence" como tradução da palavra alemã "Dasein", termo empregado por Heidegger
em Ser e tempo. Após a Segunda Guerra Mundial, a corrente literária existencialista
contou com Albert Camus e Boris Vian, além de Sartre. É de se notar que, do ponto de
vista filosófico, Albert Camus era contra o existencialismo, e Vian era um patafísico

47
Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos caracterizadores
das duas correntes, então está no caminho certo, agora descubra de
que modo estimularam a pesquisa social, mas se não conseguiu volte a
ler e faça notas. Pode ainda consultar a enciclopédia Verbo ou outra
disponível na tua região

1.2. Compare a velha e nova Escola de Frankfurt,


mencionando os principais integrantes de cada uma.

Se nas notas que fez conseguiu identificar a teoria crítica como a


referência desta escola que reelabora o marxismo e reconheces a velha
geração antes do Nazismo e a segunda depois da II GM, então está no
caminho certo, mas se não conseguiu volte a ler o texto, faça consultas
na internet, até chegar ao resultado esperado.

d) Reflexos sobre a igreja, agente cultural e político


As correntes abordadas nas alíneas anteriores, provocaram mudanças na
teologia bíblica com o protestantismo na vanguarda. Reagindo aos
teóricos da linha de Lutero emergiu no catolicismo uma corrente
conservadora de que fazem parte os jesuítas e o contemporâneo papa
Bento XVI (Joseph Ratzinger), professor do Padre Filipe Couto na
Universidade de Münster. São grandes mestres da teologia bíblica que
buscam invalidar o protestantismo e valeram muito nos Concíliosde
Trento (13/12/1545 a 4/12/1563) Vaticano I (8/12/1869 a 18/7/1870) e
VaticanoII (11/10/1962-07/12/1965).

Enquanto o catolicismo atacou as racionalidades liberal e comunista, na


sua resistência e sucesso,as instituições protestantes nunca levantaram-se
contra o comunismo, nele viam aspectos positivos, elas antecederam o
catolicismo em África, em Moçambique a Igreja Presbiteriana chegou em
1875 no Khovo. O Papa Pio IX na Encíclica Quanta cura(1864) condena
os erros do liberalismo filosófico, do racionalismo, do panteísmo, do
naturalismo, do agnosticismo, do indiferentismo, o racismo, o socialismo
marxista e o comunismo.

48
 Em 1854 é proclamado o dogma da Imaculada Conceição da Bem-
Aventurada Virgem Maria.
 Em 1869 o Papa Pio IX convoca o Concílio Vaticano I12, que
reafirma o dogma da Infalibilidade Pontifícia que determinou a
discriminação e mesmo a perseguição de católicos na Prússia,
onde Bismarck havia lançado a sua kulturkampf.
 O Concílio também adopta a Constituição Apostólica Dei Filius
que consolida a doutrina da Igreja sobre as relações entre fé e
razão.

Inicia a era da Doutrina Social da Igreja Católica, com a publicação da


Encíclica Rerum Novarum (1891) pelo Papa Leão XIII, na qual enfrenta
os problemas da "questão social" emergidos do industrialismo e condena
os excessos do liberal-capitalismo e a defesa da luta de classes, defende o
salário justo e proclama a função social da propriedade e critica tanto
Estado do laissez-faire como o dirigismo socialista.

A doutrina social da Igreja Católica, não sufraga o capitalismo e ataca


o comunismo: Baixe na internet a Encíclica Rerum
Novarum,elaboreum sinopse da crítica à racionalidade liberal e, por
outro lado, à racionalidade comunista.
Actividade
Se nas notas que fez conseguiu identificar a critica positiva e negativa
da encíclica ao capitalismo e ao comunismo, então está no caminho
certo, agora preencha o quadro sinóptico, mas se não conseguiu volte a
ler o texto que baixou e a lição e faça anotações.

12
Por seu turno, o Concílio Vaticano II foi convocado por João XXIII, em 25 de
Dezembro de 1961. Os trabalhos foram abertos oficialmente em 11 de Outubro de 1962
e foi encerrado em 8 de Dezembro de 1965.

49
Racionalidade liberal Racionalidade marxista

Critica negativa

Critica positiva

Resumo da lição
Esta lição ofereceu-lhe mais elementos para compreender a evolução
histórica das Ciências Naturais às Ciências Sociais, onde o papel dos
ideais renascentistas, iluministas, com correntes essência de abordagem é
a dignidade da pessoa humana, de modo que não só catapultaram as
Ciências Sociais, como impuseram a adequação da doutrina e instituições
católicas. Este movimento caracterizou o triunfo da racionalidade
burguesa que seria contraposta pela racionalidade marxista e a teoria
crítica da escola de Frankfurt traria a mais elaborada versão da
racionalidade, sem combater o marxismo.

Bibliografia da Lição
 Carta encíclica Rerum Novarumdo Papa Leão XIII, sobre a
condição dos operários (15 de Maio de 1891).
 HOBSBAWM, Eric. A época das revoluções, Lisboa:
Presença, 1996.
 HOBSBAWM, Eric. A era do capital, Lisboa: Presença,
1979.
 MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espírito
das leis, 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

 OLIVEIRA, Maria da Luz; Pais, M.J. & Cabrito B.G.


Sociologia, 4ª edição, Lisboa: Texto editores, 1989.
 PRÉLOT, Marcel e Lescuyer, Georges (2000). História das
ideias políticas, Vol. I (Mundo antigo ao absolutismo; Vol. II
(Do liberalismo ao constitucionalismo democrático), Lisboa:
Editorial Presença.

50
Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 4ª lição e não teríamos melhor
forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu retere que
podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se
sabe:
I. As Ciências Sociais devem o seu método às Ciências
Naturais, mas não são auxiliares destas. Fundamente.

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos da


fundamentação do enunciado, então está no caminho certo, mas se
não conseguiu volte a ler e faça notas.

II. Relacione o surto do protestantismo e a abordagem científica


do mundo natural e social na modernidade?

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos que ligam o


protestantismo e a racionalidade moderna, então está no caminho
certo, mas se não conseguiu volte a ler e faça anotações.

III. Para Max Weber o protestantismo é o espírito do capitalismo,


título de uma das suas célebresobras. Porquê?

Se nas notas que fez conseguiu identificar elementos do


protestantismo que sustentam o capitalismo, então está no caminho
certo, mas se não conseguiu volte a ler e faça notas.

51
Lição n° 5: Carateristicas e métodos científicos em Ciências
Sociais

Introdução
Bem vindo à 5ª lição, ela aprofunda a caracterização do método científico,
aliás o objectivo único desta lição consiste em resumir tais características
que foram sendo trazidas desde a 1ª lição. Realize zelosamente a
actividade de sistematização com vista uma aprendizagem eficaz deste
objectivo da lição.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Mencionar as principais características do método científico,

 Explicar a aplicabilidade de cada característica do método


científico na pesquisa social.
Objectivos

Tempo de estudo da Unidade: 05 horas.

Tempo

52
Principais características do método científico
Numa perspectiva de democratização do saber, Richardson (1999:18/9),
reconhece as seguintes características do método científico:
 As regras do método científico são arbitrárias, existindo muitos
pressupostos para trabalhar cientificamente, o mais importante é a
indução como fonte de informação que permite o conhecimento de
muitas coisas, observando apenas algumas, enquanto o método
dedutivo enfatiza a lógica e o raciocínio matemático;
 A ciência supõe que todos os fenómenos têm alguma causa, não
existem fenómenos caprichosos, pressuposto que actualmente
levanta grande discussão filosófica;
 Confia na capacidade da observação dos cientistas, portanto na
percepção do pesquisador, em sua sensibilidade e memória;
 Supõe que para estudar um fenómeno cientificamente, este deve
ser medido, isto é perceptível, sensível e classificável, ainda que o
cientista social possa trabalhar com conceitos teoricamente
abstractos como amor, aprendizagem, qualidade de vida (…),
antes de estudá-los empiricamente deve procurar comportamentos,
estímulos, características ou factos que representem tais conceitos
abstractos. Deste modo, a definição de um conceito são as
operações (instrumentos, medições ou códigos) realizadas para
medir a presença ou ausência do fenómeno simbolizado por dito
conceito.

Gressler (1979:14), no mesmo diapasão, defende que o conhecimento


científico deve ser do domínio público, através de uma comunicação
eficiente entre cientistas-pesquisadores-grande público, pelas seguintes
razões:

 A ciência é uma actividade histórica, situada no tempo e no espaço


e construído sobre o trabalho de outras pessoas;
 A comunicação é premissa básica para o progresso da ciência ao
oferecer oportunidades para novos experimentos e pesquisas;

53
 Possibilita os exames e verificações de seus resultados por outros
pesquisadores, passando assim ao domínio do consenso geral.

Resumindo, a ciência é a etapa suprema do conhecimento que possibilita a


transformação da natureza e da sociedade, define-se como a investigação
metódica, organizada, da realidade, para descobrir a essência dos seres
e dos fenómenos e das leis que os regem com o fim de aproveitar as
propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem.

Em síntese, são principais características do método científico:


 Raciocínio lógico;
 Compõe-se de 5 elementos básicos: objectivo ou meta do estudo, o
modelo da abstracção, as observações para representar a natureza
do fenómeno em estudo (dados), a decisão sobre a validade do
modelo (avaliação) e a revisão para introduzir as mudanças
necessárias no modelo;
 Faz perguntas e busca respostas, por isso a pergunta deve ser
passível de resposta, para tal a formulação da pergunta deve se
basear na observação de um fenómeno, ser realista;
 Elabora hipóteses e as submete às provas experimentais;
 Fundamenta-se na observação baseada na experiência sensorial ou
informações dos livros, mas devem ser sensíveis, mensuráveis e
passíveis de repetição (verificabilidade);
 Pensamento crítico;
 Clareza e uso da evidência empírica ou verificável;
 Atitude céptica, questionando sempre as crenças e conclusões
aparentemente definitivas.

54
Apesar do desacordo dos estudiosos da filosofia da ciência quanto
à cientificidade das Ciências Sociais, algumas práticas de
pesquisa conferem a necessária objectividade e rigor.Depois do
estudo atento desta lição, descubra as características do método
Actividade científico que não constando neste resumo foram referidas na 1ª,
2ª, 3ª e 4ª lição.

Se nas notas que fez conseguiu identificar características do


método científico, então está no caminho certo, mas se não
conseguiu volte a ler e faça notas.

Resumo da lição
O resumo desta lição está facilitado por ela própria ser a
sistematização do conteúdo tratado até aqui (cf. atrás em síntese, as
principais características do método científico), as regras do método
científico são arbitrárias, existindo muitos pressupostos para trabalhar
cientificamente, o mais importante é a indução como fonte de
informação que permite o conhecimento de muitas coisas, observando
apenas algumas. Tal como referimos na segunda lição, o método
científico permite observar fenómenos e tirar conclusões, na
convicção básica de que qualquer conhecimento deve ser
rigorosamente demonstrado.

Bibliografia da Lição
 GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:
Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,
amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:
Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

55
Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 5ª lição e não teríamos melhor
forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu reter e que
podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se sabe:
I. Seleccione quatro das que considera as principais
características do método científico e justifique a escolha.

Se nas notas que fez conseguiu identificar características do método


científico, então está no caminho certo, mas se não conseguiu volte a
ler e faça notas.

56
Lição n° 6: Método quantitativo e qualitativo: Caraterísticas,
crítica e complementaridade

Introdução
Bem-vindo à 6ª lição, ela busca a compreensão das potencialidades das
abordagens quantitativas e qualitativas na pesquisa social. Realize
zelosamente as actividades recomendadas com vista uma realização eficaz
dos objectivos da lição:

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Descrever as características e a crítica aos procedimentos


quantitativos e qualitativos na pesquisa social;

 Explicar os requisitos de cientificidade e de


Objectivos
complementaridade dos dois procedimentos.

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

Tempo

57
A qualificação e a quantificação em Ciências Sociais.

Caro estudante, partamos da acepção genérica de método de pesquisa,


como a escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e
explicação de fenómenos, especificamente, o método científico consiste
em delimitar um problema, realizar metódicas obsecrações e interpretá-las
com base nas relações encontradas, fundamentando-se, se possível, nas
teorias existentes. Assim, o trabalho de pesquisa deve ser planificado e
executado conforme as normas requeridas por cada método.

Numa ampla classificação, há dois grandes métodos: Quantitativo e


qualitativo. Diferenciam-se não só pela sistemática pertinente a cada um
deles, mas sobretudo pela forma de abordagem do problema, deve estar
apropriado ao tipo de estudo a realizar e, é a natureza do problema ou seu
nível de aprofundamento que determina a escolha do método.

6.1. Método quantitativo


6.1.1. Características da abordagem
Caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de
colecta de informações, quanto no tratamento delas através de técnicas
estatísticas, desde as simples (percentual, media, desvio-padrão) às mais
complexas (coeficiente de correlação, análise de regressão).

 Este método representa a intenção de garantir a precisão dos


resultados, evitar distorções de análise e interpretação,
possibilitando uma margem de segurança quanto às inferências;
 Frequentemente aplicados nos estudos descritivos, para descobrir e
classificar a relação entre variáveis ou a relação de causalidade
entre fenómenos;
 Propõe-se investigar o “que é”, portanto descobrir as
características de um fenómeno, assim seu objecto de estudo são
situações específicas, um grupo ou um indivíduo;
 Igualmente podem abordar aspectos amplos de uma sociedade
como descrição da população economicamente activa, do emprego

58
de rendimento e consumo, do efectivo de mão-de-obra,
levantamento da opinião e atitudes da população acerca de
determinada situação, caracterização do funcionamento de
organizações, identificação do comportamento de grupos
minoritários.
 Se primariamente o estudo descritivo representa o nível de análise
que permite identificar as características dos fenómenos, sua
ordenação e classificação, por outro lado, com base neles surgem
estudos que buscam explicar os fenómenos segundo uma nova
óptica: analisar o papel das variáveis que influenciam ou causam o
aparecimento dos fenómenos – estudos que investigam a
correlação entre variáveis, fundamentais em Ciências Sociais, por
permitirem controlar simultaneamente grande número de variáveis
e, por meio de técnicas estatísticas de correlação, especificar o
grau relacional de diferentes variáveis permitindo que o
pesquisador compreenda o modo como as variáveis operam;
 O estudo de correlaçãoé feito para obter melhor entendimento do
comportamento de diversos factores e elementos que influem
determinado fenómeno, podendoainda indicar possíveis factores
causais a serem depois testados em estudos experimentais. Mas, o
primeiro passo consiste em identificar as variáveis especificas que
parecem importantes para explicar complexas características de
um problema ou comportamento, onde pesquisas as anteriores e os
conhecimentos teóricos sobre a área em estudo ajudam o
pesquisador na escolha de tais variáveis;
 Outro passo é a forma de colectar os dados como questionários,
testes estandardizados, entrevistas e observações. Instrumentos
usados em outros tipos de estudo, mas no caso de estudos de
correlação, as respostas devem ser quantificadas para tratamento
estatístico que servirá para testar a consistência das hipóteses;

A sua resposta à questãoII requere a consideração de um experimento


envolvendo delinquentes e não delinquentes. Repare que dada a
dificuldade das Ciências Sociais em controlar todas as variáveis numa

59
situação constante, a maioria dos experimentos emprega o modelo
clássico baseado na análise de uma variável. Todo experimento que
envolve manipulação de uma variável é seguido da observação de efeitos
dessa manipulação em uma ou mais variáveis dependentes, considerando
a quase impossibilidade de se controlar rigorosamente muitas variáveis
independentes, os estudos de correlação entre variáveis e o comparativo
causal prestam grande auxílio na escolha de variantesindependentes
testadas nos estudos experimentais.

A pesquisa social defronta-se com o dilema de que o rigor que tenha sido
imprimido no controlo das variáveis durante o experimento não assegura,
necessariamente, a transferência dos resultados de um experimento a
outras situações sociais, por outro lado não se podem generalizar as
conclusões além do período em que o experimento ocorreu. Embora
muitos experimentos em Ciências Sociais estejam limitados pelas próprias
características dos sujeitos, pelos instrumentos de avaliação empregues,
pelo factor tempo, pela disposição das pessoas envolvidas e pela natureza
do experimento, há, todavia, grande tendência de pesquisadores em fazer
generalizações com base nos resultados dos experimentos, o que implica
grave incorreção quanto à aplicabilidade dos experimentos.

1. A quantificação e a qualificação, não obstante corporizarem um


debate conflituoso nas peculiaridades da pesquisa social, sua
combinação enriquece os resultados das pesquisas.
Actividade 1.1. Anote no seu bloco as incidências de um hipotético estudo
qualitativo daReacção do director de uma Escola sobre o
consumo de droga e violência estudantil.

Se suas notas conseguiu alistar as peculiaridades da pesquisa qualitativa e


quantitativa, está no caminho certo, caso contrário releia o texto, façanovas
anotações sobre a pesquisa qualitativa e expliquede forma criativa como as
manusearia no tema sugerido.

60
1.2. Segundo Richardson (1999:72), as variáveis dos estudos de
correlação são apresentadas em uma das seguintes formas:
escorre contínuo, dicotomia artificial, dicotomia verdadeira e
categórica. Caracterize-as.

Se nas suas notas conseguiu alistar as características das diversas formas de


estudos de correlação, então está no caminho certo, caso contrário releia o
texto, faça anotações novas.

6.1.2. Crítica
 A insistência na aplicação dos modelos das Ciências Naturais às
Ciências Sociais (concepção positivista de ciência, sua redução ao
observável, separa os factos e seus contextos e concebe o mundo
como um conjunto de factos interligados) negligenciou que o
objectivo destas é os ser humano com suas crenças e práticas e
não a explicação de um fenómeno conforme determinadas leis;
 Os métodos quantitativos aperfeiçoaram-se e sofisticaram-se para
poder explicar e predizer o comportamento humano, chegando
a casos extremos de esquecer os problemas reais da maioria da
população;
 A enfâse no empirismo pressupõe dados teoricamente neutros,
quando nas Ciências Sociais os dados consistem em significados
sociais e sua interpretação e compressão não pode ser assimilada
ou reduzida a descobertas e avaliação de dados observáveis;
 Por outro lado, a enfâse no empirismo pressupõe dados objectivos,
logicamente possíveis apenas por meios quantitativos;
 A insistência de uma ciência livre de valores que podem distorcer
ou prejudicar assuntos explicáveis “objectivamente”. Assim,
valores políticos e morais do pesquisador são vistos como
irrelevantes, conceitos como exploração, marginalização, camadas
populares (…) são tidos como reflexo de não cientificismo. Mas é
difícil demonstrar que os conceitos básicos de qualquer marco

61
teórico, nas ciências sociais [e não só], expressam atitudes
específicas em relação ao homem, à organização da sociedade, às
relações entre indivíduos e grupos. Trabalhar qualquer marco
teórico implica aceitar o posicionamento e comprometer-se com os
valores políticos e morais implícitos nesse marco teórico;
 As Ciências Naturais vêem o mundo físico como um objecto que
deve ser controlado tecnologicamente pelo homem [?], modelo
que não pode ser utilizado nas Ciências Sociais porque as pessoas
não se podem considerar como objectos manipuláveis nem à
organização da sociedade como um problema de engenharia.

6.2. Método qualitativo


6.2.1. Características da abordagem
Este, diferentemente do quantitativo, não emprega um instrumental
estatístico como base do processo de análise de um problema e não
pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogéneas.

A abordagem qualitativa justifica-se por ser uma forma adequada para


entender a natureza de um fenómeno social. O desejo de quantificar a
todo o custo tem levado as Ciências Sociais a investigaroque se quantifica
mais facilmente, provocando uma pobreza de resultados, não por a
pesquisa quantitativa ser inútil na pesquisa social, mas porque há
domínios quantificáveis e outros qualificáveis, de modo que a prioridade
depende da natureza do fenómeno analisado e do material que os métodos
permitem colectar.

Em princípio, as investigações voltadas à análise qualitativa têm como


objecto situações complexas ou estritamente particulares, tais estudos
podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a
interacção de certas variáveis, compreender e classificar processos
dinâmicos da vida dos grupos sociais,contribuir no processo de mudança
de um grupo e possibilitar o entendimento profundo das particularidades
do comportamento dos indivíduos. Em suma, implicam estudos

62
qualitativos embora não como domínio próprio e exclusivo, pelo menos,
três situações:

 Quando há necessidade de substituir uma informação estatística


por dados qualitativos, principalmente quando se trata de
investigação sobre factos do passado [história] ou de grupos deque
se tem pouca informação.

Caro estudante, note que, estudos comparativos como renda per capita,
esperança de vida, pobreza absoluta e sistemas de governo estão bem
desenvolvidos que permitem, através de informações estatísticas situar a
posição de certos grupos com base em parâmetros estabelecidos que
servem como indicadores do nível cultural e do estágio de
desenvolvimento. Mas, ao adoptarmos uma abordagem funcionalista para
explicar aspectos culturais de um grupo, aqueles aspectos devem ser
percebidos na relação complexa com o sistema social global, por isso os
dados quantitativos não explicam por si só o nível de profundidade em
que se situam os problemas [o camponês de Magude que não gasta
1dólar/dia é pobre absoluto? Sim de acordo com estatística oficial, enão
segundo a forma como a pobreza é socialmente percepcionada em
Magude].

 Quando é importante compreender aspectos psicológicos como


atitudes, personalidade, motivações, expectativas, valores, etc.
A noção de personalidade está ligada a cada indivíduo e a cada cultura.
Segundo Grawis apud Richardson (1999:82), a multiplicidade de papéis
que o indivíduo pode assumir numa cultura, testemunha a complexidade e
o grau de evolução dessa cultura, onde o papel está ligado ao status e é
mais ou menos submisso aos modelos sociais que regulam a sociedade.
Portanto, não importa entender a personalidade segundo atributos que
permitam classificar, mas a sua relação dinâmica com o social, assim os
dados qualitativos viabilizam uma análise global, relacionando o
indivíduo com a sociedade.

63
Esta tarefa diz respeito à vinculação entre aspectos psicológicos e a cultura,
uma constante na pesquisa social: Elabore uma ficha de resumo ou de
conteúdo do tema factores de cultura, enfatizando os conceitos antropema,
Actividade etnema e personalidade base.

Se no módulo de metodologia de investigação científica aprendeu a


elaboração de fichas, use esse saber paraelaborar uma ficha do texto de
Bernardi (1992:49/82), caso contrário, leia como se elaboram fichas nas
obras de Marconi (2011:51-72) e Eco (1998:130:156).

 Quando são indicadores do funcionamento de estruturas sociais


[exploração, conservadorismo, tradicional…].

Na explicação do funcionamento das estruturas sociais a observação


qualitativa é fundamental. Sobre os procedimentos metodológicos, as
pesquisas qualitativas de campo exploram: técnicas de observação e
entrevistas [visa completar informações ou aprofundar aspectos
essenciais]devido à força com que penetram na complexidade de um
problema, enquanto as pesquisas documentaisexploram a análise de
conteúdo e a analise histórica.

Com a observação, pode-se obter informações sobre fenómenos novos e


inexplicados que desafiam a nossa curiosidade, este tipo de observação
(assistemática ou livre) tem a função de descobrir novos problemas.
Quanto à observação sistemática sobre o campo da actividade humana,
deve-se organizar um conjunto de informações ligadas a um sistema
descritivo (ficha de inquérito) e, em seguida, aplicar categorias já
levantadas por pesquisadores e proceder a posteriores estágios de análise.

6.2.2. Crítica
Muita crítica foi feita na perspectiva positivista e não interessa retomá-la,
o que resta é chamar a atenção sobre operigo de pesquisadores pouco
experientes ou tendenciosos tenderem a enaltecer seus valores, pontos de
vista e interesses próprios.Daí a importância da confiabilidade e validade

64
dos instrumentos de medição e insistênciana necessidade de uma pesquisa
qualitativa crítica e válida.

Frequentemente, o pesquisador social é chamado a desembaraçar-se dos


seus valores em nome da objectividade, o que é objectivamente
impossível mesmo nas Ciências Naturais. O que deve acontecer é uma
Actividade pesquisa crítica.

Elabore uma ficha de leitura do tema 6 de Richardson (1999: 90-103):


Pesquisa qualitativa crítica e válida, enfatizando o sentido de pesquisa
qualitativa, pesquisa social crítica, as possibilidades de uma
pesquisaqualitativa crítica e válida (selecção e familiarização com o local
de pesquisa, relações com os entrevistados, colecta das informações,
análise das informações, preparação do relatório), as generalizações e as
conclusões.

Se no módulo de metodologia de investigação científica aprendeu a


elaboração de fichas, use esse saber paraelaborar uma ficha do texto de
Bernardi (1992:49/82), caso contrário, leia como se elaboram fichas nas
obras de Marconi (2011:51-72) e Eco (1998:130:156).

6.3. Critérios científicos e complementaridade


Ambos métodos devem cumprir dois critérios primários para serem
científicos: confiabilidade e validade.

A confiabilidade reside na capacidade de os instrumentos criados


produzirem medições constantes quando aplicados a um fenómeno, ela
pode ser externa (Possibilidade de outros pesquisadores, utilizando
instrumentos semelhantes, observarem factos idênticos) e confiabilidade
interna (possibilidade de outros pesquisadores fazerem as mesmas
relações entre os conceitos e os dados colectados, com iguais
instrumentos). Na abordagem qualitativa é comum o uso do gravador para
registar entrevistas e observações e as inferências são superficiais pois a

65
proximidade entre pesquisador e informante possibilita o detalhe. Na
abordagem quantitativa, as perguntas do questionário devem ser claras e
com detalhe, mantendo o anonimato para evitar distorções nas respostas.

A validade reside na capacidade do instrumento produzir medições


adequadas e precisas para chegar a conclusões correctas, bem como
aplicar as descobertas a grupos semelhantes não incluídos na pesquisa em
causa, também pode ser externa (possibilidade de generalizar os
resultados) e interna (exactidão dos dados e adequação das conclusões).
Na abordagem qualitativa é assegurada pela identificação dos vários
indicadores, justificando sua relação com os conceitos que serão medidos,
enquanto na abordagem quantitativa o poder de generalização reside na
escolha aleatória representativa de determinada população. Contudo
autores como Michel Thiollent apud Richardson (1999:88) questionam
conceitos como representatividade e generalização nas Ciências Sociais.

6.3.1. Complementaridade

Autores como Good &Hatt apud Richardson (1999:79) não distinguem


com clareza métodos quantitativos e qualitativos, porque a pesquisa
quantitativa é também, de certo modo, qualitativa, não interessando na
pesquisa moderna quão precisas são as medidas, pois o que é medido
continua a ser uma qualidade. Reconheça-se que o enfoque adoptado é
que, de facto, exige uma metodologia qualitativa ou quantitativa.

O aspecto qualitativo de uma investigação pode estar presente até mesmo


nas informações colhidas por estudos essencialmente quantitativos, não
obstante perderem seu carácter qualitativo quando são transformados em
dados quantitativos na tentativa de assegurar a exactidão dos resultados.
Uma tentativa, porque a quantificação apresenta limitações ao tentar
explicitar alguns problemas complexos. P.EX: na medição do grau de
integração de certo grupo social usando o padrão “mais ou menos” só
podemos afirmar que “A” é mais racista que B ou uma minoria se
interessa com o problema X.

66
Para transformar dados qualitativos em elementos quantificáveis os
pesquisadores utilizam critérios, categorias e escalas de atitudes para
identificar com que intensidade ou grau, um conceito, uma atitude ou uma
opinião se manifesta. Lamentavelmente, os imperativos da quantificação
limitam o modo de colecta de dados, comprometendo os objectivos que se
deseja atingir, para além deque a natureza ou nível de complexidade de
alguns dados impossibilita sua apresentação com exactidão, além disso, a
própria medida é relativa.

Positivistas e neopositivistas insistem na necessidade da quantificação


como requisito de objectividade na pesquisa social: Registe no seu bloco
os dogmas ideológicos ou excessos que tornam a abordagem quantitativa
Actividade um dilema na pesquisa social.

Se nas suas notas conseguiu alistar os dogmas da quantificação na


pesquisa social, então está no caminho certo, caso contrário releia o texto,
faça anotações novas.

Ora, apesar das profundas diferenças ideológicas pode-se identificar três


instâncias de integração entre ambos, nomeadamente na planificação da
pesquisa, na colecta dos dados e na análise da informação.Destacar,
sobretudo, que a pesquisa social deve integrar pontos de vista, métodos e
técnicas visando a melhoria das condições de vida da maioria da
população.

 Na planificação da pesquisa.

O método qualitativo pode arrastar o qualitativo, quando na discussão


com o grupo que participa da investigação, o uso de entrevistas e a
observação poderem melhorar a formulação do problema, o levantamento
de hipóteses e a determinação da amostra.

No diapasão contrario a utilização de um questionário prévio no momento


da observação ou entrevista pode contribuir para delimitar o problema

67
estudado e a informação colectada, permitindo identificar casos
representativos ou não em nível grupal ou individual.

 Na colecta dos dados

Entrevistas, observações e discussões em grupo podem enriquecer as


informações obtidas, graçasao detalhe e aprofundamento das técnicas
qualitativas.

Por seu turno, o questionário prévio pode ajudar as evitar perguntas


rotineiras e a identificar características objectivas, como por exemplo
geopolíticas de uma comunidade que podem influir no contexto da
pesquisa.

 Na análise da informação.

As técnicas qualitativas permitem verificar os resultados dos


questionários e ampliar as relações descobertas. Enquanto as técnicas
estatísticas podem contribuir para verificar informações e reinterpretar
observações qualitativas, permitindo conclusões menos objectivas.

68
Resumo da lição
A quantificação e a qualificação, não obstante corporizarem um
debate conflituoso nas peculiaridades da pesquisa social, sua
combinação enriquece os resultados das pesquisas.
Frequentemente, o pesquisador social é chamado a desembaraçar-se
dos seus valores em nome da objectividade, o que é objectivamente
impossível mesmo nas Ciências Naturais. O que deve acontecer é
uma pesquisa crítica.

Bibliografia da Lição
 BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-
antropológicos, Lisboa, Edições 70, 1992
 ECO, Humberto.Como se faz uma tese em ciências
humanas, Lisboa: Editorial Presença, 1998.

 MARCONI, M. de A e Lakatos, E. M. Metodologia do


trabalho científico, São Paulo: Atlas, 2011.
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:
Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

69
Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 6ª lição e não teríamos melhor
forma de fazê-lose não verificarmos oque se conseguiu reter e
que podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja
se sabe e pode se inspirar em Richardson (1999:73):
I. Embora o estudo quantitativo de correlação, possibilite
verificar a influência de grupos de variáveis no
aparecimento de um fenómeno, ou mesmo a importância
dessas para entender e explicar um problema, este tipo de
estudo não se aplica à análise de causa-efeito entre
variáveis. Porquê?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos para justificar


porque o estudo quantitativo de correlação não se aplica à análise
de causa-efeito, então está no caminho certo, caso contrário releia
o texto, faça anotações novas.

II. Qual seria o estudo correcto, naanálise de correlação, para


testar a hipótese segundo a qual: a agressividade nas
escolas é causa da delinquência juvenil?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos do procedimento de


análise de correlação, então está no caminho certo, caso contrário
releia o texto, faça anotações novas e teste a hipótese sugerida
sobre agressividade nas escolas.

III. A abordagem qualitativa é a mais indicada e não exclusiva


da pesquisa social. Porquê?

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos para demostrar que


a qualificação é mais usual na pesquisa social e como deve ser
combinada com a quantificação, então está no caminho certo,
caso contrário releia o texto, faça anotações novas.

70
Lição n° 7: Peculiaridade que desafiam a pesquisa nas ciências
sociais

Introdução
Bem-vindo à 7ª lição, ela busca realizar essencialmente o objectivo de
resumir esta primeira unidade de aprendizagem, ao descrever as
particularidades da pesquisa social. Realize zelosamente as actividades
recomendadas com vista uma realização eficaz daquele objectivo da lição:

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Explicar os cinco principais problemas levantados em


torno da objectividade da pesquisa social;
 Dissertar sobre as condições da uma cientificidade da
Objectivos pesquisa social diferente, mas não inferior à das Ciências
Naturais.

Tempo de estudo da lição: 04 horas.

Tempo

71
Peculiaridades das Ciências Sociais

Caro estudante, apreciemos esta problemática a partir de Briones


(2002:14/5), para quem a Epistemologia das Ciências Sociais analisa
cinco (5) problemas principais, sobre os quais existem diversas posições
que nos permitem apreciar diversas correntes e escolas que contribuem na
construção das Ciências Sociais:

a) Os suportes ontológicos e gnosiológicos das Ciências Sociais

Este problema consiste na maior ou menor, consciente ou inconsciente


adesão dos investigadores a certas concepções sobre a natureza última das
Ciências Sociais e possibilidade de conhecê-las.

b) O objecto de estudoespecíficodas Ciências Sociais

A resposta sobre o objecto das Ciências Sociais reside na dicotomia


estudo da sociedade global e estudo de pequenos grupos. Portanto, para
alguns cientistas sociais, estas devem estudar o sistema social na sua
totalidade e utilizar para tal um enfoque macro social. Para outros deve
ser a análise de pequenos grupos, para que o investigador possa conhecer
directa e experimentalmente o funcionamento desses grupos, empregando
um enfoque micro-social.

c) A natureza do conhecimento que se obtém pela investigação


científica

Sobre a natureza do conhecimento que deve obter a investigação social


sobre os objectos que investiga, a dicotomia se apresenta na escolha de
um enfoque quantitativo ou qualitativo. O primeiro busca a medição dos
fenómenos sociais, em particular, a medição individual das propriedades
que se dão nesses objectos, mediante as chamadas variáveis, de tal modo
que seja possível a utilização das técnicas estatísticas no caso. A
alternativa qualitativa, por seu turno, implica um enfoque holístico, ou
seja, o estudo do objecto tomando-o em sua totalidade, utilizando técnicas
qualitativas adequadas para esse propósito.

72
d) A relação entre as características do objecto investigado e os
valores do investigador

Refere-se à relação entre o objecto que se investiga e o investigador, no


cerne deste problema se colocam as seguintes perguntas:

 O papel da ciência é explicar de forma total e completa o mundo


social e natural? Responde as preocupações decorrentes da vida
social ou da produção (Função teleológica)? Ora, o papel da
ciência é entender e explicar os fenómenos sociais, focalizar a
atenção em questões particulares e desafiar crenças convencionais
sobre os mundos social e natural, mas algumas correntes
defendem que a ciência social deve dar respostas às preocupações
sociais.
 Deferentemente das ciências naturais na pesquisa social, os
pesquisadores podem questionar aqueles a quem estudam,
tornando-se útil controlar a força da alteridade nas entrevistas,
inquéritos e observação participante
 O investigador influencia ou não o objecto de investigação que na
maioria das vezes é constituído por pessoas? Ou seja, é possível
obter através da investigação social um conhecimento que não
esteja perturbado pelos valores do investigador, por suas crenças,
preferências e pré-juízos (preconceitos)?
 Existe uma ciência livre de valores? Esta preocupação é
reducionista, porque se a pesquisa social nos oferece
conhecimento sobre o mundo social, necessariamente indisponível
por outros meios, ela torna-se mais do que o simples reflexo das
nossas opiniões e preconceitos, ela substância, refuta, organiza ou
gera as nossas teorias e produz evidências que podem desafiar não
apenas nossas próprias crenças, mas também as crenças da
sociedade em geral;

73
 É possível a objectividade13 nas ciências? Frequentemente assume-
se que, se os nossos valores não entrarem na nossa pesquisa, ela é
objectiva e acima de críticas. Como pesquisadores sociais e
membros da sociedade é possível e desejável que suspendamos o
nosso sentimento de pertencimento? Esta é a questão central do
debate das várias escolas que dão o suporte filosófico às ciências.
e) A função final que deve cumprir a investigação científica de
acordo com o modelo escolhido para a construção das Ciências
Sociais.

Visa a função última que deve cumprir a investigação, função que


corresponde à resposta sobre a pergunta: Quando podemos entender
determinado sucesso social? O que devem buscar, em última instância, as
Ciências Sociais, através de suas teorias e métodos de investigação?
Como sabemos, a resposta se dá também em forma de uma alternativa.
Por um lado, para alguns epistemólogos e investigadores, as Ciências
Sociais devem explicar os fenómenos, olhando para os outros, o objectivo
final destas ciências é a interpretação dos fenómenos investigados. Este
dilema tem acompanhado o processo de construção das Ciências Sociais
desde seus primeiros momentos.

Briones (2002) aplica o conceito de Ciências Sociais para ciências como


Sociologia, Ciência Política, Psicologia social, Antropologia social,
Educação e Geografia Social. Entende que outras Ciências Sociais como a
História, a Economia, o Direito e outras têm seus próprios enfoques
teóricos de tal modo que só alguns temas e problemas específicos destas
ciências caiem nos marcos epistemológicos da sua obra.

Por seu turno, Pedro Demo apud Richardson (1999:30) faz uma síntese
das características próprias das Ciências Sociais que exigem pressupostos
e metodologias especificas:

13
Entendida, segundo Bernstein apud May Tim (2004:23) como a convicção básica de
que há ou deveria haver uma matriz ou estrutura permanente à qual podemos apelar em
última instância para determinar a natureza da racionalidade, do conhecimento, da
verdade, da realidade, da bondade ou da correcção. Decorre disto que muitas pessoas
aceitem como verdade o que os cientistas dizem.

74
 O sujeito das Ciências Sociais, o Homem, é racional [e por isso]
muito mais complexo e [imprevisível] que outros sistemas físicos;
 O objecto das Ciências Sociais é histórico [por isso] a realidade
está em permanente transição e a característica fundamental desta
realidade histórica é a situação de estar e não de ser;
 Existe uma consciência histórica [como pressuposto que influencia
o ser e o devir dos grupos e o comportamento individual];
 Existe uma identidade entre o sujeito e o objecto da pesquisa
[Homem];
 O objecto das Ciências Sociais [relações humanas] é
intrinsecamente ideológico;
 Existe imbricação entre teoria e prática – a práxis.

Ora, as características do método científico valem para as Ciências


Naturais e Sociais, pois se referem a processos de conhecimento, mas não
se devem misturar metodologias (procedimentos e regras utilizadas por
um determinado método). Por exemplo fenómenos qualitativos (opiniões,
crenças, atitudes, valores, etc.) não podem ser analisados com
instrumentos quantitativos, mas com instrumentos qualitativos como
entrevistas. Enquanto na análise de informações as técnicas quantitativas
não devem ser utilizadas para análise em profundidade de dados
qualitativos, mas apenas para caracterizações gerais.

Resumindo:
 Dicotomia entre o estudo da sociedade em geral e de pequenos
grupos,
 A bifurcação entre a escolha de um enfoque qualitativo e
quantitativo,
 A relação instável entre as características do objecto (Homem)
investigado e os valores do investigador,
 A dicotomia sobre a finalidade da pesquisa social, considerando
que suas respostas são uma alternativa: Se deve explicar os
fenómenos e dar respostas teleológicas ou se visam só a
interpretação dos fenómenos investigados;

75
 O sujeito das Ciências Sociais, o – Homem - é racional e por isso
muito mais complexo e imprevisível que outros sistemas físicos;
 O objecto das Ciências Sociais é histórico, por isso, a realidade
está em permanente transição e a característica fundamental desta
realidade histórica é a situação de estar e não de ser;
 Existe uma consciência histórica [como pressuposto que influencia
o ser e o devir dos grupos e o comportamento individual];
 Existe uma identidade entre o sujeito e o objecto da pesquisa -
Homem;
 O objecto das Ciências Sociais (relações humanas) é
intrinsecamente ideológico;
 Existe imbricação entre teoria e prática – a práxis.

Resumo da lição
O cerne do debate, nesta lição, é em torno da possibilidade ou não de
busca da objectividade nas ciências. Entendida, como a convicção
básica de que há ou deveria haver uma matriz ou estrutura permanente
à qual podemos apelar em última instância para determinar a natureza
da racionalidade, do conhecimento, da verdade, da realidade, da
bondade ou da correcção, deque decorreria que as pessoas aceitassem
como verdade o que os cientistas dizem. Assim, assume-se
frequentemente que, se os nossos valores não entrarem na nossa
pesquisa, ela é objectiva e acima de críticas. Como pesquisadores
sociais e membros da sociedade não é possível, nem desejável que
suspendamos o nosso sentimento de pertencimento. Esta questão é
retomada como central do debate das várias escolas que dão o suporte
filosófico às ciências, objecto da segunda unidade de aprendizagem, a
seguir.

76
Bibliografia da Lição
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias
sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.
 MAY, Tim. Pesquisa social: Questões, métodos e
processos, 3ª Edição, Porto Alegre: ARTMED, 2004.
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:
Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

Auto-avaliação
da Unidade 1
1. Defina sucintamente os conceitos de epistemologia,
conhecimento, verdade, lógica, pesquisa, ciência, método
científico, teoria, sociedade e Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

2. Descreva o lugar das Ciências Sociais na classificação geral


das ciências.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

3. Resuma a evolução histórica das Ciências Naturais às Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

4. Caracterize o método científico.

77
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

5. Caracterize a postura segundo o método quantitativo e


qualitativo, na pesquisa social e analise a crítica e os critérios
de cientificidade e de complementaridade entre ambos.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

6. Explique as peculiaridades que desafiam a pesquisa nas


Ciências Sociais.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder estaquestão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

78
Conteúdos
Suportes filosóficos ou
Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de quadro de referências de
Ciências Sociais 80
Ciências Sociais
Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo 81

Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo 88

UNIDADE
Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo 94

2
Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia
analítica da linguagem 100

Pág. 80 - 110

79
Unidade 2: Suportes filosóficos ou quadro de referência de
Ciências Sociais

Introdução
Bom dia, boa tarde, boa noite conforme a hora em que iniciamos o estudo
da II unidade de aprendizagem, em seguida apresento-lhe quatro lições
que correspondem ao agrupamento dos 12 quadros de referência 14 em
grupos de três, para obviar sua comparação. O espírito desta unidade
reside na necessidade de você, como pesquisador particular das Ciências
Sociais, posicionar-se epistemologicamente ante o objecto ou fenómeno
que deseja estudar.

Objectivos da unidade
Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:
 Explicar a perspectiva da pesquisa social do Positivismo,
Funcionalismo, Estruturalismo, Etnometodologia, Fenomenologia,
Racionalismo, Empirismo, Realismo, Idealismo, Materialismo e
Materialismo Histórico, Hermenêutica e Filosofia da Linguagem,
 Reconhecer os pontos fortes e fraquezas de cada quadro de
referência.

Tempo de estudo da lição: 10 horas.

Tempo

14
Rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista
que o pesquisador tem do mundo que o rodeia, fazendo que ele tenda a ver e a interpretar
o mundo de determinada perspectiva em relação ao Homem, a sociedade e o mundo em
geral. Essa perspectiva epistemológica orientará a escolha do método, da metodologia e
das técnicas a usar numa pesquisa.

80
Lição n° 8: Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo
Introdução
Bem-vindo à lição inaugural da unidade II cujo enfoque atrela-se a dois
objectivos específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque
perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social
objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Explicar as possibilidades de uma pesquisa social
objectiva, nas perspectivas do Positivismo, Funcionalismo
e do Estruturalismo;
 Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de
factos e fenómenos sociais.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 03 horas.

Tempo

Positivismo, Funcionalismo e Estruturalismo, como quadros de


referência da pesquisa social

Terminologia

81
8.1. Positivismo
 Pressupostos
Esta corrente surgiu na atmosfera dos sucessos das Ciências Naturais no
século XIX, mostrando a fé absoluta do poder da investigação
experimental. Esta atracção pelos métodos de investigação empírica
originou a ideia deque todos os problemas científicos e sociais poderiam
resolver-se exclusivamente por métodos empíricos e que as técnicas das
Ciências Naturais deviam ser aplicadas pelas Ciências Sociais. O
positivismo, estabelece a distinção entre factos e valores e grande
hostilidade com a religião e com a metafísica.

Segundo Comte, o espírito positivo estabelece as ciências como


investigação do real, do certo, do indubitável e do determinado onde a
imaginação e a argumentação subordinam-se à observação que, por
ser limitada, o conhecimento só apreende factos isolados, para além
deque existe uma ordem natural que os homens não podem alterar.

 Pesquisa social
Deste modo só podemos interpretar a natureza na medida em que, se
acreditamos que somos produto do nosso ambiente ao qual reagimos
como as moléculas se excitam diante o aumento do calor num líquido, não
temos que perguntar às próprias pessoas (quando à experimentação agem
diferente do mundo social, então aquelas não servem para explicar este)
pois podemos prever como se comportarão, referindo-nos só aos factos
ambientais.

Portanto, devemos estudar os fenómenos sociais com a mesmo


perspectiva de químico e do médico, explicando o comportamento
humano em termos de causa e efeito, colectando dados sobre o ambiente
social e as reacções das pessoas.

8.2. Funcionalismo
Segundo Richardson (1999:29/30), no século XX as Ciências Sociais
fracassaram porque se dedicaram a seguir um fantasma que resultou da
transferência acrítica da metodologia das ciências físico-naturais ao
fenómeno humano. Até ao início dos anos 60, quase a totalidade dos

82
pesquisadores seguiam orientações funcionalistas e positivistas da Escola
Americana, onde a Universidade de Chicago era o coração e a alma do
funcionalismo, oque levou à deturpação total da meta fundamental das
Ciências Sociais: o desenvolvimento do homem e da sociedade.

 Pressupostos
Esta corrente enfatiza as relações e o ajustamento entre diversos
componentes de uma cultura/sociedade, seus fundadores (Herbert
Spencer-1820/1903 e Émile Durkheim-1858/1917) procuraram analogias
entre as formas de organização cultural e social com a organização dos
seres vivos.

Para o antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942), a quem se deveu


a consolidação do funcionalismo como método de investigação social, o
seu raciocino básico é que, se os homens têm necessidades contínuas
devido à sua composição biológica e psíquica, essas necessidades irão
requerer formações sociais que as satisfaçam efectivamente. Por isso
toda a actividade social e cultural é funcional (desempenha funções) e é
indispensável. O seu colega Radcliffe-Brown (1881-1955), introduziu a
noção de estrutura no funcionalismo: a função de toda actividade
recorrente é seu papel na vida social e sua contribuição social para
sustentar as estruturas.

 Pesquisa social

Apesar das críticas por ser identificado, em suas origens, com ideologias
conservadores continua a exercer influência na pesquisa social. As
crónicas greves dos chapeiros podem ser estudadas empiricamente como
um requerimento para formações sociais que satisfaçam efectivamente sus
necessidades, elas desempenham uma função e visam a suster estruturas
existentes (fenómeno social total). Portanto, fornece conhecimentos
empíricos úteis e potencialmente exploráveis.

83
8.3. Estruturalismo
 Pressupostos

Para Gil (1999:37), este termo aplica-se para as correntes que têm suas
bases nos estudos do linguista Ferdinand Saussure (1857-1913) e do
antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908- 2009). São as correntes de
pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar a realidade, o
pressuposto é que cada sistema é um jogo de oposições, presenças e
ausências, constituindo uma estrutura, onde o todo e as partes são
interdependentes, modificações num elemento implica modificação de
cada um dos outros e do próprio conjunto.

Richardson (1999:39) sublinha que a estrutura nunca existe na realidade


concreta, mas ela define o sistema de relações e transformações possíveis
desta realidade. O estruturalismo trabalha basicamente com estruturas
mentais (representações e suas invariáveis históricas, para ele os
fenómenos fundamentais da vida humana são determinados por leis de
actividades inconscientes. Portanto, o centro não é o indivíduo, mas o
inconsciente como sistema simbólico – o estruturalismo é anti-empírico.

 Pesquisa social

Para Lévi-Strauss o modelo científico estrutural opõe-se ao empirismo,


para o qual a realidade é singular e revelada pela experiência sensível e o
objecto passa a ser o facto, ao considerar que o facto isolado não possui
significado, enquanto tal, se não considerado dentro da estrutura a que
pertence, de modo que os elementos da estrutura têm carácter relativo e o
sentido e valor de cada elemento resulta apenas da posição que ocupa em
relação aos demais.

A regra principal da investigação é que os factos devem ser observados e


descritos, sem permitir que os preconceitos teóricos alterem sua natureza
e importância, estudar os factos em si mesmos e em relação ao conjunto.
Exige o estudo imanente das conexões essenciais das estruturas
independentemente da sua génese ou de suas relações com o que é
exterior a elas. Esse estudo imanente do objecto implica a descrição dos
sistemas em termos estritamente relacionais, onde a experiência comum

84
só reconhece coisas, a análise estrutural descreverá redes de relações, que
por sua vez constituem sistemas (políticos, de parentesco e filiação, de
transporte e comunicação…).

Resumindo o procedimento para uma análise estruturalista:


1º Quais os factos observados? Parte-se da investigação de um
fenómeno concreto [greves dos chapeiros], devendo ser factos
exactamente observados e descritos, estudados em si mesmos e em
relação com o conjunto;
2º Atinge-se o nível abstracto pela exposição de um modelo
representativo do objecto de estudo [conexões], procura-se a
pertinência de um elemento ao modelo em construção, sendo que
o valor de um elemento depende exclusivamente da posição que
ocupa em relação aos demais, sendo fundamental a decomposição
do fenómeno estudado procurando elementos cuja variação
produza certas modificações no conjunto e, os elementos não
pertinentes devem ser eliminados. Ora, a decomposição oferece
uma primeira aproximação à estrutura;
3º Construir a estrutura, partindo das menores unidades do
fenómeno estudado, descobrindo ou estabelecendo regras de
associação dos elementos pertinentes. Por exemplo se A é superior
a B, B é superior a C, A será superior a C;
4º Retorna-se ao concreto como uma realidade estruturada
mediante a composição de uma estrutura do fenómeno,
considerando suas manifestações empíricas visíveis e suas
relações teoricamente estabelecidas.

85
As teorias ou quadros de referência descritos, devem nos permitir
analisar sua adequação na pesquisa de factos e fenómenos sociais
particulares. Desenhe um esquema simbolizando a análise estruturalista
da greve dos chapeiros da sua cidade.
Actividade
Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem elaborar
um quadro similar ao que consta a seguir sobre idealismo e realismo,
então está no caminho certo, caso contrário releia o texto, faça
anotações novas e, principalmente, siga os exemplos que apresento no
desfecho do idealismo e do realismo, que são bastante elucidativos.

 Importância e crítica

Ao negar a realidade como algo singular, rejeitar o império da experiência


sensível e considerar insignificante o estudo de factos isolados, o
estruturalismo teve grande importância no desenvolvimento das Ciências
Sociais do século XX, enquanto uma alternativa significativa para todas
as formas de positivismo e funcionalismo.

Apesar do sucesso, o estruturalismo recebe relevantes críticas: negligência


à possível transformação dos fenómenos, ao procurar estruturas
invariáveis; ao considerar o inconsciente colectivo igual em todas as
pessoas, permite que tenhamos as mesmas categorias mentais, colocando
a consciência no 2º plano; relegar a História ao 2º plano por o estudo da
estrutura preceder o estudo da evolução e da génese; ao simplificar o
fenómeno em modelos estruturais, não procede por síntese de realidades
significativas, senão pelo seu empobrecimento, etc.

86
Resumo da lição
Com o positivismo e com o funcionalismo, as Ciências Sociais
se dedicaram a seguir um fantasma que resultou da transferência
acrítica da metodologia das ciências físico-naturais ao fenómeno
humano, mas hoje devemos buscar estas correntes para oferecer
uma base quantitativa, sem a encarrarmos como receita de
objectividade.

Apesar do sucesso e seu uso criterioso ser aconselhável na


pesquisa social, o estruturalismo negligencia a possível
transformação dos fenómenos, ao procurar estruturas
invariáveis; ao considerar o inconsciente colectivo igual em
todas as pessoas, coloca a consciência no 2º plano; para além de
relegar a História ao 2º plano, por o estudo da estrutura preceder
o estudo da evolução e da génese.

Bibliografia da Lição
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 OLIVEIRA, Maria da Luz; Pais, M.J. & Cabrito B.G.
Sociologia, 4ª edição, Lisboa: Texto editores, 1989
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:
Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

87
Lição n° 9: Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo
Introdução
Bem-vindo à 9ª lição cujo enfoque igualmente se atrela a dois objectivos
específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque
perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social
objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Explicar as possibilidades de uma pesquisa social
objectiva, nas perspectivas do Etnometodologia,
Fenomenologia e Racionalismo;
 Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de
factos e fenómenos sociais.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 02 horas.

Tempo

Etnometodologia, Fenomenologia e Racionalismo, como quadros


de referência da pesquisa social

Terminologia

88
9.1. Etnometodologia
 Pressupostos

Harold Garfinkel apud Gil (1999:40) define-a como a ciência dos


etnométodos, são procedimentos que constituem o raciocínio sociológico
prático. É uma tentativa de analisar os procedimentos que os indivíduos
utilizam para realizar as diferentes operações quotidianas (tomar decisões,
comunicar-se, raciocinar, etc.).

Esta corrente tem influências da fenomenologia, pois alisa as crenças e


comportamentos de senso comum como constituintes necessários de
todo o comportamento social organizado. Os etnométodos procuram
estar mais perto das realidades correntes da vida social que os outros
sociólogos.

 Pesquisa social

Admitem a necessidade de uma volta à experiência, o que exige a


modificação dos métodos e técnicas de colecta de dados e da reconstrução
teórica, rejeitando as hipóteses tradicionais da sociologia sobre a realidade
social, optando pela hipótese deque os fenómenos quotidianos se
deformam quando analisados por meio da grade de descrição científica
(Coulon apud Gil, 1999:41).

9.2. Fenomenologia
Segundo Briones (2002:31-33), actualmente entende-se por
fenomenologia a doutrina desenvolvida por Edmund Husserl (l859-1938),
entendida como um método e maneira de ver a mundo. Husserl se opõe ao
positivismo e ao pragmatismo [realismo e empirismo], embora reconheça
um valor limitado à primeira escola, ele também rejeita a crença em uma
filosofia absoluta.

As teses fundamentais da fenomenologia de Husserl, expostas em sua


obra “Investigações lógicas”, são basicamente duas:

89
 Para compreender o fluxo e conteúdo da consciência devemos nos
limitar a descrever o que nela se apresenta, sem ser condicionados
por teorias apriorísticas sobre esse conteúdo;
 A exposição acima mostra que o fluxo da consciência ocorre,
isolado dos objectos concretos, mas mediante “essências ideais”.
 Pesquisa social

Para o investigador, seriam algumas especificações destas duas teses


fundamentais, as seguintes:
 A consciência, para Husserl, é sempre uma consciência
intencional, ou seja, a consciência de alguma coisa, isso implica
uma relação com um objecto. Para aceder à essência contida nos
fenómenos que ocorrem na consciência é necessário purificar o
fenómeno mediante um procedimento metodológico de redução
eidetica denominado epoche. Essa redução significa isolar todo o
individual e contingente que aparece no fenómeno conferido pela
intuição empírica ou por imagens da fantasia, para manter a
essência do fenómeno.
 A redução eidética é acompanhada pela redução transcendental
ou redução fenomenológica que também isola a existência do
mundo ao meu redor e a existência do próprio analista, seus actos
psíquicos, interesses, etc. O que resta, depois destas reduções, é a
pura consciência: as suas experiências e conteúdo, ao que Husserl
chama consciência transcendental.
 A redução fenomenológica é o método para alcançar o campo no
qual deve actuar a nova ciência (nova, como superação da crise
para a qual foram lavadas as ciências pelo positivismo). Isto é, se
você quiser filosofar, é necessário abandonar informações que lhe
dão a atitude natural e situar-se na esfera da consciência pura.
Enquanto a redução fenomenológica, com a qual você chega a este
campo, envolve aceitação de um idealismo transcendental,
Husserl não nega a existência de um mundo real, só o isola
metodologicamente. Na consciência pura se realiza a constituição

90
do sentido dos fenómenos apreendidos ou reduzidos pela
consciência.

Husserl acusa o Positivismo de ser responsável pela crise da ciência,


porque ao reduzir o conhecimento verdadeiro ao conhecimento científico
excluiu a fundamentação filosófica deste. Para remediar esta crise propõe
a transformação da filosofia em ciência, ou seja, num sistema conceitual
de validade universal e necessária. Como tal, dela devem começar todas
as disciplinas e os fundamentos filosóficos de todas as ciências.

A fenomenologia de Husserl teve a sua principal projecção na sociologia


de Alfred Schutz e em parte por meio dele, à etnometodologia, e autores
como Peter Berger e Thomas Luckmann como o reconhecem em seu livro
“A construção social da realidade”.

 Crítica

É questionável a pretensão de Husserl em encontrar, por redução


fenomenológica na consciência pura, o básico da ciência. Se por um lado
defende energicamente o racionalismo, nos faz presumir que não queria
incluir na razão o entendimento. Não é em vão que Husserl nunca analisa
a função do experimento, como uma interrogação da experiência e não
como uma simples descrição do que vemos nela. Por fim, longe da anti-
cientificidade da fenomenologia, a raiz deste pensamento deva ser
procurada na adesão inicial de Husserl à psicologia puramente descritiva
de Brentano.

9.3. Racionalismo
 Pressupostos

Existem várias formas de racionalismo, como o metafísico (toda a


realidade é de carácter racional), psicológico (pensamento é superior às
emoções e à vontade) e o racionalismo gnosiológico ou epistemológico
cujos conceitos centrais tem maior pertença na abordagem deste tema dos
pressupostos filosóficos das Ciências Sociais. Deste modo, o racionalismo
defende que é possível conhecer a realidade através do pensamento puro,
sem nenhuma premissa empírica. Em essência, essa é a posição dos três

91
mais destacados representantes do racionalismo: Descartes, Leibniz e
Spinoza. Por exemplo, Descartes provou a existência de Deus e do mundo
físico a partir da premissa racionalmente indubitável "penso, logo existo"

O conhecimento é propriamente tal quando se tem necessidade lógica e


validade universal. Só a razão pode permitir decidir que uma coisa é como
é e não pode ser de outra forma. Só a razão tem a capacidade de obter por
si mesma, mediante a dedução a partir de ideias inatas, outros
conhecimentos do tipo "todo efeito tem uma causa" que é evidente porque
estabelece uma relação necessária. Tais conceitos são chamados juízos
sintéticos, que por terem sua origem na razão são conhecimentos apriori
(Briones,2002:23).

 Pesquisa social
O racionalismo moderno tomou várias formas, longe das pretensões mais
extremas, expressas nos séculos XVII e XVIII. Permanece, é claro, a
importância da razão no conhecimento da realidade dentro dos vários usos
do termo "Racionalismo". A eles correspondem as posições
epistemológicas de Gaston Bachelard e Karl Popper que destacam tanto o
papel da razão e da experiência empírica na pesquisa científica.

Resumo da lição
O racionalismo moderno tomou várias formas, longe das
pretensões mais extremas dos XVII e XVIII, mas permanece, a
importância da razão no conhecimento da realidade. A
fenomenologia, por seu turno, se por um lado defende
energicamente o racionalismo, nos faz presumir que não quer
incluir na razão o entendimento. Por fim a etnometodologia,
admite a necessidade de uma volta à experiência, modificando
os métodos e técnicas de colecta de dados e de reconstrução
teórica, rejeita as hipóteses tradicionais da sociologia sobre a
realidade social, optando pela hipótese deque os fenómenos

92
quotidianos se deformam quando analisados por meio da grade
de descrição científica.

Bibliografia da Lição
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias
sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa


social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

93
Lição n° 10: Empirismo, Realismo e Idealismo
Introdução
Bem-vindo à 10ª lição cujo enfoque atrela-se igualmente a dois objectivos
específicos válidos a todos quadros de referência: o enfoque
perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social
objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Explicar as possibilidades de uma pesquisa social
objectiva, nas perspectivas do Empirismo, Realismo e
Idealismo;
 Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de
factos e fenómenos sociais.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 02 horas.

Tempo

Empirismo, Realismo e Idealismo, como quadros de referência da


pesquisa social.

Terminologia

94
10.1. Empirismo
 Pressuposto

Esta corrente sustenta só o reflexo do quotidiano e não as condições que o


tornam possível. Como o positivismo defende a existência de um mundo
lá fora que podemos registar e analisar independente das variações das
interpretações que as pessoas fazem, portanto a possibilidade de obter no
mundo social factos independentes da forma como as pessoas os
interpretam, é a “teoria da realidade correspondente”, segundo a qual
uma crença, afirmação ou sentença é verdadeira desde que haja um facto
externo que corresponda a ela. Pesquisa que não se referiu explicitamente
à teoria para guiar os seus procedimentos de colecta de dados, sob o lema
os factos falam por si mesmos.

 Tarefa dos pesquisadores

Neste paradigma ele deve só refinar os seus instrumentos de colecta de


dados para que façam um registo neutro. A objectividade é definida pelo
desligamento do pesquisador do mundo social e precisão dos seus
instrumentos de colecta.
Exemplo: Neste paradigma ele vai descrever a greve dos
chapeiros através da teoria da realidade correspondente, através
de uma greve de chapeiros da Cidade da Beira possivelmente
anterior.

10.2. Realismo
 Pressuposto

Marx defendeu que os pesquisadores devem organizar seus conceitos para


apreender com sucesso os já existentes aspectos essenciais do capitalismo
que o distinguem de outros sistemas económicos e políticos, portanto os
mecanismos e estruturas subjacentes que tornam relações quotidianas
inteligíveis dos chapeiros

95
O conhecimento que as pessoas têm do seu mundo social afecta o seu
comportamento e tal mundo não existe independente desse conhecimento.
Para o realismo ou pós-empirismo não há um mundo social além das
percepções das pessoas, ele reflecte as condições nas quais os estados
mentais das pessoas vivem, como as estruturas são reproduzidas os
desejos e necessidades das pessoas são frustrados.

 Tarefa dos pesquisadores

Revelar as estruturas das relações dos diversos campos sociais para


entender porque temos certo tipo de políticas e práticas ou as condições
que tornam possível o quotidiano, considerando que as causas são simples
tendências que produzem efeitos particulares e não determinam
necessariamente as acções. O pesquisador social volta-se para os
entendimentos e as interpretações das pessoas sobre os seus ambientes
sociais: Abordagem fenomenológica da pesquisa social.

Exemplo: Neste paradigma podemos explicar a greve dos


chapeiros como um comportamento que resulta dos já existentes
aspectos organizacionais dos transportes urbanos em que
interagem. Assim colecta os entendimentos e interpretações dos
diversos campos, partindo de algumas hipóteses: o campo social
político com politicas ambíguas resultantes do conflito de interesse
por seus agentes serem também operadores e evitam sobrecarregar
o utente por comportamento político, mas exigem receitas
apertadas aos chapeiros, o campo social da polícia, com seus
interesses corruptos que chocam com as regras éticas da
sociedade, o campo social dos utentes ávidos em chegar ao
destino, com poucas posses, e o campo social dos chapeiros ávidos
em encurtar as rotas perante uma polícia volúvel, fazer um receita
adicional à receita apertada e olham a polícia como o elemento
que frustra seus desejos e necessidades

96
10.3. Idealismo
 Pressuposto

As nossas acções não são governadas por mecanismos de causa – efeito


como nas ciências naturais, mas pelas regras (escritas e não escritas;
gerais e restritas) que utilizamos para interpretar o mundo. Não é aplicável
à pesquisa social falar de causa – efeito, porque as pessoas comtemplam,
interpretam e agem nos seus ambientes, deste modo. É o mundo das ideias
que interessa aos pesquisadores sociais, disto se infere que a actividade
humana não é comportamento (adaptação às condições materiais), mas
uma expressão de significado que os homens dão para a sua conduta
através da linguagem.

Existem regras na acção social através das quais produzimos a sociedade


e nos entendemos e reconhecemo-nos, que para além de serem
frequentemente violadas e diferentemente interpretadas, não se pode
prever o comportamento humano, mas as pessoas agem como se
estivessem a seguir regras e, por isso, as suas acções são inteligíveis.

A realidade não pode ser externa ao homem porque os significados que


agregamos ao mundo não são estáticos, nem universais, logo as nossas
descrições do mundo social devem resultar do contexto das culturas que
estudamos.

 Tarefa dos pesquisadores

Concentrar-se sobre como as pessoas produzem a vida social, entendida


apenas através do exame da selecção e interpretação que as pessoas fazem
dos eventos e das acções. Assim, o objectivo da pesquisa é entender as
regras que as tornam possíveis, explicar como as pessoas interpretam o
mundo e interagem umas com as outras (Intersubjectividade).
Exemplo: Neste paradigma vai explicar a greve dos chapeiros
como um comportamento que resulta da interacção dos vários
campos sociais que intervém no sistema de transportes em função
das regras formais e informais, as interpretações s e violações que
possam ajudar a entender a greve.

97
Estas teorias ou quadros de referência devem nos permitir
analisar sua adequação na pesquisa de factos e fenómenos sociais
particulares. Os exemplos que apresento no desfecho do
idealismo e do realismo, são elucidativos.
Actividade 18
Considerando o facto social greve dos chapeiros descreve no seu
bloco de notas a esperada postura de um pesquisador social que
busca objectividade tendo como referencial teórico a
Etnometodologia, Fenomenologia e o Racionalismo.

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem


elaborar um quadro similar ao que consta a seguir sobre
idealismo e realismo, então está no caminho certo, caso contrário
releia o texto, faça anotações novas e, principalmente, siga os
exemplos que apresento no desfecho do idealismo e do realismo,
que são bastante elucidativos.

Resumo da lição
Enquanto o empirismo sustenta só o reflexo do quotidiano e não
as condições que o tornam possível, o positivismo, por sua vez,
defende a existência de um mundo lá fora que podemos registar
e analisar independente das variações de interpretações.
Contrariamente, para o realismo, o conhecimento que as pessoas
têm do seu mundo social afecta o seu comportamento e tal
mundo não existe independente desse conhecimento. Enquanto
para o idealismo, as nossas acções não são governadas por
mecanismos de causa – efeito, como nas ciências naturais, mas
pelas regras (escritas e não escritas; gerais e restritas) que
utilizamos para interpretar o mundo

98
Bibliografia da Lição
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias
sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.
 MAY, Tim. Pesquisa social: Questões, métodos e
processos, 3ª Edição, Porto Alegre: ARTMED, 2004.

99
Lição n° 11: Materialismo histórico, Hermenêutica e Filosofia
analítica da linguagem

Introdução
Bem-vindo à 11ª lição cujo enfoque atrela-se a dois objectivos
específicos, como vimos, válidos a todos quadros de referência: o enfoque
perspectivado por cada quadro de referência para uma pesquisa social
objectiva e válida, bem como seus pontos fortes e fraquezas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Explicar as possibilidades de uma pesquisa social
objectiva, nas perspectivas do Materialismo Histórico,
Hermenêutica e Filosofia da Linguagem;
 Analisar as suas fraquezas e fortalezas na abordagem de
factos e fenómenos sociais.
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 03 horas.

Tempo

Materialismo e Materialismo Histórico, Hermenêutica e Filosofia


da Linguagem, como quadros de referência da pesquisa social.

Terminologia

100
11.1. Materialismo histórico.
 Pressuposto

Esta corrente fundamenta-se no método dialéctico15, sustenta que a


produção e troca de produtos são a base de toda a ordem social, as
mudanças sociais e subversões políticas não estão nas cabeças dos
Homens mas nas transformações dos modos de produção e seus
intercâmbios. Portanto, a estrutura económica (infra-estrutura) é a base
sobre a qual se ergue a superstrutura jurídica e política à qual
correspondem certas formas de consciência social e ideológica.

A forma de produção da vida material é que determina o processo social,


político e espiritual. Esta relação entre o material e o social é dialéctica,
portanto não mecânica imediata, mas como um todo orgânico.

Como depreende, constitui uma oposição clara a toda a forma de


positivismo e estruturalismo. Segundo Richardson (1999:46/7), o
materialismo dialéctico é a única corrente de interpretação dos fenómenos
sociais que apresenta princípios (principio da conexão universal de
objectos e fenómenos e Princípio do movimento e desenvolvimento), leis
(lei da unidade e luta dos contrários, lei da transformação da quantidade
em qualidade vice-versa e lei da negação da negação) e categorias de
análise (individual/geral, causa/efeito, necessidade/acaso,
conteúdo/forma, essência/aparência, realidade/possibilidade).

 Pesquisa social

15
O método ou materialismo dialéctico é a ideologia e ciência do marxismo, a única
corrente de interpretação de fenómenos sociais que apresenta princípios, leis e categorias
de análise, oposta ao positivismo. É materialismo porque sua interpretação da natureza,
sua concepção dos fenómenos naturais e sua teoria materialistas (sendo matéria aquilo
que exercendo influência nos nossos órgãos de sentido, isto é a realidade objectiva, o
mundo exterior que existe independentemente da consciência), enquanto a dialéctica
vincula-se ao processo dialógico de debate entre posições contrárias baseada no uso de
refutação ao argumento, por redução ao absurdo ou falso, a arte de chegar à verdade,
mostrando as contradições dos argumentos do oponente e superando as suas
contradições. Os argumentos da dialéctica se dividem em tese (argumento a ser
impugnado); antítese (oposição à tese) e síntese (fusão que revela as verdades de ambas e
introduz um ponto de vista superior).

101
Na interpretação dos fenómenos observados enfatizar a dimensão
histórica dos processos sociais, a partir da identificação do modo de
produção numa sociedade e sua relação com a organização política,
jurídica e social.

Segundo Pinto apud Richardson (1999:53) o método dialéctico impõe as


seguintes exigências ao pesquisador: estudar o objecto em todos seus
aspectos e conexões, priorizando o estudo da essência do fenómeno, dar
seu quadro realista (realidade objectiva), mostrar tendências de
desenvolvimento e forças que o determinam; análise completa dos
elementos e processos, suas propriedades, conexões e qualidades;
procurar as causas e motivos dos fenómenos e análise histórica concreta
dos fenómenos e processos sociais, considerando o lugar e o período de
duração, sem esquecer as conexões históricas fundamentais. Quanto aos
cuidados o autor chama atenção à necessidade de uma consciência
metódica, uma reflexão crítica que descobre as conexões entre
fenómenos; o trânsito entre o individual e o geral e vice-versa, procurando
compreender sua unidade e a preocupação com a análise da totalidade e
de suas partes.

 Importância e crítica

Significou um importante avanço na interpretação dos fenómenos sociais,


sendo a 1ª corrente epistemológica que considera a história como factor
importante no desenvolvimento dos fenómenos. Mas, criticada pelo
reducionismo da sua noção de contradição, pois nem toda a relação é
contraditória, existem as relações complementares.

102
Escreva no seu bloco, as semelhanças e as diferenças entre o
funcionalismo e o estruturalismo.

Se nas suas notas conseguiu reunir elementos que lhe permitem elaborar
um quadro similar ao que consta a seguir sobre idealismo e realismo,
Actividade
então está no caminho certo, caso contrário releia o texto, faça
anotações novas e,, principalmente, seguir o exemplo da comparação,
que segue, entre o positivismo de August Comte e o materialismo
histórico de Karl Marx

Semelhanças
 São quadros de referência porque definem o ponto de
vista que o pesquisador tem do mundo que o rodeia,
fazendo que ele tenda a ver e a interpretar o mundo de
determinada perspectiva,
 Orientaram a escolha do método, da metodologia e
das técnicas a usar numa pesquisa.
 Ambas enfatizam o peso do mundo exterior sobre as
ideias,
Diferenças

 Para o positivismo não há necessidade de inquirir a


amostra, porque podemos prever seu comportamento
referindo-nos só aos factos sócio ambientais.
 Para o materialismo o mundo exterior existe
independentemente da consciência, mas dependendo
da dinâmica da matéria que deve ser priorizada na
explicação dos factos e fenómenos sociais
 O primeiro enfatiza a observação do mundo social e
infere sobre seus fenómenos na base de uma pretensa
lógica natural imutável que dispensa perguntas à
população em estudo, o segundo enfatiza a abordagem
histórica na interpretação da sociedade a partir do
estímulo dinâmico que a matéria exerce sobre o tecido
social.

103
11.2. Hermenêutica
 Pressupostos

É uma reacção directa à fenomenologia. Uma das primeiras aproximações


para a hermenêutica actual foi feita por Hegel Wilhelm Dilthey (1833-
1911), para quem essa disciplina deve ser o método das ciências do
espírito ou humanas. Nela, a compreensão tem um carácter objectivo que
vai para a objectivação da vida, ou seja, às obras e valores histórico -
culturais que podem ser captados pela experiência. Com Heidegger, a
hermenêutica ganhou aprofundamento e a compreensão torna-se uma
estrutura fundamental do ser humano: tal filosofia não é uma forma
particular de conhecimento, mas é a condição essencial de qualquer tipo
de conhecimento.

A partir de Hans-Georg Gadamer (1900-?), na sua obra fundamental


Verdade e método (1960), a hermenêutica deixa de ser um método, como
queria Dilthey, para se tornar uma doutrina filosófica com uma proposta
coerente acerca da “compreensão”. E seu objecto não é a exploração do
ser individual, mas a investigação do ser histórico.

Nesta versão de Gadamer, a “compreensão”, tem um carácter objectivo,


não consiste em entender o outro, mas entender-se com o outro a partir de
um “texto”. Um “texto” pode ser um evento histórico, uma obra de arte,
etc. Mas, em qualquer dos casos, o entendimento alcançado é histórico,
pois este evento ou objecto é mediado historicamente. Por outro lado, não
é possível conseguir uma compreensão livre de preconceitos (para
Gadamer significa juízo prévio). A compreensão de um texto, só é
possível a partir de um entendimento prévio ou preconceito do
pesquisador projectado sobre o objecto, preconceito que será modificado
por um e outro, levando a uma nova compreensão do presente e assim
sucessiva e infinitamente. Nas palavras deste filósofo, todo o
entendimento é feito dentro de um “círculo hermenêutico”. Compreender
não significa transladar-se à época do autor do texto ou do acontecimento
estudado, mas envolve uma fusão de horizontes, com a qual se define um

104
horizonte mais amplo. Portanto, para Gadamer, o intérprete de um texto o
entende melhor do que seu autor.

 Crítica

Para Paul Ricoeur apud Briones (2002:37) uma das principais


dificuldades para formar uma filosofia hermenêutica é que não há uma
única hermenêutica, ou seja, uma forma única de interpretação de
símbolos da linguagem. Para Freud, por exemplo, os símbolos são um
disfarce de desejos reprimidos; no entanto, para a fenomenologia da
religião, Mircea Eliade, considera-as revelações do sagrado. Mas, é
possível defender um conflito de interpretação entre os dois conceitos
opostos:
 Quando a interpretação é um “exercício de suspeita”: interpretar é
desmascarar as ilusões e mentiras de consciência, que é projectada
como uma consciência falsa, porque cria valores (Nietzsche),
ideologias enganosas (Marx) ou disfarça os impulsos
inconscientes (Freud).
 Quando a interpretação é a “restauração do sentido”: interpretar é
recolectar o significado dos símbolos (uma vez que há uma
verdade do símbolo).

Ricoeur, que em princípio alinha com a segunda forma de interpretação,


pensa, no entanto, que a hermenêutica deve unir-se, dialecticamente: a
suspeita e a confiança, a desmitologização e a restauração do sentido. Ou
também: que a hermenêutica deve ser, ao mesmo tempo, arqueologia do
sujeito (ao modo de Freud, descoberta do ancestral e primitivo) e uma
teleologia de consciência (ao modo de Hegel, pesquisa dos símbolos ou
figuras que dão sentido ao progresso da consciência, em si mesmo.

105
Descreva em que consiste a hermenêutica na aplicação do método
crítico na pesquisa histórica (crítica histórica).

Se nas suas notas reteve as características da hermenêutica e da critica


histórica, então está do caminho certo, agora explique como aplicaria a
Actividade
hermenêutica na crítica histórica, se não consegue releia a lição, por
outro lado o texto de Gomes (1988:343-350) é valioso.

11.3. Filosofia analítica da linguagem


 Pressupostos

A obra de Ludwig Wittgenstein (1889-1951), filósofo austríaco apresenta


aspectos particulares do empirismo e do positivismo lógico que,
compreende duas concepções da linguagem em relação aos objectos da
realidade: Quais os elementos filosóficos desta obra que tem relação
mais directa com a fundamentação das Ciências Sociais?

1ª Concepção, desenvolvida na obra Tratados lógico-filosóficos


(1922)

O objectivo desta obra é estabelecer os limites do que pode ser dito com
significado. A linguagem tem como propósito principal estabelecer factos
que se pretende projectar uma imagem dos mesmos, processo que envolve
o estabelecimento de uma correspondência entre o plano real e o plano
linguístico, por outras palavras, é necessário estabelecer semelhança
estrutural. A tese central nessa relação é expressa por Wittgenstein com a
frase: “O que pode ser dito, pode ser dito com toda a clareza, e sobre
oque não se deve falar guarde-se silêncio”. O mundo não é a totalidade
das coisas, mas a totalidade dos factos, que são as figuras das coisas, dos
objectos. Tudo o que pode ser pensado pode ser expresso pela linguagem,
mas o único papel significativo da linguagem é descrever os factos.

Além das descrições, a linguagem só pode estabelecer tautologias (chove


porque está chovendo). Portanto, qualquer uso além destes dois não faz
sentido, porque enunciados éticos ou metafísicos, não são empíricos.

106
2ª Concepção, está na obra, Investigações lógicas (l933).

Nela desenvolve principalmente as suas investigações lógicas. Diz aqui


que não pretende teorizar ou explicar qualquer coisa, mas descrever o
fenómeno da linguagem. A este respeito, observa que a linguagem inclui
vários “jogos linguísticos”, cada um dos quais está sujeito às suas próprias
regras. Por outro lado, o significado das palavras se define pelo seu uso,
somente quando se sabe como elas são usadas tanto para interrogar,
descrever objectos, nomes, etc., pode-se dizer que se conhece e pode-se
falar uma determinada língua. Os jogos linguísticos expressam o “estilo
de vida” de uma comunidade.

Nas últimas obras deste filósofo, a língua não é mais considerada como
uma figura de realidade, mas como um instrumento, como uma
ferramenta. A tarefa do filósofo consiste em colocar as palavras do uso
quotidiano que expressam a “forma de vida da comunidade”. O resto da
sua obra é dedicado a aplicar o seu método linguístico a uma variedade de
problemas: toma conceitos da matemática ou da conversação ordinária,
separa as coisas paradoxais que dizemos de perplexidade filosófica, para
tentar dissipá-la, lembrando-nos o uso normal de conceitos, mediante os
usos reais e possíveis da linguagem em seus diversos contextos.

 Crítica

Para Wittgenstein apud Briones (2002:34) a forma como usamos a


palavra Filosofia, reflecte uma luta contra o fascínio exercido sobre nós
pelas formas de expressão. Eu quero que você se lembre que as palavras
têm significados que nós as atribuímos mediante explicações. E pode-se
dar uma definição a uma palavra e utilizar a palavra de acordo com aquela
definição ou através da explicação que os que me ensinaram a palavra me
deram. Por explicação de uma palavra pode-se entender também a
explicação que damos quando se nos pergunta, ou seja, se estamos
dispostos a dar qualquer explicação; na maioria dos casos, não estamos.
Neste sentido, então, muitas palavras não têm significados estritos. Mas
isso não é um defeito. Acreditar que é, seria como dizer que a luz da

107
minha lâmpada de mesa não é de modo algum qualquer luz real porque
não tem um limite preciso.

Os filósofos falam frequentemente em investigar e analisar o significado


das palavras. Mas não se esqueça que uma palavra não tem significado
dado, por assim dizer, por uma fonte independente de nós, por isso, de
modo que não há uma espécie de investigação científica sobre o que a
palavra realmente significa. A palavra tem o significado que alguém lhe
deu.

Há palavras com múltiplos significados claramente definidos. É fácil


classificar esses significados. E há palavras de que poderia dizer-se: se
utilizam de mil modos diferentes e vão mudando gradualmente de um
para outro. Não é surpreendente que não possamos estabelecer regras
rígidas de utilização.

É erróneo dizer que em filosofia consideramos uma linguagem ideal,


como oposta à nossa linguagem comum, isso faz transparecer a pretensão
de purificar a linguagem comum ou ordinária, mas a linguagem ordinária
é naturalmente perfeita. Quando elaboramos linguagens ideais, não é para
substituir a nossa língua comum, mas precisamente para eliminar alguma
dificuldade causada na mente de alguém pensando compreender o uso
exacto de uma palavra comum. Esta é também a razão pela qual o nosso
método não é simplesmente para listar os usos actuais de palavras, mas
sim em inventar deliberadamente novos, alguns deles por causa de sua
aparência absurda.

Resumo da lição
O método dialéctico exige ao pesquisador estudar o objecto em todos
seus aspectos e conexões, priorizando a essência do fenómeno, dar seu
quadro realista (realidade objectiva), mostrar tendências de
desenvolvimento e forças que o determinam; a análise completa dos
elementos e processos, suas propriedades, conexões e qualidades;
procurar as causas e motivos dos fenómenos e análise histórica concreta

108
dos fenómenos e processos sociais. Enquanto que a hermenêutica tem
enfoque sobre a compressão, sendo que uma das principais dificuldades
para formar uma filosofia hermenêutica é que não há uma única
hermenêutica, ou seja, uma forma única de interpretação de símbolos da
linguagem, pois o significado das palavras se define pelo seu uso,
somente quando se sabe como elas são usadas tanto para interrogar,
descrever objectos, nomes, etc., pode-se dizer que se conhece e pode-se
falar uma determinada língua. Portanto, Os jogos linguísticos expressam
o “estilo de vida” de uma comunidade.

Bibliografia da Lição
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias
sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

 GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento


histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988

 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social:


Métodos e técnicas, 3ª Edição, São Paulo: Atlas, 1999.

109
Auto-avaliação
da Unidade 2
1. Procure uma monografia de história já defendida e identifique os
métodos ou teorias utilizados na prossecução do trabalho (os
anunciados e os não anunciados na metodologia).
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder
a esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o
texto e faça anotações novas.

2. Através dessa monografia disserte sobre a possibilidade do uso


singular de uma só teoria ou escola de pensamento.

2.1. Como investigador social, com qual ou quais das correntes se


identificaria. Porquê?
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem - lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário
releia o texto, faça anotações novas.

3. Quais as diferenças e semelhanças entre o empirismo e o realismo?

3.1. Qual é a doutrina filosófica que afirma que a razão e o


conhecimento são necessários para conhecer a realidade?
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder
esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o
texto, faça anotações novas.

4. Quais as principais características da fenomenologia de Husserl?

4.1. Explique o objectivo final da abordagem de Husserl.


Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder
esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o
texto, faça anotações novas.

5. Quais os momentos que se distinguem na filosofia da linguagem de


Wittgenestein? Caracterize os jogos linguísticos.
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem - lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário
releia o texto, faça anotações novas.

6. Elabore um quadro sinóptico com os pontos fortes e fraquezas de


cada quadro de referência na pesquisa social.
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder
esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o
texto, faça anotações novas.

110
Conteúdos
A construção
epistemológica das
Unidade 3: A construção Epistemologica das Ciências Ciências Sociais
Sociais

Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais 113

UNIDADE
Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais 125

Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais

3
Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais

Pág. 112 - 159

111
Unidade 3: A construção Epistemologica das Ciências Sociais
Introdução
Bom dia, boa tarde, boa noite conforme a hora em que iniciamos o
estudo da III unidade, em seguida apresento-lhe quatro lições sobre
a problemática da construção epistemológica das Ciências Sociais.
O espírito desta unidade é a necessidade de, você como pesquisador
particular das Ciências Sociais, depois de se posicionar
epistemologicamente ante o objecto ou fenómeno que deseja
estudar, escolher os métodos de procedimento e de abordagem
correspondentes e aprofundar o seu conhecimento sobre as
possibilidades de explicação, compressão, interpretação,
confiabilidade e validade da pesquisa social.

Objectivos da unidade
Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:
 Descrever as regularidades da explicação nas Ciências Sociais

 Explicar as teorias sobre a compreensão e interpretação nas


Ciências Sociais,

 Analisar as possibilidades de confiabilidade e validade das


investigações sociais.

Tempo de estudo da lição: 30 horas.

Tempo

112
Lição n° 12: Métodos das Ciências Sociais
Introdução
Bem-vindo à 12ª lição, cujo enfoque são os métodos a que correspondem
as correntes que estudou na II unidade. Os métodos que seguem, visam
conferir-lhe as bases lógicas da sua investigação e, por outro lado, indicar-
lhe os meios técnicos da sua investigação.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Caracterizar os principais métodos de abordagem e de
procedimento na pesquisa social;
 Explicar a vinculação de cada método ao respectivo quadro de
referência.

Objectivos

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

Tempo

113
Métodos que operacionalizam os quadros de referência na
pesquisa social.

12.1. Métodos de procedimento (conferem as bases lógicas da


investigação).

Os procedimentos lógicos seguidos numa pesquisa científica são


desenvolvidos a partir de elevado grau de abstracção para decidir acerca
do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos factos e da
validade de suas generalizações. Cada um dos métodos que seguem
vincula-se, como referi, a uma das correntes filosóficas que se propuseram
explicar como se processa o conhecimento da realidade social.

 Dedutivo (inferência mediata vinculada no racionalismo).

Na acepção clássica, parte do geral ao particular, portanto, de princípios


reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a
conclusões de maneira puramente formal (em virtude apenas de sua
lógica). Segundo seus defensores (racionalistas, como Descartes, Leibniz
e Spinoza), só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro,
decorrente de princípios a priori, evidentes e irrecusáveis.

O protótipo do raciocínio dedutivo é o silogismo16, que consiste numa


construção lógica que, a partir de duas preposições (premissas), retira uma
terceira, logicamente nelas implicadas (conclusão). Exemplo: todo
homem é mortal (premissa maior); Pedro é homem (premissa menor);
Logo, Pedro é mortal (conclusão).

Este método é mais usado nas Ciências Naturais e Matemáticas, nas


Ciências Sociais seu uso é bem mais restrito, sobretudo na economia têm
sido formuladas leis gerais como a lei da oferta e procura e a lei dos
rendimentos decrescentes (Adam Smith), mas considerá-las premissas

16
Provém de silogismo, dedução analítica ou formal descoberta por Aristóteles, por isso
é também conhecida por dedução aristotélica, ele contrasta com a dedução sintética
porque nesta a proposição deduzida não está contida na primeira. Exemplo: todo o
polígono com 3 lados iguais tem, necessariamente, 3 ângulos iguais.

114
para deduções torna-se crítico porque estão envolvidos muitos factores
humanos formais e informais que reduzem sua infalibilidade.

Segundo Gil (1999:28), mesmo do ponto de vista puramente lógico, o


procedimento recebe duas importantes críticas:

Por ser puramente tautológico, permitindo concluir de forma diferente a


mesma coisa. Exemplo: quando se aceita que todo o homem é mortal,
colocar o caso particular de Pedro nada adiciona, pois essa característica
já esta na premissa maior.

Por ser um raciocínio apriorístico, porque parte de uma afirmação geral,


significa supor um conhecimento prévio, afirma-se que todo o homem é
mortal sem partir da observação repetida de casos particulares, é uma
afirmação previamente adoptada e não pode ser colocada em dúvida tal
como nos dogmas dos teólogos.

 Indutivo (inferência mediata vinculada no empirismo).

Parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do


trabalho de colecta de dados particulares. A generalização não é buscada
aprioristicamente, mas constatada a partir da observação de casos
concretos suficientemente confirmadores dessa realidade. Segundo seus
defensores (os empiristas Francis Bacon17, Thomas Hobbes, John Locke e
David Hume), o conhecimento é fundamentado exclusivamente na
experiência, sem considerar princípios preestabelecidos.

Este método parte da observação de factos e fenómenos cujas causas se


deseja conhecer; depois procura os comparar para descobrir as relações
entre eles e, por fim, procede a generalizações. Exemplo: António é
mortal, Benedito é mortal, Carlos é mortal, Ângelo é mortal; ora, António,
Benedito, Carlos…e Ângelo são homens; logo, (todos) os homens são

17
Diferentemente da indução sintética, formal ou enumeração completa, que nada
acrescenta ao saber das premissas ao enunciar todos os seres ou objectos com uma
mesma propriedade e inferir o que está indicado nas premissas, a indução amplificante,
chamada indução científica ou baconiana, de um número limitado de observações induz
uma conclusão que se aplica a um número infinito [?], isto é, amplifica o saber das
premissas.

115
mortais. Como notas, a conclusão corresponde a uma verdade não contida
nas premissas, ela é verdadeira porque baseia-se em premissas também
verdadeiras e não apenas provável.

Com o advento do positivismo, a importância da indução foi reforçada e


passou a ser proposta também como método mais adequado para as
Ciências Sociais. Contribuindo para que os estudiosos da sociedade
abandonassem a postura especulativa e se inclinassem na observação.
Com os influxos da indução e foram definidas técnicas de colecta de
dados e elaborados instrumentos capazes de medir os fenómenos sociais.

Segundo Gil (1999:28) apesar do mérito, recebeu várias críticas: David


Hume (1711-1776) nega que possa transmitir a certeza e a evidência,
porque pode admitir que amanhã o sol não nasça, mesmo encoberto pelas
nuvens, mas suceder o contrário, crítica contornada pela teoria da
probabilidade, que permite indicar os graus de força de um argumento
indutivo. Outro crítico foi Karl Popper (1902-1994), proponente do
método que segue, em particular da explicação hipotético-dedutiva (13ª
lição).

 Hipotético-dedutivo (vincula-se ao neopositivismo)

Karl Popper partiu da crítica à indução na sua obra A lógica da


investigação científica (1935), onde considera que o salto de alguns para
todos exigiria que a observação de factos isolados atingisse o infinito,
oque é impossível, seria necessário observar cada caso particular do
presente, do passado e do futuro para que o enunciado geral seja
realmente infinito, pois na realidade a soma dos casos concretos dá apenas
um número finito.

Conclui que a indução acaba caindo forçosamente no apriorismo, parte


sim de uma coerência metodológica, justificada dedutivamente. Ora, sua
justificação indutiva exigiria sua verificação factual o que significaria cair
numa petição de princípio, isto é, apoiar-se numa demonstração sobre a
tese que pretende demonstrar.

116
Segundo Kaplan apud Gil (1999:30), no método hipotético-dedutivo o
pesquisador, através de uma observação cuidadosa, hábeis antecipações e
intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam os
fenómenos que lhe interessam, de onde vai deduzir as consequências por
meio da experimentação e, assim, refutar os postulados, substituindo por
outros. O itinerário seria: 1) Surgimento do problema – quando os
conhecimentos disponíveis sobre certo assunto são insuficientes; 2)
Formulação de conjecturas ou hipóteses – para tentar explicar a
dificuldade expressa no problema; 3) Dedução de consequências – a
partir das hipóteses formuladas, estas consequências devem ser testadas
ou falseadas ou tornadas falsas.

Repare que, enquanto o método dedutivo procura a todo o custo confirmar


a hipótese, o método hipotético-dedutivo, ao contrário, procura evidências
empíricas para derrubá-la e quando não as consegue implica a
corroboração com ela, que também é provisória, já que a qualquer
momento pode surgir um facto que a invalide.

Este procedimento tem notável aceitação nas Ciências Naturais e, nas


Ciências Sociais, a sua utilização é crítica pois nem sempre podem ser
deduzidas consequências observadas das hipóteses. Para Popper apud Gil
1999:31), as proposições derivadas da psicanálise ou do materialismo
histórico não apresentam condições para serem falseadas.

 Dialéctico (vincula-se ao materialismo, concebido para a análise da


sociedade).

Da acepção de arte do diálogo, em Platão, o termo dialéctica evoluiu para


a de lógica com os medievais. Em Hegel a lógica e a história seguem uma
trajectória dialéctica, em que as contradições se transcendem, mas
resultam novas contradições que passam a requerer solução onde as ideias
têm hegemonia sobre a matéria. Marx., por seu turno, virou a dialéctica
para apresentá-la em bases materialistas, admitindo a hegemonia da
matéria sobre as ideias.

117
Como estudou no capítulo II, a dialéctica marxista fornece as bases para
uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece
que os factos sociais não podem ser entendidos quando considerados
isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, económicas,
culturais, etc. note que a dialéctica privilegia as mudanças qualitativas,
opondo-se a qualquer modo de pensar que considera a ordem quantitativa
como norma.

 Fenomenológico (vincula-se à fenomenologia)

Com este método Edmund Husserl (1859-1938) propunha-se estabelecer


uma base segura, liberta de proposições, para todas as ciências, ele
considera ingénuas as certezas positivas que permeiam o discurso das
ciências empíricas. Considera que a suprema fonte de todas as afirmações
racionais é a consciência doadora originária, por isso a primeira regra
fundamental é avançar para as próprias coisas (dados, fenómenos), aquilo
que é visto diante da consciência, não se preocupando com o
desconhecido que esteja atrás do fenómeno, visa só o dado se indagar se
este é aparente ou real.

A fenomenologia não é dedutiva nem indutiva, ela mostra o que é dado e


esclarece esse dado, não explica mediante leis e princípios, mas considera
imediatamente o que está presente à consciência – o objecto, interessa-lhe
logo não o conceito subjectivo, nem uma catividade do sujeito, mas, oque
é sabido, duvidado, amado, odiado, etc. (Bochenski apud Gil,1999:32).

Este procedimento visa proporcionar uma descrição directa da experiência


tal como ela é, sem nenhuma consideração sobre a sua génese psicológica
e das explicações causais que o estudioso pode dar, para isso, é necessário
orientar-se àquilo que é dado directamente pela consciência, excluindo
tudo aquilo que pode modifica-la, como o subjectivo do pesquisador e o
objectivo pois, não é oferecido realmente pelo fenómeno em estudo.

Para este procedimento, a realidade não é algo objectivo e passível de ser


explicado como um conhecimento que privilegia explicações em termos

118
de causa e efeito, mas, oque emerge da intencionalidade da consciência,
voltada para o fenómeno – a realidade é o compreendido, o interpretado, o
comunicado, daí que, não há uma única realidade, mas tantas quantas
forem suas interpretações e comunicações (Bicudo apud Gil, 1999:33).
Dentre as várias críticas, de que é alvo, a mais importante é a que não
revela a historicidade dos fenómenos.

12.2. Métodos de abordagem (Indicam os meios técnicos da


investigação).

São os que visam proporcionar ao investigador meios técnicos para


garantir a objectividade e precisão no estudo dos factos sociais, fornecem
a orientação necessária para a realização da pesquisa social, no referente à
obtenção, processamento e validação dos dados pertinentes à
problemática em estudo. A seguir são apresentados os métodos mais
adoptados nas Ciências Sociais, mas alguns autores ampliam a lista
incluindo o método do questionário, o da entrevista, dos testes e outros,
considerando como método os procedimentos específicos de colecta de
dados. Ora, o contraste entre método e técnica reside no grau, sendo que
aqui se operacionaliza método como conjunto de procedimentos gerais
para possibilitar o desenvolvimento de parte significativa de uma
investigação científica, onde estão inclusos, no degrau inferior, os
procedimentos particulares de busca de dados.

 Experimental

Consiste em submeter os objectos de estudo à influência de certas


variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para
observar os resultados que a variável produz no objecto. É por excelência
das Ciências Naturais, aplicado com limitações nas Ciências Sociais
devido a considerações éticas e étnicas. Segundo Giddens (2004:652) só
se pode levar pequenos grupos de pessoas para um laboratório social,
nessa situação sabem que estão a ser estudadas e comportar-se-ão de
modo diferente do normal – é o efeito de Hawthorne.

119
Contudo, estes métodos podem ser aplicados com sucesso, tal como foi o
caso da realizada por Philip Zimbardo que montou uma prisão simulada,
atribuindo a alunos voluntários os papéis de guardas prisionais e
prisioneiros, querendo ver até que ponto o desempenho destes papéis
conduzia a mudanças de atitude e de comportamento. Teve que
interromper a experiência pelo alto nível de tensão resultante: os guardas
assumiam uma atitude autoritária, demostrando hostilidade aos presos,
dando-lhes ordens, agredindo-lhes verbalmente e maltratando-os e os
presos exibindo uma atitude de apatia e rebeldia. Concluiu que o
comportamento nas prisões [escolas] é mais influenciado pela natureza da
própria situação de estar preso do que pelas características individuais dos
envolvidos (Giddens,2004:652).

 Observacional

É dos mais usados nas Ciências Sociais, curiosamente pode ser


considerado como o mais primitivo e impreciso, mas simultaneamente, o
mais moderno, pois possibilita o mais elevado grau de precisão nas
Ciências Sociais. Por isso em Psicologia procedimentos observacionais
são aplicados como próximos dos experimentais, diferendo destes apenas
no facto de nos experimentos o estudioso tomar providências para que
alguma coisa ocorra, a fim de observar que segue, enquanto na
observação apenas observa algo que acontece ou já aconteceu.

Retenha-se que qualquer investigação em Ciências Sociais, seja qual for o


método deve valer-se, em mais de um momento de procedimentos
observacionais, com ou sem protocolo rígido (inquérito, questionário e
observação participante).

120
Elabore um sinopse caracterizando a pesquisa documental, o inquérito, a
entrevista e a observação participante, onde assinale suas vantagens e
limitações.

Se nas suas notas conseguiu sublinhar os elementos demarcados pelo


Actividade
quadro sinóptico que segue, está de parabéns, caso contrário releia as
lições, por outro lado, a leitura a Giddens (2004:655) e Gil
(1999:100/166) lhe conferirá interessantes informações para o sinopse.

AVALIAÇÃO

TIPOS DE PESQUISA CARACTERÍSTI


CAS VANTAGENS LIMITAÇÕES

Pesquisa documental

Inquérito

Entrevista

Observação participante

 Comparativo

Procede uma investigação de indivíduos, classes, fenómenos ou factos,


visando ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. É amplamente
usado pelas Ciências Sociais por possibilitar a comparação de grandes
agrupamentos sociais separados no tempo e no espaço, comparar
diferentes culturas, sistemas políticos ou envolvendo padrões de
comportamento familiar ou religioso de épocas diferentes, servindo
satisfatoriamente as exigências da abordagem popperiana e marxista.
Apesar de algumas vezes ser visto como superficial, há situações em que
seus procedimentos são desenvolvidos com rigoroso controlo e seus
resultados proporcionarem elevado grau de generalização.

121
 Estatístico

Este fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e


constitui um importante auxílio à pesquisa social, mas as explicações
derivadas não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas
dotadas de boa probabilidade de serem verdadeiras [daí que Triola (1999)
adverte-nos que os números não mentem, os mentirosos fabricam os
números, usando a estatística como o bêbado utiliza o poste de energia
para se apoiar].

Segundo Gil (1999:35), mediante testes estatísticos18 é possível


determinar numericamente, a probidade de acerto de determinada
conclusão bem como a margem de erro de um valor obtido, este método
caracteriza-se pelo razoável grau de precisão, muito aceite por
pesquisadores com preocupações quantitativas, pois fornecem
considerável reforço às conclusões obtidas através da experimentação e
observação19.

 Clínico

Apoia-se numa relação profunda entre o pesquisador e o pesquisado, na


pesquisa psicológica tornou-se importante depois da pesquisa de Freud
dos determinantes inconscientes do comportamento. Este método exige
muitos cuidados na proposta de generalizações porque se apoia em casos
individuais e envolve experiências subjectivas. Sua aplicação na análise
política resultou no behaviourismo político de Easton
(Pasquino,2010:14/26).

 Monográfico

Sustenta que o estudo de um caso em profundidade pode ser


representativo de muitos outros ou mesmo de casos semelhantes, sejam

18
Um dos estudos particularizado dos testes na pesquisa social pertence a Gil
(1999:150/), cujos requisitos são a validade, precisão, padronização e aferição.
19
Giddens (2004:658/9) caracteriza alguns termos estatísticos mais usados na pesquisa
social.

122
eles individuas, instituições, grupos, comunidades, etc. Nele está
subjacente a ideia de generalização a partir de um caso particular.

 Histórico

Reflecte as preocupações do materialismo, sobretudo histórico, ao abordar


a evolução do factos analisados através da retrospectiva dos
acontecimentos, processos e instituições para avaliar sua incidência no
presente. Com este método, buscam-se as raízes dos fenómenos totais que
envolvem o assunto em análise. Este modo é objecto de aprofundamento
na cadeira de Introdução à História, onde são considerados autores com
Lopes (1970:143-150), Adam (2000), Gomes (1988), Nouschi (1986),
Coliingwood (2001), entre outros.

Concluindo, retenha-se que nem sempre um método é adoptado rigorosa


ou exclusivamente numa pesquisa, é frequente dois ou mais métodos
serem combinados, porque nem sempre um único método é suficiente
para orientar todos os procedimentos desenvolvidos ao longo da
investigação (Gil,1999:33). Sobre isto Giddens (2000:655) adverte que a
investigação no “mundo” real é muito diferente dos métodos tal como são
explicados nos livros, muitas vezes o investigador pode perceber que as
ferramentas escolhidas têm um valor limitado para o tema que estuda, há
casos em que percebe que não previu certas dificuldades de acesso a uma
população ou seus instrumentos de recolha não são exequíveis, exigindo-
se aí flexibilidade de combinar vários métodos numa, usando cada um
deles para completar e testar os outros, processo chamado triangulação.

Resumo da lição
Prezado estudante retenha que os métodos de procedimento conferem as
bases lógicas da investigação, isto é, os procedimentos lógicos seguidos
numa pesquisa científica são desenvolvidos a partir de elevado grau de
abstracção para decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras
de explicação dos factos e da validade de suas generalizações. Por outro

123
lado, os métodos de abordagem indicam os meios técnicos da
investigação, são visam proporcionar ao investigador meios técnicos
para garantir objectividade e precisão no estudo dos factos sociais,
fornecem a orientação necessária para a realização da pesquisa social,
no referente à obtenção, processamento e validação dos dados
pertinentes à problemática em estudo

Bibliografia da Lição
 ADAM, Schaff. História e verdade, 3ª edição, Lisboa:
Editorial Estampa, 2000.
 COLLINGWOOOD, R.G. A ideia de história, Lisboa:
Presença, 2001.
 GIDDENS, Anthony. Sociologia, Lisboa: Callouse
Gulbenkian, 2004.
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 GOMES, Rodrigues Raul. Introdução ao pensamento
histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988.
 LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica
editora, 1970.
 NOUSCHI, André, Iniciação às ciências históricas,
Coimbra: Almedina, 1986.
 PASQUINO, Giafranco. Curso de ciência política, 2ª
edição, Portugal: Principia, 2010.

Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 12ª lição e não teríamos melhor forma de
fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que podemos aplicar
em situações da realidade social. Então, veja se sabe:
I. Idealize um tema de história para sua monografia e identifique,
justificando, os métodos de abordagem e de procedimento que
seriam adequados.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe responder


esta questão de repetição, então está de parabéns, caso contrário releia o
texto, faça anotações novas sobre métodos de procedimento e de
abordagem do tema que idealizou para sua monografia

124
Lição n° 13: A explicação nas Ciências Sociais
Introdução
Bem-vindo à 13ª lição, cujo enfoque são as lógicas da explicação de
factos e fenómenos sociais, na óptica de Comte, Marx, Durkheim,
Malinowski, Popper, Lazarsfeld e Merton.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Descrever a explicação buscando leis invariáveis em
Comte;
 Caracterizar a explicação dialéctica de Marx;
 Caracterizar a explicação causal de Durkheim;
 Demonstrar a explicação funcionalista em Malinowski e
Objectivos Merton;
 Descrever a explicação hipotético-dedutiva ou
racionalismo crítico de Popper;
 Interpretar a explicação estatística e factor de prova em
Lazarsfeld;
 Descrever a explicação sociológica ou ruptura
epistemológica em Bourdieu;
 Descrever a explicações a posterior ou post-factum em
Merton.

Tempo de estudo da lição: 10 horas.

Tempo

125
Modelos de explicação dos fenómenos sociais.

13.1. A busca de leis invariáveis


August Comte (1798-1857) nas suas obras “Curso de filosofia positiva”
e “Discurso sobre o espírito positivo”, não reconhece a necessidade de
variação entre as Ciências Naturais e Sociais, para além de defender um
absolutismo na explicação científica, ao considerar que o verdadeiro
conhecimento é proporcionado pelas ciências.

Para ele todas as ciências devem usar o mesmo método para explicar os
fenómenos que estudam, o método das ciências exactas físico-
matemáticas, formula uma série de leis invariáveis baseadas em meras
especulações, entre elas a lei dos três estágios, para a qual o
desenvolvimento da mente, o conhecimento e a história passavam pelos
estágios teológico, metafísico e positivo, neste os investigadores buscam
leis invariáveis em todos os ramos da ciência, obtidas mediante a
teorização abstracta, que irão progressivamente ser substituídas por leis
mais concretas. Considera uma concepção unificada das ciências, todas
provendo de um tronco comum, a saber: 1º Matemática, como a mais
geral; 2º Astronomia; 3º Física; 4º Química, 5º Biologia e, por fim, a
Sociologia ou Física Social.

13.2. A explicação dialéctica


Karl Marx (1818-1882) no prólogo da obra “Contribuição à crítica da
economia política” apresenta o método da explicação dialéctica; na obra
“Elementos fundamentais da crítica à economia política”, estuda o
método da economia política; na obra “O capital” estuda a essência da
exploração capitalista e na obra “Miséria da filosofia e ideologia alemã”
apresenta diversas considerações metodológicas.

126
A explicação, em Marx, distingue a realidade concreta do pensamento que
se projecta sobre essa realidade, ela está compreendida dentro do método,
no qual reconhece a primazia do real sobre o pensamento: o concreto não
é produto do pensamento, mas o objecto real que aparece na mente é
produto do pensamento que é a única maneira de apropriar-se a realidade
concreta. Na explicação marxista não é possível separar os valores do
investigador dos assuntos ou fenómenos sociais que ele estuda.

Toda a realidade social está submetida no movimento dialéctico, que


significa um processo permanente de contradições (por exemplo: entre as
forças produtivas e as relações de produção; entre a burguesia e
proletariado), esse processo é, considerando as circunstâncias históricas
concertas, oque deveria formar o objecto geral a ser explicado pelas
Ciências Sociais – descobrir a lei que preside o movimento da sociedade.

Sobre as relações entre a realidade concreta e a consciência e sobre as


contradições que se dão no desenvolvimento da História Social, Marx
disse:

“Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas


relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a uma determinada fase do
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto
destas relações forma a estrutura económica da sociedade, a base real
sobre a que se levanta superestrutura jurídica e política e que
corresponde determinadas formas de consciência social. O modo de
produção da vida material condiciona o processo da vida social,
política, espiritual, em geral. Não é a consciência do homem que
determina o seu ser, senão, pelo contrário, o ser social é que
determina sua consciência”

Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças


produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações
de produção existentes, com as relações de propriedade e se abre assim
uma época de revolução social. Ao mudar a base económica se
revoluciona, mais ou menos, rapidamente toda a imensa superstrutura
erguida sobre ela.

No processo dialéctico de acções e contradições, os fenómenos sociais


estão relacionados entre si numa causalidade dialéctica, segundo a qual

127
um dos elos pode ser a causa do outro e, por sua vez este pode actuar
sobre a sua causa (causalidade recíproca).

13.3. A explicação das causas


Considerando as obras de Émile Durkheim (1858-1917), “As regras do
método sociológico”; “O suicídio”; “Da divisão do trabalho social” e “As
formas elementares da vida religiosa”, ele ergue-se como principal
representante do paradigma positivista nas Ciências Sociais, um empirista
e realista decidido, diferentemente de seu mentor Comte.

Para Durkheim, a explicação do social faz-se a partir de suas causas e o


ponto de partida do seu pensamento é o conceito de facto social, definido
como as maneiras de actuar, de pensar e de sentir dotadas de um poder de
coerção em virtude do que se impõe.

Distingue nitidamente facto/fenómenos materiais e imateriais, estes, com


suas características de coerção constituem o objecto de estudo da
sociologia: correspondem aos valores e normas internalizadas cuja
coerção consiste em que o seu não cumprimento leva a algum grau de
menor ou mais sanção social.

Para ele, os factos sociais devem explicar-se por outros factos sociais. A
explicação compreende tanto a causa que a produz como a função
que cumpre.

Na obra O Suicídio aplicou as regras metodológicas do que se reconhece


como modelo histórico do modelo causal multivariado [pode ler Aron
(2010:331)].

O seu conceito de função social (contribuição mais ou menos de certo


pacto social/ p. ex: o castigo) estabelece relações com a estrutura social,
antecedente directo do Funcionalismo.

13.4. A explicação funcionalista


 Bronislaw Malinowski, junto de Radcliff Brown, é
considerado um dos principais antropólogos

128
funcionalista e suas obras são “Enciclopédia britânica”
e “A teoria científica da cultura”

O funcionalismo tem uma longa tradição em Ciências Sociais, que


emprestaram o conceito “função” da Biologia. Para Malinowski, a análise
funcionalista de uma cultura explica os factos antropológicos em todos os
níveis de desenvolvimento, pelo papel que desempenham dentro do
sistema total da cultura, pela maneira como se relacionam entre si dentro
do sistema e pela maneira como este sistema se relaciona com o mundo
físico.

O ponto de vista funcional da cultura insiste no princípio de que todo o


tipo de civilização, todo o hábito, todo o objecto material, toda a ideia e
toda a crença, cumpre alguma função vital, tem alguma tarefa a realizar,
representa uma parte indispensável dentro de um todo em funcionamento.

 Outro autor funcionalista sugerido pelo plano temático


é Thomas Merton autor da obra “Teoria social e
estrutura social”, cuja principal contribuição na análise
social foram os conceitos de “funções manifestas”, isto
é, as consequências objectivas que contribuíram para o
ajuste ou adaptação do sistema, as quais são realizadas
e conhecidas pelos membros e as “funções latentes”
que não são buscadas intencionalmente, nem
reconhecidas pelos membros do respectivo sistema
social.

Sobre o funcionalismo com método de investigação e de explicação em


Ciências Sociais, Morton apresenta um marco conceptual que denomina
de paradigma para a análise funcional em Sociologia, visando pôr em
ordem e clareza teórica e metodológica esse campo, mediante a análise de
onze conceitos básicos:
 Os objectos sociais e culturais que podem ser considerados
na análise funcional;
 O significado das disposições subjectivas;

129
 Os conceitos de consequências objectivas, isto é, as
funções e disfunções;
 Unidades sociais afectadas pelas funções;
 Conceito de pré-requisitos funcionais;
 Conceito de mecanismos sociais pelos quais se exercitam
as funções;
 Conceito de alternativas funcionais;
 Obstáculos às funções;
 Conceito de dinâmicas e trocas;
 Conceito de validação das análises funcionais;
 Problemas das implicações ideológicas da análise
funcional.

13.5. A explicação hipotético-dedutiva ou racionalismo


crítico
É patrocinada por Karl Popper, cujas principais obras são, as já referidas,
“A lógica da investigação científica”, “Conjunturas de refutação”, “O
conhecimento objectivo” e “Miséria do historicismo”. Seu pensamento
epistemológico, pertence tanto ao realismo, como ao empirismo, ao
racionalismo e mesmo ao positivismo lógico, para alguns teóricos. Popper
defende a existência de um mundo objectivo externo à consciência
(realismo científico)

Na sua crítica ao subjectivismo (nada existe se não pensar nesse algo),


apresenta os seguintes argumentos a favor do realismo:
 Toda a pessoa pode constatar que sua vida está dirigida a actuar
sobre a realidade exterior, seja no contexto da vida quotidiana ou
na actividade científica;
 Sempre se dirige a algo que se considera externo ao indivíduo;
 Ademais, o problema da verdade e da falsidade de nossas opiniões
e teorias não teria nenhum sentido se não aludisse uma realidade
externa.

Sobre o conceito de teoria, considera que as ciências empíricas são


sistemas de teorias (enunciados universais que cobrem todos os casos a

130
que dizem respeito), portanto, sempre escapam muitos fenómenos e
características da realidade em estudo. Enquanto, nas Ciências Sociais, ele
refuta o historicismo como método para prever o desenvolvimento da
sociedade (por exemplo. o marxismo), para ele, as Ciências Sociais não
podem formular profecias históricas de longo alcance. Sugere o método
dedutivo para propor soluções a problemas como pobreza, analfabetismo,
opressão política, etc., portanto uma metodologia que permita o
desenvolvimento de uma “ciência social tecnológica” (teleológica),
uma actividade de “engenharia social” que projectaria as instituições
sociais e reconstruiria as existentes.

Considera o método científico como o único para estudar fenómenos


naturais e sociais, sem prejuízo de reconhecer diferenças na sua aplicação,
no fundo tal método permite explicações dedutivas da estrutura e das
relações sociais.

13.6. A explicação estatística e o factor de prova ou variável


antecedente.

Paul Lazarsfeld escreveu várias obras com outros autores, as mais


importantes são : The logig of survey analysis, com Moris Rosenberg);
Discriptive statistics for sociologists, com Herman Loethar) e La
estruturas de la ciência, com Ernest Nagel.

Esta forma de explicar fenómenos e factos consiste em, quando uma


variável (fenómeno) estiver associada a outra variável, a primeira explica
a segunda se antecede a esta e existindo uma associação mais ou menos
forte entre elas. Por exemplo: se temos uma correlação de 0,76 entre
níveis académicos e salários, significa que a educação será a causa dos
maiores ou menores salários entre as pessoas, isto é, maior educação
maior salário.

A explicação estatística usa o quadro de correlação chamado “coeficiente


de determinação” como procedimento de explicação: correlações
múltiplas, percentagens, factor de prova ou variável antecedente.

131
Sobre o facto de prova ou variável antecedente, Lazarsfeld diz que se os
dados recolhidos numa investigação mostram que as pessoas com maior
informação política (variável independente) votam (variável dependente)
em maior proporção as que têm menor informação política, se pode dizer,
do ponto de vista estatístico que a informação explica a disposição de
votar. Porque é assim? As pessoas com maior informação têm também
maior educação (variável antecedente), esta cumpre uma função
explicativa ou causal se se cumprirem as condições seguintes:
 As três variáveis devem estar relacionadas entre si;
 Quando se controla a variável antecedente a relação
entre a variável independente e a variável dependente
não deve desaparecer;
 Quando se controla a variável independente, a relação
entre a variável antecedente e a variável dependente
deve desaparecer.

13.7. Explicação sociológica ou ruptura epistemológica.


O francês Pierre Bourdieu é considerado discípulo fiel de Gaston
Bachelard, da corrente do “racionalismo aplicado”, conjuntamente com
os compatriotas Jean Claude Chamboredon e Jean Claude Passeron.
Todos adoptam o preceito metodológico do seu mestre: “A ruptura e a
vigilância epistemológica”. São obras de Bourdieu, “O ofício do
sociólogo”.

A ruptura epistemológica em Bourdieu, significa a necessidade de ao


estudarmos um certo fenómeno social, rompermos com as opiniões do
senso comum (pré-noções, ideologias, tradições intelectuais…). Esta
tarefa constitui um novo espírito científico e cumpre-se com a vigilância
da razão, com a vigilância epistemológica que permite passar de um
conhecimento menos verdadeiro a um conhecimento mais verdadeiro ou
“melhor construído” pelo investigador [note que não se diz
completamente verdadeiro]. Esta atitude permite afastarmo-nos do tipo de
empirismo ingénuo, para o qual, se pode ter um conhecimento directo e
imediato do objecto investigado.

132
Ora, isto não implica que renunciemos antecipadamente a regra de
Durkheim (todo o fenómeno social deve ser explicado pelo social e só
pelo social), mas, pelo contrário buscar uma explicação sociológica a todo
o facto social estudado, esgotando todas as possibilidades, evitando ser
tentado a buscar explicações biológicas ou fisiológicas como alternativas
para explicar o social.

13.8. Explicações a posterior ou post-factum


Thomas Merton, funcionalista e criador dos conceitos de função
manifesta e função latente, na já citada obra Teoria e estrutura social,
defende que as explicações post-factum são as explicações de alguns
resultados através de hipóteses formuladas no fim da investigação a fim
de dar cunho teórico a tais resultados.

Por exemplo, numa pesquisa que percebemos que as pessoas


desempregadas lêem menos que as empregadas porque, nas primeiras, a
ansiedade que lhes provoca a sua situação de desocupação lhes impede a
concentração e a busca da satisfação na leitura. Esta hipótese para ter
valor explicativo, deve incluir a construção empírica e, porque se formula
a posteriori, só pode ser considerada hipótese plausível, isto é, pode ou
não ser verdadeira.

Resumo da lição
A explicação de fenómenos sociais deve ser vista na sua
natureza polissémica, ela toma várias perspectivas em função da
natureza do problema, dos objectivos da pesquisa e da hipótese a
validar podendo variar desde explicação dialéctica, causal,
funcionalista, hipotético-dedutiva, estatística, sociológica ou
ruptura epistemológica e a posterior. Ora uma boa escolha e
combinação dos modelos explicativos deverá permitir uma boa
redacção. Ora, embora exista uma variação as propostas,
basicamente, concordam que a explicação deve ser feita na
identificação das causas associadas ao fenómeno ou sua dedução

133
a partir das proposições de uma teoria, excepto na explicação
funcionalista.

Bibliografia da Lição
 ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico,
9ª edição, Portugal: Dom Quixote, 2010.
 BARATA, Óscar Soares. Introdução às ciências sociais,
11ª edição, Viseu: Bertrand, 2004

 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias


sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.

Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 13ª lição e não teríamos melhor
forma de fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que
podemos aplicar em situações da realidade social. Então, veja se
sabe:
I. Com o mesmo tema da hipotética monografia que
criaste na actividade da aula anterior, ensaie as
diversas possibilidades explicativas abordadas nesta
aula..

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder a esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

TEMA DA “MONOGRAFIA”:
__________________________________________________________________________________

Modelo explicativo Exemplo explicativo, segundo o modelo


Leis invariáveis
Dialéctica
Causal
Funcionalista
Hipotético-dedutiva
Estatística e factor de prova
Ruptura epistemológica
post-factum

134
Lição n° 14: A compreensão e Interpretação nas Ciências Sociais
Introdução
Bem-vindo à 14ª lição, cujo enfoque é a compreensão e a interpretação
dos fenómenos sócias

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Descrever as singularidades da compressão das expressões
culturais na pesquisa social, em Dilthey;
 Compreender a explicação buscando singularidades das
ciências culturais e históricas, em Richert;
 Compreender o mundo social sem eliminar a integridade
subjectiva dos actores na óptica dos tipos ideais de
Webber;
Objectivos
 Interpretar a intersubjectividade na explicação dos
fenómenos sociais, em Schutz;
 Compreender a particular objectividade e o carácter
totalitário na explicação do social, em Goldmann;
 Interpretar a linguagem o nexo indispensável entre a
linguagem, as ideias e os conceitos com as relações
sociais, na compressão e explicação dos fenómenos
sociais, em Winch;
 Caracterizar a dupla hermenêutica na compressão do
social, em Giddens: em parte, por se lidar com um
universo já construído dentro de estruturas e significados
e, por outro lado, por o estudioso os interpretar dentro de
seus próprios esquemas teóricos e culturais;
 Compreender a explicação através das interpretações que
os actores atribuem às suas próprias condutas e às
condutas dos outros, em Blumer.

135
Tempo de estudo da lição: 10 horas.

Tempo

Modelos de compressão e interpretação dos


fenómenos sociais
Caro estudante, repare que a explicação, à semelhança da análise, são
dependentes da compreensão do facto ou fenómeno em estudo, a
diferença é porque a análise incide sobre dados (estatística e razão),
enquanto a explicação é de cariz racional, mas ambas dependem da
compreensão.

Na aula anterior, discutimos várias propostas de construção das


Ciências Sociais como ciências explicativas. Vimos que, embora
exista uma variação as propostas, basicamente, concordam que a
explicação deve ser feita na identificação das causas associadas ao
fenómeno ou sua dedução a partir das proposições de uma teoria,
excepto na explicação funcionalista.

Como constatas, nesta aula trazemos um outro extremo da construção


das Ciências Sociais, que se propõe torná-las ciências compreensíveis
ou interpretativas. Mas, contrariamente à proposta explicativa, não
existe uma unanimidade nos conceitos de compreensão ou
interpretação, como mostra a comparação dos principais
representantes desta alternativa:

14.1. As ciências do espírito ou humanas


Para Briones (2002:57), é provável que a 1ª reacção à proposta de
construção das Ciências Sociais explicativas, tomando como modelo
para a sua estruturação e metodologia as Ciências Naturais, tenha
sido do filósofo Hegel Wilhelm Dilthey (1833-1911), guru da

136
hermenêutica.

Para ele as ciências do espírito, como a história e outras disciplinas


que lidam com a cultura, devem ter uma base epistemológica
diferente das Ciências Naturais, porque enquanto lidam com
significados culturais, as Ciências Naturais se referem e estudam o
eixo oposto. Confrontado com a explicação positivista, que para ele
visa no fundo as Ciências Naturais, as Ciências do Espírito devem
buscar a compreensão das expressões culturais. Esta compreensão é
possível porque o objecto de estudo não é algo externo ao homem,
mas parte de sua experiência como realidades espirituais ou culturais
criadas pelo próprio homem ao longo da história. No campo formado
por tais realidades, o homem se encontra em um mundo que é
característico de sua essência e pode, por conseguinte, obter a sua
compreensão.

14.2. Ciência Cultural e Ciência Natural


A principal preocupação epistemológica do filósofo alemão Heinrich
Rickert (1863 - 1936) é encontrar a diferença básica entre as
Ciências Naturais e, o que chama, ciências culturais, tema a que
dedicou o seu livro A ciência cultural e ciência natural (1910).
Encontra tal diferença nos distintos métodos utilizados por cada um
destes tipos de ciência. Para Rickert, as Ciências Naturais empregam
o método de generalizador, constituído por conjuntos procedimentos
que procuram o conhecimento geral dos objectos para quem a sua
investigação é dirigida:

Conhecer a natureza significará (...) formar com elementos universais conceitos


universais, e, quando seja possível, pronunciar princípios universais (juízos) sobre
a realidade, isto é, descobrir conceitos de leis naturais, cuja essência lógica não
contêm nada do que se encontre em tal ou qual processo singular e individual.
Em suma: as Ciências Naturais são, para Rickert, disciplinas que
buscam a formulação de generalizações sobre os objectos em estudo,
ou seja, procuraram a formular leis, o que na designação de
Windelband, são ciências nomotéticas.

Agora podemos perguntar: Qual é o método particular das ciências

137
culturais? A resposta de Rickert é como se segue: é o método
individualizador ou método ideográfico. As ciências culturais ou
históricas, no geral, não procuram generalizações não se destinam a
formular leis :sua tarefa consiste na busca de singularidades, dos
aspectos particulares que individualizam um determinado fenómeno.

14.3. Os tipos ideais


Max Weber (1864-1920) chamou de compreensão ao procedimento
de apreensão empírica do sentido finalista de uma acção oriunda,
parcial ou inteiramente, de motivações racionais. Com este
argumento sustenta sua oposição à utilização dos métodos das
ciências naturais no estudo da sociedade. A compreensão envolve
uma reconstrução no sentido subjectivo original da acção e o
reconhecimento da parcialidade da visão do observador
(Gil,1999:39).

Weber distingue entre compreensão actual e compreensão explicativa


e considera importante que os cientistas sociais apreendam o mundo
social sem eliminar a integridade subjectiva dos actores que atribuem
significado, para tal desenvolve o conceito de “tipo ideal”,
constituído pela acentuação unilateral de um ou mais pontos de vista
e pela síntese de um grande número de fenómenos concretos
individuais, difusos, discretos, mais ou menos presentes e
ocasionalmente ausentes, organizados de acordo com os pontos de
vista unilateralmente acentuados numa construção analítica
acentuada. Em sua pureza conceptual, essa construção mental não
pode ser encontrada em parte alguma da realidade.

Os “tipos ideais” contém os caracteres empíricos essenciais do


fenómeno concreto e podem ser utilizados como instrumentos
científicos na ordenação sociológica da realidade. O próprio Weber,
ao analisar a legitimidade, estabelece três tipos ideias:
1º Do domínio legal (cujo fundamento é a crença na validade dos
regulamentos estabelecidos racionalmente e na legitimidade dos

138
chefes designados);

2º No domínio tradicional (fundamentado na crença da sacralidade


das tradições e na legitimidade dos que assumem o poder em função
do costume;

3º No domínio carismático (baseado no abandono dos membros ao


valor pessoal de um homem que se distingue por sua santidade ou
heroísmo).

Estres três tipos ideais representam um factor de inteligibilidade dos


fenómenos, usuais para quem quiser estudar a legitimação da
autoridade em qualquer sociedade como recurso para descrever a
realidade empírica.

14.4. As bases fenomenológicas das Ciências Sociais.


A obra do filósofo alemão Alfred Schutz é dedicada à construção de
uma Sociologia sobre bases fenomenológicas, de acordo com as teses
de Husserl, tal é evidente na sua principal obra intitulada “O
problema da realidade social”.

A Sociologia fenomenológica de Schutz centra-se sobre o fenómeno


da intersubjectividade. Ele estudou este fenómeno levantando
questões, tais como: como é que sabemos o conteúdo da mente de
outras pessoas? Como eu conheço os outros? Como procede a
reciprocidade de perspectivas entre pessoas diferentes? Como ocorre
a compreensão e a comunicação entre as pessoas? Diferentemente de
Husserl, que estudou a intersubjectividade na própria consciência,
Schutz o faz no mundo social.

O mundo intersubjectivo, diz Schutz apud Briones (2002:62), não é


um mundo privado. Pelo contrário, é comum para todos os homens,
todos podem ter a experiência da intersubjectividade. Ela existe no
presente “vivido” no qual falamos e nos escutamos uns aos outros.
Citando o autor: Esta simultaneidade (que ocorre na interacção entre

139
pessoas), é a essência da intersubjectividade e significa que nela
capta a subjectividade do ego, ao mesmo tempo que vivo em mim
próprio fluo em consciência.

No que foi dito atrás, deve ficar claro que não é interesse de Schutz a
interacção física entre pessoas, se não como se compreendem
reciprocamente suas consciências, a maneira como se relacionam
intersubjetivamente umas com outras, como se estabelece o
significado e a compreensão no seio das pessoas, como decorrem os
processos de interpretação das condutas dos outros, e, finalmente,
como se processa a própria auto-interpretação. Na sequência do
exposto está o postulado segundo o qual todos os conceitos que
podem construir as Ciências Sociais [Naturais e Matemáticas
também], são baseados no conhecimento comum, não na experiência
realizada por uma pessoa singular, mas na riqueza de conhecimentos
e interpretações de nossos predecessores que nos entregaram como
um mundo organizado.

Na vida quotidiana todas as pessoas usam formulários padronizados


para agir e para nomear objectos com os quais lidam. Para Schutz
apud Briones (2002: 63): todas as pessoas tendem a tipificar as
situações que ocorrem em sua experiência diária através o uso de
categorias em que colocamos as pessoas, coisas e nós mesmos. Por
exemplo, quando nos apresentam uma pessoa pela primeira vez,
dizemos “gostei muito de conhecê-lo” ou aplicamos o nome padrão
quando nos referimos a um objecto particular: assim chamamos de
“casa” ao que assim é denominado na nossa sociedade. Em geral, as
tipificações que usamos estão na linguagem e, por conseguinte,
grande parte da socialização verbal consiste na aprendizagem de
“etiquetas” ou rótulos postos nas coisas, pessoas ou acontecimentos
que ocorrem na nossa experiência.

O mundo da vida (Lebenswelt) é para Schutz o mundo da vida


quotidiana, da realidade diária e do sentido comum em que aplicamos
as tipificações ou caracterizações. Mas, o mais importante na

140
concepção teórica deste autor, é onde ocorre a intersubjectividade,
objecto central de suas preocupações. Tal mundo é caracterizado por
seis características principais:

1) No mundo da vida há uma tensão especial da consciência do sujeito,


que se denomina “estado de alerta”. Neste estado, o sujeito presta
atenção de maneira contínua ao que sucede na vida e aos requisitos
impostos ao comportamento das pessoas;

2) O sujeito não duvida da existência deste mundo, ao contrário do


cientista que questiona o mundo quotidiano em que vivemos
espontaneamente e, pelo contrário, submetendo-o a estudo
sistemático ou questionamento constante. Em suma, o sujeito se
submete à investigação científica;

3) O mundo da vida é o mundo onde as pessoas trabalham;

4) Cada pessoa que vive neste mundo se experimenta como um “eu


próprio”;

5) O mundo da vida é caracterizado por uma forma específica de


sociabilidade na qual se dá a intersubjectividade da comunicação e
dela a acção social;

6) Finalmente, neste tipo de mundo, as pessoas têm uma perspectiva


específica tempo, composta pela intersecção do tempo pessoal e do
tempo da sociedade.

O mundo da vida se exercita na intersubjectividade, mas existe antes


de nascermos. Ele foi criado por nossos antecessores e entregue a nós
com as suas instituições, receitas e suas tipificações. Como tal, este
mundo limita nossas acções, as constrange, oferece resistências que
temos de superar ou nos render.

Outra característica importante do mundo da vida consiste em haver


uma grande quantidade de conhecimentos acumulados, comuns para
aqueles que vivem no mesmo período histórico. Nesses

141
conhecimentos estão as tipificações ou taxonomias, as crenças, os
conhecimentos científicos e técnicos (…), os quais se apresentam
“biograficamente articulados”, isto é, cada pessoa tem a sua
particular quantidade e diversidade de conhecimentos que constituem
o seu “conhecimento privado”. Como existem tantos conhecimentos
privados como os indivíduos, eles não podem ser objecto de estudo
científico.

Finalmente, diga-se que Schutz teve discípulos importantes, como


Peter Berger e Thomas Luckman, autores conhecidos de A
Construção social da realidade, na qual traduziram para o seu uso
sociológico alguns termos ultrapassados pela fenomenologia. Schutz
também teve influência na formulação da etnometodologia,
especialmente nas versões interpretativas das Ciências Sociais.

14.5. Filosofia das Ciências Humanas


Na obra do filósofo francês Lucien Goldmann As ciências humanas
e a filosofia, encontramos novamente a tentativa de apontar as
diferenças básicas entre Ciências Sociais ou Humanas e as Ciências
Físico-Químicas, como ele as denomina. Tais diferenças são,
principalmente, no campo da objectividade do conhecimento e
carácter de totalidade que caracteriza todos os níveis da vida social.

Sobre a objectividade, Goldmann argumenta que, por um lado, as


Ciências Históricas e Humanas não são, como as Ciências Físico-
Químicas, o estudo de um grupo de homens feitos no exterior, um
mundo que eles executam seus actos. São, pelo contrário, o estudo
dessa mesma acção, a sua estrutura, as aspirações que as animam e
as mudanças que sofrem. No processo do conhecimento científico
que em si é humano, histórico e social implica, quando se trata de
estudar a vida humana, a identidade parcial entre o sujeito e objecto
do conhecimento. Por esta razão, o problema da objectividade se
apresenta de forma diferente entre as Ciências Humanas e a Física e

142
Química.

Esta identidade parcial entre o sujeito que conhece e o objecto do


conhecimento, projecta a ideia de que todo o conhecimento do
objecto é mediado por ideologias constituídas pelos interesses e
valores das classes sociais a que pertence o pesquisador. Como
consequência desta determinação, o seu trabalho intelectual não irá
reflectir uma visão distorcida e ideológica dos factos? Esta
determinação significa que as Ciências Sociais não conseguem
alcançar uma verdade objectiva? Antes de mais considere-se que,
para Goldmann, certos juízos de valor permitem melhor compreensão
da realidade do que outros. Assim, entre duas teorias opostas terá
valor científico maior aquela que permite compreender a outra como
um fenómeno social e, também retirar dela, através de uma análise
rigorosa, suas consequências e limites. Em termos metodológicos
mais específicos, a possibilidade de alcançar um pensamento
científico que supere a consciência real de todas as classes sociais, se
apoia na possível realização dos critérios descritos a seguir:

A. Tomar consciência que o conhecimento é interferido pelos valores de


classes sociais em oposição;

B. Não hesitar conflituar com os preconceitos e “verdades”


aparentemente mais óbvias;

C. Usar a dúvida não só metódica, mas permanente e contínuo respeito


pelos trabalhos dos outros pesquisadores e aos seus próprios
trabalhos;

D. Para julgar e compreender os seus juízos e dos outros, o pesquisador


deve relacioná-los com a estrutura social, para captar seus
significados, e os factos pretende explicar e descrever, encontrando
neles a verdade que podem conter.

Enquanto sobre totalidade, a abordagem de Goldmann baseia-se no


marxismo e no psicólogo suíço Piaget. A este respeito, argumenta que

143
a vida social, que é histórica, é um conjunto estruturado de
comportamentos individuais que ocorrem guiados pela consciência de
se é verdadeiro, falso, adequado ou inadequado em certos condições
do ambiente natural e social. Esses comportamentos, e os grupos nos
quais se realizam, tentam dar respostas à totalidade dos problemas
decorrentes em tais meios, na forma de um equilíbrio entre a praxis
do grupo e a sociedade total. Goldmann apud Briones (2002),
reafirma:

Os dados da experiência imediata se apresentam ao investigador, muitas vezes


arrancados de seu contexto global e, como tal, separados da sua significação,
separados de sua essência. Apenas pela inserção no duplo processo de
desestruturação de uma antiga estrutura significativa, e sobretudo, a estruturação
de um novo equilíbrio, se lhes pode tornar concreto, podendo-se julgar a sua
significação objectiva e sua importância relativa no conjunto (67).

A perspectiva estruturalista genética fornece ao nosso autor a base


para se juntar às funções metodológicas de compreensão e
explicação. Sem descartar do todo o elemento da empatia da primeira
destas funções, a tarefa principal da investigação consiste numa
descrição dos elementos das relações essenciais que vinculam os
elementos à estrutura que se analisa. Isto significa que a descrição
detalhada da génese de uma estrutura global tem poder explicativo
para o estudo da evolução e transformações das estruturas parciais
que dela fazem parte. Nesta abordagem se unem, para Goldmann, as
categorias de totalidade e a dimensão histórica de todo facto social.

14.6. A linguagem da acção


Em 1958, Peter Winch no seu livro A ideia de uma ciência Social (a
Filosofia da Ciência Social) ataca duramente o neopositivismo e
defende a compreensão como método adequado às Ciências Sociais.
Na sua crítica usa a Filosofia da Linguagem de Wittgenstein,
especialmente o seu conceito referente a que todo o comportamento é
guiado por regras e todo o comportamento que assim procede é um
comportamento social. Por sua vez, a descrição, a explicação e a

144
compreensão da acção humana só é possível quando compreendemos
a natureza das instituições que nos permitem identificar que a acção
(como acção política, por exemplo) e, isso significa compreender os
modos de vida e do comportamento governado por regras que estão
envolvidos nessa acção.

Winch argumenta ainda que as relações sociais entre as pessoas


existem apenas nas suas ideias e através delas. A linguagem, as ideias
e os conceitos não podem com nitidez separar-se das relações sociais.
Consequentemente, mudanças fundamentais desses elementos usados
pelos homens também implicam necessariamente também mudanças
fundamentais no desenvolvimento social. Com estas e outras
considerações, para Winch, a tarefa do investigador social é de
esclarecer os conceitos de formas da vida que envolvem um
comportamento baseado em regras, isto é, devemos buscar
compreender a ideia ou o significado do que fazemos ou dizemos.

O significado das palavras, diz Winch, é obtido a partir das regras de


comportamento ou de comunicação. Essas regras são de origem não
pessoal, mas se formam num contexto social particular, num modo de
vida. A Sociologia é a ciência da “compreensão” das regras que as
acções das pessoas seguem um contexto de interacção que é mediado
linguisticamente.

14.7. A dupla hermenêutica


Anthony Giddens no livro “Novas Regras do Método Sociológico:
Uma crítica positiva as sociologias interpretativas” (1967) faz ampla
análise crítica das teorias sociológicas de Comte, Marx, Dilthey,
Weber, Schutz, Wittgenstein e outros, para terminar com a
apresentação de algumas novas regras do método sociológico
destinadas a demonstrar sua oposição ao famoso manifesto
sociológico emitido por Durkheim há oitenta anos.

No total, Giddens formula nove regras, das quais seleccionamos

145
aquelas (seis), directamente relacionadas com a tarefa de construção
das Ciências Sociais.

A. A Sociologia não se ocupa de um universo pré-dado de objectos, mas


de um que é constituído ou produzido pelos procederes (acções)
activos dos sujeitos;

B. Assim, a produção e reprodução da sociedade deve ser considerada


como uma implementação inteligente dos seus membros, e não mera
mecânica de processos;

C. O domínio de actividade humana é limitado. Os homens produzem a


sociedade, mas o fazem como actores historicamente localizados, não
em condições de sua própria eleição;

D. Pesquisador social não pode aceder à vida social como um fenómeno


(dado) para observação, independente da utilização de seus
conhecimentos sobre a mesma, como um recurso mediante o qual a
constitui um tema de investigação;

E. A imersão em um modo de vida é o único meio necessário através do


qual um observador pode gerar tais caracterizações, conhecer uma
forma de vida dos outros é saber como orientar-se nela, ser capaz de
nela participar, assim como um conjunto de práticas. Mas, para o
observador social, esta é uma forma de gerar descrições que têm de
ser mediadas, ou seja transformada em categoria do discurso
científico social.

F. Assim, os conceitos sociais obedecem a uma dupla hermenêutica.


Isto significa que a Sociologia lida com um universo que já está
constituído dentro de estruturas de significados atribuídos pelos
próprios actores, a sociologia os interpreta dentro de seus próprios
esquemas teóricos mediante a linguagem corrente e técnica,
modificando assim o seu uso original pelo das pessoas.

146
14.8. A interpretação da interacção social
Para Herbert Blumer e outros sociólogos americanos, a Sociologia
deve estudar interpretações que os actores que interagem em uma
determinada situação atribuem às próprias condutas e às condutas dos
outros. Este objecto estudo é a base da teoria do interaccionismo
simbólico cuja pesquisa se realiza em pequenos grupos sociais, para
obter dos seus próprios actores a interpretação da realidade social em
que vivem.

Em termos concretos, a busca de interpretações é conseguida com o


reconhecimento, pelo pesquisador, dos significados que os actores
dão às situações em que vivem. Os objectos materiais, as pessoas e
eventos não possuem significados em si mesmos, mas o significado é
lhes conferido pelas pessoas (actores). Através da interacção, as
pessoas constroem significado num processo de constante definição
da situação em que vivem. Essas definições podem mudar e ser
substituídas por outras, processo que é particularmente importante
para a investigação do interaccionismo simbólico.

Parece conveniente destacar que grande parte da pesquisa qualitativa


realizada usa os princípios do interaccionismo simbólico ou, em
forma reduzida, com a busca de significados construídos por um
determinado grupo de pessoas (por exemplo, o significado que os
professores, os alunos e os pais dão à escola). A questão básica é, em
tais casos, o que significam tais e quais coisas, para essas pessoas? O
sentido da compreensão em que se centrou a discussão dos primeiros
grandes epistemologistas das Ciências Sociais, anteriormente
abordada se transforma aqui em interpretação, caracterizada na
prática do interaccionismo simbólico.

147
Resumo da lição
Caro estudante, certamente percebeu que esta aula oferece um leque
variado de modelos de compressão e interpretação dos fenómenos
sociais, o nosso desafio, como pesquisadores, é tê-los em conta de
forma criativa e dinâmica no tratamento dos dados e fontes. Esta aula
chama-nos a atenção às singularidades da compressão das expressões
culturais; buscar as singularidades das ciências culturais e históricas;
compreender o mundo social sem eliminar a integridade subjectiva dos
actores; interpretar a intersubjectividade; compreender a particular
objectividade e o carácter totalitário na explicação do social;
reconhecer o nexo indispensável entre a linguagem, as ideias e os
conceitos com as relações sociais especificas; compreender a dupla
hermenêutica: por um lado, lidamos com um universo já construído
dentro de estruturas e significados e, por outro, interpretamos os factos
dentro de nossos próprios esquemas teóricos e culturais e, por ultimo,
devemos explicar o social através das interpretações que os actores
atribuem às suas próprias condutas e às condutas dos outros.

Bibliografia da Lição
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias
sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa
social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.

148
Auto-avaliação
Agora pretendemos encerrar esta 13ª lição e não teríamos melhor forma
de fazê-lo se não verificarmos o que se conseguiu reter e que podemos
aplicar em situações da realidade social. Então, veja se sabe:
I. Em que consiste a explicação dialéctica, em Marx e Engels?

a) Como se manifesta o movimento dialéctico da natureza e da


sociedade?

b) Qual a relação entre a realidade social e a consciência?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

II. O que busca a explicação funcionalista?

a) Considere um elemento social (conduta, prática social, crença ou


ideologia) que, na sua opinião, pode exercer uma função positiva e
uma função negativa (disfunção) sobre o grupo social em que ocorre
esse elemento.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

III. Qual é o conceito de teoria e de explicação em Popper?

a) Que tarefas deveriam cumprir as Ciências Sociais?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

IV. Dê dois exemplos de explicação estatística.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso

149
contrário releia o texto, faça anotações novas.

V. Que diferenças existem entre o conceito de compreensão de


Webber e de Schutz

a) Em que consiste a interpretação no interaccionismo simbólico?

b) Caracterize a explicação causal em Webber, a partir de um tipo


ideal.

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas.

VI. O que significa a dupla Hermenêutica, em Giddens?

Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe


responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

VII. Depois de ler atentamente e sublinhar os elementos que


conduzem a este exercício de aplicação, uma tabela como a que segue
lhe permite uma valiosa aplicação dos diversas paradigmas
interpretativos a partir da realidade histórico-social do tema que
escolheu atrás.

TEMA DA “MONOGRAFIA” (o
mesmo)_________________________________________________________________________

Modelo interpretativo Autor Exemplo, segundo o modelo


indicado
Singularidades das expressões
culturais
Singularidades das ciências
culturais e históricas
Tipos ideais
Intersubjectividade
Objectividade própria e carácter
totalitário
Nexo entre
linguagem/ideias/conceitos com
as relações sociais
Dupla hermenêutica
Interpretações dos actores às suas
condutas e às dos outros

150
Lição n° 15: Confiabiliodade e validade das investigações Sociais
Introdução
Bem-vindo à 15ª lição, cujo enfoque é a busca de argumentos e
pragmatismo para uma pesquisa social válida e confiável, portanto
objectiva ao seu nível de desenvolvimento das Ciências Sociais e
características peculiares da relação entre seu objecto e sujeito.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Caracterizar os processos de análise de conteúdo;
 Demonstrar as principais fontes de erro na pesquisa social;
 Aplicar os processos de controlo das variáveis estranhas na
pesquisa social.

Objectivos

Tempo de estudo da lição: 05 horas.

Tempo

Estratégias metodológicas para a credibilização e


validação da pesquisa social.

151
15.1. Análise de conteúdo
Nenhuma norma rígida pode ser estabelecida para a obtenção
de uma análise adequada. Analisar é estabelecer conclusões e,
portanto, exige familiarização com o assunto pesquisado, bem
como um grande conhecimento sobre o processo seguido na
investigação científica. A análise pode ser feita através de
dois processos: estatístico e racional.
 No estatístico, o desenho da pesquisa, através do número de
variáveis, número de grupos, nível dos dados (…) é que vai
determinar a técnica estatística que deverá ser empregue por
si.

 A análise racional está mais embasada na lógica, na


evidência e na argumentação de uma autoridade científica,
dependerá consequentemente da sua capacidade de reflexão e
das suas concepções como investigador.

15.2. Fontes comuns de erros


Segundo Gressler (1979:28/30), entre os elementos que podem
afectar os resultados de uma investigação, tornando-os
tendenciosos, encontram-se os que seguem:

 Experimenter bias effect

Refere-se à inevitável expectativa do investigador e o efeito


desta no seu comportamento do objecto em estudo. Caro
estudante, se eu esperar um determinado comportamento,
deixando transparecer minhas expectativas, as mesmas têm a
tendência de se desenvolver. Por exemplo, se acredito que os
estudantes que frequentam o módulo de Epistemologia de
Ciências Sociais desenvolvem atitudes positivas sobre a
pesquisa e os que não frequentarem terão atitudes negativas,
este optimismo poderá afectar com grande probabilidade os

152
resultados do meu estudo.

 Hawtorne effect

Como estudamos no método de abordagem experimental, o


efeito hawthorne consiste na interacção entre os
procedimentos e o objecto em estudo ou entre os objectivos
entre si. Este fenómeno se caracteriza principalmente pelo
conhecimento prévio do indivíduo de que o mesmo está
fazendo parte de um estudo, passando a comportar-se de
forma diferente. Portanto, a pessoa passa a reagir de outra
forma pelo facto de fazer algo diferente, saído da rotina, não
devido ao tratamento d que recebe.

Nos anos 1930 um estudo sobre produtividade do trabalho na


Western Electrtic Companyʹs Hawthorne Plant, próximo de
Chicago, submeteu os trabalhadores a condições
experimentais como luz intensa, grupos de trabalho menores,
intervalos curtos, mas a produtividade continuou a aumentar
porque os trabalhadores estavam conscientes que estavam a
ser observados e aceleraram o seu ritmo normal de trabalho
(Giddens,2004:652).

 Placebo effect

O termo efeito placebo é muito usado na biomedicina, em


referência à reacção do grupo que recebe algo, em
comparação com o grupo estático ou que não recebe nada. O
simples picar da agulha causa determinada reacção e não o
efeito do medicamento em si. Por exemplo, um grupo de
régulos que recebe dinheiro de transporte para ir a uma
entrevista na capital e os régulos da capital que não recebeu o
subsídio, reagirão de forma diferenciada à entrevista.

 Demand characteristics

Consideram-se características de demanda, quando o objecto

153
em estudo percebe seu papel na investigação, passando a agir
de maneira diferente. Por exemplo o seu desempenho quando
for assistido pelo supervisor e avaliador não será o mesmo
que quando assistido pelo tutor.

 Mortalidade experimental

Surge quando os elementos escapam do experimento ou do


grupo estabelecido para a investigação. Por exemplo num
estudo sobre a influência do sexo do professor na
aprendizagem dos alunos e são tomados 120 alunos de ambos
sexos, passando a ser atendidos por professoras; enquanto
outros 120 são atendidos por professores, aos poucos os
alunos de um dos grupos diminuem para 60, esta perda de
elementos ou mortalidade experimental, poderá afectar os
resultados da investigação. O mesmo sucede quando
enviamos questionários para serem preenchidos, é caso de
enviares inquéritos a todos os encarregados dos alunos da sua
turma para saber a aspiração destes sobre a educação der
seus filhos: os que não responderem serão os que nada
aspiram? Ou estão satisfeitos com o que a escola oferece?
Portanto, a mortalidade quando em elevado número gera uma
complexidade que torna os resultados parciais e tendenciosos.

 História

Os eventos que sucedem na pesquisa exploratória interferem


sobre a entrevista posterior. Assim, acarreta tendenciosidade
em investigações, se factos históricos interagem com o
objecto de estudo. Por exemplo, o assassinato do presidente
J.F. Kennedy que afectou o índice de suicídios nos EUA por
dois dias.

154
 Maturação

Quando objectos em estudo, com o tempo, operam mudanças


por si (crescer, amadurecer fisicamente, sentir fome, fadiga,
etc.). Os inquiridos poderão comportar-se melhor ou pior
devido à fome, à fadiga ou à idade, o que poderá ser
confundido com o tratamento aplicado.

 Problemas de mensuração

Quando a mudança de testes, diferentes pessoas corrigindo,


horários diferentes ou traduções afectarem os resultados da
investigação. É inevitável que o professor ao avaliar os testes
de dois grupos ou duas turmas, o seu julgamento ao segundo
poderá ser alterado, pois a mesma se torna mais experiente ou
mais cansada ou descuidada.

 Multitratamento

O tratamento múltiplo é comum em todas as delegações da UP,


na culminação da licenciatura por monografia. Os candidatos
procuram desenvolver suas pesquisas nas comunidades mais
próximas, economizando tempo e recursos. Ocorre muitas
vezes que pessoas (populações-alvo) de distritos ou bairros
vizinhos participam em vários experimentos, podendo estes
tratamentos múltiplos afectar decisivamente os resultados
finais da pesquisa.

15.3. Controlo de variáveis estranhas.


Toda a pesquisa social tem dois objectivos: Prover respostas
para as questões sociais e controlar as variâncias. Como
controlar variâncias? Consideremos três maneiras:
 Maximizar a variância experimental

Consiste no efeito sistemático da variável associada com a


hipótese. Consegue-se fazendo as condições experimentais
diferentes ao máximo das condições do grupo controlo,

155
trazendo assim um maior grau de diferença.
 Minimizar o erro

Consiste em minimizar o erro resultante das diferenças


individuais que não podem ser identificadas (erro de
variação) e, por outro lado, o erro associado ao processo de
testar, reduzível estabelecendo condições de controlo ou
aumentando a confiabilidade do teste.
 Anular ou isolar variáveis estranhas, consegue-se da seguinte
maneira:
 Eliminar a variável ameaçadora, por exemplo se o factor
inteligência pode afectar o estudo elimina-se o factor usando
pessoas com baixo QI;
 Seleccionar os elementos que participarão no estudo, os quais
serão, por sua vez, seleccionados para os grupos, tornando-se
grupo experimental e de controlo;
 Incluir a variável estranha no desenho da pesquisa: se através
de revisões bibliográficas, saber-se que a variável sexo
influencia certa variável (os professores do sexo masculino
têm atitudes inferiores à das professoras em relação à
pesquisa), num segundo estudo poderemos incluir sexo como
variável para a controlar;
 Procurar elementos o mais equivalente possíveis para o grupo
controlo e para o experimental;
 Controlo através de fórmulas estatísticas.

156
Resumo da lição
Nesta lição ficou estabelecido que a análise de conteúdo pode
ser feita através de dois processos: estatístico e racional. Por
outro lado, toda a pesquisa social tem dois objectivos,
nomeadamente prover respostas para as questões sociais e, por
outro lado, controlar as variâncias, por isso foram consideradas
três formas de controlar as variâncias estranhas ao assunto em
estudo. Contudo, o assunto mais importante desta aula para
você, futuro estudioso do fenómeno social, foi estar acautelado
das principais fontes de erro resultantes do comportamento
humano, tanto seu como do seu objecto.

Bibliografia da Lição
 GIDDENS, Anthony. Sociologia, Lisboa: Callouse
Gulbenkian, 2004.
 GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional:
Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,
amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.

157
Auto-avaliação
da Unidade 3
1. Descreva duas das principais regularidades da explicação nas
Ciências Sociais.
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

2. Quais as principais teorias sobre a compreensão e


interpretação nas Ciências Sociais.
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

3. Analise as possibilidades de confiabilidade e validade das


investigações sociais.
Se leu atentamente o texto desta lição as suas notas permitem-lhe
responder esta questão de repetição, então está de parabéns, caso
contrário releia o texto, faça anotações novas

158
Bibliografia do Módulo
 ADAM, Schaff. História e verdade, 3ª edição, Lisboa: Editorial Estampa, 2000.
 ADORNO, Theodor W. Epistemologia y ciências sociales, Madrid: Fronesis, 2001.
 ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico, 9ª edição, Portugal: Dom Quixote, 2010.
 BARATA, Óscar Soares. Introdução às ciências sociais, 11ª edição, Viseu: Bertrand, 2004.
 BARROS, José D` Assunção. O campo da história: Especialidades e abordagens, Petrópolis: Editora
Vozes, 2004.
 BERNARDI, B. Introdução aos estudos etno-antropológicos, Lisboa, Edições 70, 1992.
 BERTHELOT, Jean-Michel. Épistémologie des sciences sociales, Paris: Presses Universitaires de
France, 2001.
 BOBBIO, N.; Matteucci, N. e Pasquino, G. Dicionário de política, 11a edição, Brasília: Editora UnB,
1998.
 BRIONES, Guillermo. Epistemologia de las ciencias sociales, Colombia: Arfo editores, 2002.
 CASTRO, Francisco Lyon de. Para abrir as ciências sociais: Relatório da comissão Gulbenkian
sobre restauração das ciências sociais, Lisboa: Europa-América, 2002.
 COLLINGWOOOD, R.G. A ideia de história, Lisboa: Presença, 2001.
 DUVERGER, M.Sociologia política, Coimbra: Almedina, 1983.
 ECO, Humberto.Como se faz uma tese em ciências humanas, Lisboa: Editorial Presença, 1998.
 GIDDENS, Anthony. Sociologia, Lisboa: Callouse Gulbenkian, 2004.
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social, 5ª Edição, São Paulo: ATLAS, 1999.
 GOMES, Rodrigues Raul.Introdução ao pensamento histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 1988.
 GRESSLER, Lori Alice. Pesquisa educacional: Importância, modelos, validade, variáveis, hipóteses,
amostragem e instrumentos, São Paulo: Layola, 1979.
 KUHN, Thomas.A estrutura das revoluções científicas. 5ª Edição. São Paulo: Editora Perspectiva,
1998.
 LOPES, J. Marques, Curso de Filosofia, sl: Didáctica editora, 1970.
 MARCONI, M. de A e Lakatos, E. M. Metodologia do trabalho científico, São Paulo: Atlas, 2011.
 MAY, Tim. Pesquisa social: Questões, métodos e processos, 3ª Edição, Porto Alegre: ARTMED,
2004.
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 NOUSCHI, André, Iniciação às ciências históricas, Coimbra: Almedina, 1986.
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