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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE DIREITO

NARCISO

O BULLYING E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Recife
2014NARCISO
O BULLYING E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Monografia apresentado à Faculdade Damas


da Instrução Cristã como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em Direito.

Área de concentração: Ciências Jurídicas.


Orientador:

Recife
2014
Narciso

O BULLYING E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

DEFESA PÚBLICA em RECIFE,

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Prof.
Orientador - Presidente

__________________________________________
Primeiro Membro

__________________________________________
Segundo Membro
“A DIGNIDADE HUMANA é a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte
do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido,
um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existenciais mínimas para a vida
saudável, para que tenha bem-estar físico, mental e
social, além de propiciar e promover sua participação
ativa e co-responsável nos destinos da própria existência
e da vida em comunhão com os demais seres humanos.”
(Ingo Sarlet – Juiz e Jurista brasileiro)
AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço a Deus, pois sem Ele nada é possível.


Agradeço a todos aqueles que me apoiaram, no decorrer deste
curso, meus colegas e amigos, meus mestres, os quais sempre demonstraram
compreensão nos momentos difíceis desta trajetória.
Agradeço, ainda, aos meus professores, por infundirem
conhecimento em suas aulas.
E por fim, um agradecimento em especial ao meu orientador pela
tolerância, compreensão e paciência de suportar as minhas inúmeras
dificuldades na realização deste trabalho monográfico.
RESUMO

O presente estudo tem como finalidade analisar o bullying à luz do Princípio da


Dignidade da Pessoa Humana buscando uma melhor compreensão deste
fenômeno que tem causando danos à vida de muitas pessoas, não só no
ambiente escolar, mas em outros espaços sociais como no local de trabalho,
na família, nos meios virtuais. Sabe-se que o bullying, termo inglês que
significa valentão, tirano, brigão, ainda sem correlato na língua portuguesa,
consiste em um conjunto de atos de violência física ou psicológica, intencionais
e repetidos, praticadas por um indivíduo ou grupo contra a vitima, sempre com
a finalidade de provocar constrangimento, humilhação, dor física. O bullying
interfere no processo de aprendizagem, no desenvolvimento cognitivo,
sensorial e emocional, favorecendo o surgimento de um clima escolar de medo
e insegurança, tanto para aqueles que são alvos dos ataques, como para
aqueles que assistem calados. Pode trazer prejuízos irremediáveis à vida das
pessoas, inclusive levando à morte daqueles que não conseguem se defender.
O objetivo geral desse trabalho é trazer uma reflexão, à luz de diversos
autores, sobre a presença do bullying no ambiente escolar, como uma trágica
realidade, numa perspectiva psicopedagógica, buscando uma melhor
compreensão desse fenômeno que tem ganhado força nesses últimos
tempos.Os objetivos específicos foram: conhecer os variados aspectos do
bullying, seu histórico e conceituação, tipos de manifestações, perfil dos
envolvidos, bem como identificar as estratégias para solucionar o problema
dentro da escola. A pesquisa é bibliográfica e virtual, onde buscou-se subsídios
teóricos para o assunto. O tema é relevante e diz respeito a todos os
profissionais que lidam com o ser humano e sua interação com o outro.

Palavras-chave: Bullying, Princípio da Dignidade da Pessoa Humana,


violência
ABSTRACT

This study aims to analyze the military administrative process from the rules of
substantive law applied military corporations in the State of Pernambuco under
the Military Police of Pernambuco, more specifically the Law 11.817 of July 24,
2000, which provides for the Military Disciplinary Code of the State of
Pernambuco, with emphasis on its disagreement with the Federal Constitution
of 1988. The research was bibliographical nature, whence it follows that, the,
military must also be ensured the application of the principles of fundamental
rights and guarantees provided in the Constitution in force. And that strict
adherence to hierarchy and discipline dictated by the military authorities in
disciplinary regulations were imposed through state decrees, does not imply the
failure of the constitutional rights guaranteed to all citizens, including the
military.

Keywords: Constitutional Principles. Administrative Process Military Discipline.


Penalty. Military Disciplinary Code of the State of Pernambuco
LISTA DE SIGLAS

ART. Artigo
CD Conselho de Disciplina
CDMEPE Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco
CF Constituição Federal
CJ Conselho de Justificação
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
EC Emenda Constitucional
EM Estatuto dos Militares
RDE Regulamento Disciplinar do Exército
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................
..
1 O PROCESSO ADMINISTRATIVO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988 – CONSIDERAÇÕES
GERAIS.......................................................
1.1 • Processo e
Procedimento ................................................................

2 PRINCIPIOS MATERIAIS E PROCESSUAIS APLICÁVEIS AO


DIREITO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR...........................................
2.1 Principio da
legalidade..........................................................................
2.2 Princípio da
impessoalidade.................................................................
2.3 Princípio da
impessoalidade..................................................................
2.4 Princípio da
moralidade........................................................................
2.5 Princípio da
motivação.........................................................................
2.6 Princípio da supremacia do interesse
público.....................................
2.7 Principio do devido processo legal....................................................
2.8 Princípio do
contraditório.....................................................................
2.9 Princípio da ampla
defesa.....................................................................
2.10 Princípio da razoabilidade e
proporcionalidade...................................
3 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
MILITAR ......................
3.1 A organização militar com base na hierarquia e
disciplina.................
3.2 Processo administrativo disciplinar no âmbito militar e suas
espécies................................................................................................
..
4 O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR NA
PMPE E SUAS (DES)CONFORMIDADES
CONSTITUCIONAIS........................
4.1 A constituição do Código Disciplinar dos Militares do Estado de
Pernambuco.........................................................................................
4.2 A transgressão disciplinar militar na PMPE: Um confronto com o
princípio da
legalidade.........................................................................
4.2. Classificação das transgressões e sanções disciplinares no
1 CDMEPE................................................................................................
.
4.3 Das penalidades previstas no
CDMEPE...............................................
4.3. Breves comentários sobre a violação dos princípios
1 constitucionais nas penalidades do
CDMEPE......................................
CONSIDERAÇÕES
FINAIS.....................................................................
REFERÊNCIAS.....................................................................................
..
INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda o processo administrativo militar, a partir


das normas do Direito material aplicadas nas corporações militares do Estado
de Pernambuco no âmbito da Polícia Militar de Pernambuco, mais
especificadamente a Lei 11.817 de 24 de julho de 2000, que dispõe sobre o
Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco, com ênfase em sua
desconformidade com a Constituição Federal de 1988.
Sabe-se que cada esfera da Administração Pública projeta suas
próprias normas disciplinares e os regulamentos que dispõe a cerca do
processo administrativo que regem seus servidores. Com efeito, a esfera militar
também possui seus próprios códigos e estatutos. Entretanto, ao se examinar
minuciosamente os regulamentos disciplinares que norteiam a vida na caserna,
observa-se uma visão própria da sociedade militar. O processo administrativo
disciplinar militar é repleto de particulares que decorrem dos sólidos preceitos
que normatizam o meio militar, os quais, dada a excessiva rigidez exigida em
seu cumprimento, não guardam nenhuma similaridade com outro processo
administrativo disciplinar de servidor civil.
A Constituição Federal de 1988, através dos representantes do povo
brasileiro, instituiu um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social
e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias (preâmbulo da Constituição Federal de 1988).
E é em meio à construção de um Estado de Direito que o respeito
aos direitos e garantias fundamentais do cidadão tornaram-se imprescindíveis
para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária bem como
para o fortalecimento das Instituições Civis e Militares.
Neste contexto, a Constituição Federal estabeleceu princípios que
passaram a alcançar a esfera administrativa, de tal forma, que atualmente, os
processos administrativos disciplinares encontram-se sujeitos aos princípios
constitucionais, tanto no seara da administração civil como no âmbito da
administração militar.
Em tal conjuntura, essa explanação se aterá aos mais primordiais
aspectos de desconformidade com os princípios constitucionais, tendo como
objeto de análise os regulamentos disciplinares que orientam a Polícia Militar
de Pernambuco, os quais são em ultima análise responsáveis pelo processo
administrativo militar no âmbito estadual.
Desta forma, a proposta basilar da presente pesquisa monográfica tem o
objetivo geral analisar o processo administrativo militar a partir das normas do
Direito material aplicadas nas corporações militares do estado de Pernambuco
âmbito da Polícia Militar de Pernambuco, mais especificadamente a Lei 11.817
de 24 de julho de 2000, que dispõe sobre o Código Disciplinar dos Militares do
Estado de Pernambuco, e de outras providências, com ênfase maior em sua
desconformidade com a Constituição Federal de 1988.Os objetivos específicos
são: Demonstrar as características gerais do processo administrativo em sua
inserção na Constituição federal de 1988; descrever os princípios
constitucionais e sua correlação ao direito administrativo disciplina; examinar o
processo administrativo disciplinar militar, a partir das normas do Direito
material que regem disciplinarmente os membros da Polícia Militar e Corpo de
Bombeiros Militar, com ênfase no estudo de algumas penalidades que são
aplicadas a estes militares através Código Disciplinar dos Militares do Estado
de Pernambuco e fundamentalmente violam os princípios constitucionais
emanados pela Lex Mater de 1988. A pergunta norteadora do estudo é: como
se situa o processo administrativo militar frente à Constituição Federal, no que
se refere à conformidade aos preceitos contidos na Carta Magna Brasileira?
O tema em epígrafe, por sua importância, vem ganhando novos
contornos no ordenamento jurídico brasileiro com a quebra dos paradigmas
que cercam as peculiaridades do âmbito administrativo disciplinar castrense,
uma vez que em última análise nada justifica a violação dos direitos e garantias
constitucionais que são dirigidos a todos os cidadãos, civis ou militares.
O presente estudo será conduzido através de pesquisa bibliográfica.
Serão consultadas obras de autores que tenham relação com o direito
constitucional, administrativo e disciplinas afins, bem como os mais importantes
trabalhos científicos que abordam sobre o assunto escolhido, objetivando
buscar subsídios teóricos para o tema em estudo. Os meios disponibilizados
pela rede mundial Internet também servirão de aporte para a construção desse
trabalho (LUNA, 1999).

No primeiro Capítulo será feita uma abordagem conceitual e


considerações gerais do processo administrativo em sua inserção na
Constituição federal de 1988. No segundo Capítulo será realizada uma
explanação criteriosa no tocante aos princípios constitucionais e sua correlação
ao direito administrativo disciplinar. No terceiro Capítulo será estudado o
processo administrativo disciplinar militar, suas espécies e os rigores de sua
organização militar com base na hierarquia e disciplina. E por fim, no quarto
Capítulo será discutido o processo administrativo disciplinar militar, a partir das
normas do Direito material que regem disciplinarmente os membros da Polícia
Militar e Corpo de Bombeiros Militar, com ênfase no exame de algumas
penalidades que são aplicadas a estes militares através Código Disciplinar dos
Militares do Estado de Pernambuco e fundamentalmente violam os princípios
constitucionais emanados pela Lex Mater de 1988.
2 BULLYING

2.1 Conceituação

A palavra bullying é um verbo derivado do adjetivo inglês bully, sem


correlato ainda no português, usado para descrever atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetidas, praticados por um indivíduo (bully ou
"valentão, “tirano”, “brigão”) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar
ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.
Não se trata de brincadeira e inclui desde apelidos perversos às atitudes mais
covardes de quem tem mais força física ou mais poder. A pessoa agredida
geralmente não tem como se defender e surgem cada vez mais relatos de
suicídios motivados por situações constrangedoras causadas pelo bullying.
Para Chalita (2008), bullying é um termo que designa o hábito de usar a
superioridade física com o objetivo de intimidar, tiranizar, amedrontar e
humilhar outra pessoa. A terminologia é usada em vários países para designar
todo o conjunto de atos desumanos empregados para atemorizar, excluir,
humilhar, rebaixar, desprezar, discriminar, ignorar, rejeitar, perseguir os outros,
geralmente indefesos.
Chalita (op. cit.), afirma que o fenômeno bullying não escolhe classe
social ou econômica, escola e empresa pública ou privada, ensino fundamental
ou médio, área rural ou urbana, estando presente em grupos de jovens e
crianças de diversas culturas, em diversas partes do mundo. Nas escolas, o
fenômeno é complexo, confundido muitas vezes com agressão e indisciplina.
Todo mundo já foi, em algum momento da vida, “zoado” na escola, ou “zoou”
alguém, com risadinhas, apelidos, fofocas. Todavia, o bullying vai muito além
disso: trata-se de um comportamento ofensivo, aviltante, humilhante, que
desmoraliza o outro de forma repetida, com ataques violentos, cruéis e
maliciosos, seja de ordem física ou psicológica, com intenção clara de
machucar, magoar, ferir.
Middelton-Moz & Zawadski (2007), indicam os seguintes
comportamentos como incluídos no bullying: palavras ofensivas, humilhação,
difusão de boatos, fofoca, exposição ao ridículo, transformação em bode
expiatório e acusações, isolamento, atribuição de tarefas pouco profissionais
ou área indesejável no local de trabalho, negativa de férias ou feriados, socos,
agressões, chutes, ameaças, insultos, ostracismo, sexualização (,ocorre
quando uma pessoa é vista como um objeto sexual e quando alguém é
valorizado apenas por seu apelo ou comportamento sexual) ofensas raciais,
étnicas ou de gênero. Segundo elas, no início da infância o bullying geralmente
é aleatório. Na juventude e na idade adulta, os alvos são escolhidos. Assim
sendo, os bullies sempre encontrarão algo de seu interesse em uma pessoa,
escolhida como vitima e suas características são: ser gorda demais, magra
demais, usar óculos, trabalhar bem, andar de cadeira de rodas, usar roupa
considerada inadequada, ser passiva ou independente demais, ter a cor
diferente, a origem étnica, o sexo, a religião, a origem socioeconômica ou a
orientação sexual diferente, gostar do chefe, ser simpático, ser quieto, enfim,
são inúmeras as possibilidades.
O bullying se relaciona com as seguintes ações, descritas no quadro
a seguir:

AÇÕES QUE CONFIGURAM BULLYNG


Colocar apelidos
Ofender
Zoar
Gozar
Encarnar
Sacanear
Humilhar Fazer sofrer
Discriminar
Excluir
Isolar
Ignorar
Intimidar
Perseguir
Assediar
Aterrorizar
Amedrontar
Tiranizar
Dominar Agredir
Bater
Chutar
Empurrar
Ferir
Roubar
Quebrar pertences
Fonte: http://www.bullying.com.br/BConceituacao21.htm Acesso em
10/10/09
O bullying é um fenômeno mundial, que atinge escolas, ambiente de
trabalho, vizinhança. No trabalho, a intimidação regular e persistente atinge a
integridade e confiança da vítima; na vizinhança, as atitudes têm o propósito de
incomodar e atrapalhar os outros em suas rotinas; na escola, a agressividade
impera, seja na forma verbal, ou na física. De todos os modos, o bullying é
prejudicial e pode causar danos irreversíveis às suas vítimas, desencadeando
problemas como depressão, ansiedade, estresse, dores não-especificadas,
perda de auto-estima, problemas de relacionamento, abuso de drogas e álcool,
suicídio, entre outros.
Fante & Pedra (op. cit.), enumeram alguns fatores que podem
propiciar o bullying, sua banalização:
Atitudes culturais, como o desrespeito, a intolerância, a
desconsideração ao “diferente”; a hierarquização nas relações de poder
estabelecidas em detrimento da fraqueza dos outros; o desejo de popularidade
e manutenção do status a qualquer preço; a reprodução do comportamento
abusivo como uma dinâmica psicossocial expansiva; a falta de habilidades de
defesa, a submissão, a passividade, o silêncio e sofrimento das vítimas; a
convivência daqueles que assistem e o incentivo às ações cada vez mais
cruéis e desumanizantes; a violência doméstica, a ausência de limites, a
permissividade familiar, a falta de exemplos positivos; a o missão, o
despreparo, a falta de interesse e comprometimento de muitos profissionais e
instituições; a impunidade, o descaso e a falta de investimentos e políticas
públicas voltadas à educação e à saúde para o tratamento e a prevenção,
dentre outros (P. 11)
Percebe-se que muitas situações podem favorecer o fenômeno
bullying, geralmente ligado a soberania de alguém sobre outrem. Em
ambientes de trabalho, relações assimétricas de poder podem estimular a
violência entre as pessoas, onde uma, valendo-se do poder que o cargo lhe
confere, resolve perseguir a outra, normalmente indefesa, submissa e
temerosa de perder seu emprego. Na escola, garotos e garotas percebidos
com diferente, seja no aspecto físico ou na forma de expressão, podem ser
alvos de bullying, sem que a escola e a família percebam, sem que possam se
defender.
Como se vê, são muitos os fatores que podem desencadear uma
situação de bullying, envolvendo um grande número de atores. O ambiente
escolar, pelo número grande de crianças e jovens é um cenário perfeito para
que esse tipo de situação aconteça. Do mesmo modo, o ambiente de trabalho,
também movimentado geralmente por um grande número de pessoas, bastante
diferentes entre si, propicia a vivência desse fenômeno que tem prejudicado
muitas vidas.
Para Lopes Neto e Saavedra (apud FANTE e PEDRA, 2008), o
Bullying é entendido como:
Todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem
sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s),
causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de
poder, tornando possível a intimidação da vítima (p.33).
Ou seja, na situação de bullying, uma determinada pessoa ou grupo,
dirige atitudes de hostilidade e violência contra a vítima, a qual não consegue
defender-se, de forma contínua e intencional, sem que haja justificativa para o
fato.
Fante e Pedra (2008), descrevem que o bullying é visto como uma
dinâmica psicossocial expansiva, envolvendo muitas crianças e adolescentes
de ambos os sexos, que, quando reunidos, escolhem um para ser a vítima. Ou
seja, segundo os autores, “é um problema epidêmico, específico e destrutivo,
motivo pelo qual deve ser considerado questão de saúde pública” (p.33)
Os autores acrescentam que a palavra bully tem o significado de
valentão, brigão, ou seja, aquele que busca amedrontar, brutalizar, tiranizar.
Assim, bullying é um conjunto de atitudes agressivas, verbais ou físicas,
cometidas de forma intencional, sistematicamente, por uma pessoa (bully) ou
um grupo, no intuito de intimidar e constranger outro indivíduo que não tem
capacidade de se defender. “O abuso de poder, a intimidação, a prepotência
são algumas das estratégias que o bully adota para impor sua autoridade e
manter suas vítimas sob domínio” (FANTE & PEDRA, p.34). Atitudes
autoritárias e agressivas são percebidas também na família, geralmente entre
os genitores, irmãos ou cônjuges, que cotidianamente perturbam a vida de um
parente, denegrindo sua imagem. É fato que os bullies podem ser encontrados
em toda parte. Na escola, suas atitudes são aterrorizar, provocar, manipular e
hostilizar os indefesos. No trabalho, os mais fracos sofrem o assédio moral, o
constrangimento e a exclusão por parte de algum superior. O comportamento
de um bully é bastante percebido, principalmente em locais como: escolas,
trânsito de veículos, condomínios, filas de bancos, entre outros locais de
circulação coletiva.
Segundo Taylor e Beaudoin (2006), são diversos os fatores que
provocam o envolvimento de uma pessoa numa conduta de bullying. Bloqueios
contextuais podem provocar o sentimento de ausência, de carência e levar a
situações de bullying.
A questão da violência nas escolas, atualmente, tem desencadeado
discussões de gestores escolares e docentes de vários locais do mundo, os
quais têm ficado atônitos com a quantidade de casos cruéis ocorridos dentro da
escola. Eles estão percebendo que a escola está sendo palco de conflitos de
toda ordem e lidar com eles não está sendo tarefa fácil, até os gestores mais
experientes e habilitados estão com dificuldade, visto que são acontecimentos
inéditos e distintos dos corriqueiros (CHALITA, 2008).
Este autor ressalta que os diretores e professores assistem
frequentemente a cenas de violência escolar expressas em trocas de palavras
depreciativas e de baixo calão, provocações, desrespeito, destruição do
patrimônio escolar, ameaças e agressões físicas a educadores e contra os
companheiros.
O termo bullying é empregado em inglês na maioria dos países, mas
alguns empregam termos semelhantes para não alterar o significado: como
mobbing (Noruega e Dinamarca); mobbning (Suécia e Finlândia); hercelement
quotidien (na França); prepotenza ou buliismo (na Itália); acoso e amenaza (na
Espanha), já no Brasil, ainda não foi encontrado um termo que expresse este
fenômeno com o mesmo enfoque que o termo em inglês. Aqui, atualmente
associa-se o termo assédio moral para designar situações de bullying. Alguns
empregam o termo intimidação, porém este termo não consegue expressar as
variadas ações vistas no bullying (FANTE e PEDRA, 2008).
Estes autores ressaltam que os termos mobbing e mobbning são
utilizados para definir uma situação onde a vítima é ridicularizada por um ou um
grupo de indivíduos. Geralmente o termo mobbing é visto frequentemente entre
adultos no ambiente de trabalho, contudo, muitos paises utilizam bullying,
termo que ocorre com mais freqüência nas escolas. Mob tem sido utilizado
para designar a Máfia. “Mobbing remete à idéia da constituição de grupos com
caráter mafioso no ambiente laboral, ou seja, grupos que exercem pressões e
ameaças sobre outros trabalhadores. No Brasil, o mobbing é definido como
assédio moral” (FANTE & PEDRA, 2008, p.35).
O bullying é uma prática que ocorre, muitas vezes, em locais sem
supervisão, provocando na vítima a concepção de que, se relatar o fato, será
ignorada. Muitas vezes, sequer descreve a agressão a outro colega, passando
muito tempo até que qualquer pessoa perceba, período suficiente para que o
agredido seja prejudicado no aprendizado e no convívio com os outros
(CHALITA, 2008).
Fante e Pedra (op.cit.), afirmam que a lista de ações de bullying é
bastante extensa e relacionam algumas como:
Zoar, sacanear, humilhar, intimidar, encarnar, constranger,
discriminar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, excluir, isolar, ignorar, perseguir,
chantagear, assediar, empurrar, derrubar, ferir, esconder, quebrar, furtar e
roubar pertences (p.36).
Estudiosos de bullying relatam que os tipos de maus-tratos, seja
físico ou verbal, ocorrem quando um grupo de alunos escolhe uma vítima e
contra ela exercem uma série de insultos, que envolvem ações ou palavras
com teor agressivo, estando a vítima impossibilitada de se defender, por razões
váriadas. Os agressores espalham boatos sobre alguma característica física,
psicológica ou algo que chama a atenção na vítima e mobilizam um grande
número de colegas para caçoar dela. Geralmente indivíduos considerados
nerds, que apresentam jeito sensível e afeminado ou meninas com jeito
grosseiro e voz masculinizada, são os mais atingidos. Com esses, os bullies
zombam, constrangem e ironizam, provocando o isolamento da vítima (FANTE
e PEDRA, 2008).
De acordo com estes autores, as ações de bullying se diferenciam
de outros tipos de violência, vez que são mais incisivas, intencionais e
sistemáticas, podendo causar danos irreparáveis aos agredidos,
comprometendo sua saúde e seu convívio socioeducacional. O comportamento
de bullying afeta não só o ambiente escolar, mas toda a sociedade, pois são
ações deliberadas e repetitivas, causando sérios prejuízos. “As relações
desestruturadas por meio de condutas abusivas e intimidatórias incidem na
formação dos valores e do caráter, o que refletirá na vida do individuo, no
campo pessoal, profissional, familiar e social” (FANTE & PEDRA, 2008, p.37).
O estudo sobre o bullying foi iniciado na década de 1970 na Suécia
e Dinamarca. Todavia, a Noruega, no período de 1980, expandiu o tema
através de uma grande pesquisa difundida em muitos paises da Europa, com
repercussão no Brasil no inicio do ano 2000. Os pesquisadores começaram a
estudar as causas e verificaram que eram provenientes de maus-tratos
praticados pelos próprios colegas na escola. Esse estudo chamou a atenção de
muitos profissionais, principalmente dos psicólogos, que iniciaram uma
pesquisa mais aprofundada das relações entre alunos (FANTE& PEDRA,
2008).
Chalita (2008) acrescenta que é imprescindível o estabelecimento de
uma parceria da escola com a família, onde pais e docentes devem observar
com mais atenção cada comportamento atípico de seus filhos e alunos,
registrando os fatos para que se possa tomar as devidas providências. Este
autor enfatiza que:

O bullying nos faz conjeturar sobre nós mesmos, sobre os nossos


pensamentos, sentimentos e atos. Reflexão que desperta para a
responsabilidade que nos cabe pelos maus resultados colhidos e
pelas tragédias registradas. Em muitas ocorrências temos culpa, seja
pela ação ou pela omissão, pela agressividade ou pela passividade,
pelo barulho ou pelo silencio, como protagonistas, vítimas ou
testemunhas de atos violentos de qualquer natureza (CHALITA, 2008,
p.84-85).

Percebe-se que a situação de bullying é de responsabilidade de


todos, uma vez que a escola, a família e a sociedade precisam estar atentas a
essa expressão da violência que tem causado danos a tanta gente. O silêncio
daqueles que presenciam as cenas de bullying, a submissão das vítimas, a
desatenção daqueles que compõem a escola e dos próprios familiares, são
fatores agravantes que acabam fortalecendo a existência desse fenômeno.
O bullying tem invadido as escolas de forma silenciosa, deixando
profundas cicatrizes nas vítimas. O ambiente escolar deixa de ser um local de
estudos e brincadeiras saudáveis, passando a ser palco de comportamentos
angustiantes e de profundas humilhações, vividas por pessoas indefesas que
convivem com seus traumas silenciosamente, podendo provocar
consequências desastrosas nos relacionamentos quando estiverem adultas
(CHALITA, 2008).
Para Beaudoin e Taylor (2006), os alunos não sabem resolver seus
conflitos, precisam ser monitorados frequentemente pelos docentes. Muitas
escolas estão desenvolvendo programas de treinamento de mediadores para
criar um clima favorável no ambiente. Pode-se levar algum tempo para
solucionar definitivamente essa questão da violência na escola, visto que as
crenças culturais estão arraigadas há muitos anos. Porém, os educadores
precisam atuar sempre, mesmo sabendo que a mudança poderá ocorrer de
maneira gradual. O passo inicial poderá ser a atuação nos conflitos de forma
menos autoritária possível e mostrar aos alunos um anglo diferente da
situação.

2.2 Critérios de identificação

As repetitivas ações contra uma mesma pessoa durante um longo


período de tempo, com ausência de defesa e por motivos injustificados, são
critérios utilizados para identificar condutas de bullying, segundo fala o
pesquisador Dan Olweus (Universidade da Noruega). Olweus (apud FANTE e
PEDRA, 2008), ressalta que o bullying é entendido como um subconjunto de
atitudes grosseiras, caracterizada por ações repetitivas e desequilíbrio de
poder. Essas ações contra um mesmo indivíduo, num determinado período de
tempo, podem variar a quantidade no ano letivo.
Para Barbazán e Castro (2008), ações de intimidação são bastante
percebidas entre iguais dentro da escola. Esse comportamento é também
conhecido como assédio moral, ação praticada por uma pessoa ou um grupo
por bastante tempo, podendo ser física ou psicológica contra uma pessoa.
Existem quatro aspectos de intimidação:
- agressão ou assédio sofrido por uma vítima
- agressor ou intimidador que causa a ação
- Testemunhas passivas que se omitem
- ambiente escolar que permite que a intimidação ocorra
Estes autores descrevem as diferentes formas de intimidação dentro
da escola:
1. Física – agredir fisicamente os outros colegas, quebrar ou roubar seus
pertences.
2. Verbal – insultar, apelidar, falar palavras mal educadas, usando tom
ameaçador, apontar alguma falha física ou atitude diferente da vítima.
3. Psicológica – denegrir a imagem, atingir a auto-estima, provocar medo e
insegurança.
4. Social – Isolar e excluir alguém do convívio em grupo, difundir fofocas
maldosas e proibir a participação nas brincadeiras.
Percebe-se que a agressão presente nas cenas de bullying é
expressa de diversas maneiras, indo do ataque físico ao psicológico e social,
sempre no intuito de ofender, hostilizar, rebaixar, humilhar, causar dor e
prejuízo.
Beaudoin e Taylor (2006), acrescentam que atitudes como
desrespeito e intolerância são frequentemente vistas nas salas de aula. Neste
sentido, é indispensável que os educadores discutam sobre os efeitos desse
problema por dois motivos: primeiro, para que os alunos realmente desejem
assumir uma postura contra essas atitudes e compreender os efeitos que
podem causar em suas próprias vidas e nas de seus colegas. Segundo, os
envolvidos, ficando cientes dos efeitos, poderão tentar restabelecer uma
ligação com seus sentimentos de empatia em relação a seus colegas. Uma
prática que pode auxiliar na identificação de ações de bullying dentro da sala
de aula é a utilização de uma caixa de perguntas anônimas, que poderá abrir
um leque de discussões entre os envolvidos.
Do ponto de vista de Chalita (2008), os envolvidos em bullying são
numerosos e identificá-los é crucial, mas a identificação deve ser cautelosa
para não ocorrer rotulação, que também é caracterizada como uma violência.
Os autores deste tipo de violência são divididos em agressores ou bullies,
vítimas e espectadores.
Assim, Chalita (2008), define os envolvidos da seguinte forma:
a) Agressores ou bullies – são alunos que necessitam de espectadores para
agir, são populares e vistos como valentões, rebaixam suas vítimas por motivos
fúteis para mostrar sua autoridade, sentindo-se realizados com a conquista.
Geralmente, consegue manter em torno de si um grupo de alunos, dividindo
responsabilidades, os quais também são vistos como agressores. Os bullies
costumam se envolver em situações de risco, com confusões, drogas e
bebidas alcoólicas. Vale salientar, que muitos deles podem se tornarem adultos
agressivos, violentos e criminosos. Mas, ainda não há estudos sobre isso.
Nesse sentido, Chalita (2008), descreve que:

Os bullies, sem motivação aparente, sistematicamente humilham e


intimidam suas vitimas, podendo insultar ou acusar, depredar e
destruir pertences pessoais, espalhar rumores negativos, depreciar,
ameaçar, obrigando a seguir ordens, simular ocorrência para colocar
a vítima em situação constrangedora com alguma autoridade,
depreciar a família da vítima com comentários maldosos
(particularmente a mãe), isolar, chantegear, ameaçar, fazer
grafitagem depreciativa, usar tecnologias de informática para praticar
o cyberbullying, criando páginas falsas na internet sobre a vítima
(p.86).
O autor enfatiza que esse tipo de comportamento pode estar ligado
a falta de afeto no lar do agressor, que presencia pais violentos, como também
nas escolas que não oferecem acolhimento adequado.
b) Vítimas – são pessoas escolhidas aleatoriamente, sem motivo aparente,
para serem maltratadas, humilhadas e intimidadas.
Chalita (2008), diz que:

O comportamento, os hábitos, a maneira de se vestir, a falta de


habilidade em algum esporte, a deficiência física ou aparência fora do
padrão de beleza imposto pelo grupo, o sotaque, a gagueira, a raça
podem ser motivos para a escolha de uma vítima (CHALITA, 2008, p.
87).

As vítimas dessas ações violentas, normalmente, são anti-sociais,


de baixa estima, inseguros e retraídos. Geralmente não pedem ajuda, pois tem
medo de represália e acreditam merecer os insultos. Os danos sofridos pelas
vítimas trazem sérias conseqüências a sua vida futura. O rendimento escolar
costuma cair e muitas vezes ocorrem interrupções. Existem casos que a
depressão fica muita intensa, provocando no ofendido o desejo de cometer
suicídio.
c) Espectadores – são pessoas que testemunham os atos violentos dos
bullies, mas nada fazem, convivendo com esta prática sem denunciá-la ou
mesmo acolher ou defender a vítima. Estudos comprovam que quando existe
uma intervenção, os casos violentos tendem a reduzir. Muitos desses
espectadores acham este comportamento normal, pois acreditam que
indivíduos diferentes, que destoam do contexto, precisam ser banidos do
grupo. Até mesmo os que reprovam essas atitudes, ficam indiferentes, por
medo de represália e ao mesmo tempo ficam satisfeitos pelo fato de não ser
eles os atingidos. Essa indiferença pode transformar essas testemunhas em
cidadão egoístas.
Ou seja, as cenas de bullying precisam de três elementos para que
aconteçam: os agressores, na pessoa daqueles que partem para o ataque
físico ou verbal; as vítimas, pessoas normalmente indefesas, que não
conseguem, inclusive, pedir ajuda ou se defenderem; e os espectadores,
aqueles que assistem aos espetáculos de crueldade, normalmente sem
manifestar opinião ou tentar ajudar a vítima.

2.3 Panorama no Brasil e no mundo

As pesquisas revelam que o fenômeno bullying envolve muitos


alunos variando de 6 a 40%. O pesquisador Olweus revela que na Noruega 1
em cada 7 alunos estão dentro destes casos, ou seja, 15% dos discentes da
educação básica seriam autores ou vítimas. São alarmantes os índices de
bullying entre crianças e adolescentes, diz a pesquisa feita pela Unicef em 21
paises da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Dos países pesquisados, Portugal, Suíça e Áustria apresentam 40%
das vítimas desta prática violenta (FANTE e PEDRA, 2008).
Mulrine (APUD MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007), revela que:

O National School Safety Center chama bullying de o problema mais


duradouro e subestimado nas escolas dos Estados Unidos. Até 8%
dos alunos perdem um dia de aula por mês por medo de sofrer
bullying, e, em uma pesquisa nacional, 43% das crianças disseram ter
receio de ir ao banheiro por medo de ser assediadas (p.22).

Há relatos que descrevem ser o bullying muito antigo, porém, não foi
constatada nenhuma informação sobre este fenômeno antes da década de
1970. As famílias somente começaram a perceber este tipo de violência nas
escolas nos anos de 1972 e 1973, na Escandinávia, tendo se alastrado pela
Noruega e Suécia, seguindo para Europa. Na escala global ainda é difícil
mensurar o bullying, contudo, forças governamentais e sociais de vários países
estimam que 35% de alunos em idade escolar do mundo todo estão inseridas
em algum tipo de violência escolar (CHALITA, 2008).
Diante disso, o autor relata que um dos precursores do estudo da
violência escolar foi o professor da Universidade de Bergen, Noruega, Dan
Olweus, que elaborou um questionário contendo 25 questões, entrevistando 84
mil alunos, 400 professores e mil pais. Todo o material coletado deu ao autor
da pesquisa a oportunidade de compreender o fenômeno bullying, sua
natureza, causas, formas de manifestação, características e extensão. O
pesquisador também verificou o impacto causado pelas intervenções que
haviam iniciado nas escolas da Noruega.
Apesar da pesquisa de Olweus não ter causado muito impacto na
época, seu estudo ganhou notoriedade no ano de 1983, quando três meninos,
com idades entre 10 e 14 anos, se suicidaram. Segundo informações secretas,
foram vítimas de bullying. Este fato deixou os pais e professores atormentados,
mas, para o pesquisador, foi um momento importante, pois demonstrou que
este fenômeno era um mal a ser combatido. Olweus acabou lançando um livro
com maneiras de combate do bullying, sendo seguido por várias camadas da
Noruega, como também se estendendo para outros países. Desse modo, o
autor ressalta que:

Reconhecer o fenômeno bullying numa perspectiva mundial significa


ampliar os olhares e sensibilizar, para a questão, autoridades
educacionais, pais e professores. No entanto, a transformação desse
retrato vai além de seu reconhecimento. É preciso, é necessário e é
sobretudo urgente abandonar a apatia, tocar a alma das pessoas e
sentir a agonia e a aflição das vítima dessa violência (p.107).
Omitir a prática do bullying é uma atitude que contribui para que o
agressor permaneça impune e justifique-se alegando tratar-se apenas de uma
brincadeira inocente, fazendo com que os educadores tolerem e minimizem o
fato, deixando a vítima na obscuridade (CHALITA, 2008).
A questão da omissão só tem agravado o problema. Aqueles que
assistem as cenas de violência, geralmente por medo de serem também
hostilizados, acabam minimizando o fato, considerando normal dentro da rotina
escolar. Isso fortalece os agressores que contarão com a impunidade para
darem segmento às suas maldades.
Ainda não existem dados concretos sobre a realidade brasileira no
que diz respeito ao bullying, mas uma pesquisa feita em escolas pública e
privada em São José do Rio Preto, entre os anos 2000 e 2003, com cerca de 2
mil alunos, apontaram que 49% dos pesquisados estavam envolvidos em
bullying, sendo 22% vítimas e o restante agressores. No Rio de Janeiro, no ano
de 2002, também foram encontrados casos deste fenômeno pela Associação
Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia),
sendo pesquisados 5.875 alunos. Os casos de bullying vêm crescendo no
mundo. De 7 a 24% de alunos envolvidos no ano 2000, hoje estes números
estão em 5% a 35%, informações repassadas pelo Centro Multiciplinar de
Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes). Nesses dados,
45% são estudantes brasileiros envolvidos no fenômeno, número maior que os
mundiais (FANTE e PEDRA, 2008).
Os autores acreditam que os casos de bullying tem aumentado por
motivos variados e muitos deles tem relação com a tendência da vítima de
reproduzir os ataques sofridos. Por esse motivo, o fenômeno tem se difundido
cada vez mais entre os alunos. A competitividade e o individualismo são
comportamentos que acentua as práticas dos maus-tratos, por causa da
pressão da família e também da escola na questão de obtenção de resultados.
Fante e Pedra (op. cit.) citam que esta prática está relacionada
também com:
A banalização da violência e a certeza da impunidade; o desrespeito
e a desvalorização do ser humano, evidenciados em diversos
contextos, principalmente a mídia; a educação familiar permissiva e a
ausência de limites e, sobretudo, a deficiência ou ausência de
modelos educativos baseados em valores humanos, orientados para
a convivência pacífica, solidariedade, cooperação, tolerância e
respeito às diferenças, que despertam os sentimentos de empatia,
afetividade e compaixão (p.51).

Vê-se que este conjunto de fatores citados pelos autores favorecem


a continuidade do bullying, bem como sua expansão. A falta de limites dentro
de casa e mesmo dentro da escola, a certeza da impunidade, tornam a
violência banal, dificultando sua solução.
Fante e Pedra (2008), argumentam que não existem diferenças
entre o bullying praticado no Brasil ou em outros países, apenas os índices é
que se diferenciam. Contudo, o que se deve verificar a respeito desse
fenômeno é: como perceber e procurar diferenciar de brincadeiras próprias da
evolução da criança, visto que, qualquer comportamento desagradável poderá
ser taxado de bullying? Este tipo de comportamento ainda não se configurou
como questão de segurança pública, pois ainda não é levado a investigações
que envolvam crime e violência entre os jovens. Contudo, já foram registrados
muitos casos de homicídios, suicídios e agressões físicas graves dentro e fora
do ambiente escolar. Vale salientar, que este fenômeno ocorre tanto de dentro
para fora da escola, como ao contrário. “Muitas tragédias que ocorreram nas
imediações das escolas, nas ruas ou praças públicas, nas danceterias, em
festas, ou até mesmo em cinemas, tiveram causa dentro da escola” (p.52).
Segundo Thomé (2004), um banho de lama em via pública, foi o
estopim para que o estudante D. de 17 anos cometesse um duplo homicídio e
ainda ferisse mais três pessoas, fato ocorrido na cidade de Remanso, no
estado da Bahia no dia 04/02/2004. Segundo as investigações da época, o
rapaz já estava sendo humilhado há dois anos por um colega da Escola
Municipal Rui Barbosa, local onde estudava. O pediatra Lauro Monteiro Filho,
presidente da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
Adolescência (Abrapia), caracterizou o ato do homicida como bullying. Ele
defende que o que está por trás dessas atitudes é a intolerância ao diferente e
a sociedade deve excluir a idéia de que não passa de ações de criança ou
adolescente, pois esse sofrimento acompanha a pessoa na vida adulta. Outro
caso lembrado por Monteiro foi do estudante Edmar Freitas de 18 anos, que
depois de fazer uma rigorosa dieta, recebeu de seus colegas o apelido de
“vinagre”. Na época, janeiro de 2003, Edmar feriu seis pessoas da escola onde
estudava em Taiúva (SP) e suicidou-se em seguida.
Recentemente, outro caso ocorreu numa escola particular do Recife,
sendo noticiado pelos jornais, TV e internet. De acordo com a reportagem
publicada no dia 22 de outubro do corrente ano pelo site JC UOL, indignados
com as constantes agressões e humilhações sofridas pelos filhos em uma
escola particular tradicional no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife,
pais de dez alunos procuraram a Gerência de Polícia da Criança e do
Adolescente (GPCA) para denunciar o caso. Segundo estes pais, crianças de
12 e 13 anos estão passando por situações de constrangimento causadas por
outros alunos da mesma sala.
O delegado Thiago Pinto, responsável pela investigação, classificou
as agressões descritas pelos pais das vítimas como caso de bullying. Segundo
um destes pais: “A mãe de um dos alunos percebeu que o filho chegou em
casa com hematomas. O menino disse ter sofrido uma queda, mas a mãe
desconfiou e descobriu que três alunos da escola praticavam as agressões em
vários alunos”. De acordo com o funcionário público, ao conversar com as
vítimas, os pais identificaram 26 tipos de agressões diferentes, entre elas
apertar os órgãos genitais, dar cascudos, suspender pelas calças e tirar as
roupas das vítimas, além de ameaças de novas agressões caso os alunos
levassem o caso à direção da escola. O grupo de pais informou que os três
alunos agressores seriam repetentes e vindos recentemente de outra escola. A
unidade de ensino inicialmente, segundo os pais, não queria aceitá-los, mas
eles teriam conseguido liminar da Justiça para ingressar na escola.
Percebe-se a gravidade do problema que vem tomando proporções
assustadoras, atingindo um grupo cada vez maior de vítimas, chamando a
atenção de pais, educadores, autoridades públicas, entre outros. É urgente a
necessidade de se encontrar meios de eliminar o bullying, principalmente no
espaço escolar, onde ele é mais visível.

2.4 Tipos de Bullying

Chalita (2008), afirma que a diferença percebida no outro é um dos


pretextos para que o autor do bullying utilize e inicie suas agressões. “ser
diferente não significa ser certo ou errado, inferior ou superior, melhor ou pior,
mais bonito ou mais feio. Significa, simplesmente ser diferente” (p.131). Não
apresentar um padrão aceito por todos, reforça o surgimento de exclusão e
marginalização que muitas vezes é percebida dentro da escola. Sobretudo, a
Constituição Federal em seu 5º artigo, preconiza que todos são iguais perante
a lei em dignidade e direitos. A escola não pode se tornar palco do rompimento
deste artigo, pois, se tornará um lugar muito deplorável, onde destruir o outro
se torna um prazer.
Chalita (2008) distingue duas modalidades de bullyng:
O bullying direto, que ocorre mais entre os meninos, que costumam
utilizar xingamentos, tapas, empurrões, murros, chutes e apelidos repetidos
ofensivos.
O bullying indireto, mais utilizadas pelas meninas e crianças
menores, inclui ações que levam a vítima ao isolamento social através de
difamações, boatos cruéis, intrigas, fofocas, rumores degradantes sobre a
vítima e familiares, entre outros.
Existem vários tipos de maus-tratos e raramente a vítima recebe
apenas um tipo. Elas geralmente são esquecidas e excluídas do convívio em
grupo e o problema se agrava quando os autores intensificam as atitudes com
afronta e xingamentos (CHALITA, 2008).
Middelton-Moz & Zawadski (2007) indicam os seguintes
comportamentos como incluídos no bullying: palavras ofensivas, humilhação,
difusão de boatos, fofoca, exposição ao ridículo, transformação em bode
expiatório e acusações, isolamento, socos, agressões, chutes, ameaças,
insultos, ostracismo, sexualização, ofensas raciais, étnicas ou de gênero.
Segundo elas, no início da infância, o bullying geralmente é aleatório. Na
juventude e na idade adulta, os alvos são escolhidos. Assim sendo, os bullies
sempre encontrarão algo de seu interesse em uma pessoa, escolhida como
vitima: ser alta demais, baixa demais, usar óculos, andar de cadeira de rodas,
usar roupas consideradas inadequadas, ser passiva ou independente demais,
ter a cor, a origem étnica, o sexo, a religião, a origem socioeconômica ou a
orientação sexual diferente, ser simpático, ser quieto, enfim, são inúmeras as
possibilidades.
Uma nova modalidade de ataque de bullying é a utilização do meio
virtual. A internet passou a ser uma ferramenta bastante utilizada pelos
agressores, principalmente o site de relacionamento denominado Orkut, onde a
vítima tem sua imagem denegrida com fotografias degradantes, sendo
expostas ao ridículo pelos colegas da escola. O ataque virtual é chamado
ciberbullying, método que vem deixando especialistas, pais e professores
bastante preocupados. Nesta prática, são utilizadas ferramentas da rede (web),
como também outros meios de comunicação. A vítima é constrangida,
maltratada e humilhada, ultrapassando os muros da escola. “No ciberbullying,
os agressores se motivam pelo “anonimato”, valendo-se de nomes falsos,
apelidos ou fazendo-se passar por outras pessoas” (FANTE e PEDRA, 2008, p.
65).
É comum os jovens de hoje fazerem partes de comunidades virtuais,
possuírem blogs ou navegaram em sites de relacionamentos como o orkut.
Através destes sites, podem sofrer cyberbullying, pois pessoas conseguem
entrar nos seus perfis e lançarem todo tido de agressão verbal como apelidos,
ameaças, humilhações, enfim, todo tipo de ataque. Inclusive tem sido utilizado
por verdadeiras gangs que marcam seus encontros de briga através destes
sites. A violência no mundo virtual já é uma realidade e começa a preocupar a
sociedade.

2.5 Tipos de ataques na escola

Middelton-Moz e Zawadski (2007), argumentam que devido à


diferença de desenvolvimento e de idade, o bullying torna-se distinto quando a
criança avança de série. “Na escola fundamental, toma a forma de empurrões,
encontrões, cuspidas, ofensas verbais, rasteiras, distrações, interrupções e
risos em relação aos outros” (p.77). À medida que essas crianças crescem,
este fenômeno fica mais sofisticado: confusões verbais e físicas, rumores de
calúnias, intimidação, roubo e danos aos pertences, críticas da aparência ou
comportamento. “Os bullies podem estar todo o tempo incomodando os outros
ou fazendo agressões contra propriedades ou posses, ou, ainda, a membros
da família ou amigos” (p.78).
As autoras enfatizam que quando as crianças chegam ao ensino
médio, o índice de bullying fica mais acentuado, pois as mais velhas tendem a
atacar as mais novas. Elas ressaltam que:
A criança que pratica bullying ganha reputação de ser poderosa, má,
esquentada e durona, passando a ser conhecida como alguém de quem se
deve ter medo e manter distância. Os bullies obrigam os outros a fazer seus
trabalhos de escola ou a ajudá-los a colar em provas por meio de ameaças e
de intimidação. Muitas vezes desenvolvem a reputação de ser mentirosos e
usam a exclusão como forma de obter mais poder ou aquilo que querem (p.78).
Para não serem alvos deste fenômeno, muitos meninos costumam
seguir certas regras como demonstrar um tipo valentão, não demonstrar
sentimentos, parecer ser auto-suficiente. Eles geralmente utilizam uma
“máscara” durante sua vida na escola, vez que, sem ela, poderão sofrer
bullying . “Alguns não agüentam a pressão e o abuso, não vêem saída, e
passam a ter tendências depressivas e suicidas ou reagem com punhos ou
armas” (MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007, p.23).
Neste contexto, Simplício (2008), acrescenta que o bullying pode
ser visto em diversos locais como: escolas, universidades, ambiente de
trabalho, entre outros. A autora apresenta abaixo as ações de bullying:
•Insultar a vítima; acusá-la de ser uma pessoa imprestável.
•Agressões físicas rotineiras, seja contra o corpo ou algum pertence.
•Danificar propriedade pessoal, livros ou material escolar, roupas.
•Espalhar calúnias sobre a vítima.
•Denegrir a imagem da vítima sem qualquer motivo.
•Obrigar a vítima a fazer que ela não quer, ameaçando-a.
•Colocar a vítima em situação difícil por algo que não cometeu.
•Depreciar a família da vítima (particularmente a mãe), falar mal da moradia,
aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda,
nacionalidade.
•Excluir a vítima do grupo.
•Usar o cyberbullying (criar páginas falsas sobre a vítima em sites de
relacionamento, publicar fotos comprometedoras).
•Chantagem.
•Demonstrar expressões ameaçadoras.
•Grafitagem depreciativa.
Middelton-Moz e Zawadski (2007), diz que por muitos anos, o
bullying tem sido uma questão bastante séria nas escolas. Muitas instituições
costumavam ignorar o problema, mas hoje, esse quadro vem começando a
mudar. Assim, existem escolas que desenvolvem políticas antibullying,
punindo o autor pelo tipo de atitude cometida contra os colegas. No entanto,
esta estratégia não tem dado muito resultado. Os bullies geralmente ficam
indiferentes às punições, pois estão acostumados com a quantidade de
reclamações que recebem ao longo de suas vidas. “Punições como detenções
escolares, sair da sala de aula, chamar os pais ou expulsões e envolvimento
em disputas de poder, geralmente são enfrentadas pelo aluno com desafio ou
indiferença” (p.88).
As autoras narram que recentemente, nos Estados Unidos, foi
desenvolvido um programa chamado Bully Proofing Your School (tornando sua
escola a prova de bullying), no qual o bullying é abordado como sistema na
escola. Neste programa, todos os envolvidos no contexto escolar recebem
orientações para identificar e acabar com este fenômeno dentro e fora da sala
de aula, criando uma comunidade que não irá tolerar atos de agressões físicas
ou psicológicas por parte de qualquer pessoa. “O programa enfatiza a criação
de um ambiente em que as crianças possam se sentir seguras e protegidas”
(p.90). Assim, nas escolas que adotaram tal programa, foi constatada uma
certa calmaria, onde foi observado o interesse de todos para continuar com o
processo de melhoria. É possível tornar um estabelecimento educacional
seguro, com pessoas se respeitando. “O objetivo é criar um ambiente
comunitário de carinho e respeito, no qual se dê muito poder à coisa certa e
pouco poder a coisa errada” (p.93).
1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
1.1 Os Direitos Humanos: Breve Histórico

A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclama que todos


os direitos humanos – os civis e políticos, bem como os sociais, econômicos e
culturais, inter-relacionados e interdependentes – constituem um complexo
integral, único e indivisível. Assim sendo, os direitos fundamentais, vinculados
ao mínimo existencial, passam a constituir o núcleo básico de todo
ordenamento constitucional, com metas e objetivos que devem ser alcançados
pelo Estado Democrático de Direito (GOMES, 2005).
Documentos importantes, segundo Brega Filho (2002), que visavam à
garantia dos direitos fundamentais como a Carta de João Sem Terra (1215,
Inglaterra), conhecida por Carta Magna, que representou uma importante
contribuição para o progresso dos direitos fundamentais, a Petition of Rights
(1628), que proclamava o respeito ao princípio do consentimento na tributação
entre outros, não eram suficientes para garantir os direitos do cidadão.
Surgiram várias Declarações que visavam proteger os direitos fundamentais na
América: Declaração dos Direitos do Bom Povo da Virgínia, Declaração da
Independência dos Estados Unidos da América, a Carta dos Estados Unidos
da América, as quais reconheciam direitos fundamentais e influenciaram os
revolucionários franceses a editar a mais famosa e importante declaração dos
direitos fundamentais em 1789: Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, tendo grande repercussão por reconhecer em 17 artigos, direitos
fundamentais, entre eles os da igualdade, liberdade, propriedade, segurança,
resistência à opressão, associação política, princípio de legalidade, princípio de
reserva legal e anterioridade da lei penal, princípio da presunção de inocência,
liberdade religiosa e a livre manifestação do pensamento. Era o ato de
reconhecimento de direitos naturais. A declaração ainda não fazia parte da
Constituição, mas tinha valor de uma.
Por sua vez, Fábio Comparato faz uma abordagem similar, porém, um
pouco mais profunda acerca da origem e da positivação histórica dos Direitos
Humanos, nos mais diversos ordenamentos jurídicos, cartas, declarações e
revoluções já existentes:
O artigo I da Declaração que “o bom povo da Virgínia” tornou pública,
em 16 de junho de 1776, constitui o registro de nascimento dos
direitos humanos na História. É o reconhecimento solene de que
todos os homens são igualmente vocacionados, pela sua própria
natureza, ao aperfeiçoamento constante de si mesmos. [...] repetida
na Declaração de Independência dos Estados Unidos, duas semanas
após [...]. Treze anos depois, no ato da abertura da Revolução
Francesa, a mesma idéia de liberdade e igualdade dos seres
humanos é reafirmada e reforçada: “Os homens nascem e
permanecem livres e iguais em diretos” [...]. O reconhecimento da
fraternidade [...] se logrou alcançar com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948.
(COMPARATO, 2010, p. 62-63).

No início do século XX percebeu-se que a garantia dos direitos


individuais não bastava, era preciso garantir o seu exercício. Fatos sociais e
políticos, decorrentes da Revolução Industrial e do capitalismo que se
expandia, acabaram pressionando as Constituições da época a reconhecerem
vários direitos sociais, econômicos e culturais. A Constituição de Weimar, entre
outras, se preocuparam com os direitos sociais. Entre elas, a mexicana
(05/02/1917) e a russa, chamada de Declaração dos Direitos do Povo
Trabalhador e Explorado (1918), onde se pretendia suprimir a exploração do
homem pelo homem, abolir a divisão da sociedade em classes e subtrair a
humanidade das garras do capital e do imperialismo (BREGA FILHO, 2002).
O reconhecimento das liberdades públicas e dos direitos sociais ainda
não era suficiente para a garantia de todos os direitos humanos fundamentais.
Após as atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, entendeu-se que
a proteção dos direitos fundamentais não poderia ficar adstrita a cada Estado,
pois tais direitos eram transcendentais, sendo de interesse internacional.
Assim, nos meados do séc. XX surgiu o Direito Internacional dos Direitos
Humanos. Em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações
Unidas proclama a Declaração Universal dos Direitos do Homem, com
significado apenas moral, sendo uma indicação a ser seguida pelos países
membros, não criando, na ocasião, nenhum órgão jurisdicional internacional
para garantir a eficácia dos direitos proclamados (BREGA FILHO, 2002).
Desta forma conclui Brega Filho (2002), os direitos fundamentais podem
ser classificados em gerações: direitos de primeira geração, que dominou o
século XIX e é composta dos direitos de liberdade, que correspondem aos
direitos civis e políticos. Tendo como titular o indivíduo, os direitos de primeira
geração são oponíveis ao Estado, sendo traduzidos como faculdades ou
atributos da pessoa humana, ostentando uma subjetividade que é seu traço
marcante; os direitos de segunda geração são considerados como sendo os
direitos sociais, culturais, coletivos e econômicos, tendo sido inseridos nas
constituições das diversas formas de Estados sociais; os direitos de terceira
geração (fraternidade ou solidariedade). São identificados como sendo o direito
ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de
propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de
comunicação; e os de quarta geração que consistem no direito à democracia,
direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a materialização
da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade,
para a qual parece o mundo quedar-se no plano de todas as afinidades e
relações de coexistência.

1.2 Dignidade da Pessoa Humana como Princípio Constitucional


Fundamental

A dignidade da pessoa humana é considerada uma decorrência do


Estado Democrático de Direito proclamado no artigo 1º, inciso III, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Devido a sua grande
relevância é apontado por muitos doutrinadores como um super princípio, um
verdadeiro alicerce que harmoniza e ilumina todo o Ordenamento Jurídico
Constitucional vigente.
Segundo Martins (2004) a Constituição Federal de 1988 de fato,
significa para a ordem jurídica brasileira um marco de ruptura e sobreeminência
dos padrões até então válidos no que alude à defesa e particularmente a
ascensão da dignidade da pessoa humana. O constituinte estava preocupado
somente com a normatização deste ‘valor fonte’ da concepção ocidental,
procurou além de tudo sistematizar a dignidade da pessoa humana de forma tal
a lhe conferir a plenitude da norma, incidindo por todo o sistema político,
jurídico e social estatuído.
A dignidade da pessoa humana, também é apontada, de forma
direta ou indireta, em outros trechos da CF/88. O art. 170, a título de exemplo,
determina que “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social”. Da mesma forma, o art. 226 no §7º
preconiza que o planejamento familiar fundamentado nos princípios da
dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável. E para findar a
exemplificação, ainda o art. 227, determina que é dever da família, da
sociedade e do Estado garantir à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, entre outros direitos, à dignidade, ao respeito, à liberdade.
Neste sentido, conclui Martins:

[...] a Constituição de 1988 ao instituir amplo sistema de direitos e


garantias fundamentais, tanto individuais como coletivos, o qual
constitui o núcleo básico do ordenamento constitucional brasileiro,
buscou não só preservar, mas acima de tudo, promover a dignidade
da pessoa humana de tal sorte que – já disse alhures – sempre se
poderá extrair o princípio a partir deste amplo rol protetivo (MARTINS,
2004, p. 52)

Noutra vertente, Barroso (2004, p.375) considera a questão da base


do Estado democrático de direito e o princípio da dignidade da pessoa humana
chamando atenção para importância na ordem jurídica, social e política:

Os princípios fundamentais expressam as principais decisões


políticas no âmbito do Estado, aquelas que vão determinar sua
estrutura essencial. Veiculam, assim, a forma, o regime e o sistema
de governo, bem como a forma de Estado. De tais opções resultará a
configuração básica da organização do poder politico. Também se
incluem nessa categoria os objetivos indicados pela Constituição
como fundamentais a República e os princípios que regem em suas
relações internacionais. Por fim, merece destaque em todas as
relações públicas e privadas o princípio da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III), que se tornou o centro axiológico da concepção
de Estado democrático de direito e de uma ordem mundial idealmente
pautada pelos direitos fundamentais. (BARROSO, 2004, p.375 )

Da mesma forma Piovesan analisa a Constituição e a dignidade da


pessoa humana:
Dentre os fundamentos que alicerçam o Estado Democrático de
Direito brasileiro, destacam-se a cidadania e dignidade da pessoa humana (art.
1º, incisos II e III). Vê-se aqui o encontro do princípio do Estado Democrático
de Direito e dos direitos fundamentais, fazendo-se claro que os direitos
fundamentais são um elemento básico para a realização dos princípios
democráticos , tendo em vista que exercem uma função democratizadora.
Como afirma Jorge Miranda: “A Constituição confere uma unidade de sentido,
de valor e de concordância prática ao sistema de valores fundamentais. E ela
repousa na dignidade da pessoa humana, ou seja, na concepção que faz a
pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado” (PIOVESAN, 2010, p. 26).
Na atualidade, é comum alguns doutrinadores se expressarem por
meio do termo “pós-positivistas” outros elegem, neopositivismo, mas sem
adentrar nesta discussão doutrinária terminológica, Marcelo Novelino sustenta
a ascensão da dignidade da pessoa humana como uma das peculiaridades
deste fenômeno jurídico contemporâneo como diz abaixo:

Dentre as principais características do pós-positivismo – ou como


preferem alguns, neopositivismo – destacam-se a importância dada
aos valores; a proteção e promoção da dignidade da pessoa humana,
considerada como valor constitucional supremo, por meio da
consagração e respeito aos direitos fundamentais; e o caráter
normativo atribuído aos princípios (NOVELINO, 2008, p. 64).

A Constituição brasileira tem a incumbência de proteger os direitos


humanos, com acentuada preocupação em assegurar os valores da dignidade
e do bem-estar da pessoa humana, como imperativo de justiça social. O
Estado tem como objetivos fundamentais construir uma sociedade livre, justa e
solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a
marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem
de todos, sem preconceitos de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação. A partir da Constituição de 1998, os direitos humanos
ganham relevo extraordinário, projetando a construção de um Estado
Democrático do Direito, que tem como destaque a cidadania e a dignidade da
pessoa humana (art. 1º, Incisos II e III) (PIOVESAN, 2010).
Nesta mesma esteira, afirma Brega Filho (2002) que os direitos
fundamentais seriam os interesses jurídicos previstos na Constituição que o
Estado deve respeitar e proporcionar a todas as pessoas. É o mínimo
necessário para a existência da vida humana. São os interesses jurídicos
necessários para a existência da vida humana digna.
Desta forma, pode-se inferir a aplicação e zelo da Constituição em
apontar nos objetivos fundamentais do Estado brasileiro a garantia dos valores
da dignidade e do bem-estar da pessoa humana. Assim, a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) aclama o valor da dignidade
da pessoa humana como valor essencial.

1.4 Princípio Da Dignidade da Pessoa Humana

Para Barroso (2014, p. 226), “os princípios – notadamente os princípios


constitucionais – são a porta pela qual os valores passam do plano ético para o
mundo jurídico” daí ser necessário que o interprete utilize-os como seu ponto
de partida.
É nesta seara que Barroso aponta função de orientadora do princípio
ao interprete e a definição na sua visão:

O ponto de partida do interprete há que ser sempre os princípios


constitucionais, que são o conjunto de normas que espelham a
ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito
de forma sumaria, os princípios constitucionais são normas eleitas
pelo constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da
ordem jurídica que institui. (BARROSO, 2004, p. 151).

Quanto à definição de princípio extrai-se das lições doutrinárias de


Celso Antonio Bandeira de Mello:
Principio é, por definição, o mandamento nuclear de um sistema,
verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre
diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério
para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a
lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a
tônica e lhe dá sentido harmônico.” (MELLO, 2005 p. 888 e 889)

Doutra forma, Fábio Comparato ao analisar o “primeiro postulado


ético de Kant” afirma “que só o ser racional possui a faculdade de agir segundo
a representação de leis ou princípios” (COMPARATO, ano, p. 33).
O filósofo Immanuel Kant deixou seu legado para posteridade
através de seu pensamento em torno da noção de dignidade da pessoa
humana. Comparato declara a importância das noções do filósofo no sentido
de ser a pessoa humana dotada de razão e de liberdade, assim como de não
poder ser tratada como meio, para a compreensão da ideia de dignidade.
Martins (2004, p. 115) citando José Afonso da Silva explana que:
“[...] José Afonso da Silva também a partir da filosofia de Kant, explica que a
dignidade, ao contrário das coisas que tem preço e podem ser substituídas por
outra equivalente –, é um valor interno da pessoa humana, superior a qualquer
preço”.
Pode-se inferir dos estudos acima que o termo “dignidade” é uma
atribuição da pessoa humana que é provida da faculdade da razão capaz de se
conduzir por meio de leis, princípios, normas e regras de conduta moral.
Quanto à questão da conceituação do princípio da dignidade da
pessoa humana, Tavares (2014, p. 436) diz que “o principio da dignidade da
pessoa humana encontra, assim como o direito à vida, alguns obstáculos no
campo conceitual”.
Da mesma forma, Martins afirma que:
Poderíamos, portanto, identificar que a dignidade da pessoa humana
se enquadraria no que parte da doutrina costuma chamar de conceito
jurídico indeterminado. Sobre o tema Karl Engish lenciona que “por
conceito jurídico indeterminado entendemos um conceito cujo
conteúdo e extensão são em larga medida incertos” (MARTINS, 2004,
p. 112)

Assim este trabalho se aterá em conduzir os conceitos doutrinários


da palavra “dignidade”, da locução “pessoa humana” e da expressão
“dignidade da pessoa humana”.
Dignidade, segundo Alexandre de Moraes:

[...] é um direito com o qual não há parâmetros de comparação. Não é


um direito valorativo, ou quantitativo, e por assim o ser deve ser tido
como supremo em relação aos demais. A dignidade é um valor moral
inerente ao indivíduo, que enseja o respeito de todos os outros
semelhantes, e a constituição de um conjunto mínimo de condições
básicas para o desenvolvimento de sua existência. Consiste num
mínimo invulnerável de direitos que o ordenamento jurídico deve
assegurar a todos de maneira indistinta. (MORAES, 2003, p. 50)

Da mesma forma, o professor Marconi Pequeno traz o conceito de


dignidade: “A dignidade é a qualidade que define a essência da pessoa
humana, ou ainda é o valor que confere humanidade ao sujeito” (2014, ?)
Neste mesma linha, Moraes preleciona que:

A dignidade em si, não é direito fundamental, mas um atributo


inerente a todo ser humano ou simplesmente um valor. Todavia existe
uma relação de mútua dependência entre ela e os direitos
fundamentais, pois ao mesmo tempo em que estes surgiram como
uma exigência da dignidade de proporcionar o pleno desenvolvimento
da pessoa humana, somente através da existência desses direitos a
dignidade poderá ser respeitada e protegida. (MORAES, 2007, p.
248).

Nos atributos referentes à dignidade Marconi Pequeno (2014)


ressalta:
A dignidade é um valor incondicional (ela deve existir
independentemente de qualquer coisa), incomensurável (nada pode
ocupar seu lugar de importância na nossa vida), e não admite
equivalente (ela está acima de qualquer principio ou ideia). Trata-se
de algo que possui a dimensão, jamais quantitativa. A dignidade
possui valor intrínseco, por isso uma pessoa não pode ter mais
dignidade que outra pessoa. (PEQUENO, 2014, p?)

Quanto à locução “pessoa humana” Martins (2004, p. 115 e 118)


assevera que “no sentido jurídico do termo “pessoa” é utilizado para designar o
homem como sujeito de direitos e obrigações, no desempenho do papel que
lhe é confiado pelo Direito” e ainda que “pessoa humana é qualquer ser
humano, que pelo simples existir é tido como pessoa para fins de proteção
constitucional”.
De acordo com Farias (2000, p. 55)), “a importância da pessoa como
categoria filosófica avulta-se no mundo contemporâneo tendo em vista que
muitas vezes é o próprio valor do ser humano que está posto em causa”
De outra forma, Ingo Wolfgang Sarlet (APUD MARTINS, 2004, p. 119)
expõe seu conceito de dignidade da pessoa humana, assim:

Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz


merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e
da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto quanto todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existenciais mínimas para a vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos.

Assim, o doutrinador, revela que a dignidade da pessoa humana não


deve atuar como justificativa para uma postura extremista, fundada em uma
retórica sedutora e aparentemente servidora da causa dos direitos
fundamentais. Pelo contrário, a dignidade da pessoa humana e os direitos
fundamentais devem ser compreendidos e aplicados também como “cláusulas
de barreira ao fundamentalismo”, além de permanente obstáculo a qualquer
postura intolerante e arbitrária que resulte em violação da pessoa humana.
.

3 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA FRENTE AO

BULLYING

A prática do bullying fere o princípio da dignidade da pessoa humana


frontalmente, posto que ela agride o ser humano em sua essência. Nesta
esteira, aquele que pratica o bullying não só ofende a pessoa no seu próprio
valor de ser humano, mas precipuamente ataca violentamente o princípio
dignidade da pessoa humana que compõe o ordenamento jurídico positivado.

Nas preleções acerca do bullying, Ana Beatriz Barbosa Silva


argumenta que:

“Não existe sucesso ou qualquer outra realização material ou


profissional que apague o sofrimento vivenciado por uma criança ou
um adolescente afetado pela violência do bullying. Todos carregam
consigo a cicatriz dessa triste experiência, e a marca tende a ser mais
intensa quanto mais cedo ela ocorre (infância) e por quanto mais
tempo ela persiste” (SILVA, 2010, p. 82).
Em outro viés Alexandre de Moraes (MORAES, 2004) ensina que o
princípio da dignidade da pessoa humana dá uniformidade aos direitos e
garantias fundamentais, sendo intrínseco às personalidades humanas e é um
fundamento que afasta a ideia de predominância das concepções
transpessoalistas de Estado e Nação, em prejuízo da liberdade individual. O
autor ainda acrescenta:

A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se


manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao
respeito por parte das demais pessoas constituindo-se um mínimo
invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que,
somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício
dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a
necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres
humanos. (MORAES, 2004, p. 52)

Doutra forma, mas complementando a visão anterior Farias (2000)


aduz:

Característica fundamental do princípio jurídico da dignidade da


pessoa humana que o sobreleva em importância e significado é que
ele assegura um minimum de respeito ao homem só pelo fato de ser
homem, uma vez que todos os homens são dotados por natureza de
igual dignidade e “têm direito a levar uma vida digna de seres
humanos”. Vale dizer: o respeito à pessoa humana realiza-se
independentemente da comunidade, grupo ou classe social a que
aquela pertença (FARIAS, 2000, p. 60)

Pode-se inferir, nestes termos que princípio constitucional da


dignidade da pessoa humana refere-se aos anseios mínimos necessários do
ser humano no intuito de que ao ser humano sejam proporcionados os meios
essenciais para que este possa manter a existência digna, preservado a
obrigação fundamental de tratamento igualitário que todo estatuto jurídico deve
assegurar de forma que, tão-somente de modo excepcional, possam ser feitas
restrições ao exercício dos direitos fundamentais, contudo sem desconsiderar a
necessária estimação que tem direito todas as pessoas enquanto seres
humanos. .

Nesse contexto, reflete Ana Beatriz Barbosa (SILVA, 2010, p. 43)


revela a essência do pensamento do agressor/autor:
Possuem em sua personalidade traços de desrespeito e de maldade
e, na maioria da vezes, essas características estão associadas a um
perigoso poder de liderança que em geral é obtido ou legitimado
através da força física ou de intenso assédio psicológico.

Por conseguinte, o bullying pode atingir qualquer indivíduo


fisicamente e principalmente psicologicamente. O juízo jurídico do dever de
que todo indivíduo precisa respeitar o outro ao que parece não faz parte do dia
a dia do agressor. Esses dados trazidos pela autora dão a ideia de que o
agressor/autor não reconhece a vítima sequer como seu semelhante. Nesta
perspectiva, pode-se compreender que o bullying configura uma verdadeira
agressão ao princípio da dignidade da pessoa humana.
4 ASPECTOS JURÍDICOS

Impende destacar, preliminarmente que a Constituição Federal de


1988 traz novo paradigma para o Brasil no contexto da infância e juventude,
nas quais crianças e adolescentes passam a ser reconhecidas como sujeitos
de direitos, dignos de proteção integral e garantias alusivas à integridade de
todos, crianças e adolescentes, sem distinção e não “de uma categoria de
menor, classificado como carente, abandonado ou infrator” (LIBERATI, 2011, p.
14).

Aduz Liberati “as leis brasileiras anteriores à Constituição Federal de


1988 conclui que a legislação estava eivada de conteúdo manifestamente
discriminatório, em que, por exemplo, a criança era o filho bem nascido, e o
menor, o infrator” (LIBERATI, 2011, p. 14).

Esse novo paradigma, delineou-se envolto pela doutrina da proteção


integral. Antônio Carlos Gomes da Costa (APUD, LIBERATI, 2011, p. 14)
reporta-se a esta doutrina, assim:

Afirma, o valor intrínseco da criança como ser humano; a


necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em
desenvolvimento; o valor prospectivo da infância e da juventude,
como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e o
reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as ciranças e
adolescentes merecedores de proteção integral por parte da família,
da sociedadr e do estado, o qual deverá atuar através de politicas
específicas para a promoção e defesa de seus direitos (LIBERATI,
2011, p. 14)

Para Dupret (2012, p. 26) “a doutrina da proteção integral foi


adotada com base, principalmente, na Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, tendo como origem a Declaração dos Direitos da Criança.”

O marco deste novo paradigma foi a edição do art. 227, caput, da


Constituição da República, in verbis:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)

A Lei n. 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


revolucionou o Direito Infanto-juvenil, empregando a doutrina da proteção
integral, assegurou a absoluta prioridade (art. 4º) ao efetivo direito concernente:
vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura,
dignidade, respeito, liberdade e à convivência familiar e comunitária e “a forma
como se deve interpretar o Estatuto. O fim social é o de proteção integral da
criança e do adolescente e o bem comum é o que atende aos interesses de
toda a sociedade” (ISHIDA, 1988, p. 28).

Insta destacar, que dentre os direitos da educação, da dignidade e


do respeito, o primeiro que atingiu o patamar de direito social pela Lex Mater de
1988 (art. 6º) e firmado no art. 205 da mesma, foi à educação que como direito
de todos e dever do Estado, e da família deve ser promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

No que tange ao direito ao respeito, de acordo com o art. 17 do


ECA, “na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.

Para Ishida (1988, p. 38, 39): “Um dos direitos básicos assegurados
tanto à pessoa e em especial à criança e ao adolescente é o direito ao respeito,
visando à manutenção da integridade física, psíquica e moral”.

Ratificando o princípio geral constituído também pelo ECA, o art. 18


e 227 da CF/88 revela que “é direito da criança e do adolescente, mormente, o
respeito à sua dignidade e dever de todos, que se pressupõe a vedação de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor”.
Não obstante, em conformidade com o que já foi delineado, o âmbito
das instituições de ensino está repleto da prática de condutas incompatíveis
com os seus objetivos, dentre elas agressões verbais e físicas, intencionais ou
não, pessoal ou virtualmente, mas sempre repetitivas que bem evidenciam o
fenômeno do bullying.

Neste viés, certamente a prática do bullying deve ser plenamente


combatida, com soluções adequadas e eficazes. Entre as mais adequadas
respostas está aquela que traz a prevenção pacífica de conflitos como o
diálogo aberto entre família e escola, por outro lado, as respostas punitivas tais
como suspensão e/ou expulsão do aluno agressor ou valer-se do judiciário são
válidas, do mesmo modo, inclusive, imprescindíveis, à medida que aquelas
forem inadequadas e insuficientes.

Nesta senda, está tramitando na Comissão de Constituição, Justiça


e Cidadania, do Senado Federal o projeto de lei (PLS 236/2012) para o Novo
Código Penal.

Segundo Neemias Prudente (2014):

Uma das propostas (repressoras) que se tem apresentado (embora


gere grande polêmica) é a criminalização da prática do bullying.
Nesse toada, pelo Projeto de Novo Código Penal (PL 236/2012), o
bullying (com a denominação de ‘intimidação vexatória’) passa a ser
crime, previsto em tipo específico e autônomo.

Pelo projeto, se entende por bullying: intimidar, constranger, ameaçar,


assediar sexualmente, ofender, castigar, agredir, segregar a criança
ou o adolescente, de forma intencional e reiterada, direta ou
indiretamente, por qualquer meio (inclusive pela internet -
cyberbullying), valendo-se de pretensa situação de superioridade e
causando sofrimento físico, psicológico ou dano patrimonial. A
conduta é punida com prisão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e depende
de representação (da vítima/representante legal) para que se deflagre
a ação penal (art. 148, PNCP). (PRUDENTE, 2014)

Neste ponto, se faz imperioso distinguir dois conceitos: Ato infracional e


ato de indisciplina. O ato infracional está descrito no art. 103 do ECA, in verbis
diz assim: “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal”. Desta forma, toda atitude, ato ou condução realizada por
uma criança ou adolescente prevista no Código Penal, na Lei de Contravenção
Penal, ou nas Leis penais esparsas equivale a um ato infracional, ou seja, o ato
infracional acontece quando o ato infrator se enquadrar em algum tipo de crime
ou contravenção penal.

De outra forma, o ato de indisciplina afigura-se como o descumprimento


de uma norma. Esse ato, na esfera escolar, por exemplo, necessita de previsão
no Regimento Interno da Escola e ser apresentado aos alunos da Instituição e
familiares a fim de que possa obedecer ao aspecto legal. O ato de indisciplina
normalmente é traduzido por um ato desrespeitoso ao colega, professores ou
da própria Instituição.

Insta destacar, que muitas vezes há uma linha muito tênue que
diferencia o ato infracional do ato indisciplinar na escola. Por exemplo, uma
ofensa verbal dirigida a um professor ou funcionário da escola. A depender do
contexto e do tipo de ofensa poderá ser assinalado por um simples ato
indisciplinar ou mesmo estar tipificado como ato infracional, no caso de
qualificar uma difamação ou injúria, crime previsto no Código Penal. No caso,
indicando mero ato de indisciplina, a penalidade prevista, dependerá única e
exclusivamente das normas e diretrizes fixadas pelo regimento escolar.

Da análise do estudo realizado no primeiro capítulo, pode-se inferir que


comumente, no dia a dia escolar, dois procedimentos totalmente opostos têm
sido adotados em relação às ocorrências que se encaixam no fenômeno
relatado como bullying. A primeira delas é a imensa aceitação por parte de
professores e administradores das escolas, os quais pendem por tratar esses
atos de violência como comuns ou banais e sem maior significância sendo uma
espécie de “brincadeiras próprias da infância”. De outro lado, práticas de rigor
demasiado também são usadas ao se perseguir punição com denúncia através
do boletim de ocorrência circunstanciada, via de regra na Delegacia de Polícia
das adjacências e daí encaminhados os fatos para Conselho Tutelar ou
Juizado da Infância e juventude conforme a idade quando, na verdade esses
atos de indisciplinas poderiam ser resolvidos puramente no âmbito escolar.

Desta abordagem, pode-se perceber que muitas vezes um


comportamento juvenil que deveria ser tratada como ato de indisciplina é
voltado para a esfera do ato infracional convergindo todo o enfoque do
problema para o âmbito exclusivamente punitivo. Outras vezes, o que poderia
se definir como ato infracional é abordado como simples atos de violência
comuns e apenas recorrentes. Conclui-se assim, em qualquer circunstância,
que os atores deste drama, vítimas ou agressores, devem receber uma
instrução ou diretriz com a devida assistência de políticas especializadas, a fim
de que caso a caso seja aplicado às medidas proporcionais a gravidade e
circunstância dentro do sistema de legalidade que cada caso requer.

Nesta seara, da infração isciplinar ou ato infracional merecem atenção


especial, sobretudo, na escola, onde devem ser impressos os primeiros
esforços de preferência em ações preventivas, envolvendo pais e profissionais
da educação, em uma série de ações voltadas ao combate do bullying que são
em ultima análise essenciais para que os envolvidos nesta questão possam ter
condições de se desenvolver de forma plena em um âmbito social favorável e
seguro. Neste ponto, são imprescindíveis as ações governamentais e políticas
públicas voltadas para questão social e educacional, por intermédio da
aprovação de leis e obrigatoriedade de combate ao bullying, nos quais devem
participar a sociedade de modo abrangente, sobretudo, no âmbito escolar.

Não obstante, é imperioso que se esclareça que este não é o único viés deste
problema.

Insta frisar que a prática de bullying é antes um ato intolerável e ilícito,


pois gera lesão à dignidade da pessoa humana, estando todos obrigados a
respeitar este preceito constitucional, sob sujeição de torna-se responsável nas
esferas cível e criminal.

Os atos infracionais mais corriqueiros, provenientes do bullying, são


aqueles equiparados à injúria, à calúnia, à difamação, às lesões corporais,
ameaças e prática de racismo. No entanto, podem ocorrer diferentes violências
que indicam este caso, consoante se infere do julgado do Tribunal de Justiça
da Bahia:

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS TRANCATIVO.


PACIENTE INVESTIGADO PELA SUPOSTA PRÁTICA DE ATOS
INFRACIONAIS CORRELATOS AO DELITO DE AMEAÇA (ARTIGO
147 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO) E À CONTRAVENÇÃO
PENAL DE VIAS DE FATO (ARTIGO 21 DA LEI DE
CONTRAVENCOES PENAIS). ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DAS
CONDUTAS ATRIBUÍDAS AO PACIENTE. ACOLHIMENTO. FATOS
QUE NÃO SE SUBSUMEM, POR ANALOGIA, A QUALQUER
FIGURA PENAL FORMAL E MATERIALMENTE TÍPICA.
CONTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. POSSIBILIDADE DE,
POR VIA DE EXCEÇÃO, TRANCAR-SE A AÇÃO PENAL.
PRECEDENTES. 1. Trancamento de procedimento investigativo pela
via de Habeas Corpus que é medida extraordinária, somente
admissível quando se emerge dos autos, prima facie, a atipicidade da
conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade do
investigado, a ausência de indícios a fundamentar a acusação,
independentemente de revolvimento aprofundado da matéria, bem
assim a falta de prova da materialidade delitiva e a notória deficiência
da Exordial. Precedentes. 2. Comprovação de que o Paciente, a
sedizente vítima e os adolescentes Y. M. e G. V são, desde a época
dos fatos noticiados, colegas que cursam a mesma série no
estabelecimento Sartre COC, existindo, entre eles, certa intimidade a
propiciar a realização de provocações mútuas, em tom de brincadeira,
peculiares à idade, embora não socialmente aceitáveis. Notícias de
que, antes da animosidade narrada pela vítima em suas declarações
de fls. 20/21, ela própria incitava os referidos colegas, referindo-se a
um deles como "Gaybriel", fato que, segundo aponta a Sra. Indayá
Gomes de Araújo Moura Mata, teria desencadeado a peraltice que
ensejou a instauração do procedimento investigativo em tela (fl. 20).
3. Fatos levados a conhecimento da Direção do estabelecimento de
ensino, que aplicou a penalidade de suspensão das atividades
educacionais por um dia aos discentes envolvidos nos fatos,
promoveu uma reunião com os representantes legais dos referidos
alunos e, após, conversou com os adolescentes unitária e
conjuntamente, promovendo a conciliação entre eles, tendo sido
aceitos, pela pretensa vítima, os pedidos de desculpas feitos pelos
colegas. 4. Situação fática que demonstra ausente a intenção do
Paciente e seus outros dois colegas em promover ameaça séria de
mal futuro grave e injusto, ou em violentar, fisicamente, o menor de
idade V. E. B. P, tornando-se imperioso concluir que, em verdade, a
conduta atribuída ao Paciente configura, no máximo, o fenômeno
conhecido por bullying, que corresponde a um conjunto de atitudes de
violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo,
praticado por um agressor contra uma ou mais vítimas que se
encontram impossibilitadas de se defender, visando o
constrangimento, intimidação ou humilhação. 5. Cometimento de
bullying que, em que pese figura cada vez mais reprimida também na
sociedade brasileira, não encontra correspondente tipificação penal,
de modo que as consequências advindas de sua prática repercutem
somente na seara cível, subsumindo-se em eventuais condenações a
pagamento de indenizações a título de danos físicos ou morais. 6.
Práticas correlatas ao bullying, referentes ao cometimento, em tese,
de atos infracionais análogos às infrações penais previstas no art. 147
do CPB e no art. 21 da LCP, que, além de carecerem do dolo exigido
à configuração da figura típica, não chegaram a ofender ou colocar
em perigo os bens jurídicos penalmente tutelados, quando se
constata que tanto a vítima não se sentiu amedrontada ou de
qualquer forma lesada que continuou matriculada na mesma turma do
mencionado Estabelecimento de Ensino, estando algumas das
condutas por ela relatadas, inclusive, em dissonância com as demais
versões apresentadas. Possibilidade de aplicação do princípio da
insignificância no procedimento para apuração de ato infracional
praticado por adolescente. Precedentes do STJ. ORDEM
CONHECIDA E CONCEDIDA PARA TRANCAR A INVESTIGAÇÃO
QUE TRAMITA EM DESFAVOR DO PACIENTE.

(TJ-BA - HC: 00189188620138050000 BA 0018918-


86.2013.8.05.0000, Data de Julgamento: 03/12/2013, Primeira
Câmara Criminal - Primeira Turma, Data de Publicação: 04/12/2013)

Por conseguinte, o Poder Judiciário poderá vir a responsabilizar,


igualmente, o autor da prática do bullying, o seu responsável legal e o
estabelecimento de educação a uma indenização por danos materiais, morais e
estéticos, fundamentado nos dispositivos do Código Civil de 2002.

Nos termos do artigo 186 do CC, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

E ainda, prossegue o Código Civil ao discorrer sobre a obrigação de


indenizar no parágrafo único do art. 927, assim litteris:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

O caput deste artigo se refere ao conceito de ato ilícito, que se encontra


ligado à própria noção de culpa.

Entretanto, afora o art. 927, o Código Civil de 2002 traz ainda outros
preceitos relevantes sobre este ponto. Um deles é o do art. 928 que aborda a
responsabilidade civil do incapaz, in verbis:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as


pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou
não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser


equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as
pessoas que dele dependem.

Esse artigo 928 estabelece de forma diferente ao estatuir a


responsabilidade dos incapazes pelos prejuízos que estes causarem quando
os que forem seus responsáveis não tiverem a obrigação ou não dispuserem
de meios bastantes para assumir com a indenização do dano.

Nesta seara, em observação ao art. 932 do CC/2002, em


complementariedade ao art. 928, versa sobre a responsabilidade indireta, in
verbis:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e


em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem


nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e


prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos


onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos
seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do


crime, até a concorrente quantia.

Assim, Na disposição do art. 932 do CC/2002, os pais respondem pela


conduta dos filhos menores que estiverem sob o seu poder e em sua
companhia; o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados na mesma
situação; o estabelecimento de educação por seus educandos e assim por
diante.

Nesta senda, a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul, ao reconhecer a responsabilidade civil traz a ocorrência de
dano moral decorrente da prática do bullying no âmbito escolar:

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. BULLYING NO AMBIENTE
ESCOLAR. LESÕES. DANO MORAL CARACTERIZADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. 1. O autor logrou comprovar os fatos articulados na
exordial, o postulante foi agredido no ambiente escolar, em duas
oportunidades, o que resultou em uma lesão no olho e um braço
quebrado, em evidente desrespeito a dignidade pessoal deste. 2. É
passível de ressarcimento o dano moral causado no caso em exame,
decorrente de o autor ter sido lesionado, sem que houvesse
injustamente provocado, tal medida abusiva resulta na violação ao
dever de respeitar a gama de direitos inerentes a personalidade de
cada ser humano, tais como a integridade física, a imagem, o nome e
a reputação da parte ofendida. 3. As referidas ofensas dão conta de
um fenômeno moderno denominado de bullying, no qual adolescente
se dedica a maltratar determinado colega, desqualificando-o em
redes sociais perante os demais e incitando estes a prosseguirem
com a agressão, conduta ilícita que deve ser reprimida também na
esfera civil com a devida reparação, pois é notório que este tipo de
ato vem a causar danos psíquicos na parte ofendida, levando, em
alguns casos, ao suicídio. 4. No que tange à prova do dano moral, por
se tratar de lesão imaterial, desnecessária a demonstração do
prejuízo, na medida em que possui natureza compensatória,
minimizando de forma indireta as conseqüências da conduta da parte
ré, decorrendo aquele do próprio fato. Conduta ilícita do demandado
que faz presumir os prejuízos alegados pela parte autora, é o
denominado dano moral puro. 5. O valor a ser arbitrado a título de
indenização por dano imaterial deve levar em conta o princípio da
proporcionalidade, bem como as condições da ofendida, a
capacidade econômica do ofensor, além da reprovabilidade da
conduta ilícita praticada. Por fim, há que se ter presente que o
ressarcimento do dano não se transforme em ganho desmesurado,
importando em enriquecimento ilícito. Quantum mantido. Negado
provimento aos recursos. (Apelação Cível Nº 70059883637, Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes
do Canto, Julgado em 24/09/2014)

(TJ-RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Data de Julgamento:


24/09/2014, Quinta Câmara Cível)

Outro julgado, versando, agora, acerca da prática do cyberbullying, pelo


Tribunal de Justiça dom Rio de Janeiro reconhece o direito da Autora
compensação pelos danos morais sofridos por ter sido alvo do cyberbullying,
assim litteris:

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ABALOS


PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA ESCOLAR.
BULLYING. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA.
SENTENÇA REFORMADA. CONDENAÇÃO DO COLÉGIO. VALOR
MÓDICO ATENDENDO-SE ÀS PECULIARIDADES DO CASO.
(Apelação Cível n. 2006.03.1.008331-2 – DF, j. 7/8/2008)

E numa análise clara da responsabilidade da escola, Rui Stoco


(1994)29 afirma que: “ao receber o estudante ‘menor’, confiado ao
estabelecimento de ensino da rede oficial ou da rede particular para
as atividades curriculares, de recreação, aprendizado e formação
escolar, a entidade de ensino é investida no dever de guarda e
preservação da integridade física do aluno, com a obrigação de
empregar a mais diligente vigilância, para prevenir e evitar qualquer
ofensa ou dano aos seus pupilos, que possam resultar do convívio
escolar”. Desse modo, “responderá no plano reparatório se, durante a
permanência no interior da escola o aluno sofrer violência física por
inconsiderada atitude do colega, do professor ou de terceiros, ou,
ainda, de qualquer atitude comissiva ou omissiva da direção do
estabelecimento, se lhe sobrevierem lesões que exijam reparação e
emerge daí uma ação ou omissão" (p. 321).
Da mesma maneira, a prática do cyberbullying, uma das
modalidade mais nocivas do fenômeno em razão da rapidez com que
se difunde o conteúdo eletrônico na Internet, tem sido alvo de
análises e decisões judiciais, consoante se vislumbra no acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

Cuida-se de ação indenizatória através da qual pretende a reparação


dos danos morais sofridos decorrentes da veiculação de seu nome e
de seu pai no sítio de busca mantido pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro, muito embora fosse vetada a identificação
de partes de processo em tramite sob o segredo de justiça. Afirma
que em virtude de desavenças que seu pai possuía no meio
eletrônico em virtude de opiniões contrárias às pretensões de
militantes da causa homossexual, tais como o casamento gay e a lei
anti-homofobia, veio a ser vítima de cyberbullying, que consiste em se
utilizar a tecnologia da informação para pratica de atos hostis,
deliberados e repetidos, contra outro ou outros indivíduos da rede,
sendo a Autora atingida em virtude dos mesmos terem tido acesso às
referidas informações sigilosas, passando a ter conhecimento da
existência de ação de alimentos que movia em face de seu pai.
Sentença julgando improcedente o pedido, entendendo, em resumo,
que "a divulgação limitou-se ao nome das partes e da distribuição da
demanda, não havendo qualquer vazamento de informações acerca
dos atos processuais em si." Recurso manejado pela Autora em que
pretende a reforma da sentença, reiterando os argumentos já
expostos em sua petição inicial. Contrarrazões pela manutenção da
sentença. Promoção do MP pelo conhecimento. É O RELATÓRIO,
passo ao VOTO: Ementa: INDENIZAÇÃO. Manifesto erro cartorário
ao permitir a visualização por terceiros da existência de processo em
trâmite sob o segredo de justiça e que deu azo à veiculação em mídia
social, expondo a intimidade da Autora. Responsabilidade Civil
configurada. Ocorrência de dano moral. Fixação no limite do razoável.
Conhecimento e provimento do Recurso. VOTO Dispõe o art. 37, § 6º
da Constituição da República que as pessoas jurídicas de direito
público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa. Tal dispositivo consagra a
teoria do risco administrativo, surgindo a obrigação de indenizar o
dano causado pelo ato lesivo e injusto à vítima pela Administração. A
Constituição vigente adotou a teoria da responsabilidade objetiva da
Administração, sob a modalidade do risco administrativo, embora não
chegue ao extremo do risco integral. Por esse princípio, para que
exista do Estado a reparação do dano apenas se deve provar ter sido
ele causado no exercício da função pública, ou seja, a prova do nexo
causal entre a conduta e o dano. A reparação prescinde da prova de
culpa ou dolo por parte do causador, depende exclusivamente de
estar este no exercício da atividade pública. No caso em análise, vê-
se não haver controvérsia quanto aos fatos que ensejaram a
demanda, não sendo negada pelo Estado o fato de ter sido permitido
o acesso a informação segundo a qual existia pendente ação de
alimentos ajuizada pela Autora em face de seu pai, fato este que
chegou ao conhecimento de terceiros, sendo utilizado pelos mesmos
em ataques direcionados aos mesmos através de mídia social
(Orkut). No entanto, ao contrário do que constou na sentença de
improcedência proferida - e na peça de defesa - o segredo de justiça
não abarca apenas os movimentos processuais, mas também o nome
das próprias partes, como se vê pelo teor do artigo 196, § 1º, da
Consolidação Normativa da Corregedoria Geral da Justiça. Confira-
se: "Art. 196. Em todas as publicações efetuadas no DJERJ deverão
constar os nomes completos das partes e de seus advogados, e
destes o número da inscrição na OAB. § 1º. As decisões em
processos que tramitam em segredo de justiça terão seu conteúdo
publicado de forma que os nomes dos envolvidos não possam ser
identificados. § 2º. A responsabilidade pelo conteúdo das matérias
remetidas à publicação no DJERJ é da unidade que as produziu,
devendo encaminhá-las no formato padrão, por meio do sistema
corporativo SPEDONET." Evidenciado, assim, a ocorrência de ilícito.
O nexo causal entre a conduta do requerido e o dano suportado pela
Autora resta demonstrado na medida em que em razão da indevida
veiculação do nome das partes em consulta processual, terceiros se
valeram de tal informação, impondo uma série de constrangimentos à
Autora, como dão conta os documentos acostados aos autos. Se o
requerido tivesse agido cumprindo o dever de cuidado ditado pela
legislação em vigor, o fato não teria ocorrido como ocorreu. Assim,
atento as consequências que o evento trouxe à parte Autora, sem
olvidar da razoabilidade que deve nortear o arbitramento das
compensações por dano moral, entendo razoável a fixação do valor
de R$ 5.000,00. Ante o exposto, VOTO pelo CONHECIMENTO DO
RECURSO E PROVIMENTO do recurso, REFORMANDO A
SENTENÇA PROFERIDA, para reconhecer o direito da Autora ao
pagamento do valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de
compensação pelos danos morais sofridos, devendo tal montante ser
acrescido de juros legais de mora desde a ocorrência do dano, na
forma da súmula 54, do STJ, monetariamente corrigido desde a
presente sessão. Sem custas e honorários ante o provimento do
recurso. Comunique-se e I.

(TJ-RJ - RI: 00694247320138190001 RJ 0069424-73.2013.8.19.0001,


Relator: JOAO FELIPE NUNES FERREIRA MOURAO, Primeira
Turma Recursal Fazendária, Data de Publicação: 06/12/2013 11:17)

Perante o contexto jurídico supramencionado, pode-se inferir que não só


os pais respondem pela conduta dos filhos menores que estiverem sob o seu
poder e em sua companhia como o tutor e o curador, pelos pupilos e
curatelados na mesma forma bem como o estabelecimento de ensino por seus
educandos por ter obrigação de aplicar a mais diligente vigilância, a fim de
prevenir e evitar qualquer ofensa ou dano aos outros por terem em última
análise a responsabilidade civil sobre os mesmos.

Assim no caso do estabelecimento de ensino, se faz necessário


desenvolver regras e normas claras e democraticamente definidas de combate
aos excessos por parte dos alunos no caso da infração disciplinar ou ato
infracional no sentido de observá-las e coibir tais práticas, chamando a família
e a comunidade à sua responsabilidade na tentativa de mediação entre os
envolvidos antes da judicialização do conflito.
De outra forma , é de responsabilidade dos profissionais que atuam no
sistema de garantias como Promotores de Justiça, Juizes de Direito,
Advogados, Delegados de Polícia, entre outros tomando conhecimento da
prática do bullying não só por meio do boletim de ocorrência circunstanciada,
mas, sobretudo, por representação de membro do Conselho Tutelar e, até
mesmo, por comunicação da direção da escola, desempenhar papel
fundamental no reconhecimento da questão para agindo preventivamente,
evitar as consequências do fenômeno, tais como abandono escolar e lesões
corporais, entre outras consequencias nefastas que este fenômeno pode trazer
ao desenvolvimento humano.

Sob este ângulo, insta destacar que a CRFB de 1988 de acordo com o
art. 127, incumbe ao Ministério Público a proteção dos interesses sociais e
individuais indisponíveis. Trata-se de Instituição constitucionalmente incumbida
da defesa dos interesses da sociedade, sejam eles coletivos, difusos ou
individuais indisponíveis, e que, pelo texto estatutário, assumiu obrigações que
lhe colocam na qualidade de verdadeiro curador da infância e adolescência.

Neste viés, são importantes ações como a do Governo do Estado de


Pernambuco que desde 2004 autorizou a instituição do Projeto Escola Legal –
Construindo Cidadanias, Tecendo Solidariedades, por meio de convenio com o
Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e o Tribunal de Justiça do Estado
(TJPE) e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas do
Estado de estudantes de Direito das universidades Federal e Católica de
Pernambuco buscando implementar uma política educacional que tem como
eixo norteador a educação para cidadania e o respeito integral aos direitos
humanos:

Preocupado com o crescente número de denúncias de bullying nas escolas, o Governo do


Estado lançou no final da tarde da última quarta-feira (26), no Palácio do Campo das Princesas,
o programa Escola Legal, ao firmar convenio com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE)
e o Tribunal de Justiça do Estado (TJPE). O programa consiste num sistema de mediação e
conciliação de conflitos nas escolas estaduais, com a participação de estudantes de Direito das
universidades Federal e Católica de Pernambuco. O objetivo é evitar a prática de violência
entre estudantes.A partir da implantação do Escola Legal, as unidades da rede estadual de
ensino passarão a contar com comitês formados por professores, pais e alunos e Conselho
Tutelar, que serão responsáveis por solucionar conflitos dentro das unidades educacionais. Os
casos mais graves serão encaminhados para a Gerência de Polícia da Criança e do
Adolescente (GPCA), obedecendo os procedimentos legais. “Este é um programa que tem tudo
para dar certo porque nasce de mais uma parceria entre o Executivo, o Judiciário e o Ministério
Público de Pernambuco, em defesa da sociedade”, observou Paulo Varejão. Para ele, os
comitês permanentes nas escolas vão mostrar que a presença da Justiça reduzirá
sensivelmente a prática de bullying.(http://mp-pe.jusbrasil.com.br/noticias/2208649/bullying-leva-
instituicoes-a-firmarem-convenio-contra-violencia).

Nesse sentido, são essenciais mais e mais ações governamentais que


estabeleçam, por meio de leis, a obrigatoriedade de ações de combate
ao bullying. A necessidade de aprovação de leis que coibam a prática do
bullying. Discutir e conscientizar professores, diretores, estudantes, pais
e comunidades sobre os danos que as agressões podem causar em
todos os envolvidos em casos de bullying e para saberem identificar e
abordar a temática de forma eficiente e preventiva. Só assim, os
envolvidos nesta quetão possam se desenvolver na sua plenitude e viver
em sociedade em respeito a dignidade da pessoa humana.
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fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 6ª ed.
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http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constituicao-
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_______,2013. Bullying e sua tipificação no projeto de novo código penal
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2012. Acesso em 14 de novembro de 2014.
________ Apelação Cível: Tribunal de Justiça do Rio Grande do sul.
Disponível em: http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/142660826/apelacao-
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novembro de 2014.•
________ Habeas Corpus. Tribunal de Justiça da Bahia. Disponível em:
http://tjba.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/115756041/habeas-corpus-hc-
189188620138050000-ba-0018918-8620138050000. Acesso em 17 de
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_______ Recurso Inominado. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.


Disponível em: http://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/134900948/recurso-
inominado-ri-694247320138190001-rj-0069424-7320138190001.Acesso em 17
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_______,2010.Bullying não é brincadeira. Ministério Público de Santa


Carina. Disponível em http://www.mpsc.mp.br/portal/servicos/campanhas.aspx.
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_______,2010. Bullying leva instituições a firmarem convênio contra


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