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UNISUAM

Psicologia Jurídica

Ana Marcela Terra


Foucault (1926 - 1984 - França)

College de France (1971 até 1984)

Conferências Livres

Curso “Em defesa da Sociedade”


Interesses de estudo
Pesquisas sobre a guerra - RELAÇÕES DE GUERRA

Mecanismos de poder

Efeitos do poder

O COMO DO PODER: Poder como um exercício


Poder
PODER NÃO É POSSE

Poder produz e é produzido

Triângulo poder - direito - verdade

“Qual é esse tipo de poder capaz de produzir discursos de


verdade que são, numa sociedade como a nossa, dotados de
efeitos tao potentes?” (p. 28)
“De um lado, as regras de direito que delimitam formalmente
o poder, de outro lado, a outra extremidade, o outro limite,
seriam os efeitos de verdade que esse poder produz, que esse
poder conduz e que, por sua vez, reconduzem esse poder.”

O DIREITO JUSTIFICA O PODER

O DIREITO DELIMITA O PODER

“digo o direito, não penso somente na lei, mas no conjunto dos


aparelhos, instituições, regulamentos, que aplicam o direito)
DIREITO SURGE PELO PROBLEMA DA SOBERANIA:

“O discurso e a técnica do direito tiveram essencialmente


como função dissolver, no interior do poder, o fato da
dominação, para fazer que aparecessem no lugar dessa
dominação, que se queria reduzir ou mascarar, duas coisas: de
urn lado, os direitos legitimos da soberania, do outro, a
obrigação legal da obediência. (p.31)”
Poder e verdade
Não há exercício de poder sem o discurso da verdade

Economia dos discurso de verdade

Produção de verdade similar à produção de riqueza

Riqueza depende da produção de verdade

Somos submetidos à verdade, “discurso verdadeiro” - este veicula,


estimula os efeitos de poder
A RELAÇÃO ENTRE REGRAS DE DIREITO E PODER
Poder Régio
Na Idade Média foi pelo poder do rei que se criaram as leis, e
todo o edifício jurídico. Para manter e justificar esse poder.

Sistema Jurídico Ocidental tem origem no poder régio

Para dizer que justamente por ser delimitado, era legítimo e


também que o poder era adequado a um direito universal
Direito e Dominação
O papel essencial da teoria do direito, desde a Idade Média, é
o de fixar a legitimidade do poder

Foucault quer demonstrar a dominação e como o direito é


instrumento dessa dominação

O Direito e suas instituições aplicam a relação de dominação

Múltiplas formas de dominação que se exercem na sociedade,


em vários níveis
Dominação e sujeição

Não analisar o centro, mas suas extremidades, o local onde


ocorrem (instrução)

Não se preocupa com a “intenção” do poder, mas onde e como


é exercido

Em vez de soberania e obediência, dominação e sujeição


PODER - SOBERANIA

DOMINAÇÃO - SUJEIÇÃO
Poder como exercício
Não tomar o poder como fenômeno de dominação homogêneo e
maciço (terceira instrução)

O poder deve ser analisado como uma coisa que circula, ou melhor,
como uma coisa que só funciona em cadeia.

O poder funciona.

O poder se exerce em rede e, nessa rede, não só os indivíduos


circulam, mas mesmo sempre em posição de ser submetidos a esse
poder e também de exercê-Io. (P. 35)
“O indivíduo é um efeito do poder e, ao mesmo tempo, na
mesma medida em que é um efeito seu, é seu intermediário: o
poder transita pelo indivíduo que ele constituiu.” (P. 36)
Não é a dominação global que se pluraliza e repercute até
embaixo. Creio que é preciso examinar o modo como, nos
níveis mais baixos, os fenômenos, as técnicas, os
procedimentos de poder atuam; mostrar como estes
procedimentos, é claro, se deslocam, se estendem, se
modificam, como eles são investidos, anexados por fenômenos
globais e como poderes mais gerais ou lucros de economia
podem introduzir-se no jogo dessas tecnologias, ao mesmo
tempo relativamente autônomas e infinitesimais, de poder.
(P.36)
COMO? Mecânicas de Poder
Séculos XVII e XVlII - nova mecânica de poder

Incidência corpos x terra e produto

“É um mecanismo de poder que permite extrair dos corpos


tempo e trabalho, mais do que bens e riqueza.” (P.42)

Vigilância

Poder com mínimo de dispêndio e máximo de eficácia

Burguesia - Capitalismo.

Poder Disciplinar
Poder-saber
O poder quando se exerce em seus mecanismos finos não
pode fazê-lo sem um saber - formação, organização,
circulação
Poder Disciplinar
“Um direito da soberania e uma mecânica da disciplina: é entre esses dois
limites, creio eu, que se pratica o exercício do poder(...) O discurso da
disciplina é alheio ao da lei; é alheio ao da regra como efeito da vontade
soberana. Portanto, as disciplinas vão trazer um discurso que será o da
regra; não o da regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra
natural, isto é, da norma. Elas definirão um código que será aquele, não da
lei, mas da normalização, e elas se referirão necessariamente a um
horizonte teórico que não será o edificio do direito, mas o campo das
ciências humanas. E sua jurisprudência, para essas disciplinas, será a de
um saber clínico. (P. 45)
VIGIAR E PUNIR
Ferramentas do poder nas instituições:

OS CORPOS DÓCEIS

A arte das distribuições

O controle da atividade

A composição das forças


VIGIAR E PUNIR

- SUPLÍCIOS COMO UMA PUNIÇÃO NO CORPO EM


FORMA DE ESPETÁCULO

“O suplício de exposição do condenado foi mantido na França


até 1831, apesar das críticas violentas — “cena repugnante” -
ela é finalmente abolida em abril de 1848”

- A PRISÃO COMO INSTITUIÇÃO DISCIPLINADORA


COMO FUNCIONA?

3 dispositivos do poder:

A vigilância hierárquica

A sanção normalizadora

O exame
VIGILÂNCIA HIERÁRQUICA

O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue


pelo jogo do olhar;

um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a


efeitos de poder,

e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente


visíveis aqueles sobre quem se aplicam.
Tais instituições funcionam como “observatórios” da
multiplicidade humana

com pequenas técnicas das vigilâncias múltiplas e


entrecruzadas, dos olhares que devem ver sem ser vistos;

técnicas para sujeitá-lo e processos para utilizá-lo.


Visibilidade geral.

Encaixamento espacial das vigilâncias hierarquizadas: modelo


do acampamento.

Incide sobre o urbanismo, a construção das cidades operárias,


dos hospitais, dos asilos, das prisões, das casas de educação;

FUNCIONA COMO UMA CÂMARA ESCURA


A ARQUITETURA DAS PRISÕES É PENSADA PARA...

Uma arquitetura que seria um operador para a transformação


dos indivíduos:

- agir sobre aquele que abriga;

- dar domínio sobre seu comportamento,

- reconduzir até eles os efeitos do poder, oferecê-los a um


conhecimento, modificá-los.
HOSPITAL - ESCOLA - PRISÃO:

VIGIAR PARA CONTROLAR

OLHAR TODAS AS COISAS PARA SABER TUDO QUE DEVE


SER SABIDO

PODER HOMOGÊNEO E CONTÍNUO: está em toda parte e


sempre alerta

O PODER SE EXERCE COMO UMA MÁQUINA


À medida que o aparelho de produção se torna mais
importante e mais complexo, à medida que aumentam o
número de operários e a divisão do trabalho, as tarefas de
controle se fazem mais necessárias e mais difíceis.
SANÇÃO NORMALIZADORA

Sanção - castigo - punição

a tudo que foge da lei


SANÇÃO NORMALIZADORA
Na essência de todos os sistemas disciplinares, funciona um pequeno
mecanismo penal:

- É beneficiado por uma espécie de privilégio de justiça;


- com leis próprias,
- delitos especificados;
- formas particulares de sanção,
- suas instâncias de julgamento.

MECANISMO PENAL : JUSTIÇA - LEI - DELITO - SANÇÃO - JULGAMENTO


DISCIPLINA: reprimem um conjunto de
comportamentos que escapava aos grandes sistemas de
castigo por sua relativa indiferença.

Na oficina, na escola, no exército funciona como repressora toda uma


micropenalidade do tempo (atrasos, ausências, interrupções das tarefas), da
atividade (desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria,
desobediência), dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes
“incorretas”, gestos não conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia,
indecência).
PUNIÇÕES
Ao mesmo tempo é utilizada, a título de punição, toda uma série de processos
sutis, que vão do castigo físico leve a privações ligeiras e a pequenas
humilhações.

TODA CONDUTA TORNA-SE PENALIZÁVEL.

O que pertence à penalidade disciplinar é a tudo o que está inadequado à regra,


tudo o que se afasta dela, os desvios.

A disciplina traz consigo uma maneira específica de punir, e que é apenas um


modelo reduzido do tribunal.
A duração de um aprendizado, o tempo de um exercício, o nível de aptidão têm
por referência uma regularidade, que é também uma regra.

O castigo disciplinar tem a função de reduzir os desvios.

Deve portanto ser essencialmente corretivo.

Castigar é exercitar (o poder)


Gratificação-sanção:

O professor

deve evitar, tanto quanto possível, usar castigos; ao contrário,


deve procurar tornar as recompensas mais freqüentes que as
penas, sendo os preguiçosos mais incitados pelo desejo de ser
recompensados como os diligentes que pelo receio dos
castigos; por isso será muito proveitoso, quando o mestre for
obrigado a usar de castigo, que ele ganhe, se puder, o coração
da criança, antes de aplicar-lhe o castigo.

.
Qualificação dos comportamentos:

- em vez da simples separação do proibido, como é feito


pela justiça penal, temos uma distribuição entre pólo
positivo e pólo negativo;
- dois valores opostos do bem e do mal;

todo o comportamento cai no campo das boas e das más


notas, dos bons e dos maus pontos.
CLASSIFICAÇÃO EM GRAUS:

- marcar os desvios,
- hierarquizar as qualidades, as competências e as
aptidões;
- mas também castigar e recompensar.

“A disciplina recompensa unicamente pelo jogo das


promoções que permitem hierarquias e lugares; pune
rebaixando e degradando.”
“relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos
singulares a um conjunto, que é ao mesmo tempo campo de
comparação, espaço de diferenciação e princípio de uma regra
a seguir.”

REGRA - NORMA

“A penalidade perpétua que atravessa todos os pontos e


controla todos os instantes das instituições disciplinares
compara, diferencia, hierarquiza, homogeniza, exclui. Em uma
palavra, ela normaliza.”
O EXAME
É um dispositivo da disciplina

Combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção


que normaliza.

VIGIA - HIERARQUIZA - CONTROLA

É altamente ritualizado.

HOSPITAL - ESCOLA
E do mesmo modo como o processo do
exame hospitalar permitiu a liberação
epistemológica da medicina, a era da
escola “examinatória” marcou o início de
uma pedagogia que funciona como
ciência.
EXAME: VERDADE - SABER E
PODER
A superposição das relações de poder e das de saber assume
no exame todo o seu brilho visível.

Liga um certo tipo de formação de saber a uma certa forma de


exercício do poder.

O exame inverte a economia da visibilidade no exercício do


poder: os súditos que devem ser vistos.
Os “súditos” são aí oferecidos como “objetos” à observação de
um poder que só se manifesta pelo olhar.

O exame vale como cerimônia de objetivação.


O exame faz também a individualidade entrar num campo
documentário:

Seu resultado é um arquivo inteiro com detalhes e minúcias


que se constitui ao nível dos corpos e dos dias.

Sistema de registro intenso e de acumulação documentária.


- códigos da individualidade disciplinar
- transcrever os traços individuais estabelecidos pelo
- exame, homogeneizando-os, a partir do código;

- “formalização” do individual dentro de relações do poder

(indivíduo e não mais a espécie)

- surgimento da noção de população


O exame, cercado de todas as suas técnicas documentárias,
faz de cada indivíduo um “caso”;

O exame como fixação ao mesmo tempo ritual e “científica”


das diferenças individuais;

É quem fixa em forma de verdade

É ele que, combinando vigilância hierárquica e sanção


normalizadora, realiza as grandes funções disciplinares de
repartição e classificação,

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