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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“Júlio de Mesquita Filho”


Geografia

Acadêmico:

Luís Guilherme Pereira da Silva

Geografia – 2° Semestre 2019


Profa. Dra. Fabiana Lopes da Cunha
Ourinhos – 28/08/2019
No filme “1984” de George Orwell, o autor cria um mundo no qual é comandado
por um governo conhecido como o “Grande Irmão”, este adota um sistema totalitário de
poder que por meio de um partido regido por trabalhadores ou “irmãos” atuam e ditam o
funcionamento desta sociedade, como por exemplo o controle sobre os meios de
comunicação com o objetivo de manipular informações que sejam benéficas ao governo,
ou na restrição das particularidades do indivíduo (proibido fazer sexo para membros do
partido), a obrigação de realizar exercícios diários, horários definidos das refeições para
dormir/acordar, o uso de câmeras e televisões em todos os ambientes para vigiar as
atividades que estão sendo realizadas, a proibição de livros/conteúdos que são
considerados impróprios.

O referente trabalho tem como objetivo buscar correlações entre o filme e os


trabalhos de Michel Foucault em Vigiar e Punir e de de Friecrich Nietzsche em Assim
falou Zaratustra.

Ao longo de todo o filme o continente da Oceania encontra-se em guerra


permanente com os países da Lestásia ou da Eurásia, é sob este plano de fundo que toda
a população é conduzida para realizar atividades que ajudem a sua coletividade a
vencerem estes inimigos, ou seja, neste caso podemos notar que o governo usa a guerra
como um pretexto para impor as suas vontades.

No capítulo “O Panoptismo” há um trecho do livro Vigiar e Punir de Michel


Foucault, que nos diz o seguinte:

“Duas maneiras de exercer poder sobre os homens, de


controlar suas relações, de desmanchar suas perigosas
misturas. A cidade pestilenta, atravessa inteira pela
hierarquia, pela vigilância, pelo olhar, pela
documentação, a cidade imobilizada no funcionamento
de um poder extensivo que age de maneira diversa sobre
todos os corpos individuais – é a utopia da cidade
perfeitamente governada”. (Foucault, 1999)

Neste período exposto acima, a Europa passa pelo período da Peste Negra, e por
ser uma doença que está causando a morte de milhares de pessoas, os governos da época
realizaram quarentenas e buscaram controlar toda a população com sistema rígidos de
vigia e de vigilância sanitária, ou seja, mobilizaram toda a cidade no em torno de um
objetivo, usando do poder para tomaram as medidas que acharam necessárias.
Em todo os ambientes há a presença de um aparelho televisivo que exibe
informações, notícias e publicidade imparciais, acerca do governo vigente, no qual atua
por meio de propagandas manipuladas com o objetivo exclusivo de favorecê-los, mas
além deste intuito, estes aparelhos atuam como câmeras que monitoram as atividades da
população, ou seja, 24 horas eles estão sendo observados.

Foucault traz um outro elemento além da câmera que pode funcionar como uma
ferramenta para a vigia de grande número de pessoas, ele nos lembra do Panóptico, um
modelo de penitenciária ideal criada pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham, que
permite uma única pessoa vigiar uma grande quantidade de prisioneiros.

Esta vigilância permanente tem influências poderosas sobre os indivíduos, já que


esta é uma outra forma de demonstrar e impor poder, daí o efeito mais importante do
panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanentemente de visibilidade
que assegura o funcionamento automático de poder (Foucault, 1999). A visibilidade para
ele é uma armadilha.

O uso e manutenção da disciplina é também uma outra forma de controle sobre o


indivíduo, isto fica bem claro é uma cena do filme, na qual o personagem principal tem
sua atenção por uma mulher que está na chamada da televisão, por não estar realizando
os seus exercícios físicos diários da maneira correta, já que alguém com sua idade e saúde
teria condições de realizá-los facilmente, além de usar o argumento que há vários de seus
irmãos lutando na guerra, sendo que deveria honrá-los.

O exercício físico em si é uma disciplina sendo esta uma técnica para assegurar a
ordenação das multiplicidades humanas, que o Grande Irmão se utiliza, portanto:

“Mas o que é próprio das disciplinas, é que elas tentam


definir em relação as multiplicidades uma tática de poder
que responde a três critérios: tornar o exercício do poder
o menos custoso possível (economicamente, pela parca
despesa que acarreta; politicamente, por sua discrição,
sua fraca exteriorização, sua relativa invisibilidade, o
pouco de resistência que suscita); fazer com que os
efeitos desse poder social sejam levados a seu máximo de
intensidade e estendidos tão longe quanto possível, sem
fracasso, nem lacuna; ligar enfim esse crescimento
econômico do poder e o rendimento dos aparelhos no
interior dos quais se exerce (sejam os aparelhos
pedagógicos, militares, industriais, médicos) em suma
fazer crescer ao mesmo tempo a docilidade e a utilidade
de todos os elementos do sistema”. (Foucault, 1999)

Podemos notar como esta prática adotada pelo governo, tem baixíssimo custo, e o
seu poder é levado ao seu máximo de intensidade, por ter a possibilidade e o controle de
vigiar a população dentro de suas próprias casas, por fim consegue ligar-se a outro
aparelho como o militar. Desta forma podemos deixar mais claro o que significa esta
disciplina e como ela atua por meio das multiplicidades por este trecho:

“Em uma palavra, as disciplinas são o conjunto das


minúsculas invenções técnicas que permitiram fazer
crescer a extensão útil das multiplicidades fazendo
diminuir os inconvenientes do poder que, justamente para
torná-las úteis, deve regê-las. Uma multiplicidade, seja
uma oficina ou uma nação, um exército ou uma escola,
atinge o limiar da disciplina quando a relação de uma
para com a outra torna-se favorável”. (Foucault, 1999)

Portanto estas são todas práticas que não influem dor direta ao corpo, mas
trabalham com o psicológico, os hábitos, o modo que o indivíduo vive, imprimindo uma
pressão sobre ele, que na qual modifica e influi diretamente, sendo esta maneira capaz de
atuar durante vários anos quando pensamos no indivíduo e em centenas de anos quando
delimitamos a sociedade.

“... o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo


corpo produtivo e corpo submisso. Essa sujeição não é
obtida só pelos instrumentos da violência ou da
ideologia; pode ser bem direta, física, usar a força contra
a força, agir sobre elementos materiais sem, no entanto,
ser violenta; pode ser calculada, organizada,
tecnicamente pensada, pode ser sutil, não fazer uso de
armas nem do terror, e, no entanto, continuar a ser de
ordem física. “ (Foucault, 1999)

Nesta sociedade de 1984 podemos notar que as técnicas de punição sem utilização
da dor física são empregadas em toda a massa em formas de leis, que no final são
“medidas de segurança” que o “Grande Irmão” se utiliza para ter o controle e neutralizar
qualquer tipo de revolta sobre ele, contudo quando ele identifica alguns elementos que
não estão agindo de acordo com o padrão, eles partem para medidas extremas e o uso da
tortura será, portanto, praticado até suprimirem esta ameaça.

Nota-se que o indivíduo sofre tamanha tortura física e psicológica que ele se submete a
acreditar em qualquer coisa que o torturado possa dizer que seja a verdade, como o embate
entre o torturador e Winston (o torturado) sobre se a equação de dois mais dois teria o resultado
o valor quatro ou cinco. Não importa qual fosse a resposta de Winston para esta pergunta, o
importante era ele compreender que o resultado desta equação será aquilo que o “Grande
Irmão” desejar, ou seja, o governo é quem fornece e expõe aquilo que deve ser aceito ou não.

Outro momento que demonstra este embate é quando durante a tortura eles discutem
com base em um trecho de “Assim falou Zaratustra” de Friedrich Nietzsche, sobre o último
homem. O torturador indaga Winston sobre o que ele realmente está pensando, e assim ele diz
que este sistema nunca irá vencer, que uma hora eles serão derrotados por alguém, contudo o
torturador apresenta que isso não irá acontecer, pois pessoas como Winston são o último
homem e o que o “Grande Irmão” está realizando, dá-se a entender que é a formulação do
super-homem.

O que isto quer dizer? Como o “Grande Irmão” não é uma pessoa e sim uma ideia, um
pensamento, uma ideologia, eles estão trabalhando para construir uma nova sociedade na qual
será composta pelo super-homem. Para criar este novo mundo, pessoas como o Winston que
são consideras fracas, atrasadas ou fora deste novo ideal serão descartadas e assim a
humanidade poderá seguir e atingir cada vez mais os seus potenciais por meio deste super-
homem.

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