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Vigiar e Punir – Michel Foucault

Vigiar e punir: Nascimento da prisão ou como é chamado no seu segundo título História da
violência nas prisões. 1975.

Foucault faz um histórico da pena enquanto meio de coerção e suplício e o que impulsiona as
mudanças nos sistemas penais – e em outras instituições – quarteis, hospitais, reformatórios,
conventos.

4 partes

Suplício – Punição – Disciplina - Prisão

Suplício: formas de punição antigas – tortura violenta do condenado

Michel Foucault se refere a dois tempos históricos

- 1 - Século XVIII – Robert-François Damiens - (9 de janeiro de 1715 - 28 março de 1757) foi um


camponês francês acusado de atentar contra a vida do rei Luís XV em 1757, o que culminou
numa notória e controversa execução pública. Damiens foi a última pessoa a ser executada na
França de acordo com métodos que incluíam tortura e esquartejamento. O interrogatório não
teve sucesso. Ele foi condenado por Parricídio (um atentado contra o pai - Luís XV se considerava
o pai de todos os franceses - e sentenciado a afogamento e esquartejamento por cavalos na
Praça de Grève.

- 2 - Século XIX – já na disciplina dos jovens detentos de Paris - controle de tudo, do tempo, do
corpo, do cabelo, da refeição, do trabalho, da escola, do sono, da roupa, do comportamento.
Utilização do tempo

Há uma nova ordem da economia do castigo – não mais a dor física define a pena, mas a
suspenção de direitos, de liberdade. Há uma nova forma de poder.

O poder se tornou mais regular. Não se desmembram corpos em praça pública. A punição agora
passa a atingir a vida do criminoso, não mais o corpo. O sofrimento do corpo, das sensações
insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos.

Se a justiça tiver que tocar o corpo, se fará seguindo regras rígidas e visando um objetivo mais
elevado. Técnicos substituem o carrasco. Entram médicos, psicólogos, psiquiatras, educadores
para o garantir o corpo.

Análise estrutural do poder no qual todos estão envolvidos, tanto o criminoso quanto o juiz.
Todos se submetem à trama do poder.

A ostentação do suplício corporal servia para um refletir da sociedade. Na detenção do corpo, o


delinquente reflete. Foucault faz uma reconstrução histórica dos pormenores que originavam o
processo penal e as confissões desde a Idade Média.

No suplício o culpado é o arauto de sua própria condenação, passeia com o cartaz da sentença,
confissão pública. O objetivo é prender o suplício no próprio crime, a execução faz lembrar o
própria crime. A lentidão do suplício estabelece um ponto de junção do julgamento com deus.
O castigo serve ao público, ao reino. O povo é o personagem principal.
A segunda parte da obra de Foucault versa sobre a nova maneira de punição e a humanização
propagada pelos protestos contra os suplícios.

O suplício tinha se tornara intolerável, revoltante pelo povo, visto que ele revela tirania, excesso,
a sede de vingança e um cruel prazer de punir.

Influenciado pelos ideais iluministas a punição vem ser do Estado, impessoal e não mais pelo
ideal de vingança.

A punição segue regras técnicas e respeita o ser humano como forma jurídica e moral.

1 – Regra da quantidade mínima: a pena deve ter efeito preventivo e deve causar ao culpado
um dano maior do que a vantagem que o culpado adquiriu com o crime.

2 – Regra da idealidade suficiente: se o crime é vantajoso, a eficácia da pena está na


desvantagem que se espera dela. Não é mais dor. Ela utiliza a representação de força na
imaginação criminoso.

3 – Regra dos efeitos laterais: a pena deve ter efeitos mais intensos nos que não cometeram o
crime. Deve servir de exemplo, produzindo um efeito de prevenção geral.

4 – Regra da certeza perfeita: é preciso deixar evidente que a ideia de cada crime esteja
associada à ideia de certeza de um determinado castigo, com todas as desvantagens que dele
resulta.

5 – Regra da verdade comum: abandono da tortura e violência para conseguir confissão. A


verificação do crime deve seguir meios lógicos e criteriosos de obtenção da verdade.

6 – Regra da especificação ideal: a criação de um código explícito que defina o crime e estipule
a pena. Cada tipo de infração deve estar claramente classificado. A lei não pode ser diferente
para cada um que cometa um delito a partir de sua classe social.

Segunda parte – Punição

A mitigação das penas. A punição deve corresponder exatamente ao delito. O medo do castigo
deve afastar as vantagens do crime. A pena deve diminuir o desejo que torna o crime atraente.
A pena deve ser temível.

A punição deve durar um certo tempo servindo para reformar o detento. O tempo é o grande
operador da pena.

O discurso é o discurso da lei e não a publicidade dos crimes do autor. Ele não publicizará seus
crimes. O trabalho conta neste tempo. As oficinas devem ser abertas a todos os detentos.

Terceira parte – Os corpos dóceis

A disciplina nas instituições totais ou semi-totais fabrica corpos dóceis, corpos submissos e
exercitados. Dissocia o poder do corpo e aumenta as forças do corpo em termos econômicos de
utilidade e diminui essas mesmas forças em termos políticos de obediência.

Disciplinar o corpo para que ele respeite a organização da qual emana o poder. A utilização do
tempo é o que dita a harmonia entre todos os elementos disciplinadores. A vigilância sistemática
organiza a disciplina. O adestramento dessa massa confusa deve ser criterioso.
O panoptismo

Foucault analisa a utilidade da vigilância em tempo de peste, nas ruas, a catalogação dos
infectados e seus endereços, o número de mortos.

O panoptismo é uma arquitetura prisional desenhada em 1790, uma instituição disciplinar ideal,
na qual os internos seriam vigiados, observados e controlados constantemente

O panóptico de Bentham é uma construção em anel, no centro uma torre. Todas as celas têm
janelas abertas para a torre. Basta colocar o vigia na torre. Ao detento, basta crer que há alguém
que o vigia, mesmo que não tenha ninguém.

Foucault critica esse modelo de vigilância. A periferia das cidades são as celas do panóptico.

Quarta parte – A prisão

A prisão é um sistema muito mais amplo, abrange instituições militares, hospitais, fábricas.

A modernidade fez a prisão aparecer como uma forma mais utilizada de todas penas até então.
O trabalho penal deve ser compreendido como uma maquinaria que transformação o
prisioneiro violento em uma peça dotada de funções regulares.

A sentença se inscreve entre os discursos do saber. A prisão não é filha da justiça, mas agradece
à justiça por tê-la adotado. A prisão obedece aos interesses burgueses de proteção e
conservação da propriedade privada. Antes o assassinato era o crime pior. Agora é o roubo, a
invasão e negação da propriedade.

Os corpos dóceis devem ser úteis ao trabalho de qualquer matiz, e obedientes aos ditames da
fábrica.

Esse método fracassou na proposta de criar pessoas honestas, mas prosperou no sentido de
compreender que delinquentes são úteis no sentido econômico e no sentido político.

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