Você está na página 1de 17

CONTROLE

SOCIAL E
DIREITO PENAL
Conceitos fundamentais, Dir. Penal Brasileiro
DIREITO PENAL E A
HUMANIDADE
 Regulação ou organização da vida do homem em sociedade

 Modelos de conduta

 Exteriorizados em normas de determinação (dever ser)

 Toda realidade ou experiência jurídica encerra valores relativos a certo momento histórico e social.

 Conjunto/Sistema/Experiência de normas jurídicas

 Ordenamento jurídico;

 O Direito tem uma função social.

 Deve ter como referência a sociedade que rege;

 Conjunto de valores inerentes à essa sociedade.

 O direito penal surge com a necessidade de regular conflitos sociais;

 Onde existe sociedade, há o crime (ubi societas, ibi crimen)


VINGANÇA DIVINA
 Antes da existência do Estado

 Sociedades de estrutura familiar

 Penas infligidas aos membros da tribo e aos estranhos.

 Aos membros: quando praticavam atos que traduziam uma espécie de perturbação da paz e da vida em sociedade
 proscrição do agente, o qual não podia habitare inter homines e, portanto, era morto ou, se pudesse (e lograsse), fugia.

 Aos estranhos: possuíam conotação de vindita ou vingança contra o estrangeiro (de outra raça ou origem) ou, ainda, de
“vingança de sangue”.
 Caráter sacro da pena

 A paz (fim maior) encontrava-se sob a proteção dos deuses, de modo que a vingança (reação contra a perturbação da paz)
fundamentava-se em preceito divino.
 1ª manifestação do Direito Penal

 A lei emana de Deus

 Pena como forma de repressão


VINGANÇA PRIVADA
 A pena -> moderação
 abandona-se a ideia de reação desmedida e vigorosa

 sanção proporcional.

 Surgimento de outras penas além da morte


 Mutilação

 Banimento (perpétuo ou temporário)

 Perda (ou confisco) de bens.

 Justiça pelas próprias mãos

 Crime é visto como ofensa à vítima

 Lei de Talião – Princípio da proporcionalidade

 Utilização de um novo expediente: a composição pecuniária,


 uma forma de reparação, como preço pago à família vitimada

 um mecanismo em que se abandonavam os nocivos e brutais métodos de repressão


 Solução ao problema de enfraquecimento dos próprios grupos sociais em que adotados.
VINGANÇA PÚBLICA
 Surgimento do Estado

 Poder público, em nome da convivência pacífica de seus cidadãos

 Retira dos particulares o exercício do direito de punir, transferindo-o a um representante imparcial e equidistante
das pessoas diretamente envolvidas no conflito.
 Ius Puniendi - Sanção estatal para garantir sua soberania por meio de penas cruéis e corporais – esquartejamento, roda,
fogueira, forca, amputação, decapitação;
 Utilização de castigos cruéis

 Penas criadas com finalidade intimidativa

 “Direito Penal do Terror”


 Idade Antiga -> fim da Idade Moderna/princípios da Idade Contemporânea

 Não havia diferença entre as penalidades para os crimes mais leves e os mais graves
MODELOS PENAIS
 SOCIEDADE ANTIGA
 Direito Grego
 Início da discussão acerca dos fundamentos, da finalidade da pena...
 Direito Romano
 Crime Privado (relativo à situação dos indivíduos em comunidade; composição civil) ≠ Crime Público (relativo aos órgãos
nacionais e internacionais, e com os deuses; pena capital);
 Baseado no princípio do dever moral
 Culpabilidade e imputabilidade;
 Dolo e Culpa;
 Característica retributiva da pena
 Legítima defesa e Estado de necessidade
 Autoria e cumplicidade
 Idade Média – Direito Penal Germânico
 Ausência de leis escritas – Basicamente consuetudinário
 Direito penal canônico
 Idade Moderna (período humanitário)
 Fim das penas cruéis e da pena de morte
 Movimento codificador
 Objetivo da pena: o condenado não vir a cometer outro crime
 O juiz só poderia aplicar as penas previstas em lei
 Proporcionalidade das penas
A CIÊNCIA PENAL; FINALIDADE E CONCEITO
DE DIREITO PENAL

Ramo do Direito que se encarrega de regular os fatos humanos mais

perturbadores da vida social, definindo-os quanto à sua extensão e

consequências, de modo assegurar, por meio da aplicação efetiva de suas

prescrições, a garantia da vigência da norma e as expectativas normativas.

(André Estefam, 2018)


FORMAL X MATERIAL
 parcela do ordenamento jurídico público
interno que estabelece as ações ou  Refere-se a comportamentos
omissões delitivas atribuindo altamente reprováveis ou danosos
consequências jurídicas; normas jurídicas ao organismo social, os quais
que criam o injusto penal, suas respectivas afetam significamente bens
consequências e formas de exclusão jurídicos indispensáveis à sua
Medidas de própria conservação e progresso.
PENAS
segurança
CONCEITO DE DIREITO PENAL

 Garantidor de valores constitucionais

 Conjunto de normas que estabelecem ações ou omissões delituosas, que lesionem ou exponham a

perigo lesão um bem jurídico, de natureza constitucional, aplicando-se, pelo seu descumprimento,

sanções penais

 normas de natureza não incriminatória – regras ou princípios – que se constituam em suporte para a

aplicação das normas incriminadoras do sistema penal.


FINALIDADE DO DIREITO PENAL

 Proteção dos bens jurídicos indispensáveis para a vida em sociedade por meio da

cominação, aplicação e execução de PENA

Luiz Regis Prado: “o pensamento jurídico


moderno reconhece que o escopo imediato e Instrumento de coerção estatal
primordial do Direito Penal radica na proteção
de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à para tutelar os bens, valores e
comunidade.” interesses significativos que
compõem a sociedade.
CARACTERES DO DIR. PENAL
 Caráter público: o Estado detém o poder de sancionar, aplicar a pena pela prática de um crime. Ele não
fornece esse poder ao cidadão, à comunidade.
 Na esfera penal o Estado é absoluto, suas normas são cogentes e não existe espaço para composição fora da própria
jurisdição penal;

 Caráter constitutivo (autônomo): decorre de sua total autonomia para constituir suas normas,
estabelecendo quais são os crimes e as sanções penais relativas ao cometimento desses delitos.
 Apesar de valer-se de ramos distintos do Direito para complementar muitas de suas normas, possui estrutura própria
e independente;

 Caráter sancionatário: provém de seu caráter subsidiário de instrumento de tutela de bens jurídicos, que
somente aparece quando a tutela pelos outros ramos do Direito não mais se mostra adequada para
resguardar o bem jurídico que a norma tutela.
 Toda infração é vedada por uma norma jurídica extrapenal, antes de o ser pelo Direito Penal, e a sanção penal servirá
de reforço à sanção extrapenal;
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 Período Imperial – período da “vingança pública”

 Ordenações do reino: primeiras legislações aplicadas no Brasil Colonial

 Afonsinas: Representam uma evolução legislativa do Reino português que caminhava desde Afonso III; Manuscritas;
o Foi criado na dinastia de Avis,
o Principal função: simplificar e esclarecer a aplicação do Direito Canônico e do Direito Romano Justiniano no Reino de Portugal
o Penas extremamente cruéis
 livro V tratava sobre Direito Penal – principal característica a existência de penas extremamente cruéis, ausência de princípios
inspiradores do sistema (inclusive os de índole liberal – legalidade e ampla defesa) e de regras bem esclarecidas para a dosimetria
da penas;
 Manuelinas: primeiro corpo legislativo impresso de Portugal
o Elaborada no reinado de D. Manuel
o Cinco livros
 Correção das Ordenações Afonsinas; a importância dessas Ordenações era pelo fato da expansão do reino de Portugal (diversas colônias no
além-mar, inclusive o Brasil)
o Aplicada pelos donatários das Capitanias Hereditárias;
o Livro V também era designado para o Direito Penal; pouco se diferenciava das Ordenações Afonsinas
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 Filipinas: Compilação Jurídica
o Criada por Felipe II da Espanha (Felipe I de Portugal) – durante a União Ibérica (domínio castelhano em Portugal)
o Livro V também para o direito penal – maioria dos delitos apenados com a morte; poucas inovações
o Arbítrio do julgador na dosimetria da pena
o Ausência de princípios liberais
o 5 modalidades de morte, dentre elas a “morte para sempre”: não havia direito ao sepultamento – atingindo até a quarta geração
pela infâmia (exemplo: Tiradentes)
 morte natural cruelmente (“com todo o cortejo das antigas execuções, o que dependia da ferocidade do executor, e
capricho dos Juízes, que neste ou em outros casos tinham arbítrio”);
 morte natural de fogo (“a queima do réu vivo, mas por costume e prática antiga primeiramente se dava garrote aos réus,
antes de serem lançados às chamas”);
 morte natural (“expiava o crime, sendo enforcado no Pelourinho, seu cadáver era levado pela confraria da Misericórdia, e
no cemitério sepultado”);
 morte natural para sempre (“o padecente ia à forca da cidade, onde morria, e ficava pendente até cair podre sobre o
solo do patíbulo, insepulto, despindo-se seus ossos da carne, que os vestia: ali se conservaram até a tarde do 1º de
novembro, e conduzidos pela Confraria da Misericórdia em suas tumbas, para a Igreja, e no dia seguinte os soterravam”).
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 1º Código Brasileiro – 1830
 Código Criminal do Império Brasileiro
 único código que recebeu essa denominação;
 influxos da revolução francesa (princípios iluministas; compreensões mais humanistas);
 ausência de penas cruéis – reflexos das ideias humanitárias de Beccaria (1764)
 incutiu o pensamento filosófico do Direito Penal a ideia de humanização e busca por Justiça:

 “um dos maiores freios dos delitos não é a crueldade das penas mas sua infalibilidade. (...) A certeza de um
castigo, mesmo moderado, sempre causará mais intensa impressão do que o temor de outro mais severo,
unido à esperança da impunidade”;
 personalização da pena;
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 Período Republicano
 1890 – 1º Código Penal
 diversos defeitos e falhas; erros grosseiros; muito criticado; grande número de leis extravagantes;
 não trouxe avanços doutrinários nem filosóficos

 1932 – bagunça legislativa


 Desembargador Vicente Piragibe – compilação: consolidação das Leis Penais
 não revogou o Código;

 Projeto Alcântara Machado (comissão revisora com Nelson Hungria) – 1940


 Novo Código Penal: Parte Geral e Parte Especial;

 Código de 1940 eminentemente causalista (ainda não existia o finalismo);


 Critério do duplo binário (Lombroso):
 Inimputável quem se apresentava incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de se determinar de acordo com esse entendimento,
 semi-imputável quem não ostentava pleno discernimento acerca do ato praticado. Aplicava-se conjuntamente a pena e a medida de
segurança; o apenado cumpria as duas reprimendas, no mais das vezes, no mesmo local em que se encontrava.
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 A teoria da ação final somente começou a se fortalecer ao final da década de 40, início da década de 50;
influenciado pela teoria positivista de 1919
 A visão filosófica do homem e da sociedade foi substituída neste momento por uma visão biológica do homem, para a
qual este seria somente um puro produto da evolução, ou seja, um animal na escala zoológica.
 O pensamento positivista se consolidou e teve como ponto de apoio o cientificismo que acabou por consagrar a
Ciência como a única forma válida de conhecimento, fazendo dela o principal motor do progresso humano.
DIREITO PENAL BRASILEIRO
 1969 – nova comissão criou um novo Código
 manteve algumas definições ultrapassadas trazidas por Hungria – o erro de fato e de direito
 redução da maioridade para 16 anos; extremamente criticado;
 era para ter entrado em vigo em 1970; tempo de vacaccio legis muito curto;
 Leis que postergaram a vacaccio legis até 1978 LEI Nº 6.578, DE 11 OUTUBRO DE 1978 o revogou;

 1984 – nova parte geral para o código;


 institutos finalistas, causalista, teoria social da ação;
 restabelecimento do pagamento de dias-multa e a previsão de penas alternativas de prisão;
 Migrou do sistema duplo binário para o sistema vicariante: aplicação de pena para os imputáveis e medida de
segurança para os inimputáveis, o semi-imputável recebe pena ou medida de segurança conforme careça ou não de
especial tratamento curativo.
 Nova comissão com 15 juristas – Projeto de Lei do Senado n° 236, de 2012 – em tramitação

Você também pode gostar