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direito penal I - prova I

tópico 1) breve histórico do teoria do delito


Direito Penal
Período da Vinganca Divina: O conceitos
período da Vingança Divina foi um dos
norma de comportamento: normas
períodos históricos do Direito Penal,
jurídico-penais que abordam os tipos
caracterizado pela ideia de que o poder
demiti-vos sob lógica contraditória a que
de punir pertencia aos deuses, que se
corresponde. Descrevem o ato que não deve
encarregavam de fazer justiça através
ocorrer como sendo o comportamento que
de fenômenos naturais. Os indivíduos
culmina no delito. → exemplo: art. 121
não tinham controle sobre a punição,
“matar alguém” e a ação que não deve
que era imposta de forma divina.
ocorrer, caso contrário se tem o crime de
Período da Vinganca Privada: No homicídio.
Período da Vinganca Privada, o
regra de imputação de responsabilidade:
poder de punir passou a ser exercido
dizem respeito à responsabilidade
pelos próprios indivíduos e suas
desencadeada por um delito. → exemplo:
famílias, que podiam buscar vingança
art. 121: pena = reclusão de seis a vinte
pessoalmente ou através de terceiros.
anos.
Isso levou a uma grande instabilidade
social e a uma escalada de violência, o condições objetivas: condições previstas
objetivamente - em lei - para que uma ação

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que motivou a criação de sistemas de possa ser considerada contraria ao
justiça mais formais e centralizados. ordenamento e possa, como consequência,
sofrer uma sanção penal.
Período da Vinganca Pública: o
direito de punir (ius puniendi) passa a condições subjetivas: DOLO e CULPA;
ser do Estado → questionamento: condições pessoais subjetivas que envolvem
existe, na verdade, um direito de punir a ocorrência de um fato tido como
ou um poder de punir? antijurídico; condições em que se
encontrava o individuo no momento em que
se comete o delito.
Direito Penal Canônico: primeiro
Direito escrito na Idade Média; crime
influência majoritária da Igreja
norma de comportamento - premissa
Catolica Apostólica Romana; caráter
maior
marcadamente disciplinar; surgimento
das prisões como “fila de espera” dos crime consumado - premissa menor
julgamentos; penas de morte nos conclusão: àquele que infringiu uma norma
Santos Ofícios; limitou a vinganca de comportamento aplica-se a imputação de
privada, subjetivou o delito e responsabilidade pelo crime.
humanizou as penas.

Direito Penal Romano: princípios


consuetudinário; Lei das XII Tábuas;
Princípio da legalidade
diferenciação dos crimes públicos e
privados (ius publicium e ius civile); art. 1º: não há crime sem lei anterior que o
punição exercida pelo Estado, defina, nem pena sem prévia cominacao
restringindo o poder do pater familias. legal → desse princípio desdobram-se
princípios pela doutrina: não há crime nem
Direito Penal Germânico: pena se não há:
consuetudinário; penas de composição
a) lex stricta: não há analogia no direito
e ressarcimento; o Direito impõe a paz,
penal (a menos que favoreça o réu)
e o delito rompe essa paz;
responsabilização objetiva do b) lex scripta: não há costumes no direito
criminoso (o crime cometido determina penal (a menos que favoreça o réu)
o julgamento e a pena); influência
c) lex praevia: a lei deve ser anterior ao
romana. crime → irretroatividade da lei penal em
Direito Penal Comum: emergência do prejuízo do réu → conflito de leis no
Iluminismo e dos movimentos das tempo:
Escolas Penais; retomada dos estudos
jurídicos romanistas; oposição aos

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excessos que imperavam no sistema abolitio criminis: lei que deixa
punitivo europeu; elemento
de considerar um crime cessa as
nacional/cultural na legislação penal de
cada país. execuções penais decorrentes →
art 2º: ninguém pode ser punido
por fato que lei posterior deixa
tópico 2) Escolas Penais de considerar crime, cessando
Escola Penal consiste no grupamento de em virtude dela a execução e os
pensadores que compartilham as mesmas efeitos penais da sentença
visões - um movimento de ideias - acerca condenatória.
do Direito Penal, com início no século XIX,
crimes permanentes: aplica-se
um corpo orgânico de percepções
contrapostas sobre a legitimidade do direito a lei vigente no momento em
de punir, sobre a natureza do delito e a que cessa o ato delitivo em
finalidade das penas. curso, mesmo que ela seja mais
Escola Clássica gravosa.
Iluminismo cultural (século XVIII);
ultratividade: lei que deixa de
questionar os privilégios da nobreza e o ter vigência mas tem seus
autoritarismo do Estado; noção retributiva efeitos prolongados nos casos
da pena → o homem é livre para escolher e
julgados durante sua vigência
decidiu por delinquir, logo deve ser
responsabilizado. Correntes
→ no caso de beneficiar o réu.
jusnaturalista, que postula o Direito como lei excepcional: vige durante
algo natural, superior e eterno, que resulta situações de emergência.
da própria natureza humana; e
lei temporária: vige por tempo
contratualista, que propõe a ideia de um
Estado resultante do acordo entre homens
pré determinado pelo legislador.
que cedem parte de seus direitos individuais
d) lex certa: a lei penal deve ser taxativa,
pelo bem comum. O crime consiste em um
clara.
ente jurídico- violação de um direito, que
foi cometido por livre e espontânea Princípio da lesividade
vontade. A pena tem como fim a necessário que exista lesão ou perigo de
restauração da ordem quebrada com o lesão a um bem jurídico tutelado para que
delito (noção retributiva). Cita-se Beccaria se possa falar em crime. o Direito Penal
e Carrara. deve, assim, se ocupar de proteger bens
jurídicos. A conduta deve exceder o âmbito

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Iluminismo Penal: racionalismo, do próprio agente, não há que se falar em
jusnaturalismo e utilitarismo; propor crime com conduta que ofende bem próprio.
uma nova sociedade/Estado.
Princípio da frangmentaridade do
Escola Clássica no Brasil: não há Direito Penal
produção doutrinária, mas sim uma princípio da intervenção mínima e da
literatura de comentário sobre as reserva legal; não deve se ocupar de
produções europeias. sancionar todas as condutas lesivas dos bens
Código de 1830: fortemente jurídicos, mas aquelas mais graves contra
influenciado pela Escola Clássica bens mais relevantes → ultima ratio
(período Imperial); graus de pena; Princípio da proporcionalidade:
aplicação de penas distintas para
presente na CF em matéria de colisão de
cidadãos livres e escravos.
direitos fundamentais; em matéria penal, a
Código de 1890: resquícios da Escola exigência de proporcionalidade deve ser
Clássica e pouca influencia da Escola determinada no equilíbrio que deve existir
de Exégèse; Código Criminal da na relação entre crime e pena, ou seja,
República - característica da entre a gravidade do injusto penal e a pena
codificação penal brasileira, que sofre aplicada; deve estar presente tanto no plano
alterações em momentos de ruptura abstrato - normas de comportamento
política - fins do século XIX já começa (legislador que comina as penas) quanto no
a apresentar marcas positivistas - plano concreto - normas de sanção
fortemente carregadas de determinismo (magistrado que aplica as penas).
e naturalismo.
Princípio da culpabilidade:

→ nullum crimen sine culpa

Escola Positiva não há pena sem culpabilidade subjetiva -


que difere de culpa objetiva que considera
Surge em “"resposta” à ineficiência da
apenas o resultado observado; não há
Escola Clássica em resolver a origem do
responsabilidade objetiva pelo simples
crime; prioriza os interesses do corpo social
resultado; a responsabilidade penal é pelo
em detrimento do delinquente; desenvolve-
fato, não pelo autor; a culpabilidade e a
se num contexto de ampla divulgação e
medida da pena; as pessoas respondem por
produção de ciências sociais; trata o
suas intenções, não necessariamente pelos
delinquente e o crime como patologias
resultados.
sociais, logo a pena seria a reação do
organismo social diante dessa
anormalidade; deveria-se observar o tipicidade
comportamento do homem, sobretudo sua

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psique; três fases distintas: a) conceito analítico de crime
antropológica - Lombroso, b) sociológica
O conceito analítico de crime é composto
- Ferri; c) jurídica - Garofalo.
por quatro elementos (teoria
→ visão determinista do crime: o homem quadripartite):
delinque porque está inclinado para a
a) fato típico, que é a conduta humana
criminalidade.
descrita na lei penal como crime;
→ maior ênfase na defesa social; pena com
b) ilicitude, que é a contrariedade entre a
função preventiva - evitar que os
conduta do agente e a norma penal;
“criminosos natos” rompessem a ordem
social. c) culpabilidade, que é a imputabilidade e a
exigibilidade de conduta diversa;
→ o Direito Penal deve se ocupar dos
estudos sobre o crime, o delinquente, a pena e d)punibilidade, que é a possibilidade de
e o processo. aplicação de uma pena ao agente que
praticou o crime.
→ noção de antissocialidade (ditadura
militar…) e prisão preventiva daqueles que → no entanto, a doutrina brasileira
apresentassem algum fator que pode levar à majoritária adota a teoria tripartite para
criminalidade (medidas de segurança) classificar analiticamente o crime

→ punição do ato ao autor. fato típico, que pode ser objetiva formal
(corresponde ao descrito em lei penal →
principio da legalidade: somente pode ser
Positivismo naturalista: a única considerado crime o que for previsto em lei)
ciência valida seria a natural empírica ou material (lesiona um bem jurídico →
Positivismo naturalista no Brasil: princípio da ultima ratio,
Nina Rodrigues, Pedro Lessa, Clovis proporcionalidade e principio da
Bevilaqua, Tobias Barreto…É nesse proteção de bens jurídicos) e subjetiva
momento que surgem as propostas de (saber as condições em que se encontrava
um novo código criminal - momento de no agente no momento da ação criminosa
ruptura política próximo - Estado → análise da ação, dolo e culpa)
Novo. ilicitude;
culpabilidade.

Escola Técnico-jurídica tipos de delito


A Escola Positiva confundia aspectos crimes de resultado X crimes de perigo
antropológicos e sociológicos do crime, em
→ crimes de resultado: concretização do
detrimento da visão jurídica do delito. Em
tipo penal - resultado alcançado
resposta, a Escola Tecnicista de Arturo

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Rocco aponta o crime como principal → crimes de perigo: o bem jurídico não é
objeto do Direito Penal (posicionamento de fato lesado, mas colocado em risco.
doutrinário de Bittencourt: trata-se mais de a) perigo concreto: exige demonstração de
uma corrente de renovação metodológica que o bem foi colocado em risco: exemplo -
do que de uma Escola propriamente dita); incêndio art. 220
Direito Penal enquanto exposição
sistemática que regula os conceitos de b) perigo abstrato/presumido: presunção
delito e pena; pena com função preventiva de perigo, a própria norma já prevê que
geral e especial; recusa do emprego da aquela conduta é perigosa: exemplo - porte
filosofia no campo penal; objetivo da ilegal de arma de fogo; subtração de
ciência penal é a lei em seu estado puro; material destinado a salvamento.
método cientifico com 3 fases: 1) exégèse -
interpretação gramatical; 2) dogmática -
tipicidade objetiva
sistematizar o conteúdo normativo; 3)
critica: proposta de reforma do Direito presente quando o agente produz os
positivo. requisitos qualificadores de um tipo penal.

Código de 1940: novo momento de


ruptura política - Estado Novo - com
ação em sentido estrito:
influência do movimento positivista conduta que pode ser uma ação positiva ou
naturalista e também do uma omissão; não há conduta ou ação
funcionalismo, que sobrevém no país nos casos de atos involuntários, danos
nessa época. Propõe medidas de invitáveis ou indivíduo submetido a
segurança, cita a periculosidade do hipnose ou sonambulismo (questão
agente. Nelson Hungria, Anibal controvertida entre os doutrinadores)
Bruno… → vale lembrar que a ausência de dolo nem
sempre implica na ausência de
ação/conduta.
Escola Finalista
Surge no contexto alemão pós segunda nexo causal/teoria da
guerra mundial com os julgamentos do causalidade
Tribunal de Nuremberg - o que era válido Causa: ação ou omissão que não pode ser
legalmente à época dos crimes? Haveria totalmente suprimida sem que o resultado
algum embasamento? deixe de existir → conditio sine qua non
Reforma da parte geral do Código de ou teoria da equivalência das causas,
1890 em 1984: influência finalista; previsto no art. 13 CP
tratamento do erro (questões de dolo e
culpa); conceito de ação final.

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Finalismo no Brasil: Miguel Reale Jr, O artigo 13 do Código Penal
Damásio de Jesus, Regis Prado, Cézar
brasileiro dispõe sobre a culpa
Bittencourt.
exclusiva da vítima como causa
Pós finalismo alemão: Direito Penal
excludente da ilicitude do fato.
voltado para as consequências (anos
60); surge o funcionalismo de Claus Segundo o artigo, o resultado é
Roxin e Gunther Jakobs; Escola de considerado como decorrente de
Frankfurt com Hassemer e Neumann; culpa exclusiva da vítima
Puppe, Kindhauser.
quando esta, por ação ou
omissão, contribui
voluntariamente para o evento
tópico 3) teorias da pena →
danoso. Nesse caso, o fato é
teorias dos fins da pena
considerado lícito e o agente
conceito de pena: a doutrina majoritária
compreende a pena como a resposta não responde pelo resultado.
jurídico-penal a infração cometida; sanção
penal imposta pelo Estado aquele que não A superveniência de causa
observou determinada norma de independente é uma causa
comportamento. Há a subtração de
excludente de nexo causal, ou
determinado bem juridico com a imposição
seja, o resultado não é
da pena.
imputável ao agente, pois ocorre
→ a CF proíbe penas de morte, tortura,
trabalhos forçados… por uma causa que não está
→ o mais comum é que haja perda de
relacionada à sua conduta. Por
direitos (liberdade, direitos políticos…). exemplo, se o agente dispara um
teorias dos fins da pena: pensamentos tiro em direção à vítima e, antes
desenvolvidos em determinados períodos que o tiro a atinja, um terceiro
históricos que buscam compreender a
atropela a vítima, causando sua
finalidade da pena enquanto resposta ao
delito, bem como de que forma irá se impor
morte, a superveniência de
ao individuo a necessidade de observância causa independente exclui o
das leis. nexo causal entre a conduta do
1) teorias retributivas ou absolutas da agente e a morte da vítima. →
pena: a pena “devolve” ao individuo o mal parágrafo primeiro do art. 13
que ele causou ao delinquir. O foco da pena
CP, retira a responsabilidade do

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e o indivíduo; a pena seria a retribuição ao agente pelo resultado →
mal causado; fundamentação apenas no
responde por tentativa.
delito praticado.

a) teorias da expiação: contexto de Para averiguar se uma ação causa um


hegemonia de poder da Igreja Católica em resultado penalmente ilícito, adota-se a
Estados monárquicos absolutistas; teoria da eliminação hipotética, a qual
desobedecer às leis do rei seria desobedecer prevê a eliminação de qualquer hipótese que
ao próprio Deus, logo, o indivíduo em não venha a culminar no resultado de forma
conflito com a lei deveria expurgar seus concreta → forma de contornar as críticas a
pecados com uma pena proporcional ao teoria da conditio sine qua non que apontam
crime cometido (penas talionais); uma regressão infinitas de causas.

b) teorias da justiça: a pena serve como No caso de concausas (duas ações que
instrumento de se reestabelecer a ordem ocorrem no desdobrar do fluxo ação →
justa quebrada com o delito. Contexto de resultado delituoso):
ascensão de um Estado burguês e orientação
filosófica pautada na teoria do contrato
social.

→ Kant: teoria dos imperativos categóricos


e o homem como fim em si mesmo; a pena
deve ser aplicada pura e simplesmente
porque se teve um delito; pensar que a pena
tenha qualquer função se não ser uma
resposta ao crime seria considerar o homem Quando a concausa rompe o nexo causal, o
como meio para um fim (ordem social, agente não é responsabilizado pelo
bem-estar..), no entanto, deve-se enxergar o resultado que sucede, mas responde, ainda
homem como um fim em si mesmo, sendo a sim, pela tentativa do crime.
pena então puramente a resposta jurídica ao
Quando a concausa não rompe o nexo
delito cometido, aplicada diretamente ao
causal, o agente e responsabilizado pela
infrator; não ha, no pensamento de Kant,
modalidade dolosa do delito cometido.
pretensões utilitaristas da pena.
Exemplos:
→ Hegel: teoria das teses e antiteses;
fundamentação mais jurídica do que ética 1) concausa absolutamente independente:
(no caso de Kant); sendo o Direito uma a) preexistente: João constrange Maria a
convenção social de normas estabelecidas ter relações sexuais não consentidas com
em conjunto para que impere a ordem, o uso de violência. Após o ato, Maria, em
delito seria uma negação dessa ordem, logo, decorrência de uma cardiopatia que sofre
impor uma pena para quem infringe o desde criança, sofre um ataque cardíaco

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ordenamento seria negar essa negão das que a leva a óbito. Nesse caso, João o
normas como forma de reestabelecer a respondera apenas pelo crime de estupro
ordem ferida. Pena = negação do delito ↔ (art. 213 caput), mas não pela morte de
afirmação do Direito. (teoria da retribuição Maria, haja vista que o resultado morte
jurídica, Hegel). decorreu de uma concausa absolutamente
independente e preexistente.
principais críticas às teorias b)concomitante: João, em uma briga de
retributivas da pena: todo ato trânsito, desfere um soco em Pedro, que cai
estatal, para se justificar, deve no chão e bate a cabeça, causando um
traumatismo craniano que leva à sua morte.
ter efeitos benefícios para a
No entanto, posteriormente, descobre-se
população/sociedade; o Estado que Pedro sofria de um aneurisma cerebral
deve cobrar aquilo que ele que se romperia naquele momento,
oferece, as teorias retributivas mesmo que ele não tivesse sido agredido.
Nesse caso, a concausa absolutamente
postulam um ideal perfeito de
independente concomitante rompe o nexo
justiça e ordem social que não causal entre a conduta de João e a morte de
existe; há um “ganho duplo” do Pedro, e João não pode ser responsabilizado
criminoso, que mesmo não pelo resultado produzido. Ele responderá
apenas pelo crime de lesão corporal, que foi
respeitando os direitos coletivos
o resultado previsto em sua conduta.
tem os seus direitos
c)superveniente: João ministra uma dose
resguardados na aplicação da letal de veneno na bebida de Paulo; este
sanção penal. ingere a bebida contaminada mas, segundos
após beber o veneno e antes que pudesse
2) teorias sofrer os efeitos da ação de João, o teto da
preventivas/relativas/utilitaristas da causa de Paulo desaba e uma viga cai em
pena: fundamentam-se na necessidade de sua cabeça. O laudo médico atesta a morte
evitar a prática futura de novos delitos por traumatismo craniano. João
(ideia de prevenção) . Para Feuerbach, o responderá apenas pela tentativa de
pensamento preventivo se divide em dois homicídio.
pontos: prevenção geral e prevenção
especial. Esta centrada no individuo,
enquanto aquela se volta para a sociedade 2) concausa relativamente independente
como um todo. a) concausa relativamente independente
a) teorias da prevenção geral: a pena tem preexistente: não rompe o nexo causal da
a finalidade de evitar novos delitos. Podem ação e, logo, o agente responde exatamente
ser negativas ou positivas. por aquilo que causou. João desfere um

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a.1) teoria da prevenção geral negativa: golpe de faca conta Pedro, que sofre de
ao punir o criminoso, gera-se um medo hemofilia, condição desconhecida por João
generalizado na população e se estabelece o que tinha a intensão apenas de lesionar
entendimento de que haverá consequência Pedro. O ferimento não foi letal, mas, em
grave ao crime → teorias dissuasórias. decorrência do sangramento ocasionado
a.2) teoria da prevenção geral positiva: pela doença, Pedro vem a óbito. Como
ao punir o criminoso, estabelece-se a noção não tinha o dolo de matar Pedro, João
de que o Direito vale para todos, todo responde pelo crime de lesão corporal
aquele que cometer conduta que configure seguida de morte; caso houvesse intensão
infração à lei penal será punido no rigor da de matar, responderia por homicídio
lei; cria uma sensação de confiança na culposo.
sociedade de que a lei está em vigência. b) concausa relativamente independente
concomitante: João, com a intenção de
principais críticas a lesionar Pedro, desfere um golpe de faca
prevenção geral: o proprio em sua direção. No entanto, Pedro, que tem
problemas cardíacos não diagnosticados,
delito já contradiz o principio
sofre um infarto e morre antes de ser
em que se baseia a prevenção atingido pela faca. Nesse caso, a concausa
geral; impor uma pena que relativamente independente concomitante
mostre à sociedade a gravidade não rompe o nexo causal entre a conduta
de João e a morte de Pedro, e João pode
da realização de delitos não
ser responsabilizado pelo resultado
pressupõe que todos os produzido. Ele responderá pelo crime de
indivíduos serão coagidos a não homicídio doloso, tendo em vista que agiu
delinquir; subentende também com a intenção de matar.

que todos conhecem e c) concausa relativamente independente


superveniente que não causa por si só o
interpretam igualmente a lei;
resultado: Pedro atira contra Maria, com a
ignora que o criminoso se vê intensão de matar. O tiro não foi fatal,
capaz de fugir da sanção; abre entretanto, no hospital, em decorrência da
caminho para arbitrariedades fragilidade do organismo, Maria contrai
uma infecção e morre. Pedro respondera
infundadas das penas em prol da
pelo homicídio doloso de Maria, haja vista a
prevenção do mal e pela previsibilidade de uma infecção ocorrer nas
promoção do bem comum. condições em que estava e o nexo causal
não ter sido rompido.
b) teorias da prevenção especial: a pena
tem o fim de evitar que o criminoso torne a

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delinquir; ela é dirigida especialmente a ele. d) concausa relativamente independente
b.1) teoria da prevenção especial superveniente que causa resultado por si
negativa: a pena, ao ser aplicada ao só: Maria golpeia Paula com a intensão de
individuo em conflito com a lei, tem o matar. O golpe não foi fatal, entretanto, na
objetivo de mostrar ao autor a gravidade do ambulância a caminho do hospital, ocorre
crime cometido para que não torne a ser um acidente e Paula morre. Sendo o
uma ameaça social. acidente uma causa imprevisível que levou
à morte e não tem relação com o
b.2) teoria da prevenção especial
desdobramento natural da ação de Maria,
positiva: a pena tem como fim a
esta respondera pela tentativa de homicídio,
ressocialização do delinquente com medidas
não pela morte de Paula.
positivas no âmbito da execução penal que
tornem o criminoso apto para a convivência
social. OBS 1) curso causal atípico: não interfere
no curso causal da ação do agente, sendo
principal crítica a prevenção ele responsabilizado da mesma forma.
especial positiva: utópica, na Exemplo: João empurra Caio no lago para
que este morra afogado, no entanto, antes
medida em que a estrutura da
que se afogasse, Caio bate a cabeça em uma
prisão, a duração relativa das pedra, morrendo em decorrência dessa
penas em face do delito, a lesão. João responde pelo homicídio doloso
contrariedade ao principio da da mesma forma, visto que a mudança no
curso causal esperado pelo autor não alterou
dignidade humana e as noções
o resultado pretendido.
paternalistas e de violência
OBS 2) causalidade alternativa: duas ou
implícitas no processo de mais condições são suficientes, por si só,
ressocialização pretendido. para causar o resultado esperado, logo todas
são consideradas causais para o resultado.
crítica às teorias NEGATIVAS Um exemplo seria quando Maria e Joana
da pena: tratam o individuo ministram uma dose letal de veneno em
Paulo, e ele morre, mas não é possível
como um meio para o alcance
determinar qual das duas doses foi a causa
de um fim - um pretenso bem da morte. Ambas são consideradas causas
estar social, ao contrariarem alternativas e, nesse caso, ambas são
também a proporcionalidade das responsáveis pelo resultado.

penas em face dos delitos, → "in dubio pro reo" significa "na dúvida,
a favor do réu", em caso de dúvida sobre a
sacrificando o individuo.
culpabilidade do réu, deve-se decidir a

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favor dele. Esse princípio é uma garantia
fundamental do acusado, que não pode ser
condenado sem provas suficientes que
tipicidade subjetiva demonstrem sua culpa → adotado quando
Diz respeito às condições em que se se é IMPOSSÍVEL determinar o autor de
encontrava no agente no momento da um resultado decorrente de causas
realização da ação que culminou no alternativas: caso de dois tiros dados
resultado. EXATAMENTE no mesmo instante, um
letal e outro não letal, mas não se pode
dolo determinar com precisão o autor do tiro
letal.
principal instrumento para se responder por
um crime. OBS 3) causalidade cumulativa: ocorre
quando duas ou mais causas, atuando em
→ conceito no código penal: “doloso
conjunto, são necessárias para produzir o
quando o agente quis o resultado ou
resultado. Ambas as condutas são
assumiu o risco de produzi-lo”.
consideradas causais para o resultado,
não necessariamente assumir o risco mesmo que isoladamente não fossem
implica que há dolo → caso de culpa suficientes para produzi-lo. Exemplo: João
consciente. e Maria, com a intenção de matar, desferem,
→ conceito na doutrina majoritária: cada um, um tiro em Pedro. O conjunto dos
conhecimento e vontade de praticar o fato dois tiros é o que leva à morte de Pedro.
típico. Ambas as condutas são causais para o
resultado e os dois respondem pelo
→ doutrina em expansão: não há
homicídio doloso.
necessidade da vontade para configurar
dolo; se não há ação não há dolo - caso de
atos reflexos; o dolo deve ser concomitante
à ação.

→ conclusão do embate doutrinário e


conceito do código: o sujeito deve querer o
resultado no momento em que o produz
(princípio da simultaneidade); sem ação,
não há de se falar nem em dolo, nem em
culpa.
casos de ausência de ação

atos reflexos

inconsciência

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coerção física irresistível

caso fortuito
💡 Princípio da Insignificância:
configurado dentro do nexo de
classificações do dolo causalidade; princípio da
bagatela → o direito penal não
dolo direto de 1º grau: efeito desejado
deve se ocupar de sancionar
dolo direto de 2º grau: consequências condutas cuja lesividade é
que sabe que ocorrerão e assume o mínima. O STF requere a
risco minima ofensividade da conduta
do agente, nenhuma
dolo indireto de 3º grau, “dolo
periculosidade social da ação,
eventual”: o agente não tem certeza e
grau reduzido de
vontade que ocorra, mas ainda sim é
reprovabilidade da conduta e
um risco assumido.
inexpressividade da lesão
Exemplo: João, interessado na herança do jurídica. As criticas apontam que
tio, prende uma bomba no carro em que ele os critérios seriam arbitrários e
andará com seu motorista. Com a explosão baseados em valor monetário e
da bomba, morrem o tio, o motorista, e um afastam a possibilidade de
trabalhador que passava por perto no periculosidade do agente (furtos
momento e foi atingido pela explosão. João até 500 reais e descaminhos de
responde por dolo de 1º grau pela morte do 10mil STF e 20mil STJ).
tio; de 2º grau pela morte do motorista e dos
danos ao veículo; e de 3º grau ou eventual
pela morte do trabalhador. imputação objetiva
teorias do dolo
A imputação objetiva é a teoria
1) volitivas: Francisco de Assis Toledo
que busca estabelecer se o
a) aceitação/conhecimento: o autor
reconhece e aceita as consequências da
agente pode ser
ação. responsabilizado pelo resultado
b) indiferença: o autor reconhece o do crime. Ela se baseia no nexo
resultado e coloca-se indiferente diante do de causalidade entre a conduta
bem juridico que será lesado. do agente e o resultado
→ válido pontuar que essas teorias não são produzido, bem como na
concorrentes e podem ser verificadas em
previsibilidade objetiva do
concomitância
resultado. Em outras palavras,
2) cognitivas
para que o agente seja

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a) possibilidade: o autor reconhece o responsabilizado, é necessário
resultado - possibilidade de ocorrer - e age
que ele tenha criado um risco
mesmo assim
juridicamente relevante que
b) probabilidade: percebe a alta
probabilidade do resultado e age mesmo
tenha se concretizado no
assim resultado produzido.
→ crítica (Puppe) às teorias do dolo: nós
nos reconhecemos enquanto seres racionais
Um exemplo de imputação
que trazemos em nosso comportamento as objetiva seria o caso em que um
expressões das normas conhecidas motorista, embora dirigisse em
vinculantes.
velocidade normal e respeitando
não cabe ao juíz investigar a cabeça do todas as regras de trânsito,
agente;
colide com um pedestre que
nenhum agente pensa sobre a
estava atravessando
probabilidade numérica dos resultados;
corretamente na faixa de
a constatação de dolo seria uma forma
pedestres. Nesse caso, o
de censura do agente
motorista criou um risco
→ solução apresentada (Puppe): eliminar
juridicamente relevante ao
considerações sobre:
conduzir seu veículo em uma
constituição psíquica do agente;
área em que havia grande
excitação ou alcoolizacao;
circulação de pedestres, e esse
posição geral em relação à vitima;
risco se concretizou no
comportamento posterior ao crime resultado produzido, que foi o
→ para Puppe, deve-se ponderar a atropelamento do pedestre.
comunicação de que o resultado pode existir Portanto, há um nexo de
e o direito de defesa da vítima.
causalidade entre a conduta do
motorista e o resultado
produzido, e ele pode ser
culpa
responsabilizado pelo
conduta voluntaria que produz resultado
ilícito não voluntario, mas previsível. atropelamento do pedestre.
→ um crime culposo se compõe por:

direito penal I - prova I 14


conduta humana voluntária; Um exemplo de não imputação
resultado involuntário; objetiva seria o caso em que um
nexo de causalidade; pedestre atravessa a rua fora da
tipicidade; faixa de pedestres e é atropelado
violação de um dever objetivo de
por um motorista que dirigia em
cuidado; velocidade normal e respeitando
previsibilidade objetiva do resultado. todas as regras de trânsito.
Nesse caso, mesmo que o
→ modalidades de culpa:
resultado produzido seja grave
a) imprudência: falta de cuidado + ação →
exemplo, dirigir a 200km/h em via (o atropelamento do pedestre),
residencial e atropelar alguém que passa não há um nexo de causalidade
pela rua. entre a conduta do motorista e o
b) negligência: falta de cuidado + omissão resultado produzido, já que o
→ exemplo: não fazer a revisão do carro, os
atropelamento ocorreu por culpa
freios estão estragados e ao frear frente uma
faixa de pedestres atropela alguém.
exclusiva da vítima, que
infringiu as regras de trânsito.
c) imperícia: falta de aptidão para exercício
de atividade → exemplo: um cirurgião Portanto, não há imputação
ortopédico omite sua formação para assumir objetiva do resultado ao
uma vaga de cirurgia neurológica e mata um motorista nesse caso.
paciente.

desistência voluntaria X arrependimento


eficaz
culpa consciente X dolo
após o inicio da concluída a execução, eventual
execução e antes da ocorrência do
No desdobramento das teorias volitivas da
antes de resultado; o agente
culpa de Francisco de Assis Toledo, tem-se
concluir a consegue evitar o
que o agente, na culpa consciente, não
execução; deve resultado prestar a
deseja o resultado tampouco assume o risco
ser voluntária ocorrer
de o produzir. Apesar de reconhecer o risco
mas não
iminente da ação, acredita que pode evitá-lo
necessariamente
e não o faz por “erro de cálculo” ou de
espontânea
“execucao”. → o agente prevê o dano e o
aceita.

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Na culpa inconsciente, o sujeito não prevê
um resultado previsível.

Já no dolo eventual, que está contido no


exemplo do sobrinho que coloca a bomba
no carro do tio, o risco é assumido e nada se
faz para evitá-lo enquanto resultado do dolo
direto de 1º grau.

tentativa
Em síntese: resultado não consumado por
situação alheia à vontade do agente, apesar
dr ter iniciado a execução criminosa. Se há
desistência, não há tentativa.
→ iter criminis: “caminho do crime”

cogitação → atos preparatórios


→ atos de execução →
consumação → exaurimento

A doutrina majoritária não considera


criminosa a cogitação, tendo início a
conduta típica com os atos preparatórios.
teorias da tentativa

1) teoria objetiva: o início da execução


coloca o bem em risco (doutrina
majoritária)
2) teoria subjetiva: exteriorizar uma
vontade contraria ao direito ja configura
algum risco - cogitação

3) teoria da infração da norma: os atos


preparatórios demonstram que o individuo
não reconhece a autoridade da lei e
considera-se o inicio do ato típico (doutrina
minoritária)

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4) teoria objetivo-material: o crime se
inicia com a ação imediatamente anterior à
prática do tipo.

💡 → crime impossível: não se


pune crime quando este é
impossível de se executar.

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